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CRIANÇA E ADOLESCENTE

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 2

1 - INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3

2- EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 5


2.1. Breve Histórico .................................................................................................... 5
2.2 - Do Estatuto da Criança e do Adolescente (LEI 8.069/1990) .............................. 9
2.3 – Princípios de Proteção à Criança e ao Adolescente ....................................... 13
2.3.1 - Princípio da proteção Integral ........................................................................... 14
2.3.2 - Princípio da condição peculiar da pessoa em desenvolvimento ............................. 15
2.3.3 - Principio da Intervenção mínima ................................................................... 16
2.3.4- Princípio da proporcionalidade ....................................................................... 17
3 - DO ATO INFRACIONAL, DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO E DAS MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS ............................................................................................... 17
3.1 – Ato Infracional ................................................................................................. 17
4.2 – Natureza Jurídica do Ato Infracional ............................................................... 19
4.2.1 - Ato infracional praticado por criança e/ou adolescente ......................................... 20
4.3 – Apuração do Ato Infracional ............................................................................ 21
4.4- Das Medidas de Proteção ................................................................................. 23
4.5 – Das Medidas Socioeducativas ........................................................................ 25
5. DAS ESPÉCIES DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ........................................ 27
5.1. Da Advertência .................................................................................................. 28
5.2 – Da Obrigação de Reparar o Dano ................................................................... 29
5.2 – Da Prestação de Serviços à Comunidade ....................................................... 30
5.4. Da Liberdade Assistida ..................................................................................... 32
5.5. Do Regime de Semiliberdade............................................................................ 33
5.6. Da Internação .................................................................................................... 34
5.7 – Remissão ........................................................................................................ 38
6-EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ............... 41
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 48

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1 - INTRODUÇÃO
Nossa Constituição Federal trouxe elementares alterações em nosso sistema jurídico,
esclarecendo um novo dogma na proteção dos interesses da infanto- juventude.

Adiantando-se à Convenção das Nações Unidas de 1989, a Constituição Federal,


associou-se ao processo garantista da Doutrina da Proteção Integral à crianças e
adolescentes, o qual elevou esta clientela à condição de sujeitos de direitos (ALVES,
2009).

Com o estabelecimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/1990, o


contexto infância e juventude começou a ter um cuidado técnico processual e
estabeleceu-se um preceito dos direitos fundamentais da criança e do adolescente
em permutação a Doutrina da Situação Irregular (ALVES, 2009).

Na atualidade, temos observado que os direitos da criança e do adolescente adquirem


cada vez mais conteúdo em meio a sociedade. Entende-se que é permitido criar uma
sociedade mais justa e solidária, em prejuízo da sociedade individualista e voltada ao
capital, existente nos dias atuais (ROBERTI. JR, 2013).

Constata-se que a juventude está em discordância com a lei, e vivem com o


descumprimento das normas referentes à medida socioeducativa e o ato infracional.

Assim, o sistema de responsabilização e as medidas socioeducativas tem sofrido


diversas desaprovações, especialmente em razão da influência desempenhada
através dos meios de comunicação, que diariamente noticiam o envolvimento de

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adolescentes em crimes de certa complexidade, propondo a infundada ideia de
impunidade.

Seguindo da premissa da crença equivocada de impunidade dos jovens infratores


que gira na sociedade, o nosso estudo tem por objetivo demonstrar algumas
considerações sobre as medidas socioeducativas e os atos infracionais listados no
ECA, relacionados quanto ao objeto de responsabilização do adolescente em conflito
com a lei, sem livrar a classificada Doutrina da Proteção Integral, enaltecida na
Constituição Federal e em documentos internacionais, dos quais o Brasil é precursor.

Partindo desse preceito, o presente estudo se estruturara em quatro capítulos que


disponibilizará um breve demonstrativo de conteúdo em torno das crianças e
adolescentes, e as medidas socioeducativas e os atos infracionais.

No primeiro momento, será trazido em contexto voltado para a explicação da evolução


histórica dos direitos da criança e do adolescente.

Logo, será trabalhado um os conceitos e naturezas jurídicas do ato infracional,


medidas de proteção e das medidas socioeducativas.

No terceiro capitulo, o estudo se volta para a contextualização das espécies de medidas


socioeducativas.

Em seguida, será tratado do foco principal do trabalho, que é a aplicabilidade das


medidas socioeducativas e sua eficácia, o que elas trazem de problemas e de
soluções para a sociedade, o que precisa ser modificada e o que precisa ser mantido
ou aprimorado.

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2- EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE

2.1. Breve Histórico

Dificilmente entender certos direitos, sem ao menos ter em mente sua origem,
contudo, é preciso fazer entender, a evolução histórica do direito em relação as
crianças e os adolescentes desde o início dos tempos até a atualidade.

Nas palavras de Joao Paulo Roberti Junior:

As crianças e os adolescentes desde os tempos mais remotos, nos egípcios


e mesopotâmios, passando pelos romanos e gregos, até os povos medievais
e europeus, não eram considerados como merecedores de proteção especial
(ROBERTI JUNIOR, 2012, p. 3).

Foi em meados da Idade Contemporânea, que foi possível destacar uma alavancada
na firmação das políticas e práticas de proteção social para criança e para o
adolescente. Com isso, o Brasil como no alicerce internacional, bem como outros
países, dão um pulo alto na proporção dos direitos das crianças e dos adolescentes
(ROBERTI JUNIOR, 2012, p. 4).

Em resumo a esta evolução histórica dos direitos infanto-juvenis, cita-se as palavras


de José de Farias Tavares que dispõe a seguinte síntese:

 1919: Manifestação sobre os direitos da criança, em Londres,


“SavetheChildrenFund”: A Sociedade das Nações cria o Comitê de Proteção

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da Infância que faz com que os Estados não sejam os únicos soberanos em
matéria dos direitos da criança - (Londres);
 1920: União Internacional de Auxílio à Criança - (Genebra).
 1923: EglantyneJebb (1876-1928), fundadora da SavetheChildren, formula
junto com a União Internacional de Auxílio à Criança a Declaração de Genebra
sobre os Direitos da Criança, conhecida por Declaração de Genebra.
 1924: A Sociedade das Nações adota a Declaração dos Direitos da Criança de
Genebra, que determinava sobre a necessidade de proporcionar à criança uma
proteção especial. Pela primeira vez, uma entidade internacional tomou
posição definida ao recomendar aos Estados filiados cuidados legislativos
próprios, destinados a beneficiar especialmente a população infanto-juvenil.
 1927: Ocorre o IV Congresso Panamericano da criança, onde dez países
(Argentina, Bolívia, Brasil, Cuba, Chile, Equador, Estados Unidos, Peru,
Uruguai e Venezuela) subscrevem a ata de fundação do Instituto
Interamericano da Criança (IIN - Instituto Interamericano Del Niño) que
atualmente encontra-se vinculado à Organização dos Estados Americanos –
OEA, e estendido à adolescência, cujo organismo destina-se a promoção do
bem-estar da infância e da maternidade na região.
 1946: é recomendada pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
a adoção da Declaração de Genebra. Logo após a II Guerra Mundial um
movimento internacional se manifesta a favor da criação do Fundo
Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância - UNICEF.
 1948: em 10 de dezembro de 1948 a Assembleia das Nações Unidas proclama
a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nela os direitos e liberdades
das crianças e adolescentes estão implicitamente incluídos, nomeadamente
no art. XXV, item II, que consubstancia que a maternidade e a infância têm
direito a cuidados e assistência especiais, bem como que a todas as crianças
nascidas dentro ou fora do matrimônio é assegurado o direito a mesma
proteção social.
 1959: adota-se por unanimidade a Declaração dos Direitos da Criança, embora
que este texto não seja de cumprimento obrigatório para os estados-membros.
 1969: É adotada e aberta à assinatura na Conferência Especializada
Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José de Costa Rica, em
22/11/1969.Neste documento o art. 193 estabelece que todas as crianças têm

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direito às medidas de proteção que a sua condição de menor requer, tanto por
parte da sua família, como da sociedade e do Estado.
 1989: A Convenção Internacional relativa aos Direitos da Criança - CDC é
adotada pela Assembleia Geral da ONU e aberta à subscrição e ratificação
pelos Estados. A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança foi o
marco internacional na concepção de proteção social â infância e adolescência
e que deu as bases para a Doutrina da proteção integral, que fundamentou o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA Lei nº 8.069, de 13.07.1990).

 1990: É celebrada a Cúpula Mundial de Presidentes em favor da infância, onde


se aprova o Plano de Ação para o decênio 1990-2000, que serve de marco de
referência para os Planos Nacionais de Ação para cada Estado parte da
Convenção.
 1992: É instituído no Brasil o Decreto nº 678, de seis de novembro de 1992,
que Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São
José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969.
 1996: São instituídas as Regras Mínimas das Nações Unidas para a proteção
dos Jovens Privados de Liberdade e o Tratado da União Europeia, sobre a
exploração sexual de crianças (TAVARES, 2001, p 77-79).

