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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara Cível da

Circunscrição Judiciária de Ceilândia, Distrito Federal.

Autos de nº: 2001.03.1.007336-0

CITIBANK LEASING S/A – ARRENDAMENTO


MERCANTIL, devidamente qualificado nos autos da ação de reintegração
de posse que vem sendo promovida contra ÉRICA BARBOSA SANTOS, em
curso perante esse Ilustrado e Douto Juízo, por sua procuradora, infra-
assinado, irresignado com a r. decisão proferida nestes autos, vem à digna
presença de V.Exa. interpor a presente apelação, fazendo-a pelas razões
anexas.

Requer o recebimento desta apelação, em ambos


os efeitos, e a remessa dos autos à instância superior na forma e prazo legal.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Brasília-DF, 27 de novembro de 2002.

Cristiane Borges Arantes Ayres


OAB/DF 13.318
2

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RAZÕES DO APELANTE

Eminente Relator.
Egrégia Turma Julgadora.

1. EXPOSIÇÃO DO FATO.

1.1. Pela r. decisão recorrida foi indeferida a inicial da presente


ação de reintegração de posse com base no artigo 267, I e VI, § 3º, e 295,
inciso I, § único do Código de Processo Civil.

1.2. Sustentou o i. prolator da decisão apelada que o pacto


firmado entre as partes estava descaracterizado em decorrência da
pactuação do VALOR RESIDUAL GARANTIDO e, por isso, foi decretada
a extinção do feito.

1.3. Ocorreu, “data máxima vênia”, em equívoco o Ilustre


Sentenciante em decorrência da previsão do pagamento do VALOR
RESIDUAL GARANTIDO, a qualquer momento, na letra “a” do inc. VII
do art. 7º da Resolução BACEN 2.309/96 que regulamentou a matéria do
arrendamento mercantil.

2. EXPOSIÇÃO DO DIREITO. DA INDEVIDA DESCARACTERIZAÇÃO DO


CONTRATO DE “LEASING”. INAPLICAÇÃO DO ART. 11, §§ 1º E 2º DA LEI
6.099/74.INFRINGÊNCIA DO ART. 267, VI DO C.P.CIVIL.

2.1. O arrendamento mercantil foi introduzido no Brasil por


força da Lei 6.099 de 12.09.74, pela qual foi outorgada ao CONSELHO
MONETÁRIO NACIONAL, pelos artigos 6º, 7º, a competência para,
dentre outras atribuições, a fixação das contraprestações e fiscalização das
operações, via BANCO CENTRAL DO BRASIL, da seguinte forma:
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“Art. 6º. O Conselho Monetário Nacional poderá


estabelecer índices máximos para a soma das
contraprestações, acrescidas do preço para o exercício da
opção de compra nas operações de arrendamento
mercantil.

§ 1º. Ficam sujeitas à regra deste artigo as prorrogações do


arrendamento nele referido.

§ 2º. Os índices de que trata este artigo serão fixados,


considerando o custo do arrendamento em relação ao do
financiamento da compra e venda.

“Art. 7º. Todas as operações de arrendamento mercantil


subordinam-se ao controle e fiscalização do Banco Central
do Brasil, segundo normas estabelecidas pelo Conselho
Monetário Nacional, a elas se aplicando, no que couber, as
disposições da Lei nº 4.595 de 31 de dezembro de 1964 e
legislação posterior relativa ao Sistema Financeiro
Nacional.

2.2. Com o advento da Lei 7.132 de 26/10/83, foi modificado o


§ Único do art. 1º da Lei 6.099/74 para permitir a contratação do
arrendamento mercantil por pessoa física permaneceu a competência do
CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL a modificar o prazo da
contratação e reafirmou a competência do mesmo para estabelecer as
contraprestações, objeto do contrato de arrendamento mercantil.

