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2ª Secção
Proc. nº ………/12-R
(Declarativa - Ordinária)
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Uma vez que o processo prosseguiu, a Recorrente nos termos do art. 511º nº 2
CPC apresentou extensa e fundamentada reclamação à especificação e
questionário, a qual veio a ser indeferida por Despacho de fls. 146 e 146v.
Por Despacho de fls. 156 e 156v veio o Tribunal aquo a indeferir o recurso de
agravo com o fundamento na sua extemporaneidade.
Por Despacho de fls. 168 a 170 dos autos o Tribunal aquo em vez de tomar
posição sobre a Reclamação da Recorrente limitou-se a tecer considerações
sobre qual seria a decisão que o Tribunal adquem iria tomar sobre a Reclamação
e o efeito que iria recair sobre o Agravo, no caso de ser aceite.
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Ora, verifica-se que a Reclamação encontra-se apensa aos autos, sem que tivesse
sido tramitada nem decidida, conforme dispõe o preceito legal constante do art.
688º CPC, não se tendo cumprido com a celeridade que se impõe neste tipo de
incidente, facto que teve influência decisiva na decisão desta acção.
Quanto ao Recurso
Vem o presente recurso de apelação interposto da sentença de fls. 203 a 213 dos
autos que condenou a Recorrente a pagar à Recorrida a quantia global de
10.178.304,55 MT, acrescidos de juros de mora contados à taxa de cinco
porcento desde o dia 19 de Março de 2012 e, bem assim, condenou a Recorrente
por litigância de má fé no máximo da multa permitido por lei, 15.000,00MT.
2. Tendo em conta a prova produzida sempre se dirá que o Tribunal a quo teve
uma interpretação muitíssimo parcial e nada abrangente da matéria de facto
devidamente coligida e das provas carreadas para os autos pela Recorrente,
em face da fragilidade dos argumentos lançados a terreiro pela Recorrida
que não estavam escudados por nenhum suporte idóneo que merecesse, a
nosso ver, a decisão que foi devidamente tomada e que por esta via de
recurso se impugna para a instância competente.
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3. Com o muito e sempre devido respeito, a realidade constante do presente
processo é em tudo diversa daquela apresentada pelo Tribunal aquo, como
se irá demonstrar.
5. O grau de precisão de tal juízo probatório deverá ser aferido, por um lado,
em função e no contexto do que vem alegado e, por outro lado, de harmonia
com os resultados da produção de prova e da convicção do julgador soube
formar (cfr. arts. 653º e 655º CPC).
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pedido peticionado pela Recorrida em sede de p.i. (fls. 2 a 11), em virtude da
prova documental e das testemunhas da Recorrente, encerrar conteúdo
totalmente diferente com a prova considerada, e mal, pelo Tribunal aquo.
9. Desde logo, o destino “trágico” destes autos foi traçado na régua dura da
“indiferença”, quando as sucessivas intervenções processuais da Recorrente
foram sendo, sucessivamente indeferidas, sem qualquer fundamento, e por
isso, sendo agora o momento oportuno, se impugna na totalidade o
Despacho de fls. 146 e 146v dos autos que indeferiu a reclamação à
especificação e questionário (cfr. art. 511º nº 4 in fine CPC).
10. No Despacho de fls. 146 e 146v dos autos ali em resumo se menciona em
total violação do que estatui o art. 158º CPC que “(…) a ré, apenas argumenta
que reclama por excesso, deficiência e por complexidade, mas no concreto não indica
em que consiste tal excesso, deficiência ou complexidade (…)”!!??
12. a saber; da especificação (fls. 126 a 129) deveria ter sido retirado o facto
alegado no art. 7º p.i. onde ali se alegou que o contrato foi perfeitamente
cumprido pela Recorrida, já que esta matéria está em total contradição com
o documento de fls. 71 e respectivo anexo de fls. 72 a 76 e a matéria factual
lavrada na contestação nos arts. 24º, 25º, 50º, 51º, 57º, 58º.
13. Da especificação deveria ter sido retirado o facto alegado no art. 8º p.i.,
contraditado pelo documento de fls. 71 e respectivo anexo de fls. 72 a 76.
