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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO CABO BRANCO
CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS

DISCIPLINA: Direito Constitucional


INSTRUTOR: Cap QOC JONES
DISCENTES:
Cad PM 1°Ano FONTES MATR: 522393-8
Cad PM 1° Ano EDILSON MATR: 531384-8
Cad PM 1e Ano CAIO OLIVEIRA MATR: 531388-1

OS DIREITOS HUMANOS DOS AGENTES POLICIAIS E OS ASPECTOS


CONSTITUCIONAIS DA ABORDAGEM POLICIAL

INTRODUÇÃO

Este texto apresenta uma análise dos artigos: “ Os Direitos e Garantias Fundamentais
para os Agentes da Atividade Policial: Um olhar sob a Educação Continuada de Segurança
Pública”1 e Direitos Fundamentais versus Abordagens Policiais: Em busca de um diálogo
cidadão para consolidação da Paz Social”2. Para tanto, foi realizada leitura reflexiva, atentando-
se aos tópicos de interesses comuns encontrados em ambos artigos científicos, sobretudo, aos
Direitos Humanos dos Agentes Policias e aos Aspectos Constitucionais das abordagens
policiais. Dessa forma, temos como objetivo fazer uma interligação desses temas, focando na
necessidade de promover uma maior valorização dos policiais, bem como, respaldar legalmente
e enfatizar a importância de sua principal ação cotidiana: as abordagens.

1. DIREITOS HUMANOS DOS AGENTES POLICIAIS

Diante destes conceitos introdutórios, é pertinente frisar que a missão principal dos
órgãos de segurança pública é assegurar um certo nível de sensação de segurança, e assim,
promover permanentemente a qualificação de seus integrantes. Corroborando com isso,
CAMPOS & NUNES (2018) pontuam que,

1
Artigo publicado em: Cadernos da Fucamp, v.17, n.30, p. 113 - 138 /2018.
2
Artigo publicado em: Revista FIDES, v. 12, n. 1, p. 742-762, 9 set. 2021.
“(...) podemos afirmar que uma sociedade sem segurança é uma sociedade que não
consegue ter efetividade na fruição de seus direitos e garantias fundamentais e para
tanto, necessário se faz política pública de segurança que possa ser eficaz neste direito
e garantia do cidadão. ” (CAMPOS e NUNES, 2018, p.123)

Sendo assim, a qualificação contínua dos agentes policiais torna-se primordial nesse
cenário de busca incessante da paz social, pois, é mediante a manutenção da ordem pública, que
o Estado consegue proporcionar à sociedade uma justiça social que se reflete na sensação de
segurança, principalmente nos espaços de uso coletivo. Nesse sentido, a ideia de promover uma
formação pautada nos direitos humanos aos integrantes dos órgãos policiais é um mecanismo
que retroalimenta o sistema de segurança pública. Isso porque, não podemos pensar que as
polícias são estruturas sociais fora da sociedade, pelo contrário, elas são partes que respondem
muitas vezes pelo todo, mostrando-se, como elemento indelével e indissociável do corpo social.

Aliado a esses conceitos, percebemos que as políticas de segurança pública devem ser
estimuladas pelas necessidades da sociedade, isso porque a construção sociológica dos órgãos
policiais não pode tangenciar o círculo social, mas deve ser forjada nos entraves que a própria
sociedade cria como um processo de amadurecimento social, pois entendemos que:

“A Segurança Pública é, portanto, uma espécie de instituição pública social


indispensável em culturas urbanas, complexas e de interesses conflitantes, sem a qual,
através de seus mantenedores, a sociedade estaria sujeita a sua extinção pelo caos e
dilapidação da dignidade da pessoa humana e dos direitos e garantias fundamentais,
pois, cuidar da segurança pública, da liberdade de ir e vir do cidadão, é
responsabilidade de todos, na exata medida de um desenvolvimento social equilibrado
e justo. ” (CAMPOS e NUNES, 2018, p.124)

Depreende-se desse contexto teórico, portanto, que, para alcançar uma situação
hipotética e utópica de ordem pública permanente, a educação continuada dos encarregados de
aplicação da lei deveria ser prioridade precípua. E, ainda que tal cenário seja racionalmente
impossível de ser alcançado, em qualquer nível de promoção de Segurança Pública deve-se
proporcionar “a formação do policial cidadão promotor da paz social” (CAMPOS e NUNES,
2018, p.132)
Assim, parafraseando CAMPOS & NUNES (2018), para garantir essa formação é
fundamental que a Portaria Interministerial SEDH/MJ nº 2, de 15 de dezembro de 2010 seja
implementada em todas as instituições policiais, pois faz-se mister que a promoção e defesa dos
direitos humanos dos profissionais de Segurança Pública sejam integralmente estabelecidos
como ingredientes sociais os quais incentivem o engajamento integral dos policiais no projeto
de justiça social, e ainda conforme os citados autores:

“(...) este profissional também é cidadão e coloca sua vida em risco em detrimento do
bem comum. Sua valorização é de extrema importância para que ele execute um
trabalho de excelência na busca do bem-estar e proteção da sociedade, garantindo a
todos a paz social. ” (CAMPOS e NUNES,2018, p.134)

Logo, por essa ótica, os agentes policiais são profissionais que, como qualquer outro
trabalhador, têm direitos e devem ser tratados com respeito e dignidade; a formação e
treinamento adequados são fulcrais para que eles desempenhem suas funções de maneira
eficiente e segura, garantindo assim uma melhor qualidade de serviço para a sociedade.

2. ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA ABORDAGEM POLICIAL

A abordagem policial é uma medida essencial para a garantia da ordem pública e o


estabelecimento da sensação de segurança. Os agentes policiais possuem permissão
constitucional para realizar sua principal atividade fim, traduzida nas buscas pessoais ou
veiculares. Tais ações policiais são objetos de críticas por parcela da sociedade, porém, é
enfático que essas críticas são potencialmente voltadas para aquelas abordagens que se revestem
de ilegalidades.

Assim, dentre os aspectos constitucionais relevantes, podemos citar o direito à


privacidade e à intimidade, previstos no artigo 5º da Constituição Federal. A abordagem policial
deve ser realizada de forma a respeitar esses direitos fundamentais, evitando ações arbitrárias e
invasivas que possam constranger o cidadão. Outro aspecto importante é o princípio da
presunção de inocência, previsto no mesmo dispositivo da Carta Magna, o qual garante que
toda pessoa é inocente até que se prove o contrário, devendo ser respeitado durante essas
atuações policiais, evitando que o cidadão seja tratado como criminoso sem que haja provas ou
indícios de infração.

Neste ínterim de ideias, percebemos que o Estado, por meio dos órgãos de segurança
pública, limita os direitos fundamentais das pessoas ao mesmo tempo em que tem a missão de
garantir a paz social. E, nessa linha de raciocínio, NETO & CABRAL (2021) nos ensinam que,

“A princípio, analisa-se a importância do direito a ser livre e como as intervenções do


Estado nas liberdades devem ser feitas de maneira a não instigar o caos social, porém,
esse mesmo Estado ao exercer sua função de pacificação torna as interferências
imprescindíveis, a sociedade precisa de alguma forma sofrer limitações para que seja
mantida a ordem pública, cabendo às forças policiais fazerem este trabalho árduo e
extremamente necessário. ” (NETO e CABRAL, 2021, p.752)

Portanto, percebe-se que há uma linha tênue nas abordagens policiais e que é preciso
expertise por parte dos agentes de segurança pública para não darem ignição a certas
ocorrências que possam gerar fagulhas de desordem pública. Nesse sentido, o uso ponderado
do poder de polícia deve ser estimulado dentro das instituições policiais. O limite legal da ação
policial em uma busca pessoal tem que estar pautado em atos profissionais que enfatizem a
educação social, ou seja, o policial, ao fazer uma interpelação a um indivíduo, deve ser o menos
invasivo possível, tendo a consciência de que seu poder de polícia é estritamente funcional. Nas
palavras de NETO & CABRAL (2021), fica claro que

“(...) o ato de parar um indivíduo para identificá-lo e ter certeza de que ele não está
praticando nenhuma atividade ilegal é a forma mais pura de expressão do que é e para
que serve o poder de polícia e dever de manutenção da ordem. ” (NETO e
CABRAL,2021, p.753)

Desta maneira, naturalmente, surgem os conflitos sociais decorrentes da abordagem


policial como projeção do poder de polícia. No entanto, os objetivos de garantir a ordem pública
e promover a sensação de segurança no seio da sociedade são essenciais para o estabelecimento
da paz social. Decorrente disso, a diminuição dos índices de crimes violentos é o principal foco
das políticas de segurança pública, e para isso, a ferramenta mais utilizada pelos órgãos policiais
é a abordagem policial. Do mesmo modo, a sociedade anseia por um convívio social
harmonioso e sem violência, em que sejam garantidos os direitos fundamentais. A ideia é que
a sociedade em sentido amplo, ou seja, polícia e cidadãos como partes integrantes do mesmo
todo, interajam permanentemente com os mesmos desejos sociais, conforme nos falam NETO
& CABRAL (2021):

“Desse modo, não se pretende realizar um confronto direto entre a sociedade e as


polícias, vê-se como necessária a existência dos agentes de segurança para que a
ordem social seja preservada e a paz social estabelecida, em contraponto, busca-se
suscitar um caminho de interação em que ambos se sintam resguardados em seus
direitos”. (NETO e CABRAL, 2021, p.754)

