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Acórdãos TRE Acórdão do Tribunal da Relação de

Évora
Processo: 113/06.5TBORQ-B.E1
Relator: VICTOR SEQUINHO
Descritores: FÉRIAS JUDICIAIS
ACTO PROCESSUAL
Data do Acordão: 23/11/2017
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Sumário: Pelo menos por regra, a efectivação, durante as férias judiciais, da penhora de um depósito
bancário, justifica-se nos termos da parte final do n.º 2 do artigo 137.º do CPC, pois, atenta
a facilidade e rapidez com que uma conta bancária pode ser movimentada pelo seu titular, o
retardamento da penhora poderá, com grande probabilidade, causar dano irreparável ao
exequente.
(Sumário do Relator)
Decisão Texto Integral: Processo n.º 113/06.5TBORQ-B.E1
Tribunal Judicial da Comarca de Beja – Juízo Central Cível e Criminal de Beja – Juiz 2
*

Acordam na secção cível do Tribunal da Relação de Évora:


Relatório

(…) deduziu os presentes embargos de executado contra (…) – Promoção e Valorização de


Imobiliário, SA, (…) e (…).
Os embargos foram recebidos.
Os embargados contestaram, pugnando pela improcedência dos embargos.
Realizou-se uma tentativa de conciliação, sem êxito.
Em seguida, foi proferida sentença, julgando os embargos improcedentes.