2.3. Decorrente desta competência, o CONSELHO


MONETÁRIO NACIONAL, via BANCO CENTRAL DO BRASIL editou
a Resolução BACEN 2.309/96 que regulamentou a forma pela qual deveria
ocorrer o pagamento do VRG que, segundo a letra “a” do inciso VI do art.
7º, o VALOR RESIDUAL GARANTIDO poderá ser da forma antecipada
ou diluída em prestações, da seguinte forma:

“Art. 7º. Os contatos de arrendamento mercantil devem


ser formalizados por instrumento público ou particular,
devendo conter, no mínimo, as especificações abaixo
relacionadas:
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.........................................................................................
VII – ................................................................................
a) a previsão de a arrendatária pagar valor residual
garantido em qualquer momento durante a vigência do
contrato,
contrato não caracterizando o pagamento do valor
residual garantido o exercício da opção de compra;
.......................................................................................”

2.4. De observar que o VALOR RESIDUAL GARANTIDO,


segundo o que determina a Portaria MF 564/78, item II, destina-se à
garantia do arrendante quanto ao preço mínimo do objeto arrendado,
portanto, a contratação do VRG encontra-se sob absoluta legalidade,
segundo escreveu ARNALDO RIZZARDO, sua obra “LEASING”, 3ª
edição, RT, pág. 80:

“A opção de compra é estabelecida em favor do


arrendatário, não ocorrendo o mesmo quanto ao valor
residual garantido, que é uma quantia mínima que deve
receber o arrendador.”

2.5. Esclarece, JORGE R. G. CARDOSO sobre o VRG que se


destina, ainda:

“... garantir que o arrendador receba, ao final do contrato,


a quantia mínima final de liquidação do negócio, em caso
de o arrendatário optar por não exercer seu direito de
compra e, também, não deseja que o contrato seja
prorrogado. Afinal, é a característica do “leasing
financeiro”, denominado entre nós “arrendamento
mercantil”, a recuperação pelo arrendador da totalidade
do capital empregado na aquisição do bem arrendado,
ocorrendo tal recuperação pelo recebimento não só das
contraprestações como também recebimento quer do preço
da opção quer do valor de venda a terceiros que, se for o
caso, será complementado pelo arrendatário para atingir o
mínimo estipulado contratualmente.”
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(Aspectos controvertidos do arrendamento mercantil, “in”


Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas, 5/73-74,
RT, 1993).

2.6. Não procede, pois, a pretensão da descaracterização do


contrato de “leasing” pelo VALOR ANTECIPADO, a título de VALOR
RESIDUAL GARANTIDO, segundo a permissão contida no inciso. VII do
art. 7º da Resolução BACEN 2.309/96 c.c. a Portaria MF 564/78.

2.7. Assegura o renomado RODOLFO CAMARGO


MANCUSO, ao mencionar ensinamento de JORGE R. G. CARDOSO que
o texto legal permite a cobrança do VRG, de forma antecipada ou diluída
em prestações, a asseverar o seguinte:

“Prossegue o articulista, informando que a citada Portaria


MF 564/78 PERMITE A ANTECIPAÇÃO, TOTAL OU
PARCIAL, DO PAGAMENTO DO VRG, o que,
naturalmente, acaba repercutindo no valor das
contraprestações mensais de início ajustadas,...”

(LEASING, 2ª edição, ed. RT, pág. 152).

2.8.Importante trazer, ainda, a colação as lições de ITAMAR


DUTRA, que sobre a matéria assim se manifesta:

“O valor residual garantido pode ser pago ao final do


contrato, durante seu desenvolvimento ou na assinatura
deste, mas em nenhuma das hipóteses caracteriza prévia
opção de compra.
..........................................................................................

Nem poderia ser de outra forma, pois, a finalidade do VRG


é garantir à arrendadora o que buscou com o investimento
financeiro. Faz parte integrando preço do contato de
arrendamento mercantil, sob risco exclusivo da
arrendatária. Como o VRG não tem caráter de opção de
compra, mas apenas de identificar com este no valor, neste
caso, evidente que o pagamento antecipado não quer dizer
que a arrendatária vá adquirir o bem.
........................................................................................
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O pagamento antecipado do VRG nada mais é do que uma


caução em dinheiro que a arrendatária oferece á
arrendadora. Tanto isso é verdade que no caso de não-
opção de compra no final do contrato, sendo o bem
vendido em valor superior ao VRG antecipado, essa
caução será integralmente devolvido a arrendatária.
.......................................................................................”

