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Evolução histórica das
políticas públicas de
Juventude
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Conteudista:
Carlos Adriano Ferraz (Conteudista, 2021);
Enap, 2021
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Sumário
Referências..............................................................................................................................................................17
Referências..............................................................................................................................................................25
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MÓDULO
Objetivo de aprendizagem
Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer o conceito de juventude e o cenário histórico referente
à participação do jovem no processo sócio-político brasileiro.
Juventude.
Fonte: Portal CIEE. Disponível em: https://portal.ciee.org.br/tags/dia-internacional-da-juventude
De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), a juventude é melhor compreendida como
o período de transição da dependência da infância à independência da vida adulta:
Por essa razão, enquanto categoria, a juventude é mais fluída do que qualquer outro grupo etário.
Não obstante, a idade é a maneira mais fácil de definirmos esse grupo, particularmente em relação à
educação e à empregabilidade, pois nos referimos ao ‘ jovem’ como uma pessoa com idade de deixar o
ensino compulsório e encontrar seu primeiro emprego¹.
Para fins estatísticos, especialmente voltados para a elaboração de políticas públicas, a ONU estabeleceu
que a juventude se estende dos 15 aos 24 anos. No entanto, ela não pretende interferir nos critérios
utilizados pelos países que a constituem.
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E você sabe qual faixa etária o Brasil entende como juventude? Veja como o jovem aparece na nossa legislação:
Estatuto da Juventude
No Brasil, o jovem é definido como aquele indivíduo com idade entre 15 e 29 anos de idade
(Estatuto da Juventude, Lei n° 12.852 de 5 de agosto de 2013).
Aos adolescentes com idade entre 15 e 18 anos aplica-se a Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, e, excepcionalmente, o Estatuto da Juventude,
quando não conflitar com as normas de proteção integral do adolescente.
Sendo assim, toda política pública para a juventude deve ser planejada e efetivada tendo em mente esse
grupo bastante abrangente. Portanto, além de fazer parte de uma faixa etária específica, que aspectos
fundamentais caracterizam a juventude?
A juventude e o futuro.
Primeiramente, importa notar que juventude é uma categoria que sempre denota o porvir: enquanto o idoso nos
remete ao passado, a uma história que deve ser reconhecida e levada em consideração para nosso aprendizado
referente à nossa narrativa histórica (em um valioso diálogo intergeracional), o jovem aponta para o futuro, não
apenas para o seu futuro em particular, mas para o futuro da sociedade de uma maneira abrangente.
Aliás, é da natureza do jovem pensar no futuro, especificamente em seu futuro enquanto indivíduo. Um
jovem que prospera individualmente conduz ao desenvolvimento nacional e, mesmo, global. Essa é, aliás, a
história da criação de riqueza. Indivíduos empreendedores avançaram desde um ponto de vista pessoal e,
em alguma medida, assentaram os pilares para a prosperidade social.
Dessa maneira, quando pensamos no futuro do Brasil, faz-se necessário nos perguntarmos, antes de tudo,
o seguinte: quem serão seus protagonistas? A quem cabe pavimentar o caminho para nossa prosperidade?
Ora, caberá especialmente ao jovem, mantendo-se o diálogo intergeracional.
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A importância do diálogo intergeracional
Jovens podem ensinar novidades sobre tecnologias e redes sociais para os mais idosos. Já as pessoas mais ido-
sas possuem relatos e experiências que ajudam na construção da identidade das novas gerações. Enquanto o
ancião traz consigo uma história imersa em experiências que ajudam o jovem na construção de sua história, a
juventude é o elo que deverá conectar a história passada ao futuro rumo ao avanço civilizacional.
Diálogo Intergeracional.
Fonte: Portal do Envelhecimento. Disponível em: https://www.portaldoenvelhecimento.
com.br/programas-intergeracionais-e-suas-potencialidades-sao-tema-de-curso/
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos tem realizado ações de incentivo às práticas
intergeracionais, como você pode ver neste vídeo disponibilizado na plataforma YouTube:
O diálogo intergeracional também é destacado nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU por
meio do “Compromisso da ONU com a Juventude" em seu departamento DGC Youth Representatives Programme.
Saiba mais
Para assistir ao fórum promovido pela ONU que tratou sobre a importância do diálogo
intergeracional para a promoção do desenvolvimento das nações, clique aqui.
