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2.1 ATO INFRACIONAL E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Contextualizando os adolescentes no cumprimento de uma medida socioeducativa, os


estudos mostram a escassez de atividades socioeducativas/didáticas que contribuem para o
desenvolvimento desta temática. Nesse sentido, é necessário contextualizar o leitor sobre as
leis que protegem e garantem os direitos da criança e do adolescente, para que sejam
considerados sujeitos de direito.
Com a lei 8.069 de 1990, foi criado no Brasil o Estatuto da Infância e da Adolescência
(ECA), que é um marco na proteção e proteção à infância. Com o advento do ECA, crianças e
adolescentes deixam de ser objeto de intervenção do Estado para se tornarem sujeitos de
direito. Este documento parte do pressuposto de que a proteção da criança e do adolescente
deve ser integral e também determina a garantia de seus direitos, tanto pelo Estado como pela
família e sociedade.
Segundo o Tribunal, “[...] é dever da família, da comunidade e da sociedade respeitar
os direitos relativos à vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização,
cultura, dignidade, respeito , liberdade e convivência familiar e comunitária”. (BRASIL,
1990, p. 23).
Ressalte-se que no modelo socioeducativo “[...] responsabilidade do adolescente em
contraposição à lei, a medida socioeducativa tem caráter sancionatório e pedagógico”.
(SILVA, 2011, p. 23). Portanto, ao aplicar a medida socioeducativa, deve-se levar em
consideração que se trata de uma pessoa em desenvolvimento e considerar que tanto o Estado,
a família e a sociedade são responsáveis pelo desenvolvimento integral desse adolescente.
Essas medidas visam reintegrar o menor na sociedade e libertá-lo de maus
comportamentos, mas para isso é necessário fortalecer os laços familiares; desenvolver
serviços comunitários para que possam oferecer tratamento digno; respeitar os direitos e
garantias constitucionais, e As condições especiais. de "pessoas em desenvolvimento"
(DARLAN, 1998).
Nessa linha de pensamento, o sistema de educação social deve ser propício à
superação O ostracismo dos jovens e a mudança de suas opiniões para sempre Para si mesmo
e para a vida, isso pode ser alcançado por meio de um plano de tratamento A educação, a
educação social e psicológica prestada pelo Estado visam a sua reinserção na sociedade
Família e sociedade (LIBERATI, 1993).
Portanto, tais programas de educação social devem permitir que os jovens recuperem a
cidadania, ou seja, garantir sua segurança e integridade física, além de fornecer o suporte
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necessário para seu desenvolvimento saudável (D'AGOSTINI, 2003)


2.2 CENTROS DE INTERNAÇÃO E PRIVAÇÃO DE LIBERDADE

O domínio de muitas necessidades humanas por meio da organização burocrática de


grupos inteiros de pessoas, seja nas circunstâncias dadas uma necessidade efetiva ou um meio
de organização social, é o fato básico das instituições totais. Quando as pessoas se deslocam
em grupos, podem ser supervisionadas por pessoal cuja função principal não é a orientação
regular ou fiscalização, mas a vigilância, que induz todos a fazer o que foi visivelmente
indicado em situações em que a transgressão de uma pessoa muitas vezes evidencia o rosto do
obediência visível e constantemente questionada dos grupos. A divisão da equipe gestora
estacionária é resultado fundamental da gestão burocrática de grande contingente de pessoas.
É importante notar que existem “regras da casa” em instituições totais, existem várias
proibições e regras de proibição explícitas e formais que documentam as estipulações
essenciais sobre o comportamento do paciente hospitalizado. Essas regras indicam o difícil
cotidiano do estagiário. As regras de admissão, que impossibilitam o novato de receber suas
bolsas anteriores, podem ser vistas como uma forma de a instituição adaptá-las para obedecer
às regras da casa (GOFFMAN, 2001).
O autor diz que é característico que os reclusos que entram no centro com uma
"cultura aparente" resultante de um "mundo familiar", um modo de vida e uma variedade de
actividades até à entrada sejam aceites sem conflito. Em tese, as instituições totais não
substituem algo já formado por sua cultura específica, estamos diante de algo mais limitado
do que a aculturação ou a assimilação. “Embora o aprendiz possa restaurar alguns dos papéis,
é claro que outras perdas são irrecuperáveis e podem ser dolorosas quando ele retorna ao
mundo” (GOFFMAN, 2001, p. 25). Quando ocorre uma mudança cultural, pode referir-se ao
distanciamento de algumas oportunidades comportamentais e à incapacidade de acompanhar
as mudanças sociais recentes no mundo exterior. Porém, se a internação for muito longa, pode
acontecer que, ao retornar ao mundo exterior, ocorra o fenômeno da "desculturação", que o
incapacita temporariamente para enfrentar aspectos do seu cotidiano (GOFFMAN, 2001).
Quando o adolescente infringe a lei, deve ser encaminhado a uma Delegacia Especial,
a Delegacia da Infância e da Juventude-DCA, onde as autoridades policiais ouvirão suas
opiniões e deverão emitir Boletim de Ocorrência ou Boletim de Prisão. Posteriormente,
deverá ser encaminhado a um representante do Ministério de Relações Públicas e, caso seja
constatada a infração, o representante será responsabilizado pela conduta cometida (Brasil,
2007).
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Martins (2010) destacou que, então, o caso estará no juizado de menores e Juventude-
JIJ. Neste caso, o juiz irá marcar audiência com os seus pais ou tutores para ouvir as suas
opiniões, podendo de imediato decidir pela aplicação de uma das medidas de educação social
previstas no artigo 112.º do ECA, a saber: 1-Advertência; 2-Reparação A obrigação de
danificar; 3 - prestar serviços à comunidade; 4 - assistir a liberdade; 5 - ingressar no sistema
semi-gratuito; 6 - ingressar em instituição de ensino; 7 - qualquer item especificado no art.
101, I ao VI.
No que se refere à escola como instituição, cabe destacar a constituição da Fundação
Estadual de Assistência ao Menor (FEBEM), marco histórico na constituição do sistema
socioeducativo. Com a criação da Infância. e Lei da Juventude, a FEBEM passa a atender a
demanda especial de jovens que entraram em conflito com a lei, com os serviços oferecidos
pormeio de detenção, semi-liberdade e liberdade assistida (LOPES, 2006).
O autor discute as demandas dessas instituições e explica que as pessoas para educar
são jovens, em sua maioria negros, mestiços, pobres - as chamadas opiniões científicas, a
utilidade das relações sociais de poder, desprezo dessa população "[... ] chama a atenção para
o perigo da construção do chamado conhecimento científico, que, entretanto, cria ou reforça
preconceitos ”(LOPES, 2006, p. 6)

