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PSICOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO II

Adolescência na era digital

Porto Alegre 09-2021

Graduandos no Curso de Psicologia, do Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios, em


Porto Alegre.
A ADOLESCÊNCIA NA ERA DIGITAL

As rápidas mudanças de vida que acompanham a tecnologia causam grande


impacto às novas gerações; era digital veio revolucionar o mundo, otimizando os fluxos
de informações produzindo novas tecnologias, transformando o modo de viver de todos,
principalmente dos adolescentes. Este trabalho tem como objetivo trazer alguns
conceitos sobre adolescência e a era tecnológica. A partir disto, tendo como finalidade
compreender quais são os desafios que os adolescentes dessa era se deparam, e
destacando alguns temas importantes vivenciados nesta nova era digital: Violência e
Cyberbullying, iminência da 4º revolução industrial, as novas competências exigidas
pelo mercado de trabalho, namoros virtuais, e dificuldades de comunicação familiar.
Segundo a UNICEF (2011), no mundo ocidental, com base em diversos fatores,
variando de acordo com as características regionais, a faixa etária legalmente definida
para a adolescência é de 10 a 24 anos. A Organização Mundial de Saúde, (MS-2010)
caracterizou a adolescência como o período da vida que tem início aos 10 anos e
termina aos 19 anos completos. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente ( (Lei
n. 8.069, 1990), do ECA, considera a adolescência o período entre 12 à 18 anos, sendo
referência em todos os âmbitos de direitos desde 1990.
A palavra “Adolescência” deriva do latim “adolescerei” que significa crescer na
maturidade, citado por Ferreira & Nelas, (2006). E para AIRES (1986), o conceito de
adolescência surgiu no século XVIII, motivado pelo darwinismo, que descreveu a
puberdade como um período cheio de turbulências, mudanças inesperadas nas emoções
e impulsos repentinos devido ao surgimento do desejo sexual.
Segundo Macedo, Petersen e Koller, (2017), a adolescência pode ser definida
como um estágio de desenvolvimento marcado por fortes mudanças físicas, cognitivas e
socioemocionais. As transformações vividas por cada adolescente são entrecruzadas
pela cultura, pela sociedade e pelo período histórico em que vive o adolescente, pois não
se trata de uma questão de escolha, mas do ciclo de vida necessário para a
transformação do cérebro de uma criança em um cérebro de adulto.
Contudo, estes questionamentos nos trazem também um olhar atento para esta
nova geração de jovens, que também estão enfrentando grandes batalhas internas devido
à pandemia do Covid 19. Se caracterizando, assim, por desafios de adaptação, de

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convívio e de desenvolvimento considerando que os hábitos de convívio social foram
substituídos pelo mundo virtual.
A tecnologia por oferecer espaço de expressão e descoberta atrai a atenção dos
jovens, se tornando em um aliado no processo de aprendizagem. Chamada também da
era da informação, de grande progresso tecnológico, veio revolucionar o mundo trazido
pela Quarta revolução industrial: Klaus Schwab, explica:
Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará
fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos
relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a
transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano
tenha experimentado antes. (SCHWAB, 2016, p. 11).
Convém salientar que neste novo momento, as produções em massa, são feitas
on line, nas fábricas inteligentes onde a produção e o controle são onipresentes. a
automação vem alterando as habilidades desejadas pelas empresas no recrutamento e
seleção de pessoas. Brito (2017) observou em sua pesquisa, uma perspectiva otimista
quanto às oportunidades profissionais nas áreas tecnológica, biológica e química, pois
ainda que muitas funções de trabalho sejam substituídas sempre haverá valorização das
habilidades humanas. Por outro lado, muitas profissões que não exijam conhecimento
técnico tendem a se tornarem desnecessárias (BRITO, 2017).
Para ajudar nesse despertar profissional, a revista Forbes, em 2019, publicou
uma previsão de 10 competências que poderão ser as mais buscadas nos jovens
profissionais durante a era digital, entre elas está o pensamento crítico principalmente
por conta da necessidade de distinguir autenticidade em meio a tantas notícias falsas, as
populares Fake News, O assunto que têm se tornado frequente nas escolas, (ou notícias
falsas em bom português), e o cancelamento virtual (que também pode ser visto como
uma espécie de linchamento virtual). Antes do advento da tecnologia digital, o bullying
já fazia parte do ambiente escolar, diferentemente do bullying, as notícias falsas e os
cancelamentos virtuais são fenômenos contemporâneos, veiculados principalmente nas
redes sociais.
Ademais, outra competência apontada como importante pela Forbes (2019) é a
fácil adaptação, pois os jovens precisam estar preparados para as mudanças que
começam a acontecer imediatamente após a retenção do conhecimento. Há necessidade

