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CURSO DE PSICOLOGIA

PSICOLOGIA DO TRABALHO II

ESTUDO BASEADO NO FILME “UM SENHOR ESTAGIÁRIO”


TÍTILO ORIGINAL: THE INTERN (2015)

PORTO ALEGRE-RS
2022/2
INTRODUÇÃO
Este artigo é baseado na análise do filme “Um senhor estagiário”, produção
cinematográfica produzida no ano de 2015 e visa atender tarefa solicitada na disciplina:
Psicologia do Trabalho II que compõe a graduação de Psicologia no IBGEN/FTEC Porto
Alegre/RS. A disciplina tem o objetivo de trabalhar o papel do psicólogo nas empresas e
organizações, diante disso tem-se trabalhado semanalmente com diversos conceitos que
permeiam o tema buscando compreender a atuação do profissional nas diferentes nuances do
comportamento humano no ambiente de trabalho.
Para isso foi realizada uma breve revisão de literatura a respeito dos conceitos básicos
da psicologia do trabalho e organizacional, atrelando a algumas situações vividas ao longo do
filme, na qual representam experiências no mundo laboral. Para maior clareza, está dividido
em dois temas: saúde mental , liderança e trabalho.

RESUMO
The intern – Um senhor estagiário é uma produção cinematográfica americana realizada
por Nancy Meyers no ano de 2015. Sua classificação é comédia, no entanto nos leva a
reflexões bem mais sérias e profundas do ponto de vista das relações humanas e a
subjetividade e o trabalho.
Ben Whittaker (Robert de Niro) é um senhor considerado da terceira idade (70 anos),
após um casamento de 42 anos (ele com 20 e ela com 19 anos) teve um filho, ficou viúvo,
aposentou-se após passar 40 anos de sua vida no mesmo emprego junto a produção de listas
telefônicas. No início da aposentadoria confessou que se sentiu livre, os primeiros dias era
como se estivesse “faltando ao trabalho”. Com todo tempo disponível pra ele, dedicou-se a
ler, fazer cursos, viajar pelo mundo e curtir o filho e o neto.
Com o decorrer do tempo toda esta liberdade, cedeu espaço a ociosidade, sentindo-se
um estorvo para a família, sua rotina diária café na padaria do bairro, relação tediosa com uma
vizinha, velório de amigos, e a curta perspectiva de uma vida sem sentido e vazia.
Em uma manhã rotineira após comprar o pão viu um cartaz na qual uma empresa ali
mesmo do Brooklyn estava selecionando pessoas para um Programa de Estágio voltado a
idosos. Diante de seus olhos a vida pacata e tediosa passou num flash e naquele momento
decidiu se candidatar ao cargo de estágio na startup de moda de e-commerce, mesmo sem
saber ao certo do que se tratava o ramo da empresa, pois nenhuma destas palavras “modernas”
fazia sentido. Porém isso não importava ele já estava decidido a voltar à ativa e refletiu sobre
o ditado “os músicos não se aposentam, param quando não há mais música neles” e para Ben
ainda havia muito a contribuir e voltar a se sentir útil.
Já no primeiro momento Ben sentiu-se desafiado, porque o recrutamento exigia a
gravação de um vídeo de apresentação além de uma série de entrevistas. Ele não desistiu
aprendeu como fazer vídeo, colocou seu melhor terno e foi sincero acima de tudo. Ben ao ser
aprovado para a vaga na empresa “Sob medida” foi designado a ser o estagiário de Jules
Ostin (Anne Hathaway) CEO da empresa.
No momento Jules enfrenta conflitos pessoais e profissionais, não se mostra satisfeita
com o programa de estágio para idosos. Ela também lida com o medo de não conseguir
comandar seu negócio que está numa rápida e crescente ascensão o que a obriga a conviver
com muitas questões sobre liderança e gestão e, junto a isso, as responsabilidades de ser mãe
e esposa cobram sua atenção.
Ben de cara faz uma leitura das situações mais críticas envolvendo as relações
humanas na empresa, a desorganização do espaço laboral, bem como a desorganização das
relações de família da qual Jules vivencia sem querer dar o braço a torcer. Ele passa a
observar a rotina de Jules e começa a fazer tarefas simples, tendo em vista que a mesma não
lhe passa nada. Com atenção, solidariedade, carisma e educação acaba conquistando a
amizade dos colegas. Além disso passa a ter um envolvimento amoroso com a massagista
interna da empresa, Fiona, e, se torna uma espécie de figura paterna para vários colegas mais
jovens, oferecendo conselhos sobre questões como amor, senso de roupas e equilíbrio entre
vida profissional e pessoal.
Ao observar que há uma mesa no meio da empresa que vive bagunçada e que isso
irrita muito Jules, Ben toma iniciativa de ir para o trabalho um dia mais cedo para organizar e,
acaba recebendo aplausos de todos os colegas como forma de agradecimento, principalmente
de sua chefe. Mais tarde, Ben percebe que o motorista de Jules é um alcoólatra, e o convence
a não conduzir o carro, levando Jules para uma reunião exaustiva. Quando a mesma retorna,
ele a espera com alimento e palavras experientes de conforto e orientação, logo a leva para
casa, um papel que Ben mantém nos próximos dias.
Jules sofre pressão para deixar o cargo de CEO, pois seus investidores afirmam que
ela é incapaz de manter a carga de trabalho de startup e franca expansão e avida familiar com
marido e filha. Ela sofre com esta ideia, mesmo relutante passa a fazer entrevistas com
possíveis novos Céus, a fim de buscar um pouco mais de tempo para família e salvar seu
casamento, pois sabe da traição de seu marido (Matt).
Quando Jules procura Ben para pedir um conselho, Ben a incentiva a pensar em
quanto isso vai mudar sua autoridade pois, a contratação de um CEO tiraria o poder de
decisão na empresa, do auto da sua experiência consegue mostrar a ela como sua criatividade
pode ser prejudicada e também a lembra de sua paixão por sua companhia. Matt
inesperadamente aparece no escritório e pede que ela reconsidere, dizendo que está
arrependido, envergonhado e quer apoiá-la em seus sonhos. Jules convencida que somente ela
possui a cara e a identidade de sua empresa que iniciou na cozinha da casa dela há apenas 18
meses e hoje conta com 220 funcionários, resolve permanecer no comando contando com
apoio de Ben, Matt e toda equipe da “Sob medida”.
Já para Ben ele volta a se sentir útil profissionalmente, trabalha com o que gosta e faz
por merecer toda a admiração, confiança e carinho por parte dos colegas e de sua chefe Jules.
Sente-se feliz e realizado também no amor, junto de Fiona. Em fim a vida passou a ter sentido
novamente com novos desafios, novas oportunidades e oportunidades e perspectivas.

