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LOCAL DA APRESENTAÇÃO
ANO DE ENTREGA
1. INTRODUÇÃO

O processo de redemocratização do Brasil, a partir da década de 80, vem


provocando nas instituições públicas, em especial nas corporações policiais,
transformações decorrentes do questionamento da sociedade brasileira sobre a real
função pública que devem assumir diante do Estado Democrático de Direito. Na
verdade, há uma reação da sociedade brasileira que indica a necessária mudança
no modelo atual, em que a Justiça é morosa, o sistema prisional é desumano e
inócuo e a polícia atual é enfraquecida, fracionada, autoritária e afastada das
comunidades, despreparada e obsoleta na sua estrutura, não conseguindo
responder às exigências impostas pelo contexto social atual. (BENGOCHEA, et al,
2004).

A Constituição Federal de 1988, que inaugurou o Estado Democrático de


Direito no Brasil, trouxe um amplo rol de direitos e garantias individuais ao cidadão,
além de prever responsabilidades ao Estado e à sociedade para a efetivação destes
direitos. Ao mesmo tempo, a Carta Política alargou o conceito de Segurança
Pública, reconhecendo-o como direito individual e coletivo e atribuindo
responsabilidades àqueles que devem exercê-la. (SERRANO, 2010).

Assim, o intuito do presente trabalho é abordar a temática “O trabalho policial e


a interação social”, buscando apresentar como objetivos, o que é a segurança
pública e a relação com a cidadania, além de apresentar mecanismos possíveis para
um estado democrático.
2. DESENVOLVIMENTO

Um dos problemas que mais afligem o Brasil de hoje é sem sombras de


dúvidas, a questão da Segurança Pública que deixa a desejar no seu preceito
constitucional. Durante muito tempo a problemática da Segurança Pública foi vista
apenas como questão dos Estados, das Polícias. Pouca participação e interferência
do Governo Federal e nenhuma participação da sociedade. (MARQUES, 2010).

O processo de redemocratização do Brasil, a partir da década de 80, vem


provocando nas instituições públicas, em especial nas corporações policiais,
transformações decorrentes do questionamento da sociedade brasileira sobre a real
função pública que devem assumir diante do Estado Democrático de Direito.
(BENGOCHEA, et al, 2004).

Na verdade, há uma reação da sociedade brasileira que indica a necessária


mudança no modelo atual, em que a Justiça é morosa, o sistema prisional é
desumano e inócuo e a polícia atual é enfraquecida, fracionada, autoritária e
afastada das comunidades, despreparada e obsoleta na sua estrutura, não
conseguindo responder às exigências impostas pelo contexto social atual.
(BENGOCHEA, et al, 2004).

Na ordem democrática, os discursos de democratização e de defesa dos


direitos humanos provocaram fraturas num modelo de ordem social até então
hegemônico. Mas, diferentemente do que ocorreu na economia e em outras áreas
de política social, a transição democrática não propiciou reformas mais profundas
nas polícias, na justiça criminal e nas prisões. Arquiteturas institucionais e funções
constitucionais mantiveram-se praticamente as mesmas, apesar de mudanças
importantes na legislação infraconstitucional (que tanto ampliaram quanto
restringiram direitos e garantias), transformações no papel do Ministério Público em
direitos difusos e coletivos, no papel dos tribunais superiores, mudanças na
composição das carreiras jurídicas, reformas no acesso à Justiça. Contudo, no que
tange ao funcionamento ordinário de todo o aparato penal, é evidente a manutenção
de práticas institucionais e de culturas organizacionais ainda balizadas pela
legitimidade da ação violenta e discricionária do Estado, por formas de controle
social que operam as desigualdades, por relações intra e interinstitucionais que
induzem a antagonismos e falta de transparência ou participação social. Não há
consenso de que a referência moral do sistema penal seja a defesa da vida, como
estabelecido na Constituição, em seu artigo 5º. (LIMA, SINHORETTO, BUENO,
2015).

