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múltiplos olhares
Organizadores
Ana Lydia Vasco de Albuquerque Peixoto
Ana Paula Monteiro Rêgo
Maria das Graças Correia Gomes
Orlando Ramos do Nascimento
Educação inclusiva
múltiplos olhares
Arapiraca/AL
2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS COMITÊ CIENTIFICO
Reitor: Odilon Máximo de Morais Profª. Drª. Ana Lydia Vasco de Albuquerque Peixoto - UNEAL
Vice-Reitor: Anderson de Almeida Barros Profª Me. Ana Paula Monteiro Rêgo - UNEAL/UNCISAL
Diretor da Eduneal: Renildo Ribeiro Profª. Drª. Maria das Graças Correia Gomes – UNEAL
Dr. José Crisólogo de Sales Silva - UNEAL
CONSELHO EDITORIAL DA EDUNEAL
Presidente: Renildo Ribeiro
Titulares REVISORES CIENTÍFICOS
Professores: Drª. Ana Lydia Vasco de Albuquerque Peixoto (Uneal)
José Lidemberg de Sousa Lopes Ma. Ana Paula Monteiro Rêgo (Uncisal/Uneal)
João Ferreira da Silva Neto Esp. Cléa Carneiro de Araújo Palmeira (Semed)
Luciano Henrique Gonçalves da Silva Drª. Cristiane Monteiro Pedruzzi (Uncisal)
Natan Messias de Almeida Esp. Eleusa Maria Passos Tenório (Semed)
Maria Francisca Oliveira Santos Ma. Juliana Oliveira de Santana Novais (Uneal)
Márcia Janaína Lima de Souza - Sistema de Bibliotecas Profa. Dra. Maria das Graças Correia Gomes (Uneal)
(SIBI) Dra. Maria Edna Porangaba do Nascimento (Uneal)
Me. Wellynton Chaves Monteiro da Silva (Uneal)
Suplentes
José Adelson Lopes Peixoto Revisão ortográfica e ABNT
Edel Guilherme Silva Pontes Thayná Fontan Duarte Ayres
Maryny Dyellen Barbosa Alves Brandão
Ariane Loudemila Silva de Albuquerque Capa
Ahiranie Sales dos Santos Manzoni Rima Editorial
Elisângela Dias de Carvalho Marques - Sistema de
Bibliotecas (SIBI) Diagramação
Mariana Lessa
Catalogação na fonte
Inclui bibliografia.
ISBN:.978-65-86680-41-6
DOI: 10.48016/GT11Xenccult
CDU: 376.33
Elaborada por Fernanda Lins de Lima – CRB – 4/1717
E
ste livro é fruto da comunhão de conhecimentos de vários educadores e, a esses que
partilharam suas experiências e reflexões, os nossos mais sinceros agradecimentos.
A coordenação geral do ENCCULT 2020, na pessoa do Prof. Dr. José Crisólogo
de Sales Silva, por nos estimular a registrar os nossos saberes e inquietações enquanto
educadores na caminhada por uma efetiva escola inclusiva.
Ao Comitê Científico do Grupo de Trabalho Educação Inclusiva: múltiplos olhares
do ENCCULT 2020, por conseguir reunir pesquisadores que investigam a escola como um
espaço de todos.
Aos revisores científicos, pelas preciosas sugestões que redundaram na melhor
qualificação dos textos aqui publicados.
A todos os profissionais, que trabalharam na construção da versão final desse livro,
nossos agradecimentos pelo cuidado e precioso zelo na apresentação final.
Sumário
Prefácio....................................................................................................... 8
Apresentação..............................................................................................10
E
m tempos de resistência como os de nossos dias, em que travamos cotidianamente
um duelo entre a vida e a morte, frente ao negacionismo da letalidade da COVID-19,
em que o discurso cientifico é desqualificado e posto em xeque no âmbito político, faz-
se imperativo problematizar a Inclusão em uma multiplicidades de olhares.
Neste texto, a inclusão é um campo em que educadoras/es e profissionais da
saúde reclamam enquanto uma efetiva estratégia contemporânea possível de promover a
universalização de direitos e justiça social.
Incluir é a promoção da diversidade. Trata-se de uma laborosa e sofisticada estratégia
em tempos em que vivemos uma síndrome da anormalidade. Tal quadro-clínico-social nos
impele a tônica da hegemonia e institui como uma cama de Procusto a impossibilidade viver
de outros modus.
A partir do que apreendemos em nossa prática como Inclusão, situamos a seguir os
textos que coligem esse e-book considerando os estilos de escrita e as óticas teóricas de
cada autora/or.
No primeiro capítulo os professores Rafael Belo e Adalberto Duarte tratam das
Práticas inclusivas e produção de subjetividades na contemporaneidade a partir do
arcabouço teórico da Complexidade mostrando a possibilidade de dialogar a partir de
lugares epistemológicos distintos um mesmo objeto.
No segundo capitulo, o Uso de modelo didático reciclável para ensino de Ciências
Biológicas como recursos de inclusão de alunos com deficiência visual: relato de experiência,
a professora Manuelle Prestrêlo de Oliveira de Melo e suas alunas Danyelle Aquino da
Silva, Jaqueline Souza da Silva, Raissa Albuquerque Cabral e Suellen Thamires Calvacante
socializam suas experiências na construção e de um modelo didático inclusivo.
No terceiro capítulo, Perspectivas e Possibilidades de Atividades Pedagógicas
não Presenciais para Alunos com Deficiência no Contexto da Pandemia do COVID-19, a
doutoranda Geila Santos de Sousa interpreta a prática pedagógica no cenário de complexidade
da pandêmica a partir de práticas discursivas produzidas.
No quarto capítulo, A inclusão escolar de estudantes com perda auditiva usuários
de implante coclear: relato de experiência, a professora Cristiane Monteiro Pedruzzi
compartilha as experiências e os impasses de fazer inclusão.
No quinto capítulo, Educação inclusiva: Libras e prática docente, as pesquisadoras
Francielly da Silva Oliveira, Cristina Simone de Sena Teixeira, Roseane Ferreira da Silva
e Sanadia Gama dos Santos refletem sobre os impactos positivos que o conhecimento da
Língua Brasileira de Sinais - Libras associado a outros recursos pedagógicos possibilitam
um fazer inclusivo.
Educação inclusiva: múltiplos olhares
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Inquietosamente,
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Apresentação
E
sta é uma obra coletiva, produzida por educadores pesquisadores envolvidos com as
complexas questões que compõem o contexto da escola inclusiva. Podemos apontar
como fazendo parte deste contexto questões como: a história da educação brasileira;
políticas e marcos legais que fundamentam a Educação Inclusiva no Brasil, a singularidade
dos alunos e de suas famílias, a formação dos educadores, a natureza das instituições
escolares, os múltiplos olhares sob a pessoa com deficiência e o momento político que
estamos vivendo em nosso país.
Este trabalho pôde reunir, além de educadores, profissionais de várias especialidades
e de vários lugares do Brasil. Os textos aqui reunidos foram construídos a partir das vivências
dos educadores, das várias concepções teóricas que fundamentam o dia a dia da escola, da
histórica luta por uma efetiva inclusão escolar e do desenvolvimento dos aspectos legais que
abriram as portas da escola para a diversidade e que garantem a inviabilidade de uma escola
que atenda à homogeneidade.
Desejamos que esta nossa experiência de incluir uma diversidade de perspectivas
acerca da educação e do universo de possibilidades de intervenções e olhares para a
diversidade na escola possa favorecer aos que se envolvem nesta luta.
Convidamos você, leitor, a entrar nesse universo didático de práticas inclusivas
apresentadas por estudantes, docentes e profissionais da educação numa perspectiva
evolutiva e dialógica.
1
(1)
ORCID: 0000-0001-5583-6305, Psicólogo e Psicanalista; Mestre e doutorando em Educação pela
Universidade Federal de Alagoas (UFAL); Membro do Grupo de Pesquisa Práticas de Aprendizagem
Integradora e Inovadora (GP-PAII); Brasil; adalberto-duarte@hotmail.com
(2)
ORCID: 0000-0003-1230-1372, Psicólogo com formação em Psicologia Fenomenológica Existencial;
Mestre e doutorando em Educação pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL); Membro do Grupo
de Pesquisa Práticas de Aprendizagem Integradora e Inovadora (GP-PAII); Brasil; rafaelbelo_paz@
hotmail.com
ABSTRACT: This essay aims to problematize the inclusives practices and the production of subjectivities
in contemporary times, with an emphasis on presenting some socio-historical landmarkes and exposing the
relationship between medicalization, subjectivity and education. Contemporary education researchers and
activists come from a movement to affirm human diversity and its knowledge. The notion of subjectivity, in
turn, is related to the social, the cultural, to the elements that influence our way of doing and being in the
world. In the case of the present discussion, we can say that it influences the way of developing pedagogical
practices of inclusion. Based on complex thinking, transdisciplinarity and ecoforming, learning and
inclusive practices break with dualistic thinking. It is essential to overcome the modern paradigm in favor
of a postmodern paradigm. Only through ideas and actions that are based on a postmodern logic such as the
theory of complexity and transdisciplinarity can a genuinely Inclusive Education be built. The perspective of
complexity and transdisciplinarity is used as a theoretical reference for the debate, carrying out the dialogue
between social psychology, existential phenomenological psychology, psychoanalysis and inclusive education.
There are many initiatives that innovative inclusion practices are being experimented with and this contributes
to a planetary movement to create a more tolerant world, where the human dimension is valued in a balance
with the social and the environment. It is important to highlight the critical understanding of the process of
producing subjectivities around inclusion in the contemporary world, as well as the possible contributions of
inclusive education practices in this context.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
1
DOI: 10.48016/GT11Xenccultcap1
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Trabalho apresentado no X ENCCULT- Encontro Científico e Cultural, no dia 3 de setembro na UNEAL -
Maceió - Alagoas.
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REFERÊNCIAS
8. CAMPOS, C.; MACIEL, A.; ALANIZ, D.; OLIVEIRA, S.; SOARES, P. ‘Guardiões do
Crivella’: funcionários da prefeitura fazem plantão na porta de hospitais para impedir
trabalho da imprensa. G1, Rio de Janeiro, 31 ago. 2020. Disponível em: https://g1.globo.
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com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/08/31/guardioes-de-crivella-funcionarios-da-
prefeitura-fazem-plantao-na-porta-de-hospitais-para-atrapalhar-reportagens-sobre-a-
saude-do-rio.ghtml. Acesso em: 1 out. 2020.
13. FREITAS, M. C. O aluno-problema: forma social, ética e inclusão. São Paulo: Cortez,
2011.
16. MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Tradução Eliane Lisboa. 5.ed. Porto
Alegre: Sulina, 2015.
18. UOL. Na porta de hospitais do Rio, ‘guardiões do Crivella’ impedem denúncias. UOL,
São Paulo, 31 ago. 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-
noticias/2020/08/31/na-porta-de-hospitais-do-rio-guardioes-do-crivella-impedem-
denuncias.htm. Acesso em: 1 out. 2020.
19
2
(¹)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5639-0541, Discente do Curso de Doutorado em Educação pela
Universidade Luterana do Brasil (ULBRA); Santarém, Pará; Brazil. geilases@gmail.com
ABSTRACT:The research presents results of an investigation based on the analytical enterprise inspired
by post-structuralist authors with analyzes of the legislation and other technical recommendations, with the
aim of analyzing and problematizing perspectives and possibilities of non-classroom teaching activities in
the context of the pandemic of COVID-19 for students with disabilities, in a Specialized Educational Unit in
the municipality of Santarém, state of Pará. For the development of this research, we opted for a qualitative
based bibliographic approach, through Discourse Analysis, seeking to interpret the problem from the of
discursive practices produced in the socio-educational context with a view to perceiving educational rights and
guarantees in view of a scenario never before experienced on the planet: the pandemic of the novocoronavirus.
Thus, for methodological materiality, an online questionnaire and discussions through a focus group with
professors from the Institution were carried out. With that, it was concluded that the current possibilities for
the development of learning through non-classroom classes are not viable due to the precarious conditions of
accessibility of students to technological means, as well as their socioeconomic and emotional conditions. The
need for continued training in the field of Information and Communication Technologies was also analyzed.
INTRODUÇÃO
Surge um desafio que nós, educadores e educadoras, nos interroguemos
sobre a educação, a pedagogia, o currículo, a escola, os alunos e alunas, as
diferenças, discussões e práticas de inclusão, procurando o que ainda não
foi visto e dito. É preciso procurar, buscar conhecer como os processos de
subjetivação e diferenciação correm e, neste caso específico, como temos
olhado para as diferenças relacionadas à “não aprendizagem” (LOPES,
2007, p. 66).