14. Da especificação deveria ter sido retirado a matéria de facto alegada no art.
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9º p.i., contraditada pelo teor da cláusula 9ª do contrato de “prestação de
serviços de pintura” que apenas se refere ao prazo de garantia da obra, e
bem assim, com o documento de fls. 71 e respectivo anexo de fls. 72 a 76 e
com as alegações factuais constantes dos arts. 50º, 51º, 57º, 58º, 60º, 61º, 76º
da contestação.
15. Deveria ter ficado assente e levado á especificação os factos constante dos
arts. 24º, 25º e 26º da contestação uma vez que os mesmos encontram-se
provados documentalmente – cfr. arts. 341º, 342º nº 1 CC conjugado com os
arts. 362º e 363º nº 2 in fine e nº 3 CC (documento de fls. 71 e respectivo
anexo de fls. 72 a 76 e documentos 1 e 2 junto aos autos contestação de fls. 81
a 104.
18. Ou decerto, tem algum cabimento o Tribunal aquo dar como assente que o
contrato foi executado na perfeição pela Recorrida quando no PEDIDO
exarado na p.i. ali se solicita, sendo isso prova bastante desse
incumprimento, que a Recorrente seja, “(…) condenada a apresentar eventuais
defeitos existentes na obra indicados pela ……….. para a respectiva correcção pelo
“A” (…)”!?
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para mais, quando assina uma acta onde lhe é sobejamente evidenciado os
defeitos ocorridos em obra nas diversas províncias.
22. E caso os defeitos não sejam eliminados, “(…) o dono pode exigir nova
construção (…)” – cfr. art. 1221º nº 1 CC.
24. Assim, por contrato datado de 11 de Março de 2010 foi celebrado entre a
Recorrente e a Recorrida um contrato de empreitada que as partes
denominaram por “prestação de serviços” (doc. junto aos autos com a p.i. de
fls. 2 a 76 – facto provado na sentença de fls. 203 a 213),
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25. Esse contrato tinha por objecto a realização pela Recorrida, na região Centro
e Norte de Moçambique, de pinturas “(…) de imóveis e de pontos de venda dos
revendedores do serviço pré pago da ……………, indicados por esta, com
observância estrita, por parte da “…………” das normas relativas à imagem da
…………. (…)” - cláusula 2ª – contrato de prestação de serviços junto aos
autos com a p.i. de fls. 2 a 76 – facto provado na sentença de fls. 203 a 213.
26. Ficou igualmente acordado que a supervisão das obras de pintura dos
dísticos publicitários da Recorrente ficaria a cargo da empresa ……...
27. O preço a ser pago pela Recorrente à Recorrida pela realização das obras de
pintura foi de 155,00MT por metro quadrado pintado e aprovado pela
Vodacom (cfr. cláusula 4ª – contrato de prestação de serviços junto aos autos
com a p.i.),
29. O pagamento do preço devido pela empreitada não foi determinado a preço
global, mas antes, por série de preços, isto é, em função dos metros
quadrados pintados aceites e verificados.
30. Desta forma, não se concebe nem se aceita que o Tribunal aquo tenha
considerado a existência de um crédito a favor da Recorrida no valor de
10.178.304,55MT por trabalhados que não foram aceites nem verificados.
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32. O Tribunal aquo considerou, com o enorme e devido respeito, mal, como
provado que a Recorrida cumpriu na plenitude o contrato celebrado com a
Recorrente, quando a sentença sob recurso refere “(…) A …………, Lda,
respondeu o contrato com uma execução perfeita (…)”!!!???
33. Na reunião que teve lugar no dia 20 de Dezembro de 2011 e de que resultou
uma acta devidamente assinada pelo representante da Recorrida, junta aos
autos a fls. 72 a 76 dos autos, ali se refere no primeiro ponto a existência de
4.113,01 m2 defeituosos de pinturas com fundo vermelho e 7.792, 20m2
defeituosos de pinturas com fundo branco, totalizando as obras com defeitos
em metros quadrados, 11.905,21 (documento de fls. 72 a 76).
