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Exmo Senhor

Juiz de Direito do Tribunal


Judicial da Província de Maputo

2ª Secção
Proc. nº ………/12-R
(Declarativa - Ordinária)

………….., S.A., Ré nos autos à margem referenciados em que é A. …………,


LDA, tendo sido notificada do Despacho de fls. 223, o qual admitiu o recurso de
apelação interposto a fls. dos autos, vem nos termos e para efeitos do art. 698º nº
1 CPC, apresentar as suas alegações, o que faz com os fundamentos seguintes:

MERETISSIMOS JUÍZES DESEMBARGADORES DO TRIBUNAL


SUPERIOR DE RECURSO

Mmo Juiz Desembargador Relator:

Questão Prévia - art. 96º CPC

Na contestação de fls. 81 a 104 dos autos a Recorrente deduziu matéria de


excepção dilatória respeitante á ineptidão da p.i. por pedidos substancialmente
incompatíveis e uma excepção peremptória sobre a remissão abdicativa, para
além, de ter em detalhe impugnado tudo quanto a Recorrida articulou na p.i. de
fls. 2 a 11 dos autos.

Av. Kim Il Sung, 961 cga@cga. co.mz Av. Kenneth Kaunda, 592
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Proferido o Despacho Saneador de fls. 126 a 129 dos autos foram as excepções
erigidas pela Recorrente indeferidas.

Uma vez que o processo prosseguiu, a Recorrente nos termos do art. 511º nº 2
CPC apresentou extensa e fundamentada reclamação à especificação e
questionário, a qual veio a ser indeferida por Despacho de fls. 146 e 146v.

Indeferida a reclamação da especificação e questionário, a Recorrente em


tempo, socorrendo-se do disposto no art. 511º nº 5 in fine CPC, interpôs o
competente recurso de agravo do Despacho Saneador que julgou improcedente
por não provada a matéria das excepções.

Por Despacho de fls. 156 e 156v veio o Tribunal aquo a indeferir o recurso de
agravo com o fundamento na sua extemporaneidade.

A Recorrente em tempo, socorrendo-se do disposto no art. 688º CPC reclamou


para Sua Exa. o Presidente do Tribunal Superior de Recurso, requerendo no
mesmo articulado, nos termos do art. 688º nº 2 CPC, que se extraísse certidão
das peças processuais que ali se menciona.

Por Despacho de fls. 168 a 170 dos autos o Tribunal aquo em vez de tomar
posição sobre a Reclamação da Recorrente limitou-se a tecer considerações
sobre qual seria a decisão que o Tribunal adquem iria tomar sobre a Reclamação
e o efeito que iria recair sobre o Agravo, no caso de ser aceite.

Por Oficio nº 427/…………./2012 datado de 19 de Novembro de 2012 de Sua


Exa. o Presidente do Tribunal Superior de Recurso foi o Mmo Juiz aquo instado
a pronunciar-se sobre a reclamação no prazo de cinco dias (doc.1).

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Ora, verifica-se que a Reclamação encontra-se apensa aos autos, sem que tivesse
sido tramitada nem decidida, conforme dispõe o preceito legal constante do art.
688º CPC, não se tendo cumprido com a celeridade que se impõe neste tipo de
incidente, facto que teve influência decisiva na decisão desta acção.

Requerendo-se por isso que a Reclamação contra o indeferimento do recurso de


agravo seja decidida a bem desta causa.

Quanto ao Recurso

Vem o presente recurso de apelação interposto da sentença de fls. 203 a 213 dos
autos que condenou a Recorrente a pagar à Recorrida a quantia global de
10.178.304,55 MT, acrescidos de juros de mora contados à taxa de cinco
porcento desde o dia 19 de Março de 2012 e, bem assim, condenou a Recorrente
por litigância de má fé no máximo da multa permitido por lei, 15.000,00MT.

1. A questão fundamental a ser dirimida no presente recurso prende-se com a


existência flagrante de erro de julgamento em face da prova coligida junta
em grande parte pela Recorrida, dos factos assentes, provados e não
provados com interesse para a decisão da causa e com o facto de saber se é
devida a quantia objecto de condenação.