(“Leasing: Perdas e Danos”, Solivros, 1.997, p. 22)

2.9. A jurisprudência norteia no mesmo sentido entendendo


que o pagamento do VRG, na forma antecipada ou diluída nas
contraprestações, pouco importa na obrigação contratada e a
impossibilidade de aplicação do art. 11, §§ 1º e 2º da Lei 6.099/74,
portanto, não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil,
conforme a ementa de v. aresto do Eg. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SANTA CATARINA.

“Verbis”:

“CONTRATO – ARRENDAMENTO MERCANTIL -


LEASING FINANCEIRO – RESOLUÇÃO Nº 2.309/96
DO BACEN – VALOR RESIDUAL GARANTIDO 0 VRG
– PAGAMENTO ANTECIPADO – OPÇÃO DE
COMPRA – DESCARACTERIZAÇÃO DO CONTRATO.

O pagamento antecipado do chamado Valor Residual


Garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de leasing,
menos ainda o transforma em contato de compra e venda”
(AGA nº 175.562-RS, Min. Waldemar Zveiter)”

(TJ-SC, 1ª Câm. Civ. Ap. Civ. Nº 99010963-1, de São Bento -


do Sul, Relator DESEMBARGADOR NEWTON TRISOTTO)

2.10. “Data vênia”, pelo primor da forma e judiciosidade de


seu conteúdo, torna-se interessante a transcrição do voto do Eminente
Relator quando do julgamento, no v. acórdão, cuja ementa encontra-se
transcrita acima: “Verbis”:

“........................................................................................
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Com a edição da Resolução nº 2.309/96 do Banco


Central do Brasil, posteriormente modificada pela
Resolução nº 2.465/98, a distinção entre os dois tipos de
arredamento mercantil passou a ser legalmente
disciplinada. Por força dela, leasing financeiro é aquele em
que: a) os encargos são suficientes para retornar o valor do
bem arrendado e todos os custos incorridos pela
arrendadora na operação de arrendamento; b) o preço
para o exercício da opção de compra possa ser livremente
pactuado, podendo coincidir com o valor de mercado do
bem, ou não. Leasing operacional é aquele no qual: a) as
contraprestações sejam suficientes para retornar até 90%
do valor do bem, no máximo; b) o prazo contratual seja
inferior a 75% da vida útil da cosa arrendada; c) o preço
para o exercício da opção de compra seja o valor de
mercado; d) não haja previsão de pagamento do valor
residual garantido.

Da leitura das Resoluções aludidas, infere-se que


todo contato de arredamento mercantil que estipule
expressamente o pagamento do valor residual garantido é
financeiro.

2. Respeitáveis juristas sustentam que o VRG


importa em antecipação da opção de compra e, de
conseguinte, no desvirtuamento do leasing. Em abono à
tese, invocam a Resolução nº 2.309 do Baco Central do
Brasil que, no artigo 10 prescreve: “A operação de
arredamento mercantil será considerada de compra e venda
a prestação se a opção de compra for exercida antes de
decorrido o respectivo prazo mínimo estabelecido no art. 8º
deste Regulamento”. Idêntica regra está no § 1º do art. 11
da Lei nº 6.099/74: “A aquisição pelo arrendatário de bens
arrendados em desacordo com as disposições desta lei, será
considerada operação de compra e venda a prestação”

Data vênia, divirjo dessa tese. Conquanto possam


coincidir os valores do VRG e o da opção de compra, são
eles institutos completamente distintos, inclusive nas
finalidades. O VRG corresponde ao valor mínimo que o
arrendatário assegura ao arrendador caso não queira
exercer sua opção de compra. Já a opção de comprar é
uma dentre as três opções de que se pode valer o
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arrendatário ao final do contato, para cujo exercício é


estipulado um valor residual do objeto do contrato.
........................................................................................”

2.11. Além do que, a antecipação do VRG não significa


prejuízos ao arrendatário, mas, ao contrário, o beneficia, conforme,
exemplifica o RODOLFO CAMARGO MANCUSO, a obra citada ao
mencionar, ainda, o ensinamento de JORGE R. G. CARDOSO, da seguinte
forma:

“.... “se numa determinada operação de arrendamento


mercantil o arrendatário puder antecipar, no início do
contato, a título de garantia, todo o valor do VRG,
correspondente, digamos a 40% do valor do bem
arrendado, obviamente que as contraprestações do
arrendamento só irão refletir ônus financeiros
relacionados a 60% do seu valor, pois, apesar de
formalmente o arrendamento ter por objeto 100% do
valor do bem, o arrendador só estará arcando
economicamente com 60% do capital necessário à sua
aquisição.”