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Iniciamos esta seção, citando Lopes (2007), por compreendermos que suas análises
epistemológicas ajudarão a subsidiar os escritos seguintes, dada as peculiaridades
nos modos de pensar a educação, a partir dos elementos que a constituem, tais como:
as diferenciações nos jeitos de ser e aprender, principalmente, no que diz respeito às
aproximações na concepção do “novo começo” em todos os aspectos da vida social e,
mais especificamente, na interface com a Educação Inclusiva, interpretado pela autora
analogicamente, ao interpelar que a diferença é o oposto de o mesmo, enquanto que o
oposto da igualdade é o diverso. Portanto, segunda a mesma, podemos lutar pela inclusão
das diferenças, dando condições de igualdade de acesso e permanência destas nos
diferentes espaços sociais (LOPES, 2007, p.20).
Desses parâmetros educacionais, a pesquisa tem, como objetivo geral, analisar
e problematizar quais as perspectivas e possibilidades de atividades pedagógicas não
presenciais, mais especificamente, as atividades síncronas, para a aprendizagem de alunos
com deficiência, no contexto da pandemia do novo coronavírus, em uma Unidade de Educação
Especializada (UEE), que trabalha com alunos com deficiência e com Transtorno do Espectro
Autista (TEA) em parceria com escolas regulares do Município de Santarém, no Estado do
Pará. Os participantes da pesquisa foram professores da UEE e Coordenação Pedagógica.
Para o empreendimento analítico, buscou-se a produção do conhecimento,
a partir do contexto da racionalidade de Governamento e da Biopolítica neoliberal,
baseada na literatura de Michael Foucault (2008b, p. 258) em que expressa o termo de
governamentalidade, o que ele propôs chamar de uma proposta de grade de análise para
essas relações de poder. Nesse esmero, ROSA e MENESES (2020, p. 96) interpretam que
a ação de governamento de uns sobre os outros, operada a partir das relações de poder,
pressupõe a possibilidade de condução de ações na vida do sujeito social, em busca de
formas de vida, que, segundo as autoras, pressupõe mais segurança e produtividade.
Portanto, nesta pesquisa, entende-se que a autoridade de uns sobre outros,
relaciona-se à operacionalização de práticas pedagógicas que devem ser exercidas pelos
professores e alunos durante a pandemia do COVID-19, sem as condições necessárias
para exercê-las no âmbito das tecnologias digitais. Esses excertos foram percebidos, nas
experiências compartilhadas, em encontros com professores, gestora e coordenadora
pedagógica da instituição.
Desses encontros, a problemática evidenciada, através de análises e discussões com
a equipe escolar sobre como voltar às atividades no contexto de pandemia, enfatizou-se as
possíveis implicações de cunho pedagógico, tecnológico e dos protocolos de saúde tanto
para os alunos, como para profissionais que ali atuam. Desses questionamentos, destaca-
se a situação estatística do Ministério da Saúde sobre a COVID-19; as condições físicas do
ambiente escolar; o (re) planejamento das atividades, tendo, em vista, o Plano de Ação da
UEE; a avaliação processual e como se daria, tecnicamente, os encontros, ou seja, presenciais
ou on-line.
Como instrumento metodológico, utilizou-se questionário on-line, através
da plataforma Google Forms, com duas perguntas; a primeira, de cunho subjetivo e a
segunda, de múltipla escolha para sistematizar e compartilhar os resultados, em que 12
(doze) profissionais participaram voluntariamente. E, também, através de grupo focal.
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ensino, como também aprendizagem, com vistas às práticas pedagógicas para alunos com
deficiência, pois, reforça-se que a Educação Especial perpassa todos os níveis, etapas e
modalidades educacionais. Sendo assim, o Atendimento Educacional Especializado (AEE)
deve, também, ser garantido no período de emergência, em trabalho de parceria entre
professores regentes e especializados e das famílias. Para os estudantes - Público-Alvo da
Educação Especial (PAEE), a instituição deve oferecer o suporte necessário. Porém, admite-
se que essas diretrizes causam discussões e reflexões no universo escolar, visto que tanto
a saúde, como as condições socioeconômicas de alunos, aliado aos demais problemas, tais
como: infraestrutura física e tecnológica da maioria das escolas públicas impossibilita uma
retomada, mesmo através de aulas síncronas.
Evidencia-se, também, a dificuldade dos educadores no uso das tecnologias da
informação e da comunicação. Apesar de que, para muitos professores, esse período está
sendo de intenso aprendizado e também de muitos desafios. Mesmo assim, o Parecer
005/2020 propõe atividades pedagógicas não presenciais aos alunos de todos os níveis,
etapas e modalidades educacionais. Portanto, é extensivo àqueles submetidos a regimes
especiais de ensino, entre os quais, os que apresentam altas habilidades/superdotação,
deficiência e Transtorno do Espectro Autista (TEA), atendidos pela modalidade de
Educação Especial.
A respeito da colaboração entre os entes federados, o MEC/2020 considera que os
sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios têm liberdade de
organização e poder regulatório próprio, devendo buscar e assegurar medidas locais que
garantam a oferta de serviços, recursos e estratégias para que o atendimento dos estudantes
da educação especial ocorra com padrão de qualidade. O Atendimento Educacional
Especializado (AEE) deve, também, ser garantido no período de emergência, mobilizado e
orientado por professores regentes e especializados, em articulação com as famílias para a
organização das atividades pedagógicas não presenciais a serem realizadas.
Neste sentido, os professores do AEE atuariam com os professores regentes em rede,
articulados com a equipe escolar, desempenhando suas funções na adequação de materiais,
provimento de orientações específicas às famílias e apoios necessários. Eles, também,
deverão dar suporte às escolas na elaboração de planos de estudo individualizados, segundo
a singularidade dos alunos a serem disponibilizados e articulados com as famílias.
No caso dos estudantes matriculados em instituições privadas, de qualquer nível e
modalidade de ensino, o atendimento educacional especializado deverá ser realizado pelos
profissionais responsáveis no âmbito de cada escola.
Algumas situações requerem ações mais específicas por parte da instituição escolar,
como nos casos de acessibilidade sociolinguística aos estudantes surdos usuários da Língua
Brasileira de Sinais (Libras), acessibilidade à comunicação e informação para os estudantes
com deficiência visual e surdocegueira, no uso de códigos e linguagens específicas, entre
outros recursos que atendam àqueles que apresentem comprometimentos nas áreas de
comunicação e interação (BRASIL, 2020).
Complementando as diretrizes, o MEC/2020 propõe que atividades pedagógicas não
presenciais, mediadas ou não por tecnologias digitais de informação e comunicação, adotarão
medidas de acessibilidade igualmente garantidas, enquanto perdurar a impossibilidade de
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PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Inicia-se esse tópico com base na teoria de Severino (2016, p. 27) sobre o conceito de
pesquisa, em que diz que a pesquisa é um processo de construção de conhecimento e tem
como tríplice dimensão:
[...] “uma dimensão propriamente epistêmica, uma vez que se trata de uma
forma de conhecer o real; uma dimensão pedagógica, pois é por intermédio
de sua prática que ensinamos e aprendemos significamente; uma dimensão
social, na medida em que são os seus resultados que viabilizam uma
intervenção eficaz na sociedade através da atividade de extensão”.
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Dito isso, enfatiza-se Lopes; Dal’igna (2007) quando diz que considera a cidadania
global como um conceito importante a ser debatido no cenário pedagógico atual, a autora
expõe ainda que é por meio de uma discussão mais acurada que se problematiza dinâmicas
de poder-saber que estão envolvidas nos processos de formação e produção do exercício da
cidadania. Com isso, ratifica-se que o empreendimento de pesquisa procura estabelecer a
relação nítida entre construção de saberes e realidade social para avançar, democraticamente,
nas práticas pedagógicas, durante e após a pandemia.
Nesse cerne, a pesquisa mostra que até o momento, há indefinições quanto as
possibilidades de aulas remotas ou presenciais aos alunos com deficiência na Unidade, haja
vista que, mais que garantir aulas letivas, é de maior importância, segundo as narrativas
dos professores participantes, é a garantia da vida. Além disso, enfatizam que, no cenário
atual de incertezas, não há como garantir a efetiva participação dos alunos, pois é necessário
que todos estejam bem. Esse “bem” diz respeito à saúde, ao bem-estar físico e emocional.
Somando-se a esse embate, têm-se as questões do uso das tecnologias digitais, em que
muitos não dominam, ou mesmo não as possuem. Dessa forma, citam-se algumas narrativas
dos próprios educadores, neste primeiro momento:
“Muitas pessoas estão morrendo. Isso é muito sério. Quem garantirá a nossa
segurança?”
“Tive contato através do celular com alguns pais e eles disseram que mesmo
que as aulas retornem eles não vão mandar os filhos”.
“O acesso remoto até poderia funcionar, se os alunos tivessem celular e
conexão”.
“As famílias têm dificuldades para interagir por meio das tecnologias digitais”.
“Nossos alunos possuem especificidades e singularidades que requerem
maiores cuidados e práticas mais assertivas.
Como percebido nas falas dos professores, a inviabilidade do retorno das aulas
presenciais e mesmo remotas são nítidas, tendo em vista dois principais agravantes: a
falta de segurança e o aumento nos casos de contaminação, como também a desigualdade
socioeconômica, que impede que muitos tenham acesso às tecnologias digitais. No entanto,
os professores opinaram em trabalhar a busca ativa através do aplicativo WhatsApp para
saber como os alunos se sentem neste período crítico e quais as principais atividades
realizadas por eles no momento.
Somando-se a essa atividade, foi realizado pela coordenação pedagógica, através de
questionário on-line, levantamento de temas para serem trabalhados com os professores de
forma remota. As questões do questionário foram as seguintes: 1) Com vistas à continuidade
de algumas atividades pedagógicas, peço que elenquem três temáticas para desenvolvermos
a partir de agosto. 2) Qual a melhor forma de participação nesses encontros, tendo em vista
a segurança e prevenção do COVID-19? a) Encontros através de lives via Google MEET. b)
Encontros na UEES usando todos os cuidados necessários para prevenção contra o COVID-19
e c) Em formato on-line e presencial, ou seja, alternando em dias de maneira remota e em
dias de maneira presencial.
Desse levantamento, os resultados apurados quanto aos temas foram: 1. Novas
possibilidades de ensinar no contexto da pandemia. 2. Realizar levantamento dos alunos
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CONSIDERAÇÕES GERAIS
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REFERÊNCIAS
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20. LOPES, Maura. Corcini; DAL’IGNA, Maria. Cláudia. (Org.). In/Exclusão: nas tramas
da escola. Cidade: Canoas/RS. Editora: ULBRA, 2007.
21.FABRIS, Elí T.Henn; KLEIN, Rejane Ramos (Orgs.) Inclusão e biopolítica. Cidade:
Belo Horizonte. Editora: Autêntica, 2013. (Coleção: Estudos Foucaultianos).
22. PARÁ. Secretaria de Estado de Educação. Projeto Político Pedagógico (PPP), Unidade
Educacional Especializada. Pag. 06-10, fev. 2020.
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29. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 24º. ed. Cidade: São Paulo:
Editora Cortez, 2016.
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3
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8573-609X, Graduanda de Enfermagem; Faculdade Cesmac do
Sertão - CESMAC; Palmeira dos Indios, Alagoas; Brasil. danyelleaquino_silva@hotmail.
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1797-0009, Graduanda de Enfermagem; Faculdade Cesmac do
Sertão - CESMAC; Brasil. jaquelinesouzaassis@outlook.com;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1955-7859, Graduanda de Enfermagem; Faculdade Cesmac do
Sertão - CESMAC; Brasil. raissaacl@hotmail.com;
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4406-1783, Graduanda de Enfermagem; Faculdade Cesmac do
Sertão - CESMAC; Brasil. suthamires@hotmail.com;
(5)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9729-5014, Docente; Faculdade Cesmac do Sertão - CESMAC; Brasil.
manu_prestrelo@hotmail.com.
ABSTRACT: Visually impaired people have the right to express their desire for their education and
the school environment has a duty to offer inclusive education. The purpose of this experience report is to
demonstrate the construction and the importance of a didactic model as a proposed methodology to study the
differences between a normal eukaryotic cell and a cancerous cell, applied with visually impaired students,
from a public school in the city de Palmeira dos Índios-AL, in order to guarantee the learning of these students,
given the complexity of studying this content without an adequate resource. At first, there was a survey of
visually impaired children on a visit to the Municipal Secretary of Education, shortly after the acquired data was
analyzed and meetings were held to develop the didactic material, using the discipline of MAD I (Mechanism
of Aggression) and Defense I) for the construction of the model. The materials used in the construction of the
model are mostly recycled and others are easily accessible. After applying this resource, the importance of
using the model containing Braille text was identified in the identification of all organelles. It is understood
that in this way, the material produced stimulates the knowledge and understanding of the content passed on
in the classroom, meeting the needs of the visually impaired, promoting significant learning.