DISCUSSÃO DOS DADOS


Este trabalho tem como objetivo analisar teoricamente a saúde mental e os aspectos
relacionados ao trabalho do filme. Para maior clareza, está dividido em dois temas: saúde
mental, liderança e trabalho. A seguir, esses dois aspectos serão explicados do ponto de vista
teórico e comparados com o filme. a partir das observações feitas iremos atrelar o tema ou
cena com os assuntos abordados em sala de aula.
SAÚDE MENTAL
O filme começa com o viúvo Ben Whittaker fazendo um vídeo de uma entrevista de
emprego e contando um pouco de sua vida e da aposentadoria monótona e cita Freud "amor é
trabalho, trabalho é amor e só isto que existe". O desligamento do trabalho é considerado um
período de incertezas e preocupações tendo em vista o desconhecimento e o preconceito que a
sociedade tem sobre o processo de aposentadoria como cita (Antunes, Soares, & Silva, 2013).
Nesse sentido, os aposentados podem enfrentar uma sensação de crise de inutilidade que a
sociedade impõe aos aposentados.
Diversos estudos apontam que o trabalho é central na vida das pessoas e envolvem a
subjetividade de todos os trabalhadores.
Segundo Dejours (2007a, p. 21) “o trabalho continuará central em face
da construção da identidade e da saúde, da realização pessoal, da
formação das relações entre homens e mulheres, da evolução da
convivência e da cultura”.
Portanto, o trabalho faz parte das diferentes condições humanas e é analisado por meio
de conceitos que são diferentes da história da humanidade, e possui características diferentes
do contexto.
Outras questões que permeiam no filme é a saúde mental de seus colaboradores,
começando pelo espaço físico, pontua-se, pois, apesar de ser um site de moda, vendas e
promoção, a empresa toma forma em uma antiga fábrica de listas telefônicas, um local amplo
e cheio de luz, mesas e pessoas estão dispostas lado a lado, o que é uma prioridade para o
relacionamento e comunicação da empresa. Ao se tratar do espaço físico, a OMS diz que:
“o ambiente físico de trabalho se refere à estrutura, ar, maquinário,
móveis, produtos, substâncias químicas, materiais e processos de
produção no local de trabalho. Estes fatores podem afetar a segurança e
saúde física dos trabalhadores, bem como sua saúde mental e seu bem-
estar” (OMS, 2010, p.09).
Os personagens do filme fazem uma breve pausa no trabalho para ir a uma sala onde
são oferecidas massagens ou a uma área de descanso, e nota-se que há ampla autonomia pois
os funcionários da Sob medida têm suas responsabilidades e as realizam sem precisar receber
ordens a todo instante de Jules, estando todos cientes das pendências e rolos diários e de como
precisam resolvê-los. E cada atitude louvável, na empresa eles batem um sino e homenageiam
o colaborador, como forma de reconhecimento e incentivo.
Pode-se dizer que o trabalho é uma das fontes de satisfação do ponto de vista social,
pois é a forma que a pessoa se relaciona com a sociedade. Essa autonomia dada aos
funcionários gera um ambiente salutar e, a longo prazo, contribui para que os colaboradores
não adoeçam. Gerando uma satisfação de contribuição para o social que tem como base o
prazer no trabalho e desta forma a autonomia no trabalho compõe um pilar na satisfação
pessoal.
A esse conceito, acrescenta-se a afirmação de Dejours in Betiol (1994), de que o
prazer do trabalhador resulta da descarga de energia psíquica que a tarefa autoriza.
Para Safe (2019), a empresa é responsável por proporcionar um ambiente agradável
onde seu colaborador se sinta confortável e possa realizar suas obrigações de forma
harmônica, de forma que o mantenha sempre motivado.
Assim, podemos argumentar que os padrões de organização do trabalho prescritos
organizacionalmente e as relações dos trabalhadores com o trabalho desempenham um papel
fundamental na determinação da experiência do prazer e da produtividade.
Outro fator que o filme aborda é a estrutura do tempo. Para atingir um nível de
produtividade, é indispensável cronometrar, e correr contra o tempo. Sendo assim, Jules é
visto nas cenas do filme o tempo todo focado no trabalho e sem tempo para a família. E tudo