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de novos caminhos para se realizar uma mesma tarefa e sendo assim é essencial que se
tenha essa abertura para novas experiências.
E a cada dia, os aparelhos digitais se tornam companheiros constantes dos
adolescentes. Os considerados normais parecem distraídos, principalmente, se
comparados aos de 20 anos atrás e dessa forma ficando difícil distinguir entre um jovem
tímido e um deprimido. Esta fase é caracterizada pela fragilidade e curiosidade que,
devido à vontade de tudo experimentar para mostrar coisas novas, pode levar a
comportamentos de risco, é importante que o jovem seja orientado, que em situações
como essas, ele deve procurar ajuda dos pais ou de um adulto de sua confiança, para
construir um ambiente seguro para seu filho é fundamental mostrar acolhimento e
conversar abertamente sobre os riscos e desafios do mundo virtual.
Entre os desafios, podemos citar as ameaças à integridade psicológica do
adolescente, que afetam sua maturação como um ser humano individualizado e sua
formação como um futuro adulto autônomo. Estas ameaças podem afetar o
desenvolvimento cognitivo bem como a vida destes adolescentes. Vamos ver nos
próximos parágrafos, algumas destas situações.
Primeiramente, o artigo “Cyberbullying: do virtual ao psicológico”, escrito por
Fernando Cesar de Castro Schreiber e Maria Cristina Antunes, ambos estudantes da
Universidade Tuiuti do Paraná, escrito com o objetivo de instigar pesquisas e projetos
sobre o tema, traz uma explicação sobre o que é o Cyberbullying que assim como o
Bullying é o ato de difamar e/ou expor alguém através das tecnologias digitais, que de
acordo com a Unicef (é realizado por meio das tecnologias digitais. Isso pode acontecer
em todas mídias sociais, pois é um comportamento repetitivo destinado a intimidar,
irritar ou humilhar a vítima, tendo como exemplos: espalhar mentiras nas redes sociais
ou compartilhar fotos embaraçosas de alguém.
Além disso, de acordo com a UNICEF (2011), quando ocorre bullying online, a
sensação que você está sendo atacado por todos os lados, inclusive em seu próprio lar.
Parece que não há como escapar. Os efeitos podem ser duradouros e afetam uma pessoa
de muitas maneiras: Mentalmente, emocionalmente e fisicamente.
A sensação de ser ridicularizado ou assediado por outras pessoas impede que as
pessoas falem ou tentem resolver problemas, em casos extremos, o cyberbullying pode
levar ao suicídio

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Avançando no tema do suicídio, é pertinente reconhecer que o ambiente digital
tem forte impacto na sua ampliação, conforme Abreu e Bernardy (2017) publicaram
um artigo no site Periódicos. A inferência do tema juventude vulnerável, a conexão
virtual e a comodidade de acessar esse conteúdo no site são fatores de risco conhecidos
por todos.
Um outro fator, causador de patologias nos adolescentes, é o advento da
pandemia do Coronavírus. Privados de etapas importantes dos seus processos de
desenvolvimento cognitivo, os adolescentes acabaram por serem imersos ainda mais no
ambiente digital, com afastamento presencial de colegas e amigos. Para Orli Carvalho
(2020), o pediatra e psiquiatra da Infância e Adolescência do Instituto Nacional de
Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz)
“Quando pensamos nos efeitos da pandemia sobre
a saúde mental de crianças e adolescentes é
fundamental que consideremos que são seres em
desenvolvimento e a forma como compreendem
e explicam o mundo vai variar segundo o
estágio que se encontram, suas experiências
anteriores, sua capacidade cognitiva e também da
cultura em que estão inseridos. Isso é
fundamental para podermos analisar adequadamente
esse impacto diante de um ambiente com novos
estressores".
(CARVALHO, 2020, P.22)
Considerando, portanto, a pandemia e o já orgânico crescimento da internet
como parte da rotina dos adolescentes, torna-se necessário que os cuidadores,
responsáveis e pais, tenham cuidado com a influência do mundo digital para este
público.
Portanto, Schreiber e Antunes (2015) sugerem que a melhor forma para evitar o
Cyberbullying deverá ser a criação de um programa de enfrentamento que abranja todos
os envolvidos, bem como os jovens, escola e comunidade em geral, pois para eles
intervenções clínicas individualizadas já não são suficientes para solucionar essa prática
de violência que só tende a crescer juntamente a tecnologia. Por meio do artigo, é

