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Adolescência em pandemia

A adolescência é um período do desenvolvimento marcado por transformações


biológicas, psicológicas e sociais. E a pandemia de COVID-19 provocou grandes
mudanças no contexto psicossocial, que por sua vez afetou maioritariamente a saúde
mental da população jovem dos países afetados. Contudo, as crianças e os
adolescentes são especialmente mais tolerantes ao stress e, durante a mesma,
estiveram mais vulneráveis ao desenvolvimento de problemas psicológicos e
psiquiátricos.

À medida que a pandemia da COVID-19 progrediu, os especialistas afirmaram


que nos encontrávamos perante um “tsunami de doenças psiquiátricas”, contribuindo
assim para o aparecimento de uma forte crise de saúde mental por parte dos jovens
(Tandon, 2020). Os primeiros pacientes a contrair o vírus sentiram desconforto físico,
medo de desenvolver complicações mais graves e discriminação por parte dos media
(Lu et al., 2020; Shigemura et al., 2020). E como houve um rápido aumento do número
de casos de infeção e de mortes, as instituições educacionais foram fechadas, os
exames foram adiados, shoppings, restaurantes e todas as áreas de reunião pública
estiveram sob estrito bloqueio; a perturbação das rotinas diárias, o confinamento em
casa, o medo da infeção, o distanciamento social de familiares e amigos e a falta de
acesso a recursos educativos, provocaram grandes mudanças no contexto mental dos
adolescentes mental (Centro de Controle de Doenças, 2020), que se traduziu em
problemas de ansiedade e numa extrema preocupação em relação ao futuro, que por
sua vez desencadeou insónias, falta de apetite, distanciamento social, entre outros
(Prof. Doutor Miguel Xavier, 2020)

A adolescência é a fase do relacionamento social. Adolescentes e estudantes


universitários têm energia amplificada, novidades, motivação, curiosidade e
entusiasmo que os tornam difíceis de isolar em casa. As mudanças hormonais que vêm
com a puberdade conspiram com a dinâmica social adolescente para torná-los
altamente sintonizados com o estado social, grupo de amigos e
relacionamentos. (Davis D, Clifton A., 2020).

Durante a pandemia da COVID-19 a ausência de contacto com os familiares ou


pessoas queridas durante o período de isolamento e internamento. Que levou à
produção de uma instabilidade psicológica, resultando assim em altas taxas de
sintomas pós-traumáticos (Bo et al., 2020). Isso fez com que afetasse negativamente o
funcionamento social e ocupacional dos jovens e, consequentemente a sua qualidade
de vida (Monson, Caron, McCloskey, & Brunet Monson, Caron, McCloskey, 2017).

Ora, o período de quarentena contribuiu para sentimentos não só de stress,


mas também de raiva (Li et al., 2020; Qiu et al., 2020), igualmente de angústia e perda
de controlo (Maunder et al., 2003), irritabilidade, medo de contrair e propagar a
doença, frustração, confusão, desespero (Brooks et al., 2020; Liu et al., 2012) e
exaustão emocional (Maunder et al., 2003).

A preocupação com a saúde mental da população foi aumentando nos tempos


da COVID-19 devido à difícil crise no âmbito social, que se qualificou como um dos
grandes problemas da saúde pública do mundo, nas últimas décadas, que afetou
particularmente os jovens (WHO, 2020c).

Enquanto os cientistas de todo o mundo trabalharam arduamente para obter


um antiviral e uma vacina eficazes contra a COVID-19, o impacto psicológico da doença
foi bastante desvalorizado. Pandemias como esta não foram apenas um fenómeno
médico. Além disso, como tendem a afetar a saúde psicológica e o bem-estar da
população, bem como a qualidade de vida do indivíduo, originaram assim problemas
sociais (Dawson & Golijani-Moghaddam, 2020).

Por essa mesma razão, os psicólogos desempenharam um papel importante


para ajudar os adolescentes a ultrapassarem os seus medos, inseguranças, bem como
no aspeto da solidão que sentiam devido ao afastamento social (Chenneville &
Schwartz-Mette, 2020). Deste modo, estes profissionais assumiram uma posição única
para oferecer uma perspetiva equilibrada, com vista a melhorar o conhecimento,
assim como atitudes e práticas sobre a doença. Para além disso, também contribuíram
para ajudar no tratamento da ansiedade e apreensão generalizadas (Wu et al., 2009).

