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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO SUPERIOR TECNÓLOGO EM SEGURANÇA PÚBLICA – CSTSP

MARCELO LUIZ DE JESUS

O ABUSO DE AUTORIDADE NAS ABORDAGENS PESSOAIS E


VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIOS NO CONTEXTO DA SEGURANÇA
PÚBLICA

Artigo a ser apresentado à Banca do


Exame do Curso Superior de Tecnólogo
em Segurança Pública da Universidade
Estácio de Sá – CSTSP/UNESA, como
requisito para aprovação na disciplina
de TCC em Segurança Pública.

ORIENTADOR
Professora Kátia de Mello Santos

Rio de Janeiro – RJ
Abril de 2020
O ABUSO DE AUTORIDADE NAS ABORDAGENS PESSOAIS E VIOLAÇÃO DE
DOMICÍLIOS NO CONTEXTO DA SEGURANÇA PÚBLICA.

ABUSE OF AUTHORITY IN PERSONAL APPROACHES AND VIOLATION OF


HOUSEHOLDS IN THE CONTEXT OF PUBLIC SECURITY.
[Marcelo Luiz de Jesus] 1
[Kátia de Mello Santos] 2
RESUMO

O presente artigo tem como objetivo, analisar a atuação dos agentes de segurança pública no
ato de abordagens pessoais e ao domicílio. Expondo a função dos órgãos de segurança pública
e a missão atribuída a estes pela Constituição Federal. Examinando casos de Abuso de
Autoridade e analisando os limites legais impostos ao exercício destes agentes. O texto faz
uma breve análise sobre a Lei de Abuso de Autoridade, esclarecendo a cerca da correta forma
de desempenho dos agentes. A justificativa para a escolha do tema está relacionada ao
crescente número de notícias sobre atuações abusivas e desequilibradas dos agentes em
âmbito nacional. Suscitando uma discussão crítica quanto ao assunto no cenário atual.
Palavras-chave: Segurança Pública; Abuso de Autoridade; Abordagem pessoal; Abordagem
ao Domicílio.

ABSTRACT

This article aims to analyze the performance of public security agents in the act of personal
and home approaches. Exposing the role of public security bodies and the mission assigned to
them by the Federal Constitution. Examining cases of Authority Abuse and analyzing the
legal limits imposed on the performance of these agents. The text makes a brief analysis about
the Law of Abuse of Authority, evidencing the reality in the national context and clarifying
about the correct way of acting of the agents in the case object of study. The justification for
choosing the topic is related to the growing number of news about abusive and unbalanced
actions by agents at the national level. Raising a critical discussion on the subject in the
current cenario.
Keywords: Public Security; Abuse of authority; Personal approaches; Home-based
approaches

1 Graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela Universidade Estácio de Sá. E-


mail:marceloluizdejesus@hotmail.com

2 Especializada em Segurança Pública e Mestre em Saúde em Família. E-mail: katia.mello@estacio.br


1

1. INTRODUÇÃO

Desde as antigas civilizações, verifica-se que em todas as sociedades há uma necessidade


intrínseca de criar órgãos responsáveis pela segurança pública.

A segurança pública busca a manutenção da ordem pública, a proteção à vida e aos bens dos
indivíduos. A Constituição Federal consagrou a segurança como um dos pilares dos direitos
fundamentais do indivíduo.

Art 5º. Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade.

E para que os órgãos de segurança pública alcancem o objetivo delimitado acima, que é o de
manutenção da ordem pública, torna-se indispensável que este receba poderes. No presente
trabalho, analisaremos com afinco a extensão do uso de tais poderes, observando a linha tênue entre
o uso legal e o uso arbitrário.

A Constituição Federal e as Leis trazem inúmeras condições limitadoras ao uso autoritário


das atribuições e dos meios para o cumprimentos das competências. Sempre visando a proteção dos
direitos fundamentais do indivíduo, que são: liberdade, vida, dignidade humana, entre outros.

Nesses moldes, faz-se necessário uma análise mais abrangente quanto à atuação da força
policial no nosso País. Neste artigo, nos debruçaremos de forma mais específica, quanto ao
exercício dos agentes públicos na abordagem pessoal, e também, nas ações que são realizadas com
a necessidade de acesso dos agentes públicos aos domicílios de suspeitos ou investigados.

Verifica-se em inúmeros casos, ações abusivas e imoderadas, enquanto, de fato, todas as


condutas dos agentes públicos dos órgãos de segurança, devem se pautadas nos limites impostos em
lei e também em princípios.

