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ALUNA: ISABELLE MARQUES DE OLIVEIRA

RA: 201851377603

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL Nº 1.565.327 - PR (2015/0281619-9)

Relevância do Acórdão:

Presente na Edição nº 133 da Jurisprudência em Teses do Superior Tribunal de Justiça,


consolidando o entendimento do STJ de que o promitente vendedor que readquire a
titularidade do direito real sobre o bem imóvel anteriormente alienado pode ser
responsabilizado pelos débitos condominiais posteriores à alienação e contemporâneos à
posse do promissário comprador, sem prejuízo de ulterior direito de regresso.

EMENTA: AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL E


PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE DÍVIDA CONDOMINIAL.
COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. RESCISÃO. REAQUISIÇÃO DA
TITULARIDADE DO IMÓVEL. RESPONSABILIDADE DO PROMISSÁRIO
VENDEDOR. AGRAVO IMPROVIDO.

1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que "o


promitente vendedor, sem prejuízo do seu direito de regresso, pode ser responsabilizado
pelos débitos condominiais posteriores à alienação e contemporâneos à posse do
promissário comprador, se readquirir a titularidade do direito real sobre o bem imóvel
anteriormente alienado" (AgInt nos EDcl no REsp 1.407.443/PR, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe de 17/9/2018).

2. Conforme reiteradamente decidido por esta Corte, "Em regra, o promitente vendedor
não pode ser responsabilizado pelos débitos condominiais posteriores à alienação,
contemporâneos à posse do promissário comprador, pois, ao alienar o imóvel, tem a
intenção de desvincular-se do direito real sobre o bem. Entretanto, quando o promitente
vendedor obtém a retomada do bem anteriormente alienado, em virtude da reaquisição,
sua condição de proprietário e/ou titular de direito real sobre a coisa não se rompe, razão
porque o adquirente de imóvel em condomínio responde pelas cotas condominiais em
atraso, ainda que anteriores à aquisição, ressalvado o seu direito de regresso contra o
antigo proprietário/possuidor" (AgInt no REsp 1.229.639/PR, Rel. Ministro MARCO
BUZZI, QUARTA TURMA, DJe de 20/10/2016). 3. Agravo interno não provido.

Relatório:

Nas razões recursais, a agravante alega, em síntese, que a decisão agravada não se ateve
à jurisprudência predominante do STJ, consolidada pelo Recurso Repetitivo
1.345.331/RS. Argumenta que, no caso, "o E. STJ tem entendimento sedimentado de
que a responsabilidade pelas dívidas condominiais deve recair sobre aquele que usufruía
do imóvel no período referente à dívida cobrada".

Voto:

A recorrente, com fundamento nos arts. 9º, 12, 19 e 20 da Lei 8.245/91 e 1.345 do
Código Civil de 2002, sustenta não poder ser responsabilizada "pela dívida condominial
oriunda do período que o imóvel esteve em posse do ex-mutuário".

Não lhe assiste razão, contudo.

Efetivamente, tal como apontado na decisão agravada, as Terceira e Quarta Turmas


deste Tribunal, interpretando o entendimento consolidado pela eg. Segunda Seção no
REsp 1.345.331/RS, processado pelo rito do art. 543-C do CPC (julgado em 8/4/2015),
firmaram o entendimento de que, nos casos em que o promitente vendedor
(proprietário) retoma o imóvel que já se encontrava de posse do promitente comprador,
a responsabilidade pelas despesas condominiais relativas ao período em que exercida a
posse pelo comprador é concorrente.

Em casos análogos ao presente, relativos à mesma parte recorrente, a jurisprudência


desta Corte firmou-se no sentido de que "o promitente vendedor, sem prejuízo do seu
direito de regresso, pode ser responsabilizado pelos débitos condominiais posteriores à
alienação e contemporâneos à posse do promissário comprador, se readquirir a
titularidade do direito real sobre o bem imóvel anteriormente alienado" (AgInt nos EDcl
no REsp 1.407.443/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
DJe de 17/9/2018).

RECURSO ESPECIAL Nº 1.584.447 - MS (2014/0279953-4

Relevância do Acórdão:
Reafirmação do entendimento do STJ de que a falta de registro do compromisso de
compra e venda não é suficiente para descaracterizar o justo título - requisito necessário
ao reconhecimento da usucapião ordinária. Além disso, o Acórdão trata de 2 hipóteses
em que os atos de resistência do proprietário não foram aptas a interromper a prescrição
aquisitiva, nos termos do artigo 209 do NCP e 202 do CC/02, de modo que tanto o
julgamento de improcedência, ou extinção sem resolução de mérito, de ação possessória
ou petitória, como a lavratura de boletim de ocorrência, não são considerados fatos
interruptivos da prescrição aquisitiva.

EMENTA: RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO REIVINDICATÓRIA.


IMÓVEL RURAL. USUCAPIÃO ORDINÁRIA. JUSTO TÍTULO. COMPROMISSO
DE COMPRA E VENDA. REGISTRO. DESNECESSIDADE. PRESCRIÇÃO
AQUISITIVA. INTERRUPÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. BOLETIM DE
OCORRÊNCIA. AÇÃO DE IMISSÃO NA POSSE. TERCEIRO. CITAÇÃO.
FRUSTRADA. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO.

