Você está na página 1de 5

POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DA TRINDADE


CURSO DE FORMAÇÃO DE SARGENTOS 2023/1

Josué Alves Grunow

PAPER

A Visão da atividade policial sob a perspectiva dos Direitos Humanos

Florianópolis
2023
RESUMO
A atividade policial é realizada em um eixo complexo de relações sociais, na qual se
deve operar de acordo com a necessidade, no entanto, leva-se em consideração os
preceitos éticos e a garantia de salvaguarda dos direitos. Nesse ínterim, desdobra-
se esta pesquisa com o propósito de apresentar o relacionamento entre a atividade
policial e o respeito ético aos direitos humanos.

PALAVRAS-CHAVE: Direitos. Ética. Moralidade.

1 INTRODUÇÃO
Em se tratando da atividade policial é sabido que sua base institucional na
rígida hierarquia e disciplina exige destes profissionais a realização de um trabalho
pautado na ética e moral. Com relação à moralidade esta prática se direciona a
contemplar os valores da honestidade que relevam o relacionamento com a
sociedade (HASSEMER, 2005).
Contribuindo com a realização de um serviço sob cunho moral relaciona-se a
ética como uma qualidade indispensável para condicionar as ações que refletem o
respeito a todo cidadão. Retratar sobre esse preceito é expor a honestidade como
fator principal na realização de atitudes que envolva um terceiro, seja em um
ambiente profissional ou particular (FRAGOSO, 2003).
“A ética é a área da filosofia dedicada às ações e ao comportamento humano,
filosofia moral. O objeto de estudo da ética são os princípios que orientam as ações
humanas e a capacidade de avaliar essas ações” (MENEZES, 2020, p. 01).
No que tange ao trabalho realizado pelo policial se compreende que este
profissional deve agir em consonância com a legalidade, significa dizer então, que
seu profissionalismo é emergido em responsabilidades éticas pela autonomia da
coragem e prudência no cumprimento do dever legal (GRECO, 2011).
Com isso, estando o policial à frente de resolver a situação naquele momento,
cabe a ele intermediar os fatos com as medidas adequadas para que nenhum direito
seja ferido e a ética profissional seja mantida para que a manutenção da dignidade
humana seja a principal preocupação (GRECO, 2011).
Ressalta-se que a atividade policial ressalvada pelos princípios éticos traz à
baila a garantia dos direitos humanos a todos os envolvidos durante a realização de
um atendimento policial, contudo, não é de conhecimento geral que os direitos e
garantias individuais não sejam absolutos, possibilitando então, que durante o
exercício de uma atividade policial algum direito seja violado para evitar um mal
maior (GONÇALVES, 2014).

2 DESENVOLVIMENTO
Ao falar sobre garantias e direitos é inevitável que se remeta conhecimento de
que os direitos humanos formam primazia no que se refere à manutenção da ordem
pública, uma vez que eles se demonstraram fundamentais para evitar um colapso
social em períodos vivenciados pela população brasileira de um modo geral, em
meio a disputas e guerras que fizeram história.
Porém, nem sempre foi desta forma, a sociedade evoluiu e como se sabe o
ordenamento jurídico precisou se moldar juntamente com ela, proporcionando uma
convivência social sadia e incólume. Marcando um período tenso e que se relaciona
à atividade policial militar, mencionam-se os anos de 1964 a 1985, quando ocorria a
ditadura militar (GONÇALVES, 2014).
Relacionar esse fato ao assunto aqui tratado é indispensável, pois foi um
momento em que um conceito se firmou quanto à Polícia Militar, tratando-a como um
órgão violento e sem limitações. De fato, o comando sucessivo de governos militares
fez deste órgão uma ferramenta de combate para si, atuando contra a população e
não em prol dela como é visto atualmente (MARCINEIRO, 2005).
Houve muitas desavenças, o cenário de degradação e desrespeito era nítido
e a luta pelos direitos humanos, aos quais já estavam firmados desde 1948, passou
a ser cada vez mais almejada. Porém, foi apenas em 1988, com a nova
promulgação constitucional, que estes direitos foram firmados e a sociedade passou
a ter vez, estando o Governo incumbido de atuar para a coletividade e não em seu
desfavor (MARCINEIRO, 2005).
Ocorre que, a Polícia Militar, que estava lidando diretamente com as atitudes
individuais e coletivas naquela época, passou a ser vista como uma vilã para a
sociedade. Alguns reflexos dessa atuação ainda são vívidos nas memórias de
muitos atualmente, associando a prática violenta à atuação destes profissionais.
Um bom tempo já se passou e a busca pela consolidação dos preceitos éticos
fazem com que a atividade policial se aproxime cada vez mais da sociedade a fim de
transmitir seu verdadeiro valor hoje, que é o de respeito à dignidade humana. Isso
valida o entendimento de que a Polícia Militar tem o dever de proteger o cidadão sob
a garantia de respeitar sua dignidade com vistas a considerar cada um dos direitos
humanos assegurados (HASSEMER, 2005).
Após inúmeras situações conflituosas vivenciadas pela sociedade em razão
desses diretos já terem sido feridos, coloca-se a dignidade humana como centro do
reconhecimento de que as garantias individuais devem ser asseguradas,
principalmente durante a realização das atividades policiais.
O que antes se visualizava um protagonismo que não respeitava direitos
alheios, hoje se vislumbra a imposição moral e ética de uma atividade que deve
medir suas ações durante um atendimento, a fim de garantir que não serão violados
os direitos humanos de nenhum envolvido.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme se discorreu, é visto que há uma forte necessidade de relacionar o
trabalho desempenhado pela Polícia Militar com a dignidade humana ao mesmo
tempo em que os direitos devam ser assegurados. A ditadura militar, mesmo tendo
sido uma forma de Governo, refletiu suas consequências diretamente ao militarismo
e hoje, estes profissionais lidam com uma barreira na reaproximação social,
demonstrando que seu trabalho é justamente o contrário de tudo que já foi visto
como um erro.
Acontece que as marcas de uma atuação, que feriu os direitos humanos lá
atrás, parecem ter ficado tão profundas que boa parte da sociedade esqueceu que a
atividade policial traz atuação direta com a intimidade pessoal no momento de agir
pelos meios necessários em uma situação. Então, com argumentos passados, uma
abordagem hoje, pode se tornar palco de críticas e discussões acaloradas que
levam o policial a ser julgado justamente por ter atuado em defesa da dignidade
humana de alguém.
Ocorre que os direitos inerentes a todo cidadão colidem com outros, isso
ocorre sempre que alguém vai de encontro com os ditames ligais, mas para a
maioria dos telespectadores, o entendimento é de que a atividade policial deve ser
exercida com perfeição. Esquece-se que estes profissionais também são cidadãos
detentores de direito e dignidade humana, que podem errar, mas que não mediram
esforços quando fizeram o juramento de defender o próximo com o valor de sua
própria vida.
REFERÊNCIAS

FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal: parte geral. Rio de Janeiro:
Forense, 2003.

GONÇALVES, Vanessa Chiari. Tortura e cultura policial no Brasil


contemporâneo. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2014.

GRECO, Rogério. Atividade policial. 3. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011.

HASSEMER, Winfried. Introdução aos fundamentos do direito penal. Porto


Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2005.

MARCINEIRO, Nazareno. Introdução ao estudo da segurança pública. 3. ed. rev.


e atual. Palhoça: Unisul Virtual, 2005.

MENEZES, Pedro. Ética: o que é, o que significa e a melhor definição. Significados.


2020. Disponível em: https://www.significados.com.br/etica/. Acesso em: 29 jul.
2023.

Você também pode gostar