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possível compreender e identificar diferenças entre Bullying e a violência digital
denominada Cyberbullying, não sendo a fonte ideal para quem procura sugestões de
intervenção imediatas para evitar tal violência.
Para Gaspar e Paura (2017) a ideia de relacionamentos duradouros vem sendo
desconstruída ao longo dos últimos anos, aliás nunca foi tão fácil quanto em sites de
web namoro onde para romper vínculos basta clicar em um ícone e bloquear o outro
usuário, podendo imediatamente se conectar a outros diversos perfis disponíveis. Silva e
Takeuti (2011) através de análises da narrativa de internautas concluíram que, o amor
virtual está na expectativa, em uma representação romântica construída pelo meio social
onde o indivíduo está inserido.
Mesmo sendo um recurso que facilitou, sabemos que as conversas virtuais não
substituem o relacionamento presencial, o contato olho no olho, o contato físico, ver a
outra pessoa em carne e osso, sendo o mundo virtual um problema quando os
relacionamentos presenciais começam a ser esquecidos, ainda mais durante a
adolescência sendo esse período muito importante para a formação da identidade e o
sentimento de pertencimento e alimenta a ilusão de um namoro perfeito, distanciando-se
mais uma vez da vida real.
A influência da tecnologia nas relações familiares possui impactos positivos e
negativos. O afastamento físico e o afetivo caracterizado pelo fato dos adolescentes se
isolarem em seus quartos constitui num fator negativo enquanto que a facilidade de
comunicação em qualquer hora e lugar se caracteriza em fator positivo por oferecer
segurança aos pais.
Para Neumann (2019), o estudo do ambiente familiar contemporâneo, mostra
que a tecnologia nesse seio parental, pode ser tanto uma aliada, quanto uma vilã.
Positivamente, a internet tem oportunizado que os pais tenham a sensação de estarem
presentes em diversos momentos da vida de seus filhos, mesmo quando ausentes
fisicamente. Os impactos negativos, estão no tempo que a tecnologia “rouba” desses
familiares, reduzindo o contato, tanto físico como afetivo, afinal há interações que
raramente uma mensagem será capaz de substituir (NEUMANN E MISSEL, 2019).
A solução para diminuir os conflitos familiares ocasionados pela utilização
abusiva da tecnologia se configura no estabelecimento do diálogo e abordagem de

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valores familiares e regras de proteção social bem como o planejamento de atividades
com os adolescentes em ambientes sem “wifi “.
Ao decorrer desta construção, podemos refletir em muitos âmbitos, bem como,
relembrar de vivências desta passagem, e como estes conflitos internos podem gerar
tantas situações ao longo da vida de cada indivíduo. Abordamos temas sensíveis à essa
geração, como o cyberbullying, ele é um claro exemplo dos malefícios da má conduta
na internet e o quanto afeta, pois, por vezes, até mesmo suicídios são oriundos deste
sofrimento causado, há ater que neste período, não se tem total maturidade, e que isso
prejudica o controle da impulsividade, gerando sofrimentos, angústias, é uma fase de
descobertas e muitas questões para resolver, decorrentes de tantas mudanças, os novos
adolescentes, tem o desassossego de não se ver mais crianças e ainda não ser adultos,
mas com aspirações e dúvidas para o futuro. Rodeados da tecnologia em tempo integral,
está geração, por sua vez, "vive" neste tempo, uma realidade totalmente voltada a
interação por meios de redes sociais, principalmente, em decorrência da Pandemia da
COVID-19.
O que podemos tirar como lição também, é que a internet deve ser utilizada com
devida moderação e acompanhamento dos pais ou cuidadores, que vigiem os
comportamentos, que escutem seus filhos, que compreendam suas falas, pois além deste
ciclo, desta idade, ali há uma pessoa em transição de fase, que precisa de apoio e que
seja sem julgamento. Que esta tecnologia também seja utilizada para o bom
desenvolvimento, saudável e que torne isso mais fácil para atravessar este período.
Dessa forma, é válido que sejam realizadas novas pesquisas sobre os temas propostos,
sendo todos de atual relevância, e que se busque maior compreensão dos conflitos
vivenciados por jovens e adolescentes em meio ao avanço da tecnologia.

