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Pública no Brasil
Introdução
Revisão Textual:
Maria Cecília Andreo
Introdução
OBJETIVO
DE APRENDIZADO
• Dotar o aluno de uma visão geral dos órgãos de segurança pública e suas atribuições, dife-
renciando-os das Forças Armadas e delimitando sua atuação em relação à segurança privada.
UNIDADE Introdução
A palavra polícia vem do latim politia, procedente do grego politeia, que originalmente
significava organização política, sistema de governo (Dicionário On-line de Português).
Logo, em linhas gerais e ainda introdutórias, pode-se afirmar que a polícia repre-
senta o Estado na fiscalização sobre as pessoas e atividades e é a responsável pela
aplicação das leis.
A polícia não se cria sozinha; ela está presa a unidades sociais das quais
deriva sua autoridade. Hoje estamos acostumados a pensar na polícia
como uma criação do Estado, mas um pouco de reflexão mostrará que
isso é muito restritivo.
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Os modelos policiais formaram-se no mundo ocidental tão logo os governos
se viram às voltas com duas questões a enfrentar: a cidade e o trabalhador.
Essa combinação que se deflagra com a Revolução Industrial, mas que não
ocorreu somente nos países capitalistas, senão que também naqueles à
margem, imersos em economias mercantilistas, como Portugal. Daí porque
a maior parte das polícias ostensivas terem suas fundações entre os séculos
XVIII e XIX, momento em que, por um lado, a cidade trazia maiores perigos
a seus residentes (em relação a um passado feudo-rural) como resultado
do adensamento populacional, e, também, passava a ser um local de forte
agitação social com potencial para a desestabilização dos governos.
Oportuno apresentar uma boa e ampla definição de polícia dada pelo próprio Bayley
(2017), que abrange modelos diferentes do brasileiro, segundo o qual é possível dizer que
o termo polícia se refere a pessoas autorizadas por um grupo para regular as relações
interpessoais dentro desse grupo, a partir da aplicação de força física.
Ou seja, essa definição traz três elementos essenciais para entender o que é polícia:
(i) ela detém o monopólio do uso de força física para aplicação da lei; (ii) ela está auto-
rizada a fazer uso interno da força (somente naquele grupo específico); e (iii) ela conta
com a autorização ou delegação coletiva desse mesmo grupo para agir em seu nome.
Antes do período da Revolução Industrial, a segurança era exercida das mais variadas
formas e pelos mais diversos entes encarregados de fiscalizar as pessoas e aplicar a lei.
Essa é uma breve reflexão sobre a origem e, de certo modo, inevitabilidade da exis-
tência, da polícia nas sociedades modernas.
A preocupação com segurança e ordem pública não é exclusiva dos ocidentais nem decor-
rente apenas dos conflitos sociais pós-Revolução Industrial. No clássico romance japonês,
mundialmente reconhecido, Musashi1, de autoria de Eiji Yoshikawa, o herói trava o seguinte
diálogo com o jovem Iori:
— Se os homens soubessem conviver em paz, o mundo seria um paraíso. Infelizmente, porém,
todo ser humano nasce com duas naturezas, uma santa e outra diabólica. Um passo em falso,
e o mundo se transforma num inferno. Para que isso não aconteça, é preciso inibir a ação da
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YOSHIKAWA, E. Musashi. São Paulo: Estação Liberdade, 1999. p. 1222.
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UNIDADE Introdução
Mas o entendimento do que venha a ser segurança pública vai muito além da com-
preensão do que seja a polícia, que é apenas um dos atores nesse fundamental teatro
da vida em sociedade.
O preâmbulo da Lei Maior já nos dá uma ideia da importância do tema para o Parla-
mento Constituinte e para o povo brasileiro, ao afirmar que:
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Aos órgãos de segurança cabe entender o fenômeno criminológico e propor e co-
ordenar ações nas mais diversas áreas, em parceria ou mediante orientação, para o
enfrentamento das causas da insegurança, o que vai muito além de prender criminosos
e fazer policiamento ostensivo.
Eis os órgãos de segurança pública instituídos pela Constituição Federal nos incisos
do art. 144:
I – polícia federal;
I V – polícias civis;
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UNIDADE Introdução
Pelo que determina o § 7º do art. 144 da CF/88, a lei orgânica de cada órgão dis-
ciplinará o funcionamento e a estrutura de cada um dos órgãos de segurança pública,
objetivando garantir a eficiência de suas atividades.