35. Veja-se que no anexo 1 junto com a acta, o próprio Recorrido juntou o
relatório que o Tribunal aquo teimou em não reconhecer, onde ali se
descrimina quais os estabelecimentos onde ocorreram os defeitos invocados,
sendo que para TETE os metros quadrados defeituosos correspondem a
4.271,073 e foram detectados em diversos sítios, designadamente entre
outros, “muro residencial”, “murro de um quintal”, “carpintaria bungue“
etc. (documento de fls. 72 a 76).
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(documento de fls. 72 a 76).
39. A Recorrente juntou aos autos por requerimento de fls. 180 e 181 as provas
fotográficas de algumas obras com defeitos, onde ali se constata claramente
em alguns casos, o descasque da tinta encarnada e o aparecimento consoante
os casos de tinta branca ou azul, e numa situação reportada em Mocuba, na
Banca Magombo onde nem sequer as antigas cores da Recorrente foram
mudadas pela Recorrida para acomodar a nova imagem da …………..
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durante o seu depoimento a existência de diversos defeitos detectados nas
obras referindo a dado passo, “(…) em todos os trabalhos realizados notou que
um mês depois as tintas começaram a descascar-se a ponto de se ver a cor azul (…)
que as situações de defeitos das obras eram constantes e com frequência (…)” - acta
da audiência de julgamento de fls. 191 a 200.
45. A Recorrida optou pela segunda opção, “(…) pelo facto de não ter recursos
financeiros e humanos para avançar com a reposição das pinturas defeituosas (…)”
– documento de fls. 72 a 76 dos autos.
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Recorrida não se fez acompanhar por ninguém nessa reunião, mesmo assim,
dá-se a devida nota ao depoimento daquela testemunha na parte em que
afirmou que “(…) o Sr. Isaias optou em receber o montante disponível porque a
empresa estava em grande decadência (…)”.
47. No ponto três da acta constante do documento de fls. 72 a 76 dos autos dá-se
uma nota explicativa de como é que foram efectuados os cálculos para se
chegar ao valor devido de 4.803.969,17MT e ali se faz referência ao anexo 1 e
ao relatório da ……… junto nesse anexo (documento de fls. 72 a 76).
48. O que se espanta é que o Tribunal a quo não tenha considerado esta prova
plena ainda para mais junta pela Recorrida.
50. Ou seja, como diz A. Varela in C.C. anotado, 4ª edição, I vol., pág. 223, nota
nº 1 ao art. 236º “(...) o sentido da declaração negocial é aquele que seria aprendido
por um declaratário normal, ou seja medianamente instruído e diligente, colocado na
posição do declaratário normal, em face do comportamento do declarante (...)”,
51. E, ainda segundo aquele mestre in Ob. e local citado, nota nº 4 “(...) a
normalidade do declaratário, que a lei toma como padrão, exprime-se não só na
capacidade para entender o texto do conteúdo da declaração, mas também na
diligência para recolher todos os elementos que, coadjuvando a declaração, auxiliem
a descoberta da vontade real do declarante (...)”.
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52. Significa tudo isto, que das referidas declarações negociais insertas no
documento de fls. 72 a 76 dos autos dali se depreende que o representante
da Recorrida compreendeu as opções que lhe tinham sido dadas pela
Recorrente e optou de sua livre vontade em receber o montante respeitante
às pinturas efectuadas sem defeito.
53. Tanto a acta, como o respectivo anexo 1 que dela faz parte integrante foram
devidamente assinados pelo representante da Recorrida de livre e
espontânea vontade.
56. E por esse facto, nos termos do art. 393º nº 2 CC “(…) não é admitida prova por
testemunhas, quando o facto estiver plenamente provado por documento ou por
outro meio com força probatória plena (…)”.
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totalmente contraditório, não pode ser admitido porque aquele
documento faz prova plena quanto às declarações nela prestadas.
59. Desta feita, não se pode conceber nem admitir que o Tribunal aquo tenha
desvirtuado a interpretação da declaração assinada pelo Representante da
Recorrida na acta da reunião do dia 20 de Dezembro, dizendo que essa
matéria subiu, erradamente é certo, ao questionário e não foi provada em
julgamento, quando refere na sentença sob recurso “(…) Os factos acima
descritos, foram todos levados ao questionário e, em sede de julgamento, foram dados
por “não provados”!?