REFERÊNCIAS

A INFLUÊNCIA DA INTERNET NOS ADOLESCENTES COM AÇÕES SUICIDAS


The influence of the internet on adolescents with suicidal actions. Thales de Oliveira
Abreu , Marjane Bernardy Souza. 2017. Disponível em
https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/25868
ARIÈS, P. História social da criança e da família Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

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Porto Alegre.
BRITO, Quarta Revolução Industrial e as Perspectivas para o Brasil. Revista Científica
Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, São Paulo, nº 07, Vol. 02. pp 91-96, 2017.
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https://www.unicef.org/brazil/cyberbullying-o-que-eh-e-como-para-lo
ESPINDOLA Paula, Adolescentes nos relacionamentos virtuais- -
https://opsicologoonline.com.br/relacionamentos-virtuais/
FERREIRA, Manuela; NELAS, Paula Batista. Adolescências... Adolescentes..
Millenium-Journal of Education, Technologies, and Health, n. 32, p. 141-162, 2016.
FORBES- 10 Habilidades profissionais para a quarta revolução industrial.-
https://forbes.com.br/escolhas-do-editor/2019/11/as-10-habilidades-profissionais-mais-
importantes-para-a-quarta-revolucao-industrial/
Schwab, Klaus. A Quarta Revolução Industrial: EDIPRO, 2019
Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. (1990, 16 de julho). Dispõe sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, seção 1.
MACEDO, D. M., Petersen, C. S, & Koller, S. H. (2017). Desenvolvimento cognitivo,
socioemocional e físico na adolescência e as terapias cognitivas contemporâneas. In C.
B. Neufeld, Terapia Cognitivo-Comportamental para adolescentes: uma perspectiva
transdiagnóstica e desenvolvimental. Porto Alegre: Artmed.
MALAYE Mayra, Saúde mental dos adolescentes no contexto digital da pandemia.
(IFF/Fiocruz). 2020. Disponível em https://portal.fiocruz.br/noticia/saude-mental-dos-
adolescentes-no-contexto-digital-da-pandemia
NEUMANN E MISSEL, Família digital: a influência da tecnologia nas relações entre
pais e filhos adolescentes. Revista Pensando famílias, Porto Alegre, nº 02, vol.23, 2019.
PRADO, Cecilia- FAKE NEWS E BULLYING:
https://revistacontemporartes.com.br/2019/05/25/fake-news-e-bullying-como-a-
educacao-em-direitos-humanos-pode-auxiliar-na-prevencao-e-enfrentamento-desse-
tipo-de-trauma/
PAURA E GASPAR, Os relacionamentos amorosos na era digital: Um Estudo de Caso
do Site Parperfeito. Estação Científica - Juiz de Fora, nº17, 2017.
Saúde mental dos adolescentes no contexto digital da pandemia. Mayra Malavé Malavé
(IFF/Fiocruz). 2020. Disponível em https://portal.fiocruz.br/noticia/saude-mental-dos-
adolescentes-no-contexto-digital-da-pandemia

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Porto Alegre.
SCHREIBER E ANTUNES, Cyberbullying: do virtual ao psicológico. Bol. Acad.
Paulista de Psicologia, São Paulo, nº 35, p. 109-125, 2015.
SILVA E TAKEUTI, Quão romance é minha vida amorosa: namoro virtual e narrativas.
Dossiê – Pesquisas no pontocom: desafios metodológicos, questões éticas e novas
categorias para a investigação em ciências sociais, Natl, v. 12, p. 96-114, 2011.
Schwab, Klaus. A Quarta Revolução Industrial: EDIPRO, 2016
UNICEF (2011). Situação mundial da infância 2011. Adolescência, uma fase de
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https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/unicef_sowc/sit_mund_inf_2011_adoles
cencia.pdf
UNICEF - Cyberbullying: O que é e como pará-lo. Disponível em
https://www.unicef.org/brazil/cyberbullying-o-que-eh-e-como-para-lo

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