(LEASING, 2ª edição, ed. RT, pág. 152).

2.12. Não é outro o pensamento do insigne ATHOS GUSMÃO


CARNEIRO, expressado no parecer publicado na RJ 237, JUL/97, da
seguinte forma:

“........................................................................................
Sem que ocorra a mínima descaracterização do contrato
de leasing, o valor residual pode ser “adiantado” pelo
arrendatário, não a título de exercício da Opção de
Compra, mas sim como mero adiantamento em garantia
das obrigações contratuais assumidas.

32. Todavia, “mesmo em antecipando a totalidade do valor


residual, o “arrendatário ainda não exerceu a opção de
compra, e não está obrigado a comprar”!

Se optar pela compra, o valor residual será considerado


pago mediante a “apropriação” pela arrendadora, dos
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valores já antecipadamente entregues a título de “provisão


de recursos”; todavia, se o arrendatário “resolver não
comprar” e nem renovar o contrato, o caminhão, v.g., será
devolvido à arrendadora, que irá pô-lo a venda.

Nesse caso, o valor da alienação do veículo, ou de qualquer


outro bem arrendado em leasing financeiro, irá cobrir o
valor residual devido; e, como já dito, em sendo o preço de
venda superior a tal valor, a arrendadora devolverá ao
arrendatário a quantia excedente: se inferior, o faltante
mantém-se como débito a ser satisfeito pelo arrendatário.”

2.13. Este também tem sido o entendimento do Colendo


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA pela legalidade da antecipação do
VRG, quando assim se expressou:

STJ
AGA 175562/RS; AGRAVO REMENTAL NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO (98/0004954-1)
DJ 07.12.98, P.0083
RELATOR: MINISTRO WALDEMAR ZVEITER

“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO – AGRAVO


REGIMENTAL – LEASING – REINTEGRATÓRIA –
PAGAMENTO DO CHAMADO VALOR RESIDUAL
GARANTIDO (VRG) – CONTRATO DE COMPRA E
VENDA.
.........................................................................................
I – O PAGAMENTO ANTECIPADO DO CHAMADO
VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG), NÃO
DESCARACTERIZA O CONTRATO DE LEASING,
MENOS AINDA TRANSFORMA EM CONTRATO DE
COMPRA E VENDA A PRESTAÇÕES.
II.....................................................................................”
III – Agravo regimental improvido.

2.14. Noutra oportunidade, ainda, se manifestou o Colendo


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA pelo julgamento com a ementa
seguinte:
Acórdão RESP 174031/SC ;
RECURSO ESPECIAL
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(1998/0032518-2) Fonte
Relator Ministro JOSÉ DELGADO (1105).

Ementa:

“TRIBUTÁRIO. "LEASING". IMPOSTO DE RENDA.


DESCARACTERIZAÇÃO DO CONTRATO.

1. O contrato de "leasing", em nosso ordenamento


jurídico, recebe regramento fechado pela via da Lei nº
6.099, de 1974, com a redação que lhe deu a Lei nº 7.032,
de 1983, pelo que só se transmuda em forma dissimulada
de compra e venda quando, expressamente, ocorrer
violação da própria lei e da regulamentação que o rege.
2. Não havendo nenhum dispositivo legal considerando
como cláusula obrigatória para a caracterização do
contrato de "leasing" e que fixe valor específico de cada
contraprestação, há de se considerar como sem influência,
para a definição de sua natureza jurídica, o fato das partes
ajustarem valores diferenciados ou até mesmo simbólico
para efeitos da opção de compra.

3. Homenagem ao princípio de livre convenção pelas partes


quanto ao valor residual a ser pago por ocasião da compra.

4........................................................................................