As atuações policiais, devem ser executadas de forma concomitante ao exercício do


princípio da proporcionalidade. Esse princípio nos remete a ideia de que nenhum direito é absoluto.
Assim, a autoridade está adstrita à limitações, ainda quanto ao objeto, ou meio de ação, mesmo
quando a lei lhe dê diferentes alternativas aceitáveis. Dessa forma, podemos concluir que, o poder
de polícia não precisa ultrapassar o necessário para alcançar o interesse público que tende proteger.
2
Para o êxito do presente artigo A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e
análise de casos concretos.

2. A MISSÃO DOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA

Os órgãos de Segurança Pública têm previsão constitucional e todo um contexto que


os tornam indispensáveis para a sociedade, sendo imprescindível que, existam órgãos
responsáveis pelo controle da violência, seja de forma ostensiva ou repressiva.

A Constituição Federal em seu Capítulo III prevê que:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado,


direito e responsabilidade de todos, é exercida
para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal;
III – polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V- polícias militares e corpos de bombeiros
militares.

2.1 Competências dos órgãos de segurança pública

Vimos anteriormente que a Constituição Federal elenca os órgãos que compõe a


Segurança Pública, além disso, o legislador atribuiu a cada um desses órgãos competências
específicas, como veremos adiante.

Todas essas competências, de maneira conjunta, são previstas para que a ordem
pública, a vida das pessoas e seus bens sejam protegidos. Passaremos a tratar das
competências de cada um desses órgãos de forma sucinta.
3

2.1.1. Competências da Polícia Federal:

Art. 144 §1º. A polícia federal, instituída por lei


como órgão permanente, estruturado em
carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem
política e social ou em detrimento de bens,
serviços e interesses da União ou de suas
entidades autárquicas e empresas públicas, assim
como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e
exija repressão uniforme, segundo se dispuser em
lei;
II- prevenir e reprimir o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e
de outros órgãos públicos nas respectivas áreas
de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima,
aérea e de fronteiras;
IV- exercer, com exclusividade, as funções de
polícia judiciária da União.

Desta forma, é possível compreender que, a competência da polícia federal está


diretamente ligada aos crimes relacionados aos bens e interesses da União.

2.1.2. Competências da Polícia Civil:

Art. 144 §4º. Às polícias civis, dirigidas por


delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções
de polícia judiciária e a apuração de infrações
penais, exceto as militares.

Pode se concluir que, a Polícia Civil tem por escopo o papel investigativo nas
infrações penais e também o de apuração da respectiva autoria, com a finalidade de que o
titular da ação penal disponha de elementos para ingressar em juízo. Desenvolvendo a
4

primeira fase, o primeiro momento da atividade repressiva do Estado (TOURINHO FILHO,


2011, p.23 ).

A polícia judiciária tem atuação repressiva, que age, em regra, após a ocorrência de
infrações, visando angariar elementos para apuração da autoria e constatação da materialidade
delitiva. (ALENCAR; TÁVORA, 2019, p. 128).

2.1.3 Competência das policias e corpo de bombeiros militares:

Art. 144 §5º. Às polícias militares cabem


a polícia ostensiva e a preservação da ordem
pública; aos corpos de bombeiros militares, além
das atribuições definidas em lei, incumbe a
execução de atividades de defesa civil.

2.1.4 Competências das policias ferroviárias e rodoviárias:

Art. 144 §2º. A polícia rodoviária federal, órgão


permanente, estruturado em carreira, destina-se,
na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
rodovias federais.
Art. 144 §3º. A polícia ferroviária federal, órgão
permanente, estruturado em carreira, destina-se,
na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
ferrovias federais.

Após realizarmos a leitura das competências extraídas da Constituição Federal e


atribuídas aos órgãos de segurança pública, podemos analisar a real essencialidade dos órgãos
de segurança pública e a sua missão.

Podemos aferir que, segurança pública é a manutenção da ordem pública interna do


Estado. A ordem pública interna é o inverso da desordem, do caos, da desarmonia social,
porque visa preservar a incolumidade da pessoa e do patrimônio (BULOS, 2008, p. 1175).
5

Por ser responsabilidade do Estado, este deve nomear agentes e dar a esses agentes
meios de proteger a população e combater os crimes. Para isso, aos agentes são dados
instrumentos e poderes, para o exercício de suas atribuições.

2.2 Do Poder de Polícia

O Estado detém o Poder de Polícia, que confere ao poder público o direito de fazer
valer a supremacia do interesse coletivo sobre o interesse particular. Assim, pode o Estado
limitar, condicionar e até abster direitos individuais em prol da coletividade.

O Código Tributário Nacional prevê que:

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade


da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade,
regula a prática de ato ou abstenção de fato, em
razão de interesse público concernente à
segurança [..].

