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ORIENTADOR
Professora Kátia de Mello Santos
Rio de Janeiro – RJ
Abril de 2020
O ABUSO DE AUTORIDADE NAS ABORDAGENS PESSOAIS E VIOLAÇÃO DE
DOMICÍLIOS NO CONTEXTO DA SEGURANÇA PÚBLICA.
O presente artigo tem como objetivo, analisar a atuação dos agentes de segurança pública no
ato de abordagens pessoais e ao domicílio. Expondo a função dos órgãos de segurança pública
e a missão atribuída a estes pela Constituição Federal. Examinando casos de Abuso de
Autoridade e analisando os limites legais impostos ao exercício destes agentes. O texto faz
uma breve análise sobre a Lei de Abuso de Autoridade, esclarecendo a cerca da correta forma
de desempenho dos agentes. A justificativa para a escolha do tema está relacionada ao
crescente número de notícias sobre atuações abusivas e desequilibradas dos agentes em
âmbito nacional. Suscitando uma discussão crítica quanto ao assunto no cenário atual.
Palavras-chave: Segurança Pública; Abuso de Autoridade; Abordagem pessoal; Abordagem
ao Domicílio.
ABSTRACT
This article aims to analyze the performance of public security agents in the act of personal
and home approaches. Exposing the role of public security bodies and the mission assigned to
them by the Federal Constitution. Examining cases of Authority Abuse and analyzing the
legal limits imposed on the performance of these agents. The text makes a brief analysis about
the Law of Abuse of Authority, evidencing the reality in the national context and clarifying
about the correct way of acting of the agents in the case object of study. The justification for
choosing the topic is related to the growing number of news about abusive and unbalanced
actions by agents at the national level. Raising a critical discussion on the subject in the
current cenario.
Keywords: Public Security; Abuse of authority; Personal approaches; Home-based
approaches
1. INTRODUÇÃO
A segurança pública busca a manutenção da ordem pública, a proteção à vida e aos bens dos
indivíduos. A Constituição Federal consagrou a segurança como um dos pilares dos direitos
fundamentais do indivíduo.
E para que os órgãos de segurança pública alcancem o objetivo delimitado acima, que é o de
manutenção da ordem pública, torna-se indispensável que este receba poderes. No presente
trabalho, analisaremos com afinco a extensão do uso de tais poderes, observando a linha tênue entre
o uso legal e o uso arbitrário.
Nesses moldes, faz-se necessário uma análise mais abrangente quanto à atuação da força
policial no nosso País. Neste artigo, nos debruçaremos de forma mais específica, quanto ao
exercício dos agentes públicos na abordagem pessoal, e também, nas ações que são realizadas com
a necessidade de acesso dos agentes públicos aos domicílios de suspeitos ou investigados.
Todas essas competências, de maneira conjunta, são previstas para que a ordem
pública, a vida das pessoas e seus bens sejam protegidos. Passaremos a tratar das
competências de cada um desses órgãos de forma sucinta.
3
Pode se concluir que, a Polícia Civil tem por escopo o papel investigativo nas
infrações penais e também o de apuração da respectiva autoria, com a finalidade de que o
titular da ação penal disponha de elementos para ingressar em juízo. Desenvolvendo a
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A polícia judiciária tem atuação repressiva, que age, em regra, após a ocorrência de
infrações, visando angariar elementos para apuração da autoria e constatação da materialidade
delitiva. (ALENCAR; TÁVORA, 2019, p. 128).
Por ser responsabilidade do Estado, este deve nomear agentes e dar a esses agentes
meios de proteger a população e combater os crimes. Para isso, aos agentes são dados
instrumentos e poderes, para o exercício de suas atribuições.
O Estado detém o Poder de Polícia, que confere ao poder público o direito de fazer
valer a supremacia do interesse coletivo sobre o interesse particular. Assim, pode o Estado
limitar, condicionar e até abster direitos individuais em prol da coletividade.