5. Recurso desprovido.”

Data da Decisão 15/10/1998 Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA


TURMA Decisão
Por unanimidade, negar provimento ao recurso

2.15. O Eminente Relator, ao proferir o voto condutor do v.


acórdão enfrentou a questão invocando, para sua fundamentação, a opinião
de GERALDO ATALIBA e ARNOLDO WALD, por pareceres nos autos,
tendo como insustentável a descaracterização do “leasing” pela
legalidade da contratação antecipada do VRG, salientando o seguinte:

“A caracterização, portanto, do contrato de “leasing”, está


definida, de modo expresso, no art. 1º, parágrafo único, a
11

Lei 6.099/74, na redação da Lei 7.132, de 26.10.83, como


sendo “negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na
qualidade de arrendadora e pessoa física ou jurídica, na
qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o
arrendamento de bem adquirido pela arrendadora,
segundo especificações da arrendatária e para uso próprio
desta”.
Como visto, não influi para a descaracterização do
contrato de “leasing” o fato das partes estipularem preço
simbólico ou de valor pouco expressivo para o exercício da
opção ou compra do bem arrendado. Esse ajuste não altera
a qualificação jurídica do mencionado contrato, porque
não é de sua essência para a formação de sua estrutura.

No particular, convém se aceitar o posto às fls. 127/128 dos


autos, parecer assinado por GERALDO ATALIBA (fls.
127):
“Aliás, é unânime o entendimento doutrinário em
considerar que a soma total das contraprestações pagas,
pelo arrendatário, durante o prazo de arrendamento,
corresponde ao preço de aquisição do bem arrendado,
inclusive, custos financeiros e administrativos da
arrendadora, além da sua taxa de lucro. Assim, conforme
pode inferir-se dessa inteligência que, anote-se, é
confirmada pela interpretação sistemática das normas do
direito positivo brasileiro, que disciplinam este negócio
jurídico – a estipulação de preço pouco significativo para o
exercício da opção da compra do bem pelo arrendatário,
antes de desfigurar o esquema legal do contato de
arrendamento mercantil, é com ele consonante. Além disso,
a expressão o valor do preço, para o exercício da opção
referida, não é considerado pela lei esquematizado desse
negócio jurídico como relevante para sua tipificação ou
qualificação jurídica, podendo ser estipulado livremente
pelas partes, observados os princípios e regras que regem
os contratos em geral.

Portanto, se a lei não confere, explicita ou implicitamente,


a esse dado - grandeza do preço – relevância jurídica, para
efeitos de qualificação do contrato de arrendamento
mercantil, não se pode tomá-lo para fins de buscar ou
descaracterizar esse negócio jurídico; muito menos para
transmutá-lo em compra-e-venda mercantil (que também,
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e no nosso direito positivo, contato típico e, pois,


corresponde paradigma legal distinto do estruturado para
o contrato de arrendamento mercantil), nem em qualquer
outra espécie contratual.”

A mesma posição há de ser tomada com referência dos


dizeres de ARNOLD WALD, no parecer acostado dos autos
(fls. 209):

“Cabe, aliás, acrescentar que, de acordo com a lei e com a


regulamentação que a complementa, somente cabe a
descaracterização do arrendamento mercantil para
considerá-lo como forma dissimulada de venda na hipótese
de violação da própria lei (art. 11, § 1º da Lei nº 6.099) e da
regulamentação (artigos 11 e 41 do Regulamento aprovado
pela Resolução nº 980).

Não havendo qualquer norma legal quanto ao valor


específico de cada contraprestação evidencia-se que a
existência de valores distintos (crescentes ou decrescentes e
até o valor simbólico) não justifica a descaracterização do
contrato de leasing.

A existência de prestações simbólicas não importa em grau


de não afeta o prazo do contrato de arrendamento
mercantil que se mantém imutável, pois somente termina
na data fixada contratualmente, pouco importando que as
contraprestações tenha sido maiores, numa primeira fase, e
menores ou até simbólicas, num segundo período.”

2.16.Em recentíssima decisão, o Colendo SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA proferiu decisão pela qual ficou entendido a
impossibilidade de descaracterização do contrato de arrendamento
mercantil pela forma da pactuação do VALOR RESIDUAL GARANTIDO.
Veja a seguinte ementa:

“EMENTA. LEASING. COBRANÇA ABNTECIPADA


DO VALOR RESIDUAL GARATIDO (VRG). COMPRA
E VENDA. LIMITAÇÃO DOS JUROS DE MORA.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. ISS.
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1. A cobrança ao longo do contrato de leasing do Valor


Residual Garantido (VRG) não transforma a operação em
simples compra e venda, sendo certo que a opção de
compra será realizada apenas no final do contrato,
facultativamente, pelo arrendatário. Não havendo
interesse pela compra, caberá ao arrendatário contra em
acerto com a instituição financeira quanto ás parcelas
antecipadas, atendo-se às normas legais pertinentes e ao
contrato.