Podemos afirmar que, poder de polícia é uma faculdade da Administração Pública de


causar restrições ou limitações à liberdade ou à propriedade dos indivíduos, em prol da
sociedade (CARVALHO FILHO, 2011, p.70)
Entende-se que Poder de Polícia é atividade da Administração Pública, consistente no
estabelecimento de limitações legais à liberdade e a propriedade, regulando a prática de ato ou
de fato, em benefício do interesse público (MAZZA, 2013, p. 248).
Diante desse poder, torna-se necessário o estabelecimento de limites para o seu
exercício, de modo que este não se dê de forma arbitrária. A análise do Poder de Polícia, que
inclui em alguns casos, o uso da força se necessário, nos permite uma reflexão sobre a
essencialidade versus a responsabilidade dada aos agentes.
O Estado-Administração é o responsável pela manutenção da ordem pública, detendo
e conferindo aos seus agentes as prerrogativas que lhe garantam a autoridade para atuar sobre
pessoas e coisas limitando suas liberdades, fiscalizando seus atos e vedando o uso e gozo de
direitos, sempre em prol do bem-estar da coletividade

Para isto, faz-se necessário observar, a utilização desse poder, a obediência a limites,
de forma que não haja letalidade além do necessário, o respeito as leis, aos direitos
6

fundamentais e principalmente a dignidade humana. Toda essa análise deve ser feita
considerando uma tríade complexa: sociedade, órgãos de segurança pública e criminalidade.

Observa-se que, em um número significativo de casos de abordagem policial,


assistimos atuações desastradas ou truculentas por parte dos agentes públicos envolvidos na

ação, o que nos faz observar a relação entre missão, competências e conduta dos agentes no
uso dos poderes conferidos pelo Estado.

Analisando os aspectos jurídicos, legais e doutrinários que caracterizam o poder de


polícia e legitimam as ações policiais que influem diretamente sobre a vida privada das
pessoas, compreendemos o poder que é dado aos agentes para o exercício de sua missão.

2.3 Do Abuso de Autoridade

Entende-se por abuso, em âmbito de conflitos penais:

As situações que incorrem fora da regularidade


e extrapolam o exercício do direito. As situações
de abuso são verificadas geralmente em contexto
de conflito social em que o exercício de um
direito é utilizado como permissão para a
autotutela violenta.”3

O abuso de autoridade ocorre sempre que uma das pessoas na relação esteja em uma
condição de privilégio em relação a outra, ou seja, por uma característica profissional o agente
infrator está na condição de autoridade.

As abordagens pessoais e ao domicílio, são realizados, em regra, pela Polícia, assim,


vemos que o indivíduo abordado, sempre estará em uma situação de vulnerabilidade, já que o
agente sempre age em nome do Estado, que se vale do poder de supremacia em relação ao
particular.

Muito embora goze de supremacia, o Estado não pode utilizá-la de forma desordenada,
já que deve respeitar os direitos individuais. Uma vez que, o agente extrapole os limites de

3 Disponível em:
<https://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u1882/direito_penal_geral_2018_2_new_ok.pd> Acesso em
14/04/2020.
7

suas atribuições, violando direitos ou garantias do indivíduo, este pratica conduta


caracterizada como Abuso de Autoridade.

Em resumo, o abuso de autoridade ocorre quando um servidor público civil ou militar


faz o que a lei não permite fazer, ou obriga a alguém a fazer algo que a lei não obriga a fazer,
servindo-se de posição profissional para isto.

2.3.1 Evolução histórica da lei de abuso de autoridade

O abuso de autoridade é regulamentado em lei desde o ano de 1965, nesta ocasião


exteriorizado pela Lei nº 4.898, de 9 de dezembro do ano citado.

Tal lei tratava sobre o assunto de forma muito relativizada. A eficácia desta lei
começou a ser discutida com a deflagração da “Operação Lava Jato” no ano de 2014, uma das
maiores operações para investigar casos de corrupção no País.

Na ocasião, iniciaram-se os debates discutindo sobre os limites dos poderes das


autoridades e como aquelas estavam sendo exercidas durante as investigações. Parte dos
investigados na “Operação Lava Jato” passaram a alegar que eram vítimas de Abuso de
Autoridade por parte dos agentes públicos responsáveis pelas investigações.

Assim, no ano de 2016, foi apresentado o projeto de Lei nº 280, do Senador Renan
Calheiros, que trazia a ideia de se repensar a lei de abuso de autoridade, visando proteger os
direitos e garantias fundamentais estabelecidos pela Constituição Federal.

Em decorrência da aprovação do projeto de Lei citado acima, tivemos uma inovação


legislativa bem recente, a Lei nº 13. 869, de 05 de setembro de 2019 ( BRASIL, 2019,
ONLINE).

