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CONCRETO

ARMADO
APLICADO EM
VIGAS, LAJES E
ESCADAS
Propriedades físicas e
reológicas do concreto
Bruna Manica Lazzari

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Relacionar as características mecânicas do concreto.


>> Determinar os parâmetros e características de deformabilidade do concreto.
>> Expressar as características reológicas do concreto.

Introdução
O concreto é um material frágil que tem a característica de apresentar uma ruptura
brusca em diversos lugares. Esse material é considerado uma rocha artificial,
constituído basicamente de agregados (finos e graúdos) e cimento, que age como
aglutinante. Ele também pode conter aditivos que influenciam suas características
físicas e químicas. Entre suas funções, podemos destacar a proteção da armadura
contra oxidação, garantindo a durabilidade da peça, bem como proteção física
(cobrimento) e proteção química (ambiente alcalino).
Neste capítulo, você vai estudar a resistência à compressão e à tração do
concreto a partir de ensaios normalizados. Além disso, conhecerá características
de deformabilidade do concreto, que são extremamente importantes para avaliar
os deslocamentos na estrutura.

Características mecânicas do concreto


O concreto apresenta como principal característica uma boa resistência à
compressão. Em geral, para atender ao mínimo de resistência exigido em
2 Propriedades físicas e reológicas do concreto

projeto, é importante conhecer as propriedades físicas e saber como elas


influenciam as propriedades mecânicas. Entre as propriedades físicas, po-
demos citar a relação água/cimento (abreviada como a/c): quanto menor a
relação a/c, maior será a resistência do concreto e maior sua durabilidade,
por apresentar menor índice de vazios. A trabalhabilidade é outro fator im-
portante a ser considerado na dosagem do concreto, pois, se for inadequada,
acabará gerando maior custo de mão-de-obra para adensamento. Para ajudar
na moldagem dos elementos estruturais e melhorar a trabalhabilidade sem
reduzir a resistência, podem ser utilizados aditivos superplastificantes. Um
concreto com menor fluidez e maior massa específica (mais compactado)
apresenta maior resistência, mas torna-se difícil realizar seu lançamento e
garantir a perfeita aderência entre o concreto e as armaduras.
Dentre os ensaios aplicados para obter as características mecânicas do
concreto, o de resistência à compressão simples é o mais realizado. Nele, são
empregados corpos de prova cilíndricos de 10 cm de diâmetro por 20 cm de com-
primento (ou 15 cm × 30 cm, mantendo a relação 1:2), submetidos a compressão
em uma prensa hidráulica, conforme mostra a Figura 1. As normas que regem esse
ensaio são a NBR 5738:2015 (Procedimento para moldagem e cura de corpos de
prova) e a NBR 5739:2018 (Ensaio de compressão de corpos de prova cilíndricos).

Figura 1. Ensaio para mensurar a compressão simples.


Fonte: Sartorti et al. (2018, documento on-line).

A resistência do concreto está sujeita a dispersões que ocorrem devido


à condição de fabricação e cura, à influência atmosférica e à origem das
Propriedades físicas e reológicas do concreto 3

matérias-primas. De acordo com Araújo (2014), a maneira mais adequada de


representar as dispersões é o diagrama de frequência, em cujo eixo das abcis-
sas são registradas as resistências e em cujo eixo das ordenadas, a frequência
com que aparecem os valores determinados. Quando a grandeza representada
no diagrama está sujeita apenas a influências aleatórias, quanto maior for o
número de ensaios (amostras), mais a curva se aproximará de um sino, sendo
chamada então de curva de distribuição normal, ou curva de Gauss (Figura 2).

Figura 2. Curva de distribuição normal.