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INTRODUÇÃO
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preparo adequado para trabalhar com esses alunos (MARCELINO, 2019). A inclusão, na
escola, seria, então, o processo de adaptação e de transformação para inserir, em suas
classes regulares, crianças e jovens portadores de deficiência que estão em busca de seu
desenvolvimento e exercício da cidadania para que, além de ter a participação física desse
aluno, deve ter o desenvolvimento intelectual e pessoal do indivíduo.
A definição, para deficiência visual, tem como definição uma limitação no campo da
visão, incluindo desde a cegueira total até a visão subnormal ou baixa visão, afetando de
modo irreparável a capacidade visual de perceber cor, tamanho, distância, forma, posição ou
até mesmo o movimento em um campo mais ou menos extenso. Conforme segue na portaria
nº 3.128/2008, art.1 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2008):
Cegueira – a ser usado, somente, para perda total de visão e para condições
nas quais os indivíduos precisam contar, predominantemente, com
habilidades de substituição da visão.
Baixa Visão – a ser usado para graus menores de perda de visão quando
os indivíduos podem receber auxílio significativo por meio de aparelhos e
dispositivos de reforço da visão.
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
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Figura II. Modelo da célula eucarionte e suas organelas identificadas com placas escritas em Braille.
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
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facilitaram ainda mais o aprendizado. “Os modelos produzidos têm o intuito de inclusão e
todos os alunos poderão utilizá-los durante as aulas” (CERGUEIRA; FERREIRA, 2000). A
didática também instigou a curiosidade dos colegas de sala que não apresentavam deficiência
visual, estimulando a interação social entre os alunos, através de perguntas e respostas sobre
o conteúdo exposto. Com esse resultado positivo dos alunos, é perceptível a importância da
utilização com mais frequência dessa metodologia.
Além do material adaptado, para deficiente visual sanar a lacuna na falta de materiais,
poderá, também, auxiliar, nas dúvidas dos alunos normovisuais, no ensino de Ciência
Biológica. É de conhecimento a carência de equipamentos e materiais, nas escolas, que
possam auxiliar no processo de aprendizagem, devido, às vezes, ao seu alto custo. Dessa
forma, os modelos são considerados grandes aliados dos professores, principalmente, por
apresentarem materiais reciclados ou de fácil acesso e de custo baixo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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educacionais especiais de alunos cegos e de alunos com baixa visão. Brasília: Ministério
da Saúde, 2006.
8. BRASIL. Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras
de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração
da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), institui a tutela jurisdicional de interesses
coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define
crimes, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 outubro, 1989.
10. DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Global, 1994.
12. PAULINO, A.L.S.; VAZ, J.M.C.; BAZON, F.V.M. Materiais adaptados para ensino de
biologia como recursos de inclusão de alunos com deficiência visual. VII Encontro da
Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial -Londrina, p. 672-682, 2011.
13. SANTOS, C. R.; MANGA, V.P.B.B. Deficiência visual e ensino de biologia: pressupostos
inclusivos. Revista Científica da Faculdade Cenecista de Vila Velha, Vila Velha, n.13, p.13-
22, 2009.
42
4
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2317-6343, Professora Assistente da Universidade Estadual de
Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), Maceió, Alagoas, Brasil. Email:cristiane.pedruzzi@uncisal.edu.br
ABSTRACT: The cochlear implant (CI) is an electronic auditory device, made available by the Unified Health
System, which allows access to hearing and a communicative modality in all environments. In addition, the
educational care of students with special needs should be performed in the regular classes of schools, at all levels
of education, ensuring accessibility to communication. Objective: to report experiences of school inclusion
of students who use cochlear implants. Methodology used: Experience report involving four students with
hearing loss, CI users who obtained interventions related to inclusion promoted by the partnership between
family, school and clinic; four academics/therapists, the supervising teacher and the pedagogical team of four
schools. This study was developed from the attendance of the students of the speech therapy course of the
State University of Health Sciences that has been occurring since 2013. Results and Discussion: In some
cases, CI users, when compared to listeners, have lower reading and writing performance. These students face
similar difficulties and challenges arising from delay in the acquisition of oral and written language. Final
comments: in this experience report, we obtained two situations: one, in which students present many
difficulties in socialization and learning, while in another, the school inclusion process occurred successfully.
It is affirmed that there are individual peculiarities and in the family and school context as determinants.
INTRODUÇÃO
PROCEDIMENTOS METODOLÓGIGOS
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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Caso 3 - Aos 04 anos de idade, estudante usuário de IC foi convidado pela escola privada
que frequentava para representar o personagem “grilo falante” da história do Pinóquio
na peça de teatro e, em outro evento, cantar uma música, juntamente, com seus colegas.
Ele sempre se apresentou por meio da oralidade, sem nenhuma dificuldade de interagir
com os colegas e de executar as atividades propostas. Neste período de isolamento social,
devido à pandemia do covid-19, as atividades escolares passaram a ser não presenciais, e,
em uma aula on line, o estudante, aos sete anos de idade, recebeu, como atividade, a leitura
de um texto a “espetacular fábrica de chocolate (imagem disponibilizada por meio de vídeo
familiar). Uma história repleta de detalhes e com mais de 50 linhas. Ele realizou com êxito a
tarefa e continua sem necessitar de nenhuma adaptação para acessibilidade à comunicação
aos conteúdos escolares.
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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Neste caso, nos primeiros anos escolares, houve encontros nas unidades educacionais
com os técnicos envolvidos no acompanhamento do mesmo para esclarecimentos acerca
dos ruídos competitivos, como: a televisão ligada, o ventilador e o barulho que entrava
pelas janelas. Foi esclarecido pelos terapeutas como todos esses ruídos atrapalhavam a
compreensão auditiva que o estudante estava desenvolvendo e foram apontadas soluções
para minimização dos mesmos.
Caso 4 - Estudante com 15 anos de idade, usuários de IC, desde os seis anos de
idade, comunica-se com frases simples (três palavras) por meio da oralidade, lê e escreve
frases simples (três a quatro palavras). Cursa o 8º ano do ensino fundamental II em escola
particular. Não consegue acompanhar os conteúdos propostos em sala de aula e também não
interage com os colegas de sala. Nos intervalos e eventos sociais da escola, ele permanece
mais próximo a colegas do 4º e 5º anos. A intervenção com a equipe da escola ocorreu em
várias etapas: inicialmente, os professores relataram suas dificuldades para ministrar os
conteúdos de maneira que o estudante entendesse e apresentaram muitas questões sobre
como ocorre o desenvolvimento da audição e de linguagem de estudantes usuários de IC. Em
atendimento a essas demandas, também foram realizadas orientações sobre a importância
da escola disponibilizar um professor de apoio que acompanhe este estudante usuário de IC
em sala de aula, as adaptações em apostilas, módulos e provas.
Este estudante continuou na sua turma regular, com professor de apoio, mas ainda
com muitas dificuldades de acompanhar o conteúdo, porque lê e escreve frases simples,
equivalentes ao segundo ano do fundamental I.
Neste relato de experiência, foram selecionadas duas situações que envolveram
estudantes com êxito na inclusão e que participavam, de maneira efetiva, das atividades
educacionais. Por outro lado, duas situações que estudantes usuários de IC estão com muitas
dificuldades no seu processo de inclusão, demonstrando um desempenho inexpressivo no
seu processo de aprendizagem e sem estarem de fato incluídos na dinâmica educacional.
Segundo Santos (2012) e Capovilla (2008), a aprendizagem dos conteúdos, por escolares
usuários de IC, têm se mostrado deficitária.
Para Brazorotto (2014), os usuários de IC, quando comparados aos ouvintes, possuem
um menor desempenho na leitura e na escrita. Eles enfrentam dificuldades e desafios
semelhantes advindos do atraso na aquisição da linguagem oral e escrita. As crianças com
IC possuem um atraso significativo de dois a três anos no desenvolvimento das habilidades
de leitura e de escrita, quando comparadas a escolares de audição normal na mesma série
(SPENCER, BARKER, TOMBLIN, 2012).
O desempenho de leitura e de escrita, em escolares usuários de IC, é,
consideravelmente, pior comparado a indivíduos com audição normal. No Brasil, um
país com um extenso território e diferenças regionais, há necessidade de novos estudos
referente à temática. Usuários de IC, em alguns casos, são reconhecidos como crianças
ouvintes e, em outros casos, como surdos que precisam de intérprete de LIBRAS em suas
escolas (OLIVEIRA et al., 2020).
Os estudos sobre a aprendizagem de leitura e escrita têm, repetidamente, apontado
para a relevância do desenvolvimento das habilidades metalinguísticas nesse processo. As
habilidades metalinguísticas apresentam diferentes tipos, tais como: segmentar e manipular
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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a fala em suas diversas unidades (p. ex., palavras, sílabas, fonemas); separar as palavras de
seus referentes (i.e., diferenciar entre significados e significantes); perceber semelhanças
sonoras entre as palavras (consciência fonológica); e julgar a coerência semântica e sintática
dos enunciados (YOSHIDA; CAPELLINI, 2017).
O treino das habilidades auditivas está vinculado ao treino da consciência fonológica
(JESUS et al. 2013). Vygotsky considera que o ponto de partida, para a aprendizagem, é constituído
pelas atividades que ocorrem muito antes da entrada da criança na escola. O conhecimento de
nomes de objetos, por exemplo, antes mesmo de saber escrever, permite afirmar que há uma
similaridade entre o aprendizado pré-escolar e o escolar (LUCCHESI, 2015).
As crianças sempre se socializam brincando, criando histórias e, às vezes, ao mesmo
tempo em que brincam, contam experiências sobre seu dia ou algo que tenham visto. Por
meio das brincadeiras, a criança satisfaz, em grande parte, seus interesses, necessidade e
desejos particulares, sendo um meio privilegiado de inserção na realidade, pois expressa
como a criança reflete, ordena, organiza, destrói e reconstrói o mundo. (MAGALHÃES et al.
2013). Ao brincar, a criança rearranja os aspectos de seu mundo, experimenta uma sensação
de prazer e de controle, em que sua subjetividade emerge com os objetos reais, além de
conseguir manifestar a criatividade (DELGADO-PINHEIRO, 2014).
No cotidiano escolar, estimulação e interação geram oportunidades de comunicação
oral por meio de conversas, discussões, comentários, relatos, músicas e recontos de histórias
(BIGOCHINSKI; ECKSTEIN, 2016). Para criança usuária de IC, que domina a dimensão do
discurso, poderá evoluir ainda mais nesta habilidade, e para aquelas que não dominam a
habilidade, precisam de mediadores para iniciar ou podem ficar alheias a essa habilidade.
Esse relato de experiência apresenta a importância de intervenções, na inclusão escolar,
de estudantes com perda auditiva usuários de implante coclear, mesmo que sejam ajustes
simples na estrutura do ambiente.
COMENTÁRIOS FINAIS
REFERÊNCIAS
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14. SPENCER, L. J.; BARKER, B. A.; TOMBLIN, J. B. Exploring the Language and Literacy
Outcomes of Pediatric Cochlear Implant Users. EAR HEAR, v. 24, n. 3, p. 236-247, June
2003.
15.TEIXEIRA, C.R., DICKEL, A., A aquisição da linguagem por meio das interações
promovidas pelo cuidador em classe de berçário. Rev de Psicopedagogia. SP. 30(91): 52-
63. 2013;
50
5
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3254-9263,cv: http://lattes.cnpq.br/9831815970586516;
Especialista em Linguagem pela Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL. Arapiraca, Alagoas; Brasil.
E-mail: francy.ely@hotmail.com
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000000180827478;cv: http://lattes.cnpq.br/8530177424957875 ;Mestranda
em Dinâmicas Territoriais e Cultura – PRODIC/ UNEAL. Professora efetiva da Rede Municipal de Ensino de
Traipu – Alagoas. E-mail: simonesos1@hotmail.com;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7121-3925;CV: http://lattes.cnpq.br/6029978762499707; Aluna
do curso de Especialização Latu-Senso em Linguagem pela Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL.
Arapiraca, Alagoas; Brasil. Email:rosy.f.silva@hotmail.com
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000000330011889;cv:http://lattes.cnpq.br/9251665509410894. Professora
da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL); Doutora em Letras pela Universidade Estadual de Maringá
(UEM), Arapiraca, Alagoas; Brasil. E-mail: sanadia.uneal@gmail.com.