1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de


Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).

2. A falta de registro de compromisso de compra e venda não é suficiente para


descaracterizar o justo título como requisito necessário ao reconhecimento da usucapião
ordinária.

3. A interrupção do prazo da prescrição aquisitiva somente é possível na hipótese em


que o proprietário do imóvel usucapiendo consegue reaver a posse para si. Precedentes.

4. A mera lavratura de boletim de ocorrência, por iniciativa de quem se declara


proprietário de imóvel litigioso, não é capaz de, por si só, interromper a prescrição
aquisitiva.

5. Recurso especial provido.

Relatório:

No recurso especial, além de divergência jurisprudencial, os recorrentes apontam


violação dos seguintes dispositivos legais com as respectivas teses: (i) arts. 550 e 551 do
Código Civil de 1916, pois o tribunal entendeu que, "a despeito de configurado o
decurso do prazo de 10 anos, o compromisso de compra e venda do imóvel, não
registrado, não seria hábil a configurar a usucapião ordinária" (fls. 253/254 e-STJ), (ii)
arts. 219, caput, do Código de Processo Civil de 2015 e 202 do Código Civil de 2002,
ao argumento de que o acórdão recorrido teria considerado interrompida a prescrição
aquisitiva em virtude do ajuizamento de ação de imissão na posse que transcorreu sem a
citação dos recorrentes, e que, ao final, foi extinta sem julgamento do mérito.

Ao final, pleiteiam o reconhecimento da usucapião, "em razão do compromisso de


compra e venda ser título hábil a embasá-lo", embora não registrado, "bem como diante
da ausência de interrupção do prazo prescricional".

Voto:

Cuida-se, na origem, de ação reivindicatória proposta em 3/2/2009 pelos recorridos,


Ademar Capuci e Nilza Maria da Costa Capuci, com o intuito de reaver o imóvel
denominado "Fazenda Casa Branca" sobre o qual alegam possuir direito de propriedade
advindo da arrematação do bem junto ao Banco Bradesco.

Os recorrentes, em defesa, sustentaram a usucapião, alegando que, em 2007, receberam


o imóvel como doação de seu genitor, sr. Isidoro Gregory, que ocupava a área desde
1988 quando celebrou escritura pública de cessão de posse com o antigo proprietário, sr.
Oswaldo Bruno. Afirmaram que, em 1990, os dois teriam pactuado compromisso de
compra e venda que ainda não foi registrado na matrícula do imóvel.

O Tribunal de Justiça entendeu que, embora comprovada a existência de instrumento


particular de compromisso de compra e venda, celebrado em 26/9/1990, o documento
não foi levado a registro, sendo inoponível contra terceiros, motivo pelo qual não pôde
ser utilizado para caracterizar o requisito do justo título necessário à configuração da
usucapião ordinária.

Além disso, destacou não ter sido verificada a posse mansa e pacífica, pois, em
6/12/2004, foi ajuizada ação de imissão na posse contra o sr. Isidoro. Apesar de ele não
ter sido citado e de o feito ter sido extinto, entendeu-se que houve a ciência de que a
posse estava sendo contestada, pois o autor da referida ação também registrou boletim
de ocorrência relatando episódio em que foi impedido de entrar no terreno diante da
posse exercida pelo sr. Isidoro e seu filho Reinaldo.
No que diz respeito à alegada violação dos arts. 550 e 551 do Código Civil de 1916 [art.
1.242 do CC/02], a irresignação consiste em questionar se a falta de registro de
promessa de compra e venda é apta a descaracterizar o justo título como requisito
necessário à configuração da usucapião ordinária.

A decisão do TJMS de que a ausência de registro – por ser condição essencial para a
oponibilidade do direito de propriedade perante terceiros – inviabilizaria o
reconhecimento do justo título previsto no artigo 1.242 do CC/2002, são contrários ao
conceito de justo título definido como "o ato jurídico, em tese, hábil a transferir o
domínio ou a posse, mas que, em concreto, não produz esse efeito em razão de algum
vício em sua constituição" (TEPEDINO, Gustavo; MONTEIRO FILHO, Carlos E. do
R.; RENTERIA, Pablo. Direitos Reais. Fundamentos do Direito Civil. Volume 5. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Forense, 2020, pág. 51).

De fato, o justo título, na usucapião ordinária, pressupõe a existência de uma falha - no


caso, a ausência de registro - que o decurso do tempo trata de sanar, se presentes os
demais requisitos previstos pelo art. 551 do Código Civil de 1916 ou 1.242 do Código
Civil de 2002. Por isso, como ensina Pontes de Miranda, "é absurdo exigir-se para o
usucapião título justo transcrito e boa-fé", pois o título registrado já transfere a
propriedade, sendo desnecessário falar-se em qualquer forma de usucapião (Volume nº
11, § 1197).

Isso porque embora o compromisso de compra e venda desprovido de registro "não seja,
prima facie, apto a transferir o domínio, constitui um título em potência, que pode gerar
o ato de transferência por adjudicação compulsória, ou mesmo pela declaração de
vontade por substituição judicial do art. 501 do CPC/2015" (MEDINA, José Miguel
Garcia, ARAÚJO, Fábio Caldas de. Código Civil Comentado. 2ª edição em e-book
baseada na 3ª edição impressa. São Paulo: Editora Thomson Reuters Brasil, 2020).

