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REVISTA OBSERVATORIO DE LA ECONOMIA LATINOAMERICANA

ISSN: 1696-8352

Fatores de risco para o suicídio associados ao período de pandemia da


Covid-19: uma revisão sistemática

Risk factors for suicide associated with the COVID-19 pandemic


period: a systematic review

Factores de riesgo para el suicidio asociados con el período de la


pandemia de COVID-19: una revisión sistemática
DOI: 10.55905/oelv22n4-013

Originals received: 03/01/2024


Acceptance for publication: 03/22/2024

Diana Soares da Silva


Graduanda em Medicina
Instituição: Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
Endereço: Maceió, Alagoas, Brasil
E-mail: diana7soares@gmail.com

Pedro Henrique Valerio Lana


Graduando em Medicina
Instituição: Universidade Federal de Alagoas
Endereço: Maceió, Alagoas, Brasil
E-mail: pedro.lana@famed.ufal.br

Tiago Esteves do Rego


Graduando em Medicina
Instituição: Universidade Federal de Alagoas
Endereço: Maceió, Alagoas, Brasil
E-mail: tiago.rego@famed.ufal.br

Falcão Pedrosa Costa


Doutor em Nefrologia
Instituição: Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
Endereço: Maceió, Alagoas, Brasil
E-mail: falcaopedrosa@uol.com.br

RESUMO
Introdução. Em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde declarou a COVID-19
uma pandemia, a qual resultou em impactos sociais e econômicos significativos. O
distanciamento social, adotado para conter o vírus, foi adotado como política de saúde,
mas pode impactar negativamente na saúde mental. Taxas mais altas de depressão,
ansiedade, comportamento suicida, foram associadas a epidemias virais anteriores. O

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estudo objetivou analisar fatores de risco para o suicídio associado ao período de


pandemia da COVID-19. Método. Os artigos foram buscados nos bancos de dados
Medline, via PubMed, Lilacs, Scopus, Web of Science, Science direct, EMBASE,
PsycInfo. Eles foram selecionados a partir do ano de 2019 quando se iniciou a pandemia.
Não havendo restrições quanto ao idioma ou desenho do estudo. Resultados. Constatou-
se que o distanciamento social, desemprego, medo da contaminação de familiares pelo
SARS-CoV-2, aumento da ansiedade e estresse, depressão, insônia e situação econômica
atuaram como variáveis de impactos negativos para o desfecho de atos suicidas.

Palavras-chave: suicídio, COVID-19, saúde mental, epidemiologia.

ABSTRACT
Introduction. In March 2020, the World Health Organization declared COVID-19 a
pandemic, which resulted in significant social and economic impacts. Social distancing,
adopted to contain the virus, has been adopted as a health policy, but it may have a
negative impact on mental health. Higher rates of depression, anxiety, suicidal behavior,
have been associated with previous viral epidemics. The study aimed to analyze risk
factors for suicide associated with the COVID-19 pandemic period. Method. The articles
were searched in the Medline databases, via PubMed, Lilacs, Scopus, Web of Science,
Science direct, EMBASE, PsycInfo. They were selected from the year 2019 when the
pandemic started. There are no restrictions on the language or design of the study. Results.
It was found that social distancing, unemployment, fear of contamination of family
members by SARS-CoV-2, increased anxiety and stress, depression, insomnia and
economic situation acted as negative impact variables for the outcome of suicide acts.

Keywords: suicide, COVID-19, mental health, epidemiology.

RESUMEN
Introducción. En marzo de 2020, la Organización Mundial de la Salud declaró pandemia
de COVID-19, lo que tuvo importantes repercusiones sociales y económicas. El
distanciamiento social, adoptado para contener el virus, ha sido adoptado como una
política de salud, pero puede tener un impacto negativo en la salud mental. Las tasas más
altas de depresión, ansiedad y comportamiento suicida se han asociado con epidemias
virales previas. El objetivo del estudio fue analizar los factores de riesgo de suicidio
asociados al período de la pandemia de COVID-19. Método. Los artículos fueron
buscados en las bases de datos Medline, vía PubMed, Lilacs, Scopus, Web of Science,
Science direct, EMBASE, PsycInfo. Fueron seleccionados a partir del año 2019 cuando
comenzó la pandemia. No hay restricciones en el idioma o el diseño del estudio.
Resultados. Se encontró que el distanciamiento social, el desempleo, el miedo a la
contaminación de los miembros de la familia por SARS-CoV-2, el aumento de la ansiedad
y el estrés, la depresión, el insomnio y la situación económica actuaron como variables
de impacto negativo para el resultado de los actos suicidas.