2. Afasta-se a limitação dos juros de mora de 1% ao ano,


permitindo-se a incidência da taxa pactuada.

3. Não há impedimento legal para cobrança da comissão de


permanência, desde que não cumulada com a correção
monetária.
.......................................................................................”

STJ – R.Esp. 163.838 – RS (1998/9290-0)-(5.278) – Relator


Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Recte.:
BRADESO LEASING S/A ARRENDAMENTO
MERCANTIL e Recdo.: CLAURIO ROBERTO ROSA DINI)

2.17. Pela relevância da questão, necessário se faz a


transcrição de parte das colocações do Eminente Relator ao proferir o voto
condutor do v. acórdão cuja ementa encontra-se transcrita acima:

“O valor residual, segundo define a Portaria nº 564/78-MF,


inciso 2, é “o preço contratual estipulado para o exercício
da opção de compra ou valor contratualmente garantido
pela arrendatária como mínimo que será recebido pela
arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado, na
hipótese de não ser exercida a opção de compra”.

A cláusula 4 referida no Acórdão encontra-se em perfeita


consonância com a portaria nº 564/78-MF, inciso 2. Basta
agora, perquiri sobre os efeitos do recebimento antecipado
do Valor Residual Garantido (VRG) sobre a natureza do
leasing.
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O recolhimento do VRG ao longo do contrato, entendo,


não obriga o arrendatário a adquirir o bem. Findo o prazo
do leasing, poderá o arrendatário não se manifestar
favoravelmente à opção de compra, direito que lhe assiste,
a teor da Lei nº 6.099/74, art. 5º, alínea c). Quanto as
importâncias adiantadas a título de Valor Residual
Garantido, equiparado ao valor da opção da compra,
deverá o arrendatário entrar em acerto com a instituição
financeira segundo as normas legais pertinentes e o contato
acaso decida não optar pela compra do bem.
bem

Não se diga que o arrendatário, na hipótese de


adiantamento do VRG, sofra prejuízo irreparável. Ao final
do contrato, mesmo que não seja efetuado o referido
adiantamento, deverá pagar à arrendadora a diferença
entre o VRG e o valor obtido da venda do bem a terceiros,
quando este for inferior àquele. Optando, entretanto, pela
compra, já terá quitado a importância necessária, não
precisando desembolsar qualquer valor. Não há no caso
presente, por outro lado, infringência a qualquer regra da
Lei nº 6.099/74, que não veda, expressamente, o
recebimento antecipado do valor da opção de compra,
assim, esse fato, por si só, não caracteriza a operação de
compra e venda, não incidindo o § 1º do art. 11 do diploma
legal mencionado.

Com efeito, o contrato firmado tem a natureza de leasing e


não de compra e venda, tendo o Acórdão violado o art. 85
do Código Civil e o art. 1º, parágrafo único, da Lei nº
6.099/74, já que a antecipação do VRG não afeta a
intenção das partes e a definição legal do leasing.
........................................................................................”

2.18. Tem-se, pois, da pactuação do Valor Residual Garantido


entre as partes para pagamento da forma antecipada ou diluído nas
prestações não decorreu a descaracterização do contrato de arrendamento
mercantil diante da prescrição do inc. VII do art. 7º da Resolução BACEN
2.309/96.
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3. DA CONDIÇÃO RESOLUTIVA EXPRESSA E NATUREZA DO


PEDIDO.

3.1. Atendo-se a natureza do pacto firmado entre as partes, no


qual existiu a contratação da condição resolutiva expressa na cláusula 18 do
contrato de arrendamento mercantil firmado entre as partes.

3.2. Nesta condição resolutiva, incide o disposto no art. 119, §


Único do Código Civil, no qual ficou prevista a rescisão contratual caso
haja inadimplência pelo não pagamento do arrendatário, ora apelado.