Esta lei revoga a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965 e os dispositivos do Código


Penal do ano de 1940, que tratavam do assunto.

A lei revogada tratava da conduta abuso de autoridade, mas não estipulava sanções e
abordava o assunto de forma pouco abrangente. A nova lei passou a criminalizar a conduta,
especificou os atos que caracterizam a prática de Abuso de Autoridade, além de prever
8

medidas administrativas, penais e até cíveis, como indenização, diante da prática de


determinadas condutas, que agora além de proibidas, são passíveis de punição.

Muito embora, venha recebendo muitas críticas, a nova Lei é mais efetiva que a
anterior, conforme ensina o Jurista Willer Tomaz:

Ao criminalizar e estabelecer a pena


correspondente, a lei preencheu uma
lacuna no ordenamento jurídico brasileiro,
que antes vedava determinadas condutas,
mas não previa uma penalidade
específica para o caso de violação,
esvaziando assim o sentido da norma
proibitiva” 4

2.3.2 PRINCIPAIS ASPECTOS DA LEI Nº 13.869/2019

Conceito de Abuso de Autoridade

Consoante a Lei, é crime de Abuso de Autoridade condutas praticadas pelo agente


público com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a
terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.

Sujeitos do Crime

Podem figurar no polo passivo os agentes públicos, compreendendo todo aquele que
exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por qualquer modo de nomeação ou
designação, cargo, mandato, emprego ou função em órgão público, conforme o Art. 2º caput e
parágrafo único da Lei em análise.

Da Ação Penal e de seus efeitos

A ação penal que vise processar e julgar o agente público suspeito de cometer o crime
de Abuso de Autoridade é uma ação penal pública incondicionada, ou seja, aquela em que não

4 Disponível em<>https://www.conjur.com.br/2020-jan-03/lei-abuso-autoridade-entra-vigor-nesta-sexta Acesso


em 14/04/2020
9

é necessário representação para a sua propositura, assim, não depende de manifestação do


ofendido.

Insta salientar, que por ser um crime de ação penal pública incondicionada, uma vez
mantendo-se inerte o Ministério Público, poderá ser intentada Ação Penal Privada Subsidiária
da Pública.

As seguintes sanções podem ser impostas:

• Prestação de serviços às comunidades ou entidades públicas;

• Suspensão do exercício de seu cargo, mandato, emprego ou função pelo prazo de 1 a 6


meses, com perda de vencimentos e vantagens;

• Indenização pelo dano causado;

• Ser declarado inabilitado para o exercício de cargo ou função pública pelo período de
1 a 5 anos;

• Perda do cargo ou função pública.

A lei ainda especificou as condutas que caracterizam o Abuso de Autoridade, adiante


estudaremos algumas dessas condutas, de forma mais específica, àquelas que se aplicam ao
objeto de estudo.

Assim, verifica-se que, a inovação legislativa, embora muito criticada, se analisada à


luz da prática policial, trouxe alterações significativas, com o fulcro de proteger os direitos
fundamentais, os limites constitucionais e a dignidade humana. Espera-se que, seja um
pequeno passo rumo a práticas mais respeitosas, já que a Lei não só objetiva punir, mas
principalmente conscientizar, exercendo seu papel preventivo.

2.4 Da abordagem policial e os limites jurídicos

Após um estudo mais detalhado sobre os aspectos do crime de Abuso de Autoridade,


vamos nos ater ao objeto principal do nosso estudo: o abuso de autoridade praticado por
10

agentes dos órgãos de segurança pública quanto à abordagem de pessoas e a violação de


domicílios.

Em um primeiro momento analisaremos alguns casos em que restou configurada o


Abuso de Autoridade no momento da abordagem pessoal e ao domicílio. E posteriormente,
passaremos a estudar como deve ser uma abordagem policial.

Como tratado inicialmente, vimos que os órgãos da Segurança Pública têm


competências expressivas, que abrangem toda a sociedade, e que por isso, os agentes públicos
são tratados como autoridades e podem usar a força, se necessário, para manter a ordem
pública e a segurança da coletividade. O cerne da questão está nos limites das atribuições e do
uso da força.

A Constituição Federal e as leis infraconstitucionais impõe ao agente uma conduta


dentro da legalidade, que para o Direito Administrativo significa que, o agente público só
pode atuar dentro do que foi estipulado por lei (DI PIETRO, 2007, p.02). Assim, muito
embora, o agente possa fazer uso deste poder, ele jamais poderá desprezar aquele. Sua atuação
sempre deverá ser pautado em limites, jamais extrapolando o que lhe é permitido.