2. Tendo em conta a prova produzida sempre se dirá que o Tribunal a quo teve
uma interpretação muitíssimo parcial e nada abrangente da matéria de facto
devidamente coligida e das provas carreadas para os autos pela Recorrente,
em face da fragilidade dos argumentos lançados a terreiro pela Recorrida
que não estavam escudados por nenhum suporte idóneo que merecesse, a
nosso ver, a decisão que foi devidamente tomada e que por esta via de
recurso se impugna para a instância competente.

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3. Com o muito e sempre devido respeito, a realidade constante do presente
processo é em tudo diversa daquela apresentada pelo Tribunal aquo, como
se irá demonstrar.

4. O juízo probatório positivo relativo a documentos deve reflectir, de forma


inequívoca, as declarações negociais constantes dos mesmos, sem deixar
margem para especular sobre tal assunção.

5. O grau de precisão de tal juízo probatório deverá ser aferido, por um lado,
em função e no contexto do que vem alegado e, por outro lado, de harmonia
com os resultados da produção de prova e da convicção do julgador soube
formar (cfr. arts. 653º e 655º CPC).

6. O que isto significa, é que o principio da liberdade de julgamento ou da livre


convicção do julgador, segundo o qual o tribunal aprecia livremente as
provas, sem qualquer grau de hierarquização e fixa a matéria de facto em
sintonia com a matéria de facto firmada acerca de cada facto controvertido
(cfr. art. 655º CPC),

7. não constitui um poder arbitrário do juiz, está antes, vinculada ao


formalismo constante do preceito legal vertido no art. 653º CPC.

8. Na senda deste entendimento, perfilhado pela maioria da doutrina e


legalmente sustentado, não pode a Recorrente deixar de evidenciar com
suficiente clareza que os factos provados e aqueles que foram considerados
pelo Tribunal aquo como não provados a quase totalidade diga-se
“tristemente” de passagem, jamais poderiam ditar que a sorte dos
presentes autos coincidisse na plenitude com a condenação na totalidade do

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pedido peticionado pela Recorrida em sede de p.i. (fls. 2 a 11), em virtude da
prova documental e das testemunhas da Recorrente, encerrar conteúdo
totalmente diferente com a prova considerada, e mal, pelo Tribunal aquo.

9. Desde logo, o destino “trágico” destes autos foi traçado na régua dura da
“indiferença”, quando as sucessivas intervenções processuais da Recorrente
foram sendo, sucessivamente indeferidas, sem qualquer fundamento, e por
isso, sendo agora o momento oportuno, se impugna na totalidade o
Despacho de fls. 146 e 146v dos autos que indeferiu a reclamação à
especificação e questionário (cfr. art. 511º nº 4 in fine CPC).

10. No Despacho de fls. 146 e 146v dos autos ali em resumo se menciona em
total violação do que estatui o art. 158º CPC que “(…) a ré, apenas argumenta
que reclama por excesso, deficiência e por complexidade, mas no concreto não indica
em que consiste tal excesso, deficiência ou complexidade (…)”!!??

11. Se nos atermos à reclamação da especificação e questionário de fls. 137 a 141


dos autos ali se fundamenta com detalhe e suficiente clareza os motivos
pelos quais o Tribunal aquo deveria ter alterado e dado por procedente a
reclamação,

12. a saber; da especificação (fls. 126 a 129) deveria ter sido retirado o facto
alegado no art. 7º p.i. onde ali se alegou que o contrato foi perfeitamente
cumprido pela Recorrida, já que esta matéria está em total contradição com
o documento de fls. 71 e respectivo anexo de fls. 72 a 76 e a matéria factual
lavrada na contestação nos arts. 24º, 25º, 50º, 51º, 57º, 58º.

13. Da especificação deveria ter sido retirado o facto alegado no art. 8º p.i.,
contraditado pelo documento de fls. 71 e respectivo anexo de fls. 72 a 76.