A forma da curva de Gauss é definida pela média aritmética da resistência


do concreto pelo valor de fcj e pelo desvio-padrão da amostra (Sn). O valor de
fcj indica a resistência de maior frequência e o valor de Sn é a distância entre
as abcissas dos pontos de inflexão da curva e a abcissa do ponto de maior
frequência. A partir do diagrama de frequências, conseguimos obter o valor
representativo da resistência do concreto. Quanto maior for o valor de Sn,
maior será a dispersão e maiores deverão ser os valores dos coeficientes de
segurança para o concreto em questão.
Esse procedimento visa obter a resistência característica do concreto
à compressão (fck), que é o valor utilizado pelo engenheiro para realizar o
dimensionamento dos elementos estruturais. Tal valor apresenta uma pro-
babilidade de 95% de que se apresentem valores individuais de resistência
de corpos de prova mais altos do que ele, ou seja, somente 5% de valores
menores ou iguais. Considerando-se uma distribuição normal, a resistência
característica é dada por: fck = fcj –1,65 × Sn. Conforme a NBR 6118:2014, os
valores mínimos de fck são:

„„ fck ≥ 20 MPa em concreto armado;


„„ fck ≥ 25 MPa em concreto protendido;
„„ fck ≥ 15 MPa em fundações e obras provisórias.
4 Propriedades físicas e reológicas do concreto

Os concretos são classificados em grupos conforme sua resistên-


cia. Concretos do Grupo I apresentam resistências entre C15 a C50,
enquanto concretos do Grupo II apresentam resistências entre C55 a C90. Vale
lembrar que, segundo essa nomenclatura, C30, por exemplo, indica que o concreto
tem uma resistência à compressão de 30 MPa.

Outra característica importante do concreto é a análise do carregamento


de longa duração (efeito Rüsch). O engenheiro austríaco Hubert Rüsch (1960)
realizou ensaios de longa duração e chegou a reduções na ordem de 15% a
20% na resistência à compressão do concreto. Tal estudo foi muito impor-
tante para a definição do diagrama tensão versus deformação do concreto,
o qual é utilizado para o dimensionamento das armaduras. Na Figura 3,
podemos observar as curvas obtidas no estudo de Rüsch e o decréscimo
temporal da resistência no transcorrer do ensaio. Se, por exemplo, a carga
tivesse sido aplicada um ano após a concretagem, as deformações seriam
menores, devido ao efeito do tempo. Nesse caso, teríamos maior idade do
concreto e, consequentemente, maior módulo de elasticidade e menores
efeitos de fluência.

Figura 3. Curvas originais do estudo de Rüsch, em que o eixo vertical representa a razão
entre a tração do concreto e a força do cilindro e o eixo horizontal representa a deformação
do concreto.
Fonte: Rüsch (1960, p. 16).
Propriedades físicas e reológicas do concreto 5

Sabemos que o concreto é um material utilizado principalmente para re-


sistir aos esforços de compressão. Porém, ele também apresenta resistência
à tração. Para concretos convencionais, essa resistência pode chegar a 10%
da resistência à compressão. Quando trabalhamos com concretos com valores
mais elevados de fck, essa porcentagem da resistência à tração vai diminuindo,
conforme podemos visualizar no gráfico da Figura 4. Isso ocorre porque con-
cretos com maior resistência à compressão tendem a ser mais frágeis. Para
um concreto C80, por exemplo. a resistência à tração fica próxima a 4,8 MPa.

Figura 4. Curva que relaciona a resistência à compressão do concreto com sua resistência
à tração.
Fonte: Santos ([201-?], documento on-line).

Em relação aos ensaios de resistência à tração no concreto, os mais co-


nhecidos são:

„„ resistência à tração indireta;


„„ resistência à tração na flexão;
„„ resistência à tração direta.

O ensaio de resistência à tração indireta (Figura 5) é o mais simples de ser


realizado, pois utiliza o corpo de prova cilíndrico com as mesmas dimensões
aplicadas no ensaio de resistência à compressão. Esse corpo de prova é
deitado e submetido à compressão, sofrendo uma ruptura frágil.
6 Propriedades físicas e reológicas do concreto

Figura 5. Ensaio de resistência à tração indireta por compressão diametral.

Eis a expressão para o cálculo da resistência à tração por compressão


diametral fct,sp, conforme a NBR 7222:2010:

Já o ensaio de resistência à tração na flexão é baseado na NBR 12142:2010.