Várias foram as tentativas de busca a proteção dos direitos das crianças e dos
adolescentes, e detalhá-los se tornaria algo muito extenso, e por isso, será feito
apenas algumas abordagens de relevância durante essa transgressão de tempo.

Em meio a tantos acontecimentos ao longo dos anos, destaca-se a manifestação


inicial de proteção especial para o aglomerado de crianças e adolescente, teve sua
aparição formal em 1924, com a Declaração dos Direitos da Criança, de Genebra,
que afirmava entre outros fatores essenciais, a relevância de se elucidar e fornecer
uma proteção especial à criança e ao adolescente (ALVES, 2009, p.10).

Entretanto, sendo a Convenção taxada como problemática, sem forças


principiológicas, e sem obrigações destinadas ao estado, foi esta Declaração excluída
(ALVES, 2009, p.10).

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Em seguida, pulando mais alguns anos, evidencia-se o Serviço de Assistência aos
Menores (SAM), criado em 1942 com o objetivo de atender os jovens em situação de
abandono ou em conflito com a lei. Mas aqueles que incidiam em atos infracionais, o
sistema um meio corretivo e de muita repressão (ALVES, 2009, p.11).

Segundo os dizeres de Danielle Barboza Alves:

Em 1948 foi aprovada em Paris, pela Assembleia das Nações Unidas a


Declaração dos Direitos Humanos que fez referência aos direitos infanto
juvenis, na medida em que tinha por objetivo garantir a todo homem, bem
como à criança e ao adolescente, o direito à vida e à liberdade e o direito a
um padrão de vidacondigno que veio a se incorporar na Constituição de 1988
como o princípio da dignidade humana (ALVES, 2009, p.12).

Tempos depois, outro marco de destaque foi a Declaração Universal dos direitos das
Crianças, com aprovação concedida pela ONU em 1959, e trouxe em seus artigos,
uma forma rígida de reprimir qualquer requinte de violência contra criança ou
adolescente.

Já em 1964, surgiu a Fundação Nacional do Menor, cuja finalidade é manter a ordem


através do autoritarismo. Anos após, com também grande destaque veio a
Convenção de Direitos Humanos, que evidenciou um tópico de proteção a crianças e
adolescentes, continuando a receber durante anos novas redações que buscavam a
proteção das crianças, onde acabou se fixando com amplitude, através da
Constituição Federal Brasileira de 1988 que concretizou os direitos da criança e do
adolescente.

Tudo isso, foi definitivamente afirmado em 1989, com a criação e aprovação da


Convenção Internacional dos direitos das Crianças pela Assembleia das Nações
Unidas que se aprimorou durante algum tempo até se firmar por completo.

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2.2 - Do Estatuto da Criança e do Adolescente (LEI 8.069/1990)

O Estatuto da Criança e do Adolescente foi promulgado no dia 13 de julho de 1990


pela Lei n° 8.069 e publicado no Diário Oficial da União (DOU) em 16 de julho do
corrente ano. Seu período de vacatio legis foi de 90 (noventa) dias.

Cristiane Dupret assevera que:

O Direito da Criança e do Adolescente vem se tornando um ramo autônomo,


formado por uma rede de proteção com variados diplomas legais e
normativos em geral. O Estatuto da Criança e do Adolescente é um dos
diplomas mais expressivos desse Direito, formado ainda pela Constituição
Federal, pela Convenção Internacional dos Direitos da Criança, pela
Declaração dos Direitos da Criança e por várias Portaria e Resoluções que
dispõe sobre variados assuntos que visam à proteção do menor de 18
(dezoito) anos (DUPRET, 2010, p. 21).

Para substituir o Código de Menores que estava em vigor desde 10 de outubro de


1979, foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990. O Estatuto é
avaliado como uma das leis mais evoluídas no âmbito da menoridade e apresenta
diferenças significativas em relação ao Código de Menores.

Nos dizeres de CASSANDRE, o Estatuto é visto assim:

Houve uma grande transformação no Direito da Criança e do Adolescente


com a Lei 8.069/90, trazendo a teoria da proteção integral. Esse novo
aspecto é baseado nos direitos essenciais das crianças e adolescentes,
posto que estão em condição de pessoas especiais, ou seja, em
desenvolvimento, sendo necessário uma proteção diferente e integral
(CASSANDRE,2008, p.10).

Segundo os conceitos de Fonseca:

O Estatuto é destinado a todas as pessoas com menos de 18 anos de idade


e não somente destinado a menores de (dezoito) anos em situações
especiais, como era no Código. Está pautado nos princípios da Constituição
Brasileira de 1988, expressos especialmente nos artigos 227 e 228
(FONSECA, 2008, p. 43).

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Ressalta-se que o Estatuto da criança e do Adolescente, surgiu com o apelo e súplica
populacional por um sistema mais firme e justo de proteção aos direitos desses
indivíduos.

Nesse sentido dispõe Joao Paulo Roberti Junior a seguinte descrição:

Perante essas normativas e visando evitar a construção social


que separa os “menores” das crianças e dirige às crianças e
adolescentes como sujeitos de direitos, o ECA trouxe grandes
mudanças na política de atendimento às crianças e
adolescentes por meio da criação de instrumentos jurídicos que
viabilizam, ou pretende viabilizar além do atendimento, a
garantia dos direitos que são assegurados às crianças e aos
adolescentes (ROBERTI JUNIOR, 2012, p.12).

São três os princípios básicos que conduzem o Estatuto, são eles:

 princípio da proteção integral, em que a criança e o adolescente têm direito à


proteção na totalidade das esferas de sua vida (art. 1º);

 garantia de absoluta prioridade, que confere o direito da criança e do


adolescente serem protegidos e atendidos com prioridade em suas
necessidades, no recebimento de socorro, na utilização de serviços públicos e
na destinação de verbas e políticas sociais públicas (art. 4º);

 a condição de pessoa em desenvolvimento, no qual a criança e o adolescente


são indivíduos que necessitam de cuidados especiais em cada fase da vida,
para que possam ter um desenvolvimento sadio e harmonioso (art. 6º).

Assim, com a promulgação do Estatuto, a criança e o adolescente passaram a serem


sujeitos de Direito.

Para o Estatuto, a criança e o adolescente são pessoas que carecem de assistência


especial, pois ainda não alcançaram sua maturidade total. Conforme TAVARES:

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O Estatuto da Criança e do Adolescente inovou ao abranger toda criança e
adolescente em qualquer situação jurídica, rompendo definitivamente com a
doutrina da situação irregular, assegurando que cada brasileiro que nasce
possa ter assegurado seu pleno desenvolvimento, mesmo que cometa um
ato ilícito (TAVARES, 2011, p. 7).

O Estatuto da Criança e do Adolescente, constituiu-se reproduzido no espírito da


Constituição Federal a teoria da proteção incondicional, que garante ás crianças e
aos adolescentes a guarda da família, da sociedade e do Estado. Assim explicita o
artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227- É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e


ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL. Constituição Federal
de 1988).

Um dos elementos essenciais do Estatuto é a participação popular na fiscalização e


cobrança política. A lei deixa claro que o Estado deve atuar sobre a infância em
conjunto com a sociedade organizada, tendo como instrumento para isso os
Conselhos de Direito.

No antigo Código de Menores, quem solucionava, investigava e julgava era o juiz,


que tinha quase um poder absoluto, sem limites e não havia participação da
sociedade.

No momento presente, o Estatuto, o juiz e a promotoria da infância são forçados a


compartilhar poder com os Conselhos Tutelares, integrado por pessoas escolhidas
pela sociedade, que participam e zelam pelo direito da criança.

Segundo Saraiva, o ECA se estrutura a partir de três grandes sistemas de garantia,


harmônicos entre si, que são:

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 o Sistema Primário, que dá conta das Políticas Públicas de
Atendimento a crianças e adolescentes (especialmente os arts. 4° e
85/87);
 o Sistema Secundário que trata das Medidas de Proteção dirigidas a
crianças e adolescentes em situação de risco pessoal ou social, não
autores de atos infracionais, de natureza preventiva, ou seja, crianças
e adolescentes enquanto vítimas, enquanto violados em seus direitos
fundamentais (especialmente os arts. 98 e 101);
 o Sistema Terciário, que trata das medidas socioeducativas, aplicáveis
a adolescentes em conflito com a Lei, autores de atos infracionais, ou
seja, quando passam à condição de vitimizadores (especialmente os
arts. 103 e 112) (SARAIVA, 2003, p.62).

Portanto, quando a criança ou o adolescente desviar do sistema primário de


prevenção, será acionado o sistema secundário, cujo agente operador é o Conselho
Tutelar e, se for atribuído ao adolescente a prática de algum ato infracional, será
ajuizado o terceiro sistema de prevenção, operador das medidas socioeducativas.

Assim, o Estatuto é o alicerce base que se une a Constituição no suporte e controle


dos direitos e também deveres de uma conduta correta das crianças e dos
adolescentes.

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2.3 – Princípios de Proteção à Criança e ao Adolescente

Com a promulgação da Constituição de 1988 juntamente com a criação do Estatuto


da Criança e do Adolescente que proporcionou um novo modelo jurídico de
responsabilização dos jovens infratores, similar à legislação penal aplicada aos
adultos, surgiram princípios comuns e princípios específicos relacionados à matéria.