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A juventude como transição
Como sabemos, a insegurança é comum aos jovens, os quais vivem em uma espécie de “fase de transição”, entre
um mundo no qual eles geralmente são tutelados (frequentemente pelos pais, mas muitas vezes por políticas esta-
tais) e um ‘novo mundo’, em que eles se tornarão mais autônomos, cada vez mais responsáveis por suas vidas. Ou,
como colocado no texto da ONU, eles estão entre a “dependência da infância” e a “independência da vida adulta”.
Os jovens, particularmente aqueles que atingiram os 18 anos de idade, estão deixando a educação como atividade
primária para se voltarem para a empregabilidade (ou para o empreendedorismo). Enquanto a educação deve lhes
oferecer o instrumental para a construção de sua biografia, a empregabilidade (ou o empreendedorismo) implicará
a aplicação de seu aprendizado pregresso à pavimentação do caminho para a prosperidade (sua e de seu entorno).
É fundamental analisarmos o jovem situado em seu contexto de formação educacional e cultural. Em um primeiro
momento, faz-se necessário reconhecermos o aspecto fundamental de sua formação (Paideia) mediante a educa-
ção, a qual deve contribuir para o avanço de sua plena realização cognitiva e moral. A propósito, não surpreende,
pois, que na idade média as chamadas “artes liberais” começassem na aurora da juventude, em torno dos 14/15
anos. Com efeito, as chamadas “artes liberais” são aqueles sete ramos do conhecimento que iniciam o jovem na
vida de aprendizado (“arte”, aqui, indica “ensino”), o que revela um aspecto fundamental dessas “artes”: seu pro-
pósito não é tanto oferecer conteúdo, mas aperfeiçoar as capacidades cognitivas e morais que permitirão ao jovem
adquirir apropriadamente conteúdo e ascender humanamente.
Resgatando a história, na idade média os jovens tinham grande estímulo ao ensino das artes
liberais com o objetivo de tornar o indivíduo livre, autônomo, capaz de dar a si mesmo a lei para
a determinação do agir e assim contribuir para a sua prosperidade e a da sua nação.
Trivium 1. GRAMÁTICA
(voltado para a
linguagem , para
2. LÓGICA
a mente, o estudo
começava em torno
dos 14 anos) 3. RETÓRICA
ARTES LIBERAIS
4. ARITMÉTICA
Quadrivium
(voltado para o 5. GEOMETRIA
mundo das coisas, o
estudo começava em 6. MÚSICA
torno dos 20 anos)
7. ASTRONOMIA
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De qualquer maneira, embora essa divisão tenha sido sistematizada na idade média, na Grécia antiga tais
“artes” já estavam presentes em filósofos como Pitágoras e Platão. Na verdade, o desenvolvimento das
“artes liberais” na era medieval foi uma forma de resgatar a ideia Greco-romana de Paidéia, de ‘formação’.
Nesse sentido, são resgatadas aquelas “artes” que, segundo autores como Agostinho, aprimoram a
civilização (primeiramente aprimorando o indivíduo – particularmente o jovem). Dessa forma, não se trata
de apenas um uso instrumental dessas “artes”.
Somente após essa formação nas “artes liberais” o jovem estaria, por exemplo, pronto para ingressar na
universidade e estudar, em áreas como Direito, Teologia, Medicina e Filosofia. Portanto, a formação nas
“artes liberais” envolve o desenvolvimento de nossas habilidades cognitivas e morais.
Dessa maneira, o Trivium (“artes da linguagem”), por exemplo, funcionaria como “exercício para a mente”.
Esse exercício resultaria em “cultura”, compreendida, aqui, naquele sentido proposto pelo poeta inglês
Matthew Arnold (1822-1888), a saber, como “sweetness and light”, isto é, como “o conhecimento de nós
mesmos [de nossa mente] e do mundo [matéria]”.
Uma juventude plena e autônoma abrange alguns elementos fundamentais, não apenas referentes à
educação (ela é necessária, mas não suficiente): envolve a educação em um núcleo familiar e em uma cultura.
Sua formação, aqui, é entendida em um sentido mais amplo. Assim sendo, essa formação o capacitará
para o futuro, seja no âmbito das relações humanas seja no da perspectiva profissional. Tanto a educação
quanto um ambiente familiar são categorias fundamentais quando pensamos na formação do conceito de
juventude, especialmente em virtude de sua relação com o futuro.