ABSTRACT: The purpose of this article is to reflect on the importance of knowledge in Libras
associated with other pedagogical resources for teaching practice and as a means of including the deaf in
regular education. The research is of a bibliographic nature, with a qualitative basis and is anchored in the
theoretical foundations of authors such as Carvalho (2012), Nóvoa (2009), Skliar (1998), Goldfeld (1997) and
legal bases with emphasis on LDBEN and Laws 10.436 / 2002 and number 13.146 / 15. Conducted based
on the performance of scholarship holders from the Institutional Teaching Initiation Scholarship Program
(PIBID), it presents reflections on activities with deaf students in a school in the municipal network of
the interior of Alagoas. It also refers to a case study that analyzed the practice of the Portuguese language
teacher. It is understood that, in order to occur the insertion of students with deafness in regular education,
it is necessary that teachers seek training and improvement, among these, the appropriation of knowledge of
sign language, in order to grant mediation between both, aiming at teaching that respects the differences and
particularities of each individual so that the inclusion really takes place. In this process, it is known that the
work to be developed by the teacher is not easy. There are many barriers, however, overcome by the gratification
of witnessing the student’s development.
INTRODUÇÃO
Sabe-se que, em gerações passadas, os surdos eram vistos com piedade. A sociedade
julgava-os incapazes para realização de trabalhos e/ou estudos. Na longura dos anos, essa
ótica foi se modificando, de forma gradativa, após robusta discussão e reivindicações de
1
DOI: 10.48016/GT11Xenccultcap5
Educação inclusiva: múltiplos olhares
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Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (Redação dada pela
Lei nº 12.796, de 2013).
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola
regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos,
não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.
§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início
na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput deste artigo, tem
início na educação infantil e estende-se ao longo da vida, observados o inciso
III do art. 4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei. (Redação dada pela Lei
nº 13.632, de 2018) (BRASIL, 1996, p. 40)
Assim, a LDBEN nº 9394/96 assegura que a educação especial seja oferecida nas
instituições regulares de ensino, o que inclui o cidadão com necessidades especiais na esfera
educacional, porém, coloca, nas mãos dos professores, uma responsabilidade que, muitas
vezes, eles não dão conta. Isso implica dizer que as formações superiores, no quesito do
ensino de Libras - que é nosso objetivo de análise - ainda deixam muito a desejar, o que
prejudica aos alunos surdos na sua aprendizagem, contrapondo o que a Lei lhes assegura.
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
Ao longo dos anos, discute-se o despreparo das instituições de ensino para receber
alunos com deficiência auditiva. Observa-se que, mesmo com a inclusão da Libras, como
disciplina curricular obrigatória, especialmente, nos cursos de licenciaturas e fonoaudiologia,
regulamentada pelo Decreto nº 5.626 de 2005, grande parte dos professores não teve acesso
a essa disciplina em suas formações.
Esse decreto delibera a inclusão de Libras como disciplina curricular dispondo o
seguinte texto:
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos
cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível
médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino,
públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
§ 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o
curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia
e o curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de
professores e profissionais da educação para o exercício do magistério.
(DECRETO nº 5.626/05).
Dessa forma, como poderiam eles garantir o direito do aluno surdo, sem que tenham
adquirido o conhecimento básico da língua necessário para a comunicação com o aluno
portador de surdez? Deste modo, vemos a importância do ensino de Libras, como disciplina
curricular nos cursos de formação de professores, pois, a mesma ajudará ao futuro professor
na aquisição de conhecimento específico e, possivelmente, na sua prática pedagógica, com
os alunos surdos, ajudando a incluí-los dentro do contexto educacional.
Atualmente, o crescente número de alunos com perda auditiva, nas escolas de
ensino regular, é inevitável, uma vez que as políticas públicas educacionais defendem a
necessidade de uma educação inclusiva, que dê acesso e possibilite a aprendizagem, como
também desenvolvimento de todos os alunos, independente deles terem deficiências ou não.
Assim, enxergamos que a inclusão da disciplina de Libras, na grade curricular dos cursos de
licenciaturas, não é a solução, mas um passo fundamental para um início da mudança no
cenário educacional do nosso país. A este respeito Costa e Lacerda (2015) relatam que:
Acerca dessa temática, Nóvoa (2009) também nos remete a uma análise à formação
inicial dos professores, no qual passará por várias fases até chegar à consolidação de seu
profissionalismo e saberes, pois entendemos que, logo após a formação acadêmica, o
professor inserido, no espaço escolar como profissional da área, é exigido dele outras
responsabilidades e condutas diferentemente do período de estagiário, porém, essa fase
de iniciante da carreira de professor é primordial para seu conceito de profissionalidade e
responsabilidade social.
Reforça-se, a partir de tais colocações, a necessidade desses saberes essenciais para que
os graduandos construam percursos significativos de aprendizagem para o desenvolvimento
profissional, visto que é só, a partir da prática, que o professor conseguirá aperfeiçoar o aprendido,
dando significado e mais qualidade no ensino que pretende ministrar para o aluno com surdez
inserido na turma, buscando igualdade com equidade no desenvolvimento de suas aulas.
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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A educação inclusiva requer das escolas regulares e dos profissionais que se adequem
à nova realidade. Esse requisito educacional vem reconhecer a importância pedagógica de
Libras como ferramenta para o educador estabelecer comunicação e para inclusão de alunos
com deficiência auditiva.
No Brasil, os surdos sentem-se como estranhos em sua própria sociedade, visto que
a comunidade não compreende seus apelos mais evidentes. Os professores se desesperam,
porque não foram e não estão preparados para atender às necessidades desse público. O
fato de o professor não estar devidamente apto para receber o aluno surdo é realidade, e
acontece com a maioria dos professores de escola regular. Assim, como ressaltam Silva
e Pereira (2003, p.01), “quando o professor recebe esse aluno, muitas vezes exibe ideias
preconcebidas ou concepções equivocadas a respeito da surdez, muitas vezes atribuindo ao
aluno imagens depreciativas”. A soma das angústias desse profissional e a desestrutura das
unidades de ensino ampliam a problemática da exclusão, como também afastam, cada vez
mais, as possibilidades de inclusão dos alunos surdos ao ensino regular com equidade e
qualidade. As autoras explicam que:
[...] a integração escolar tem como objetivo inserir o aluno com deficiência na
escola regular, porém, essa escola permanece organizada da mesma forma e
é o aluno que foi inserido que deverá adaptar-se a ela. No entanto no sistema
de ensino inclusivo é a escola que se reorganiza para atender a especificidade
de cada aluno (SILVA; PEREIRA, 2003, p.32),
Infelizmente, a educação dos surdos é marcada por essa e por outras muitas barreiras,
a começar pela falta de estrutura encontrada nos ambientes onde estão inseridos. Como
ressalta Skiliar (1998, p. 22), o surdo pertence à minoria e a Libras é utilizada por poucos,
o que dificulta a sua aceitação pela rede regular de ensino. Para ele, a escola é organizada,
metodologicamente, profissionalmente e estruturalmente para ouvintes.
Diante desta realidade, é indispensável abastecer-se de conhecimento a respeito dos
surdos, principalmente, os educadores para saber lidar com eles com mais eficácia. Tudo
isso implica saber, então, de imediato, que nomear alguém como surdo-mudo não é correto.
Muitas pessoas surdas não falam porque não aprenderam a falar. Muitas fazem a leitura
labial e podem fazer muitos sons com a garganta, ao rir, e mesmo ao gestualizar. É muito
importante considerar que o surdo difere do ouvinte, não apenas porque não ouve, mas
porque desenvolve potencialidades psicoculturais próprias. Surdo-mudo é, provavelmente,
a mais antiga e incorreta denominação atribuída ao surdo. A mudez é outra deficiência.
Além disso, sua comunicação envolve todo o seu espaço, através da expressão facial-
corporal, ou seja, o uso da face, mãos e braços, visto que, a forma de expressão visual-espacial
é, sobretudo, importante em sua língua natural e principal meio de conhecer o mundo em
substituição à audição e à fala.
No Brasil, os surdos desenvolveram a Libras e, em Portugal, a LGP (Língua Gestual
Portuguesa), outros, por viverem isolados ou em locais onde não exista uma comunidade
surda, apenas se comunicam por gestos. Importa mencionar que existem surdos que, por
imposição familiar ou opção pessoal, preferem utilizar a língua falada. No caso específico dos
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surdos brasileiros, cuja língua materna de sinais é a Libras, os intérpretes que os assistem
são chamados de “Intérpretes de Libras”. Cabe ressaltar que, ao se tomar alguns cuidados na
comunicação com o surdo, conferem-lhe o respeito ao qual ele tem direito.
Nesse sentido, Medeiros (2011, p.25) pondera que “a chave para uma boa comunicação
com uma pessoa surda é o claro e apropriado contato visual”. Em relação a isso, ele ressalta
que “é uma necessidade quando os surdos se comunicam”. Assim, podemos inferir que
não há outra maneira eficaz de compreensão de sua linguagem, se não por meio do olhar
atento a todos os gestos, sinais e expressões utilizadas para transmitir a mensagem. Por
essa razão, consoante ao pensamento de Medeiros (2011), numa conversação em língua de
sinais, considera-se “rude desviar o olhar e interromper o contato visual”. Um contexto que
aponta para a fundante necessidade de apropriar-se bem de uma língua de sinais, mas, antes
de tudo, pensar essa língua.
Outrossim, faz-se necessário saber, que ao tratar uma pessoa deficiente como se ela
não tivesse uma deficiência, é ignorar uma característica muito importante dela e, dessa
forma, não estaríamos nos relacionando com ela, mas com outra pessoa não real. Se a
deficiência existe, é preciso considerá-la, dando-lhe o devido tratamento.
A escola, nesse contexto, aparece com o dever de ser um espaço em que o surdo possa
usar livremente sua língua. O problema é que, ainda hoje, a maioria das escolas brasileiras
não possuem intérpretes para ajudar as crianças surdas a adquirir o conhecimento da Libras
e “sem o fomento dessas condições, a educação da criança surda vai estar sempre aquém da
educação que é destinada à criança ouvinte, e as dificuldades para ela aprender o português
vão permanecer” (XAVIER; VIOTTI, 2011).
Ademais, é preciso considerar que o ensino de Libras pode se dar em duas situações
distintas: na primeira dessas, os educandos surdos aprendem Libras como primeira língua
(L1); na segunda, os educandos ouvintes aprendem a Libras como segunda língua (L2). Em
se tratando de uma escola inclusiva, esse aprendizado pode ocorrer de forma simultânea.
Desse modo, para o ensino de Libras como L1, o professor deve estar ciente de que
a Língua Brasileira de Sinais é, principalmente, visual e, para o educando surdo, esse é o
sentido pelo qual irá apreender toda a estrutura gramatical dessa linguagem, o que evoca
a Pedagogia Visual ou da Diferença que, consoante aos dizeres de Basso, Strobel e Masutti,
(2009, p.17), assumi-la “representa a possibilidade real de encarar a prática pedagógica e o
processo ensino-aprendizagem a partir da perspectiva surda ou da concepção surda sobre
a educação”, o que demanda, também, “uma postura educacional que assuma seu papel
emancipatório e transformador e que veja o surdo como uma pessoa completa” (RANGEL;
STUMPF, 2004). Em outras palavras, adotar uma pedagogia
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O Oralismo percebe a surdez como uma deficiência que deve ser minimizada
pela estimulação auditiva. Essa estimulação possibilitaria a aprendizagem
da língua portuguesa e levaria a criança surda a integrar-se na comunidade
ouvinte e desenvolver uma personalidade como a de um ouvinte. Ou seja, o
objetivo do Oralismo é fazer uma reabilitação da criança surda em direção à
normalidade. (GOLDFELD, 2002, p. 34).
Com essa metodologia, utilizada pela maioria das escolas na educação de surdos de
muitos países, a língua de sinais foi proibida. Schelp (2008) pontua que, no Oralismo, a
primeira medida educacional implantada foi proibir o uso da língua de sinais e obrigar os
alunos surdos a sentarem sobre as mãos para que, assim, pudessem ser oralizados. Segundo
o autor, os professores surdos que, até então, atuavam nas escolas e nas salas de aula, foram
dispensados de todas as escolas e institutos.
Como consequência das práticas oralistas, os surdos não aprenderam a falar.
Conseguiam pronunciar apenas algumas palavras que eram repetidas de forma mecânica
sem saber o que elas realmente significavam. Esse método resultou em milhões de surdos
analfabetos. E os surdos que passaram por essa metodologia trazem marcas negativas em
suas vidas até os dias atuais (STREIECHEN, 2012, p.17).