Esses princípios se fizeram necessários para que as normas protetivas fossem


asseguradas e diferenciadas em relação à incriminação penal aplicadas aos adultos
e aplicadas aos adolescentes. Pois, como prevê o artigo 228 da constituição federal,
são inimputáveis penalmente os menores de dezoito anos, sendo concedido à criança
e ao adolescente direitos preferenciais em relação aos maiores de dezoito anos.
Como bem diz Shecaira, “Quis o constituinte separar os direitos e garantias das
crianças e adolescentes do conjunto da cidadania com objetivo de melhor garantir
sua defesa” (SHECAIRA, 2008. p. 137).

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2.3.1 - Princípio da proteção Integral

Tal princípio está previsto no art. 1º do referido diploma e diz: “esta lei dispõe sobre a
proteção integral à criança e ao adolescente”.

Assim, conceitua Munir Cury, como:

(...) a síntese do pensamento do legislador constituinte, expresso na


consagração do preceito de que “os direitos de todas as crianças e
adolescentes devem ser universalmente reconhecidos. São direitos
especiais e específicos, pela condição de pessoas em desenvolvimento.
Assim, as leis internas e o direito de cada sistema nacional devem garantir a
satisfação de todas as necessidades das pessoas de até 18 anos, não
incluindo apenas o aspecto penal do ato praticado pela ou contra a criança,
mas o seu direito à vida, saúde, educação, convivência, lazer,
profissionalização, liberdade e outros” (CURY, 2006, p.15).

Percebe-se que os direitos das crianças e adolescentes não podem ser exclusivos de
uma ou outra categoria e sim que sejam englobadas todas elas, infratores ou não,
sendo aplicadas a todas indistintamente.

Segundo Cury, o mesmo relata que o Estatuto tem como objetivo a proteção integral
da criança e do adolescente, e cada brasileiro que nasce possa ser assegurado seu
pleno desenvolvimento, desde as físicas até a moral e religiosa (CURY, 2006, p. 115).

Portanto, o princípio visa proteger a todos e todas formas possíveis, sendo-lhes


resguardados seus direitos e garantias, proporcionando pleno desenvolvimento e
desta forma concretizando o princípio da dignidade da pessoa humana (SÁ, 2009, p.
46).

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2.3.2 - Princípio da condição peculiar da pessoa em desenvolvimento

Este princípio está intimamente ligado aos demais princípios, vem descrito no art. 6º:
“Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que a ela se dirige,
as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento”
(BRASIL. Lei n. 8.069/90).

O artigo 6º é o ponto principal para a leitura e interpretação do ECA, pois para sua
adequada compreensão devem ser considerados vários aspectos, como, por
exemplo, a finalidade social, as condições do bem comum, os direitos e deveres
individuais e coletivos e a condição particular da pessoa em desenvolvimento
(COSTA, 2006, p. 55).

Tal princípio é entendido como base para a nova legislação somando-se à condição
jurídica de sujeito de direito e à condição política de absoluta prioridade. Ademais,
tem-se que a criança e o adolescente não conhecem totalmente, nem possuem
condições de defender e de fazer valer plenamente seus direitos, e não tem ainda
capacidades plenas de suprir suas necessidades básicas (COSTA, 2006, p. 55).

Entretanto, a referida condição particular de desenvolvimento, não pode ser


estabelecida apenas com base no que a criança não saiba, tenha condições ou não
seja capaz. Deve ser analisada cada fase de forma particular, sendo cada etapa um
período de totalidade devendo ser compreendida pela família, pela sociedade e pelo
Estado (COSTA, 2006, p. 55).

Assim, afirma Shecaria, que o princípio da condição peculiar da pessoa em


desenvolvimento traz o reconhecimento da desigualdade do adolescente em relação
ao adulto, que em razão desta não pode ter o mesmo tratamento (SHECAIRA, 2008.
p. 27).

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2.3.3 - Principio da Intervenção mínima

Está previsto no art. 37, b, na Convenção sobre os Direitos da Criança que dispõe:
“nenhuma criança seja privada de sua liberdade de forma ilegal ou arbitrária. A
detenção, a reclusão ou a prisão de uma criança, serão efetuadas conforme em
conformidade com a lei e apenas com último recurso, e durante o mais breve período
de tempo que for apropriado” (BRASIL. Lei n. 8.069/90).

O referido princípio busca orientar a intervenção mínima nas punições, devendo


apenas ser castigadas as infrações mais prejudiciais à sociedade e de relevância
social mais significativa, devendo ser imposto um castigo proporcional à gravidade do
delito. Com isso, a norma penal juvenil somente será utilizada para defender bens
jurídicos essenciais de agressões mais gravosas, ou ainda, ser usada de maneira
secundaria em condutas que não possam ser tratadas por outros meios de controle
social (VÁZQUEZ GONZÁLEZ apud SHECAIRA, 2008, p. 147).

A Constituição Federal de 1988 também consagra em seu art. 227, §3º, V que o direito
a proteção especial abrangerá “a obediência aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,
quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade”. Assim, fica claro que
a aplicação de medidas punitivas aplicáveis aos jovens deve ser utilizada em último
caso pelo sistema de justiça da infância e juventude. Dispositivo que é reafirmado no
art. 112 do ECA ao dizer que a autoridade “poderá” aplicar ao adolescente as medidas
nele previstas (DE SÁ, 2009, p. 47).

Portanto, quanto maior for a possibilidade de desjudicialização melhor será,


atendendo ao princípio da intervenção mínima.

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2.3.4- Princípio da proporcionalidade

O princípio da proporcionalidade não está disposto expressamente nos dispositivos


legais, porém é possível encontrá-lo em alguns artigos dispostos no texto
constitucional, quais são: art.1º, III; art.3º, I; art.5º, caput, etc. Além disso, pode-se
encontrar no capítulo que trata da criança e do adolescente na Constituição em seu
art. 227, §3º, IV (SHECAIRA, 2008. p. 150).

Ainda, a intervenção punitiva no âmbito formal tanto em matéria de pena, quanto na


aplicação de medida socioeducativa, deve ser sujeitada ao princípio da
proporcionalidade, quando for cominada a pena, judicialmente quando aplicar a pena
no caso concreto executando as medidas coercitivas. Assim, cabe ao juiz, no
momento da aplicação, analisar se a medida cabível devera se mais rigorosa ou mais
branda (SHECAIRA, 2008. p. 150).

3 - DO ATO INFRACIONAL, DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO E DAS


MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

3.1 – Ato Infracional

A conduta da criança e do adolescente, quando coberta de ilicitude, reflete


obrigatoriamente no contexto social em que vive. E, a despeito de sua maior
incidência nos dias atuais, tal fato não constitui ocorrência apenas deste século, mas
é nesta quadra da história da Humanidade que o mesmo assume proporções
alarmantes, principalmente nos grandes centros urbanos, não só pelas dificuldades
de sobrevivência como, também, pela ausência do Estado nas áreas da educação,
da saúde, da habitação e, ainda, da assistência social (AMARANTE, 2002, p. 324).

Por outra parte, a falta de uma política séria em termos de ocupação racional dos
espaços geográficos, a ensejar migração desordenada, produtora de favelas
periféricas nas capitais dos Estados, ou até mesmo nas médias cidades, está
permitindo e vai permitir, mais ainda, pela precariedade de vida de seus habitantes,
o aumento, também, da delinquência infanto-juvenil (AMARANTE, 2002, p. 324).

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O Ato infracional é,

ação condenável, de desrespeito às leis, à ordem pública, aos direitos dos


cidadãos ou ao patrimônio, cometido por crianças ou adolescentes”.
Somente haverá o ato infracional se a conduta for correspondente a uma
hipótese prevista em lei que determine sanções ao seu autor (AQUINO,
2012).

O Estatuto da Criança e do Adolescente conceitua em seu art. 103 o ato infracional:

“Art. 103- Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou


contravenção penal”.

Desta forma, considera-se ato infracional todo fato típico, descrito como crime ou
contravenção penal (AQUINO, 2012).

Tal definição decorre do princípio constitucional da legalidade. É preciso por tanto


para a caracterização do ato infracional que este seja típico antijurídico e culpável
garantindo ao adolescente por um lado, um sistema compatível com o seu grau de
responsabilização e por outro a coerência com os requisitos normativos provenientes
da seara criminal. Assim, João Batista Costa Saraiva esclarece: “Não pode o
adolescente ser punido onde não o seria o adulto” (SARAIVA, 2002).

Continua, João Batista Costa Saraiva:

O garantismo penal impregna a normativa relativa ao adolescente infrator


como forma de proteção desta em face de ação do Estado. A ação do Estado
autorizando-se a sancionar o adolescente e infligir-lhe uma medida
socioeducativa fica condicionada a apuração dentro do devido processo legal
que este agir típico se faz antijurídico e reprovável - daí culpável (SARAIVA,
2002, p.66).

