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Disciplina: Teoria Geral da Administração

Docente: Anderson Dias Brito


Discente: Bernardo Almeida Oliveira Novaes
Data: 14/12/2023
ANÁLISE DE FILME
REFERÊNCIA:
UM SENHOR ESTAGIÁRIO. Direção de Nancy Meyers. Nova Iorque, 2015.

O filme “Um Senhor Estagiário”, dirigido por Nancy Meyers, conta a história de um senhor
idoso, o Ben, que larga a vida ociosa de aposentado para trabalhar como um estagiário numa loja
virtual de roupas femininas. A partir do contraste entre o ambiente da empresa e o comportamento
do “novo” estagiário é possível extrair algumas reflexões valiosas sobre o desenrolar das relações
humanas numa organização. Além disso, é possível perceber em quais pontos os estagiários seniors
estão mais aptos do que estagiários jovens a beneficiar uma organização. Deixando de lado essa
peculiaridade, o filme também nos apresenta em ricos detalhes a empresa e seu ambiente de
trabalho, cadeia de comando, e as relações formais e informais que acabam se desenvolvendo nela.
No começo do filme, Ben Whittaker cita Freud ao dizer que “amor e trabalho” é tudo o que
existe na vida; após ter se aposentado e ter perdido sua esposa, portanto, seria proveitoso preencher
o vazio de uma vida ociosa e desapaixonada. Ao, fortuitamente, encontrar na rua o panfleto de uma
empresa de moda feminina que afirma procurar estagiários idosos, Ben prontamente se dispõe a
entrar nessa seletiva de emprego. Desde esse começo do filme é possível notar que os fatores
motivacionais de um ser humano estão muito além do dinheiro, já que Ben têm o trabalho como fim
em si mesmo. Em outros momentos, por estar entediado, Ben ia ao Starbucks todos os dias às sete
da manhã para se sentir “parte de um todo”, o que faz total sentido tendo em vista a teoria
motivacional de Mayol, pois ele provou na experiência de Hawthorne que o ambiente tem papel
fundamental na motivação do indivíduo, e expandiu teoricamente essa ideia ao dizer que a falta de
identificação de um indivíduo com o sistema organizacional é um dos fatores desmotivadores.
Do momento em que Ben leu o panfleto na rua até o momento em que ele foi contratado
pela empresa, atuou sobre ele o ciclo motivacional padrão de: equilíbrio (pois ele se contentava
minimamente com a vida ociosa do início); estímulo (por perceber que estavam contratando
idosos); necessidade (o vazio de sua vida ociosa foi acentuado e reafirmado); tensão (pois agora é
possível vislumbrar uma alternativa menos dolorosa do que o momento presente); ação (pois supera
o desconforto da tensão); barreiras (que foram as dificuldades técnicas de enviar o vídeo para a
empresa); satisfação (ao ser, enfim, contratado).
A moça que conduzia a entrevista de emprego disse a Ben que o lema deles não é “apenas
negócios”, portanto, eles esperam que Ben se diverta no ambiente. Levando esse fato à uma
generalização mais socialmente relevante, é possível perceber o fato um tanto paradoxal de que as
empresas mais “modernas” e descoladas como a do filme estão mais aptas à contratar estagiários
seniors do que as empresas de estilo antigo, às quais, inclusive, esses estagiários trabalhavam antes.
Quando deixa-se de colocar os negócios e o lucro mais diretamente percebido em primeiro lugar, a
experiência de pessoas seniores podem enriquecer a empresa por acrescentar sabedoria e
inteligência emocional às relações informais dos funcionários, como foi visto na relação entre Ben e
os demais estagiários no início.
A partir do momento em que Ben foi contratado, ele é inserido no ambiente da empresa que,
apesar de suas peculiaridades, pode ser analisada de forma mais heterodoxa, conforme o
conhecimento teórico já estabelecido sobre organizações e comportamento organizacional. Já no
começo é possível ver um caso onde a CEO, trabalhando no serviço ao consumidor, teve que entrar
em contato direto com os fornecedores para resolver um problema de entrega; essa cena torna fácil
o entendimento da importância do contato do dono da empresa com os setores mais operacionais,
pois a descentralização, de modo geral, diminui a necessidade de intermediadores, que dificultam a
tomada de decisões e fluxo de informações rápidas.
O filme também nos mostra como que o ambiente de uma empresa diz muito sobre ela. Ao
ser introduzido ao escritório, o supervisor de Ben afirma: “todos trabalhamos no mesmo andar pois
valorizamos a comunicação e o trabalho em equipe. Não temos salas particulares”. Em dado
momento do filme, um funcionário anuncia um marco histórico realizado hoje pela empresa e logo
em seguida toca um sino, e todos batem palmas. Se a empresa estivesse dividida em vários andares,
esse ato de comemoração simbólica não poderia acontecer tão facilmente, portanto, essa escolha de
ambientação se provou muito valiosa para caracterizar a empresa como consultiva e
descentralizada, logo à primeira vista.
Ao desenvolver da trama, é possível ver que o ambiente da empresa, embora atenda aos
requisitos mais básicos de agradabilidade (boa iluminação; piso polido para realçar a iluminação;
espelhos para dar a impressão de um ambiente maior), existe, sobretudo, uma mesa que serve como
o lixo da empresa, onde várias tralhas estão jogadas em cima. Ben, percebendo como que os fatores
higiênicos do ambiente afetam a satisfação dos funcionários e, sobretudo, da líder, se propôs a
organizar essa mesa, recebendo uma congratulação coletiva por isso.
Ressaltando um fato que comprometeu temporariamente a carreira de Ben foi o fato dele ser
muito observador para com a líder. A observação, dada em ambiente de trabalho e dirigida aos
funcionários, se prova eficaz no sentido de aumentar a produção, conforme prova o experimento de
Hawthorne. Porém, em situações de cunho pessoal, a observação das pessoas e sobretudo do líder
da empresa acaba sendo comprometedora por ela ter o efeito universal de diminuir a espontaneidade
da pessoa observada. O líder, por precisar ser mais espontâneo do que os funcionários, tende a não
gostar de ser observado em demasia.

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