Surge, então, o método que ficou conhecido como Comunicação Total cuja principal
meta era o uso de qualquer estratégia que pudesse permitir o resgate na comunicação das
pessoas surdas. Este modelo combinava a língua de sinais, gestos, mímicas, leitura labial, entre
outros recursos que colaborasse com o desenvolvimento da língua oral (SCHELP, 2008).
Dessa forma, essa filosofia educacional não aparece para fazer negação ao Oralismo, mas
para somar. Como corrobora Marchesi (1995): “[...] a Comunicação Total não está em oposição
à utilização da língua oral, mas apresenta-se como um sistema de comunicação complementar”.
No entanto, também não obteve resultados satisfatórios, visto que a sua abordagem defendia
o uso simultâneo das duas línguas: a fala e os sinais (bimodalismo) e por serem duas línguas
distintas e com estruturas diferentes dificultava a aprendizagem dos alunos.
Bilinguismo é o modelo metodológico que equivale ao trabalho com duas línguas no
contexto escolar e, neste caso, as línguas em questão são a Língua Portuguesa (escrita) e a
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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Língua Brasileira de Sinais - Libras. Nesta proposta, o ideal para o sujeito surdo não seria a
sua adequação à realidade ouvinte, usuária da língua oral, mas sim assumir sua condição de
surdez como parte de suas características e identidade. “Busca respeitar o direito do sujeito
surdo, no que se refere ao acesso aos conhecimentos sociais e culturais em uma língua que
tenha domínio” (SKLIAR, 1998).
Nesta perspectiva, o Bilinguismo:
Esta Pedagogia defende que a criança surda deve ter aulas ministradas, em Libras,
por professores surdos desde a educação infantil. Entretanto, percebe-se que há um longo
caminho a ser percorrido para que, de fato, esta realidade se torne possível de ser vivida
pelas crianças surdas brasileiras. Infelizmente, ainda não há professores surdos em número
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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suficiente e preparados para assumirem tais funções, assim como não há professores
ouvintes fluentes, em Libras, para atuarem como tradutores/intérpretes nas instituições.
Por recomendação do MEC, o ensino de surdos no Brasil precisa ser:
Acerca disso, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura -
UNESCO quanto ao direito de toda criança a aprender, na educação básica, em sua língua
materna. Para que a formação bilíngue ocorra, é indicado que haja um instrutor surdo
responsável por ensinar e transmitir a cultura surda, juntamente, com a Libras, trabalhando
em conjunto com o professor bilíngue, ouvinte.
Nota-se, então, que se busca, constantemente, uma solução para ofertar uma educação
inclusiva para os surdos. Muitas dúvidas em relação a isso foram geradas e procedimentos
foram experimentados.
As metodologias não dão garantias e certezas de como o ensino deva ser. Cada
uma delas apresenta vantagens e desvantagens, porém, são elaborações desenvolvidas ou
reconhecidas pelos surdos ou construídas a partir da cultura surda que produz efeitos de
sentidos mais significativos para essa comunidade.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
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[...] o aluno surdo que usa a LIBRAS interage melhor com a turma [...] e,
sobretudo, com o seu professor (quando esses têm conhecimento sobre a
mesma e quando há um intérprete na sala de aula que auxilie esse diálogo).
Sem esses atributos, é impossível incluí-lo no ensino regular (BARBOSA
2007, p. 69)
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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atender a esse apelo da comunidade surda e das instituições de ensino. A começar pela
aprendizagem de uma nova língua e da mudança de práticas pedagógicas excludentes.
No cenário da inclusão que tanto se almeja, não cabe mais assistir um aluno surdo
frequentar as salas de aula, sem ter participação ativa; tentar ler os lábios do professor, sem
entender o que se diz, esperar os movimentos dos colegas para descobrir o que deverá ser
feito e reproduzir o que está no quadro, sem compreender o significado. Explicitamente,
isto não é inclusão. É urgente que a escola se comprometa com a inclusão plena do surdo,
compreendendo que, para isso, a adoção da língua de sinais como língua natural e sua
inclusão nos currículos são um dos principais movimentos neste sentido.
Esperamos que as medidas tomadas, em relação aos direitos do surdo, concretizem-
se na prática, abrangendo a todos que delas necessita. A escola deve buscar alternativas
e considerar indispensável o papel do intérprete como mediador no processo de ensino-
aprendizagem do educando surdo, no ensino de Libras como L1 ou L2. Bem como, considerar
que o professor precisa de formação e recursos didático-pedagógicos adequados para que o
surdo consiga adquirir o bilinguismo, não esquecendo que o aluno surdo clama para ter seu
direito de aprender garantido.
Além disso, esperamos que este estudo desperte reflexão nos educadores e futuros
educadores quanto à importância da formação em Língua Brasileira de Sinais e da inserção
de instrumentos pedagógicos adaptados e diversificados em sala de aula, como o que aqui
mencionamos, as HQs, recursos viáveis na mediação de leitura tanto para estudantes surdos,
como para estudantes ouvintes. Que a legislação se revele na prática, visto que, outrora,
os surdos já perderam muito tempo sendo segregados em escolas especializadas, que de
nada serviram e nada acrescentam ao conjunto necessário para a obtenção do seu pleno
desenvolvimento educacional.
REFERÊNCIAS
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7. BRASIL. Lei nº. 10.436, de 24 de Abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de
Sinais - Libras e dá outras providências. Brasília 2005.
16. ISIDORIO, A. R. Inclusão: aulas de Libras (L2) para crianças ouvintes em uma escola
inclusiva no Programa Mais Educação. Revista de Cultura Surda, Editora Arara Azul,
nº 20, jan. 2016. Disponível em: http://editora-arara-azul.com.br/site/revista_edicoes.
Acesso em: 9 jul. 2018.
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20. NÓVOA, A. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa, Educa. 2009. Cap. 1
Professores: O futuro ainda demora muito tempo? P. 9 – 24.
23. RANGEL, G., STUMPF, M. R. – A pedagogia da diferença para o surdo. In. LODI,
A. C.B., HARRISON, K.M.P. e CAMPOS, S.R.L. (org) - Leitura e escrita no contexto da
diversidade. Porto Alegre. Editora Mediação, 2004, p.86-97.
24. SALLES, H.M.M.L. et.al. Ensino de Língua Portuguesa para surdos: caminhos para a
prática pedagógica. Brasília: MEC, 2004, SEESP. V.1.
28. STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Trad. Magda
França Lopes. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
64
6
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8082-7478; CV: http://lattes.cnpq.br/8530177424957875 ;Mestranda
em Dinâmicas Territoriais e Cultura – PRODIC/ UNEAL. Professora efetiva da Rede Municipal de Ensino de
Traipu – Alagoas. E-mail: simonesos1@hotmail.com;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3254-9263,cv: http://lattes.cnpq.br/9831815970586516;
Especialista em Linguagem pela Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL. Arapiraca, Alagoas; Brazil.
E-mail: francy.ely@hotmail.com
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8636-5964; CV: http://lattes.cnpq.br/4019879330387749 Professora
Dra. em Ciências da Educação revalidado pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Arapiraca, Alagoas.
Brazil. E-mail: inalda1150@hotmail.com
ABSTRACT: The present work presents a discussion about the “Milan Congress”, an event that took place
at a time when sign language was banned in the world and oppressed the deaf community, which has suffered
damage until today. With regard to pedagogical issues, as reflections refer to the use of the comic book genre
as a promising didactic tool for teaching the deaf, for its visual aspects facilitate the way of telling the story of
the education of the deaf, which approaches the linguistic aspects of sign language. The objective of the study
sought to highlight the importance of valuing deaf culture and broadening the concept of inclusion, reinforcing
the approach on the theme and the use of comic books (HQs), in the teaching-learning process. The work is
anchored in the theoretical contributions of Marcuschi (2002), Mirais (2009) Silva (2018), Almeida and Cézar
(2018), using the method of exploratory research and bibliographical survey on the history of the deaf and the
Milan Congress It is emphasized that this investigation was prompted in the context of the classroom, where
difficulties were experienced in the teacher / student interaction in the activities of the Portuguese language,
lost in a sense of failure in the job of using quality and equity for all. The results pointed out, among other
things, that comic books are stimulating and dynamic resources because they contain mixed language and
provide various types of reading and interpretation; that despite the advances achieved with the approval
of Law 10.436 / 2002, that recognizes the Brazilian Sign Language - Libras and other associated expression
resources as a means of legal communication and expression of the deaf, Educational systems continue to fall
short of fulfilling these essential basic rights and seem to be crawling slowly along that path.
INTRODUÇÃO
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O CONGRESSO DE MILÃO
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habilidades sociais limitadas. Alguns dos efeitos negativos resultantes do oralismo e práticas
educacionais referentes a esse referencial são apontados por Lacerda (1998), a autora explica
que “a maior parte dos surdos profundos não desenvolveu uma fala socialmente satisfatória
[...] o desenvolvimento era parcial e tardio [...], implicando um atraso de desenvolvimento
global significativo”.
Quadro esse também visualizado por Skliar (2005). Ele corrobora com tal
caracterização e complementa que o evento foi “um marco histórico que cristalizou a
hegemonia do ouvir e do falar, e que se desdobrou em uma série de reformulações nas
estruturas, nos currículos e nas metodologias de várias instituições de então”.
Cabe lembrar que, após um século, as resoluções do Congresso de Milão e a
reestruturação da educação dos surdos foram sofrendo forte rejeição, culminando no 21º
Congresso Internacional de Educação de Surdos, em julho de 2010, quando as oito resoluções
do Congresso de Milão foram rejeitadas, um prenúncio das lutas surdas pela manutenção e
reconhecimento de sua cultura.
A seguir, proporcionamos uma reflexão a respeito de um trabalho de investigação
desenvolvido em nível de pesquisas ligadas ao curso de licenciatura Letras Libras da
Universidade Federal do Paraná sobre o projeto institucional “Gêneros textuais e o ensino
para surdos” da UFPR (BANPESQ/THALES 20160221902), cujos dados apresentados são
resultado final do projeto de iniciação científica intitulado “História da Educação de surdos
contada em HQ”.
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Silva (2018) destaca que, em todo mundo, a língua de sinais foi proibida durante
cem anos e, dessa forma, “os sujeitos surdos ficaram subjugados às práticas ouvintistas,
tendo que abandonar sua cultura e sua identidade surda, obrigados a se submeterem a uma
‘etnocentria ouvintista’, sendo forçados a imitá-los e a se esforçarem em parecer ouvintes”
(STROBEL, 2006, p. 247).
Tal situação levou a medicina a considerar a “surdez como uma doença e os surdos
como deficientes” e, consequentemente, a necessidade obrigatória de tratamento. Assim, a
medicina passou a focar na correção da audição, ignorando a pessoa surda e sua cultura-
língua-educação. Desse modo, as instituições educacionais iniciaram um trabalho de
“reabilitação auditiva, focada apenas no falar e ouvir dos alunos surdos, esquecendo o valor
da educação para o desenvolvimento cognitivo e o raciocínio”, como explica Silva (2018).
Essa concepção clínica induziu às escolas a desprezar o método da língua de sinais que vinha
utilizando e aderir ao método oral.
Cabe, diante de tal contexto, sublinhar o sofrimento dos sujeitos surdos que, durante
um século, não puderam desenvolver a sua língua. Tiveram suas habilidades podadas,
vivendo sufocados e aprisionados a uma língua que não era a deles e a qual não tinha a
mínima condição de aprender por conta de suas especificidades. Foi uma negligência
mundial a esses sujeitos.
Um cenário que reforça o quão importante foi transformar o conteúdo do Congresso
de Milão em quadrinhos, destacando o centenário de opressão dos surdos no mundo e a
preocupação em criar materiais bilíngues para estas pessoas.
Ao se referir à opção pelo gênero textual história em quadrinho na educação desses
sujeitos, Silva (2018) justifica que “se deve a uma preocupação real dos aspectos culturais,
linguísticos e históricos que envolvem toda e qualquer forma de aprendizado, com destaque
às narrativas visuais para os surdos”.
Percorrendo no viés da relevância da HQ no desenvolvimento cognitivo dos surdos,
cabe considerá-la “um gênero promissor para uso didático no ensino para surdos, visto
que, é definida como uma forma de expressão artística, em que a estimulação visual
prevalece” (CEZAR; ALMEIDA, 2016), visão essa reforçada nos argumentos de Silva
(2018, p. 6) ao ressaltar que os “Gêneros textuais em HQ tomam forma diferente, porque
a língua de sinais é uma língua visual-espacial e, portanto, contém formas de expressão
que o espectador pode apreciar, usando, principalmente, sua experiência visual e cultural
(dos surdos)”.