Nesse ensaio, utiliza-se uma viga submetida a cargas pontuais na região dos
terços médios. Na Figura 6, é possível observar o esquema do ensaio.

Figura 6. Ensaio de resistência por compressão diametral na flexão.


Fonte: Brito, Almeida e Oliveira (2019, documento on-line).
Propriedades físicas e reológicas do concreto 7

A obtenção da resistência à tração na flexão (fct,f ) se dá a partir da seguinte


expressão:

Por sua vez, a realização do ensaio de tração direta apresenta a difi-


culdade de fixação adequada do corpo de prova, podendo ocorrer uma
ruptura precoce junto à extremidade fixada. Por ser raramente utilizado, a
NBR 6118:2014 indica que essa resistência pode ser estimada como sendo
0,9 de fct,sp ou 0,7 de fct,f.
A seguir, indicamos as expressões da NBR 6118:2014 que podem ser utili-
zadas, na falta de ensaios experimentais, para estimar a resistência à tração
média do concreto, a partir da resistência característica à compressão.

„„ Para concretos do Grupo I:


„„ Para concretos do Grupo II:

onde fct,m e fck são expressos em Mpa.

Parâmetros e características de
deformabilidade do concreto
No cálculo de estruturas em concreto armado, é importante conhecer o módulo
de elasticidade do concreto para poder avaliar as deformações dos elementos
de forma isolada e da estrutura como um todo. A NBR 6118:2014, no seu item
8.2.8, apresenta as formulações a seguir para estimar o valor do módulo de
elasticidade inicial para concretos do Grupo I e II, respectivamente. Observe
que o valor do módulo depende da resistência característica à compressão
do concreto e do tipo de agregado.

onde:
αE = 1,2 para basalto ou diabásio;
αE = 1,0 para granito;
αE = 0,9 para calcário;
αE = 0,7 para arenito.
8 Propriedades físicas e reológicas do concreto

Vejamos uma comparação de valores de módulos de elasticidade para


diferentes classes de concreto. Digamos que precisamos calcular o
módulo de elasticidade para um concreto C30 e um concreto C70. Além disso,
sabemos que na confecção desses concretos foi utilizado agregado tipo granito.
Concreto C30 (Grupo I):
„„
Concreto C70 (Grupo II):

„„
Logo, comparando os resultados, percebemos um ganho de quase 42% no
valor do módulo de elasticidade para o concreto C70.

Coeficiente de Poisson
O coeficiente de Poisson é outro parâmetro importante que mede a defor-
mação transversal em relação à direção longitudinal de aplicação da carga
de um material. Esse valor é frequentemente exigido em software de análise
estrutural. A Figura 7 mostra um desenho esquemático e a formulação para
obter o coeficiente de Poisson. A NBR 6118:2014, no item 8.2.9, indica que
podemos utilizar como coeficiente de Poisson do concreto o valor de v = 0,2,
desde que as tensões de compressão sejam menores que 0,5fc e as tensões
de tração sejam menores que fct.

Figura 7. Obtenção do coeficiente de Poisson.


Fonte: Pérez González (2018, documento on-line).

Outra informação importante para o dimensionamento das estruturas em


concreto armado é o diagrama tensão versus deformação do concreto. A NBR
6118:2014 apresenta, no seu item 8.2.10, o diagrama idealizado parábola–retân-
gulo. Na Figura 8, podemos observar nesse diagrama a consideração do efeito
Propriedades físicas e reológicas do concreto 9

Rüsch no valor de 0,85, que multiplica a resistência de cálculo à compressão,


fcd, indicando uma perda de 15% da resistência para carregamentos de longa
duração. O valor de fcd é calculado a partir da resistência característica à com-
pressão, dividida pelo fator de segurança de 1,4, minorando sua resistência.
Podemos observar também o ponto de início do patamar plástico (εc2) e o
ponto de ruptura do concreto (εcu – deformação específica de encurtamento
do concreto), que limitam o trecho reto do trecho da parábola.

