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RA: 201851377603
Relevância do Acórdão:
2. Conforme reiteradamente decidido por esta Corte, "Em regra, o promitente vendedor
não pode ser responsabilizado pelos débitos condominiais posteriores à alienação,
contemporâneos à posse do promissário comprador, pois, ao alienar o imóvel, tem a
intenção de desvincular-se do direito real sobre o bem. Entretanto, quando o promitente
vendedor obtém a retomada do bem anteriormente alienado, em virtude da reaquisição,
sua condição de proprietário e/ou titular de direito real sobre a coisa não se rompe, razão
porque o adquirente de imóvel em condomínio responde pelas cotas condominiais em
atraso, ainda que anteriores à aquisição, ressalvado o seu direito de regresso contra o
antigo proprietário/possuidor" (AgInt no REsp 1.229.639/PR, Rel. Ministro MARCO
BUZZI, QUARTA TURMA, DJe de 20/10/2016). 3. Agravo interno não provido.
Relatório:
Nas razões recursais, a agravante alega, em síntese, que a decisão agravada não se ateve
à jurisprudência predominante do STJ, consolidada pelo Recurso Repetitivo
1.345.331/RS. Argumenta que, no caso, "o E. STJ tem entendimento sedimentado de
que a responsabilidade pelas dívidas condominiais deve recair sobre aquele que usufruía
do imóvel no período referente à dívida cobrada".
Voto:
A recorrente, com fundamento nos arts. 9º, 12, 19 e 20 da Lei 8.245/91 e 1.345 do
Código Civil de 2002, sustenta não poder ser responsabilizada "pela dívida condominial
oriunda do período que o imóvel esteve em posse do ex-mutuário".
Relevância do Acórdão:
Reafirmação do entendimento do STJ de que a falta de registro do compromisso de
compra e venda não é suficiente para descaracterizar o justo título - requisito necessário
ao reconhecimento da usucapião ordinária. Além disso, o Acórdão trata de 2 hipóteses
em que os atos de resistência do proprietário não foram aptas a interromper a prescrição
aquisitiva, nos termos do artigo 209 do NCP e 202 do CC/02, de modo que tanto o
julgamento de improcedência, ou extinção sem resolução de mérito, de ação possessória
ou petitória, como a lavratura de boletim de ocorrência, não são considerados fatos
interruptivos da prescrição aquisitiva.
Relatório:
Voto:
Além disso, destacou não ter sido verificada a posse mansa e pacífica, pois, em
6/12/2004, foi ajuizada ação de imissão na posse contra o sr. Isidoro. Apesar de ele não
ter sido citado e de o feito ter sido extinto, entendeu-se que houve a ciência de que a
posse estava sendo contestada, pois o autor da referida ação também registrou boletim
de ocorrência relatando episódio em que foi impedido de entrar no terreno diante da
posse exercida pelo sr. Isidoro e seu filho Reinaldo.
No que diz respeito à alegada violação dos arts. 550 e 551 do Código Civil de 1916 [art.
1.242 do CC/02], a irresignação consiste em questionar se a falta de registro de
promessa de compra e venda é apta a descaracterizar o justo título como requisito
necessário à configuração da usucapião ordinária.
A decisão do TJMS de que a ausência de registro – por ser condição essencial para a
oponibilidade do direito de propriedade perante terceiros – inviabilizaria o
reconhecimento do justo título previsto no artigo 1.242 do CC/2002, são contrários ao
conceito de justo título definido como "o ato jurídico, em tese, hábil a transferir o
domínio ou a posse, mas que, em concreto, não produz esse efeito em razão de algum
vício em sua constituição" (TEPEDINO, Gustavo; MONTEIRO FILHO, Carlos E. do
R.; RENTERIA, Pablo. Direitos Reais. Fundamentos do Direito Civil. Volume 5. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Forense, 2020, pág. 51).