Para isto, faz-se necessário observar, a utilização desse poder, a obediência a limites,
de forma que não haja letalidade além do necessário, o respeito as leis, aos direitos
6
fundamentais e principalmente a dignidade humana. Toda essa análise deve ser feita
considerando uma tríade complexa: sociedade, órgãos de segurança pública e criminalidade.
ação, o que nos faz observar a relação entre missão, competências e conduta dos agentes no
uso dos poderes conferidos pelo Estado.
O abuso de autoridade ocorre sempre que uma das pessoas na relação esteja em uma
condição de privilégio em relação a outra, ou seja, por uma característica profissional o agente
infrator está na condição de autoridade.
Muito embora goze de supremacia, o Estado não pode utilizá-la de forma desordenada,
já que deve respeitar os direitos individuais. Uma vez que, o agente extrapole os limites de
3 Disponível em:
<https://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u1882/direito_penal_geral_2018_2_new_ok.pd> Acesso em
14/04/2020.
7
Tal lei tratava sobre o assunto de forma muito relativizada. A eficácia desta lei
começou a ser discutida com a deflagração da “Operação Lava Jato” no ano de 2014, uma das
maiores operações para investigar casos de corrupção no País.
Assim, no ano de 2016, foi apresentado o projeto de Lei nº 280, do Senador Renan
Calheiros, que trazia a ideia de se repensar a lei de abuso de autoridade, visando proteger os
direitos e garantias fundamentais estabelecidos pela Constituição Federal.
A lei revogada tratava da conduta abuso de autoridade, mas não estipulava sanções e
abordava o assunto de forma pouco abrangente. A nova lei passou a criminalizar a conduta,
especificou os atos que caracterizam a prática de Abuso de Autoridade, além de prever
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Muito embora, venha recebendo muitas críticas, a nova Lei é mais efetiva que a
anterior, conforme ensina o Jurista Willer Tomaz:
Sujeitos do Crime
Podem figurar no polo passivo os agentes públicos, compreendendo todo aquele que
exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por qualquer modo de nomeação ou
designação, cargo, mandato, emprego ou função em órgão público, conforme o Art. 2º caput e
parágrafo único da Lei em análise.
A ação penal que vise processar e julgar o agente público suspeito de cometer o crime
de Abuso de Autoridade é uma ação penal pública incondicionada, ou seja, aquela em que não
Insta salientar, que por ser um crime de ação penal pública incondicionada, uma vez
mantendo-se inerte o Ministério Público, poderá ser intentada Ação Penal Privada Subsidiária
da Pública.
• Ser declarado inabilitado para o exercício de cargo ou função pública pelo período de
1 a 5 anos;
Um desses casos ocorreu no ano de 2010, na Zona Oeste do Estado de São Paulo, tal
caso teve repercussão internacional5. Um advogado estava com seu filho de 13 anos no
estádio do Pacaembu, para assistir a um jogo de futebol entre Corinthians, time do qual eram
torcedores, e Flamengo.
Quando ainda estavam do lado de fora do estádio, caminhando para a fila de entrada,
um policial apontou a arma para a cabeça da criança, que caminhava um pouco mais a frente
que seu pai, e determinou que aquele parasse. Imediatamente, o pai se identificou, através de
sua carteira profissional de advogado, ainda assim, os policiais persistiram, afirmando que o
documento era falso. O advogado acredita que os policiais duvidaram de sua profissão por
conta de sua cor.
6 Disponível em <https://esaj.tjsp.jus.br/cpopg/show.do?
processo.codigo=1H0005D670000&processo.foro=53&conversationId=&dadosConsulta.localPesquisaHojgYgH
ADvpXwNLQLBQpxLJx7IvLkh-YgdqoI1JNMay3V7yOffnwqge4EiNpr2fGGpjwaroihLFdxq0rcbBgj-
DyQqyw9TbhLxxo_8-t-
IFW5MC63xxGWEqmg7KFMl9eV0RUaeXXB7kRGROJp2tTkTY1X5dxKMfHSNw5Yw&paginaConsulta=1>
Acesso em 08/04/2020.