2.3 LÓGICA PUNITIVA E IDENTIDADE DETERIORADA

Foucault em sua obra Vigiar e Punir refere-se à prisão como "pura e simples privação
de liberdade" (FOUCAULT, 1999, p. 19). O autor critica o sistema penitenciário ao afirmar
que:
[…] na primeira metade do século XIX (a prisão não é bastante punitiva: em suma,
os detentos têm menos fome, menos frio e privações que muitos pobres ou
operários), indica um postulado que jamais foi efetivamente levantado: é justo que o
condenado sofra mais que os outros homens? A pena se dissocia totalmente de um
complemento de dor física. Que seria então um castigo incorporai? (FOUCAULT,
1999, p.19)

A gravidade da criminalidade foi se atenuando com os séculos seguintes,


portanto esse fenômeno foi visto como quantitativo: “[...] menos sofrimento, mais delicadeza,
mais respeito e humanidade” . (FOUCAULT, 1999, p. 20). Portanto, essas mudanças ao longo
dos séculos são paralelas à mudança do objeto da ação punitiva.
Se não é mais ao corpo que se dirige a punição, em suas formas mais duras, sobre o
que, então, se exerce? A resposta dos teóricos — daqueles que abriram, por volta de
1780, o período que ainda não se encerrou — é simples, quase evidente. Dir-se-ia
inscrita na própria indagação. Pois não é mais o corpo, é a alma. À expiação que
tripudia sobre o corpo deve suceder um castigo que atue, profundamente, sobre o
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coração, o intelecto, a vontade, as disposições (FOUCAULT, 1999, p. 20).

Para que a pena seja aplicável ao crime, ela deve ser transparente, “[ ...] assim, para o
que o contempla, será infalivelmente o signo do crime que pune; e para quem sonha com o
crime, a simples ideia de crime ativará o sinal punitivo ”(FOUCAULT, 1999, p. 125). Como
consequência natural, a forma punitiva não surge como resultado arbitrário do poder humano
(FOUCAULT, 1999).

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA : Estatuto da Criança e do


Adolescente.

BRASIL, Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente. Guia teórico e prático de medidas socioeducativas. ILANUD -
Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do
Delinquente - UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância, 2007.

DARLAN. S. Da infância perdida à criança cidadã. Rio de Janeiro: Lumens Juris, 1998.

D'AGOSTINI., S. M. Adolescente em conflito com a lei...e a realidade. Curitiba: Juruá,


2003.

FOUCAULT, Michael. Vigiar e Punir. 27° edição, Petrópolis: Ed. Vozes, 1999.

GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos. Tradução de Dante Moreira Leite.


7a edição. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.

LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e o Ato infracional – medida sócio-educativa é


pena? São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003.

LOPES, Juliana. Silva. A escola na FEBEM/SP: em busca do significado. 2006. 161 f.


Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de Psicologia de São Paulo, São Paulo,
2006.

MARTINS, Maria da Conceição Rodrigues. As medidas socioeducativas do ECA:


Conquista ideal ou paliativa real? In: Revista Eletrônica Arma da Crítica. Ano 2, Número 2,
Março de 2010.

SILVA, Gustavo de Melo. Adolescente em conflito com a lei no Brasil: da situação irregular
à proteção integral. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais. Vol.3, n°5, julho de
2011.
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