Isso porque embora o compromisso de compra e venda desprovido de registro "não seja,
prima facie, apto a transferir o domínio, constitui um título em potência, que pode gerar
o ato de transferência por adjudicação compulsória, ou mesmo pela declaração de
vontade por substituição judicial do art. 501 do CPC/2015" (MEDINA, José Miguel
Garcia, ARAÚJO, Fábio Caldas de. Código Civil Comentado. 2ª edição em e-book
baseada na 3ª edição impressa. São Paulo: Editora Thomson Reuters Brasil, 2020).
Com relação à suposta ofensa aos artigos 219, caput, do NCPC de 2015 e 202 do CC de
2002, os recorrentes questionaram a possibilidade ou não de interrupção da prescrição
aquisitiva pela i) ação de imissão na posse, demanda processual de caráter petitório,
ajuizada por terceiro não integrante da presente lide, sem a citação dos possuidores e
julgada extinta sem resolução do mérito ou ii) pelo registro de boletim de ocorrência
contra os possuidores de imóvel.
Relevância do Acórdão:
Discussão recente apresentada pelo relator, Min. Villas Bôas Cueva sobre a inversão do
ônus da prova em caso envolvendo a identificação do momento de acessão de
propriedade imóvel, tendo como pano de fundo a realização de benfeitorias em imóvel
de propriedade de cônjuge varão, a qual fora objeto de partilha em ação de divórcio.
5. Para dar concretude ao princípio da persuasão racional do juiz, insculpido no art. 371
do CPC/2015, aliado aos postulados de boa-fé, de cooperação, de lealdade e de paridade
de armas previstos no novo diploma processual civil (arts. 5º, 6º, 7º, 77, I e II, e 378 do
CPC/2015), com vistas a proporcionar uma decisão de mérito justa e efetiva, foi
introduzida a faculdade de o juiz, no exercício dos poderes instrutórios que lhe
competem (art. 370 do CPC/2015), atribuir o ônus da prova de modo diverso entre os
sujeitos do processo quando diante de situações peculiares (art. 371, § 1º, do
CPC/2015). A instrumentalização dessa faculdade foi denominada pela doutrina
processual teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova ou teoria da carga dinâmica
do ônus da prova.
Relatório:
Voto:
Cinge-se a controvérsia a definir se a atribuição dinâmica do ônus probatório acerca da
realização de acessões/benfeitorias em imóvel de propriedade do cônjuge varão, objeto
de eventual partilha em ação de divórcio, pode afastar a presunção do art. 1.253 do
Código Civil de 2002 ("Toda construção ou plantação existente em um terreno
presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.").
Destaca-se que decisão de primeiro grau lhe atribuiu, nos termos do artigo 373, § 1º, do
CPC de 2015, o ônus de comprovar, em ação de divórcio litigioso, que as
acessões/benfeitorias realizadas em imóvel de que é coproprietário não foram edificadas
na constância do casamento (após o restabelecimento da sociedade conjugal).
Preliminarmente, ainda, registra-se que, nos termos dos arts. 1.029, § 1º, do CPC/2015 e
255, § 1º, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, a divergência
jurisprudencial com fundamento na alínea "c" do permissivo constitucional requisita
comprovação e demonstração, esta, em qualquer caso, com a transcrição dos trechos dos
acórdãos que configurem o dissídio, mencionando-se as circunstâncias que identifiquem
ou assemelhem os casos confrontados, não se revelando bastante a simples transcrição
de ementas sem realizar o necessário cotejo analítico a evidenciar a similitude fática
entre os casos apontados e a divergência de interpretações.
Com relação às presunções legais e da distribuição dinâmica do ônus da prova (ou teoria
da carga dinâmica do ônus da prova), não assiste razão ao recorrente.