Sendo assim, no caso concreto, o instrumento de promessa de compra e venda firmado


pelo sr. Isidoro com o antigo proprietário, em 1990, mesmo que não registrado, constitui
documento apto a caracterizar o requisito do justo título necessário para a usucapião
ordinária.

Com relação à suposta ofensa aos artigos 219, caput, do NCPC de 2015 e 202 do CC de
2002, os recorrentes questionaram a possibilidade ou não de interrupção da prescrição
aquisitiva pela i) ação de imissão na posse, demanda processual de caráter petitório,
ajuizada por terceiro não integrante da presente lide, sem a citação dos possuidores e
julgada extinta sem resolução do mérito ou ii) pelo registro de boletim de ocorrência
contra os possuidores de imóvel.

O Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência no sentido de considerar que não é


toda e qualquer resistência do proprietário apta a configurar a interrupção da prescrição
aquisitiva.

O julgamento de improcedência, ou extinção sem resolução de mérito de ação


possessória ou petitória, como ocorreu nos autos, por exemplo, é uma das situações em
não se interrompe o prazo para aquisição do imóvel pela usucapião (RIZZARDO,
Arnaldo. Direito das coisas. 8ª edição. Rio de Janeiro, Forense, 2016, pág. 275).

O Supremo Tribunal Federal também adotou esse raciocínio:

"Prescrição aquisitiva. - Pretendida interrupção do prazo pela citação em ação


possessória julgada improcedente. - Julgado que decide que, rejeitada a
demanda, a citação não tem efeito interruptivo. - Interpretação razoável, sem
negativa de vigência de lei. - Divergência não demonstrada. - Recurso
extraordinário não conhecido." (RE 77.298, Relator(a): Min. RODRIGUES
ALCKMIN, Primeira Turma, julgado em 10/12/1974, DJ 11/4/1975)

Quanto à lavratura de boletim de ocorrência, tampouco é possível considerá-la como


fato interruptivo da prescrição aquisitiva.

O mencionado documento, por suas características, apenas retrata relato unilateral do


comunicante que, embora prestado perante autoridade policial, não credita veracidade
inconteste à fala registrada em delegacia. Além do mais, a interrupção somente poderia
ocorrer na situação em que o proprietário do imóvel usucapiendo conseguisse reaver a
posse para si, o que não se verificou no caso dos autos.

RECURSO ESPECIAL Nº 1888242 - PR (2020/0197101-1)

Relevância do Acórdão:

Discussão recente apresentada pelo relator, Min. Villas Bôas Cueva sobre a inversão do
ônus da prova em caso envolvendo a identificação do momento de acessão de
propriedade imóvel, tendo como pano de fundo a realização de benfeitorias em imóvel
de propriedade de cônjuge varão, a qual fora objeto de partilha em ação de divórcio.

EMENTA: RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE


DIVÓRCIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL. EMENTA. TRANSCRIÇÃO. COTEJO ANALÍTICO. FALTA.
BEM IMÓVEL. ACESSÃO. BENFEITORIA. PRESUNÇÃO LEGAL JURIS
TANTUM. CONJUGE VARÃO. CAUSA. PECULIARIDADE. COPROPRIETÁRIO.
TERCEIRO. UNIÃO CONJUGAL. COMUNHÃO PARCIAL DE BENS.
INTERRUPÇÃO. ÔNUS DA PROVA. DESLOCAMENTO. TEORIA DA CARGA
DINÂMICA. APLICAÇÃO. POSSIBILIDADE.

1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de


Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).

2. Cinge-se a controvérsia a definir se a atribuição dinâmica do ônus probatório acerca


da realização de acessões/benfeitorias em imóvel de propriedade do cônjuge varão,
objeto de eventual partilha em ação de divórcio, pode afastar a presunção do art. 1.253
do Código Civil de 2002 ( "Toda construção ou plantação existente em um terreno
presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.").

3. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de origem motiva


adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia com a aplicação do direito que
entende cabível à hipótese, apenas não no sentido pretendido pela parte.

4. A divergência jurisprudencial com fundamento na alínea "c" do permissivo


constitucional requisita comprovação e demonstração, esta, em qualquer caso, com a
transcrição dos trechos dos acórdãos que configurem o dissídio, mencionando-se as
circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, não se
oferecendo como bastante a simples transcrição de ementas, sem realizar o necessário
cotejo analítico a evidenciar a similitude fática entre os casos apontados e a divergência
de interpretações (arts. 1.029, § 1º, do CPC/2015 e 255, § 1º, do RISTJ).

5. Para dar concretude ao princípio da persuasão racional do juiz, insculpido no art. 371
do CPC/2015, aliado aos postulados de boa-fé, de cooperação, de lealdade e de paridade
de armas previstos no novo diploma processual civil (arts. 5º, 6º, 7º, 77, I e II, e 378 do
CPC/2015), com vistas a proporcionar uma decisão de mérito justa e efetiva, foi
introduzida a faculdade de o juiz, no exercício dos poderes instrutórios que lhe
competem (art. 370 do CPC/2015), atribuir o ônus da prova de modo diverso entre os
sujeitos do processo quando diante de situações peculiares (art. 371, § 1º, do
CPC/2015). A instrumentalização dessa faculdade foi denominada pela doutrina
processual teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova ou teoria da carga dinâmica
do ônus da prova.