Assistimos, cotidianamente, a inúmeros casos em que o uso da força se dá de forma


exacerbada, algumas vezes até sem motivação. O profissional de segurança pública precisa ter
domínio de suas escolhas, vez que, constantemente, precisa tomar decisões em tempo real. Ao
fazer o uso da força, o policial deve ter conhecimento da lei, deve estar preparado
tecnicamente, por meio de formação e treinamento, bem como ter princípios éticos que
possam nortear sua ação.

Podemos verificar que a violência descontrolada, a falta de treinamento e até de


equipamentos adequados, deixam os policiais intimidados. A reunião desses fatores acaba por
atingir a própria instituição com a deflagração de altos índices de violência praticada por
policiais no desempenho de suas atividades constitucionais.

Por isso, é imprescindível, o treinamento e aprimoramento constante dos policiais,


com a finalidade de conscientização da sua atuação, do seu papel, da sua importância na
sociedade e principalmente dos limites que devem obedecer, em qualquer tipo de atuação. E
também, e não menos importante, a punição para os agentes que atuem fora dos limites legais.
11

Podemos relembrar de alguns casos polêmicos envolvendo os órgãos de segurança


pública em situações em que a abordagem policial se deu de forma abusiva, ferindo a vários
princípios constitucionais e legais.

Um desses casos ocorreu no ano de 2010, na Zona Oeste do Estado de São Paulo, tal
caso teve repercussão internacional5. Um advogado estava com seu filho de 13 anos no
estádio do Pacaembu, para assistir a um jogo de futebol entre Corinthians, time do qual eram
torcedores, e Flamengo.

Quando ainda estavam do lado de fora do estádio, caminhando para a fila de entrada,
um policial apontou a arma para a cabeça da criança, que caminhava um pouco mais a frente
que seu pai, e determinou que aquele parasse. Imediatamente, o pai se identificou, através de
sua carteira profissional de advogado, ainda assim, os policiais persistiram, afirmando que o
documento era falso. O advogado acredita que os policiais duvidaram de sua profissão por
conta de sua cor.

Mesmo identificado, os policiais começaram a fazer a revista em ambos, de forma


violenta, enquanto outros agentes mantinham a arma em punho apontada para ambos. Após a
revista, nada sendo encontrado, os dois foram liberados.

O menor envolvido no fato, ficou traumatizado e não conseguiu continuar nas


atividades esportivas que desenvolvia no time do Corinthians e precisou de acompanhamento
psicológico. O trauma foi diagnosticado e com base no laudo, o pai acionou a Justiça do
Estado, pedindo reparação pelo dano.

Após 8 anos do ocorrido, em sede recursal, o Tribunal de Justiça do Estado de São


Paulo, condenou o Estado pela atuação truculenta dos agentes, condenando que o réu pagasse
aos envolvidos o valor de R$15 mil reais, a título de indenização, para reparação do dano 6. A
vitória, sem dúvidas, representa um marco contra o desrespeito.

5 Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/29/politica/1532872992_020023.html> Acesso em


10/04/2020.

6 Disponível em <https://esaj.tjsp.jus.br/cpopg/show.do?
processo.codigo=1H0005D670000&processo.foro=53&conversationId=&dadosConsulta.localPesquisaHojgYgH
ADvpXwNLQLBQpxLJx7IvLkh-YgdqoI1JNMay3V7yOffnwqge4EiNpr2fGGpjwaroihLFdxq0rcbBgj-
DyQqyw9TbhLxxo_8-t-
IFW5MC63xxGWEqmg7KFMl9eV0RUaeXXB7kRGROJp2tTkTY1X5dxKMfHSNw5Yw&paginaConsulta=1>
Acesso em 08/04/2020.
12

Recentemente, no Estado do Rio de Janeiro, uma criança de 8 anos foi morta, durante
a ocorrência de uma abordagem policial, em uma comunidade do Estado. Restou comprovado
que a bala que tirou a vida da menina, partiu da arma de um policial e que no momento do
crime, não havia confronto entre policiais e bandidos, e que o tiro havia sido disparado contra

dois indivíduos considerados suspeitos que estavam em uma moto. O Ministério Público do
Estado denunciou o policial, que aguarda julgamento 7. Neste caso, resta claro que, na
abordagem a suspeitos muitos fatores devem ser considerados, inclusive o da conveniência,
onde o bom senso e a razoabilidade deve pautar a conduta do agente, jamais devendo
desprezar o ideal de proteção a vida e a integridade física de outras pessoas.

