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XXIX CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E

TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2018

ANÁLISE DO MÓDULO DE ELASTICIDADE ESTÁTICO EM


CONCRETOS COM AGREGADO GRAÚDO NATURAL E AGREGADO
GRAÚDO RECICLADO

Claudio de Souza Kazmierczak


Professor/Pesquisador do curso de Engenharia civil da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
–UNISINOS claudiok@unisinos.br
Camila Werner Menegotto
Acadêmica do curso de Engenharia Civil pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos –
UNISINOS camila-wm@hotmail.com
Monique Palavro Lunardi
Acadêmica do curso de Engenharia Civil pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos –
UNISINOS monique.lunardi@hotmail.com

Resumo. O módulo de elasticidade estático 1. INTRODUÇÃO


de um concreto pode ser estimado a partir
de equações que o relacionam com a O concreto é o material mais utilizado no
resistência a compressão. Entretanto, como mundo, sendo utilizados cerca de 25 bilhões
essas equações foram obtidas em concretos de toneladas anuais, e para sua confecção
com agregados naturais, não se sabe se são consumidos cerca de 10 bilhões de
podem ser utilizadas em concretos com toneladas de areia e brita. O aumento
agregados reciclados. Esse trabalho tem populacional crescente gera uma maior
como objetivo comparar os resultados da demanda por concreto, o que resulta em
curva tensão/deformação obtida na maior extração de recursos naturais não
determinação do módulo de elasticidade renováveis.
estático de concretos com agregados O setor da construção civil é o maior
naturais e de concretos com agregados gerador de resíduos sólidos de construção e
reciclados, discutindo os motivos pelos de demolição. Gomes et al (2014) citam que
quais os concretos convencionais não geram eles representam entre 20 e 30% de todos os
resultados equivalentes aos de concretos resíduos sólidos urbanos. Devido a isso,
com agregados reciclados. Conclui-se que vem se estudando, desde após a Segunda
os concretos com agregados reciclados Guerra Mundial, o uso de resíduos sólidos
iniciam um processo de microfissuração em de construção e demolição como agregado
um nível de carregamento menor, o que graúdo para a fabricação de concretos
resulta em menor módulo de deformação, convencionais. No Brasil, existem poucas
não sendo possível realizar sua estimativa a normas sobre o uso de agregados reciclados
partir da mesma equação utilizada para de construção, não existindo especificações
concretos com agregados naturais. sobre o uso de agregados graúdos reciclados
em concretos estruturais, o que gera dúvidas
Palavras-chave: concreto, módulo de sobre a possibilidade da aplicação das
elasticidade, agregado graúdo. normas vigentes a materiais com a
incorporação de resíduos.

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2. OBJETIVO No gráfico 1 percebe-se duas zonas, a
zona elástica do material e a zona plástica. A
Este trabalho tem como objetivo zona elástica, corresponde ao trecho onde a
identificar os motivos pelos quais o ramo tensão é proporcional a deformação, sem
elástico da curva tensão/deformação para a ocasionar deformações permanentes no
análise do módulo de elasticidade estático de material, já na zona plástica a tensão já não é
concretos com agregados reciclados é menor mais proporcional à deformação, resultando
do que em concretos com agregados em deformações permanentes no material. O
naturais. módulo de elasticidade é determinado
durante o estado elástico do concreto, ou
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA seja, anteriormente do aparecimento de
fissuras. Para concretos com agregados
Segundo diversos autores (MACNEIL; naturais espera-se que as fissuras resultantes
KANG, 2013; SINGH et al., 2016) o do carregamento tenham início entre 30% e
Módulo de Elasticidade é um parâmetro 40% da carga última de ruptura. Os fatores
físico que mede a rigidez de certo material, que afetam o módulo de elasticidade são
ou seja, é a medida da tensão necessária para relacionados na figura 1.
deformar o material, sendo assim, o módulo
de elasticidade é proporcional a rigidez do Figura 1 – Fatores de Influência
material e a tensão aplicada sobre ele. É
possível calcular o módulo de elasticidade
através da equação 1:
  . Equação 1
Onde:
 = tensão;
E = constante de proporcionalidade entre a
tangente (inclinação da reta) e o módulo de Fonte: Mehta e Monteiro (2014).
elasticidade longitudinal;
Ɛ = deformação específica (Ɛ=ΔL/ Li). Os parâmetros de ensaio: orientação do
O módulo de elasticidade de carregamento, dimensões e o estado de
concretos pode ser estimado a partir da sua saturação são fatores que influenciam no
resistência a compressão longitudinal ou, de módulo de elasticidade. Espera-se que
forma mais precisa, determinado através do quando o corpo de prova estiver saturado ele
ensaio de módulo de elasticidade estático. A apresente um módulo de elasticidade 15%
realização do ensaio gera um gráfico que superior a se ele estiver seco. A porosidade
apresenta a relação tensão/deformação do da matriz cimentícia é um fator importante,
concreto, conforme o gráfico 1. quanto mais porosa a matriz de cimento,
maior será a influência sobre o módulo de
Gráfico 1 – Tensão/Deformação
elasticidade do conjunto, pois torna a zona
de transição mais suscetível a rupturas. A
forma e a porosidade dos agregados miúdo e
graúdo influenciam de forma direta as
características do concreto, podendo
melhorar ou não a zona de transição.