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Recentemente, no Estado do Rio de Janeiro, uma criança de 8 anos foi morta, durante
a ocorrência de uma abordagem policial, em uma comunidade do Estado. Restou comprovado
que a bala que tirou a vida da menina, partiu da arma de um policial e que no momento do
crime, não havia confronto entre policiais e bandidos, e que o tiro havia sido disparado contra
dois indivíduos considerados suspeitos que estavam em uma moto. O Ministério Público do
Estado denunciou o policial, que aguarda julgamento 7. Neste caso, resta claro que, na
abordagem a suspeitos muitos fatores devem ser considerados, inclusive o da conveniência,
onde o bom senso e a razoabilidade deve pautar a conduta do agente, jamais devendo
desprezar o ideal de proteção a vida e a integridade física de outras pessoas.
Assim, podemos verificar que, em vários Estados do Brasil, a polícia faz uso indevido
da força, violando limites e garantias constitucionais, valendo-se de sua supremacia para ferir
direitos já consagrados. Analisando tais casos, percebemos que é incontestável que os
policiais incorreram em Abuso de Autoridade.
7 Disponível em <http://www4.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/consultaProc.do?
v=2&numProcesso=2019.001.266356-5&FLAGNOME=S&tipoConsulta=publica&back=1&PORTAL=1&v=2>
Acesso em 11/04/2020
8 Disponível em <https://www.tjce.jus.br/noticias/estado-e-condenado-a-pagar-r-13-mil-a-vitima-de-abordagem-
abusiva-de-policiais> Acesso em 10/04/2020
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de forma clara, como deve ser uma abordagem policial à pessoa. Outros Estados também
tiveram a iniciativa de especificar o procedimento supracitado.
Passaremos a tratar de forma objetiva, sobre como deve ser a conduta policial e os
principais questionamentos da população, com base nas orientações trazidas pelas Defensorias
de vários Estados.
É importante destacar que, não deve ocorrer discriminação quanto ao indivíduo que
use tornozeleira eletrônica para fins de monitoramento, este devendo ser revistado somente
em caso de fundada suspeita.
Assim, ao realizar a abordagem, o agente deve estar com algum tipo de identificação,
seja farda, distintivo ou outro meio, muito embora o agente possa estar encapuzado, ainda
assim deve ser possível identificá-lo com agente público.
A abordagem pessoal tem previsão constitucional, ainda devemos lembrar que como
tratado inicialmente, a segurança é responsabilidade de todos, assim, uma vez que um
indivíduo receba ordem para ser revistado, é necessário que este colabore, pois assim, está
somando para a segurança de todos, já que a abordagem tem papel relevante frente à
prevenção criminal.
Além disso, a negativa quanto a uma ordem do Estado exteriorizada por um agente
público, pode fazer com que o indivíduo incorra em crimes, conforme prevê ose seguintes
dispositivos legais:
9 Disponível em <https://www.defensoria.ba.def.br/wp-content/uploads/2019/06/cartilha-abordagem-policial-
web.pdf> Acesso em 14/04/2020.
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Pena - detenção, de 15 dias a seis meses,
e multa.”
Art. 329 CP. Opor-se à execução de ato
legal, mediante violência ou ameaça a
funcionário competente para executá-lo
ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena – detenção, de 2 meses a 2 anos.
A realização de revista em pessoa do sexo feminino, em regra, deve ser realizada por
uma agente do mesmo sexo. Diante da impossibilidade, a pessoa a ser revistada deve ser
encaminhada para a Delegacia mais próxima, para que a revista se dê por pessoa do mesmo
sexo, atendendo a legalidade.
Da mesma forma, a pessoa transgênero deve ser revistada por agente do mesmo sexo
que o de sua opção sexual.
Importante destacar que, não se pode durante a revista passar as mãos nas partes
íntimas, pois isto configura crime sexual.
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Os policiais podem revistar o automóvel durante a abordagem, mesmo que sem ordem
judicial.
É ilegal, somente deve ocorrer com ordem judicial. O Superior Tribunal de Justiça 10,
vem entendendo em seus julgados que tanto nas abordagens pessoais, como nas prisões em
flagrante, a busca em celular só pode ocorrer com mandado judicial. Uma vez que, esta sendo
realizada sem determinação do Juiz, torna-se uma prova ilegal. Essas decisões baseiam-se nas
premissas constitucionais, vez que a própria Constituição Federal prevê a inviolabilidade das
comunicações telefônicas e telegráficas, estas só podendo ser violadas mediante ordem
judicial (ART. 5º,XII).