isso reflete em sua secretária, Becky, pois ela tem que agendar as reuniões de cinco minutos
de Jules em seu próprio ritmo para não perder tempo e ter que ir além do horário de trabalho
para atender às demandas da chefe. A todo momento Becky se sentia esgotada e sensibilizada,
fazendo de tudo para que Jules conseguisse atingir um nível de produtividade, capaz de fazer
com que seu tempo seja totalmente seguro. Porém, Becky não se sente valorizada, pois tem
múltiplas tarefas diárias e tais aspectos negativos tendem a adoecer as duas, pois Jules com
problemas em casa e um trabalho estressante, se vê em apuros quase sempre. E isto não é
bom para a saúde mental de ambas. Sendo assim, Barreto (2009, p. 5) afirma que:
“a nova forma de organizar e administrar o trabalho, alterou a relação
tempo-espaço, pois os trabalhadores vivem-e-fazem seu trabalho em
fluxo continuo, sem tempo para desenvolver vínculos afetivos, para
pensar ou descansar. Até mesmo as necessidades biológicas, devem ser
consentidas. É uma vida-viva-vivida limitada, disciplinada e
intensificada pela fragmentação do processo e especialização das
tarefas, pelo uso integral do tempo e ativação do ritmo sob rígida
disciplina hierarquizada do corpo que produz.”
Dessa forma, o trabalho não é apenas um lugar para sofrer ou de prazer, mas a partir
da dinâmica interna da situação e da organização do trabalho, ou seja, é um produto dessa
dinâmica, resultado das relações subjetivas, e comportamento do produto. Comportamento do
trabalhador autorizado pela organização do trabalho
LIDERANÇA E TRABALHO
Apesar de ser líder de uma empresa em crescimento rápido, Jules não faz dos títulos a
coisa mais importante e mantém uma postura de liderança que inspira os funcionários. Ela
respeita, elogia, chama a atenção quando necessário e pede desculpas sem medo. Nesse
processo de liderança, os colaboradores estão contribuindo com suas opiniões para alavancar
mais o sucesso do seu negócio. Como cita: “Na visão do líder os empregados não trabalham
para ele, mas sim, com ele. Todos juntos executam suas funções em direção aos resultados.
Sem a interação da equipe não é possível vencer” (MAXWEL, 2008)
Sendo assim, podemos considerar que tanto o modelo de organização do trabalho
prescrito pela organização, como as relações subjetivas dos trabalhadores com o trabalho têm
papel fundamental na determinação de vivências de prazer, com consequências para a
produtividade e sucesso da empresa abrange uma liderança que inspira. O trabalho é um
gerador de saúde, ou, ao contrário, um constrangimento patogênico, que pode contribuir para
desestabilização e descompensação do sujeito (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 2014).
No final do filme, por meio do pedido de perdão do marido, o casal, chega a um
consenso, percebendo que é por meio do equilíbrio e da parceria que podem ser felizes.
Claramente, não importa qual modelo de família seja escolhido, o segredo do sucesso familiar
é ajustado através do diálogo, como visto no filme citado. Além disso, ambas as partes se
esforçam para que esta união perdure: Portanto segundo Simões (2010) segundo Faria e
Barham (2004).
“A duplicação da mulher para harmonizar-se sua dupla/ tripla jornada
de trabalho é um trabalho laboriosa, por que além de trabalhar fora,
ainda necessita exercer sua função de esposa, mãe e dona de casa.
Consequentemente, as dinâmicas familiares intervêm na vida
profissional, contudo, o que se observa é que a acontece intercessão da
vida familiar por cauda do emprego. Portanto, o bem estar da família
arrisca-se estar mais prejudicado do que a capacidade do desempenho
profissional.”
Sendo assim, o trabalho afeta a forma de todo o convívio familiar, e fica muito claro
no filme. Atualmente, esse é um problema que incomoda principalmente as mulheres e
mães. Quando bem resolvidas e aceitas no trabalho, têm causado uma incompreensão da
sociedade e na família, mas algumas como a Jules, apesar dos dissabores, há o
reconhecimento, acreditam que as mulheres já são responsáveis por suas próprias escolhas e
conseguem conciliar família, esposa e seja um bom profissional.