Palabras clave: suicidio, COVID-19, salud mental, epidemiología.

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1 INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2019, vários casos de pneumonia atípica foram relatados na


cidade chinesa de Wuhan. Esta doença foi classificada como Síndrome Respiratória
Aguda Grave (SARS) causada por um novo coronavírus identificado como SARSCoV-2
(Gomez-Rios et al., 2021). O vírus se espalhou rapidamente pelo mundo, causando
morbidade e mortalidade significativas. Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) declarou COVID-19 uma pandemia global (Chen et al., 2021). Sabe-se
que a transmissão do novo coronavírus entre humanos ocorre principalmente na interação
pessoa-pessoa pelo contato com gotículas produzidas por via oral e nasal (Ortela et al.,
2021). O enfrentamento da atual pandemia foi baseado, entre outras medidas, na adoção
de medidas de distanciamento social, por meio do isolamento social domiciliar e evitando
aglomerações. Assim, notou-se uma redução no convívio social, com a suspensão de
escolas, universidades e diversos pontos de encontro (Teixeira et al., 2021). Organizações
internacionais alertam que mesmo com a doença controlada, as repercussões continuarão
afetando a população mundial por muitos anos (Maroscia, 2021). Embora a COVID-19
tenha sido inicialmente descrita como uma doença respiratória, evidências acumuladas
sugerem que vários outros sistemas são afetados, e complicações neuropsiquiátricas
podem desempenhar um papel importante na carga geral da doença (Damiano et al.,
2021).
Em epidemias a saúde mental é frequentemente afetada. O isolamento social,
ansiedade, medo de contágio, incertezas, estresse crônico e dificuldades econômicas
podem levar ao desenvolvimento ou exacerbação de doenças relacionadas ao estresse,
depressão e suicídio em populações vulneráveis, incluindo indivíduos com transtornos
psiquiátricos, pessoas de baixa resiliência, indivíduos que residem em áreas de alta
prevalência de casos de coronavírus e pessoas que têm um membro da família ou um
amigo que faleceu em virtude do vírus (Chapa-Koloffon et al., 2021; Sher et al., 2020).
À medida que o vírus se espalha, há uma maior vulnerabilidade ao suicídio em populações
já suscetíveis: idosos, moradores de rua, migrantes, pessoas com histórico psiquiátrico,
bem como os profissionais de saúde, cujo risco de morte por suicídio é cinco vezes maior

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do que a população em geral. Além disso, a pandemia parece ter contribuído para um
aumento da depressão em populações jovens, com um aumento do risco de suicídio,
especialmente entre aqueles que enfrentam maior precariedade econômica. É provável
que a restrição da prática religiosa coletiva ou que o aumento da violência doméstica já
observado em muitos países tenham um impacto negativo na evolução das taxas de
suicídio. (Halford et al., 2020; Conejero et al., 2020). A detecção precoce desses fatores
de risco é importante, uma vez que todos os elementos apresentados sugerem a
possibilidade de aumento da taxa de suicídio em conexão com a epidemia de COVID-19,
durante e também posteriormente à pandemia (Conejero et al., 2020). Tal conjectura pôde
ser observada na epidemia de SARS, em 2003, que foi associada a um aumento na taxa
de suicídio entre os idosos. Embora a pesquisa em saúde mental relacionada a desastres
tenha aumentado nos últimos anos, a maioria das pandemias no último século gerou
estudos limitados (Rogers et al., 2020; Damiano et al., 2021). Diante do exposto nota-se
a importância de analisar os fatores que podem aumentar os riscos de atos suicidas para
melhor preveni-los e promover uma política de saúde específica.