Um dos fatores que se tende a verificar atualmente, ou seja, depois da


pandemia da COVID-19, é que nos jovens à uma extrema dependência do uso de
meios tecnológicos, devido ao isolamento social a que os mesmos estiveram sujeitos.
Este excesso de utilização de aparelhos eletrónicos e a falta de convívio social a que os
mesmos estiveram sujeitos, influenciou no sono, na alimentação e nos
comportamentos de stress e ansiedade (Wang et al., 2020; Imran, Zeshan & Pervaiz,
2020).

Outro ponto de igual valor a ser destacado acerca do excesso da utilização


desses dispositivos é que efetivamente, a tecnologia afasta as pessoas do mundo real.
Dito de outro modo, os meios tecnológicos por serem uma ferramenta tão poderosa e
viciante para alguns, isolam as pessoas do seu grupo social, quer de amigos, quer de
familiares e também dificulta a interação entre pais e filhos.

No entanto, o afeto tem um papel essencial para o desenvolvimento das


emoções infantis e no cuidado da saúde mental dos adolescentes. Para além disso, o
uso mau e excessivo pode manifestar sintomas de ansiedade e depressão a algumas
pessoas por serem vítimas de cyberbulling e também por estarem inseridos em
informações falsas acerca deles próprios, pois a tecnologia expões os indivíduos a um
excesso de informação que por vezes pode ser falsa (Freire & Siqueira, 20 19).
Bibliografia:

Tandom, COVID-19 e saúde mental: preservando a humanidade, mantendo a sanidade e


promovendo a saúde2020, Revista Asiática de Psiquiatria. Disponível em
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7305748/

LU e Shigemura, Prevalência de depressão e sua associação com qualidade de vida em


pacientes clinicamente estáveis com COVID-19, 2020, Jornal de Distúrbios Afetivos.
Disponível em
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0165032720323910#bib0028

Imran, Considerações de saúde mental para crianças e adolescentes na pandemia de


COVID-19,2020, Jornal de Ciências Médicas. Disponível em
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7306970/

Miguel Xavier, 2020, conferencia de imprensa diária 19/04, 2021. Consultado em


https://streamable.com/e/l08n9d?loop=0

David A CLIFTON, Pressões psicológicas de adolescentes,2013. Consultado no


https://dl.acm.org/doi/abs/10.1145/2494091.2494160#
Kalaitzaki, Emergência de Saúde Pública, 2020, Elsevier. Disponível em
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7191294/#
Monson, Caron, McCloskey, Brunet, Análise longitudinal da qualidade de vida em todo
o espectro do trauma, 2015, Associação Americana de Psicologia. Consultado no
https://psycnet.apa.org/record/2017-10872-001
Li et al., 2020; Qiu et al., 2020), Ansiedade e depressão entre a população em geral,
2020, Jornal Oficial da Associação Psiquiátrica Mundial. Disponível em
https://onlinelibrary.wiley.com/journal/20515545
Maunder et al., Emergência de Saúde Pública, 2020, Elsevier. Consultado no
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7133679/
Dawson e Golijani-Moghaddam, Flexibilidade psicológica, enfrentamento, saúde
mental e bem-estar durante a pandemia, 2020, Jornal de ciência comportamental
contextual. Disponível em https://www.sciencedirect.com/journal/journal-of-
contextual-behavioral-science
Chenneville e Schwartz-Mette, Considerações éticas para psicólogos em tempos de
COVID-19, 2020, Associação Americana de Psicologia. Disponível em
https://psycnet.apa.org/record/2020-35285-001
Wu et al., Impactos psicossociais da quarentena durante surtos de doenças e
intervenções que podem ajudar a aliviar a tensão, 2009, Biblioteca Nacional de
Medicina. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19652680/
Wang et al., Imran, Zeshan e Pervaiz, Considerações de saúde mental para crianças e
adolescentes na pandemia de COVID-19, 2020, Jornal de Ciências Médicas. Disponível
em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7306970/#
Freire e Siqueira, A Influencia da tecnologia no desenvolvimento infantil, 2020, Revista
Farol. Disponível em https://revista.farol.edu.br/index.php/farol/article/view/152

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