Figura 8. Diagrama tensão versus deformação do concreto.


Fonte: Adaptada de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014).

Os valores de εc2 e εcu variam conforme a classificação do grupo do concreto.


Para concretos do Grupo I, temos valores fixos de .
Já para concretos do Grupo II, devem-se adotar as seguintes expressões:

O gráfico da Figura 9 apresenta a variação dos valores de εc2 e εcu para


os concretos do Grupo II. Observamos que, quanto maior a resistência à
compressão, a deformação de ruptura diminui εcu, indicando a fragilidade
do material.
10 Propriedades físicas e reológicas do concreto

Figura 9. Deformações específicas do diagrama tensão versus deformação do concreto.


Fonte: Santos ([201-?], documento on-line).

Características reológicas do concreto


Reologia é a ciência que estuda a evolução da deformação de um material
ao longo do tempo. O efeito diferido do concreto possui grande influência no
seu comportamento estrutural, podendo apresentar uma ordem de grandeza
equivalente às deformações instantâneas. Essas deformações diferidas do
concreto podem ser caracterizadas pelos fenômenos de fluência (creep) e
retração (shrinkage). Outro fator importante no estudo da deformação ao
longo do tempo é a variação da temperatura.
A retração é um fenômeno que independe da tensão aplicada ao concreto
e gera redução volumétrica devido à saída lenta da água em excesso, que
não é usada na hidratação do cimento. As deformações por retração con-
vergem assintoticamente para um valor final, conforme podemos visualizar
na Figura 10a. Como a retração está associada à redução de volume, uma
vez que a peça está impedida de se reduzir, esse fenômeno induz tensões
de tração internas que podem ocasionar fissuração. Pensando no concreto
fresco, quanto maior a velocidade de evaporação e quanto maior o consumo
de cimento (menor relação a/c), maior será o efeito da retração plástica.
Propriedades físicas e reológicas do concreto 11

Uma forma de prevenir essa retração é promover a hidratação adequada


do cimento, a partir do procedimento de cura do concreto. A cura promove
um controle de temperatura, ajudando a garantir boa resistência e dura-
bilidade do concreto.

Figura 10. Curvas representando o comportamento da (a) retração e (b) fluência.

A fluência é a propriedade de muitos materiais pela qual eles continuam


a se deformar sob tensão constante de compressão ao longo do tempo (com-
portamento viscoelástico). A taxa de aumento de deformação é elevada no
início, mas diminui assintoticamente com o tempo, até que um valor final seja
atingido (Figura 10b). A deformação elástica inicial (ε0) ocorre no instante da
aplicação da tensão de compressão e depende das propriedades mecânicas
do concreto. Em relação à dosagem, quanto mais rígido for o agregado, maior
o módulo de elasticidade e menores serão os efeitos da fluência. Além disso,
quanto maior a resistência do concreto na idade de aplicação de carga, menor
será a fluência sofrida pela peça.
Na Figura 11, podemos observar uma peça em concreto carregada axial-
mente e submetida a uma tensão de compressão constante ao longo do
tempo. No instante de aplicação do carregamento, ela sofrerá uma defor-
mação imediata (ΔINICIAL) que provocará o deslocamento da água existente no
interior do concreto para regiões onde já tenha evaporado. Isso desencadeia
um processo análogo à retração, aumentando a deformação até um valor
máximo no tempo infinito (ΔFINAL).
12 Propriedades físicas e reológicas do concreto

Figura 11. Exemplo de deformação por fluência.

A estimativa cuidadosa dos efeitos da fluência e da retração é de crucial


importância, principalmente no projeto das estruturas em concreto proten-
dido, demandando uma grande quantidade de dados, incluindo o tempo, a
intensidade da tensão, a umidade do ambiente e as propriedades dos materiais
empregados. Em pontes estaiadas, por exemplo, o efeito da fluência também
é muito significativo no tabuleiro, por estar constantemente submetido a
esforços de compressão, devido ao componente da força horizontal dos
estais. Na Figura 12, podemos observar o diagrama de esforço normal de
compressão no tabuleiro da Ponte do Saber, no Rio de Janeiro, em que o
esforço vai aumentando da extremidade para a direção do pilone.

