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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

DIREITO 6° SEMESTRE – TURMA NA6

DIREITO CIVIL VI - SEMINÁRIO I

PROFESSOR DR. ADRIANO LICHTENBERGER PARRA

LEONARDO HADDAD FREIRE - RA00276408


LUIZ FELIPE MONTEIRO NOGUEIRA - RA00276445

SÃO PAULO - SP
NOVEMBRO – 2022
Questão nº 1

Gabi, empresária de sucesso, sempre está entre idas e vindas de viagens


nacionais de carro pelo Brasil afora. Diante de sua vida profissional agitada,
como sempre foi cautelosa, resolveu firmar vários seguros de vida(5 no total), tendo
como beneficiários seus 3 filhos (João, Maria e Amanda); todavia, em alguns
estão contemplados todos e, em outros, apenas um deles.
Além destes, ainda possuía seguro sobre o seu único automóvel, com
cláusula prevendo o pagamento de 110% sobre o valor de mercado em caso de
sinistro.
Em sua última viagem de negócios, resolveu parar na estrada para jantar e
descansar. Lá, encontrou coincidentemente sua amiga de infância, Joana, que
estava a caminho de uma viagem de férias com amigos. Joana convidou Gabi para
tomar uma taça de vinho e se sentar com eles, afinal, segundo Joana, não faria mal
relaxar um pouco depois de tantas horas dirigindo. Gabi acabou bebendo mais
do que estava acostumada e, ao voltar para a estrada, dorme ao volante, atingindo
outro veículo;horas depois, faleceu.O carro ficou totalmente destruído e no exame
de corpo de delito foi constatada a ingestão de bebida alcoólica acima do
limite.
Diante do caso hipotético, pergunta-se:
(a) Os 3 filhos de Gabi poderão exigir a indenização do seguro de vida? Houve
Agravamento do risco por parte de Gabi?
Resposta:

De acordo com o art. 768 do CC, o segurado perderá o direito apenas em


caso de intencional agravo. Isso significa, em suma, que deve ser provado o nexo de
causalidade entre o acidente que causou a morte e a intencionalidade da vítima.
É o entendimento jurisprudencial:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA.


ACIDENTE DE TRÂNSITO. SEGURO. EMBRIAGUEZ DE TERCEIRO
CONDUTOR. FATO NÃO IMPUTÁVEL À CONDUTA DO SEGURADO.
EXCLUSÃO DA COBERTURA. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. A
culpa exclusiva de terceiro na ocorrência de acidente de trânsito, por dirigir
embriagado, não é causa de perda do direito ao seguro, por não configurar
agravamento do risco provocado pelo segurado. Precedentes. 2. Agravo
regimental não provido. (STJ - AgRg no REsp: 1408030 RS 2013/0333715-0,
Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento: 18/11/2014, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 28/11/2014)

Além disso, cabe à seguradora comprovar nos autos tal causalidade.


Considerando o caso em questão, compreende-se que os 3 filhos de Gabi poderão
exigir a indenização, visto que, não há claro se a quantidade de álcool ingerida
influenciou no acidente e se dormir no volante não ocorreu por exaustão, não sendo
claro o nexo de causalidade que não permitiria a indenização.

(b) E quanto à indenização pela perda total do carro?É devida?


Resposta:
No caso da indenização pela perda total do carro, considerando já que os 3
filhos de Gabi podem requerer a indenização, o Código Civil é mais claro.
Nos arts. 757 e 776, demonstra-se, respectivamente, como predisposto ao
indenizador a existência de coisa possível de indenização, no caso em questão o
carro, e a necessidade de compreender-se o risco assumido, ou seja,
predeterminado aos acidentes.
Não observada fraude, ou qualquer hipótese que fuja do demonstrado nos
arts. acima, a indenização pela perda total é, portanto, devida.

(c) Caso exista atraso no pagamento das parcelas dos seguros, os contratos
estão suspensos?
Resposta:
Em acordo com a jurisprudência brasileira quanto ao direito securitário,
demonstra a súmula 616 do STJ:
A indenização securitária é devida quando ausente a comunicação prévia do
segurado acerca do atraso no pagamento do prêmio, por constituir requisito
essencial para a suspensão ou resolução do contrato de seguro.
(STJ. 2ª Seção. Aprovada em 23/05/2018, DJe 28/05/2018)
Portanto, em caso de atraso no pagamento das parcelas dos seguros, não
ocorrerá suspensão dos contratos.
Questão nº 2

Paulo da Silva, neste contexto,outorgou 2 (duas) procurações em causa


própria para José Antônio de Souza, neste ano de 2.022, no 99º Tabelionato de
Notas de São Paulo, contendo todos os requisitos legais pertinentes, inclusive os
respectivos ao contrato de compra e venda: uma relativa a um imóvel
localizado no Município de São Paulo/SP; e outra tendo por objeto uma Fazenda na
cidade de Ponte Alta do Tocantins/TO. Em nenhum dos casos, porém, Antônio
pretende realizar os procedimentos de registro neste ano.
Diante destes fatos, pergunta-se:

(a) A procuração em causa própria é um instrumento legalmente admissível para


transferência de propriedade?
Resposta:
A procuração em causa própria é negócio jurídico unilateral. Trata-se, a rigor,
do chamado negócio jurídico de procura, de que resulta o instrumento de
procuração. Dessa forma, é possível conceituar a procuração em causa própria
como o negócio jurídico unilateral que confere um poder de representação ao
outorgado, que o exerce em seu próprio interesse, por sua própria conta, mas em
nome do outorgante.