Nossos antepassados, ainda que sem o conhecimento Desse modo, a união familiar implica tanto em uma
teórico que hoje possuímos, estavam certos em mui- abertura à procriação e ao cuidado das crianças quan-
tos aspectos (o que corrobora a ideia de que primeiro to na ‘fides’, a qual não se restringe à mera tradução li-
surgiu a sabedoria, sendo que somente depois adveio teral “fidelidade”, mas inclui exclusividade, permanên-
a reflexão). Por exemplo, em sua defesa da família dita cia, prontidão e o compromisso positivo de estar unido
(em uma perspectiva jusnaturalista) “natural” (ou “tra- com o cônjuge na mente e no corpo, em uma vida do-
dicional”). Muitas instituições (e valores) surgiram no méstica de mútua assistência. Trata-se de promover
contexto de uma ordem espontânea (catalaxia) com o pleno desenvolvimento do outro, assegurando seu
esse propósito. Hoje sabemos, e isso mesmo por ra- “florescimento humano”, algo descrito de forma para-
zões seculares, o que ocorre quando dissolvemos digmática por Viktor Frankl (2017): “o amor é a úni-
instituições surgidas espontaneamente, as quais as- ca maneira de entender outro ser humano no âmago
soalharam o caminho para a prosperidade humana mais profundo de sua personalidade. Ninguém pode
(material, “espiritual” – ou ‘moral’ lato sensu): ao dis- tornar-se plenamente consciente da própria essência
solvermos tais instituições e valores dissolvemos con- do outro, a não ser que ame. Por seu amor, alguém
sequentemente nosso tecido social moral, e isso com está habilitado a ver os traços essenciais e recursos na
diversos efeitos deletérios sobre os indivíduos e sobre pessoa amada; e ainda, ele vê o que é potencial nela,
a sociedade, algo mensurado por diversas ciências. e o que não está atualizado, mas deve ser realizado”.
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Desintegração familiar do jovem
Fonte: SINEP/MG. Disponível em: https://sinep-mg.org.br/posts/lei-federal-busca-
prevenir-automutilacao-e-suicidio-entre-jovens-medida-traz-impactos-as-escolas
Como vimos, a juventude aponta para o futuro. Todavia, jovens imersos em ambientes disfuncionais e sem
a devida formação (educação) muito provavelmente terão suas perspectivas de futuro destruídas, e muitos
sequer terão futuro (lembremos que a segunda causa de morte entre os jovens é o suicídio, precedida,
segundo dados do ‘Atlas da Violência 2020’, pela violência interpessoal).
Saiba mais
Nesse sentido, o Observatório Internacional da Família (Family International Monitor - FIM) publicou
recentemente um relatório que demonstra a relação de famílias estruturadas com a vulnerabilidade social
e econômica. O documento pesquisou por três anos dados de 12 países, incluindo o Brasil, e destaca a
necessidade de se implementar Políticas Públicas para o fortalecimento dos vínculos familiares como recurso
mais importante para lidar com as tensões internas e externas e as dificuldades do cotidiano de jovens.
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Jovem em família
Fonte: www.familia.com.br.
Segundo Antônio Maria Baggio, faz-se necessária a reflexão política, jurídica e social da fraternidade por
meio da solidariedade, em que a criação de vínculos, troca de experiências e de conhecimento fortaleçam o
comprometimento coletivo para a construção de uma sociedade mais solidária e justa. Todos temos direitos
e deveres atinentes à comunidade, na qual alcançamos a plena realização enquanto pessoas (indivíduos).
Ainda que sejamos indivíduos, ou seja, a menor unidade social, nosso pleno florescimento, enquanto
pessoas, somente ocorre no contexto comunitário.
Afinal, como disse o filósofo grego Aristóteles, somos “sociais” por natureza: "não menos estranho seria
fazer do homem feliz um solitário, pois ninguém escolheria a posse do mundo inteiro sob a condição de viver
só, já que o homem é um ser político e está em sua natureza o viver em sociedade.”.