Para esses autores, abordar a história dos surdos leva à reflexão sobre os recursos e
ferramentas de aprendizagem que ajudam o professor no ensino bilíngue. Mostra uma das
principais razões para adotar as HQs, na prática pedagógica, por serem leituras atrativas
para os estudantes. A esse respeito, Vergueiro (2010) contribui apontando algumas de suas
importâncias no contexto escolar:
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Esse leque de motivações amplia o interesse dos alunos, bem como, enriquece a
comunicação, auxiliando na compreensão dos significados. Cabe mencionar que o uso das
HQs é prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei 9394/96 e
que a oficialização do uso desse gênero ocorreu de forma mais sistemática nos Parâmetros
Curriculares Nacionais – os PCNs.
Por fim, Almeida e Cézar (2018, p.10) apresentam o material bilíngue para surdos que
objetivou narrar, visualmente, o tema mundial “Congresso de Milão”, reportando-se à época
em que se proibiu a língua de sinais no mundo e oprimiu a comunidade surda, que sofre
danos até os dias atuais. Além disso, os autores ressaltam os resultados pretendidos com
esse trabalho sublinhando suas contribuições acadêmicas, científicas e social:
Dessa forma, enxerga-se que a expectativa é que o citado instrumento venha enriquecer
a prática pedagógica e estimular reflexões, metodologias diferenciadas e, como objetivaram
Cézar e Paulino (2018, p.10), “contribuir nos aspectos acadêmicos e científicos” para que
haja aprofundamento desse conhecimento, adequação e elaboração de métodos outros que
venham auxiliar na tarefa de educar, ensinar e aprender. Considerando que,
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Assim, o que os surdos necessitam, na verdade, é serem vistos como eles próprios,
com suas particularidades, culturas e com respeito, pois, como qualquer outra pessoa, eles
apresentam dificuldades e facilidades no aprender alguma coisa. Ninguém é hábil em tudo,
porque cada pessoa é única mesmo nas diferenças.
O contexto que se apresenta evoca uma discussão sobre o gênero textual história em
quadrinhos a (HQs) com o intuito de aprofundar o conhecimento a esse respeito e atender
às necessidades específicas da pessoa surda para obter aprendizagem significativa. O gênero
é considerado um recurso interdisciplinar com contribuições relevantes, em especial, para o
ensino de línguas, como veremos a seguir.
A partir do que nos coloca o autor, compreendemos que os gêneros textuais estão
contidos na nossa vida cotidiana e que não nos comunicamos a não ser por algum gênero
textual. Entendimento que podemos encontrar na teria dos gêneros do discurso de Bakhtin,
quando sublinha que [...] Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos,
se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase
impossível (BAKHTIN, 2000: 301-302).
Os argumentos postos permite-nos reconhecer a relevância do emprego do gênero
HQs, que ilustrou o Congresso de Milão numa narrativa que facilitou o entendimento dos
surdos pela vantagem das várias leituras que se pode extrair. São palavras, expressões,
formato dos balões, imagens, contexto usados para abarcar a atenção do leitor, seja ele um
ouvinte ou um surdo.
Além disso, o gênero desperta o interesse dos estudantes de todas as idades.
Considerações essas que se fortalecem nos dizeres de Cézar (2015) ao enfatizar que os
gêneros textuais se apresentam como um dos recursos de ensino-aprendizagem mais
eficazes para o ensino de surdos e para promover a reflexão sobre o funcionamento da
língua brasileira de sinais.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA
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Ressaltando a citação das autoras, vale destacar que, ainda sendo uma língua
considerada nova, a Libras não lhe confere o título de língua menos desenvolvida, pois:
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do qual faziam parte, pois eram vistas como pessoas improdutivas, incapazes, deficientes
intelectuais e físicas, e por isso, mantidas isoladas.
A história mostra essa verdade que, ao longo dos séculos, essa realidade foi se
modificando gradativamente e, nos séculos XVII e XVIII, as pessoas com deficiências
começaram a ser valorizadas como ser humano, a partir da consideração de sua patologia.
Entretanto, foi somente a partir do século XIX que foram criadas as primeiras instituições
para os deficientes, mas ainda, com a oferta de atendimento precário, digno do paradigma
da exclusão.
Vagula e Vedoato (2014) destacam que, por volta de 1950, foram criadas as escolas
especializadas e as classes especiais em uma perspectiva assistencialista e com a atuação das
instituições filantrópicas. As autoras ainda acrescentam que:
Pode-se notar, então, que a duras penas, a educação inclusiva sofre avanços significantes
no decorrer de seu surgimento. Mesmo com a decadência das instituições do século XIX,
esse preceito de educação inclusiva não foi esquecido ou banalizado, sendo reformulado e
implementado nas escolas regulares.
No Brasil, após muitos fracassos na implantação das instituições escolares destinadas
a pessoas com deficiência, entre 1930 e 1940, expandiu-se, consideravelmente, o número
de instituições dedicadas ao atendimento dos alunos com necessidades educativas especiais
(BUENO, 1993, p. 90), contudo:
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Para a autora, o problema não reside na inserção dos alunos surdos nas turmas
regulares, mas na ausência de estrutura e preparo específico de seus profissionais,
necessários ao atendimento desse público. É preciso, antes de tudo, que ao matricularem
e incluírem esses alunos em salas de aulas regulares, os educadores dessas instituições
tenham o cuidado de não interpretarem erroneamente a questão da igualdade, tendo
em mente que essa se refere a condições de aprendizagem. Mais importante do que
inserir um estudante em uma sala de aula regular, é fornecer as condições necessárias
com metodologias adaptadas para que esse possa alcançar o aprendizado, assim como os
demais estudantes.
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Dentre algumas dificuldades que as escolas encontram, na inclusão dos alunos surdos,
nas salas regulares, Carvalho (2012) destaca “a escassez de pessoas capacitadas a atuar como
intérprete dentro das escolas” sendo uma das mais evidentes, a autora diz ainda que esse
aspecto se dá pelo seguinte motivo:
No Brasil, poucos têm formação específica para serem intérpretes, mesmo com
o crescimento do número de cursos oferecidos, já que eles se concentram nos
grandes centros, atingindo um número restrito de pessoas. No interior esse
quadro é ainda mais crítico, já que esse tipo de atividade exige dedicação,
estudo contínuo e grande disponibilidade de tempo (CARVALHO, 2012, p. 05).
Assim, atentos à discussão ora exposta, pode-se fazer um link com a realidade dos
contextos educacionais dos quais todos, de alguma forma, fazem parte. Seja no exercício
da docência, seja na condição de estudantes, seja na condição de cidadão dotado de direito
e deveres. O que aqui impera é perceber que esses entraves na educação dos alunos com
necessidades especiais, abre-se um parêntese para os surdos, existem e precisam de solução.
As leis estão aí, foram conquistadas, muito se sofreu para alcançá-las, contudo, por si só, elas
não se realizam. Elas precisam sair do papel e se concretizarem, mas, para isso, precisa-se
de pessoas (educadores, governantes) que as pratiquem e as proporcionem a quem lhe é de
direito para que a inclusão realmente aconteça.
MATERIAL E MÉTODOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A tentativa de fixação de uma identidade ouvinte, nos sujeitos surdos, foi ferrenha e
posicionou-os num espaço que impossibilitava seu progresso cognitivo. As palavras ditas e
expressas por suas mãos foram silenciadas por longo tempo em consequência do “holocausto
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linguístico, cognitivo e cultural” (Skliar, 2005, p.16), oriundo do Congresso de Milão, que
instituía o Oralismo como melhor e único sistema para a educação dos surdos.
A presente discussão traz robustos argumentos que apontam o gênero textual HQs,
como um importante instrumento para o trabalho com esses estudantes, pois traz uma
linguagem mista, que fala através de imagens, expressões, palavras, provocando a sensação
de prazer e estimulando a emoção.
Aponta que, apesar dos avanços conquistados com a aprovação da lei 10.436/2002 e
do Decreto-lei nº 5.626/2005, que reconhece a língua brasileira de sinais - Líbras e outros
recursos de expressão a ela associados como meio legal de comunicação e expressão dos
surdos, os sistemas educacionais continuam aquém do cumprir esses direitos básicos
essenciais, como também parecem engatinhar, morosamente, nesse percurso. Contudo, não
deixa dúvidas de que essas conquistas precisam chegar a quem lhes é de direito.
Atualmente, o surdo é reconhecido em suas especificidades, mas o atendimento às suas
necessidades é tímido e construir conhecimentos acerca de práticas educacionais específicas
para o aluno com surdez, com enfoque no ensino-aprendizagem, é de urgente necessidade.
Não se pode atribuir tamanha responsabilidade somente ao professor. Ele não pode
tudo sozinho. Precisa de apoio, de formação continuada que subsidie sua prática pedagógica
especializada. O desafio está posto. Reinventar-se é a palavra de ordem para ele, em favor do
seu aluno e da sua própria consciência.
Estamos diante de seres de linguagens híbridas, ouvintes e surdos, com necessidades
comuns: a comunicação, numa busca constante e necessária pelo conhecimento. Pois há os
que falam com as mãos, os que ouvem com os olhos, os que silenciam com a boca, mas todos
eles (nas suas diferenças) clamam numa só voz pelo direito de iguais oportunidades. Nada
além do possível, do que se situa no campo da respeitabilidade, lugar de onde tudo deve
começar e permanecer.
Assim, chegamos ao ponto que pretendíamos: provocar reflexões sobre a valorização
da cultura surda e sobre o conceito de inclusão, abordamos sobre os efeitos do Congresso
de Milão e o uso das histórias em quadrinhos (HQs) no processo ensino-aprendizagem,
lançamos um olhar sobre essa metodologia diferenciada e promissora. Esperamos
estimular novos olhares para a temática, como também contribuir nos aspectos acadêmicos
e científicos, para que outros, assim como nós, possam encontrar na literatura e no teor
dos nos nossos escritos, métodos outros que possam auxiliar na incrível dinâmica do
aprender para ensinar, ensinar para aprender. Não estamos encerrando a discussão,
estamos estimulando uma nova.
REFERÊNCIAS
3. ––––––. Os gêneros do discurso. In: –––. Estética da criação verbal. 3ª ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2000, p. 277-326.
77
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8. CEZAR, K. P. L. Uma proposta linguística para o ensino da escrita formal para surdos
brasileiros e portugueses, 2014.
12. MARTINS, L. A. R. Inclusão: compartilhando saberes. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006, p. 19.
78
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18. SILVA, D. Prefácio. In: ALMEIDA, Luiz Gustavo Paulino de; CEZAR, Kelly Priscilla
Lóddo. O congresso de Milão. Araraquara: Letraria, 2018.
20. _________. Um olhar sobre o nosso olhar acerca da surdez e das diferenças. In:
SKLIAR, Carlos (Org.). A surdez – um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação,
2005b.
79
7
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5703-7029, professora e pós-graduada em Educação Inclusiva e
Psicopedagogia, Maceió–Al, Brasil. E-mail: mairaveras@hotmail.com.
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7505-2476, Universidade Estadual de Alagoas, Campus Edmilson de
Vasconcelos Pontes, Professora, Mestre, Maceió-AL, Brasil. E-mail: anapaula.monteiro@uneal.edu.br.
ABSTRACT: Given the growing and significant number of students diagnosed with Autistic Spectrum
Disorder (ASD) who enter Brazilian higher education, it is necessary to look more closely at the actual conditions
that affect the conditions that affect the student. In this study, a survey is performed of what is presented about
the existing teaching-learning process and applied to these people, including higher education. The selected
texts were subjected to a thematic analysis, thus making a debate about a research of the works already
published on the subject in question, as well as a report of obstacles sometimes faced by students diagnosed
with disorder entering their university. Although a Brazilian society is more informed and guaranteed in the
face of laws such as rights guaranteed by people with a disability or disorder, there is an urgent need for
reflection and adaptation to this demand, especially what is important for teacher training. inclusion policies
in universities.
INTRODUÇÃO
1
DOI: 10.48016/GT11Xenccultcap7
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como o Brasil, é até agora não conhecida. No entanto, estudos epidemiológicos realizados,
nos últimos 50 anos, asseguram que a prevalência de TEA está aumentando no mundo todo
(ASSUMPÇÃO JÚNIOR; KUCZYNSKI, 2015).
Em função dessa crescente prevalência, pode-se considerar que a presença de alunos
com o diagnóstico de TEA tem sido frequente em todos os segmentos escolares. Tais alunos
vieram ocupar espaços da escola já alcançados por outros estudantes com as mais diversas
deficiências (sensoriais, intelectuais, neuromotoras, entre outras). Nesse sentido, a escola
teve – e está tendo – que aprender como atender às necessidades individuais de quem
apresenta o TEA (NUNES; SCHMIDT, 2019).