CONCLUSÃO
O trabalho por si só não é enlouquecedor, mas pode levar ao sofrimento psíquico
dependendo do clima organizacional. A subjetividade que se desenvolve a cada dia é
mobilizada para atender a essa necessidade. O trabalho não pode apenas causar dor ou prazer,
mas advém organizado da dinâmica interna da situação e da organização do trabalho, ou seja,
é produto dessa dinâmica, produto das relações subjetivas, comportamento e do trabalhador,
pela organização do trabalho. Esse fato mobiliza o sujeito e aumenta seu engajamento
subjetivo nas atividades laborais.
Ao interpelar a inteligência prática do sujeito e ao solicitar sua criatividade, o trabalho
que deixa uma margem de autonomia oferece ao indivíduo a possibilidade de autorrealização
e de construir sua identidade. Foi justamente isso o que vimos o personagem protagonista
(Ben Whittaker) desenvolver dentro da empresa. Neste ponto também devemos considerar a
maturidade profissional do estagiário, pois ele consegue trazer apoio e clareza para situações
difíceis e também para as críticas recebidas.
Foi possível também relacionar aspectos de liderança ao longo do filme, ou seja, uma
conexão não só com processos, mas também com pessoas. Talvez a personagem Jules em seu
papel de chefe da empresa, não estivesse muito segura em relação as demandas da vida
pessoal e profissional. Mas para Ben, que estava organizado emocionalmente, foi fácil auxiliar
a partir de outro olhar sua chefe a sair do caos. Finalmente ele também a auxilia no
desenvolvimento de liderança, em delegar, gerenciar e se conectar com pessoas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, M. H., SOARES, D. H. P., & Silva, N. (2013). Aposentadoria e
contexto familiar: Um estudo sobre as orientações teóricas da produção científica.
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BARRETO, M. Saúde mental e trabalho: a necessidade da “escuta” e olhar
atentos. São Paulo: Caderno Brasileiro Saúde Mental, vol.1, n. 1, 2009.
DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São
Paulo: Cortez. 1994.
MAXWELL, J. C. O livro de ouro da liderança: o maior treinador de líderes da
atualidade apresenta as grandes lições de liderança que aprendeu na vida. / John C.
Maxwell; [tradução Omar Alves de Souza]. –Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008.
OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Ambientes de trabalho saudáveis:
Um modelo para ação. Brasília: SESI/DN, 2010. 26 p. Disponível em:
<http://www.who.int/occupational_health/ambientes_de_trabalho.pdf>. Acesso em: 02 out.
2022
SAFE, 2019. Ambiente de trabalho como ele influência na produtividade!
Disponível em: https://blog.safesst.com.br/como-o-ambiente-de-trabalho-influenciana-
produtividade/ Acesso em: 28/set/2022
SIMÕES, F. I. W; HASHIMOTO, F. Mulher, mercado de trabalho e as
configurações familiares do século XX. Revista Vozes dos Vales: Publicações Acadêmicas:
Universidade Federal dos Vales dos Jequitinhonha e Mucuri, Minas Gerais, ano 1, n. 2,
Outubro. 2012.

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