O embargante não se conformou com a sentença e interpôs recurso para este tribunal. As
suas alegações contêm as seguintes conclusões:
I. A presente sentença padece de vício de violação de lei, concernente nas normas previstas
nos artigos 25º, 35º e 36º do Regulamento das Custas Processuais e nos artigos 227º, nº 3,
do artigo 219º e 191º, todos do CPC, na medida em que, não tendo a citação para a
execução, levada a cabo pelo agente de execução, sido acompanhada do Acórdão do
Supremo Tribunal de Justiça que pôs termo ao processo e condenou o recorrente nas custas
processuais, não foram remetidos e entregues ao citando cópia dos documentos que
acompanhavam o requerimento executivo;
II. Pior, não se tratam de documentos meramente acessórios e secundários, mas do próprio
título executivo, já que é sabido que a execução por custas de parte, da parte vencedora
contra a parte vencida, assenta em título executivo compósito, constituído pela nota
discriminativa de custas de parte enviada pela primeira à segunda mais a própria sentença
que condenou em custas.
III. Tendo o executado sido citado sem que o requerimento executivo tivesse sido
acompanhado dos documentos que dele fazem parte integrante (sentença proferida a
18.04.213 e Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, proferido a 19.04.2016) padece da
nulidade a que alude o nº 1 artigo 191º do CPC.
IV. A sentença recorrida é nula, porquanto, o juiz deixou de pronunciar-se sobre questão
sobre a qual se devia ter pronunciado, que lhe foi expressamente suscitada pelo recorrente,
nos termos previsto pela alínea d), do nº 1 do artigo 625º do CPC.
V. Já que, o tribunal a quo não se pronunciou acerca da falta de citação propriamente dita,
limitando-se a referir que, a ter existido nulidade da citação, a defesa do executado não saiu
prejudicada.
VI. A sentença recorrida padece ainda de vício de interpretação do nº 4, do artigo 191º do
CPC, na medida em que com base na norma citada, considerou o tribunal a quo que a
nulidade da citação não provocou prejuízo para defesa do executado, visto que todos os
documentos (incluindo os que não foram entregues com a citação) são do perfeito
conhecimento do executado atenta a sua própria natureza.
VII. Ora, os documentos que o recorrente acusou falta de notificação são a sentença e o
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que decidiu definitivamente o processo
declarativo respectivo e notificado posteriormente exclusivamente aos advogados das
partes.
VIII. O executado não foi notificado do Acórdão e só tomou conhecimento do seu teor e
sentido, no âmbito do presente processo executivo já após a concretização das penhoras.
IX. Donde, não podia o tribunal, sem que tenha sido produzida qualquer prova que
demonstrasse o conhecimento do recorrente, considerar que o executado era dele
conhecedor.
X. Por outro lado, o putativo conhecimento nem sequer consta dos factos considerados
provado pela decisão recorrida, pelo que, não podia servir, como serviu, para justificar a
improcedência da nulidade da citação alegada pelo executado.
XI. O facto considerado provado sob o número 9 foi incorrectamente julgado provado,
resultando do requerimento remetido a juízo no dia 3 de Agosto de 2016 com a referência
779368, que no dia 3/08/2016 o executado juntou aos autos substabelecimento sem reserva
a favor da sua mandatária e não, conforme se decidiu “em 02.08.2016 o executado juntou
aos autos de execução procuração forense a favor da sua mandatária”.
XII. Mas mais, a sentença ao considerar que a alegada nulidade deveria ter sido suscitada
no processo executivo e aquando da primeira intervenção processual do executado que
cifrou (erradamente) no dia 2 de agosto de 2016, violou a norma vertida no nº 2 do artigo
191º do CPC.
XIII. Com efeito, prevê o normativo mencionado que a nulidade da citação deve ser
arguida dentro do prazo para a defesa e, tendo presente que o recorrente suscitou a
mencionada nulidade por ocasião da oposição à execução, devia tal questão ser admitida e
apreciada.
XIV. Neste sentido confira-se acórdão do Tribunal da Relação do Porto, proferido no
processo 6474/12.0YYPRT-A.P1, a 28-04-2015, acessível através do endereço
www.dgsi.pt, cujo sumário decidiu que: “I - A notificação na injunção efectuada apenas
por via postal simples (carta registada) com prova de depósito, sem mais e qualquer
adicional formalidade, não existindo domicilio convencionado, é nula. II - A arguição
dessa nulidade deve ser feita em sede de embargos de executado no prazo de 20 dias após a
citação, validamente efectuada, para a execução que decorreu da procedência da injunção.
III - Tendo a invocação da nulidade em apreço ocorrido muito após esse prazo, resultando
dos autos que a morada da executada foi sempre aquela mesma para onde foram enviadas
as citações e notificações respectivas, terá de concluir-se pela extemporaneidade dessa
arguição.”
XV. Bem como, Acórdão do Tribunal Central Administrativo do Sul, proferido no processo
05763/12, a 3/07/2012, ambos acessíveis através do endereço www.dgsi.pt.
XVI. Foi ainda decidido, quanto à suscitada ilegalidade dos actos praticados pelo agente de
execução durante as férias judiciais, que o nº 2 do artigo 137º, do CPC, excepciona da
regra geral que prescreve que não se praticam actos processuais durante as férias judiciais,
os actos de penhora e não apenas os registos das penhoras.
XVII. Pode ler-se na norma que não se praticam actos processuais durante o período de
férias judiciais, com excepção das citações e notificações, os registos de penhora e os actos
que se destinem a evitar dano irreparável (nº 1 e 2 da norma referida).
XVIII. Donde, a interpretação que melhor reflecte o sentido e alcance do nº 2 do artigo
137º, do CPC deve ser no sentido em que "registos de penhora" abrange apenas as
penhoras de bens sujeitos a registo e não qualquer penhora no processo e não no sentido
defendido pela sentença a quo.
XIX. Impondo-se que as penhoras levadas a cabo pelo agente de execução nomeado
durante as férias judicias, sejam declaradas ilegais, porque contrárias à norma em causa.
XX. Por fim, quanto aos fundamentos com base nos quais o recorrente impugnou os
valores descriminados na nota justificativa de custas de parte, a sentença proferida limitou-
se a não os conhecer, defendendo a falta de oposição por parte do executado, ali autor, a tal
nota de custas de parte, leva à sua estabilização, atribuindo-lhe o valor de título executivo –
consubstanciado no conjunto envolvido pela certidão de liquidação e pela sentença
condenatória – nos termos do artigo 35º, nº 2, do RCP.
XXI. Estando ao recorrente vedado o direito de a colocar em causa, com o argumento de
que, não tendo na altura reagido contra a apresentação de tal nota discriminativa, não podia
agora invocar os vícios que lhe imputa.
XXII. Ora, salvo o devido respeito, a decisão assim proferida não pode manter-se, já que
contraria à saciedade a norma vertida nos artigos 25º, 35º e 36º do Regulamento das Custas
Processuais e artigo 731º do CPC.
XXIII. Com efeito, de acordo com os artigos 25º, 35º e 36º do Regulamento das Custas
Processuais, a execução por custas de parte, da parte vencedora contra a parte vencida,
assenta em título executivo compósito, constituído pela nota discriminativa de custas de
parte enviada pela primeira à segunda mais a própria sentença que condenou em custas.
XXIV. E, neste pressuposto, pode o executado alegar na sua oposição quaisquer
fundamentos que possam ser invocados como defesa no processo de declaração – artigo
731º do CPC.
XXV. Por conseguinte, pese embora o executado tenha apresentado reclamação que não foi
admitida, não pode ficar precludido o direito de impugnar o teor da nota discriminativa de
custas de parte, nos termos em que o fez, devendo, nessa sequência, ser a oposição nesta
parte admitida e decidida, conforme requerido.
Nestes termos e nos melhores de direito deve a presente apelação ser procedente, a
sentença recorrida revogada e substituída por outra que aprecie todas as questões
concretamente suscitadas pelo recorrente na oposição à execução mediante embargos
oportunamente apresentada.