Importante notar que as Guardas Municipais não estão relacionadas nos incisos do
art. 144 da CF. Elas estão previstas no seu § 8º, que faculta aos Municípios a sua constitui-
ção, objetivando a proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
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Veja o que ficou decidido nos autos da ADI 2.827, RS:
Da mesma forma, como adiante será mais bem explicitado, as Forças Armadas não
se constituem órgãos de segurança pública. Elas têm papel fundamental na defesa da
Pátria e na garantia dos poderes constitucionais, desempenhando papel suplementar de
garantia da lei e da ordem, nos casos de falência dos órgãos de segurança pública.
Atualmente, a insegurança é causada mais por conflitos armados internos do que por
guerras entre países. Daí haver forte conexão entre os papéis das Forças Armadas e das
forças de segurança pública.
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UNIDADE Introdução
Yuval Noah Harari, em sua belíssima obra Homo Deus, apresenta sua visão do motivo
pelo qual houve severa redução dos números de conflitos armados em todo o mundo.
Homo Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
Some-se a isso o fenômeno da internet e das redes sociais, que deram voz a qualquer
pessoa de qualquer canto do mundo, bastando-lhe ter às mãos um smartphone para que
faça sua “revolução” ou trave sua “guerra”. Ou seja, até mesmo os conflitos mudaram
de paradigma, saindo dos necessários e quase exclusivos confrontos físicos e passando
para uma “guerra” assimétrica ou irregular em que ataques cibernéticos, disseminação
de fake news e polarização política dão o tom dos novos desafios em termos de segu-
rança pública e defesa nacional.
Bem, se os conflitos externos já não são a maior preocupação das nações, certamente
os conflitos internos são um importante fator de inquietação.
Tais conflitos podem ser guerras civis ou disputas entre quadrilhas armadas, criminalida-
de ultraviolenta, terrorismo doméstico, atirador ativo ou crime organizado, o que a doutrina
moderna convencionou chamar de conflito de quarta geração ou guerra assimétrica.
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Figura 1 – Existe uma área de intersecção nas atividades das forças
de segurança e das Forças Armadas, mas elas não se confundem
Fonte: Getty Images
Como se nota, há uma área de intersecção entre defesa nacional e segurança pública,
a qual, apesar de comum, deve ser mantida como excepcional.
Marinha
Mais antiga Força Armada a operar no País, a Marinha do Brasil atua na defesa das
águas marítimas e fluviais nacionais, que conta a maior bacia hidrográfica do planeta. O país
tem 4,5 milhões de km² de área marítima e um litoral de 7,4 mil quilômetros de extensão.
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UNIDADE Introdução
Exército
O Exército Brasileiro – EB tem papel relevante na manutenção da unidade e da inte-
gridade nacional. Ele tem a missão condicionada pelas dimensões continentais do Brasil
e pela variedade de ambientes geográficos, bem como por uma faixa de fronteira com
dez países que se estende por quase 17 mil quilômetros.
O EB atua também no apoio às atividades de Defesa Civil, bem como nos proce-
dimentos de recuperação e reconstrução, por meio de seu corpo de engenheiros, que
também coopera constantemente na consecução de obras públicas.
Também tem atuação no apoio à política externa nacional, contribuindo com o maior
número de efetivos militares brasileiros em operações de paz e de ajuda humanitária.
Aeronáutica
A Força Aérea Brasileira – FAB tem a missão de manter a soberania do espaço aéreo
nacional, prevenindo e impedindo a prática de atos hostis ou contrários aos interesses
do País, tanto na vigilância quanto no controle e na defesa do espaço aéreo.
Até onde se viu neste estudo introdutório, já é possível concluir que não é papel das
Forças Armadas realizar, de forma ordinária, o policiamento ostensivo nas ruas. Esse
papel incumbe aos órgãos de segurança.
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Figura 2 – Mapa da área que abrange a Amazônia Legal
Fonte: ibge.gov.br
Como se nota, o papel das Forças Armadas na preservação da ordem pública tem
caráter suplementar e deve ser exercido somente em situações excepcionais, quando
os instrumentos ordinários (forças de segurança) não puderem dar conta das demandas
operacionais para assegurar a preservação da ordem pública.
O art. 22, inciso XXI, da Constituição prevê que é competência da União legislar so-
bre normas gerais de convocação das polícias militares e corpos de bombeiros militares.
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UNIDADE Introdução
Importante!
O que é a Força Nacional de Segurança Pública – FNSP?