6. No caso dos autos, a participação do cônjuge varão como coproprietário do imóvel


em cujas acessões/benfeitorias foram realizadas faz presumir também o esforço comum
do cônjuge virago na sua realização (art. 1.660, I e IV, do CC/2002), além de que
ocorreram interrupções no vínculo matrimonial, são peculiaridades que autorizam a
dinamização do ônus probatório para o recorrente (art. 371, § 1º, do CPC/2015).

7. Recurso especial não provido.

Relatório:

Em suas razões, o recorrente alega, em síntese, a ocorrência de violação dos seguintes


dispositivos legais com as respectivas teses: (i) arts. 489, § 1º, IV, 1.022, II, do Código
de Processo Civil de 2015: negativa de prestação jurisdicional por parte do Tribunal de
origem que, mesmo instado por embargos de declaração, permaneceu omisso quanto ao
argumento de violação do disposto no art. 1.253 do Código Civil de 2002; (ii) art. 1.253
do Código Civil de 2002: a inversão do ônus da prova, determinada em conformidade
com o art. 373 do CPC/2015, contraria a presunção legal juris tantum de que as acessões
existentes no imóvel foram realizadas pelo seu proprietário. Assim, diante da ausência
de indícios de que as acessões foram incorporadas pela recorrida, a ela deveria caber o
ônus probatório dos fatos constitutivos do seu direito; (iii) divergência jurisprudencial:
com a transcrição de 5 (cinco) ementas (TJES, TJRS, TJSP), defende o recorrente que o
ônus da prova deve ser atribuído à parte recorrida, com aplicação sistemática dos arts.
373, I, do CPC/2015 e 1.253 do CC/2002.

No mérito, postula que o ônus probatório relativo às acessões  na propriedade do


recorrente permaneça com a ora recorrida.

Voto:
Cinge-se a controvérsia a definir se a atribuição dinâmica do ônus probatório acerca da
realização de acessões/benfeitorias em imóvel de propriedade do cônjuge varão, objeto
de eventual partilha em ação de divórcio, pode afastar a presunção do art. 1.253 do
Código Civil de 2002 ("Toda construção ou plantação existente em um terreno
presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.").

A irresignação do recorrente merecem prosperar.

Destaca-se que decisão de primeiro grau lhe atribuiu, nos termos do artigo 373, § 1º, do
CPC de 2015, o ônus de comprovar, em ação de divórcio litigioso, que as
acessões/benfeitorias realizadas em imóvel de que é coproprietário não foram edificadas
na constância do casamento (após o restabelecimento da sociedade conjugal).

Os embargos de declaração opostos pelo ora recorrente foram rejeitados.

Daí o recurso especial em exame, no qual se alega, além de negativa de prestação


jurisdicional, divergência jurisprudencial e violação do disposto nos arts. 373, I, do
CPC/2015 e 1.253 do CC/2002. sustentando-se, em suma, que o acórdão recorrido
contraria a presunção legal juris tantum de que as acessões existentes no imóvel foram
realizadas pelo seu proprietário. Assim, diante da ausência de indícios de que as
acessões foram incorporadas pela recorrida, a ela deveria caber o ônus probatório dos
fatos constitutivos do seu direito.

Preliminarmente, ainda, registra-se que, nos termos dos arts. 1.029, § 1º, do CPC/2015 e
255, § 1º, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, a divergência
jurisprudencial com fundamento na alínea "c" do permissivo constitucional requisita
comprovação e demonstração, esta, em qualquer caso, com a transcrição dos trechos dos
acórdãos que configurem o dissídio, mencionando-se as circunstâncias que identifiquem
ou assemelhem os casos confrontados, não se revelando bastante a simples transcrição
de ementas sem realizar o necessário cotejo analítico a evidenciar a similitude fática
entre os casos apontados e a divergência de interpretações.

Com relação às presunções legais e da distribuição dinâmica do ônus da prova (ou teoria
da carga dinâmica do ônus da prova), não assiste razão ao recorrente.

O recorrente sustenta que, na qualidade de coproprietário de imóvel cujas


benfeitorias/acessões são objeto de litígio em ação de divórcio, deveria ser beneficiário
da presunção legal juris tantum do art. 1.253 do CC/2002, segundo a qual presumem-se
realizadas pelo proprietário e à sua custa todas as construções realizadas no terreno até
que se prove o contrário, sendo, por isso, ilegal a inversão do ônus probatório, operada
nos termos do art. 373, § 1º, do CPC/2015.

O ponto nodal que levou ao entendimento confirmado pelo Tribunal de origem quanto à
distribuição dinâmica do ônus da prova decorreu da necessidade concreta de se apurar,
diante das peculiaridades do caso em julgamento, em que momento as
acessões/benfeitorias foram realizadas no imóvel objeto do litígio. A propósito, confira-
se a fundamentação do acórdão impugnado:

“(...)