60. Como é que se pode dar como não provado um documento que faz prova
plena!
62. Salienta-se agora que a tendência da linha decisória que cedo se fez sentir
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pelo Tribunal aquo foi desde logo de desprezar toda a prova que fizesse
perigar os argumentos exarados pela Recorrida na p.i., o que, com o enorme
e devido respeito é atentatória do mais elementar direito de defesa.
63. Por esse facto, não foi de admirar que a matéria constante dos quesitos 3º a
15º cuja responsabilidade da prova estava acometida à Recorrente tivessem
sido dados integralmente por não provados, apesar da prova testemunhal e
dos documentos juntos aos autos falarem outra linguagem nada conducente
com aquele juízo efectuado pelo Tribunal aquo.
68. Por último, sob censura, não podemos deixar de nos indignar pela
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condenação como litigante de má fé no máximo da multa prevista no art.
139º do Decreto nº 82/2009 de 29 de Dezembro pelo facto de que a
Recorrente, segundo o Tribunal aquo “(…) deduziu oposição cuja falta de
fundamento ignorava, conscientemente alterou a verdade dos factos, tudo com o
objectivo de impedir a descoberta da verdade (…)”!!!???
69. O que se depreende desta condenação é que a mesma serve apenas como
arma intimidatória a todo aquele que de alguma forma possa afrontar os
desígnios de uma acção cuja sorte estava traçada desde o inicio.
70. O que de forma alguma é esse o espírito da Lei, nem foi essa a intenção do
legislador com a inclusão pela via processual da condenação como litigante
de má fé.
71. Estabelece o art. 456º nº 2 CPC “(...) Diz-se litigante de má fé não só o que tiver
deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não ignorava, como
também o que tiver conscientemente alterado a verdade dos factos ou omitindo factos
essenciais e o que tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso
manifestamente reprovável, com o fim de conseguir um objectivo ilegal ou de
entorpecer a acção da justiça ou de impedir a descoberta da verdade (...)”.
72. A sanção por litigância de má fé apenas pode e deve ser aplicada aos casos
em que se demonstre, pela conduta da parte, que ela quis, conscientemente,
litigar de modo desconforme ao respeito devido não só ao tribunal, como
também ao seu antagonista no processo.
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74. como instrumental – porque se pratica grave omissão do dever de
cooperação, seja porque se faz do processo ou dos meios processuais um uso
manifestamente reprovável.
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80. Da apreciação efectuada pelo Tribunal aquo, considerada a prova no seu
conjunto, há razões para que o Venerando Tribunal adquem decida de forma
contrária à decisão constante da aliás Sentença de fls. 203 a 213, pois
vislumbra-se a desconformidade entre a dita prova e a respectiva decisão,
em violação dos princípios que regem a apreciação da prova.
82. Assim se conclui que o Mmo. Juiz a quo não cuidou de analisar
suficientemente as provas produzidas, fazendo uma errada interpretação
das mesmas, apressando-se a condenar a Recorrente, devendo-se em
conformidade, pelas razões apontadas neste recurso, absolver-se, conforme
é de justiça, a Recorrente do pedido.
CONCLUSÕES
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partes que tinha por objecto a realização de pinturas com vista a mudar a
imagem comercial da Recorrente.
G. O preço inicial foi de 155,00MT por metro quadrado passando depois para
192,00MT.
N. Do acórdão sobre a matéria de facto (cfr. art. 653º nº 2 CPC) interpôs em acta
a Recorrente a respectiva reclamação (cfr. art. 654º nº 4 CPC) a qual foi
indeferida sem fundamento.
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O. O acórdão sobre a matéria de facto não está fundamentado como determina
o art. 653º nº 2 CPC faltando, “(…) os fundamentos que foram decisivos para a
convicção do julgador (…)”.
JUSTIÇA!
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Junta: 2 documentos e duplicados legais.
O Advogado,
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