Com base nesses argumentos, infere-se que a abordagem policial é essencial para a
manutenção da ordem pública. Em que pese toda a celeuma que existe em torno dessa temática,
precipuamente nas interferências sobre os direitos fundamentais do cidadão, é pacificado que o
direito coletivo tem prioridade sobre o direito individual. Dessa forma, a busca por uma
Segurança Pública de qualidade e ativa é fundamental para o estabelecimento da paz social “que
ultrapassa o viés da individualidade e abrange a sociedade como um todo, enquanto valor
supremo”. (NETO e CABRAL, 2021, p.759)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após leitura e reflexão sobre os conceitos trazidos por esses dois artigos, a correlação
feita com os tópicos ‘Direitos Humanos dos Agentes Policiais e Aspectos Constitucionais das
abordagens policiais’ nos apresentou a possibilidade de pensarmos na relevância de tais temas.
Diante disso, teorizar sobre o papel da Segurança Pública, analisando conjuntamente os Direitos
Humanos e o conflito social existente nas abordagens policiais, nos permite fazer projeções
sobre a influência que esses direitos implementados pode trazer para a qualidade dos serviços
oferecidos à sociedade.

Nesse sentido, embora percebamos uma tendência metodológica nos argumentos de


CAMPOS & NUNES (2018), sobretudo, ao se referir ao Estado de Minas Gerais como “o
exemplo a ser seguido” no tocante à Segurança Pública; ainda assim, entendemos que os
conceitos teóricos devem (ou deveriam) ser seguido por todos os entes federativos.
Corroborando com isso, os autores afirmam que:

“(...) há uma preocupação institucional do Estado em aperfeiçoar os direitos


fundamentais do policial militar, pois desta forma, o profissional estará motivado e
irá exercer suas atividades ciente de sua importância para o contexto social, sendo
capaz de proporcionar à sociedade a almejada tranquilidade e paz social digna a todo
cidadão” (CAMPO e NUNES, 2018, P.136)

Ademais, sem obviamente esgotar o assunto, é perceptível que há um elo de ligação


entre o policial valorizado como cidadão e sua atuação como representante do Estado. As
abordagens policiais se caracterizam como acontecimentos sociais que carregam interpretações
legalistas e sociológicas e, no contexto da Segurança Pública, são ações que demonstram a força
dicotômica do Estado, que tem o dever de promover a manutenção do estágio de ordem pública,
de forma preventiva e repressiva, bem como garantir à sociedade, em sentido amplo, o gozo de
seus direitos. O fazer policial, nesse sentido, ocorre nos espaços públicos promovendo a
representação do poder estatal sobre os cidadãos, os quais percebem nos agentes policiais esse
dilema de funções, que se refletem nas ‘buscas pessoais’ cotidianas desenvolvidas no principal
campo de atuação policial: as ruas. Embasando esse argumento, SILVA (2011, p. 48) nos afirma
que “a rua é sempre o locus institucional da polícia. É ali, no meio do burburinho citadino pleno
de contingências e dinamismos sociais que poderemos encontrá-la”.

Deste modo, resta evidente que o agente encarregado de aplicação da lei tendo a
consciência de garantia de seus direitos fundamentais “contribui significativamente para a
construção de uma política pública de segurança eficaz na busca da sociedade justa e na garantia
dos direitos fundamentais do cidadão”. (CAMPOS e NUNES, 2018, p.135). Por fim,
alicerçados nesses argumentos, entendemos que a missão constitucional dos policiais se reveste,
portanto, de significados que otimizem a mitigação dos riscos sociais e do status quo de
sociedade carente de segurança pública.
REFERÊNCIAS

-CAMPOS, Mariana Cristina; NUNES, Geilson. OS DIREITOS E GARANTIAS


FUNDAMENTAIS PARA OS AGENTES DA ATIVIDADE POLICIAL: UM OLHAR SOB
A EDUCAÇÃO CONTINUADA DE SEGURANÇA PÚBLICA. Cadernos da FUCAMP, v.
17, n. 30, 2018.

-NETO, Paulo Medeiros Vieira; CABRAL, Kalina Silva Gonçalves. DIREITOS


FUNDAMENTAIS VERSUS ABORDAGENS POLICIAIS: EM BUSCA DE UM DIÁLOGO
CIDADÃO PARA CONSOLIDAÇÃO DA PAZ SOCIAL. Revista FIDES, v. 12, n. 1, p. 742-
762, 2021.

-Silva, Robson Rodrigues da; ENTRE A CASERNA E A RUA: O DILEMA DO PATO: UMA
ANÁLISE ANTROPOLÓGICA DA NSTITUIÇÃO POLICIAL MILITAR A PARTIR DA
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DOM JOÃO VI. Editora da UFF, 2011.

- BRASIL, Constituição de 1988. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO


BRASIL. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em 20 mar. 2023.

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