O Estatuto ao definir o ato infracional, adotou um conteúdo certo e determinado,


abandonando as expressões como ato antissocial, desvio de conduta e outros, de
significado jurídico impreciso, afastando-se qualquer subjetivismo do intérprete
quando da análise da ação ou omissão (PAULA, 2002).

Crianças e adolescentes podem praticar ações ilícitas ao preceito legal e são


nomeados atos infracionais, desta forma, recebem tratamento distintos, como o
disposto no art. 105 do ECA, estes somente obedecerão às medidas exclusivas

18
previstas no art. 101 do mesmo diploma. Toda criança e adolescente recebem
tratamento individualizado e especial, mesmo quando praticam condutas que sejam
tipificadas no Código Penal (RAMIDOFF, 2008, 74).

Para RAMIDOFF:

A prática de ato infracional não se constitui numa conduta delituosa,


precisamente por inexistir nas ações/omissões infracionais um dos
elementos constitutivos e estruturantes do fato punível, isto é, a culpabilidade
– a qual, por sua vez, não se encontra regularmente composta, precisamente
por lhe faltar a imputabilidade, isto é, um elemento seu constitutivo e que
representa a capacidade psíquica para regular a válida prática da conduta
dita delituosa, enquanto decorrência mesmo da opção política do
Constituinte de 1987/1988. Esta consignou a idade de maioridade penal em
18 (dezoito) anos, alinhando-se, assim, à diretriz internacional dos Direitos
Humanos, como alternativa válida e legítima que reflete a soberania popular
e a autodeterminação do povo brasileiro (RAMIDOFF, 2008, p. 75).

4.2 – Natureza Jurídica do Ato Infracional

No ordenamento jurídico brasileiro, os crimes e as contravenções penais só podem


ser atribuídas, para efeitos da respectiva pena, às pessoas imputáveis, que via de
regra, são as com mais de 18 anos de idade. Se a conduta ilícita partir de uma criança
e adolescente, não será crime ou contravenção e sim um ato infracional em fase da
ausência de culpabilidade e consequente punibilidade (ENGEL, 2006).

Segundo o Desembargador Napoleão X. do Amarante:

Significa dizer que o fato atribuído à criança ou ao adolescente, embora


enquadrável como crime ou contravenção, só pela circunstância de sua
idade, não constitui crime ou contravenção, mas, na linguagem do legislador,
simples ato infracional. O desajuste existe, mas, na acepção técnico-jurídica,
a conduta do seu agente não configura uma ou outra daquelas modalidades
de infração, por se tratar simplesmente de uma realidade diversa. Não se
cuida de uma ficção, mas de uma entidade jurídica a encerrar a ideia de que
também o tratamento a ser deferido ao seu agente é próprio e específico.

Assim, quando a ação ou omissão venha a ter o perfil de um daqueles ilícitos,


atribuível, entretanto, à criança ou ao adolescente (v. art. 2°), são estes

19
autores de ato infracional com consequências para a sociedade, igual ao
crime e à contravenção, mas, mesmo assim, com contornos diversos, diante
do aspecto da inimputabilidade e das medidas a lhes serem aplicadas, por
não se assemelharem estas com as várias espécies de reprimendas
(AMARANTE, 2002, p. 325).

No mesmo contexto Vater Kenji Ishilda:

Pela definição finalista, crime é o fato típico e antijurídico. A criança e o


adolescente podem vir a cometer crime, mas não preenchem o requisito da
culpabilidade, pressuposto da aplicação da pena. Isso porque a
imputabilidade penal inicia-se somente aos 18 (dezoito) anos, ficando de
medida socioeducativa por meio de incidência. Dessa forma, a conduta
delituosa da criança e do adolescente é denominada de ato infracional,
abrangendo tanto o crime como a contravenção (ISHILDA, 2001, p.160).

Para Paulo Lucio Nogueira,

O estatuto considera o ato infracional a conduta descrita como crime ou


contravenção penal. Assim não há diferença entre crime e ato infracional,
pois ambos constituem condutas contrarias ao direito positivo, já que se situa
na categoria ilícito penal. (NOGUEIRA, 1998, p. 149).

Dessa forma, tem-se duas correntes, uma qual a conduta praticada pela criança ou
adolescente esteja revestida dos elementos que caracterização crime ou
contravenção, e outra que não vislumbra a diferença entre ato infracional crime e
contravenção (ENGEL, 2006).

4.2.1 - Ato infracional praticado por criança e/ou adolescente

Com relação às crianças, pessoas de até doze anos de idade incompletos e,


adolescentes de até dezoito anos de idade, que cometem infrações penais, o ECA
excluiu da aplicação de medidas socioeducativas, e deu a aplicação de medidas de
proteção, podendo elas serem aplicadas de forma isolada ou cumulativa.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não especificou o procedimento na apuração


do ato infracional, somente esclareceu que caberá ao Conselho Tutelar e não ao
Juízo da Vara da Infância e Juventude a aplicação das medidas de proteção dispostas
no art. 136, I do referido diploma.

20
4.3 – Apuração do Ato Infracional

Por serem as crianças e adolescentes dotados de condição especial de


desenvolvimento, e as soluções dos problemas devem ser rápidas, pois a demora no
atendimento podem produzir danos irreparáveis. Eles possuem ritmo de vida mais
acelerado e a sensação de impunidade pode acarretar uma sequência de atos
infracionais que resultarão em sua interação (UNIPLAC, 2010).

Assim, de acordo com art. 106 do Eca, o adolescente poderá ser apreendido em
flagrante delito, no sentido que “nenhum adolescente será privado de sua liberdade
senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente”.

Desta forma, no art. 107 do ECA, aduz que a apreensão do adolescente feita em
flagrante deve ser imediatamente comunicada a autoridade judiciária competente,
aos pais ou responsáveis ou quem ele indicar.

A autoridade policial deverá desde logo verificar a possibilidade da liberação do


adolescente isto, sob pena de responsabilização. O adolescente assina um termo de
compromisso onde os pais se comprometerão em apresentar o adolescente ao
representante do Ministério Público em dia determinado.

21
Poderá também o Ministério Público de acordo com o art. 180 do ECA, a promoção
do arquivamento dos autos, a concessão de remissão ou ainda a representação à
autoridade judiciária para a aplicação das medidas socioeducativas.

De acordo com o Estatuto, quanto ao arquivamento dos autos, deve ser pedido
fundamentado na inexistência do ato infracional, inexistência da prova de participação
do adolescente no ato, deve estar presente a excludente de antijuridicidade ou
culpabilidade e inexistência de prova suficiente para a condenação (ELIZEU, 2010).

O art. 184 do referido diploma, assim como o art. 41 do Código de Processo Penal, a
representação é oferecida por petição, observando o princípio do contraditório e
ampla defesa, assim que recebida pelo juiz, o processo será iniciado.

Assim, o juiz poderá solicitar a apresentação do adolescente, fazendo por citação,


bem como de seus pais ou responsáveis para que compareçam em juízo
acompanhado de advogado. Se caso o adolescente não for encontrado, o juiz
expedirá mandado de busca e apreensão e o processo ficará suspenso até que seja
o adolescente apresentado.

Assim que o adolescente se apresentar em juízo, será marcada audiência, onde será
feito o interrogatório. Após serão ouvidos os pais ou responsáveis quando apreciará
a aplicação da remissão. Caso não haja remissão o processo terá continuidade com
a apresentação de defesa previa e rol de testemunhas, podendo o juiz determinar
diligencias, neste caso será designada nova audiência.

Concluída a oitiva das testemunhas, é dada a palavra ao Ministério Púbico e em


seguida ao defensor. Poderá os debates ser substituída por acusação e defesa
escrita, desde que na forma de memoriais, nos preceitos legais. Logo após, será
proferida a decisão do juiz, que poderá determinar a aplicação de uma das medidas
socioeducativas, relacionados no art. 112 do ECA.

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente


poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;

III - prestação de serviços à comunidade;

22
IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semi-liberdade;

VI - internação em estabelecimento educacional;

VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade


de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.

§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação


de trabalho forçado.

§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão


tratamento individual e especializado, em local adequado às suas
condições.

4.4- Das Medidas de Proteção

De acordo com De Plácido Silva, conceitua proteção como:

Do latim protectio, de protegere (cobrir, amparar, abrigar),


entende-se toda espécie de assistência ou de auxílio, prestado
às coisas ou às pessoas, a fim de que se resguardem contra os
males que lhes possam advir. Em certas circunstâncias, a
prostituição revela-se o favor ou o benefício, tomando, assim, o
caráter de privilégio ou de regalia. Desta acepção é que se
deriva o conceito de protecionismo, na linguagem econômica e
tributária (SILVA, 1999, p. 1121).

Com base no conceito retro, pode-se dizer que as medidas de proteção que estão
previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente são aplicadas pela autoridade
competente, sejam juízes, promotores, conselheiros tutelares, às crianças e
adolescentes que tiveram seus direitos fundamentais ameaçados ou violados.

O art. 98 do ECA estabelece que:

Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente serão aplicáveis


sempre que os direitos reconhecidos, nesta Lei forem ameaçados ou
violados:

23
I –por ação ou omissão da sociedade ou Estado;

II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis;

III – em razão de sua conduta.