14. Da especificação deveria ter sido retirado a matéria de facto alegada no art.

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9º p.i., contraditada pelo teor da cláusula 9ª do contrato de “prestação de
serviços de pintura” que apenas se refere ao prazo de garantia da obra, e
bem assim, com o documento de fls. 71 e respectivo anexo de fls. 72 a 76 e
com as alegações factuais constantes dos arts. 50º, 51º, 57º, 58º, 60º, 61º, 76º
da contestação.

15. Deveria ter ficado assente e levado á especificação os factos constante dos
arts. 24º, 25º e 26º da contestação uma vez que os mesmos encontram-se
provados documentalmente – cfr. arts. 341º, 342º nº 1 CC conjugado com os
arts. 362º e 363º nº 2 in fine e nº 3 CC (documento de fls. 71 e respectivo
anexo de fls. 72 a 76 e documentos 1 e 2 junto aos autos contestação de fls. 81
a 104.

16. No que se refere ao questionário, o mesmo deveria ter sido totalmente


reformulado como pretendido pela Recorrente para acomodar a matéria
factual vertida tanto na p.i. como na contestação,

17. E não formular-se uma especificação, altamente tendenciosa, com a quase


totalidade da matéria indicada na p.i. e contraditada nesse mesmo
articulado pela Recorrida.

18. Ou decerto, tem algum cabimento o Tribunal aquo dar como assente que o
contrato foi executado na perfeição pela Recorrida quando no PEDIDO
exarado na p.i. ali se solicita, sendo isso prova bastante desse
incumprimento, que a Recorrente seja, “(…) condenada a apresentar eventuais
defeitos existentes na obra indicados pela ……….. para a respectiva correcção pelo
“A” (…)”!?

19. Quem cumpre na plenitude um contrato não precisa de solicitar em tribunal


que lhe indiquem os defeitos ocorridos durante a execução do mesmo, ainda

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para mais, quando assina uma acta onde lhe é sobejamente evidenciado os
defeitos ocorridos em obra nas diversas províncias.

20. Ora, a génese da incompatibilidade dos pedidos prende-se com o facto,


detalhado na matéria de excepção de que no contrato de empreitada,
denominado por prestações de serviços, em face da sua génese legal, vertida
nos arts. 1220º, 1221º e 1222º CC, a eliminação de defeitos obedece a regras
próprias que não se compadece com a condenação em simultânea num
alegado pedido de indemnização, totalmente descaracterizado e que nada
tem haver com o conteúdo do contrato celebrado.

21. A eliminação de defeitos de obra implica a verificação a final dos trabalhos


de correcção (pela ……….), a sua aceitação pelo dono da obra (ora
Recorrente), e somente depois o seu pagamento após os autos de medição
estarem concluídos e aprovados.

22. E caso os defeitos não sejam eliminados, “(…) o dono pode exigir nova
construção (…)” – cfr. art. 1221º nº 1 CC.

23. Ou, naquelas situações em que os defeitos não sejam eliminados ou


construída de novo a obra (in casu, refeitas as pinturas), “(...) o dono pode
exigir a redução do preço ou a resolução do contrato, se os defeitos tornarem a obra
inadequada ao fim a que se destina (…)” – cfr. 1222º nº 1 CC.

24. Assim, por contrato datado de 11 de Março de 2010 foi celebrado entre a
Recorrente e a Recorrida um contrato de empreitada que as partes
denominaram por “prestação de serviços” (doc. junto aos autos com a p.i. de
fls. 2 a 76 – facto provado na sentença de fls. 203 a 213),

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25. Esse contrato tinha por objecto a realização pela Recorrida, na região Centro
e Norte de Moçambique, de pinturas “(…) de imóveis e de pontos de venda dos
revendedores do serviço pré pago da ……………, indicados por esta, com
observância estrita, por parte da “…………” das normas relativas à imagem da
…………. (…)” - cláusula 2ª – contrato de prestação de serviços junto aos
autos com a p.i. de fls. 2 a 76 – facto provado na sentença de fls. 203 a 213.

26. Ficou igualmente acordado que a supervisão das obras de pintura dos
dísticos publicitários da Recorrente ficaria a cargo da empresa ……...