Os recorridos contra-alegaram, pugnando pela improcedência do recurso.


O recurso foi admitido.
Objecto do recurso

É entendimento uniforme que é pelas conclusões das alegações de recurso que se define o
seu objecto e se delimita o âmbito de intervenção do tribunal de recurso (artigos 635.º, n.º
4, e 639.º, n.º 1, do CPC), sem prejuízo das questões cujo conhecimento oficioso se
imponha (artigo 608.º, n.º 2, ex vi artigo 663.º, n.º 2, do CPC). Acresce que os recursos não
visam criar decisões sobre matéria nova, sendo o seu âmbito delimitado pelo conteúdo do
acto recorrido.

As questões a resolver são as seguintes:


- Nulidade da sentença;
- Nulidade da citação do embargante;
- Alteração do facto constante do ponto 9 da matéria provada;
- Admissibilidade de penhora durante as férias judiciais;
- Se o recorrente pode questionar o conteúdo da nota de custas de parte em sede de
embargos de executado.
Factualidade apurada

Na sentença recorrida, foram julgados provados os seguintes factos:

1) Por acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19.04.2016, proferido no processo n.º


113/06.5TBORQ, que confirmou o acórdão do tribunal da Relação de Évora de
30.04.2015, que por seu turno havia confirmado a sentença proferida em 18.04.2013, o
embargante foi condenado no pagamento das custas processuais.
2) Em 11.05.2016, os embargados remeteram ao embargante a nota discriminativa de
custas de parte.
3) De tal nota reclamou o embargante mediante requerimento apresentado em juízo em
suporte de papel, razão pela qual foi determinado o respectivo desentranhamento.
4) Em 13.07.2016 os embargados intentaram a acção executiva a que os presentes
embargos se encontram apensos, para cobrança da quantia de € 55.597,30.
5) Apresentaram como título executivo a nota discriminativa de custas de parte e cópias do
acórdão do Tribunal da Relação de Évora e do Supremo Tribunal de Justiça, identificados
em 1.
6) A nota discriminativa de custas de parte e a cópia do acórdão do Supremo Tribunal de
Justiça foram entregues em juízo em 18.06.2016.
7) Em 28.07.2016, o Sr. AE efectuou a penhora dos saldos existentes nas contas bancárias
identificadas no auto de penhora, que aqui se dá por reproduzido.
8) Em 29.07.2016, o embargante foi citado através de contacto pessoal para em vinte dias,
pagar, opor-se à execução ou à penhora.
9) Em 02.08.2016, o executado juntou aos autos de execução procuração forense a favor da
sua mandatária.
Fundamentação