Os alunos com o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), assim como
todos os que possuem alguma deficiência, estão resguardados por diversas leis que prometem
assegurar condições de igualdade e direitos que atendem a suas necessidades quanto a seu
desenvolvimento, seu exercício da cidadania, bem como sua capacitação para o trabalho.
Desde a Constituição até as leis mais específicas, como a Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência (LBI) e a de n.º 12.764, a qual institui a Política Nacional de
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, todos têm sido
amparados legalmente; tendo em vista que passaram a ser considerados como pessoas
com deficiência e, portanto, precisando ter acesso aos direitos garantidos por todas as
políticas de inclusão do País, englobando, obviamente, a concernente à área educacional
(BRASIL, 2012).
No cenário atual, sabe-se que há a garantia legal da inclusão escolar da pessoa com
diagnóstico de TEA, desde a tenra idade, quando se dá o início de sua educação formal,
até o momento de conclusão da vida acadêmica. Isso se deve ao fato de que, à medida que
as discussões e o engajamento, em prol do cumprimento das leis, fazem-se cada vez mais
presentes, consequentemente, a pessoa com esse diagnóstico vem sendo acolhida em maiores
proporções no nível superior (MOREIRA; BOLSANELLO; SEGER, 2011).
No entanto, não há como as instituições de ensino desempenharem suas funções sem
produzirem uma série de questionamentos para compreenderem as necessidades desses alunos
e ampliarem práticas pedagógicas que favoreçam sua adaptação escolar e seu desenvolvimento.
O interesse de investigação deste estudo surgiu quando se deparou com um número
muito significativo de literatura científica produzida, tendo, como objeto de estudo, a
educação do aluno com diagnóstico de TEA na educação básica, mais precisamente 2.155
artigos entre os anos de 2014 e 2019, nas quatro bases de dados: SciELO, Google Scholar,
CAPES e LILACs.
Constatado esse número de publicações, considerou-se que, se existem muitos
estudos sobre a escolarização desse aluno na educação básica, é porque lá ele está presente
e inquietando cientistas em busca de respostas que garantam a qualidade do serviço nesse
nível escolar. A pergunta que inquietou e fez desenvolver essa investigação foi relativa às
publicações sobre o aluno com diagnóstico de TEA no ensino superior. Assim, com tal estudo,
quer-se saber o que a literatura científica apresenta concernente ao acesso e à permanência
do aluno com diagnóstico de TEA no nível superior.
O objeto deste estudo foi a produção científica brasileira atual sobre a educação
superior de alunos com diagnóstico com TEA, objetivando, assim, integrar os elementos
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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
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RESULTADOS
Considerando os critérios de inclusão e exclusão já apresentados, foram selecionados
seis artigos científicos que versavam sobre o aluno com diagnóstico de TEA no ensino supe-
rior. O quadro, a seguir, apresenta esses artigos que compuseram a amostra de acordo com
o título, seu(s) autor(es), o método, a área de estudo e o ano de publicação.
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
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Quadro 1 - Amostra de acordo com título, autor(es), método, área de estudo e ano de publicação
Relato de
Inclusão de um estudante autista FERRARI, J. B. Educação
experiência
no ensino superior, um relato de
experiência na UFPR litoral Especial / 2016
SILVA, S. C.;
SCHNEIDER, D. R.; Pesquisa
Educação
Perfil acadêmico dos estudantes KASZUBOWISKI, E.; de caráter
com Transtorno do Espectro Autista NUERNBERG, A. exploratório- Especial / 2019
matriculados no ensino superior descritivo
Pesquisa
Escolarização de pessoas com ROSA, F. D.; quantitativa
Transtorno do Espectro Autista (TEA) MATSUKURAB, T.; e de caráter Terapia
em idade adulta: relatos e perspectivas SQUASSONIC, C. E. exploratório- Ocupacional /
de pais e cuidadores de adultos com -descritivo 2019
TEA
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DISCUSSÃO
DIAGNÓSTICO DO TEA
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Quadro 3 - Descritores para Transtorno do Espectro Autista e seus níveis de gravidade (DSM-5, 2014)
Dos estudos selecionados para esta revisão, apenas o artigo de Rosa, Matsukurab e
Squassonic (2019) não abordou sobre a questão da quantidade de alunos universitários com
o diagnóstico de TEA. Costa, Nakandakare e Paulino (2018), em sua pesquisa quantitativa,
julgaram importante considerar, numericamente, todos os alunos com as características
do transtorno, com ou sem diagnóstico. Tal escolha se deveu à possibilidade de erros
nesses registros.
Os demais artigos analisados chamaram a atenção para o número discreto de alunos
autodeclarados com o diagnóstico e para a dificuldade em se coletarem esses dados. Em Silva
et al. (2019), constataram-se discrepâncias nos registros entre os diferentes anos (com TEA
em alguns anos; sem TEA em outros), seja por erro ou falta de digitação, descompromisso,
falta de informação institucional, formação inadequada ou insuficiente do respondente,
orientação ineficaz do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP), entre outros. Além disso, a declaração de diagnóstico de TEA, nas Instituições de
Ensino Superior (IES), é feita pelo próprio aluno, que pode querer ocultar a sua situação por
receio de sofrer subjugação e discriminação.
Orrú (2018) mostra que, apesar dessa discrição numérica, os alunos, assim
diagnosticados, ingressando, nas universidades, têm aumentado a cada ano. Dessa forma,
supõe-se que, ou por não quererem ou por não terem conhecimento a esse respeito, muitos
se isentam dessa declaração, no ato da matrícula, no ensino superior. Ou seja, uma parcela de
estudantes universitários não se reconhece ou não recebeu a identificação por laudo médico,
o que se configura como importante variante nos censos existentes e, consequentemente,
nas formas de um atendimento apropriado a alguns daqueles.
É importante ressaltar também que um dos estudos, por se tratar de um relato de
experiência, mostra que o estudante, em questão, não quis informar a existência de um
laudo de TEA por medo de não ser aceito na universidade. Esse fator diminuiu as chances de
ele ter ingressado no curso pretendido por meio de vestibular, pois estava, em desvantagem,
em comparação com os candidatos neurotípicos (SOUZA; BARBOSA, 2016).
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Silva et al. (2019), por objetivarem traçar o perfil acadêmico e quantitativo dos alunos
assim diagnosticados, apontam alguns dados relevantes de 2016: têm a mesma idade dos
neurotípicos ao ingressarem na universidade, 18 anos em média; majoritariamente, entram
por meio de vestibular (depois, pelo ENEM); optam mais pelos cursos de Direito (talvez porque
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o Brasil seja a nação com mais cursos de Direito no mundo), Ciências Sociais, Pedagogia e
Negócios; e sua maioria estuda em universidades privadas e em cursos presenciais.
Em relação às modalidades presencial e Educação a Distância (EAD), Silva et al.
(2019) lista o seguinte: é certo que, na primeira modalidade, percebem-se dificuldades
de sociabilidade e de comunicação por parte dos estudantes diagnosticados, enquanto a
educação a distância se configura como uma alternativa para essas dificuldades. Contudo,
aquela poder-se-ia considerar um exercício de enfrentamento desses comportamentos, a
depender de como a instituição e o corpo docente gerenciassem a situação.
PERMANÊNCIA NA UNIVERSIDADE
Com a Constituição Federal de 1988, houve o advento de diversas leis e decretos para
promover garantias à pessoa com deficiência, como as já mencionadas, que asseguram os
direitos cabíveis às diagnosticadas com TEA, a saber, a de n.º 13.146/15 e a 12.764/12. Aqueles
que fazem parte do grupo são amparados pela Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com TEA, sendo, assim, considerados pessoa com deficiência para todos os efeitos
legais. São também beneficiados pela LBI, a qual reza a respeito da obrigatoriedade de todos
os sistemas educacionais serem inclusivos em todos os níveis, visando eliminar barreiras e
garantir uma plena inclusão.
Entretanto, em se tratando dos relatos descritos nos estudos levantados, são grandes
as dificuldades enfrentadas por esses alunos no ensino superior. Todos os artigos abordam
essa temática, enfatizando de forma crítica sobre a quase satisfatória oferta de vagas das
IES, mas sem a preocupação quanto à qualidade para manter seus estudantes em um curso
de fato inclusivo e que priorize seu desenvolvimento, considerando suas peculiaridades
(SOUZA; BARBOSA, 2016;COSTA; NAKANDAKARE; PAULINO, 2018).
Como exemplo disso, pode-se listar a falta de atenção pelos órgãos competentes quanto
às dificuldades desse aluno com os colegas da turma, por não o compreenderem e haver
constantes ocorrências de atritos e exclusão; por exemplo, o aluno não queria permanecer na
sala e dizia sofrer com essas situações (DONATI; CAPELLINI, 2018). A falta de informação e
de sensibilização por parte dos colegas são também apontadas por Silva et al. (2019).
Outrossim, no referido estudo, foram também relatadas as já sabidas dificuldades de
organização, de instabilidade de humor, da alta ocorrência de faltas sem justificativas e a
grande necessidade do apoio a esses estudantes para a sua permanência nas universidades.
Especificamente, nesse artigo, em que se fez uma consultoria colaborativa, tal questão foi
amplamente discutida e constatada (SILVA et al., 2019).
Rosa, Matsukurab e Squassonic (2019) e Silva et al. (2019) concordam essencialmente,
quando atestam que o sistema ainda é excludente em suas exigências, apesar de assinalarem
que, baseados em dados do INEP, de 2011 a 2016, a proporção de matrículas trancadas ou
canceladas, nesse último ano, foi relativamente menor do que as do neurotípicos.
Todas essas barreiras são relatadas como causas por tais estudantes fazerem parte
de uma sociedade que é construída e pensada para neurotípicos. Assim, como o sucesso
do estudante com alguma necessidade está diretamente relacionado com as posturas
institucionais e os recursos que lhe são oferecidos, urge avaliar todo o processo educacional,
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FORMAÇÃO DOCENTE
Como se já não bastassem todas as barreiras supracitadas, outro relevante fator foi
massivamente abordado: a formação docente, já que os professores desempenham papel
preponderante na concretização de uma prática inclusiva e atuante, tal como previsto no Plano
de Desenvolvimento da Educação (PDE) de 2007 e na LBI, em seu capítulo VI, por exemplo.
No que diz respeito ao acesso a uma educação de qualidade, sabe-se que ao aluno
com qualquer tipo de necessidade são assegurados direitos invioláveis e inalienáveis; dentre
os quais, atendimento multiprofissional e acesso a uma educação inclusiva, adequada e
condizente com as dificuldades que porventura sejam apresentadas.
Com exceção do último artigo listado (ROSA; MATSUKURAB; SQUASSONIC, 2019),
todos eles ressaltaram a quantidade ínfima de profissionais que receberam capacitação para
ministrar aulas para esses discentes. Ademais, aqueles poucos que possuíram tal preparo,
fizeram-no por iniciativa própria, uma vez que as instituições nas quais lecionam não tinham
demonstrado interesse quanto a isso.
Outro aspecto relevante observado diz respeito aos também constantes conflitos entre
docente-discente, este com diagnóstico de TEA. O professor não se vê preparado para ser um
facilitador desse processo, mesmo diante das vagas ofertadas nas graduações, assim como
admite não ter condições para elaborar planejamentos de aulas e metodologias adequadas,
já que lhe faltam informações e conhecimentos adequados (COSTA; NAKANDAKARE;
PAULINO, 2018).
Nesse mesmo artigo, um questionário feito com 144 professores declarou que apenas
quatro fizeram um treinamento específico para compreender melhor as especificidades
da pessoa diagnosticada com TEA, e tal capacitação não foi realizada pela instituição de
ensino superior em que trabalhavam; o que pode ser apontado como desinvestimento dos
órgãos competentes quanto a essa questão. Alguns professores se veem angustiados por
não saberem lidar ou “apenas dar aulas” (grifo nosso) a pessoas com qualquer necessidade
de inclusão.
Os textos apontam para a necessidade de um ensino mais humanizado, competente e
sensível. As pesquisas também evidenciaram um misto de ocorrências: a falta de acessibilidade
pedagógica e de informação; falas preconceituosas; a necessidade de formação continuada;
a flexibilização da maioria do corpo docente – porque alguns buscam adequar suas práticas
pedagógicas; a participação atuante de uma equipe multidisciplinar, como muito bem
descreve Ferrari (2016), no caso do NAPNE2, e Donati e Capellini (2018).