27. O preço a ser pago pela Recorrente à Recorrida pela realização das obras de
pintura foi de 155,00MT por metro quadrado pintado e aprovado pela
Vodacom (cfr. cláusula 4ª – contrato de prestação de serviços junto aos autos
com a p.i.),

28. sendo posteriormente alterado por adenda, celebrada em 25.03.2011 para


192,00MT (cfr. cláusula 4ª - contrato de prestação de serviços junto aos autos
com a p.i. e factos provados na sentença de fls. 203 a 213).

29. O pagamento do preço devido pela empreitada não foi determinado a preço
global, mas antes, por série de preços, isto é, em função dos metros
quadrados pintados aceites e verificados.

30. Desta forma, não se concebe nem se aceita que o Tribunal aquo tenha
considerado a existência de um crédito a favor da Recorrida no valor de
10.178.304,55MT por trabalhados que não foram aceites nem verificados.

31. Nem o valor de 10.178.304,55MT solicitado na p.i. foi explicado pela


Recorrida a fórmula do seu cálculo.

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32. O Tribunal aquo considerou, com o enorme e devido respeito, mal, como
provado que a Recorrida cumpriu na plenitude o contrato celebrado com a
Recorrente, quando a sentença sob recurso refere “(…) A …………, Lda,
respondeu o contrato com uma execução perfeita (…)”!!!???

33. Na reunião que teve lugar no dia 20 de Dezembro de 2011 e de que resultou
uma acta devidamente assinada pelo representante da Recorrida, junta aos
autos a fls. 72 a 76 dos autos, ali se refere no primeiro ponto a existência de
4.113,01 m2 defeituosos de pinturas com fundo vermelho e 7.792, 20m2
defeituosos de pinturas com fundo branco, totalizando as obras com defeitos
em metros quadrados, 11.905,21 (documento de fls. 72 a 76).

34. Os valores expressos em metros quadrados de pinturas defeituosas não


foram inventadas pela Recorrente como o Tribunal aquo quer dar a entender
sistematicamente na sentença sob recurso, como em detalhe nos dá a
conhecer o anexo 1, junto com a acta e aos autos com a p.i., discriminando-se
em detalhe as províncias onde os defeitos em obra se verificaram, TETE,
SOFALA e MANICA e NORTE (documento de fls. 72 a 76).

35. Veja-se que no anexo 1 junto com a acta, o próprio Recorrido juntou o
relatório que o Tribunal aquo teimou em não reconhecer, onde ali se
descrimina quais os estabelecimentos onde ocorreram os defeitos invocados,
sendo que para TETE os metros quadrados defeituosos correspondem a
4.271,073 e foram detectados em diversos sítios, designadamente entre
outros, “muro residencial”, “murro de um quintal”, “carpintaria bungue“
etc. (documento de fls. 72 a 76).

36. Em SOFALA foram registados 84,88 m2 de pinturas com fundo vermelho


defeituosas e 1.397,6 de pinturas brancas defeituosas em diversas paredes
nos distritos de CAIA, CHERINGOMA, GORONGOSA e MUANZA

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(documento de fls. 72 a 76).

37. Em MANICA foram registados 866,45 m2 de pinturas brancas defeituosas


nos distritos de CATANDICA, CHITOBE-MACHAZE e CHITUNDE
(documento de fls. 72 a 76).

38. Nas PROVÍNCIAS DO NORTE (Cabo Delgado, Niassa, Zambézia e


Nampula) foram detectados 4.028,13 m2 de pinturas vermelhas defeituosas
e 1.257,078 de pinturas brancas igualmente defeituosas (documento de fls.
72 a 76), tudo, totalizando os valores a que a acta faz a devida referência e
que ficarão imortalizados para a eternidade naquele escrito.

39. A Recorrente juntou aos autos por requerimento de fls. 180 e 181 as provas
fotográficas de algumas obras com defeitos, onde ali se constata claramente
em alguns casos, o descasque da tinta encarnada e o aparecimento consoante
os casos de tinta branca ou azul, e numa situação reportada em Mocuba, na
Banca Magombo onde nem sequer as antigas cores da Recorrente foram
mudadas pela Recorrida para acomodar a nova imagem da …………..

