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Sistema Nacional de Segurança Pública e Sistema de

Justiça Criminal
SISTEMA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA E SISTEMA DE JUSTIÇA
CRIMINAL.

A ordem pública requer a presença de normativos e estruturas que lhe permitam a


manutenção e continuidade .

Com vistas à sua proteção, o Brasil possui um arcabouço jurídico vasto, que regula
a convivência social pacífica e equilibrada. A própria Constituição Federal cita a
ordem pública cinco vezes no escopo do seu texto.

Para a sua efetividade e garantia, dois sistemas entram em ação para a preservação
da prevalência dessas normas sobre o comportamento social que são o Sistema
Nacional de Segurança Pública, representado pelo SUSP - Sistema Único de
Segurança Pública (instituído pela LEI Nº 13.675, DE 11 DE JUNHO DE 2018), e o
Sistema de Justiça Criminal.

O primeiro cuida da prevenção e do combate direto às ações delituosas que


venham a ferir a convivência harmônica da sociedade. Inclusive, no artigo 144, a
Constituição menciona que a segurança pública é exercida para a preservação da
ordem pública.

O segundo tem o papel de cuidar das ações corretivas, quando ocorrerem ações
delituosas, buscando dar tratamento adequado aos infratores através de um
processo legal, com amplo direito de defesa, que deve culminar com uma sentença,
em busca da ressocialização do envolvido.

São integrantes estratégicos do SUSP, conforme o artigo 9º § 1º da Lei nº


13.675/2018:

I - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por intermédio dos


respectivos Poderes Executivos;

II - os Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social dos três entes federados.

§ 2º São integrantes operacionais do Susp:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III – (VETADO);
IV - polícias civis;

V - polícias militares;

VI - corpos de bombeiros militares;

VII - guardas municipais;

VIII - órgãos do sistema penitenciário;

IX - (VETADO);

X - institutos oficiais de criminalística, medicina legal e identificação;

XI - Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp);

XII - secretarias estaduais de segurança pública ou congêneres;

XIII - Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec);

XIV - Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas (Senad);

XV - agentes de trânsito;

XVI - guarda portuária.

Sobre o Sistema de Justiça Criminal, Ferreira e Fontoura (2008) esclarecem que


abrange órgãos dos Poderes Executivo e Judiciário em todos os níveis da
Federação. O sistema se organiza em três frentes principais de atuação: segurança
pública, justiça criminal e execução penal. Ou seja, abrange a atuação do poder
público desde a prevenção das infrações penais até a aplicação de penas aos
infratores. As três linhas de atuação relacionam-se estreitamente, de modo que a
eficiência das atividades da Justiça comum, por exemplo, depende da atuação da
polícia, que por sua vez também é chamada a agir quando se trata do
encarceramento – para vigiar externamente as penitenciárias e se encarregar do
transporte de presos, também à guisa de exemplo.

Analisando-se a complexidade de organizações públicas que compõem os dois


sistemas, recorda-se as colocações de Lisot (2012) quando  que afirma a
governança pública encontra-se intimamente ligada às expectativas políticas e
sociais geradas pela cooperação de diferentes atores locais e regionais, que têm
como foco a redução e/ou solução dos impasses sociais.

Observa-se que a polícia compõe, na prática, os dois sistemas, ou seja, a sua


consistente atuação é fator preponderante para a garantia da segurança e da
ordem pública.
No Decreto-Lei 88.777/83, que aprova o regulamento para as polícias militares e
corpos de bombeiros militares,  encontramos o conceito de ordem pública no art.
2º, item 21:

Ordem Pública – Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento


jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis,
do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica,
fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou condição que
conduza ao bem comum.

É interessante o conceito trazido por Clemente (2013) da doutrina jurídica


portuguesa, que concebe a ordem pública como o “conjunto das condições
externas necessárias ao regular funcionamento das instituições e ao pleno exercício
dos direitos individuais, nuclearmente segundo a trilogia funcional da defesa da
tranquilidade, segurança e salubridade.” E complementa afirmando que, nesse
entendimento, o conceito alargado de ordem pública engloba a noção de
segurança pública, porquanto, a ordem pública é vista como a ordem social
estabelecida pelo direito positivo.