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4. PROGRAMA EXPERIMENTAL um erro pequeno. Contudo, analisando o
gráfico 2, percebe-se que a reta que
Este trabalho teve origem na dissertação apresenta o comportamento
de mestrado de Fernandes Souza (2018), tensão/deformação do concreto referência,
onde foram realizadas as atividades descritas com agregados naturais, possui um ângulo
no fluxograma da figura 2. próximo de 45°, o que significa uma
excelente correlação entre os dois fatores.
Figura 2 - Programa experimental inicial Entretanto, esse comportamento não se
repete nos concretos com agregado graúdo
de cerâmica vermelha (RCV) e nos
concretos com agregado graúdo de concreto
com fck de 20MPa. Esse comportamento
demonstra que os métodos utilizados para
obtenção do módulo de elasticidade para
concretos com agregados naturais não
podem ser extrapolados de forma direta e
coerente para concretos com agregados
reciclados, e justificou a execução de um
programa experimental complementar,
detalhado nos itens seguintes.

5. MATERIAIS E MÉTODO
O gráfico 2 apresenta parte dos
resultados do trabalho referido, onde se Foram moldados concretos com
visualiza a relação entre o módulo de diferentes tipos de agregados, agregado
elasticidade e a resistência a compressão de graúdo natural de basalto (Referência),
concretos com agregados naturais e com agregado reciclado de cerâmica vermelha
agregados reciclados. (RCV) e agregado reciclado de concreto com
resistência de 20MPa (ARC 20). O traço
Gráfico 2 – Módulo de Elasticidade em utilizado para todos os concretos foi
função da resistência a compressão 1:2,42:2,58 (cimento/areia/brita), com
relação água/cimento 0,54. Os concretos
foram moldados conforme a ABNT NBR
5738:2015, em corpos de prova cilíndricos
de 10x20cm (figura 4). A cura ocorreu em
uma sala climatizada com temperatura
controlada entre 23°C +/- 2°C, ficando
submersos em água e hidróxido de cálcio
durante 28 dias.
Figura 3 - Moldagem dos CP’s

Fonte: Fernandes Sousa (2018).

Segundo a NBR 5739:2007, se possuímos a


resistência a compressão do concreto e
Fonte: Fernandes Sousa (2018).
aplicarmos a forma de módulo de
Foram determinados a resistência a
elasticidade mencionada na fundamentação
compressão e o módulo de elasticidade
teórica deste mesmo artigo, obteremos o
estático.
valor real de módulo de elasticidade, com

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5.1 Resistência a Compressão
Figura 4 – Ensaio de módulo de
O ensaio consiste na aplicação da tensão elasticidade estático
e avaliação das suas deformações até a
ruptura. Conforme a NBR 5739:2007,
utiliza-se a resistência média entre dois
exemplares para especificar os patamares do
ensaio de módulo de elasticidade estático.

