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A CONTRIBUIÇÃO DO SEDENTARISMO NA

FUNÇÃO COGNITIVA DA GERAÇÃO DIGITAL


Alexandre Luciano Borges
Jessica Carolina Melegari Prada
Jones Bueno Marques
Marcelo Savador
Weslei Melo Correa
Prof. Tyrone Machado

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI


Educação Física – Bacharelado (3330236) – Prática Interdisciplinar: Cultura do Movimento
26/11/2021

RESUMO

É fato, que ficar largado no sofá assistindo um filme e com o “smartphone” ao lado para não
perder nada que se passa nas redes sociais, parece bem mais atraente do que calçar um par de tênis e
sair para fazer uma atividade física. Mais ainda para a geração digital chamada geração digital, que
nasceu mergulhado nesse mundo de telas. Porém, esse comportamento, cada vez mais comum, tem
trazido más conseqüências para o desenvolvimento da função cognitiva dos indivíduos. Teme-se
que esta geração seja a primeira a ter o “QI” inferior a de seus pais.

Palavras-Chave: Atividade física. Geração digital. Desenvolvimento da função cognitiva.

1 INTRODUÇÃO

Não se tem dúvidas que o avanço da tecnologia faz parte da nossa evolução. Porém,
percebe-se, claramente, que, conforme tecnologia avança, as pessoas tendem a movimentar-se
menos. Parece cultura do movimento está passando por um momento de pouco movimento. Se no
passado precisávamos correr atrás da caça para comer, treinávamos o corpo para se preparar para a
guerra, ou simplesmente, tínhamos que passar grande parte do tempo trabalhando a terra para
plantar e assim prover as necessidades da família; hoje, com um simples toque na tela sensível de
um “Smartphone”, temos a comida em nossa porta em minutos. Quando em poucas décadas atrás as
brincadeiras da moda eram repletas de movimento, as novas e mais populares são na frente de
alguma tela. Assim, a geração que nasceu conectada tem uma oferta enorme e atraente de
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entretenimento há alguns toques de distância. Estudos recentes mostram que a atual geração digital
pode ser a primeira a ter um “QI” inferior a da geração de seus pais. Entre os possíveis fatores para
essa involução está o sedentarismo. Nesse sentido, faremos uma análise de como o sedentarismo
pode afetar o aspecto cognitivo das pessoas.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Todos já conhecem e não há mais espaço para dúvidas sobre os benefícios da atividade
física para a saúde das pessoas. O que não se sabia e que estudos recentes tem demonstrado é a forte
relação entre atividade física e a formação cognitiva das pessoas. Ao pesquisar sobre o tema
deparamo-nos com um livro do pesquisador francês especialista em neurociência cognitiva Michel
Desmurget. O título e bastante chocante e parece traduzir a preocupação do autor: A Fábrica de
Cretinos Digitais. A primeira e assustadora informação que o autor traz em sua obra é a dos
números da exposição de telas a que estão expostos crianças e adolescentes ocidentais.
A quantidade de horas que a geração digital ficam em frente às telas, e que é trazida por
Michel Desmurget são assustadoras:

“A partir dos 2 anos, as crianças dos países ocidentais acumulam diariamente quase 50
minutos de tela. Entre 2 e 8 anos, esse tempo é de 2h45min. Entre 8 e 12 anos, os jovens
passam aproximadamente 4h45min diante dela. Entre 13 e 18 anos, eles chegam perto de
7h15min.” (DESMURGET, Michel, 2021, p. 9)

O escritor ressalta em sua obra que o excesso de sedentarismo influencia negativamente na


maturação cerebral das pessoas.
Para (ROSA, Fernanda de Carvalho Polonio, p.10) “função cognitiva é a capacidade
neurológica de perceber, se ater, memorizar, pensar, raciocinar, classificar, associar, abstrair, criar
etc. Todas essas capacidades são essenciais para o desenvolvimento humano pleno.”
Em um artigo de revisão publicado em 2019, (JIMÉNEZ, Vaquerizo) encontrou fortes
indícios de que a atividade física em crianças e adolescentes contribuíram para uma melhora no
desempenho escolar.
Também, em metanálise realizada para saber os impactos dos exercícios físicos em pessoas
com demência e deficiências cognitivas (HEYN P, ABREU BC, OTTENBACHER KJ) concluiu-se
que “o treinamento físico aumenta a aptidão, a função física, a função cognitiva e o comportamento
positivo em pessoas com demência e deficiências cognitivas relacionadas”.
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Apesar das evidências de que o sedentarismo contribui negativamente para a função


cognitiva, nem todos os especialistas concordam com isso. Segundo Michel Desmurget:

“Diversos especialistas midiáticos parecem aplaudir a situação. Psiquiatras, universitários,


pediatras, sociólogos, consultores, jornalistas, etc, multiplicam suas declarações
indulgentes para tranqüilizar pais e o grande público. Para eles, nós estaríamos em uma
nova era, e o mundo pertenceria agora aos assim chamados digital natives (nascidos nos
tempos digitais, ou “nativos digitais”). Até mesmo o cérebro dos membros dessa geração
pós-digital teria se modificado – para melhor, é claro. Ele teria, dizem, se tornado mais
rápido, mais reativo, mais apto à multiplicidade simultânea de tarefas, mais competente
para sintetizar o imenso fluxo de informações, mais adaptado ao trabalho colaborativo.
Essas evoluções acabariam por representar uma possibilidade extraordinária para a escola.
Elas ofereceriam uma oportunidade absolutamente única de refundar o ensido, estimular a
motivação dos alunos, fecundar sua criatividade, eliminar o fracasso escolar e derrubar o
bunker das desigualdades sociais.” (DESMURGET, Michel, p. 10)

Quando voltamos alguns anos, até a chamada geração dos “baby booms” a partir de 1964, as
pesquisas sugerem que, conforme a informatização foi ocorrendo, as pessoas ficaram mais
inteligentes. De acordo com Don Tapscott:

“Há fortes evidências de que essa é a geração mais inteligente de todos os tempos. Mais
estudantes estão desafiando a si mesmos: o número de alunos do ensino médio fazendo
exames de proficiência para universidades mais do que dobrou entre 1997 e 2005.16 As
pontuações em testes de QI também estão subindo numa proporção de três pontos por
década desde a Segunda Guerra Mundial e têm aumentado em pessoas de todas as raças,
rendas e regiões.17 Essa geração até acha legal ser inteligente e vê a si mesma como parte
essencial do sucesso mundial no futuro. Os adolescentes classificam “cientistas” e “jovens”
como os dois grupos que produzirão “a maioria das mudanças positivas no futuro”.18
Quando perguntamos à nossa amostra global de milhares de jovens da Geração Internet “O
que você preferiria ser, inteligente ou bonito?”, 70% escolheram a inteligência.”
(TAPSCOTT, Don, p. 44)

Os especialistas parecem estar longe de um consenso sobre o quanto a enorme exposição à


conteúdos digitais, e, consequentemente, a menor prática de atividades físicas, pode impactar na
formação da cognição humana.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A era digital veio para ficar. Porém, precisamos estar atentos aos excessos. A cultura do
movimento pode estar tomando um rumo de pouco movimento. Isso não só trás riscos para a saúde,
e sobre isso não há qualquer de discussão, mas pode também, trazer uma piora no crescimento
cognitivo das pessoas. Parece que chegamos em um ponto da curva em que o desequilíbrio causado
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pelo excesso de telas e falta de movimento corporal, aliado também a outros fatores, está causando
um involução humana. A passividade do conteúdo consumido é muito grande. Há alguns anos atrás
parecia consenso que a informatização estava formando seres humanos mais inteligentes. Hoje, ao
contrário disso, infelizmente, já não podemos fazer essa mesma afirmação.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Hanna K.M; SANTOS, Ruth F; CASSILHAS, Ricardo; SANTOS, Ronaldo V.T,
BUENO, Orlando F.A, MELLO, Marco Túlio de, El ejercicio físico y la función cognitiva: una
revisión - Departamento de Psicobiologia, Universidade Federal de São Paulo Unifesp/EPM -
Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício (CEPE-CENESP) Unifesp/EPM

DESMURGET, Michel, A fábrica de cretinos digitais: os perigos das telas para nossas crianças.
Tradução Mauro Pinheiro. Editora Vestígio, São Paulo, 2021.

HEYN P, ABREU BC, OTTENBACHER KJ. The effects of exercise training on elderly persons
with cognitive impairment and dementia: a meta-analysis. Arch Phys Med Rehabil 2004;85:1694-
704.

JIMÉNEZ, Vaquerizo, E. (2019). Efeito do exercício físico na capacidade cognitiva de crianças em


idade escolar durante o ensino obrigatório. Lecturas: Educación Física Y Deportes, 24(259), 96-
106. Obtido de https://www.efdeortes.com/efdeportes/index.php/EFDeportes/article/view/1620

ROSA, Fernanda de Carvalho Polonio, Funções cognitivas. / Fernanda de Carvalho Polonio Rosa. –
Indaial: UNIASSELVI, 2019.

TAPSCOTT, Don, A Hora da Geração Digital. Editora Agir, Rio de Janeiro, 2010.

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