Discute-se nos autos eventual partilha de construções/acessões supostamente


realizadas pelo casal durante a constância do casamento em terrenos que
pertencem exclusivamente ao agravante.

A decisão agravada corretamente inverteu o ônus da prova sob o fundamento de


que o agravante, por ser coproprietário e possuidor dos imóveis objeto da lide,
teria melhores condições de comprovar que as benfeitorias não foram edificadas
na constância do casamento.

Nota-se que o casal se separou em 21/05/2002 (trânsito em julgado da sentença


de separação) e restabeleceram a sociedade conjugal em 02/10/2003 (trânsito em
julgado da sentença), sendo que a discussão se cinge ao período das
construções/acessões em terrenos que não integram os bens partilháveis do casal.

Ou seja, a questão controvertida nos autos diz respeito apenas à data das
construções/acessões, visando saber se eventualmente se comunicam ou não
com os demais bens do casal. Como os terrenos em que foram construídas as
benfeitorias pertencem ao agravante em copropriedade com outras pessoas,
correto o entendimento do magistrado em inverter o ônus da prova, para que o
agravante comprove que as construções foram edificadas em períodos em que o
casamento não estava vigente

(...)
A teoria da distribuição dinâmica da carga probatória permite que o magistrado,
dentro dos seus poderes instrutórios e diante do caso concreto, incumba à carga
probatória à parte mais apta à sua produção.

Assim, possível a inversão dinâmica do ônus da prova, para que o agravante


comprove que as construções/acessões nos terrenos de sua propriedade não
integram os bens partilháveis do casal, nos termos do voto.".

Esse entendimento se justifica levando-se em conta as peculiaridades da causa, em


especial porque o imóvel pertence ao cônjuge varão em copropriedade com terceiros,
além da verificação de intervalos no curso do vínculo conjugal, razão pela qual o
Tribunal paranaense houve por bem afastar a presunção legal juris tantum do art. 1.253
do CC/2002 e aplicar a regra do § 1º do art. 373 do CPC/2015.

De sabença geral, as presunções legais subdividem-se em absolutas (iuris et de jure) e


relativas (iuris tantum). Classicamente, as primeiras admitiriam prova em contrário; as
segundas, não.

A presunção do art. 1.253 do CC/2002, reclamada pelo ora recorrente, pertence à


segunda categoria (juris tantum) e, por isso, pode ser elidida por prova em contrário,
sobretudo diante da relevância da dimensão temporal da prova relativa a esses fatos para
o caso concreto, isto é, tornou-se fundamental definir se as acessões/benfeitorias foram
realizadas em períodos coincidentes com a relação matrimonial, hipótese em que esses
bens deveriam ser partilhados.

No caso, ademais, a presunção do art. 1.253 do CC/2002, presente no direito das coisas
(Livro III), deve ceder lugar a outra presunção legal muito cara ao direito de família
(Livro IV), constante do art. 1.660, I e IV, do CC/2002, segundo a qual se presume o
esforço comum dos cônjuges na aquisição dos bens realizada na constância da relação
matrimonial sob o regime da comunhão parcial, situação em que os respectivos bens
devem ser partilhados.

Assim, na realidade, para afastar a regra do art. 1.253 do CC/2002, as instâncias


precedentes aquilataram os bens jurídicos envolvidos e fizeram preponderar outra
presunção legal, presente no direito de família (art. 1.660, I e IV, do CC/2002), que, no
caso dos autos justifica a aplicação do § 1º do art. 371 do CPC/2015, com o
deslocamento dinâmico do ônus probatório para o ora recorrente, que teria melhores
condições de fazer prova acerca do ponto controvertido da demanda, muito bem
apreendido pelas instâncias ordinárias.

Desse modo, é indiferente procurar saber simplesmente quem teria realizado as


construções ou edificações no imóvel objeto do litígio, mas é imprescindível definir em
que momento elas teriam sido realizadas, se na constância ou não da união conjugal,
mostrando-se mais adequado carrear a produção dessa prova para quem é o
(co)proprietário do imóvel, no caso, o ora recorrente.

Em conclusão, a participação do cônjuge varão como coproprietário do imóvel em cujas


acessões/benfeitorias foram realizadas faz presumir também o esforço comum do
cônjuge virago na sua realização (art. 1.660, I e IV, do CC/2002), além de que
ocorreram interrupções no vínculo matrimonial, são peculiaridades que autorizam a
dinamização do ônus probatório para o recorrente (art. 371, § 1º, do CPC/2015).

TJSP APELAÇÃO CÍVEL Nº 1024008-46.2018.8.26.0114

Relevância do Acórdão:

Caso destacado pelo prof. Claudio Luiz Bueno de Godoy, como paradigmático em sua
atuação como desembargador, a respeito de evicção em bem imóvel (aquisição), bem
como sobre o instituto da ocupação (art. 1.263 do CC/02).

EMENTA: Evicção. Fraude reconhecida em execução fiscal e em sentença de


embargos de terceiro. Desnecessidade de trânsito em julgado e até mesmo de
provimento judicial para ensejar o direito à reparação do adquirente, desde que em
concreto havida restrição à fruição da coisa pelo depósito judicial deliberado.
Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. Boa-fé dos alienantes que não tem
relevância para a configuração da responsabilidade por evicção, que é mecanismo de
garantia legal do adquirente a título oneroso. Cabível ajuste, porém, quanto a parte das
verbas pretendidas. Recurso parcialmente provido.