2 MÉTODOS

O estudo foi produzido a partir de dados secundários o que dispensou a


necessidade de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP. O protocolo de estudo
seguiu o padrão de revisão sistemática e foi elaborado baseando-se na recomendação
PRISMA. Esta revisão foi submetida no registro International Prospective Register of
ystematic Reviews (PROSPERO) disponível em http://www.crd.york.ac.uk/PROSPERO
com o número de registro CRD420212284368. Também foi pesquisado no PROSPERO
possíveis revisões abrangentes sobre o tema em curso evitando resultados redundantes.
Os artigos foram pesquisados nos seguintes bancos de dados: Medline (Medical
Analysis and Retrieval System Online), via PubMed, Lilacs (Literatura LatinoAmericana
e do Caribe em Ciências da Saúde), Scopus, Web of Science, Science direct, EMBASE,
PsycInfo. Os critérios de inclusão foram estudos selecionados a partir do ano de 2019
quando iniciou a perspectiva pandêmica. Ademais, não houve restrições quanto ao idioma

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e desenho do estudo. Os critérios de exclusão foram publicações duplicadas ou seus


dados, revisões de literatura e artigos que apresentem alto risco de viés. Essas buscas por
artigos elegíveis ao estudo foram realizadas por dois revisores de forma independente e
padronizada. A priori, foi realizada a leitura dos títulos/resumos e assim os elegíveis
foram avaliados integralmente, possíveis desacordos foram resolvidos por meio de
discussão ou solicitado a colaboração de um terceiro revisor. O teste de concordância
Kappa (K) foi utilizado para análise da concordância entre os revisores. A pesquisa dos
estudos foi realizada com o uso dos descritores Risk Factors; Suicide; combinados com o
operador booleano AND e Coronavirus Infections or COVID 19 com o operador boleano
OR. Além disso, foi utilizado o programa Rayyan (Intelligent Systematic Review) online
com o intuito de selecionar e agrupar os estudos que foram ou não inseridos na
composição da revisão sistemática. Os artigos finais tiveram o risco de viés individual
avaliado por meio da ferramenta Looney. Foi avaliado o risco de viés de seleção,
performance e outros vieses. Os estudos selecionados foram classificados como com
baixo risco de viés, alto risco de viés e risco de viés incerto.
Os estudos incluídos tiveram os seus dados extraídos em formato padrão no
Microsoft Excel e consistiram: autor, ano, método, principais resultados, desfechos,
medidas estatísticas. A análise estatística descritiva foi apresentada por meio da
exposição das variáveis presentes nos fatores de risco e sua correlação ao evento de
suicídio na população, identificando número de eventos, tamanho das amostras com
intervalo de confiança de 95%. Os resultados das medidas de desfecho foi a prevalência
de suicídio durante o período pandêmico do novo coronavírus, bem como a correlação de
fatores que contribuíram para a ocorrência desse evento.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da análise dos estudos, foram identificadas 1836 referências


potencialmente elegíveis. Com a remoção das duplicatas, avaliou-se um total de 1296
registros, dos quais, após triagem de títulos e resumos, foram excluídos 1239. Dos 57

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artigos restantes, 52 foram descartados após a análise do texto completo, permanecendo


5 estudos para síntese, conforme pode-se observar no fluxograma da figura 1.

Figura 1 – Fluxograma dos estudos incluídos na revisão

Fonte: Autores (2024).

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Tabela 1 – Resumo dos dados coletados dos artigos selecionados


Título do estudo Autores Ano Local Síntese
As taxas de suicídio no Japão aumentaram
Avaliação do suicídio no
Sakamoto, de abril a novembro de 2020 em compara-
Japão durante a pandemia
Haruka et 2021 Japão ção com anos anteriores. Utilizou dados
de COVID-19 vs anos an-
al. nacionais obtidos do Ministério da Saúde,
teriores
Trabalho e Bem-Estar de 2016 a 2020.
Estudo retrospectivo, analisou as tendên-
Associação entre a pande- Acharya, cias da taxa de suicídio no Nepal entre ju-
mia de COVID-19 e as ta- Binod et 2022 Nepal nho de 2017 a junho de 2021. A pandemia
xas de suicídio no Nepal al. de COVID-19 esteve associada a um au-
mento da taxa de suicídio.
Pensamentos e tentativas Foram coletados dados relacionados a
de suicídio na população pensamentos e tentativas de suicídio,
Bonsaksen
geral norueguesa durante o 2021 Noruega como uso de álcool, preocupações relacio-
Tore et al.
estágio inicial do surto de nadas à pandemia e variáveis como a pre-
COVID-19 ocupação econômica.
O bloqueio sanitário trouxe um impacto
Sofrimento psicológico,
psicológico significativo. Embora grande
ansiedade, violência fami-
Every-Pal- parte do debate sobre as medidas de blo-
liar, suicídio e bem-estar
mer, Su- 2020 Nova Zelândia queio tenha se concentrado em seus efei-
na Nova Zelândia durante
sanna et al. tos econômicos, as descobertas enfatizam
o bloqueio do COVID-19:
a necessidade de observar igual atenção
um estudo transversal
nos seus efeitos psicológicos.
Correlatos psicossociais do
Estudo da associação de variáveis afetivas
comportamento suicida en-
Hermo- (depressão, desesperança e ansiedade),
tre adolescentes em confi-
sillo- de- uso de drogas (álcool, tabaco e outras), in-
namento devido à pande-
la-Torre, 2021 México teligência emocional e comportamentos
mia de COVID-19 em
Alicia suicidas. Sobretudo os adolescentes en-
Aguascalientes, México:
Edith et al. frentaram enormes desafios que levaram a
uma pesquisa populacional
maior risco de comportamentos suicidas.
transversal
Fonte: Autores (2024).