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Conheça a seguir algumas ações do Governo Federal com foco na população jovem e na família:
Desenvolvido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, por meio da Secretaria Nacio-
nal da Família, é uma ferramenta de fortalecimento de vínculos familiares como caminho para a prevenção
de comportamentos que possam gerar prejuízo social, físico e/ou emocional a crianças, adolescentes e suas
famílias. Os objetivos específicos são:
O programa é baseado em uma metodologia britânica e foi conduzido pelo Ministério da Saúde de 2013 a
2018. Acesse aqui os vídeos e materiais didáticos do Programa Famílias Fortes que pode ser implementado
em todos os municípios do Brasil.
De acordo com Fox e Kumpfer e outros pesquisadores, as intervenções direcionadas para o fortalecimento fa-
miliar representam um caminho favorável à prevenção de comportamentos de risco em crianças e adolescentes.
Valente, Moreira e Sanchez afirmam que o estilo parental, ou seja, o modo como os pais educam seus filhos,
pode ser um fator de proteção ou de risco para o consumo de álcool e outras drogas na adolescência.
Nock apresenta estudos sobre o casamento produzir efeitos positivos sobre o bem-estar econômico e a
saúde tanto dos adultos, quanto das crianças.
Segundo o IBGE, 56,9% das pessoas que estão abaixo da linha da pobreza vivem numa família monoparental.
Estudos apresentados por Rector afirmam que a criação em uma família formada por um casal reduz a
probabilidade de a criança viver na pobreza em cerca de 80%.
Para Sarti, a vulnerabilidade maior se encontra nas famílias chefiadas por mulheres, situação que torna frágeis
mãe e filhos. Trata-se de promover condições que permitam reverter essa situação, pelo fortalecimento tanto
do lugar social da mulher, quanto do lugar do homem na família. As crianças serão seguramente beneficiadas.
Descubra como implementar políticas públicas familiares em seu município ou Estado, acessando aqui a
cartilha desenvolvida pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
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Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio
A Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, instituída na Lei nº 13.819, de 26 de abril de 2019,
pretende ser uma estratégia permanente do poder público para a prevenção desses eventos e para o tratamento
dos condicionantes a eles associados. A política está sendo implementada pela União, em cooperação com os Es-
tados, o Distrito Federal e os Municípios, e com a participação da sociedade civil e de instituições privadas.
A Lei estabelece que escolas, tanto públicas como privadas, notifiquem aos conselhos tutelares toda suspeita ou
ocorrência confirmada envolvendo violência autoprovocada.
O Decreto nº 10.225, de 5 de fevereiro de 2020, instituiu o Comitê Gestor da Política Nacional de Prevenção da Au-
tomutilação e do Suicídio, estabelecendo normas relativas à notificação compulsória de violência autoprovocada.
Curso Política Nacional sobre Drogas: o que os gestores estaduais e municipais precisam saber
Curso 100% online e gratuito, com carga horária de 20 horas, promovido pela Secretaria Nacional de Cuidados
e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania (SENAPRED-MDS), e amparando as demandas de atuação
dos gestores estaduais e municipais, além do público em geral. A carga horária foi distribuída em 5 módulos:
CARGA
MÓDULOS HORÁRIA
Ambientação no curso 1 hora
Total 20 horas
O Pátria Voluntária, instituído no Decreto nº 9.906, de 9 de julho de 2019, tem como finalidade promover o
voluntariado de forma articulada entre o Governo, as organizações da sociedade civil e o setor privado; e
incentivar o engajamento social e a participação cidadã em ações transformadoras da sociedade.
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1.2 História da participação política do jovem no Brasil
Bom, pessoal, agora que aprendemos o conceito de juventude, convidamos vocês para, juntos, fazermos
uma rápida viagem pelo “túnel do tempo”. A ideia é conhecer um pouco sobre a participação política dos
jovens nos momentos mais significativos da nossa história e verificar suas contribuições para as conquistas
democráticas do presente.
Grande parte da história política brasileira pode ser contada como a história das lutas pela institucionalização
dos direitos civis, políticos e sociais da população.
Direitos Civis
Direitos Políticos
Essa tríade de direitos, hoje, integra a Constituição Federal de 1988 em benefício do conjunto da população,
resultado de anos de lutas do povo brasileiro, num processo de idas e vindas, avanços e retrocessos, sempre
contando com a decisiva mobilização e energia de sua juventude.