Segundo Dantas (2002), apud Pinc (2007), sofremos de insegurança. É necessária a


provisão de melhores serviços de segurança pública, mudando o conceito para
defesa social, com um sistema que integra a repressão com a prevenção da
criminalidade, em que os artífices deste modelo sejam todos os demais órgãos
públicos, de modo integrado com a comunidade.

A segurança apresenta-se hoje no centro do debate das sociedades modernas,


muito por força da instabilidade, imprevisibilidade e incerteza que caracterizam o
mundo atual. Para Clemente (2010), a segurança é um domínio constitucional, cujo
significado remete para o exercício tranquilo de direitos pessoais, liberto de
ameaças. Mas o quadro de ameaças e riscos que pendem sobre a segurança das
pessoas e do normal funcionamento das instituições democráticas, obriga o Estado
a rever os instrumentos existentes de forma a ajustá-los à prevenção e ao combate
de tais ameaças.

O próprio Clemente (2013) afirma que, sem dúvida, os serviços policiais constituem
o principal ator das políticas públicas de segurança urbana, especialmente no
avatar de patrulhamento da via pública, vulgarmente conhecidos como rondas.

Depreende-se desta fala que o gestor público não pode desconsiderar a


importância de uma boa gestão sobre o serviço policial. Corroborando nesta
direção, Lisot (2012) lembra que alguns setores públicos, todavia, necessitam
principiar rápidas mudanças em seus arquétipos organizacionais, notadamente,
para levar a cabo suas abrangentes e indispensáveis atribuições e competências
constitucionais.
Dempsey et al (2019) afirmam que uma base sólida e uma mente ampla levam a
sucessos infinitos e oportunidades incontáveis. É em busca disso que os líderes
públicos devem atuar.

 Analise o organograma a seguir:

Observe que a segurança pública vive dois panoramas distintos: a normalidade ou a


quebra da ordem.

Na normalidade, as pessoas estão em convivência harmônica, em rotinas pessoais


que compõem o seu dia a dia.

A quebra da ordem é qualquer evento que venha a ferir a paz pública e o equilíbrio
entre os coabitantes.

Assevera Clemente (2013) que nenhuma sociedade civil cumpre todas as regras: ao
longo do dia, “a ordem é sempre ameaçada de desordem”. Por certo, a vida social
admite um mínimo de desordem, logo a ordem pública representa o ponto de
equilíbrio entre a desordem suportável e a ordem indispensável.

Os crimes tipificados no Código Penal Brasileiro ferem a ordem, se praticados, e


exigem uma ação do Estado para evitar que isto aconteça.

Se houver normalidade, as instituições de segurança pública, por meio dos seus


gestores e membros, irão trabalhar de forma preventiva, para que esse estado se
prolongue.
Os gestores públicos analisarão os recursos disponíveis, a fim bem distribuí-los e
fazê-los render frutos positivos às instituições, mas principalmente à sociedade, ao
menos este deve ser o foco dos seus esforços, pois é fundamental exercer
responsavelmente a governança pública.

Ressalta Lisot (2012) que num momento histórico, em que as organizações estão
passando por grandes e constantes mudanças, a Administração Pública, com mais
dificuldade, segue lutando contra antigas estruturas burocráticas, transpondo e
criando novos paradigmas. Dentro dessa lógica, vocábulos como governança e
governança pública começam a receber especial destaque, tornando-se importante
estabelecer conceitos apropriados, a fim de orientar os pressupostos relacionados à
governança corporativa no setor público.

No geral, as aplicações desses recursos são direcionados para a prevenção, que se


expressa frequentemente em fiscalizações preventivas e mapeamento dos números
e diversos dados estatísticos, a fim de direcionar ou desenvolver outros tipos de
ações preventivas, como o uso de ferramentas tecnológicas, por exemplo.

Aplicados os recursos, compete ao gestor acompanhar a efetividade das ações, as


metas e os resultados alcançados, pois dois cenários básicos podem ocorrer em
sequência: a efetividade das ações e a não efetividade.

Quando há efetividade, a sociedade encontrará um ambiente com sensação de


segurança, vivenciando na prática a ordem pública, tanto no aspecto físico como
no psicológico.

A não efetividade tende a cair na quebra da ordem pública, que é justamente o


oposto do que pretende a gestão pública. Não apenas pelos normativos legais, mas
por vocação, as instituições de segurança pública trabalham pelo cenário perene de
paz, afinal, como bem assinala Clemente (2013), a segurança é um domínio
constitucional, cujo significado remete para o exercício tranquilo de direitos
pessoais, liberto de ameaças.