O ponto nodal que levou ao entendimento confirmado pelo Tribunal de origem quanto à
distribuição dinâmica do ônus da prova decorreu da necessidade concreta de se apurar,
diante das peculiaridades do caso em julgamento, em que momento as
acessões/benfeitorias foram realizadas no imóvel objeto do litígio. A propósito, confira-
se a fundamentação do acórdão impugnado:
“(...)
Ou seja, a questão controvertida nos autos diz respeito apenas à data das
construções/acessões, visando saber se eventualmente se comunicam ou não
com os demais bens do casal. Como os terrenos em que foram construídas as
benfeitorias pertencem ao agravante em copropriedade com outras pessoas,
correto o entendimento do magistrado em inverter o ônus da prova, para que o
agravante comprove que as construções foram edificadas em períodos em que o
casamento não estava vigente
(...)
A teoria da distribuição dinâmica da carga probatória permite que o magistrado,
dentro dos seus poderes instrutórios e diante do caso concreto, incumba à carga
probatória à parte mais apta à sua produção.
No caso, ademais, a presunção do art. 1.253 do CC/2002, presente no direito das coisas
(Livro III), deve ceder lugar a outra presunção legal muito cara ao direito de família
(Livro IV), constante do art. 1.660, I e IV, do CC/2002, segundo a qual se presume o
esforço comum dos cônjuges na aquisição dos bens realizada na constância da relação
matrimonial sob o regime da comunhão parcial, situação em que os respectivos bens
devem ser partilhados.
Relevância do Acórdão:
Caso destacado pelo prof. Claudio Luiz Bueno de Godoy, como paradigmático em sua
atuação como desembargador, a respeito de evicção em bem imóvel (aquisição), bem
como sobre o instituto da ocupação (art. 1.263 do CC/02).
Relatório:
Cuida-se de recurso de apelação interposto contra sentença (fls. 584/590) que julgou
procedente a ação, para condenar os réus a indenizar o autor, com base na
responsabilidade por evicção do imóvel em causa.
No mérito, os vencidos sustentam que não há prejuízo concreto a indenizar, diante da
referida falta de trânsito em julgado; que não podem responder por evicção, pois
estavam de boa-fé quando adquiriram o imóvel da alienante Denilse, tendo
providenciado diversas certidões e verificado a matrícula para averiguar a situação da
alienante e do bem; que, se mantida a condenação, esta não deverá abranger as taxas
condominiais, pois o autor usufruiu do imóvel após a decretação da fraude à execução;
que a condenação também não deverá abranger as despesas com projeto de arquitetura,
pois este foi gasto próprio e particular, além de ausente comprovante de pagamento; que
a condenação não deverá abranger, por fim, as custas judiciais dos embargos de terceiro,
pois não deram causa ao seu desembolso, tudo sob pena de enriquecimento sem causa
do autor.
Voto:
Primeiramente, não se vem exigindo sentença judicial transitada em julgado para que se
faculte ao adquirente posto defronte à restrição do bem adquirido já para a
responsabilização do alienante pela evicção, nos termos de precedente do Superior
Tribunal de Justiça mencionado pelo autor, que trata de caso semelhante de declaração
de ineficácia da alienação pelo reconhecimento de fraude em execução fiscal, conforme
REsp 1332112/GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, j. 21/03/2013.
“ainda, convém ressaltar que o CC/2002 não exige, em nenhum momento, que a
caracterização da evicção demande tão somente de decisão judicial, sendo
suficiente um ato de apreensão do bem por autoridade administrativa, privando o
titular do poder sobre a coisa. Com efeito, para fins de tráfego jurídico e uma
época de extremo dinamismo nas relações econômicas, não há acentuada
diferença entre a perda de um direito por força de uma sentença e a sua privação
por uma inegável prova quanto à titularidade da coisa pelo terceiro.
Exemplificativamente, basta cogitar das hipóteses de apreensão, por autoridade
administrativa, de veículos furtados alicerçados em documentação falsificada, ou
mesmo cogitar da possibilidade de o proprietário abandonar o bem móvel (Art.