2
NAPNE - Núcleo de Apoio a Pessoas com Necessidades Específicas. Oferece propostas de inclusão e de
permanência à comunidade universitária com necessidades especiais – visual, auditiva, física, múltiplas e altas
habilidades – e dá apoio psicológico. Presente em Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica.
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CURRÍCULO E AVALIAÇÃO
CONCLUSÃO DA GRADUAÇÃO
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Em se tratando da Lei de n.º 12.764, em seus Art. 2º e 3º, são garantidas condições de
estudo em escolas e cursos profissionalizantes, o que mostra o direito da pessoa com TEA a
esse ingresso, inclusive no mercado de trabalho, como mostrado em seus incisos V e VI: “V -
o estímulo à inserção da pessoa com transtorno do espectro autista no mercado de trabalho”
e “São direitos da pessoa com transtorno do espectro autista: [...] IV - o acesso: a) à educação
e ao ensino profissionalizante [...]” (BRASIL, 2012, Art. 2º e 3º, inciso V e VI, grifo nosso).
Eis mais uma preocupação relatada pelos professores universitários: como esse aluno
encontrará espaço diante de tanta competitividade. Ferrari (2016) se atém a descrever sobre
a inquietação docente. Em contraponto a isso, Costa, Nakandakare e Paulino (2018) e Rosa,
Matsukurab e Squassonic (2019) conseguem vislumbrar esperançosamente alguma saída
para tal cenário.
Além disso, é aconselhado às instituições a terem, em seu planejamento pedagógico,
o foco profissionalizante, conforme as capacidades e os interesses de cada indivíduo,
oferecendo-lhe preparo e oportunidades no mercado de trabalho. Às empresas, a olharem
as inúmeras potencialidades desse profissional, o qual apresenta grande facilidade
de memorização, concentração, raciocínio lógico, características raras e de extrema
relevância para determinados ofícios (COSTA, NAKANDAKARE; PAULINO, 2018; ROSA;
MATSUKURAB; SQUASSONIC, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
5. BRASIL. Portaria MEC n.º 807, de 18 de junho de 2010. Institui o Exame Nacional de
Ensino Médio. Diário Oficial da União, Brasília, 21 jun. 2010. Disponível em: <https://
www.legisweb.com.br/legislacao/?id=227492>. Acesso em: 10 fev. 2020.
6. BRASIL. Lei n.º 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art.
98 da Lei n.º 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2011-2014/2012/Lei/L12764.htm>. Acesso em: 10 set. 2019.
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13. GILMAN, P. O filho antirromântico: uma história de alegria inesperada. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015.
17. NUNES, D. R. P.; SCHMIDT, C. Educação especial e autismo: das práticas baseadas
em evidências à escola. Cad. Pesquisa, São Paulo, v. 49, n. 173, p. 84-103, set. 2019.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
15742019000300084&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 01 mai. 2020.
19. POMPEO, D. A.; ROSSI, L. A.; GALVAO, C. M. Revisão integrativa: etapa inicial do
processo de validação de diagnóstico de enfermagem. Acta paul., enferm., São Paulo, v.
22, n. 4, p. 434-438, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-21002009000400014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 30 ago. 2019.
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pais e cuidadores de adultos com TEA. Cad. Bras. Ter. Ocup., São Carlos, v. 27, n. 2,
p. 302-316, jun. 2019. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S252689102019000200302&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 13 ago. 2019.
22. SILVA, S. C. et al. Perfil acadêmico dos estudantes com Transtorno do Espectro Autista
matriculados no Ensino Superior. Revista Educação Especial, Santa Maria, p. e 83-1-
32, set. 2019. Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/
view/37699>. Acesso em: 09 dez. 2019.
23. SOUZA, J. C.; BARBOSA, P. S. Percepções sobre a inclusão do adulto com Transtorno
do Espectro Autista na Universidade Estadual do Maranhão. Congresso Nacional de
Educação, 2016. Disponível em: <http://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/
trabalhos/TRABALHO_EV056_MD1_SA7_ID1828_14082016215136.pdf>. Acesso em: 01
dez. 2019.
96
8
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7836-7414, Estudante de pós-graduação em Educação Inclusiva,
Universidade Estadual de Alagoas UNEAL, Campus Edmilson de Vasconcelos Pontes; Maceió, Alagoas;
Brazil. E-mail: barbosawfa@gmail.com;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7505-2476, Professora, Mestre, Universidade Estadual de Alagoas
UNEAL, Campus Edmilson de Vasconcelos Pontes; Brazil. E-mail: anapaula.monteiro@uneal.edu.br.
INTRODUÇÃO
A autora reflete ainda que nosso sistema educacional mostra há algum tempo sinais
de esgotamento e afirma que é numa situação de vazio de ideias e crise paradigmática que
surge o momento oportuno das transformações.
A Educação Inclusiva tem como marco histórico mundial a publicação da Declaração
de Salamanca, documento elaborado na Conferência Mundial sobre Educação Especial, em
Salamanca, na Espanha, no ano de 1994, com o objetivo de fornecer diretrizes fundamentais
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PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
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Tipo de Ano de
Título Autores
publicação publicação
Rogério Diniz
Homofobia nas escolas: um problema de todos Capítulo 2009
Junqueira
Rodrigo Gonçalves
Lima Borges da Silva
Sandra Bomfim de
Queiroz
As/os trans são vistas/os na escola? Naomi Neri Santana Artigo 2016
Tânia Mara Cruz
Experiências escolares de estudantes trans Artigo 2016
Tiago Zeferino dos
Santos
Cláudio Eduardo
Resende Alves
Educação, nome (social) e políticas públicas: o caso
Artigo 2018
Nazaré, uma estudante transexual na escola Maria Ignez Costa
Moreira
Fonte: elaborado pelos autores
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É interessante – assim como causa certa estranheza – notar que a autora critica o
uso da palavra em inglês transvestite, que segundo ela não corresponderia ao que no Brasil
conhecemos como travesti, mas utiliza as expressões shemale e tranny que têm conotação
pejorativa na língua inglesa.
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Lanz (2014) foca o seu trabalho na transgeneridade, define transgênero como um termo
guarda-chuva que abriga sob si todas as pessoas que transgridem as normas socialmente
estabelecidas pelo dispositivo binário de gênero e busca
Aqui, pode-se dizer que abraçados pelo termo transgênero estão: travesti, transexual,
drag queen, drag king, crossdresser e outros que venham a se encaixar na característica
transgressora do termo.
Por fim, é bastante pertinente a reflexão trazida por Lima (2013) quando indaga: “se
não há um conceito fundamental que caracterize o que é ser homem ou mulher, por que
haveria de ter uma definição clara e categórica do que é ser travesti ou transexual?” (LIMA,
2013, p. 36).
Do senso comum entende-se por identidade como uma qualidade que distingue
algo, um conjunto de características que definem e diferenciam pessoas ou coisas tornando
possível individualizá-las, sendo hoje essa questão extensamente discutida na teoria social
e nos estudos de gênero.
Identidade de gênero, portanto, seria a forma como cada pessoa vê a si própria no
que tange ser um homem ou uma mulher, numa determinada época e em num determinado
local, estando inserida em um contexto social. É como uma pessoa se identifica podendo ou
não concordar com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer, ou seja, é perfeitamente possível
uma pessoa nascer com um sexo biológico e se identificar com o gênero oposto (LANZ, 2014;
SILVA; BEZERRA; QUEIROZ, 2015).
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A escola e a sala de aula são espaços onde os estudantes passam várias horas do dia.
Lugares onde acontece o que se convencionou chamar de educação formal com o estudo
de conteúdos específicos, tarefas a serem desempenhadas e objetivos a serem alcançados.
Mas também constituem locais de fala e socialização, de construção de identidades e de
personalidades que são fatores fundamentais do desenvolvimento humano.
Destes espaços, espera-se que sejam não apenas ambientes de educação formal, mas
que promovam o acolhimento do aluno e que o faça se sentir seguro e incluído na comunidade
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escolar. Isto posto, indaga-se: as pessoas transexuais e travestis estão ocupando a escola
enquanto espaço educacional? Estão sendo acolhidas diante de sua diversidade?
O que se observa sem grande dificuldade e está documentado amplamente nos estudos
de gênero publicados no Brasil, assim como em documentários, filmes e outros formatos
audiovisuais, é que a escola acaba no lado oposto do que se prenuncia: ela ocupa um lugar
de reprodução da LGBTfobia estando na tríade apresentada por Silva, Bezerra e Queiroz
(2015) quando põem que a família é o primeiro grupo que exclui; a escola como lócus de
reprodução do preconceito e discriminação; e a rua que acolhe e vulnerabiliza.
Em estudos realizados sobre as experiências escolares de estudantes trans têm-se que
“o contraditório espaço escolar apresentou-se como lugar de discriminação heterossexista,
vigilante contra quem não se enquadrasse nos padrões binários e hegemônicos de gênero e
de sexualidade.” (CRUZ; SANTOS, 2016, p. 116).
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vários curativos. Mesmo assim, eu ainda aguentei muito até terminar a oitava
série. Depois disso, nunca mais quis saber de escola (PERES, 2009, p. 252,
entrevista concedida a William Siqueira Peres por Luciana).
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Meu pai não sabia que eu me montava na escola, só o pessoal da escola. Aí,
a diretora chamou meu pai e me pôs na frente dele e contou tudo. Meu pai
ficou calado e eu desesperada, porque não sabia qual ia ser a reação dele.
Aí, ele olhou para mim, olhou para a diretora e perguntou: “E o que é que a
senhora quer que eu faça? Que eu espanque, que eu mate? A senhora vai me
desculpar, mas ele é meu filho e eu tenho que amar ele do jeito que ele for”.
Levantou, pegou o chapéu e saiu sem olhar para trás (PERES, 2009, p. 250-
251, entrevista concedida a William Siqueira Peres por Alice).
Acho que na escola era como se todo mundo me visse o tempo inteiro como
uma pessoa estranha, fora da casinha. O pior é que eu achava que não fazia
nada para isso, e não fazia mesmo. Eu só estava sendo eu mesma. Nada mais.
Mas aquilo era justamente o que mais incomodava todo mundo, eu não ser
igual a todo mundo (LANZ, 2014, p. 245, entrevista concedida a Letícia Lanz
por Ana Karenina).
Com este relato, a autora comenta que caso não queiram ser tratadas como
“diferentes”, com todo o estigma e violência real e simbólica atrelados a esse rótulo,
estudantes trans são obrigadas a se encaixarem nos padrões cisgêneros se quiserem
subsistir dentro do sistema escolar.
O nome social é o dispositivo que o sujeito elege para si de acordo com a sua
identificação de gênero. É “o nome através do qual a pessoa deseja ser identificada, uma vez
que o nome civil já não condiz com o modo de vida que a travesti ou a/o transexual assume
na atualidade” (LIMA, 2013, p. 11).
Vários estados e municípios adotaram medidas legais como forma de despertar para
a inclusão e assegurar o uso do nome social de estudantes na escola, como Belo Horizonte,
através da Resolução CME/BH Nº 002/2008, dispositivo legal discutido por Alves e
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Lanz (2014) parece concordar com esse aspecto controverso do uso do nome social.
Para a autora é mais válida a “mudança do nome civil sem a implacável tutela médica/jurídica
atual e não a inutilidade do nome social” (LANZ, 2014, p. 186-187). Causa estranheza quando
se fala em “inutilidade do nome social” visto que o não uso dele perpetua práticas transfóbicas
e as inúmeras situações vexatórias vividas no cotidiano por transexuais e travestis.
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Lima (2013) demonstra que essa política cria zonas de tensão entre o que ela chama
de estratégias de normalização das formas de viver e as práticas de resistência a elas
direcionadas. Afirma ainda que “apesar de seus parcos efeitos no sentido de promover a
inclusão escolar de travestis e transexuais, a legislação em questão tem uma importância
política ao mostrar alguma preocupação com a escolarização das pessoas trans.” (LIMA,
2013, p. 128), e conclui enfatizando a dependência da inclusão da diversidade de modos de
viver a múltiplos fatores, sendo as políticas públicas apenas um deles.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
Ana Lydia Vasco de Albuquerque Peixoto | Ana Paula Monteiro Rêgo | Maria das Graças Correia Gomes | Orlando Ramos do Nascimento (Organizadores)
com/2019/01/dossie-dos-assassinatos-e-violencia-contra-pessoas-trans-em-2018.pdf.
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16.MANTOAN, M. T. E. Inclusão Escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo:
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Educação inclusiva: múltiplos olhares
Ana Lydia Vasco de Albuquerque Peixoto | Ana Paula Monteiro Rêgo | Maria das Graças Correia Gomes | Orlando Ramos do Nascimento (Organizadores)
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