Relatório:

Cuida-se de recurso de apelação interposto contra sentença (fls. 584/590) que julgou
procedente a ação, para condenar os réus a indenizar o autor, com base na
responsabilidade por evicção do imóvel em causa.
No mérito, os vencidos sustentam que não há prejuízo concreto a indenizar, diante da
referida falta de trânsito em julgado; que não podem responder por evicção, pois
estavam de boa-fé quando adquiriram o imóvel da alienante Denilse, tendo
providenciado diversas certidões e verificado a matrícula para averiguar a situação da
alienante e do bem; que, se mantida a condenação, esta não deverá abranger as taxas
condominiais, pois o autor usufruiu do imóvel após a decretação da fraude à execução;
que a condenação também não deverá abranger as despesas com projeto de arquitetura,
pois este foi gasto próprio e particular, além de ausente comprovante de pagamento; que
a condenação não deverá abranger, por fim, as custas judiciais dos embargos de terceiro,
pois não deram causa ao seu desembolso, tudo sob pena de enriquecimento sem causa
do autor.

Voto:

Primeiramente, não se vem exigindo sentença judicial transitada em julgado para que se
faculte ao adquirente posto defronte à restrição do bem adquirido já para a
responsabilização do alienante pela evicção, nos termos de precedente do Superior
Tribunal de Justiça mencionado pelo autor, que trata de caso semelhante de declaração
de ineficácia da alienação pelo reconhecimento de fraude em execução fiscal, conforme
REsp 1332112/GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, j. 21/03/2013.

Conforme ensina Nelson Rosenvald:

“ainda, convém ressaltar que o CC/2002 não exige, em nenhum momento, que a
caracterização da evicção demande tão somente de decisão judicial, sendo
suficiente um ato de apreensão do bem por autoridade administrativa, privando o
titular do poder sobre a coisa. Com efeito, para fins de tráfego jurídico e uma
época de extremo dinamismo nas relações econômicas, não há acentuada
diferença entre a perda de um direito por força de uma sentença e a sua privação
por uma inegável prova quanto à titularidade da coisa pelo terceiro.
Exemplificativamente, basta cogitar das hipóteses de apreensão, por autoridade
administrativa, de veículos furtados alicerçados em documentação falsificada, ou
mesmo cogitar da possibilidade de o proprietário abandonar o bem móvel (Art.
1.263 do CC) ou imóvel (art. 1.276 do CC) para ingressar diretamente com o
pedido indenizatório decorrente da evicção, em vez de aguardar passivamente
pela iniciativa do terceiro.” (Código Civil comentado, Coord.; Min. Cezar
Peluso, 12ª ed., Barueri: Manole, 2018, p. 477).

No caso concreto, mesmo ausente trânsito da sentença de improcedência de embargos


de terceiro, já antes havida efetiva privação do autor da fruição do imóvel, que é lote
não edificado. Em 03 de fevereiro de 2017, efetivou-se a penhora e a nomeação de
Isaías, executado na referida execução fiscal movida perante a Justiça Federal, como fiel
depositário (v. certidão do Oficial de Justiça de fls. 20/21). Cabendo a administração do
bem a terceiro, o autor se viu impedido de construir sobre o solo adquirido e de aliená-
lo de forma eficaz a terceiros, assim configurada a privação de direito exigida para o
surgimento da responsabilidade por evicção.

Nesse contexto, não se pode privar o autor da garantia da evicção. Tampouco prospera o
argumento da boa-fé dos réus ao adquirirem o imóvel de Denilse, que o havia adquirido
do executado Isaías (fls. 14/15).

Com efeito, os réus demonstraram ter empregado a devida diligência na compra, tendo
solicitado a expedição de diversas certidões para averiguar a situação da alienante (fls.
439/447) e do imóvel (fls. 435/437).

Sucede que a evicção prescinde da análise do ânimo subjetivo ou da retidão de conduta


do alienante, não consistindo em sanção a comportamento reprovável deste, mas em
garantia legal ao adquirente, que só se afasta mediante expressa previsão, nos termos do
art. 448 do CC. É uma garantia legal que se erige em favor do adquirente oneroso e
diante de defeito que, nesses casos, incide sobre o direito à coisa, antes que sobre ela
própria (caso dos vícios redibitórios). Quer-se objetivamente assegurar a “legitimidade
do direito que é transferido.” (Nélson Rosenvald, Código Civil comentado, cit., p. 477).