40. Sem argumentos, a testemunha da Recorrida de nome Amilcar quando


confrontado em julgamento com as fotografias apenas referiu, “(…) que não
foram eles a empresa que tiraram as fotografias pois as que eles tiraram têm datas
(…)”!!?? – acta da audiência de julgamento de fls. 191 a 200.

41. Igualmente a testemunha da Recorrida de nome António que exerceu a


actividade de pintor reconheceu os locais mostrados no material fotográfico
junto pela Recorrente a fls. 181, mas, não reconheceu qualquer defeito nas
obras que pintou!!??

42. A testemunha da Recorrente, Siwe funcionário da empresa ………… referiu

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durante o seu depoimento a existência de diversos defeitos detectados nas
obras referindo a dado passo, “(…) em todos os trabalhos realizados notou que
um mês depois as tintas começaram a descascar-se a ponto de se ver a cor azul (…)
que as situações de defeitos das obras eram constantes e com frequência (…)” - acta
da audiência de julgamento de fls. 191 a 200.

43. Igualmente, dando prova do seu testemunho o Sr. ………. na qualidade de


chefe executivo da Recorrente referiu na audiência de julgamento em abono
da verdade e da justiça que a Recorrida sempre teve conhecimento através
do seu representante legal da existência defeitos em obra, e que a reunião
que teve lugar em 20 de Dezembro era, como a Recorrida bem sabia, para
discutir os defeitos detectados (acta da audiência de julgamento de fls. 191 a
200).

44. No ponto dois da acta da reunião do dia 20 de Dezembro de 2011 foi a


Recorrida confrontada com uma de duas opções, ou, a) reparava os defeitos
detectados e seria paga depois de verificada a obra (cfr. art. 1221º CC) ou b)
recebia “(…) o pagamento do valor em falta excluindo os metros quadrados
defeituosos (…)” – documento de fls. 72 a 76 dos autos.

45. A Recorrida optou pela segunda opção, “(…) pelo facto de não ter recursos
financeiros e humanos para avançar com a reposição das pinturas defeituosas (…)”
– documento de fls. 72 a 76 dos autos.

46. Desse facto, a testemunha da Recorrida de nome Açucena que alegou em


audiência de julgamento ter estado na reunião do dia 20 de Dezembro de
2011, o que se veio a comprovar ter sido falso, pelo depoimento prestado
pela Testemunha Eduardo chefe executivo da ……… e pelos nomes
indicados na acta dessa reunião, o qual afirmou que o representante da

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Recorrida não se fez acompanhar por ninguém nessa reunião, mesmo assim,
dá-se a devida nota ao depoimento daquela testemunha na parte em que
afirmou que “(…) o Sr. Isaias optou em receber o montante disponível porque a
empresa estava em grande decadência (…)”.

47. No ponto três da acta constante do documento de fls. 72 a 76 dos autos dá-se
uma nota explicativa de como é que foram efectuados os cálculos para se
chegar ao valor devido de 4.803.969,17MT e ali se faz referência ao anexo 1 e
ao relatório da ……… junto nesse anexo (documento de fls. 72 a 76).

48. O que se espanta é que o Tribunal a quo não tenha considerado esta prova
plena ainda para mais junta pela Recorrida.

49. Para a interpretação do respectivo sentido do conteúdo negocial exarado na


acta, temos que fazer uso do critério plasmado no art. 236º nº 1 CC, segundo
o qual a declaração negocial vale com o sentido que um declaratário normal,
mediamente instruído, diligente e sagaz colocado na posição do real
declaratário, possa deduzir do comportamento do declarante, salvo se este
razoavelmente não pudesse contar com ele.

50. Ou seja, como diz A. Varela in C.C. anotado, 4ª edição, I vol., pág. 223, nota
nº 1 ao art. 236º “(...) o sentido da declaração negocial é aquele que seria aprendido
por um declaratário normal, ou seja medianamente instruído e diligente, colocado na
posição do declaratário normal, em face do comportamento do declarante (...)”,

51. E, ainda segundo aquele mestre in Ob. e local citado, nota nº 4 “(...) a
normalidade do declaratário, que a lei toma como padrão, exprime-se não só na
capacidade para entender o texto do conteúdo da declaração, mas também na
diligência para recolher todos os elementos que, coadjuvando a declaração, auxiliem
a descoberta da vontade real do declarante (...)”.