O Código Civil prevê em seu art. 685: Conferido o mandato com a cláusula
“em causa própria”, a sua revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte
de qualquer das partes, ficando o mandatário dispensado de prestar contas, e
podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato,
obedecidas as formalidades legais.

Quantos aos efeitos, o negócio jurídico referente à procuração em causa


própria outorga ao procurador, de forma irrevogável, inextinguível pela morte de
qualquer das partes e sem dever de prestação de contas, o poder formativo (direito
potestativo) de dispor do direito (real ou pessoal) objeto da procuração. Não se
transmite o direito objeto do negócio jurídico, outorga-se o poder de transferi-lo.

Assim, o outorgante continua sendo titular do direito (real ou pessoal) objeto


da procuração em causa própria, de modo que o outorgado passa a ser apenas
titular do poder de dispor desse direito, em seu próprio interesse, mas em nome
alheio.

(b) É Possível o registro ou averbação desta procuração junto à matrícula do


imóvel?
Resposta:
Desse modo, não existe a obrigatoriedade de levar a procuração em causa
própria ao registro no ofício de imóveis. Entretanto, enquanto esta não for registrada,
não surtirá efeitos perante terceiros, isto é, o imóvel permanecerá em nome do
mandante, que, como se sabe, ainda é o proprietário para esse efeito.

DIREITO CIVIL. NEGÓCIOS JURÍDICOS. INVALIDADES.


CESSÃO DE USO DE TÍTULO DE OPERADOR ESPECIAL DA
BOLSA DE VALORES. CONSTITUIÇÃO DE MANDATO COM
CLÁUSULA “EM CAUSA PRÓPRIA” COMO FORMA DE
GARANTIA. ALIENAÇÃO DO TÍTULO PELO
CESSIONÁRIO/MANDANTE A TERCEIRO DE BOA-FÉ.1.-O
beneficiário de mandato com cláusula “em causa própria”, tem
garantido, ante quem lhe outorgou esse mandato, o direito
subjetivo de transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto
do contrato, desde que obedecidas as formalidades legais.
3.-Em face de terceiros,porém, a estipulação só é válida
mediante o competente registro em cartório.4.-Assim, o
mandatário não pode pretender a invalidação da alienação
posteriormente efetuada pelo mandante, que figurava como
regular proprietário do bem, a terceiro de boa-fé. 5.-Resolve-se,
pois, a obrigação em perdas e danos, os quais, na hipótese,
foram, mesmo, contratual e previamente estipuladas.6.-Recurso
Especial a que se nega provimento.
(STJ. Resp 1269572/SP. Relator: Ministro Sidnei Beneti. Terceira
Turma. Data do Julgamento: 17/04/2012).
(c) Quais os requisitos que ela precisa conter para sua validade plena?
Resposta:
Os requisitos para validade plena da procuração em causa própria residem
em requisitos congêneres à procuração em si, no caso de bens imóveis apresentar o
valor do negócio, a forma de pagamento, declarações legais que devem ser dadas
na entrega da escritura, os requisitos legais do instrumento principal, assinatura de
outorgante e outorgado (vendedor e comprador) – vontade manifestada de ambos –
e, por fim, a previsão de pena caso não haja cláusula “em causa própria”.
Além disso, caso falte algum elemento que retire a caracterização “em causa
própria” do negócio jurídico, os requisitos não se aplicam e os efeitos se encerram.

(d) Qual o momento para o pagamento do ITBI nestes casos?


Resposta:
Ainda que existissem dispositivos legais em sentido contrário, como a lei

paulistana, a outorga do mandato em causa própria, por si só, é irrelevante para o

fato gerador do ITBI.

O imposto incide apenas com a transmissão de bem imóvel, que se dá com o

registro do título de transferência no registro imobiliário competente, conforme art.

1.245 do Código Civil que é vinculante ao Direito Tributário por força do art. 110 do

CTN.

O Superior Tribunal de Justiça pacificou a tese de que o fato gerador do ITBI

só se dá com registro do título de transferência do registro imobiliário competente:

“EMENTA. AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTÁRIO. ITBI. FATO GERADOR.

CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA. RESILIÇÃO

CONTRATUAL. NÃO INCIDÊNCIA.

1. A jurisprudência do STJ assentou o entendimento de que o fato gerador do

ITBI é o registro imobiliário da transmissão da propriedade do bem imóvel.

Somente após o registro, incide a exação.


2. Não incide o ITBI sobre o registro imobiliário de escritura de resilição de

promessa de compra e venda, contrato preliminar que poderá ou não se

concretizar em contrato definitivo.

3. Agravo regimental desprovido” (AGA 448245/DF, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de

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