É o que já reconheceu o Superior Tribunal de Justiça, em mais de uma ocasião:

“Primeiramente, conforme preconiza SERPA LOPES, 'a evicção é uma forma de


garantia, um elemento natural dos contratos onerosos, que se apresenta onde haja
obrigação de transferir o domínio, posse ou uso de uma determinada coisa.
Como conseqüência, ao alienante cabe resguardar o adquirente dos riscos por ela
produzidos .... A evicção constitui uma obrigação de fazer, suscetível, em
princípio, de uma execução in natura. Obrigação de fazer, por isso que, se o
adquirente for turbado no exercício da posse pacífica da coisa vendida, tem o
direito de chamar o vendedor ou cedente a intervir processualmente em seu
auxílio. Se, porém, houver recusa do vendedor, ou, se a despeito de sua
intervenção, o adquirente for evicto, a este cabe pedir perdas e danos. ...' (in,
'Curso de Direito Civil', 6ª. Edição, Vol. III, p. 184/185). Logo, deve o vendedor
assegurar ao comprador, se não estipulado em contrário, a garantia efetiva da
coisa transmitida para sua propriedade. Esta garantia pela evicção deriva do
próprio contrato e se opera, imediatamente, de pleno direito. Consoante
CARVALHO DOS SANTOS, 'o dispositivo que comentamos estabelece, pois,
que tal garantia não depende de convenção, não precisa de prova, é sempre
subentendida, no silêncio das partes a respeito' (in, 'Código Civil Brasileiro
Interpretado', 6ª. Edição, Vol. XV, p. 382). Por isso mesmo, o fato da ora
recorrida ser dona de casa e não ter agido de má-fé, não a desobriga da garantia
contratual, já que não há qualquer estipulação expressa em sentido contrário,
desonerando-a da garantia. Neste diapasão, o magistério de CAIO MÁRIO DA
SILVA PEREIRA: '...nos contratos onerosos não há necessidade de que se
convencione, para que prevaleça a garantia. O alienante responde de direito
(Ruggiero) ainda que não o declare, muito embora em fórmula tabelioa
habitualmente se reafirme. A garantia, convém repetir, opera ex lege e não ex
contractu. Mas, sendo como é matéria de ordem privada e não pública, têm as
partes a faculdade de modificá-la, quer no sentido do seu reforço, quer no de sua
redução, e até de sua abolição completa .... E, como se não funda na culpa do
alienante, vinga a responsabilidade deste, ainda que esteja de boa-fé' (in,
'Instituições do Direito Civil', 11ª. Edição, de acordo com o Código Civil de
2002, Vol. III, p. 139) - grifei.” (REsp 259.726/RJ, Rel. Min. Jorge Scartezzini,
Quarta Turma, j. 03/08/2004)

Por todas essas razões, deve-se manter a sentença quanto à condenação dos réus ao
ressarcimento do preço, nos termos do art. 450, caput do CC.

Não convence a argumentação de enriquecimento sem causa do autor pelo recebimento


das taxas associativas pagas desde a penhora. Como visto, ele ficou efetivamente
privado da fruição e disposição do imóvel com a penhora e nomeação de terceiro (o
executado Isaías) como depositário judicial, não havendo enriquecimento ilícito na
restituição das taxas pagas desde então.
Todavia, comporta provimento o apelo quanto ao ressarcimento de algumas das demais
verbas pleiteadas pelo autor.

Em primeiro lugar, quanto ao gasto de R$ 28.000,00 com projetos de arquitetura, e


ademais da necessidade de que o prejuízo decorra diretamente da evicção, como exige o
art. 450, II do CC, de costume identificando-se com os juros devidos em razão da dívida
indenizatória em dinheiro (v.g. Clóvis Bevilaqua, CC comentado, Livraria Francisco
Alves, 4ª ed., v. 4, p. 284), sem que se possa atribuir a perda a iniciativa do comprador
(Carvalho Santos, CC brasileiro interpretado, Freitas Bastos, 5ª ed., v. XV, p. 391), de
todo modo não houve comprovação do pagamento, tendo-se juntado apenas o respectivo
orçamento aos autos (fls. 168/169), mesmo o projeto em si não tendo sido acostado.
Referido gasto deve-se excluir, portanto, da condenação.

Em segundo lugar, quanto às custas judiciais, devem-se excluir da condenação principal


aquelas referentes a esta demanda, pois elas já decorrem da sucumbência dos réus e não
integram o mérito, assim se evitando indevida duplicidade. Devem-se ressarcir apenas
as custas referentes aos embargos de terceiro adiantadas pelo autor, no montante de R$
1.915,38 (fls. 164/165), nos termos do art. 450, III do CC.

TJSP APELAÇÃO CÍVEL Nº 0076938-84.2010.8.26.0002

Relevância do Acórdão:

Discussão a respeito da aquisição de propriedade de bem móvel, consistente em carro,


por meio de contrato de arrendamento mercantil, através da usucapião ordinária prevista
no artigo 1.261 do CC/02, bem como discussão sobre configuração da posse mansa e
pacífica do bem, bem como da qualidade como possuidor do bem, ou seja, arrendatário
durante a vigência do contrato.

EMENTA: APELAÇÃO AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE


CONTRATO E DE AQUISIÇÃO DE PROPRIEDADE MÓVEL julgada improcedente
Ação USUCAPIÃO - Decurso do lapso temporal de cinco anos no exercício, entretanto
sem posse com “animus domini” Existência de contrato de arrendamento mercantil
Pagamento das parcelas com substituição do indexador da moeda americana para INPC
Determinação de Ação Civil Pública em curso na Justiça Federal sem trânsito em
julgado Matéria controvertida desde o início Falta de posse mansa e pacífica Usucapião
afastada NOVAÇÃO Pelas mesmas razões não há que se falar em novação, porquanto o
pagamento utilizando-se indexador distinto deu-se por determinação judicial de
conhecimento do apelante Sentença mantida provimento.