Quebrada a ordem pública inicia-se o processo de reação por parte das


instituições.

Entram em ação dois sistemas policiais, conforme nos descreve Nazareno (2011):

 A polícia preventiva, por meio de diversas técnicas, com pessoas


uniformizadas, com o objetivo de manter e assegurar a tranquilidade aos
cidadãos. 
 A polícia judiciária, que atua como auxiliar da justiça e está vinculada ao
Poder Judiciário.

Na prática, a primeira fica com o chamado policiamento ostensivo, e a segunda,


com a investigação criminal.
Se reagindo à quebra da ordem pública, a polícia ostensiva age imediatamente e
chega à prisão em flagrante do infrator ou infratores, deve encaminhá-los à polícia
judiciária, para a realização do processamento.

A polícia judiciária entra em ação quando não há êxito no flagrante ao ato


criminoso, investigando a notícia crime, a fim de chegar ao perpetrador da
desordem legal e, uma vez alcançando o agente delituoso, irá encaminhá-lo
também para o processamento, ainda dentro do ciclo policial.

Findo o processamento, vem a remessa aos autos para o Ministério Público, que
representa o Estado na aplicação das leis, e vai analisá-los. Se oferecer denúncia, vai
encaminhar ao juízo competente para que o infrator passe pelas fases processual e
das penas.

Kirby (2013), apud Rolim et al (2022) afirma categoricamente que a missão da


polícia é tornar as comunidades mais seguras, aplicando a lei de forma justa e
firme; prevenindo o  crime  e  o  comportamento  antissocial;  mantendo  a  paz; 
protegendo  e  tranquilizando  as  comunidades; investigando crimes e conduzindo
os infratores à justiça. 

O gestor público deve manter viva essa missão em sua mente na condução dos
seus processos de administração do órgão ou unidade sob sua responsabilidade.

Quando não há eficiência na prisão de infratores e isso se avoluma na sociedade,


deriva-se a sensação de insegurança, muitas vezes, fruto do medo.

O medo contribui para a geração de cautela, que, por sua vez, serve como
segurança e proteção. Quando extrapolado em certo limite, o mesmo medo
deteriora a qualidade de vida das pessoas (DANTAS (2002), apud Santos Júnior et
al (2007).  

É justamente o cenário que o gestor público não quer: ver deteriorar as relações
sociais positivas e a qualidade de vida das comunidades atendidas por sua
circunscrição.

Santos Júnior et al (2007) trazem, ainda, outras questões alarmantes, pois apontam
que na agenda dos administradores públicos dos países mais desenvolvidos,
diversas ações têm sido envidadas para se medir o medo do crime e
operacionalizar medidas para tranquilizar o público, reduzindo esse medo, porém
tal tema, no Brasil, requer, ainda, um tratamento mais amadurecido, pois,
lamentavelmente, mesmo com a envergadura dos problemas constantes do
sistema penal, a temática ordem pública não se encaixa como meta prioritária para
a promoção da qualidade de vida.

Ferreira e Fontoura (2008) corroboram ao expor que a segurança pública, nos


últimos anos, tornou-se uma das áreas de políticas públicas de maior preocupação
dos brasileiros. Isso pode ser notado em pesquisas de opinião pública realizadas
recentemente.

E ainda, conforme os autores, que essa forte preocupação social, por sua vez, tem
despertado na sociedade e no Estado (setores de saúde, educação, urbanização,
trabalho etc.) novas ações que contribuem para a melhora da situação ao atuar na
prevenção da violência e do crime. No entanto, embora alguns estudos venham
questionando a ideia de prisão de criminosos como forma de intimidar o crime e
assegurar a ressocialização, a responsabilidade mais específica sobre o problema,
atribuída pela mídia e pelos atores políticos de maneira geral, continua sendo do
sistema de justiça criminal.

Vê-se a integração e responsabilidade dos dois sistemas. Não basta que os órgãos
de segurança pública atuem bem, é necessário a complementação do ciclo dentro
do sistema de justiça criminal.

Então, caro cursista, à sua visão, como gestor, já havia penetrado esse olhar
diferenciado sobre o tema?

Contribua conosco participando do chat e expondo uma ou mais situações que


afetam o seu cotidiano no campo da segurança pública.

Última atualização: quarta, 15 fev 2023, 16:03

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