Uma vez independente de Portugal, o Brasil iniciou uma era de institucionalização, lenta e progressiva, de
direitos políticos e de estruturação do sistema representativo de governo. A Constituição imperial de 1824
trouxe a novidade do direito ao voto, porém, restrito aos maiores de 25 anos e possuidores de renda acima
de 100 mil réis.
Na luta contra a escravidão, destaca-se a participação da juventude universitária das poucas faculdades do
período, enquanto jovens militares empunham as bandeiras do republicanismo. São eles que, no início do
século XX, agitam a cena política dominada pelos barões do café e pelo coronelismo.
A Proclamação da República representou alguns avanços na luta por direitos de participação, entre os
quais se destacam a eleição direta para presidente e a supressão da exigência de renda mínima para o voto.
Entretanto, o novo regime, longe de ser reconhecido como democrático, mantinha boa parte da população
excluída do processo político, tais como os analfabetos, as mulheres, os soldados, entre outros segmentos.
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Coube à juventude, mais uma vez, a ousadia de contestação da
ordem estabelecida. Entre os principais movimentos contra o
domínio das oligarquias, destaca-se o Tenentismo, quando jovens
oficiais lideram uma série de levantes dentro e fora dos quartéis.
No fim dos anos 1930, surge a União Nacional dos Estudantes (UNE), em torno da qual a juventude oriunda
da classe média ganha organização e poder de influência na sociedade, fortalecendo as lutas nacionalistas
do período, como foi o caso da campanha “O petróleo é nosso”, e campanhas de apoio aos combatentes
brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial.
Os anos do pós-guerra registram uma clara ascensão da juventude em proporções mundiais. Estava em
gestação uma consciência cada vez mais contestadora não só dos rumos da política, como também dos
valores culturais vigentes, alcançando grande destaque durante a intensa década de 1960. No Brasil,
diante das tensões políticas e ideológicas que retardaram o avanço democrático do país, as organizações
estudantis se enveredam por um ativismo político, provocando reações do governo.
Os exaltados ânimos dos 1960 se acalmaram nas décadas seguintes. As organizações estudantis perderam
representatividade entre os jovens e esses perderam cada vez mais referências para reagir diante do
agravamento da crise econômica do país nos anos 1980 e 1990. A juventude se fez presente nas grandes
manifestações do período, como os movimentos a favor das Diretas Já e em prol do pedido de impeachment
ocorrido na época, mas essa participação não se reverteu em organização para dar continuidade à
mobilização e à procura de novas práticas políticas.
O início do novo milênio e do século XXI trouxe novas e boas perspectivas para a juventude. A
globalização e a revolução tecnológica proporcionaram uma impressionante democratização
do acesso à informação, abrindo caminhos promissores aos jovens no mundo do trabalho e
novos canais de expressão e participação política.
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Foi assim que a juventude brasileira irrompeu no cenário político, nos anos 2010, com contundentes
mobilizações em defesa de uma ampla pauta de mudanças nos rumos da economia do país e no sistema
político corroído pela corrupção.
Diferente de outras épocas, desta vez os jovens têm sido muito mais do que simples números para engrossar
manifestações, exercendo influência política no processo decisório, assim como assumindo responsabilidades
de gestão pública, seja na administração estatal, seja participando de fóruns, conselhos ou conferências,
colocando todo o seu potencial de inovação e criatividade a serviço do desenvolvimento nacional.
O fato é que as políticas públicas de juventude, desde a formação do estado brasileiro, evoluíram de acordo
com as concepções vigentes em cada época acerca desta categoria social. Até a primeira metade do século
XX, prevalecia a concepção de que a juventude era meramente uma fase de transição para a vida adulta,
requerendo do poder público políticas destinadas a preparar os jovens para os desafios do futuro.
Abaixo, conheça algumas das iniciativas de políticas públicas dos governos neste período:
Organização com a finalidade de promover o controle social e o culto aos valores cívicos
junto aos jovens, instituindo a obrigatoriedade da educação moral, cívica e física da infância
e da juventude. Esta organização teve vida curta, sendo extinta em 1945.
Entre as décadas de 1950 e 1980, praticamente, não houve por parte do Estado brasileiro iniciativas de
políticas públicas de juventude. No máximo, houve políticas extensivas à juventude, principalmente no
campo da educação, como as diversas reformas promovidas no ensino básico e superior.