10 Disponível em <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/340165638/recurso-ordinario-em-habeas-corpus-
rhc-51531-ro-2014-0232367-7/inteiro-teor-340165652> Acesso em 14/04/2020
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2.5 Da violação de domicílios por agentes de segurança pública
Por último, mas não menos importante, vamos analisar a violação de domicílios por
parte dos agentes de segurança pública. Entre vários princípios constitucionais que deve ser
analisado nessa atuação, não se têm dúvidas que o princípio da inviolabilidade do domicílio é
um dos limitadores de atos abusivos.
A Lei de Abuso de Autoridade estudada acima também prevê como conduta que
tipifica o crime de abuso autoridade a violação de domicílio:
Assim, verificamos que a Lei de Abuso de Autoridade retoma a ideia já trazida pela
Constituição Federal, tipificando a conduta e atribuindo-lhe uma punição.
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Sabemos que só será possível adentrar a casa do indivíduo com mandado judicial ou
nas hipóteses elencadas pela própria Constituição Federal, uma vez que se valem da força, e
não respeitam as regras mencionadas acima incorrem em Abuso de Autoridade.
Mas, ainda assim, devemos analisar a conduta dos agentes nas hipóteses autorizativas,
já que estar em posse de mandado judicial, não autoriza a agir de forma autoritária.
Nesse tipo de abordagem, além de não poder violar o domicílio, os agentes públicos
devem respeitar a dignidade humana, a honra, a imagem. Não podendo publicar imagens,
expor o indivíduo, nem agir com excesso. Pois muito embora, naquele momento estejam na
condição de suspeitos, ainda assim, são sujeitos de direito e fazem jus ao respeito destes.
Assim, os agentes não podem se valer desta situação para implantar provas, seduzir pessoas,
praticar crimes, subtrair bens, por acreditarem que estes foram adquiridos de maneira ilícita.
Isso é muito importante para que não seja arguida a ilegalidade no curso das
investigações ou de uma possível ação penal.
Dessa forma, analisamos algumas das inúmeras situações em que os agentes devem
pautar sua conduta na legalidade, nos princípios constitucionais e sempre no bom senso e na
ética. Jamais o policial deve-se valer de sua profissão, para reprimir, diminuir ou violar os
direitos alheios, antes deve ser consciente da sua missão tão importante para toda a sociedade.
Insta salientar também que, é necessário fomentar o conhecimento entre a sociedade,
de forma que, os indivíduos honestos, e também, embora criminosos, detentores de direitos,
tenham suas garantias respeitadas.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discorremos sobre diversas atuações que caracterizam excesso de poder, que rompem
os limites essenciais, configurando abuso de autoridade, exercitando o poder de polícia além
da finalidade para o qual lhe foi atribuído.
A nova Lei de abuso de autoridade é sem dúvida um marco para uma atuação mais
séria e em conformidade por parte dos agentes públicos, incluindo os agentes de segurança
pública, vez que visa não somente caracterizar as condutas, mas também punir os agentes que
incorram de forma incoerente com a sua missão.
Contudo, tão importante quanto enfatizar os treinamentos aos agentes, é sem dúvidas
informar e conscientizar a população dos seus direitos, das suas garantias e de como a atuação
dos agentes deve se dar, a fim de que ninguém tenha os seus direitos violados
desnecessariamente.
A atuação da polícia deve ser vista como uma prestação indispensável a sociedade, já
que as suas funções protegem toda a sociedade e que na sua atuação, a sua missão é servir e
proteger.
E que uma vez que, ocorra uma abordagem policial ou ao domicílio e que se verifique
que não há nenhum tipo incriminador, o cidadão de bem deve se sentir honrado em colaborar
para redução da marginalização e redução da violência.
Assim, vemos a importância dos órgãos de segurança pública frente toda violência que
temos vivido.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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