Relatório:

Trata-se de Apelação interposta por JAMAICA DERIVADOS DE PETRÓLEO LTDA.,


nos autos da ação declaratória de inexigibilidade de contrato e de aquisição de
propriedade móvel que move contra SANTANDER LEASING S.A.
ARRENDAMENTO MERCANTIL, objetivando a reforma da sentença que julgou
improcedente o pedido, nos termos do artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil,
condenando-o ao pagamento das custas e despesas do processo, bem como honorários
de advocatícios fixados em R$ 1.500,00.

O d. Juízo da 3ª Vara Cível do Foro Regional de Santo Amaro assim decidiu que: (i)
não há que se cogitar de novação tácita, pois, a aceitação das parcelas, levando-se em
conta a atualização pelo INPC ao invés de variação pelo dólar se deu por força de
decisão judicial em ação civil pública que antecipou os efeitos da tutela para substituir o
indexador de contratos como aquele objeto do processo; e (ii) afastou a possibilidade de
aquisição da propriedade por usucapião, pois o bem objeto do contrato está
controvertido desde 1999, quando ajuizada a ação civil pública mencionada, não se
vislumbrando a posse mansa e pacífica sem oposição.

O autor apresentou apelação, por meio da qual aduziu que devesse ser declarado extinto
o contrato e a liberação do veículo, pois operada a usucapião do bem, tendo aceitado a
apelada os pagamentos das prestações com o INPC figurando como indexador.
Prosseguiu em sua irresignação pugnando pelo reconhecimento de novação tácita do
contrato com a substituição do indexador pelo INPC.

Voto:

As partes firmaram “Contrato de Arrendamento Mercantil” (fls. 23/25), para aquisição pelo
autor do veículo marca Ford, modelo Mondeo, ano 1997/1998, parcelando o valor de R$
37.500,00, adotando como fator de correção a variação cambial da moeda americana, tanto
para a contraprestação quanto para o saldo residual.
Ocorre que, o arrendatário entende por cumprido o pacto, porquanto adimpliu as parcelas
conforme determinado em liminar de Ação Civil Pública impetrada pela Ordem dos Advogados
do Brasil Secção de São Paulo.

Entretanto, embora o apelante esteja na posse do bem há mais de treze anos, durante todo
esse tempo na documentação consta como proprietário a instituição financeira.

Por meio do contrato de arrendamento mercantil, o arrendador normalmente uma instituição


bancária bem indicado pelo arrendatário no caso, o requerente adquire o concedendo-lhe o
uso oneroso da coisa por tempo determinado, ao final do qual é dado ao arrendatário a opção
de compra do bem, pela quitação do valor residual.

O presente caso não atende aos requisitos do artigo 1.261 do Código Civil, eis que pressupõe
que o possuidor tenha como seu, de forma contínua e incontestada, por cinco anos, aquele
bem que pretende usucapir.

Pelo que se depreende dos autos, o apelante, tem ciência desde sempre de que o veículo não
era de sua propriedade, sendo apenas cessionário de direitos decorrentes de contrato de
arrendamento mercantil.

Diante disso, não restam dúvidas que a posse exercida pelo apelante caracteriza-se como
precária, porquanto somente possui a posse direta do bem. A posse indireta, por sua vez, é
exercida pela apelada, proprietária de direito, conforme consta da documentação e registros
junto ao DETRAN.

Neste sentido, a Jurisprudência deste Tribunal de Justiça:

“Bem móvel. Ação de usucapião. Procedência. Veículo vinculado a contrato de


arrendamento mercantil. Cessão dos direitos da arrendatária ao primitivo autor.
Ausência do "animus domini". Manutenção dos caracteres do vínculo contratual
anterior. Inversão do julgado. Recurso provido. A denominada posse não própria,
derivada do contrato de arrendamento mercantil, não gera, enquanto pendente a
discussão sobre a extinção da obrigação de pagar entre arrendante e arrendatária, a
posse autorizadora do direito de declaração de propriedade pela usucapião.”
(Apelação nº 0144581-27.2008.8.26.0100. Relator Kioitsi Chicuta. 32ª Câmara de
Direito Privado Tribunal de Justiça de São Paulo. Julgado em 09/02/2010)

Na usucapião extraordinária de bem móvel, o único requisito da lei é o decurso do lapso


temporal de cinco anos no exercício da posse com animus domini.
Durante a vigência do contrato de arrendamento mercantil, a posse é precária, não existindo a
posse com animus domini, faltando requisito legal para o reconhecimento da aquisição da
propriedade pela usucapião.

Ainda, o exame dos autos mostra que o autor não possui a posse mansa e pacífica do bem,
pois não foi lhe concedida a resolução do contrato pelo seu adimplemento, até mesmo
porque, a referida ação civil pública, que cuida da variação do dólar como indexados nos
contratos de leasing em sua sentença expressamente constou que, para a liberação do veículo
deve haver o depósito da diferença entre a variação cambial e a variação do INPC.

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