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52. Significa tudo isto, que das referidas declarações negociais insertas no
documento de fls. 72 a 76 dos autos dali se depreende que o representante
da Recorrida compreendeu as opções que lhe tinham sido dadas pela
Recorrente e optou de sua livre vontade em receber o montante respeitante
às pinturas efectuadas sem defeito.

53. Tanto a acta, como o respectivo anexo 1 que dela faz parte integrante foram
devidamente assinados pelo representante da Recorrida de livre e
espontânea vontade.

54. Em nenhum momento a Recorrida colocou em causa, como sendo falsa a


acta assinada, nem considerou como falsas as assinaturas dela constante, o
que significa que nos termos do art. 374º nº 1 CC, têm as referidas
assinaturas de ser havidas por verdadeiras.

55. Assim, reconhecida a autoria do documento pelas assinaturas nele apostas,


nunca impugnadas, faz o documento de fls. 72 a 76 prova plena “(…) quanto
às declarações atribuídas ao seu autor (…)”, ora Recorrida, nos termos do art.
376º nº 1 CC.

56. E por esse facto, nos termos do art. 393º nº 2 CC “(…) não é admitida prova por
testemunhas, quando o facto estiver plenamente provado por documento ou por
outro meio com força probatória plena (…)”.

57. O que significa que as testemunhas da Recorrida que na audiência de


julgamento prestaram o seu depoimento, no sentido de afirmar que as obras
não tinham defeito, contrariando na plenitude aquilo que o representante da
Recorrida declarou perante a Recorrente em acta, para além de ser

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totalmente contraditório, não pode ser admitido porque aquele
documento faz prova plena quanto às declarações nela prestadas.

58. E a razão de ser da referida proibição da prova testemunhal, válida na


mesma medida para a prova por presunção judicial, nas palavras de Vaz
Serra, tem em vista, “(…) afastar os perigos que a admissibilidade da prova
testemunhal seria capaz de originar: quando uma das partes (ou ambas) quisessem
infirmar os efeitos do negócio poderia socorrer-se de testemunhas para demonstrar
que o negócio foi simulado, destruindo assim, mediante uma prova extremamente
insegura, a eficácia do documento (…)” – in Provas, nº 136, citado por Pires de
Lima e Antunes Varela, Código Civil Anotado, Vol. 1º, Coimbra Editora, 4ª
Edição, pág. 344.

59. Desta feita, não se pode conceber nem admitir que o Tribunal aquo tenha
desvirtuado a interpretação da declaração assinada pelo Representante da
Recorrida na acta da reunião do dia 20 de Dezembro, dizendo que essa
matéria subiu, erradamente é certo, ao questionário e não foi provada em
julgamento, quando refere na sentença sob recurso “(…) Os factos acima
descritos, foram todos levados ao questionário e, em sede de julgamento, foram dados
por “não provados”!?

60. Como é que se pode dar como não provado um documento que faz prova
plena!

61. Repare-se que na sequência da assinatura da acta, os termos do acordo


foram na plenitude cumpridos pela Recorrente tendo a Recorrida recebido a
quantia 5.620.643,93MT (4.803.969,17 + 816.674,76 – IVA) – doc.1 junto aos
autos com a contestação de fls.81 a 104.

62. Salienta-se agora que a tendência da linha decisória que cedo se fez sentir

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pelo Tribunal aquo foi desde logo de desprezar toda a prova que fizesse
perigar os argumentos exarados pela Recorrida na p.i., o que, com o enorme
e devido respeito é atentatória do mais elementar direito de defesa.

63. Por esse facto, não foi de admirar que a matéria constante dos quesitos 3º a
15º cuja responsabilidade da prova estava acometida à Recorrente tivessem
sido dados integralmente por não provados, apesar da prova testemunhal e
dos documentos juntos aos autos falarem outra linguagem nada conducente
com aquele juízo efectuado pelo Tribunal aquo.