No Estado do Ceará, o Tribunal de Justiça, condenou o Estado a pagar indenização de


R$13 mil reais a um ourives, vítima de uma abordagem policial abusiva. No ano de 2014, a
vítima estava na calçada de sua residência, quando foi acusado de roubar um veículo
automotor e foi agredido na frente de familiares e vizinhos. Ao ser conduzido à Delegacia
restou comprovado que não havia nenhum tipo de envolvimento com o roubo, sendo liberado
em seguida. Assim, a vítima ingressou com o pedido de reparação pelo dano sofrido, logrando
êxito.8

Assim, podemos verificar que, em vários Estados do Brasil, a polícia faz uso indevido
da força, violando limites e garantias constitucionais, valendo-se de sua supremacia para ferir
direitos já consagrados. Analisando tais casos, percebemos que é incontestável que os
policiais incorreram em Abuso de Autoridade.

4.1 PROCEDIMENTO DE ABORDAGEM À PESSOA

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro publicou em seu sítio eletrônico


uma cartilha explicativa tratando sobre a abordagem policial. Nesta cartilha, fica especificado

7 Disponível em <http://www4.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/consultaProc.do?
v=2&numProcesso=2019.001.266356-5&FLAGNOME=S&tipoConsulta=publica&back=1&PORTAL=1&v=2>
Acesso em 11/04/2020

8 Disponível em <https://www.tjce.jus.br/noticias/estado-e-condenado-a-pagar-r-13-mil-a-vitima-de-abordagem-
abusiva-de-policiais> Acesso em 10/04/2020
13
de forma clara, como deve ser uma abordagem policial à pessoa. Outros Estados também
tiveram a iniciativa de especificar o procedimento supracitado.

Passaremos a tratar de forma objetiva, sobre como deve ser a conduta policial e os
principais questionamentos da população, com base nas orientações trazidas pelas Defensorias
de vários Estados.

2.4.1 Quando deve ocorrer a abordagem pessoal

Via de regra, a abordagem à pessoa ou ao domicílio ocorre com ordem judicial,


contudo, nada obsta que, a abordagem se dê a partir de fundada suspeita:

Art. 244 CPP. A busca pessoal independerá de


mandado, no caso de prisão ou quando houver
fundada suspeita de que a pessoa esteja na
posse de arma proibida ou de objetos ou papéis
que constituam corpo de delito, ou quando a
medida for determinada no curso de busca
domiciliar.

Fundada suspeita consiste em evidências de suspeita e não pode se basear apenas em


uma desconfiança ou suposição. A abordagem ocorrerá sempre que houver suspeita que o
indivíduo está em posse de drogas, armas de fogos ou outro produto que possa ser utilizado na
prática de crimes. A fundada suspeita jamais poderá ser fundamentada com base na cor, sexo,
orientação sexual, pelo local da abordagem, gênero, pela vestimenta, tatuagens ou afins.

É importante destacar que, não deve ocorrer discriminação quanto ao indivíduo que
use tornozeleira eletrônica para fins de monitoramento, este devendo ser revistado somente
em caso de fundada suspeita.

Contudo, é importante destacar a dificuldade que um policial tem em identificar um


criminoso, é uma tarefa árdua. Segundo ensina RAMOS (2005, p.37), a pergunta mais difícil
para um policial responder no momento da abordagem trata-se exatamente de que um policial
leva em consideração para suspeitar de uma pessoa? A fundada suspeita citada no dispositivo
legal acima é onde está centrado o poder discricionário do policial, para decidir quem parar e
quando parar. A motivação do policial ao abordar é elemento necessário para que o ato de
polícia vislumbre a legalidade.
14

2.4.2 Como deve ser uma abordagem policial

Toda abordagem pessoal consiste em uma revista corporal e nos objetos de


determinada pessoal, com a finalidade de encontrar algum elemento que configure a prática
delituosa

Assim, ao realizar a abordagem, o agente deve estar com algum tipo de identificação,
seja farda, distintivo ou outro meio, muito embora o agente possa estar encapuzado, ainda
assim deve ser possível identificá-lo com agente público.

Por meio de analogia expressa na cartilha formulada pela Defensoria Pública do


Estado da Bahia9, podemos afirmar que essa identificação é determinada pela própria
Constituição Federal, que prevê em seu Art. 5º XLIX, que: “ o preso tem direito à
identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial.”

Entendemos que, quando as circunstâncias fáticas assim exigirem (abordagem,


interpelação oficial etc), o policial civil, por dever de ofício, deverá se identificar e, em sendo
o caso, colaborar com quem, no exercício da função, o instou (LESSA, 2019, p. 69).

Ao realizar a abordagem, o agente deverá solicitar que o indivíduo coloque as mãos


para o alto, e assim, efetuar a revista, sem gritarias, ofensas ou xingamentos.