O recorrente afirma que a sentença recorrida é nula, por omissão de pronúncia, porquanto
“não se pronunciou acerca da falta de citação propriamente dita, limitando-se a referir que,
a ter existido nulidade da citação, a defesa do executado não saiu prejudicada”.
O artigo 615.º, n.º 1, al. d), do CPC, estabelece, na parte que nos interessa, que a sentença é
nula quando o juiz deixe de se pronunciar sobre questões que devesse apreciar.
Não é o caso da sentença recorrida, que analisou detalhadamente a questão da nulidade da
citação suscitada pelo recorrente, inclusivamente a própria admissibilidade da sua arguição
em sede de embargos de executado. É, pois, evidente que se não verifica a invocada
nulidade da sentença.
O recorrente sustenta que a sua citação para a acção executiva é nula, nos termos do artigo
191.º, n.º 1, do CPC, por, alegadamente, não ter sido acompanhada de cópias da sentença
proferida pelo tribunal de primeira instância e do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
que pôs termo ao processo e o condenou nas custas processuais, documentos esses que
integram o título executivo.
Como acertadamente se refere na sentença recorrida, a sede própria para arguir a nulidade
da citação é a própria acção executiva, não os embargos de executado. Com efeito, decorre
dos artigos 191.º, n.º 2, 192.º e 196.º do CPC que a nulidade da citação deve ser arguida, no
prazo indicado para a contestação, através de reclamação e que esta última deve ser
decidida através de despacho, tudo isto, naturalmente, no próprio processo em que a
eventual nulidade tenha sido cometida. Os embargos de executado não são, pois, o meio
processual próprio para tal arguição.
Ainda que assim se não entendesse, certo é que a alegada nulidade não está, sequer,
demonstrada nestes autos. A sentença recorrida deu como provado, sem qualquer ressalva,
que, em 29.07.2016, o embargante foi citado, através de contacto pessoal, para, em vinte
dias, pagar ou opor-se à execução ou à penhora (ponto 8). Esta matéria não foi impugnada
pelo recorrente ao abrigo do disposto no artigo 640.º do CPC e com observância das
formalidades neste estabelecidas, pelo que está definitivamente assente. Para todos os
efeitos, o recorrente foi devidamente citado.
Finalmente, por esforço de raciocínio, suponhamos que os embargos de executado eram a
sede processual própria para a arguição da nulidade da citação para a acção executiva e que
estava demonstrado que tal citação foi feita sem a entrega, ao recorrente, de cópias da
sentença proferida pelo tribunal de primeira instância e do acórdão do Supremo Tribunal de
Justiça que pôs termo ao processo e o condenou nas custas processuais. Nem assim o
recorrente teria razão, atento o disposto no artigo 191.º, n.º 4, do CPC, segundo o qual a
arguição da nulidade da citação só é atendida se a falta cometida puder prejudicar a defesa
do citado. Os documentos que não teriam sido entregues ao recorrente são cópias de duas
decisões judiciais de que este último, como parte no processo respectivo, já fora,
necessariamente, notificado, através do seu mandatário judicial, nos termos do artigo 247.º,
n.º 1, do CPC. Logo, o recorrente não poderia ter deixado de ficado ciente do conteúdo da
citação, sem qualquer prejuízo para o seu direito de defesa. Aliás, a ausência desse prejuízo
ficou plenamente demonstrada através da dedução dos presentes embargos de executado,
de cuja petição inicial resulta que o recorrente percebeu perfeitamente o que estava em
causa.
Por todas estas razões, qualquer delas suficiente para concluir pela falta de razão do
recorrente, a sentença recorrida não merece qualquer censura nesta matéria.

Por outro lado, o recorrente parece pretender (conclusão XI) a alteração do facto constante
do ponto 9 da matéria provada, que considera ter sido incorrectamente julgado. Isto porque
juntou aos autos um substabelecimento sem reserva a favor da sua actual mandatária e não,
conforme se decidiu, uma procuração forense a favor desta última. Mesmo abstraindo da
circunstância de o recorrente não ter observado inteiramente os ónus decorrentes do artigo
640.º do CPC, inexiste razão para a referida alteração, porquanto, do ponto de vista
substancial, juntar aos autos um substabelecimento sem reserva a favor da actual
mandatária equivale à junção de uma procuração forense a favor desta última. O efeito
jurídico é exactamente o mesmo: a actual mandatária do recorrente ficar investida de
poderes de representação deste último em juízo. Trata-se, pois, de uma questão sem
qualquer relevo para a decisão do recurso.