64. Porém, os dois únicos quesitos da responsabilidade da Recorrida foram


dados por provados pelas testemunhas daquela empresa, em flagrante
violação das declarações exaradas pelo representante da Recorrida na acta
da reunião de 20 de Dezembro.

65. Naturalmente que a Recorrida socorrendo-se da disposição legal inserta no


art. 653º nº 4 CPC reclamou na audiência de julgamento do acórdão sobre a
matéria de facto, mas de nada valeu essa tentativa, já que a mesma foi
indeferida, com a alegação de que essa reclamação não se enquadrava na
disposição legal citada!?

66. Que fazer, nada, apenas Recorrer.

67. No exame crítico das provas o Tribunal aquo desprezou na íntegra o


conteúdo do documento de fls. 72 a 76 onde o próprio Recorrido incorporou
o relatório da ………… que motivou os cálculos dos valores que lhe foram
pagos e que constitui o anexo 1, voltando a juntar-se agora para que não
restem dúvidas do teor desse documento já junto com a p.i. (doc.2)

68. Por último, sob censura, não podemos deixar de nos indignar pela

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condenação como litigante de má fé no máximo da multa prevista no art.
139º do Decreto nº 82/2009 de 29 de Dezembro pelo facto de que a
Recorrente, segundo o Tribunal aquo “(…) deduziu oposição cuja falta de
fundamento ignorava, conscientemente alterou a verdade dos factos, tudo com o
objectivo de impedir a descoberta da verdade (…)”!!!???

69. O que se depreende desta condenação é que a mesma serve apenas como
arma intimidatória a todo aquele que de alguma forma possa afrontar os
desígnios de uma acção cuja sorte estava traçada desde o inicio.

70. O que de forma alguma é esse o espírito da Lei, nem foi essa a intenção do
legislador com a inclusão pela via processual da condenação como litigante
de má fé.

71. Estabelece o art. 456º nº 2 CPC “(...) Diz-se litigante de má fé não só o que tiver
deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não ignorava, como
também o que tiver conscientemente alterado a verdade dos factos ou omitindo factos
essenciais e o que tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso
manifestamente reprovável, com o fim de conseguir um objectivo ilegal ou de
entorpecer a acção da justiça ou de impedir a descoberta da verdade (...)”.

72. A sanção por litigância de má fé apenas pode e deve ser aplicada aos casos
em que se demonstre, pela conduta da parte, que ela quis, conscientemente,
litigar de modo desconforme ao respeito devido não só ao tribunal, como
também ao seu antagonista no processo.

73. A litigância de má fé tanto pode ser substancial - deduzida pretensão ou


oposição cuja falta de fundamento não ignorava, como também o que tiver
conscientemente alterado a verdade dos factos ou omitindo factos essenciais,

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74. como instrumental – porque se pratica grave omissão do dever de
cooperação, seja porque se faz do processo ou dos meios processuais um uso
manifestamente reprovável.

75. A contestação de uma acção em juízo, com a explicação em detalhe das


fragilidades e contradições da matéria factual vertida na p.i. não constitui de
per si, actuação dolosa ou gravemente negligente da parte, como o tribunal
aquo quer dar a entender,

76. Quando, se verifica in casu que quem efectivamente alterou conscientemente


a verdade dos factos, deturpando a realidade negocial e a vivida em obra,
foi, como se demonstrou, a Recorrida.

77. A afirmação da litigância de má fé depende da análise da situação concreta,


devendo o processo fornecer elementos seguros para por ela se concluir,
exigindo-se no juízo a realizar uma particular prudência, necessária não só
perante o natural conflitos de interesses, contrário, normalmente, a uma
ponderação objectiva, e por vezes serena, da respectiva intervenção
processual, mas também face ao desvalor ético-jurídico em que se traduz a
condenação por litigância de má fé.

78. In casu e atendendo ao teor da contestação e dos subsequentes actos


processuais não se vislumbra em que termos a Recorrente tenha deduzido
com dolo ou grave negligência pretensão cuja falta de fundamento ignorava
!!??