5.2 Módulo de Elasticidade Estático

O ensaio de módulo de elasticidade 6. RESULTADOS


estático ocorre obedecendo o gráfico 3.
Na tabela 1 é possível observar os
Gráfico 3 – Determinação do Módulo de valores de módulo de elasticidade calculados
Elasticidade Estático em diferentes níveis de carregamento em
relação a tensão de ruptura (em diferentes
patamares de ensaio). Ao analisar o módulo
em 30% da carga final de ruptura (valor
normatizado para cálculo do módulo de
elasticidade) observa-se que o concreto de
Fonte: Fonte: Gujel (2014). referência apresenta um módulo de
elasticidade maior que os demais. A
A resistência a compressão média diferença entre eles ocorre devido ao fato
obtida no ensaio de compressão é utilizada dos agregados reciclados apresentarem
como a carga final de ruptura, a partir da maior porosidade em sua microestrutura, o
qual se estipula os patamares a serem que gera fissuração e consequente
utilizados. No caso específico, avaliou-se a deformação em um nível de carregamento
deformação até 80% da carga de ruptura. inferior que o de referência.
Inicialmente se executa 3 Analisando-se os gráficos
carregamentos até 20% da carga final de tensão/deformação gerados a partir do ensaio
ruptura, de modo a ajustar o corpo de prova de módulo de elasticidade é possível
na prensa. Após esse ajuste se inicia o observar o momento em que o micro
ensaio, aplicando 20% da carga final e fissurações começam a aparecer no concreto.
mantendo a carga entre 60 a 90 segundos,
posteriormente se aplica 30% da carga final Tabela 1 –Comparativo do Módulo de
e mantem de novo 60 a 90 segundos e assim elasticidade dos três concretos
se procede até os 80% da carga final. Esse
ensaio fornece dados de como o material
está se deformando ao longo do
carregamento. Com os valores obtidos neste
ensaio é possível gerar o gráfico
tensão/deformação e obter os módulos de
elasticidade. O ensaio obedece a NBR 8522,
e pode ser visualizado na figura 4.

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Gráfico 4 – Concreto de referência 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao se substituir agregados graúdos


naturais por agregados graúdos reciclados, as
fissuras resultantes do carregamento
começam a surgir num nível inferior ao de
concretos com agregados naturais. Para o
concreto ARC 20MPa, ao introduzirmos um
agregado reciclado com uma resistência
mecânica inferior ao do novo concreto, se
formam mais zonas de transições frágeis,
Analisando o gráfico 4 do concreto gerando fissuração antes do nível de
referência, percebe-se que aos 31% da carga carregamento onde ocorrem em concretos
final de ruptura, o material perde o com agregados naturais. No caso do concreto
comportamento elástico, em função de com agregado de cerâmica vermelha, isso
apresentar fissurações em sua ocorre porque o agregado aumenta a
microestrutura. porosidade do concreto. Em consequência
recomenda-se que o módulo de elasticidade
Gráfico 5 – Concreto ARC 20 de concretos com agregados reciclados não
seja estimado a partir das mesmas equações
utilizadas para concretos confeccionados
com agregados naturais.

8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS – ABNT. NBR 5739. Concreto - Ensaios
de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de
Janeiro, 2007.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS – ABNT. NBR 8522. Concreto -
Analisando-se no gráfico 5 o Determinação do módulo estático de elasticidade à
comportamento do concreto ARC 20, compressão. Rio de Janeiro, 2017.
percebe-se que as fissurações em sua GOMES, M.; DE BRITO, J.; BRAVO, M.
microestrutura se iniciam aos 29% da carga Mechanical performance of structural concrete with
the incorporation of coarse recycled concrete and
de ruptura. No concreto de RCV, percebe-se ceramic aggregates. Journal of Materials in Civil
a existência de microfissuração Engineering, v. 26, n. 10, p. 04014076, 2014.
anteriormente a dos outros concretos, MCNEIL, K; KANG, T. H..K. Recycled concrete
iniciando-se aos 24% da carga de ruptura. aggregates: A review. International Journal of
Concrete Structures and Materials, v. 7, n. 1, p.
Gráfico 6 – Concreto RCV 61-69, 2013.
MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concrete:
microstructure, properties, and materials. 4. ed.
New York: McGraw-Hill Education, 2014.
SINGH, S; NAGAR, R; AGRAWAL, V. A review on
Properties of Sustainable Concrete using granite dust
as replacement for river sand. Journal of Cleaner
Production, v. 126, p. 74-87, 2016.

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