Está provado que, em 28.07.2016, o agente de execução efectuou a penhora dos saldos
existentes nas contas bancárias identificadas no auto de penhora. O recorrente, que foi
citado no dia seguinte para os presentes embargos, sustenta que tal penhora é ilegal por ter
sido realizada durante as férias judiciais, atento o disposto no artigo 137.º do CPC.
O n.º 1 do artigo 137.º do CPC estabelece que, sem prejuízo de actos realizados de forma
automática, não se praticam actos processuais nos dias em que os tribunais estiverem
encerrados, nem durante o período de férias judiciais. Dispõe, porém, o n.º 2 que se
exceptuam do disposto no n.º 1 as citações e notificações, os registos de penhora e os actos
que se destinem a evitar dano irreparável.
Deve entender-se que, ao menos em regra, a efectivação, durante as férias judiciais, da
penhora de um depósito bancário, se justifica com fundamento na parte final do referido n.º
2. Com efeito, senão em todos, pelo menos na generalidade dos casos, deixar de realizar tal
penhora com a maior brevidade possível, ainda que em férias judiciais, gera uma grande
probabilidade de ocorrência de um dano irreparável ao exequente. Em face da rapidez e da
facilidade com que o executado consegue, actualmente, movimentar as suas contas
bancárias caso queira inviabilizar a penhora, vedar a realização desta última durante as
férias judiciais equivale a, sem justificação plausível, aceitar um elevadíssimo risco de
desaparecimento desse dinheiro e de, consequentemente, o exequente não conseguir cobrar
o seu crédito, frustrando-se assim o fim da execução. Daí que a realização da referida
penhora, mesmo durante os períodos de férias judiciais, deva ser considerada, ao menos em
regra, um acto destinado a evitar um dano irreparável. A interpretação deste conceito
indeterminado não pode deixar de ter em consideração a realidade exposta.
Sendo assim, tem de se concluir que a penhora efectuada foi válida.

Analisemos, finalmente, se o recorrente pode questionar o conteúdo da nota de custas de