Na aplicação das medidas de proteção será levado em conta de acordo com o art.
100 do ECA, as necessidades pedagógicas, preferindo as que visam o fortalecimento
dos vínculos familiares e sociais.

As medidas de proteção a serem aplicadas estão dispostas no art. 101 do


mencionado Estatuto:

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de


responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino


fundamental;

IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção,


apoio e promoção da família, da criança e do adolescente;

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime


hospitalar ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e


tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

VII - acolhimento institucional;

VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;

IX - colocação em família substituta.

24
Observa-se que no disposto nos artigos, o legislador teve a preocupação em tocar
tanto na criança quando na família, pois quando uma criança/adolescente comete ato
infracional, entende-se que a base familiar não está bem, não conseguindo sustentar
a criança dentro da sociedade (CASSANDRE, 2008, 34).

4.5 – Das Medidas Socioeducativas

O Estatuto da Criança e do Adolescente elenca as medidas socioeducativas no artigo


112 e seguintes, como consequências da prática de ato infracional praticado por
adolescente, são elas:

Art. 112. Verificada a pratica de ato infracional, a autoridade competente


poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

I – advertência;

II – obrigação de reparar o dano;

III – prestação de serviços a comunidade;

IV – liberdade assistida;

V – inserção em regime de semiliberdade;

VI – internação em estabelecimento educacional;

VII – qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

§1º. A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de


cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.

25
§2º. Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de
trabalho forçado.

§3º. Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão


tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.

É necessário distinguir medidas socioeducativas de medidas de proteção, para


DUPRET:

Faz-se necessário distinguir as medidas protetivas das medidas


socioeducativas. As medidas protetivas podem ser aplicadas tanto a criança
quanto ao adolescente que se encontre em situação de risco. Já as medidas
socioeducativas se restringem a situação de risco prevista no artigo 98, III,
quando é o adolescente que se coloca nessa condição em razão de sua
própria conduta, pela prática de ato infracional (DUPRET, 2010. p. 171).

De forma diferente da criança, o adolescente infrator é sujeito a tratamento mais


severo, sendo o rol de medidas expresso na legislação taxativo e sua limitação deriva
do princípio da legalidade, sendo proibida a imposição de medidas diferentes das
enunciadas na legislação (MAIOR NETO, 2006. p. 378).

Entretanto, o ECA, ao mencionar sobre o enfrentamento da delinquência infanto-


juvenil, não se resume apenas nas medidas citadas. Ao ser empregada a doutrina do
princípio da proteção integral, o legislador admitiu que a forma mais eficaz de
prevenção da criminalidade está no objetivo de derrotar a situação de marginalidade
experimentada pela maioria das crianças e adolescentes (MAIOR NETO, 2006. p.
378).

É cediço que a principal finalidade das medidas socioeducativas é buscar a


reeducação e ressocialização do menor infrator, possuindo um elemento de punição,
tendo como finalidade impedir futuras condutas ilícitas. Não se pode negar o caráter
não punitivo, entretanto, as medidas possuem semelhança com as penas previstas
no Código Penal, tendo um caráter penal especial, como forma de retribuição ou
punição imposta ao menor infrator (DA SILVA, 2008. p. 23).

26
5. DAS ESPÉCIES DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

No artigo 112 do ECA estão elencadas as medidas de caráter socioeducativo


aplicáveis aos adolescentes autores de atos infracionais.

É um rol taxativo, e não exemplificativo, sendo vedada a estipulação de medidas


diferentes daquelas dispostas no referido artigo.

São previstas no artigo 112 do ECA as seguintes medidas:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente


poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;

III - prestação de serviços à comunidade;

IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semi-liberdade;

VI - internação em estabelecimento educacional;

VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

(...)

A aplicação da medida socioeducativa tem como objetivo impedir a reincidência entre


os menores infratores, e sua finalidade é pedagógico-educativa.

De mais a mais, as medidas, tem caráter impositivo, pois não é de cunho do infrator
escolher ou acatar a medida determinada. Possui, ainda, finalidade sancionatória,
uma vez que descumprida a regra de convivência por meio de ação ou omissão do
menor, ele responderá por seus atos na proporção de sua atitude, sendo-lhe aplicada
a medida cabível e necessária.

27
5.1. Da Advertência

Dispõe o art. 115 do ECA, que “A advertência consistirá na admoestação verbal, que
será reduzida a termo e assinada”. O termo advertência significa admoestação,
observação, aviso, ato de advertir.

É a primeira das medidas aplicáveis ao menor que revela comportamento antissocial,


mas de menor gravidade. O menor será entregue a seus responsáveis, mediante
advertência verbal, reduzida a termo e assinada pela autoridade judicial.

De acordo com Nogueira “a advertência deve ser a medida mais usada, uma vez que
toda medida aplicada ao menor visa à sua integração sócio familiar”. (NOGUEIRA
apud CHAVES, 1997, 517)

O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a aplicação da referida medida às


seguintes situações:

 ao adolescente, no caso de prática de ato infracional (art. 112, I, c/c o


art. 103);
 aos pais ou responsáveis, guardiões de fato ou de direito, tutores,
curadores etc. (art. 129, VII);
 às entidades governamentais ou não governamentais que atuam no
planejamento e na execução de programas de proteção e
socioeducativas destinados a crianças e adolescentes (art. 97, I, “a”, e
II, “a”).

De acordo com o artigo 114, parágrafo único do Estatuto, para que seja feita a
advertência é necessária prova da materialidade do fato e indícios suficientes de
autoria.

Nos dizeres de Mayara Yamada Dias Fonseca:

Sendo a advertência a mais leve das medidas socioeducativas, sua


imposição dispensa a sindicância ou o procedimento contraditório, já que
deve ser imposta mediante o boletim de ocorrência elaborado pela
autoridade policial ou informação do comissário (FONSECA, 2006. p.34).

28
Entretanto, Cury, Silva e Mendez, entendem no seguinte sentido:

embora a advertência possa vir a ser aplicada no primeiro contato com o


sistema de Justiça da Infância e da Juventude, na audiência de apresentação
ao órgão do Ministério Público (art. 197 do ECA), nada impede que decorra
do procedimento apuratório do ato infracional, através do respectivo
procedimento contraditório (CURY, SILVA, MENDEZ, 2002, p. 254).

Assim, tem-se que a advertência deve ser destinada, em regra, a adolescentes que
não possuam antecedentes infracionais e para os casos de infrações brandas.

5.2 – Da Obrigação de Reparar o Dano

Preconiza o art. 116 do Estatuto que “em se tratando de ato infracional com reflexos
patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente
restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o
prejuízo da vítima.”

Essa medida socioeducativa pode ser injetada ao adolescente autor de ato infracional
e, consequentemente, ao seu responsável legal.

Não é tranquila a ideia de que essa medida deve ser colocada em procedimento
contraditório, pois incube ao adolescente fazer a sua defesa devidamente assistida
por advogado.

De acordo com o parágrafo único do artigo 116, a medida de obrigação de reparar o


dano pode ser substituída por outra adequada, caso seja evidente a manifesta
impossibilidade de sua aplicação (FONSECA, 2006, p 38).

29
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser
substituída por outra adequada.

5.2 – Da Prestação de Serviços à Comunidade

A prestação de serviços à comunidade obriga ao adolescente autor de ato infracional,


o cumprimento de tarefas de caráter coletivo, visando interesses e bens comuns (SÁ,
2009, p. 46).

Essa prestação é realizada gratuitamente, com o fim de proporcionar ao adolescente


a possibilidade de adquirir valores sociais positivos, por meio da vivência de relações
de solidariedade.

As características dessa prestação de serviços comunitários estão explicitadas no


artigo 117 do ECA, verbis:

Art. 117 - A prestação de serviços comunitários consiste na realização de


tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses,
junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos
congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais.

Parágrafo único - As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do


adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas

30
semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a
não prejudicara frequência à escola ou jornada normal de trabalho.

Segundo Cury, Silva e Mendez é uma das medidas socioeducativas que se reveste,
hoje, de um grande e profundo significado pessoal e social para o adolescente
infrator.

Como dispõe o parágrafo único do artigo que trata da prestação de serviços à


comunidade, as tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente,
devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos
sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência
à escola ou à jornada normal de trabalho.

A supervisão será realizada pela autoridade judiciária, do Ministério Público, de


técnicos sociais, informando suas atividades e comportamento por meio de relatórios,
e da comunidade.

31
5.4. Da Liberdade Assistida

A aplicação da liberdade assistida está prevista no artigo 118 do ECA, qual seja:

Art. 118 - A liberdade Assistida será adotada sempre que se afigurar a medida
mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.

§ 1° - A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a


qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.

§ 2º - A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses,


podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra
medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.

O menor, depois de entregue aos responsáveis ou após liberação do internato, será


submetido à assistência, como objetivo de impedir a reincidência e obter a certeza da
reeducação.