2.1 Cidadania

Inicialmente, é importante estabelecer a historicidade do conceito de cidadania,


ou seja, que a concepção é fruto de evolução histórica. Para Sonnenburg (2009, p.
13), esta relatividade decorre do fato de que a cidadania diz respeito à relação do
indivíduo com os demais componentes da sociedade e também com o Estado, ou
seja, depende da organização política de determinada sociedade em dada época.
(SERRANO, 2010).

Assim, a ideia de cidadania é muito antiga, sendo evidente nas sociedades


primitivas que, organizadas sob um governo ou autoridade, concediam direitos aos
seus integrantes. As leis mosaicas, cujas principais fontes de consulta são os livros
do Antigo Testamento, demonstram que o povo Hebreu já se preocupava com a
regulação social entre os indivíduos e destes com as autoridades, concedendo
direitos àqueles considerados cidadãos, segundo Leite (2006, p. 21).

2.1 Segurança Pública

Inicialmente, é necessário estabelecer a diferença conceitual entre segurança


pública e ordem pública, já que estas expressões têm sido utilizadas pelos leigos
como sinônimas. O Decreto federal n. 88.777, de 1983, conceitua ordem pública
como sendo:

“Conjunto de regras formais que emanam do ordenamento jurídico da


Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do
interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e
pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou
condição que conduza ao bem comum.”

A noção ordem pública é constituída por condições essenciais à convivência


social, sendo que “a segurança dos bens e das pessoas, a salubridade e a
tranquilidade formam-lhe o fundamento”, segundo Vedel (apud AMORIM, 2009 p.
69). Acrescente-se ainda a estes elementos a questão da Dignidade da Pessoa
Humana, segundo Lazzarini (1999, p. 21). Ou seja, a segurança pública é um dos
elementos que compõem a ordem pública, e para que esta seja preservada deve
haver fiscalização por parte do poder de polícia.

A Constituição Federal tratou o tema da segurança como um direito de


natureza individual (Art. 5º) e, ao mesmo tempo, coletivo ou social (Art. 6º):

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos seguintes termos [...] Art. 6º São direitos sociais a
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”

Dentre os diversos autores que conceituam Segurança Pública, cabe destaque


especial à definição de Lazzarini (1999, p. 21), para quem a segurança é o estado
antidelitual que resulta da observância das leis criminais, resultado da ação de
polícia repressiva ou preventiva que afasta todo o perigo que possa afetar a ordem
pública.

Ainda, importante conceituação é a de Bengochea (2004, p. 120):

“A segurança pública é um processo sistêmico e otimizado que envolve um


conjunto de ações públicas e comunitárias, visando a assegurar a proteção
do indivíduo e da coletividade e a aplicação da justiça na punição,
recuperação e tratamento dos que violam a lei, garantindo direitos e
cidadania a todos. Um processo sistêmico porque envolve, num mesmo
cenário, um conjunto de conhecimentos e ferramentas de competência dos
poderes constituídos e ao alcance da comunidade organizada, interagindo e
compartilhando visão, compromissos e objetivos em comum; e otimizado
porque depende de decisões rápidas e de resultados imediatos.”

É possível ter uma polícia diferente numa sociedade democrática? A


concretização dessa possibilidade passa por alguns eixos. Primeiro, por mudanças
nas políticas de qualificação profissional, por um programa de modernização e por
processos de mudanças estruturais e culturais que discutam questões centrais para
a polícia: as relações com a comunidade, contemplando a espacialidade das
cidades; a mediação de conflitos do cotidiano como o principal papel de sua
atuação; e o instrumental técnico e valorativo do uso da força e da arma de fogo.
São eixos fundamentais na revisão da função da polícia. (BENGOCHEA, et al,
2004).

Conforme já abordado, a cidadania demanda participação, aproximação do


cidadão das esferas representativas de tomada de decisão. “O que se espera é que
a ação cívica perpasse as instituições políticas por meio da participação da
sociedade civil, tanto na formulação quanto na execução das políticas públicas,
independente da área de atuação”, de acordo com Simeone (2009, p. 37).

