Você está na página 1de 2

Doenças infecciosas têm surgido em vários momentos da história da humanidade, e nos

últimos anos a globalização facilitou o processo de disseminação de vários agentes patológicos que
resultaram em pandemias mundiais (ORNELL et.al, 2020). O primeiro caso de coronavírus surgiu
na China, no município de Wuhan, em dezembro de 2019, dando-se ao elevado número de casos de
pneumonia de etiologia desconhecida, sendo associada ao mercado de frutos do mar da cidade.
Assim, no início de 2020 o novo coronavírus em menos de um mês, tendo como epicentro da
propulsão a China, espalhou-se pelo mundo causando milhares de doentes e mortos em vários
países do mundo (BRABICOSKI et.al, 2020). A COVID-19 trata-se de uma doença, inicialmente,
identificada e tratada como uma infecção respiratória aguda com a característica de ter elevada
transmissibilidade e potencial de agravamento (Organização Ministério da Saúde, 2021). Embora a
escala de letalidade seja relativamente baixa, a escala de difusão é elevada, repercutindo assim em
uma rápida difusão por todo o mundo (SENHORAS, 2020). A partir desse momento, inúmeras
mudanças foram necessárias afim de evitar a propagação desenfreada do vírus e o surgimento de
novos casos da doença, bem como o colapso da saúde. Nesse contexto pandêmico, deu-se muita
ênfase ao distanciamento social como estratégia para não propagação da COVID-19 na população
em especial a classe de idosos tendo em vista a maior letalidade nesse público, entretanto com a
busca de proteger tal publico de risco, evidenciou-se uma nova problemática, o isolamento social do
idoso. De acordo DALGALARONDO (2008), o distanciamento social é fator de risco para o
desenvolvimento de Transtornos Psicopatológicos na classe idosa. Uma vez que tal classe, devido
seu contexto de vida, tem seu vínculo social reduzido e durante a COVID-19 a redução foi
exarcebada. Percebeu-se a necessidade de manter o público distante do contato, utilizando-se
estratégias de adaptação, que está o distanciamento social, o que incluiu o fechamento de escolas,
universidades, shoppings, shows, academias esportivas, eventos esportivos, bares, entre outros,
variando conforme a situação de cada local (BRABICOSKI et.al, 2020). Dessa forma, podemos
observar o aumento da complexidade na contenção de infecções, que causaram grandes impactos
políticos, econômicos e psicossociais, levando a desafios urgentes de saúde pública (ORNELL et.al,
2020).

A rápida disseminação do novo coronavírus através do mundo, as incertezas sobre como


controlar a doença e sua gravidade, a imprevisibilidade sobre o tempo de duração da pandemia entre
outros fatores, caracterizaram-se como um risco à saúde mental da população em geral,
principalmente o grupo de risco, como no caso dos idosos. Essas consequências para a saúde mental
podem ocorrer através de mecanismos diversos, como os intrínsecos aos aspectos psicológicos de
cada indivíduo (como o medo do contágio e da perda de parentes, por exemplo), mas também de
fatores extrínsecos, como a quantidade excessiva e até mesmo informações falsas sobre a doença, o
estresse psicossocial devido às medidas de isolamento e os problemas econômicos decorrentes
(Brooks et a, 2020; Luz & Berger, 2020).

Para evitar ansiedade e estresse, a OMS recomendou manter contato com familiares e amigos
por meios digitais, ter uma boa alimentação, regular o sono, manter uma rotina de exercícios, além
de ficar atentos a demandas próprias e buscar informação sobre a COVID-19 de fontes confiáveis.
Os idosos, classificados como um grupo de risco, tiveram que se afastar dos filhos, netos, e
acompanharam de perto a morte de vários familiares e conhecidos, onde acarretou uma série de
transtornos psicopatológicos por medo de morrerem e perderem ainda mais pessoas do seu
convívio, se enquadrando como indivíduos mais suscetíveis às maiores consequências geradas pela
pandemia da COVID-19. Esse grupo social é atingido tanto em caráter fisiopatológico quanto em
fatores psicossociais inerentes, tendo em vista que distúrbios psiquiátricos, como a depressão, têm
alta incidência na população idosa mesmo no contexto anterior a pandemia (Silva, et al., 2020).