Essa medida será determinada pelo prazo mínimo de 6 (seis) meses, sendo possível
a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra sempre que
preciso, ouvindo o orientador, o Ministério Público e o defensor. Devido a sua
finalidade, não há prazo máximo para ser cumprido, sendo admissível enquanto o
Juiz considerar necessário ao adolescente.

Em regra, essa medida é aplicada a menores que são reincidentes em infrações


menos gravosas, entretanto também pode ser aplicada aos que cometeram infrações
mais graves, mas que, realizado o estudo social, foi verificado que a melhor opção é
deixá-los com sua família, para que possam se reintegrar à sociedade. Também é
aplicado aos que estavam em regime de semiliberdade ou de internação, quando é
constatado que já se recuperaram parcialmente e não são um perigo à sociedade.

No artigo 119 do Estatuto estão previstos os encargos do orientador, com apoio e


supervisão da autoridade competente, quais sejam: orientar o adolescente,
colocando-o, se preciso, em programas de auxílio e assistência social; supervisionar
sua frequência e aproveitamento escolar e promover sua matrícula; diligenciar no
sentido de profissionalização e inserção do adolescente no mercado de trabalho e,
por fim, apresentar relatórios do caso (DIAS, 2010, p.39).

32
As condições que serão cumpridas pelo adolescente não estão especificadas no
ECA, sendo de incumbência da autoridade judiciária, que individualizará o tratamento
tutelar, aplicando no caso concreto as condições, que poderão abarcar as relações
de trabalho, escola e familiares. Ademais, deve-se sempre considerar a capacidade
do adolescente de cumprir essas condições, as circunstâncias e a gravidade da
infração, de acordo com o que dispõe o artigo 112, § 2°.

§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de


trabalho forçado.

5.5. Do Regime de Semiliberdade

A medida socioeducativa da semiliberdade está contemplada no artigo 120 do


Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que assim preceitua:

Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou


como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de
atividades externas, independentemente de autorização judicial.

§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre


que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.

§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber,


as disposições relativas à internação.

O regime de semiliberdade é a medida mais rigorosa da liberdade pessoal depois da


internação. Entre as medidas previstas no artigo 112 para o adolescente infrator,
essas são as duas únicas medidas que geram a institucionalização. A semiliberdade
pertence às medidas socioeducativas que o artigo 114 solicita a existência de provas
suficientes da autoria e da materialidade da infração.

Geralmente a semiliberdade é utilizada quando o menor a que foi aplicada a medida


de internação deixou de ser um perigo para a sociedade passando para um regime
mais brando, como também quando o menor, mesmo que tenha cometido uma
infração grave, não é considerado perigoso, sendo necessário apenas a
semiliberdade para a sua reintegração à sociedade e à família.

33
Compreende-se, por semiliberdade, como uma medida socioeducativa destinada a
adolescentes infratores, que trabalham e estudam durante o dia, e à noite recolhem-
se a uma entidade especializada. São obrigatórias a escolarização e a
profissionalização.

De acordo com o parágrafo 2º do art. 120 do Estatuto, a semiliberdade não possui


prazo determinado, sendo aplicado, no que couberem, as disposições relacionadas à
internação, inclusive quanto aos direitos do adolescente privado de sua liberdade
(ABREU, 2009, p. 28).

5.6. Da Internação

A medida de internação combina com a ideia de retirar o adolescente infrator do


convívio com a sociedade. Em compensação, a internação, também possui a
capacidade pedagógica, objetivando à reinserção do jovem infrator ao ambiente
familiar e comunitário, bem como o seu aperfeiçoamento profissional e intelectual.

O art. 121, caput, do ECA permite o entendimento sobre a medida, suas condições
de imposição e desenvolvimento: “A internação constitui medida privativa da
liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento.”

Em decorrência do princípio da brevidade, a internação deve ser mantida pelo menor


espaço de tempo possível, sendo que, de acordo com o artigo 121 § 2º e § 3º, 3 anos
é o limite máximo de duração da medida, de forma que a cada período de, no máximo,
6 meses, deve ocorrer uma reavaliação para verificar a necessidade de manter o
adolescente internado.

O princípio da excepcionalidade integra-se no fato de que só deve ser aplicada a


medida de internação nos casos em que não há cabimento para nenhuma outra
medida socioeducativa.

O princípio de respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento está


expressamente previsto no art. 277 da Constituição Federal/88. Segundo tal princípio,
deve ser utilizado um tratamento jurídico especial à criança e adolescente posto que
são indivíduos que ainda estão formando sua personalidade.

34
Ao atingir o limite máximo de 3 anos, o adolescente deverá ser liberado, posto em
regime de semiliberdade ou de liberdade assistida, sendo a liberação compulsória
aos 21 anos de idade. Assim, após essa idade não poderá ser aplicada qualquer
medida socioeducativa.

As hipóteses de cabimento da internação estão previstas no artigo 122, que são:

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:

I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência


a pessoa;

II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;

III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente


imposta.

§ 1 º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá


ser superior a 3 (três) meses, devendo ser decretada judicialmente após o
devido processo legal.

§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra


medida adequada.

Ao restringir as hipóteses em que a medida de internação poderá ser aplicada, o artigo


122 em seus incisos de I a III, está regulamentando o princípio da excepcionalidade.
E, ainda, como menciona o § 2º, ela deve ser evitada se houver antes dela outras
medidas de caráter mais adequado.

A internação somente poderá ser executada pela autoridade judiciária competente


em decisão qualificada, devendo ser cumprida, segundo o art. 123, em entidade
exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele intitulado ao abrigo, sendo
obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade
da infração, sendo obrigatório durante o seu período a realização de atividades
pedagógicas.

Os direitos do adolescente privado de sua liberdade encontram-se previstos no artigo


124 do Estatuto, assim dispostos:

35
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os
seguintes:

I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;

II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;

III - avistar-se reservadamente com seu defensor;

IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;

V - ser tratado com respeito e dignidade;

VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao


domicílio de seus pais ou responsável;

VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;

VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;

IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;

X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;

XI - receber escolarização e profissionalização;

XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:

XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;

XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim
o deseje;

XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para


guardá-los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em
poder da entidade;

XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais


indispensáveis à vida em sociedade.

§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.

§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita,


inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos sérios e fundados de
sua prejudicialidade aos interesses do adolescente.

36
A desinternação, em qualquer hipótese, deverá sempre ser antecedida de autorização
judicial e devendo ser ouvido o Ministério Público.

O promotor Paulo Affonso Garrido de Paula, citado por Wilson Donizeti Liberati, assim
destacava a finalidade da medida de internação ainda na vigência do Código de
Menores:

A internação tem finalidade educativa e curativa. É educativa quando o


estabelecimento escolhido reúne condições de conferir ao infrator
instrumentos adequados para enfrentar os desafios do convívio social. Tem
finalidade curativa quando a internação se dá em estabelecimento
ocupacional, psicopedagógico, hospitalar ou psiquiátrico, ante a ideia de que
o desvio de conduta seja oriundo da presença de alguma patologia, cujo
tratamento em nível terapêutico possa reverter o potencial criminológico do
qual o menor infrator seja portador (PAULA apud LIBERATI, 2000, p. 95).

José Farias Tavares salienta que há quem atribua caráter punitivo à medida de
internação, apesar das disposições do ECA quanto à proteção do adolescente, e
exemplifica essa hipótese citando um acórdão do eminente Des. Yussef Cahali:

As medidas socioeducativas previstas no ECA também visam punir o


delinquente, mostrando-lhe a censura da sociedade ao ato infracional que
cometeu, e protegendo os cidadãos honestos da conduta criminosa daqueles
que ainda não são penalmente responsáveis (TAVARES, 2010, p. 20).

37
5.7 – Remissão

Remissão significa clemência, indulgência, perdão, renúncia. O artigo 126 do Estatuto


prevê a remissão como maneira de exclusão, suspensão ou extinção do processo
para apuração do ato infracional, in verbis:

Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato


infracional, o representante do Ministério Público poderá conceder a
remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias
e consequências do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do
adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional.

Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela


autoridade judiciária importará na suspensão ou extinção do processo.

A remissão por exclusão do processo é para as seguintes hipóteses: a infração não


possuir caráter grave, o menor não apresentar antecedentes e quando a família, a
escola ou outras instituições já reagiram de maneira adequada e construtiva ou que
venham a reagir desse modo (CURY; SILVA; MENDEZ, 2002, p. 412).

Segundo Chaves:

Se do sistema processual penal deflui o princípio da obrigatoriedade de


propositura da ação penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, ao
instituir a remissão como forma de exclusão do processo, expressamente
adotou o princípio da oportunidade, conferindo ao titular da ação a decisão
de invocar ou não a tutela jurisdicional. A decisão nasce do confronto dos
interesses sociais e individuais tutelados unitariamente pelas normas
insertas no ECA (CHAVES, 1997, p. 558).

A exclusão da medida socioeducativa por meio da remissão explica-se quando o


interesse de defesa social assume valor menor àquele representado pelo custo,
viabilidade e eficácia do processo.