1.263 do CC) ou imóvel (art. 1.276 do CC) para ingressar diretamente com o
pedido indenizatório decorrente da evicção, em vez de aguardar passivamente
pela iniciativa do terceiro.” (Código Civil comentado, Coord.; Min. Cezar
Peluso, 12ª ed., Barueri: Manole, 2018, p. 477).
Nesse contexto, não se pode privar o autor da garantia da evicção. Tampouco prospera o
argumento da boa-fé dos réus ao adquirirem o imóvel de Denilse, que o havia adquirido
do executado Isaías (fls. 14/15).
Com efeito, os réus demonstraram ter empregado a devida diligência na compra, tendo
solicitado a expedição de diversas certidões para averiguar a situação da alienante (fls.
439/447) e do imóvel (fls. 435/437).
Por todas essas razões, deve-se manter a sentença quanto à condenação dos réus ao
ressarcimento do preço, nos termos do art. 450, caput do CC.
Relevância do Acórdão:
Relatório:
O d. Juízo da 3ª Vara Cível do Foro Regional de Santo Amaro assim decidiu que: (i)
não há que se cogitar de novação tácita, pois, a aceitação das parcelas, levando-se em
conta a atualização pelo INPC ao invés de variação pelo dólar se deu por força de
decisão judicial em ação civil pública que antecipou os efeitos da tutela para substituir o
indexador de contratos como aquele objeto do processo; e (ii) afastou a possibilidade de
aquisição da propriedade por usucapião, pois o bem objeto do contrato está
controvertido desde 1999, quando ajuizada a ação civil pública mencionada, não se
vislumbrando a posse mansa e pacífica sem oposição.
O autor apresentou apelação, por meio da qual aduziu que devesse ser declarado extinto
o contrato e a liberação do veículo, pois operada a usucapião do bem, tendo aceitado a
apelada os pagamentos das prestações com o INPC figurando como indexador.
Prosseguiu em sua irresignação pugnando pelo reconhecimento de novação tácita do
contrato com a substituição do indexador pelo INPC.
Voto:
As partes firmaram “Contrato de Arrendamento Mercantil” (fls. 23/25), para aquisição pelo
autor do veículo marca Ford, modelo Mondeo, ano 1997/1998, parcelando o valor de R$
37.500,00, adotando como fator de correção a variação cambial da moeda americana, tanto
para a contraprestação quanto para o saldo residual.
Ocorre que, o arrendatário entende por cumprido o pacto, porquanto adimpliu as parcelas
conforme determinado em liminar de Ação Civil Pública impetrada pela Ordem dos Advogados
do Brasil Secção de São Paulo.
Entretanto, embora o apelante esteja na posse do bem há mais de treze anos, durante todo
esse tempo na documentação consta como proprietário a instituição financeira.
O presente caso não atende aos requisitos do artigo 1.261 do Código Civil, eis que pressupõe
que o possuidor tenha como seu, de forma contínua e incontestada, por cinco anos, aquele
bem que pretende usucapir.
Pelo que se depreende dos autos, o apelante, tem ciência desde sempre de que o veículo não
era de sua propriedade, sendo apenas cessionário de direitos decorrentes de contrato de
arrendamento mercantil.
Diante disso, não restam dúvidas que a posse exercida pelo apelante caracteriza-se como
precária, porquanto somente possui a posse direta do bem. A posse indireta, por sua vez, é
exercida pela apelada, proprietária de direito, conforme consta da documentação e registros
junto ao DETRAN.
Ainda, o exame dos autos mostra que o autor não possui a posse mansa e pacífica do bem,
pois não foi lhe concedida a resolução do contrato pelo seu adimplemento, até mesmo
porque, a referida ação civil pública, que cuida da variação do dólar como indexados nos
contratos de leasing em sua sentença expressamente constou que, para a liberação do veículo
deve haver o depósito da diferença entre a variação cambial e a variação do INPC.