A tabela 1 apresenta os aspectos principais dos artigos selecionados. Os 5 estudos


são referentes a pesquisas transversais de países da Europa, América do Norte, Ásia e
Oceania que avaliaram os fatores de risco e a prevalência do suicídio no período
pandêmico, contando, em conjunto, com uma amostra de mais de 104.618 participantes.
Em um artigo desenvolvido por Bonsaksen et al., que envolveu majoritariamente
mulheres com ensino superior, observou-se que os fatores de risco para o suicídio
relacionados à pandemia foram: o medo de considerar-se em grupo de risco de
complicações se infectado por COVID-19; vivenciar isolamento; restrição de contato
pessoal com novas pessoas, maior exposição ao uso diário de álcool em razão da
quarentena, possuir previamente transtornos mentais como ansiedade e depressão,

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preocupação com familiares e amigos e com a situação econômicas em virtude do cenário


de restrições as atividades não essenciais. Ainda nesta pesquisa, notou-se que esses
fatores contribuíram com uma prevalência de pensamentos suicidas menor na Noruega
em relação a outros países como Reino Unido e EUA, onde a taxa de infectados e mortos
pelo vírus foi bem superior. (Bonsaken et al., 2021).
O estudo de Sakamoto et al. analisou o aumento da taxa de suicídio no Japão
durante a pandemia e os fatores associados a esse aumento. Eles utilizaram dados
nacionais, examinando 90.048 casos de suicídio. Os resultados mostraram um aumento
em outubro e novembro de 2020 em comparação com os anos de 2016 a 2019,
especialmente entre os homens. Nas mulheres, o aumento foi observado de julho a
novembro. Notavelmente, houve um aumento relativo entre mulheres com menos de 30
anos e de 30 a 49 anos, além de homens com menos de 30 anos. O desemprego foi
identificado como um fator associado ao aumento da taxa de suicídio em ambos os sexos.
Não foram encontradas diferenças significativas nos meses de abril a setembro de 2020
em comparação com 2016 a 2019 para a população masculina (Sakamoto et al., 2021).
Os fatores de impacto da pandemia apontados nessa pesquisa foram as medidas
introduzidas para conter o avanço da contaminação pelo novo coronavírus, como
distanciamento social e alteração do status profissional, haja vista que preocupações
referentes a situação financeira e a falta de emprego nesse período podem ter contribuído
para o evento de suicídio.
O trabalho evidenciado por Every-Palmer et al., trata-se de um estudo transversal
que abordou o bem estar da população da Nova Zelândia durante o bloqueio pela
pandemia e a relação com ato suicida. Recrutou-se uma amostra demograficamente
representativa de 2.010 adultos com idade entre 18 e 90 anos em abril de 2020 usando
uma plataforma de pesquisa específica. Cerca de um terço relataram achar que sua saúde
mental estava pior do que o normal durante o bloqueio, apresentando, assim, sofrimento
psicológico de moderado a grave. Os piores resultados foram observados entre jovens que
haviam perdido o emprego ou tiveram redução do trabalho. Houve um relato de 2% de
tentativas de suicídio, sendo maior entre as idades de 18 e 34 anos (Every-Palmer et al.,
2020). Um quinto dos participantes relataram aumento da ingesta de álcool durante o