79. Antes pelo contrário, como se demonstrou.

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80. Da apreciação efectuada pelo Tribunal aquo, considerada a prova no seu
conjunto, há razões para que o Venerando Tribunal adquem decida de forma
contrária à decisão constante da aliás Sentença de fls. 203 a 213, pois
vislumbra-se a desconformidade entre a dita prova e a respectiva decisão,
em violação dos princípios que regem a apreciação da prova.

81. Pelo exposto, prova-se à saciedade o erro em que laborou a decisão


constante da sentença recorrenda.

82. Assim se conclui que o Mmo. Juiz a quo não cuidou de analisar
suficientemente as provas produzidas, fazendo uma errada interpretação
das mesmas, apressando-se a condenar a Recorrente, devendo-se em
conformidade, pelas razões apontadas neste recurso, absolver-se, conforme
é de justiça, a Recorrente do pedido.

CONCLUSÕES

A. Requer-se que a reclamação contra o indeferimento do recurso de agravo


seja decidida.

B. Impugna-se o Despacho de fls. 146 e 146v que indeferiu a reclamação à


especificação e questionário, nos termos do art. 511º nº 4 CPC.

C. A especificação foi elaborada com a quase totalidade da matéria factual


exarada na p.i., contraditada pelos documentos juntos pela Recorrida e pelo
próprio pedido desse articulado inicial.

D. Os pedidos constantes da p.i. são totalmente incompatíveis.

E. Em 11 de Março de 2010 foi celebrado um contrato de empreitada entre as

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partes que tinha por objecto a realização de pinturas com vista a mudar a
imagem comercial da Recorrente.

F. O pagamento do preço pelos trabalhos de empreitada foi determinado em


função dos metros quadrados pintados pela Recorrida verificados e aceites
pela Recorrente.

G. O preço inicial foi de 155,00MT por metro quadrado passando depois para
192,00MT.

H. A Recorrida não cumpriu com o contrato de empreitada celebrado com a


Recorrente.

I. O trabalho efectuado pela Recorrida foi realizado defeituosamente.

J. A Recorrida assumiu e concordou com a existência de defeitos nas diversas


obras que estavam em curso na reunião que teve lugar em 20 de Dezembro
de 2011 (doc. de fls. 72 a 76 dos autos).

K. A Recorrida concordou em receber a quantia de 4.803.969,17MT acrescido de


IVA á taxa legal, pondo termo ao contrato.

L. A acta da reunião de 20 de Dezembro de 2011 com o respectivo anexo junto


aos autos a fls. 72 a 76 faz prova plena.

M. O tribunal aquo desprezou na íntegra a prova apresentada e desconsiderou o


documento da Recorrida de fls. 72 a 76 dos autos.

N. Do acórdão sobre a matéria de facto (cfr. art. 653º nº 2 CPC) interpôs em acta
a Recorrente a respectiva reclamação (cfr. art. 654º nº 4 CPC) a qual foi
indeferida sem fundamento.

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O. O acórdão sobre a matéria de facto não está fundamentado como determina
o art. 653º nº 2 CPC faltando, “(…) os fundamentos que foram decisivos para a
convicção do julgador (…)”.

P. A Recorrente não litigou de má fé.

Q. Existe erro de julgamento.

R. O Mmo. Juiz a quo não cuidou de analisar suficientemente as provas


produzidas, fazendo uma errada interpretação das mesmas, apressando-se a
condenar a Recorrente, devendo-se em conformidade, pelas razões
apontadas neste recurso, absolver-se, conforme é de justiça, a Recorrente do
pedido.

Termos em que no provimento do presente


recurso deve:
a) a reclamação contra o indeferimento do
recurso de agravo ser decidida;
b) a Sentença de fls. 203 a 213 dos autos ser
revogada e substituída por outra que
absolva a Recorrente do pedido;
c) ser revogada a condenação por litigância
de má fé da Recorrente.

Assim decidindo, Vexas. farão como sempre


a acostumada

JUSTIÇA!

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Junta: 2 documentos e duplicados legais.

O Advogado,

(Álvaro Pinto Basto


Carteira Profissional nº 241)

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