Em razão do agravamento do quadro de vulnerabilidade, no qual parcelas significativas dos jovens brasileiros
sofrem o problema da exclusão, desigualdade social, discriminações e violência, os anos 1990 registram o
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surgimento de diversas ações e programas voltados para combater esta situação, tendo como beneficiários
jovens na faixa etária atualmente entendida como juventude: Programa de Capacitação Solidária, Projeto
Rede Jovem e Programa Alfabetização Solidária, entre outros.
Nos anos 2000, o Governo Federal criou uma estrutura específica para tratar os problemas da juventude
brasileira. É o que prevê a Lei nº 11.129, de 30 de junho de 2005, criando a Secretaria Nacional da Juventude
- SNJ e o Conselho Nacional da Juventude - CONJUVE, além de instituir o Programa Nacional de
Inclusão de Jovens – ProJovem.
Você sabe qual foi o ponto de inflexão na evolução das políticas de juventude no Brasil?
Na verdade, temos dois momentos que são divisores de água na política nacional de juventude: o
reconhecimento dos jovens como sujeitos de direitos, em 2010, com a promulgação da Emenda Constitucional
nº 65; e a sanção da Lei nº 12.852, de 2013, instituindo o Estatuto da Juventude, que regulamenta os dispositivos
constitucionais referentes aos direitos dos jovens e a criação do Sistema Nacional de Juventude – SINAJUVE.
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Referências
BAUER, Susan Wise. Como Educar sua Mente. São Paulo: É Realizações, 2015.
BRASIL. Atlas da Violência 2020. Ministério da Economia. Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada. IPEA. Brasília. 2020.
BRASIL. Lei nº 11.129, de 30 de junho de 2005, que “Institui o Programa Nacional de Inclusão
de Jovens – ProJovem; cria o Conselho Nacional da Juventude – CNJ e a Secretaria Nacional
da Juventude, e dá outras providências.” Publicado no DOU de 01/07/2005.
BRASIL. Lei n° 12.852 de agosto de 2013, que institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre
os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o
Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE.
CPDOC-FGV. Arquivo Getúlio Vargas. Verbete “Juventude Brasileira”. Disponível em: http://www.fgv.
br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/juventude-brasileira-1. Acesso em: 23 jun. 2021.
ESPADA, João Carlos. Família e Políticas Públicas. Parede/Portugal: Editora Princípia, 2014.
IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população
brasileira: 2018. Rio de Janeiro: IBGE, 2018.
NOCK, S. Marriage as a public issue. The Future of Children, v. 15, n. 2, p. 13-32, 2005
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Referências
SARTI, C. A. Algumas questões sobre família e políticas sociais. In: JACQUET, C.; COSTA, L.F.
(Org.). Família em mudança. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2004.
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Unidade 2. Legislação sobre juventude
Objetivo de aprendizagem
Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer os direitos da juventude constantes na Constituição
Federal, Estatuto da Juventude e demais legislação infraconstitucional, assim como a estrutura federal de
coordenação e execução das políticas de juventude.
A mesma emenda também modificou o artigo 227, para cuidar dos interesses da juventude com “absoluta
prioridade”, cujo caput prevê:
Ainda conforme a Emenda nº 65, a lei deveria estabelecer o Estatuto da Juventude, regulamentando os
direitos dos jovens, e um plano nacional de juventude, visando articular as diferentes esferas do poder
público para execução de políticas públicas.
O Estatuto da Juventude
A Lei 12.852, de 5 de agosto de 2013 instituiu o Estatuto da Juventude, além de dispor sobre os direitos dos jovens,
os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE.
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Estatuto da Juventude
Fonte: MMFDH - https://www.gov.br/mdh.
Pelo Estatuto, são garantidos aos jovens entre 15 e 29 anos os seguintes direitos:
2 Direito à educação;
5 Direito à saúde;
6 Direito à cultura;
Direitos da Juventude
Fonte: Imagem criada por Pedro Tomaz de Oliveira Neto
Além dos direitos arrolados acima, o Estatuto contempla os jovens com mais dois benefícios:
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Sistema Nacional de Juventude
Em relação ao Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE, sua criação visa organizar e articular de forma
participativa os entes federativos e as unidades de juventude para o planejamento, a implementação, o
acompanhamento e a avaliação das ações, planos e programas que constituem as políticas públicas de
juventude em todo o país.