Contudo, contravenções e infrações de menor gravidade, impostas a adolescentes


primários, marcadas pela previsão de dificuldades na coleta da prova, cujo resultado,
além de incerto, constituirá mera advertência, podem ser remidas plenamente pelo
representante da sociedade (FONSECA, 2006, p. 39).

38
É medida exclusiva do representante do Ministério Público por força dos artigos 180,
inciso II e 201, inciso I, que, em lugar de pedir a execução do procedimento, concede
a remissão, podendo incluir a aplicação de qualquer das medidas previstas na lei,
exceto a disposição em regime de semiliberdade e a internação, como estabelece o
artigo 127. A manifestação deve ser fundamentada e o pedido homologado pelo juiz,
que, não concordando com sua aplicação, deve remeter os autos ao Procurador-
Geral de Justiça (ABREU, 2009, p. 30).

A remissão pode ser posta como perdão puro e simples, sem a aplicação de qualquer
medida, ou ainda, como uma espécie de transação, a critério do representante do
Ministério Público ou da autoridade judiciária, como diminuição das consequências
do ato infracional.

Importante se faz os ensinamentos de Mirabete:

A remissão pode ser concedida como perdão puro e simples, sem a


aplicação de qualquer medida, ou, a critério do representante do Ministério
Público ou da autoridade judiciária, como uma espécie de transação, como
mitigação das consequências do ato infracional. Nesta última hipótese ocorre
a aplicação de medida específica de proteção ou socioeducativa, excluídas
as que implicam privação da liberdade (encaminhamento aos pais ou
responsáveis, advertência etc). Excluem-se as medidas de semiliberdade e
internação diante do princípio do devido processo legal, consagrado na
Constituição Federal (art. 5º, LIV). Essa transação sem a instauração ou
conclusão do procedimento tem o mérito de antecipar a execução da medida
adequada, a baixo custo, sem maiores formalidades, diminuindo também o
constrangimento decorrente do próprio desenvolvimento do processo
(MIRABETE, 2003, p. 426-427).

De acordo com Cury, Silva e Mendez:

Quando a remissão constituir perdão puro e simples ou vier acompanhada


de medida que se esgote em si mesma, ocorrerá a exclusão do processo, se
concedida pelo representante do Ministério Público, ou a extinção do
processo, se concedida pelo juiz. Não ocorrendo uma dessas hipóteses, o
processo ficará suspenso até que se cumpra a medida eventualmente
aplicada pela remissão. As medidas aplicadas, ainda que pelo Ministério
Público, serão sempre executadas pela autoridade judiciária (CURY; SILVA;
MENDEZ, 2002, p. 413).

39
Conforme Chaves (1997, p. 566), a concessão da remissão como causa de
suspensão ou extinção do procedimento de investigação do ato infracional compete
à autoridade judiciária e, só serão aceitas no curso do processo, quando madura a
decisão ou quando alcançado o objetivo a que se presta o procedimento, qual seja, a
educação e a reintegração do adolescente às normas sociais de conduta. Já como
forma de exclusão do processo, é responsabilidade do membro do Ministério Público
podendo ser concedida quando comprovado que o início do procedimento não trará
benefícios ao adolescente.

O artigo 128 do Estatuto dispõe que a medida aplicada devido a remissão poderá ser
reanalisada judicialmente, em qualquer momento, mediante pedido expresso do
adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério Público.

Ao decidir a revisão, a autoridade judiciária poderá:

a) cancelar a medida aplicada, sendo retornada à situação processual


anterior;

b) substituí-la por outra, com exceção do regime de semiliberdade e da


internação;

c) convertê-la em perdão.

Para que seja aplicada medida de regime de semiliberdade ou internação deverá ser
instaurado o procedimento referente ao devido processo legal, ou então, se estava
suspenso ou extinto, será dado continuação na forma regular (FONSECA, 2006,
p.31).

Quanto à constitucionalidade dos artigos 126 a 128 Cury, Silva e Mendez (2002, p.
414), entendem que a aplicação da remissão com medidas previstas na lei não
acarreta, necessariamente, reconhecimento ou comprovação de responsabilidade,
nem predomina como antecedentes e, ainda, quando aplicada pelo Ministério Público
se sujeita ao controle jurisdicional.

Ademais, como estabelece o artigo 128, é facultado o pedido de revisão a qualquer


tempo. Portanto, esses artigos não podem ser considerados inconstitucionais
(FONSECA, 2006, p.33).

40
6-EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Aos adolescentes infratores serão impostas medidas socioeducativas, que são


designadas à formação do tratamento integral empreendido, com a finalidade de
reestruturar o adolescente para alcançar a normalidade da integração social.

São aplicadas medidas socioeducativas aos adolescentes quando estes estiverem


envolvidos na pratica do ato infracional, levando em conta sua capacidade de cumpri-
la, as circunstancias e a gravidade da infração. (ALVES, 2006, p. 46)

Uma medida quando bem executada, seja em meio fechado ou aberto, pode produzir
novos cenários aos adolescentes, inclusive para as famílias destes.

Segundo palavras de RAMIDORFFI:

Toda e qualquer medida legal que se estabeleça aos jovens, consoante


mesmo restou determinado normativamente tanto pela Constituição da
República de 1988, quanto pela Lei Federal 8.069, de 13.07.1990 e, também,
sobremodo, material e fundamentalmente, pela Doutrina da Proteção
Integral, deve favorecer a maturidade pessoal (educação), a afetividade
(valores humanos) e a própria humanidade (Direitos Humanos: respeito e
solidariedade) dessas pessoas que se encontram na condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento de suas personalidades (RAMIDORFFI, 2010,
p. 101).

Tendo por fundamento a doutrina integral, verifica-se que para atingir a finalidade da
medida socioeducativa, é importante destacar que se estabeleça uma proposta
socioeducativa, contando com orientação pedagógica psicológica e profissional
(MATOS, 2011, p. 37).

Tais medidas devem ser trabalhadas para o desenvolvimento dos menores infratores,
visando orientá-los quanto aos seus direitos e deveres perante a sociedade. Ainda,
buscando desenvolver a educação profissional para que possam pleitear
oportunidades de emprego, assim ser reinseridos na sociedade de forma que possam
sentir pertencentes a ela (MATOS, 2011, p. 37).

A aplicação das medidas socioeducativas impostas ao menor infrator conforme o


Estatuto da Criança e do Adolescente, juntamente com os valores humanos, são
temáticas e implicam quando não permitem certa recorrência necessária

41
precisamente nas ocasiões em que se afloram preconceitos vinculados apenas na
dimensão comportamental socialmente fixada.

Assim, faz-se necessário adotar certa instrumentalidade normativa se não novas


categorias jurídicas, instituindo a própria natureza jurídica que se atribui à medida
socioeducativa, para então, assegurar legalmente todas as oportunidades e
facilidades ao desenvolvimento de capacidades, realizações pessoais, seja na área
da infância ou juventude do desenvolvimento da própria personalidade (ELIZEU,
2010, p. 32).

As medidas socioeducativas previstas no ECA, possui caráter educativo pedagógico


e por isso, considera-se afirmar que tal medida não constitui sansão. A medida é a
estipulação de uma relação conceitual normativa, estimativa e limitada, para
assemelhar aquelas situações que permitem a intervenção do Estado. Resultando a
natureza jurídica educativa-pedagógica.

Para confirmar tal, veja o disposto no artigo 104 do referido diploma legal: “Art. 104.
São plenamente inimputáveis os menores de 18 (dezoito) anos, sujeitos às medidas
previstas nesta lei”, no mesmo sentido, exalta o art. 228 da Constituição da República
de 1988.

Assim, toda e qualquer medida legal que estabelecida aos jovens, restou determinado
normativo tanto pela Constituição, quanto pela Lei Federal 8.069 de 1990, devendo
priorizar a maturidade pessoal, afetividade e a própria humanidade, destes que se
encontram na condição peculiar de desenvolvimento de suas personalidades.

De acordo com Mario Luiz RAMIDOFF:

A medida socioeducativa é uma mistura complexa e plurimensional que não


se limita apenas na proposta material interventiva – intromissão e ingerência
estatal – e externa, mas também, compõe-se de razões profundas, quais tal
se origina e quais os valores fundamentais que traz em si. A medida
socioeducativa, por si só, já se configura numa intervenção – ingerência –
exterior sobre a pessoa do adolescente autor de um comportamento
contrário à lei. A questão central é precisamente a da idéia de educação não
apenas acerca do conteúdo ou valor que se pretenda oferecer “interiorizar”
mas, sim, auxiliá-lo – o adolescente – nas tomadas de decisões talvez mais
importantes de sua vida, quando não, auxiliando-o a realizar-se como pessoa
humana, também, enquanto tarefa pessoal. Em decorrência disso, é

42
importante dizer que a medida socioeducativa, não deixando de ser uma
ação moram, por certo, não se limita também a ser uma mera seqüência de
atos desconexos, nem uma pura execução mecânico-material de
determinados atos conexos, os quais são determinados por um
comportamento idealizado legalmente e tomado da experiência paralela do
mundo adulto como modelo. O exemplo mais eloqüente é a famigerada
proposta de uma “Lei de Diretrizes Socioeducativas”, através da qual
pretende-se resolver a histórica crise do Direito, qual seja, a sua falta de
efetividade. E mais uma vez, para isto, socorre-se da interposição legislativa,
vale dizer, da criação de mais e mais textos legais que, para além de uma
conformação interna e autoprodutiva do próprio Direito, também, relativiza
todo um sistema conjugado de garantias, enfraquecendo, pois, os valores
fundamentais, precisamente, pelo paralelismo legislativo, ou seja, pela
difusão de regras e regulamentos (RAMIDOFF, 2008, p. 101-102).