De acordo com a autora Serrano (2010), essa participação do cidadão não


exclui a responsabilidade da polícia e dos demais órgãos do sistema de segurança
pública. Na realidade, o poder de polícia para preservação da ordem é apenas um
elemento desse contexto, mas não é o preponderante. A polícia não resume em si o
sistema de segurança pública e nem ataca as causas profundas da criminalidade,
segundo Rodrigues (2009, p. 93). É necessário, portanto, que os cidadãos, de forma
organizada, e também os demais atores do sistema complementem essa
responsabilidade, participando da formulação e da execução dos programas e
projetos em segurança pública.

O papel da polícia nesse contexto será o de mobilização social, no sentido de


engajar os cidadãos de uma dada localidade na questão da prevenção de crimes e
da violência. Além disso, conforme Simeone (2009, p. 49-51), a polícia deverá atuar
como mediadora entre instituições, ou seja, conclamar a participação de outros
órgãos públicos e entidades civis (órgãos judiciais, policiais, órgãos do Executivo
municipal, instituições privadas, organizações não governamentais, associações
diversas).

No momento em que começa a existir essa transformação política e social e a


compreensão da sociedade como um ambiente conflitivo, no qual os problemas da
violência e da criminalidade são complexos, a polícia passa a ser demandada para
garantir não mais uma ordem pública determinada, mas sim os direitos, como está
colocado na Constituição de 88. Neste novo contexto, a ordem pública passa a ser
definida também no cotidiano, exigindo uma atuação estatal mediadora dos conflitos
e interesses difusos e, muitas vezes, confusos. Por isso, a democracia exige
justamente uma função policial protetora de direitos dos cidadãos em um ambiente
de conflitos. A ação da polícia ocorre em um campo de incertezas, ou seja, o policial,
quando sai para a rua, não sabe o que vai enfrentar diretamente; ele não tem uma
ação determinada a fazer e entra num campo de conflitividade social. Isso exige não
uma garantia da ordem pública, como na polícia tradicional, sustentada somente nas
ações repressivas, pelas quais o ato consiste em reprimir para resolver o problema.
O campo da garantia de direitos exige uma ação mais preventiva, porque não tem
um ponto determinado e certo para resolver. (BENGOCHEA, et al, 2004).7
3. CONCLUSÃO

A segurança pública foi definida como direito, como dever e também como
responsabilidade da sociedade. Seu mérito se confunde com a própria razão de
existir do Estado, sendo sua principal função a proteção dos direitos dos cidadãos.
Além disso, a segurança pública passou a demandar a participação ativa da
sociedade, ou seja, uma espécie de exército da sociedade.

Dessa forma, é possível entender e estabelecer que cidadania e segurança


pública são conceitos indissociáveis, ou seja, a cidadania somente pode ser
exercida em sua totalidade quando presentes as condições de paz e tranquilidade
advindas com o exercício da segurança pública. Já a segurança pública, para ser
efetiva, deve contar com a participação e engajamento da sociedade, de forma
organizada.
REFERÊNCIAS
_______________. Decreto 88.777. 30 de setembro de 1983. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D88777.htm>. Acesso em: 02 jun. 2010.
BENGOCHEA, Jorge Luiz Paz, et al. A transição de uma polícia de controle para
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<https://www.scielo.br/j/spp/a/YnF7wwP4V9TFhxvbpXJysGq/?lang=pt>. Acesso em:
02 set. 2021.
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LIMA, Renato Sérgio de; SINHORETTO, Jacqueline; BUENO, Samira. A gestão da
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https://www.scielo.br/j/se/a/GXvgpX8S3K9dFzL4GMCky7G/?lang=pt. Acesso em: 02
set. 2021.
MARQUES, Archimedes Jose Melo. A segurança pública e a sociedade
Archimedes Jose Melo Marques. 2010. Disponível em:
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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (Brasil). Conceitos básicos. Disponível em:
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RODRIGUES, João Gaspar. Segurança pública e comunidade: alternativas à
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SERRANO, Ana Silvia. A RELAÇÃO ENTRE CIDADANIA E SEGURANÇA
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SIMEONE, Márcio. Mobilização e Organização Comunitária: livro didático.
Palhoça: Unisul Virtual, 2009.
SONNENBURG, Solveig Fabienne. Cidadania e o exercício do poder de polícia.
125f. 2009. Dissertação. (Mestrado em Direito Político e Econômico) – Universidade
Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2009.

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