A abordagem pessoal tem previsão constitucional, ainda devemos lembrar que como
tratado inicialmente, a segurança é responsabilidade de todos, assim, uma vez que um
indivíduo receba ordem para ser revistado, é necessário que este colabore, pois assim, está
somando para a segurança de todos, já que a abordagem tem papel relevante frente à
prevenção criminal.

Além disso, a negativa quanto a uma ordem do Estado exteriorizada por um agente
público, pode fazer com que o indivíduo incorra em crimes, conforme prevê ose seguintes
dispositivos legais:

Art. 330 CP. Desobedecer a ordem legal


de funcionário público:

9 Disponível em <https://www.defensoria.ba.def.br/wp-content/uploads/2019/06/cartilha-abordagem-policial-
web.pdf> Acesso em 14/04/2020.
15
Pena - detenção, de 15 dias a seis meses,
e multa.”
Art. 329 CP. Opor-se à execução de ato
legal, mediante violência ou ameaça a
funcionário competente para executá-lo
ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena – detenção, de 2 meses a 2 anos.

2.4.3 Revista de mulheres e transgêneros

A realização de revista em pessoa do sexo feminino, em regra, deve ser realizada por
uma agente do mesmo sexo. Diante da impossibilidade, a pessoa a ser revistada deve ser
encaminhada para a Delegacia mais próxima, para que a revista se dê por pessoa do mesmo
sexo, atendendo a legalidade.

Conforme preceitua o Código de Processo Penal:

Art. 249 CPP. A busca em mulher será feita por


outra mulher, se não importar retardamento ou
prejuízo a diligência.

Da mesma forma, a pessoa transgênero deve ser revistada por agente do mesmo sexo
que o de sua opção sexual.

Conforme ensino Marcelo Lessa:

As travestis e mulheres transexuais (sexo


originalmente masculino, mas que tem identidade
de gênero oposta ao seu sexo biológico) deverão
ter a identificação social feminina preservada (usar
termos revistadas por policiais femininas, as quais,
legalmente, não estão proibidas de revistar
pessoas de ambos os sexos biológicos. (LESSA,
2019, p. 38)

Importante destacar que, não se pode durante a revista passar as mãos nas partes
íntimas, pois isto configura crime sexual.
16

2.4.4 Quem não pode sofrer abordagem policial?

Os menores de idade não podem ser revistados sem a presença de um responsável.

Na ausência de um responsável legal, a autoridade policial deve requerer a presença de


um Conselheiro Tutelar para que a revista seja feita.

2.4.5 As buscas em carros são legais

Os policiais podem revistar o automóvel durante a abordagem, mesmo que sem ordem
judicial.

Devendo o agente, informar os motivos para a revista e solicitar a presença do


condutor no momento da revista, para que não ocorra nenhuma ilegalidade ou,
posteriormente, a alegação desta.

2.4.6 Busca em aparelho celular

É ilegal, somente deve ocorrer com ordem judicial. O Superior Tribunal de Justiça 10,
vem entendendo em seus julgados que tanto nas abordagens pessoais, como nas prisões em
flagrante, a busca em celular só pode ocorrer com mandado judicial. Uma vez que, esta sendo
realizada sem determinação do Juiz, torna-se uma prova ilegal. Essas decisões baseiam-se nas
premissas constitucionais, vez que a própria Constituição Federal prevê a inviolabilidade das
comunicações telefônicas e telegráficas, estas só podendo ser violadas mediante ordem
judicial (ART. 5º,XII).

10 Disponível em <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/340165638/recurso-ordinario-em-habeas-corpus-
rhc-51531-ro-2014-0232367-7/inteiro-teor-340165652> Acesso em 14/04/2020
17
2.5 Da violação de domicílios por agentes de segurança pública

Por último, mas não menos importante, vamos analisar a violação de domicílios por
parte dos agentes de segurança pública. Entre vários princípios constitucionais que deve ser
analisado nessa atuação, não se têm dúvidas que o princípio da inviolabilidade do domicílio é
um dos limitadores de atos abusivos.

A Constituição Federal, em seu Art. 5º XI, consagra que:

A casa asilo inviolável do indivíduo, ninguém


podendo nela penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
dia, por determinação judicial.

A Lei de Abuso de Autoridade estudada acima também prevê como conduta que
tipifica o crime de abuso autoridade a violação de domicílio:

Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina


ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do
ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou
nele permanecer nas mesmas condições, sem
determinação judicial ou fora das condições
estabelecidas em lei:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa.
§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista
no caput deste artigo, quem:
I - coage alguém, mediante violência ou grave
ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas
dependências;
III - cumpre mandado de busca e apreensão
domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou
antes das 5h (cinco horas).
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para
prestar socorro, ou quando houver fundados
indícios que indiquem a necessidade do ingresso
em razão de situação de flagrante delito ou de
desastre.