3.3. Segundo o art. 293 e 927 e ss. do C. P. Civil, no pedido da


ação de reintegração de posse, encontra-se, implicitamente, o pedido de
rescisão contratual, segundo a doutrina e jurisprudência.

3.4. Neste sentido, a nota seguinte:

“Compreende-se no pedido o que logicamente dele


decorre. Assim, se o autor pede reintegração de posse e
esta tem como antecedente necessário a rescisão do
contrato que deu posse ao réu, também formulou pedido
de rescisão desse contrato (v. art. 926, nota 2). Nessa
ordem de idéias, não deve o julgador desconsiderar os
"pedidos implícitos e os formulados por invocação
expressa a peças de instrução da inicial" (RT 595/237).
..........................................................................................

(CPC e LEGISLAÇÃO PROCESSUAL CIVIL EM VIGOR,


Theotônio Negrão, nota 3 ao art. 293).

3.5. Com o mesmo entendimento, ainda que se tratasse de


CONTRATO DE COMPRA E VENDA, na forma do disposto no art. 1.163
do Código Civil, não fugiria ao que ficou constado da nota acima. Veja a
ementa seguinte:

ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 77.275 - SP
(Segunda Turma)
Relator: O Sr. Ministro Leitão de Abreu.
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Recorrentes: Nelson Alves Gonçalves e sua mulher.


Recorridos: Abrahão J. Schwartz e sua mulher.

Compromisso de compra e venda. Cláusula resolutiva


expressa. Lei nº 745/69. Constituição em mora: prévia
notificação judicial. Reintegração de posse: desnecessidade
de prévia e concomitante ação de rescisão de contrato e
inadmissibilidade da emenda da mora no prazo da
contestação da ação.
Recurso extraordinário conhecido e provido.

(RTJ 83/401, CPC e LEGISLAÇÃO PROCESSUAL CIVIL


EM VIGOR, nota 2 ao art. 926)

Ainda:

ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº
78.037 – SP (Tribunal Pleno)
Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.
Embargantes: Henny Assis Aguiar e Geraldo Cardoso.
Embargados: Guilherme Prates Teixeira de Paula e outros.

Embargos de divergência conhecidos em parte, mas


rejeitados. Ação de reintegração. Desnecessidade de prévia
ação para reconhecimento judicial da rescisão de promessa
de compra e venda.

(RTJ 74/449, CPC e LEGISLAÇÃO PROCESSUAL CIVIL


EM VIGOR, nota 2 ao art. 926)

3.6. Evidente, pois, que, pela interpretação jurisprudencial do


Excelso SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ao art. 293 e art. 926
seguintes do Código de Processo Civil, na ação de reintegração de posse,
encontra-se, implicitamente, o pedido de rescisão contratual.

3.7. Portanto, o contrato de arrendamento mercantil encontra-


se, de pleno direito, rescindido decorrente da inadimplência do
arrendatário, ora apelado.
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4. DA REINTEGRAÇÃO DE POSSE.

4.1. Estando o contrato de arrendamento mercantil rescindido


de pleno direito por força do que já ficou afirmado, a posse do apelado
sobre o bem, após notificação dos autos, tornou-se precária – art. 489 do
Código Civil.

4.2. Diz, com efeito, o art. 489 do C. Civil que:

“É justa a posse que não for violenta, clandestina ou


precária.”

4.3. Por posse precária, disse WASHINGTON DE BARROS


MONTEIRO que:

“Posse precária é aquela que se origina do abuso de


confiança, por parte de quem recebeu a coisa com
obrigação de restituí-la, e depois, se recusa a fazê-lo.” (Ob.
cit. pág. 28).

4.4. “Mutatis mutandis”, a ementa seguinte:

POSSESSÓRIA - LIMINAR - POSSE PRECÁRIA -


REVOGAÇÃO - INADMISSIBILIDADE -
INAPLICABILIDADE DO ART. 508 DO CÓDIGO CIVIL
Solicitada a devolução do imóvel, através de notificação
prévia, a posse dele, antes justa, torna-se injusta e então
precária (art. 489 do C.C.) e, se ajuizada a ação
reintegratória antes da fluência do prazo de ano e dia, não
há como revogar-se liminar concedida com base no art. 507
do C.C., inviabilizada, portanto a aplicação do art. 508 do
mesmo diploma.
MS 190.805 - 6ª Câm. - Rel. Juiz GAMALIEL COSTA - J.
24.9.86, in JTA (RT) 105/339.