As condições de risco à saúde mental e física podem implicar no aumento de vulnerabilidades


aos idosos após a pandemia. Assim, a importância de se entender os impactos e seus
desdobramentos para o futuro são essenciais para a adoção de medidas que busquem neutralizar as
consequências mais agravantes aos grupos mais necessitados.

O contexto de pandemia estabelecido pela disseminação do COVID-19 demandou um conjunto


de ações preventivas em nível global. No Brasil, a elevada taxa de contaminação e mortalidade
contextualiza a demanda por adoção de medidas preventivas mais rígidas. Este cenário pode afetar
mais intensamente o público idoso, uma vez que, a desconexão social é diretamente proporcional à
ocorrência de casos de ansiedade. Nesse sentido, Armitage e Nellums (2020) sinalizam que o
impacto do isolamento social como medida preventiva pode se tornar um agravante, uma vez que
diante da remoção de contato social com amigos e familiares, assim como a impossibilidade de
acesso aos ambientes de socialização, como os grupos religiosos e supermercados, os idosos podem
se sentir solitários (Brooke & Jackson, 2020). Sendo assim, questiona-se quais seriam as possíveis
implicações que esta diminuição do contato social poderia exercer sobre quadros clínicos
específicos, como a ansiedade.

A desconexão social é um tipo de isolamento social caracterizado pela escassez de contato com
outras pessoas e pela falta de atividades ou participação em grupos. Nesse sentido, a percepção do
isolamento social refere-se ao que é sentido pelo sujeito ao se identificar nessa situação, por
exemplo, sentimentos de solidão e falta de apoio (para uma revisão teórica sobre o tema ver
Cornwell & Waite, 2009). Os resultados indicaram que tanto a desconexão social, quanto a
percepção do isolamento social são diretamente proporcionais aos índices de depressão e ansiedade
no público avaliado. Pode-se concluir que a desconexão social e a percepção do isolamento social
estão diretamente ligadas a manifestação de quadros de depressão e ansiedade. Desse modo, deve-
se considerar que, para um idoso em contexto de isolamento social, estados ansiosos podem ocorrer
e serem adaptativos a tal situação e outros quadros de ansiedade podem acabar gerando algum tipo
de problema ou sofrimento.

O distanciamento social, embora seja uma estratégia importante para combater a COVID-19,
também é uma importante causa da solidão, especialmente em ambientes como asilos ou lares de
idosos, que é um fator de risco independente para depressão, transtornos de ansiedade e suicídio
(JEBRIL et al. 2020).O TAG é o transtorno de ansiedade mais comum entre idosos e caracteriza-se
pela ansiedade excessiva e preocupação exagerada com os eventos da vida cotidiana. A prevalência
de TAG em idosos, relatada na literatura internacional em anos anteriores a pandemia, variava de
2,8% a 8,4% sendo observado aumento na prevalência a partir do ano de 2020.Um estudo irlandês
concluiu que idosos com mais de 65 anos apresentavam maiores níveis de ansiedade relacionada à
COVID-19. Por outro lado, estudo realizado na China relatou maior prevalência de TAG e sintomas
depressivos em pessoas mais jovens.

Conclui-se assim, que a literatura tem apontado que quadros de ansiedade podem afetar
negativamente a qualidade de vida dos idosos. Mediante este cenário, coloca-se em questão quais
intervenções poderiam ser realizadas de modo a proporcionar qualidade de vidas aos idosos e,
simultaneamente, diminuir os quadros de ansiedade presentes neste público.

Você também pode gostar