A FNSP não é uma instituição policial, até porque não está prevista no rol do art. 144 da CF.
Sua criação é inspirada no modelo da Organização das Nações Unidas (ONU) de intervenção
para a paz, cuja atuação se baseia na cooperação para a resolução de problemas.
É um programa de cooperação entre os estados-membros e a União Federal, a fim de
executar, por meio de convênio, atividades e serviços imprescindíveis à preservação da
ordem pública, à segurança das pessoas e do patrimônio, atuando também em situ-
ações de emergência e calamidades públicas, composta de policiais militares e civis,
bombeiros militares e peritos dos estados e do Distrito Federal.
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Dessa forma, de maneira bastante preliminar, pode-se dizer que, em regra, os órgãos
de segurança pública, fora das situações de flagrante delito, desastres ou cumprimento
de mandados judiciais, atuam somente extramuros. Ou seja, a sua atuação é voltada ao
bem de toda a coletividade, e não de um indivíduo ou de uma parcela dessa coletividade.
Nas áreas privadas ou para a proteção de bens e interesses particulares, seja em re-
sidências, empresas, shoppings centers, indústrias, casas de espetáculos etc., a atuação
dos órgãos de segurança dependerá de autorização do proprietário ou morador, ou,
ainda, da ocorrência de alguma das situações excepcionais anteriormente nominadas.
A segurança privada, de outro giro, será exercida para a proteção de bens e interes-
ses particulares, seja de um indivíduo, de uma família, de um condomínio, de um grupo
de pessoas, seja de uma empresa. A atuação da segurança privada, portanto, em regra,
é intramuros. A exceção fica por conta das atividades de escolta armada, transporte de
valores e segurança pessoal, que ainda atuam na proteção de bens e interesses particu-
lares, mas a atividade se dá extramuros.
Em suma, a segurança privada é um ramo de atividade econômica, desenvolvido por
pessoas legalmente habilitadas, que tem por objetivo a proteção do patrimônio particular ou
de grupos de pessoas individualizados ou individualizáveis, nos limites permitidos pela lei.
A segurança pública é atividade estatal voltada à preservação da ordem e incolumi-
dade do patrimônio e das pessoas de toda a coletividade.
CPP
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UNIDADE Introdução
Importante notar que a lei faculta a que empresas que não atuam no segmento de se-
gurança privada possam constituir, com corpo próprio de funcionários, uma segurança
orgânica para a execução dessas atividades, desde que deem cumprimento ao disposto
na lei e demais legislações pertinentes.
Em Síntese
Nesta unidade foram abordados aspectos conceituais e introdutórios sobre:
• A origem e evolução da polícia como é entendida nos dias atuais;
• O que é segurança pública;
• Quais são os órgãos de segurança pública definidos na Constituição Federal;
• A diferença entre segurança pública e defesa nacional;
• O papel das Forças Armadas;
• A diferença e a complementariedade entre segurança pública e segurança privada.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Gestão de incidentes em segurança pública: artigos de ciências policiais e treinamentos de ações corretivas
AGUILAR, P. A. Políticas públicas de educação em ciências policiais por meio da
identificação, análise, avaliação e gerenciamento de riscos em segurança pública. In:
ULHOA CINTRA, C. R. et al. Gestão de incidentes em segurança pública: artigos
de ciências policiais e treinamentos de ações corretivas. São Paulo: Biografia, 2020.
Vídeos
Fantástico – Desafios da Segurança Pública no Brasil
https://youtu.be/aOmG-usRXHU
Segurança Pública não é só polícia!
https://youtu.be/2J17B1Dsufs
Leitura
Polícias Desmilitarizadas: um debate sobre democracia e controle da força no estado brasileiro
https://bit.ly/3oR5xIA
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Referências
BAYLEY, D. H. Padrões de policiamento: uma análise internacional comparativa. 2.
ed. São Paulo: EdUSP, 2017.
HARARI, Y. N. Homo Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia
das Letras, 2016.
Sites visitados
BRASIL. Ministério da Defesa. Aeronáutica. Disponível em: <https://www.gov.br/de-
fesa/pt-br/assuntos/estado-maior-conjunto-das-forcas-armadas/forca-aerea-brasileira>.
Acesso em: 20/11/2020.
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________. Ministério da Defesa. Política Nacional de Defesa. Disponível em: <https://
www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/copy_of_estado-e-defesa/politica-nacional-de-defesa>.
Acesso em: 20/11/2020.
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