Ainda se tem divergências quanto a natureza jurídica das medidas socioeducativas,


pois alguns doutrinadores entendem que elas têm o caráter de reeducar, ressocializar
e outros acreditam que ao estabelecer o art. 112 do Estatuto, medida privativa e
restritiva de liberdade, impôs-se natureza sancionatória (CASSANDRE, 2008, p. 48).

As medidas estão postas no Estatuto e foram descritas de forma correta, pois a


finalidade não é punir e sim ressocializar o adolescente para que este possa viver em
sociedade. Na pratica, observa-se que tais medidas não possuem eficácia, uma vez
que aplicados de forma incorreta, como prevê o ECA (CASSANDRE, 2008, p. 48).

Percebe-se que as medidas impostas aos menores infratores estão distantes de


atingir o objetivo para que foram criadas, já que no dia-a-dia observa-se que as
crianças e adolescentes recebem essas medidas e logo cometem novamente o ato
infracional, não se conscientizando o ato que praticou.

Em nosso país existem programas sociais para reeducar e ressocializar o menor


infrator, porém muitas vezes esses projetos se tornam ineficazes, pois família que
nesta fase é de extrema importância, não participa dos trabalhos realizados pelos
profissionais o que dificulta a inserção dos jovens infratores. Ainda, em alguns
projetos como a Fundação Casa, onde os adolescentes na verdade ficam presos, tal
maneira não permite a evolução e a capacidade de reinserção na sociedade, valendo
ressaltar que na maioria dos casos esses adolescentes ao saírem voltam a cometer
atos infracionais (CASSANDRE, 2008, p. 49).

43
É interessante ressaltar o papel da autoridade judiciária, que para que as medidas
socioeducativas tenham efeito, é necessário que o Juiz a aplique de forma inteligente,
sendo analisado cada caso concreto.

A eficácia das medidas está diretamente ligada a um atendimento completo que


promova além de escolarização, profissionalização, projetos que visem a reinserção
do jovem infrator na sociedade ainda e atendimento médico especializado, uma
mobilização de todo o Estado e sociedade no auxílio e monitoramento dos
adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas.

As medidas de prestação de serviços e a liberdade assistida possibilitam uma


melhora no comportamento do menor infrator, pois proporciona a ele oportunidades
de ressocialização, pois estão em contato com a sociedade e ainda permite que o
adolescente reflita sobre seus atos (MATOS, 2011, p. 45).

Com relação a medida de privação de liberdade, está é a maneira menos eficaz e


mais cruel de aplicação das medidas socioeducativas, pois além de excluir o menor
infrator do convívio familiar, também é retirado da sociedade, contando apenas com
as regras da instituição e com outros infratores que talvez sejam delinquentes
irrecuperáveis, pois muitas das vezes o adolescente que não é de alta periculosidade
ou não cometeu infração usando de violência ou grave ameaça, passa a conviver com
jovens que podem e vão ensinar sua maneira de agir, marginalizando todos os outros
conviventes. Desta forma o regime que poderia ser positivo, acaba por influências os
outros internos (MATOS, 2011, p. 47).

Nota-se que a intenção do Estatuto da Criança e do Adolescente, é a de conferir às


medidas socioeducativas um caráter pedagógico-protetivo, entretanto, aqui no Brasil,
isto não vingou, pois não há estrutura para tal. Assim mesmo possuindo uma
legislação voltada a proteção da classe infanto-juvenil, o país não consegue conferir-
lhe a aplicabilidade. A falha não advém da normatização do sistema, mais sim do
despreparo das instituições para execução das medidas socioeducativas
(CASSANDRE, 2008, p. 49).

Dessa forma, o Estatuto da Criança e do Adolescente não determinou a aplicação de


sanções aos atos infracionais, mas sim, apresentou meios para que o menor infrator
seja reinserido na sociedade. Porém, para que isso ocorra em sua eficácia plena, é

44
necessário que o Estado seja utilizado corretamente, sendo observada a realidade
adolescente infrator (CASSANDRE, 2008, p. 49).

O Estatuto da Criança e do Adolescente juntamente com Constituição Federal de


1988, em seu texto, visa que os direitos sejam resguardados e garantidos as crianças
e adolescentes, mais também impõe deveres e estes também devem ser respeitados.

Por muitos anos, as crianças e adolescentes não tinha a devida proteção, seus
direitos e garantias deixava a desejar justamente na fase de desenvolvimento, onde
a criança necessita de mais atenção e cuidado. Com a promulgação do texto
constitucional de 1988, deu-se mais ênfase à infância e juventude, dando a eles
proteção integral, ou seja, que as crianças e adolescentes sejam sujeitos de direito,
com garantias e prioridade absoluta.

A adolescência é uma fase de grandes transformações, na qual o indivíduo está se


preparando para entrar no mundo adulto que lhe dará muitas responsabilidades. E é
nesta fase que o apoio da família e da escola é de extrema importância, pois é onde
se busca atividades que vão desenvolver o aprendizado profissional, e também serão
estabelecidos os valores de uma sociedade. O Estado tem o dever de dar incentivo
oferecendo uma educação de qualidade, profissionalização, acompanhamento
médico e psicológico à estes jovens incluindo seus familiares, isso é feito pelo
desenvolvimento das políticas públicas.

A criança/adolescente que comete um ato infracional está infringindo a lei, e para isso
o Estatuto criou algumas regras para que este menor infrator responda pelo ato
infracional. O ECA dá ao adolescente uma condição especial para que este possa
buscar o desenvolvimento, reeducando o menor para que ele reflita as consequências
do ato infracional que cometeu, tentando desta forma fazer com que ele não cometa
mais nenhum ato infracional.

Assim que o adolescente comete o ato, será responsabilizado e estará sujeito a


cumpri a medida socioeducativa para a reparação do dano que cometeu. A aplicação
desta medida oferece ao autor do ato a oportunidade de reparação e ainda o
desenvolvimento pessoal e social. Está aplicação não visa pura e simplesmente em
punir o infrator, mais orientá-lo sobre seus atos.

45
Embora o Estatuto estabeleça direitos e garantia a esses menores infratores, nem
sempre há uma recuperação destes menores, aos quais possamos considerá-los
ressocializados por completo, pois alguns ainda insistem em cometer novos atos
infracionais.

Partindo deste pressuposto, objetivo do Estatuto da Criança e do Adolescente é que


todas as suas medidas socioeducativas ressaltem a natureza pedagógica, e
reeducação, ressocialização, fazendo que desperte nos adolescentes os valores
sociais para sua formação.

O adolescente infrator possui várias peculiaridades sejam na falta de estrutura familiar


e como na falta de oportunidades. Assim, essa perda da adolescência causa danos,
pois ele deixa de vivenciar as experiências e aprendizados necessários a sua
formação o que poderá levá-lo a cometer atos infracionais.

O que se percebe é que nos dias atuais tais medidas não cumprem o caráter
ressocialização, mais apresentam um caráter punitivo pelo ato infracional, e desta
forma, as medidas aplicadas aos menores infratores não atingem por completo sua
eficácia.

Vale ressaltar que a culpa não é apenas o Estado da precariedade da infância e


adolescência no nosso país, a família e a sociedade também deve se preocupar com
esses adolescentes infratores, devendo acompanhar e orientar.

As medidas socioeducativas têm objetivo de ressocializar e reinserir o infrator no seio


da sociedade e não deve ser confundida como sanção. Portanto, as medidas
privativas de liberdade, assemelha-se as sanções dadas pelo Direito Penal Brasileiro,
pois com o descaso das entidades de internação desses menores infratores, não irão
proporcionar o atendimento e a aprendizagem necessária para o desenvolvimento
deste menor na sociedade.

Conclui-se que, as medidas socioeducativas aplicadas em regime aberto têm maior


eficácia, pois atinge mais o objetivo proposto pelo ECA, promovendo ao menor infrator
as oportunidades de aprender e desenvolver responsabilidades, permanecendo no
ceio familiar e social, e desta forma dando o cumprimento da medida socioeducativa.

46
Entretanto, vale destacar que a maioria dos atos infracionais ocorrem por causa do
meio em que se encontram os menores infratores, não oferecendo ao adolescente
infrator condições de aprender, de refletir sobre o ato infracional cometido.

Para que haja uma mudança, é necessário que haja mais investimento na política
social, dando aos adolescentes infratores mais oportunidades pra formarem um futuro
melhor. É necessário ainda que as medidas socioeducativas sejam aplicadas de
correta, usando seu caráter pedagógico, pois só assim, a criminalidade infantil será
solucionada e a reinserção destes infratores será por completa.

47
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