Assim, verificamos que a Lei de Abuso de Autoridade retoma a ideia já trazida pela
Constituição Federal, tipificando a conduta e atribuindo-lhe uma punição.
18

A inviolabilidade de domicílio tem como significado a proibição de intrusão material


em uma habitação privada, para que o Estado, nem ninguém interfira na vida privada do
indivíduo (GROTTI, 1993, p 87).

Sabemos que só será possível adentrar a casa do indivíduo com mandado judicial ou
nas hipóteses elencadas pela própria Constituição Federal, uma vez que se valem da força, e
não respeitam as regras mencionadas acima incorrem em Abuso de Autoridade.

Mas, ainda assim, devemos analisar a conduta dos agentes nas hipóteses autorizativas,
já que estar em posse de mandado judicial, não autoriza a agir de forma autoritária.

Nesse tipo de abordagem, além de não poder violar o domicílio, os agentes públicos
devem respeitar a dignidade humana, a honra, a imagem. Não podendo publicar imagens,
expor o indivíduo, nem agir com excesso. Pois muito embora, naquele momento estejam na
condição de suspeitos, ainda assim, são sujeitos de direito e fazem jus ao respeito destes.
Assim, os agentes não podem se valer desta situação para implantar provas, seduzir pessoas,
praticar crimes, subtrair bens, por acreditarem que estes foram adquiridos de maneira ilícita.

Isso é muito importante para que não seja arguida a ilegalidade no curso das
investigações ou de uma possível ação penal.

Dessa forma, analisamos algumas das inúmeras situações em que os agentes devem
pautar sua conduta na legalidade, nos princípios constitucionais e sempre no bom senso e na
ética. Jamais o policial deve-se valer de sua profissão, para reprimir, diminuir ou violar os
direitos alheios, antes deve ser consciente da sua missão tão importante para toda a sociedade.
Insta salientar também que, é necessário fomentar o conhecimento entre a sociedade,
de forma que, os indivíduos honestos, e também, embora criminosos, detentores de direitos,
tenham suas garantias respeitadas.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Indubitavelmente, os órgãos de segurança pública exercem funções indispensáveis


para que seja possível alcançar a paz e o bem-estar social.
19

Acompanhando as estatísticas, observamos uma grande demanda de violência, que


sabemos ser decorrente de inúmeros outros problemas, principalmente sociais. Além do
aumento da violência vivenciamos uma grande desvalorização dos órgãos de segurança
pública, tanto por parte da sociedade, que por muitas vezes, olha preconceituosamente para o
policial, como por parte do próprio Estado, que não investe em treinamentos, equipamentos,
modernização e valorização dos policiais.

No decorrer de todo o trabalho, vimos a necessidade e a importância dos treinamentos,


com a finalidade de conscientização dos agentes quanto à sua atuação, principalmente, nas
abordagens pessoais. É incontestável que em um grande número de casos, a polícia deixa a
desejar na sua atuação, violando vários direitos e ferindo garantias e em alguns casos, até
cometendo crimes, se valendo do poder que lhe é dado para proteger vidas e preservar
direitos.

Discorremos sobre diversas atuações que caracterizam excesso de poder, que rompem
os limites essenciais, configurando abuso de autoridade, exercitando o poder de polícia além
da finalidade para o qual lhe foi atribuído.

A nova Lei de abuso de autoridade é sem dúvida um marco para uma atuação mais
séria e em conformidade por parte dos agentes públicos, incluindo os agentes de segurança

pública, vez que visa não somente caracterizar as condutas, mas também punir os agentes que
incorram de forma incoerente com a sua missão.

Contudo, tão importante quanto enfatizar os treinamentos aos agentes, é sem dúvidas
informar e conscientizar a população dos seus direitos, das suas garantias e de como a atuação
dos agentes deve se dar, a fim de que ninguém tenha os seus direitos violados
desnecessariamente.

A atuação da polícia deve ser vista como uma prestação indispensável a sociedade, já
que as suas funções protegem toda a sociedade e que na sua atuação, a sua missão é servir e
proteger.

É preciso também, que se traga a pulverização da importância dos órgãos de segurança


pública e que seja retomado o respeito às entidades de segurança outrora oferecido pela
população, conscientizando que a ação da polícia traz benefícios para todos.
20

E que uma vez que, ocorra uma abordagem policial ou ao domicílio e que se verifique
que não há nenhum tipo incriminador, o cidadão de bem deve se sentir honrado em colaborar
para redução da marginalização e redução da violência.

Assim, vemos a importância dos órgãos de segurança pública frente toda violência que
temos vivido.

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