parte em sede de embargos de executado.
Está provado que, em 11.05.2016, os recorridos remeteram ao recorrente a nota
discriminativa de custas de parte. O recorrente reclamou dessa nota, mediante
requerimento apresentado em juízo em suporte de papel, razão pela qual foi determinado o
respectivo desentranhamento. Em 13.07.2016, os recorridos intentaram a acção executiva,
tendo apresentado, como título executivo, a nota discriminativa de custas de parte e os
acórdãos do Tribunal da Relação de Évora e do Supremo Tribunal de Justiça referidos no
ponto 1 da matéria de facto provada. Nestes embargos de executado, o recorrente volta a
questionar o conteúdo da nota de custas de parte. Na sentença recorrida, entendeu-se que
“uma vez que o executado não reclamou validamente da nota de custas de parte
oportunamente apresentada, não pode agora colocar em crise o respectivo teor. Na verdade,
a oportunidade para que o tivesse feito passou há muito”. A esta argumentação, o
recorrente contrapõe que a mesma contraria o disposto nos artigos 25.º, 35.º e 36.º do
Regulamento das Custas Processuais e 731.º do CPC, dos quais resulta que a execução por
custas de parte, da parte vencedora contra a parte vencida, assenta em título executivo
compósito, constituído pela nota discriminativa de custas de parte enviada pela primeira à
segunda mais a própria sentença que condenou em custas, pelo que o executado pode
alegar na sua oposição quaisquer fundamentos que possam ser invocados como defesa no
processo de declaração, direito este que não pode, pois, ficar precludido.
Importa ter em conta o disposto nos artigos 31.º e 33.º da Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de
Abril, alterada pelas Portarias n.ºs 179/2011, de 2 de Maio, 200/2011, de 20 de Maio,
1/2012, de 2 de Janeiro, 82/2012, de 29 de Março e 284/2013, de 30 de Agosto, que regula
o modo de elaboração, contabilização, liquidação, pagamento, processamento e destino das
custas processuais, multas e outras penalidades. O artigo 31.º estabelece que as partes que
tenham direito a custas de parte devem enviar, para o tribunal e para a parte vencida, a
respectiva nota discriminativa e justificativa, nos termos e prazos previstos no artigo 25.º
do Regulamento das Custas Processuais. O artigo 33.º dispõe que a reclamação da nota
justificativa é apresentada no prazo de 10 dias, após notificação à contraparte, devendo ser
decidida pelo juiz em igual prazo e notificada às partes (n.º 1); da decisão proferida cabe
recurso em um grau se o valor da nota exceder 50 UC (n.º 3); para efeitos de reclamação da
nota justificativa, são aplicáveis subsidiariamente, com as devidas adaptações, as
disposições relativas à reclamação da conta constantes do artigo 31.º do Regulamento das
Custas Processuais (n.º 4).
Por seu turno, o artigo 25.º, n.º 1, do Regulamento das Custas Processuais, estabelece, na
parte que nos interessa, que, até 5 dias após o trânsito em julgado, a parte que tenha direito
a custas de parte remete, para o tribunal e para a parte vencida, a respectiva nota
discriminativa e justificativa. O artigo 26.º, n.º 2, do mesmo diploma legal, estabelece que
as custas de parte são pagas directamente pela parte vencida à parte que delas seja credora,
salvo o disposto no artigo 540.º do CPC.
Resulta deste conjunto de normas que a sede própria para os recorridos apresentarem a nota
discriminativa e justificativa das custas de parte, para o recorrente reclamar dessa nota e
para a prolação de decisão sobre essa questão, era a acção declarativa na qual o segundo foi
condenado em custas. Não tendo o recorrente reclamado validamente da nota apresentada
pelos recorridos na sede e momento processuais próprios, ficou precludida a possibilidade
de o fazer posteriormente, nomeadamente em sede de embargos de executado. Estes
últimos não podem ser utilizados como uma espécie de segunda oportunidade para a parte
que não reclamou da nota discriminativa e justificativa das custas de parte onde e quando
tinha o ónus de o fazer, reabrir uma questão que já estava encerrada.
É neste contexto que tem de ser interpretado o artigo 731.º do CPC, invocado pelo
recorrente. Da admissibilidade, nele estabelecida, de alegação, além dos fundamentos de
oposição à execução baseada em sentença, na parte em que sejam aplicáveis, de quaisquer
outros que possam ser invocados como defesa no processo de declaração, não é possível
extrapolar que o embargante possa reabrir questões que tinha o ónus de suscitar em
momento anterior e sede diversa e que, por o não ter feito, ficaram definitivamente
encerradas.
Conclui-se, pois, que, também neste aspecto, a sentença recorrida não merece censura.
Logo, o recurso não merece provimento, devendo manter-se aquela sentença.
Sumário

1 – Decorre dos artigos 191.º, n.º 2, 192.º e 196.º do CPC que a sede própria para o
executado arguir a nulidade da sua citação é a própria acção executiva, não os embargos de
executado que, na sequência dessa citação, haja deduzido.
2 – Tendo em conta o disposto no artigo 191.º, n.º 4, do CPC, a arguição da nulidade da
citação não deverá ser atendida se estiver demonstrado, nomeadamente através do
conteúdo da petição de embargos de executado, que este último entendeu perfeitamente o
que está em causa na execução.
3 – Pelo menos por regra, a efectivação, durante as férias judiciais, da penhora de um
depósito bancário, justifica-se nos termos da parte final do n.º 2 do artigo 137.º do CPC,
pois, atenta a facilidade e rapidez com que uma conta bancária pode ser movimentada pelo
seu titular, o retardamento da penhora poderá, com grande probabilidade, causar dano
irreparável ao exequente.
4 – Não tendo o embargante reclamado validamente da nota de custas de parte
oportunamente apresentada pelos embargados, não pode questionar o seu conteúdo em
sede de embargos de executado.

Decisão

Acordam os juízes do Tribunal da Relação de Évora em julgar o recurso improcedente,


confirmando a sentença recorrida.
Custas pelo recorrente.
Notifique.

Évora, 23 de Novembro de 2017


Vítor Sequinho dos Santos (Relator)
Conceição Ferreira
Rui Machado e Moura

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