4.5. Com o mesmo entendimento:


18

COMODATO - REINTEGRAÇÃO DE POSSE -


LEGITIMIDADE - PROPRIETÁRIOS E POSSUIDORES
INDIRETOS DO IMÓVEL - ADMISSIBILIDADE

A relação de comodato não elimina a posse do comodante,


que a detém indiretamente, visto que existe a expectativa
da retomada, encontrando-se o comodatário, a partir da
cessação de seu contrato, na posse injusta do imóvel,
caracterizada como precária.
Ap. c/ Rev. 434.847 - 6ª Câm. - Rel. Juiz LAGRASTA NETO
- J. 20.9.95, 157.502 (em.)

ANOTAÇÃO DA COMISSÃO.
No mesmo sentido: Ap. c/ Rev. 446.501 - 12ª Câm. - Rel. Juiz
RIBEIRO DA SILVA - J. 8.2.96

4.6. No caso dos autos, na forma do art. 926 e ss. do C. P.


Civil, foram atendidos todos estes requisitos necessários e indispensáveis a
reintegração de posse.

4.7. Neste sentido:

Ementa.

“AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE PROPOSTA POR


VENDEDORA EM DESPROVEITO DE COMPRADOR
INADIMPLENTE COM AS PRESTAÇÕES AJUSTADAS.
.........................................................................................

Cassação do julgado porquanto independentemente de


qualquer declaração judicial – desnecessária ante a
expressa cláusula contratual – considera-se resolvido o
ajuste entre as partes celebrado em razão do pacto
comissório imbutido, o qual, por sua vez, tem esteio no art.
1.163 do Código Civil Brasileiro. Cuida-se de condição
resolutiva, pela qual “verificada a condição, para todos os
efeitos, se extingue o direito a que ela se opõe” (art. 119,
Segunda parte, do CC). Por isso afigura-se desnecessário
provimento jurisdicional que declare a rescisão do
contrato nesta circunstância, embora a prática demonstre
19

as partes tem preferido ajuizar ação de rescisão de


contrato cumulada com reintegração de posse.
........................................................................................”

(TJDF, APC 4080796-DF, de 03.03.97, Relator: DESOR.


WALDIR LEÔNCIO JUNIOR, DJDF de 28.5.97, pág. 11.009,
até 31.12.93 na Seção 2, a partir de 01/01/94, na Seção 3)

4.8. Ainda, de forma perfeita, encaixa a situação dos autos à da


ementa do v. acórdão do Eg. Tribunal de Justiça do Distrito Federal:

EMENTA
REINTEGRAÇÃO DE POSSE – VEÍCULO OBJETO DE
ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING) –
RESCISÃO DO CONTRATO – VALOR RESIDUAL.

1. Configurada a mora da arrendatária, esta perderá em


favor da arrendante as prestações que pagou, devendo
ainda adimplir as que se venceram até a reintegração na
posse do bem, acrescendo-se a multa pela rescisão do bem
contratado.
..........................................................................................
Apelação improvida. À unanimidade.”
(TJ-DF, 5ª Turma Cível, APC 47.719/98, Relatora Des.
ADELITH CARVALHO LOPES).

5. DO PEDIDO.

ISTO POSTO, o apelante, na forma do art. 515 do


C.P.Civil – devolução de toda a matéria argüida nos autos desta ação a
esse Eg. Tribunal – requer seja esta apelação conhecida e provida para:

a) Ser cassada a r. decisão recorrida para ser determinado o


prosseguimento da tramitação processual até decisão de mérito;

b) requer, outrossim, o prequestionamento de todas as “quaestiones


facti” e as “quaestiones iures” argüidas nestes autos, como forma de
afastar os óbices regimentais dos Tribunais Superiores, caso seja
utilizada de recurso para os órgãos “ad quem”.
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Nestes termos,
Pede deferimento.

Brasília-DF, 22 de novembro de 2002

Cristiane Borges Arantes Ayres


OAB/DF 13.318

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