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período. O estudo ainda descreve que nem todos os impactos foram negativos, alguns
relataram gostar de trabalhar em casa e passar mais tempo com a família. No entanto,
uma minoria relatou situações de vida difíceis durante o isolamento por solidão e/ou mau
relacionamento com integrantes do domicílio. Quase um em cada dez participantes
experimentou diretamente algum tipo de dano familiar incluindo agressão sexual,
agressão física ou assédio e comportamento ameaçador. Ao contrário de muitos países,
este país implementou medidas rigorosas de lockdown desde os primeiros casos de
infecção para conter a propagação do vírus. Embora essas restrições tenham sido eficazes
na contenção do coronavírus, elas também intensificaram alguns fatores de risco para
suicídios. A redução do contato social, diminuindo as oportunidades de recreação, teve
um impacto direto no bem-estar psicológico, resultando em níveis mais altos de
ansiedade. Além disso, fatores como diagnósticos prévios de doença mental, perda ou
redução de empregos e aumento da insegurança financeira contribuíram para esse cenário.
A pesquisa, observacional, transversal realizada de novembro a dezembro de 2020
por Hermosilo-de-la-Torre et al., contou com 8.033 adolescentes mexicanos que foram
confinados devido à pandemia de COVID19. O estudo forneceu uma visão oportuna da
situação dos jovens que estiveram em confinamento durante a pandemia. Quase 21% de
todos os estudantes relataram comportamento suicida, 11% com tentativa de suicídio de
baixa letalidade e cerca de 4% com tentativa de suicídio de alta letalidade (Hermosilo-de-
la-Torre et al., 2021). Observou-se alguns fatores de risco para o comportamento suicida
como o período de confinamento, o que contribuiu para o desenvolvimento da depressão
maior, aumento da ansiedade, maior exposição a drogas, insônia, preocupação de
contágio de familiares e desesperança.
O estudo elaborado por Acharya et al., refere-se a um estudo retrospectivo que
investigou as mudanças nas taxas de suicídio no Nepal durante o período de pandemia de
COVID-19 (abril de 2020 a junho de 2021), em comparação com o período pré-pandemia
(julho de 2017 a março de 2020), e os fatores de tendência para taxa de suicídio. As taxas
anuais de suicídios em todo o Nepal em 2018, 2019 e 2020 correspondem a 19,6; 20,6 e
23,9 respectivamente por 100.000 habitantes. Todos os meses da pandemia, com exceção
de abril e maio de 2020 e fevereiro e março de 2021, apresentaram uma taxa de suicídios

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significativamente maior em comparação com os mesmos meses de 2019. Os homens


apresentaram um aumento significativo nas taxas de suicídio em três meses, sendo eles
junho, julho e agosto da pandemia de 2020 (Acharya et al., 2022). Dos aspectos
abordados nesse estudo observou-se que alguns impactos da pandemia para casos de
suicídios, como a precariedade da saúde pública do país, toque de recolher, falta de
estímulo mínimo financeiro por parte dos governantes e fechamento de alguns hospitais
podem ter criado barreiras no acesso aos serviços de saúde mental o que agravou
potenciais casos de suicídio. Dessa forma, fica evidente que as medidas restritivas de
isolamento, embora cruciais para conter o avanço do COVID-19, podem ter produzido
impactos diretos na saúde mental dos indivíduos e na situação econômica da população
em geral, com impacto notório no aumento das taxas de suicídio em alguns países.

4 CONCLUSÃO

O presente estudo abordou os principais fatores de risco para o desfecho de


suicídio na população durante a pandemia. Constatou-se que o distanciamento social,
desemprego, medo de contaminação de familiares pelo vírus, aumento da ansiedade e
estresse, depressão, insônia e situação econômica atuaram como variáveis de impactos
negativos para o desfecho de atos suicidas. Diante do exposto, nota-se a importância na
identificação dos fatores de risco envolvidos no aumento das taxas de suicídio
desencadeado pelo período pandêmico atual. Dessa forma, é de suma importância
evidenciar ações que proporcionem um melhor suporte a saúde mental dos indivíduos
para auxiliar em possíveis estratégias de prevenção e promoção da saúde que possam
diminuir as taxas do evento na comunidade.

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