Ainda sobre o SINAJUVE, este foi regulamentado pelo Decreto nº 9.306, de 15 de março de 2018, alterado pelo
Decreto nº 10.226, de 05 de fevereiro de 2020.
Para saber mais sobre a legislação sobre juventude, acesse aqui o artigo
“Legislação voltada à juventude do Brasil nos últimos 30 anos”, de Antônio
Reis e Milton Shintaku
A política nacional de juventude tem como órgão coordenador a Secretaria Nacional da Juventude – SNJ do
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Com o Decreto nº 9.673, de 2 de janeiro de 2019, a Secretaria passou a integrar a estrutura do Ministério
da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos - MMFDH, atuando na articulação de todos os projetos e
programas destinados, em âmbito federal, aos jovens brasileiros.
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Formular, supervisionar, coordenar, integrar e articular políticas públicas
para a juventude e porpor a adequação e o aperfeiçoamento da legislação
relativa aos temas de sua competência
Compondo a estrutura administrativa da Secretaria Nacional da Juventude e atuando de forma conjunta com
o Gabinete, há a Secretaria-Executiva do Conselho Nacional da Juventude – CONJUVE que tem, dentre
outras competências, dar ampla publicidade aos atos deliberados no Conselho Nacional da Juventude,
assistir o Secretário Nacional nas ações estratégicas de suporte aos Conselhos Municipais, Estaduais e
Distritais de Juventude e assessorar a Comissão Organizadora da Conferência Nacional da Juventude.
SECRETARIA NACIONAL DA
JUVENTUDE - SNJ
Coordenação-Geral de Gestão -
CGG.SNJ
Coordenação-Geral de Projetos -
CGP.SNJ
Coordenação-Geral de
Desenvolvimento - CGDE.SNJ
Coordenação-Geral de Cidadania -
CGCID
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Conheça as competências da Secretaria Nacional da Juventude, de seu
Departamento de Políticas Temáticas dos Direitos da Juventude e suas
Coordenações, acessando aqui o Regimento Interno do MMFH, a Portaria nº
3.136, de 26 de Dezembro de 2019.
O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) foi criado em 2005 pela Lei nº 11.129. Suas competências
foram definidas pelo Decreto nº 10.069, de 17 de outubro de 2019, quais sejam:
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O CONJUVE é composto por 30 conselheiros, sendo 20 representantes da sociedade civil e 10 representantes
do poder público, indicados para mandato de dois anos, mediante eleição direta. Os cargos de presidente
e vice-presidente do Conselho são exercidos de forma alternada, a cada ano, entre governo e sociedade.
10 representantes indicados pela SNJ e por todos os 20 representantes dos movimentos juvenis,
ministérios que possuem programas voltados para organizações não governamentais, especialistas
os jovens; a Frente Parlamentar de Políticas para e personalidades com reconhecimento público
a Juventude da Câmara dos Deputados; o Fórum pelo trabalho que executam nessa área.
Nacional de Gestores Estaduais de Juventude; além
das associações de prefeitos.
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Referências
BRASIL. Decreto 10.069, de 17 de outubro de 2019, que dispõe sobre o Conselho Nacional da
Juventude. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/
decreto/D10069.htm>. Acesso em: 24 jun. 2021.
BRASIL. Lei 11.129, de 30 de junho de 2005, que institui o Programa Nacional de Inclusão de
Jovens – ProJovem; cria o Conselho Nacional da Juventude – CNJ e a Secretaria Nacional
de Juventude; altera as Leis nº s 10.683, de 28 de maio de 2003, e 10.429, de 24 de abril de
2002; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2004-2006/2005/lei/l11129.htm>. Acesso em: 24 jun. 2021.
BRASIL. Lei n° 12.852 de agosto de 2013, que institui o Estatuto da Juventude e dispõe
sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude
e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12852.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%20
12.852%2C%20DE%205%20DE%20AGOSTO%20DE%202013.&text=Institui%20o%20
Estatuto%20da%20Juventude,Sistema%20Nacional%20de%20Juventude%20%2D%20
SINAJUVE>. Acesso em: 24 jun. 2021.
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