Figura 12. Exemplo de estrutura suscetível ao efeito de fluência — pontes estaiadas.


Fonte: Cidade (2017, documento on-line).

Dependendo da estrutura, a variação da temperatura é outro fator impor-


tante, que pode gerar deformações no concreto. Geralmente, ela é ocasionada
por dois fatores básicos: meio ambiente ou calor de hidratação (em estruturas
com grande volume de concreto, como, por exemplo, barragens). Para mitigar
Propriedades físicas e reológicas do concreto 13

os efeitos da temperatura em estruturas convencionais, recomenda-se pre-


ver juntas de dilatação, de tal forma que a dimensão da estrutura entre as
juntas seja inferior a 30 m (indicação da antiga NB1:1978). Para executá-las,
é comum a utilização de conjunto duplo, mas consoles e dentes Gerber em
vigas também podem ocorrer.
Caso o projeto não permita junta de dilatação, deve-se calcular o efeito
da temperatura na estrutura em algum software mais sofisticado, capaz de
contemplar essa análise mais refinada. Na Figura 13, observamos uma junta
de dilatação em uma ponte rodoviária, a fim de evitar fissuração devido à
variação térmica.

Figura 13. Exemplo utilização junta de dilatação


Fonte: Ferreira (2013, documento on-line).

Referências
ARAÚJO, J. M. Curso de concreto armado. Rio Grande, RS: DUNAS, 2014. v. 1 a 4.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118:2014: projeto de estru-
turas de concreto: procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5738:2015: concreto: proce-
dimento para moldagem e cura de corpos de prova. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5739:2018: concreto: ensaio
de compressão de corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
BRITO, L. B.; ALMEIDA, A. F. M.; OLIVEIRA, F. H. L. de. Análise da correlação entre re-
sistência à compressão axial e à tração na flexão em pavimentos rígidos. Revista
Tecnologia Fortaleza, v. 40, n. 2, p. 1–18, 2019. Disponível em: https://www.researchgate.
net/publication/337551432_Analise_da_correlacao_entre_resistencia_a_compres-
sao_axial_e_a_tracao_na_flexao_em_pavimentos_rigidos. Acesso em: 10 nov. 2020.
14 Propriedades físicas e reológicas do concreto

CIDADE, D. de F. Análise reológica computacional das etapas construtivas de ponte


estaiada. 2017. Dissertação (Mestrado em Projeto de Estruturas)- Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: http://dissertacoes.poli.ufrj.br/
dissertacoes/dissertpoli2073.pdf. Acesso em: 10 nov. 2020.
FERREIRA, C. M. S. Tipologia, instalação, funcionamento e manutenção de diversos tipos
de juntas de dilatação em obras de arte. 2013. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Civil) — Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, Lisboa, 2013. Disponível em: https://
repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/3281/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso
em: 10 nov. 2020.
PÉREZ GONZÁLEZ, A. Coeficiente de Poisson. [S. l.: s. n.], 2018. Disponível em: http://
www.mecapedia.uji.es/coeficiente_de_Poisson.htm. Acesso em: 10 nov. 2020.
RÜSCH, H. Researches toward a general flexural theory for structural concrete. ACI
Journal, p. 1–28, jul. 1960.
SANTOS, S. H. de C. Comentários sobre as alterações introduzidas pela revisão de
2012 da NBR 6118. 89 slides. Rio de Janeiro: [s. n., 201-?]. Disponível em: http://profes-
sor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/14280/material/NBR%20
6118%20-%20Coment%C3%A1rios%20da%20Revis%C3%A3o%202013%20-%20Video%20
Confer%C3%8Ancia.pdf. Acesso em: 10 nov. 2020.
SARTORTI, A. L. et al. Módulo de elasticidade estático e dinâmico para concretos leves.
Revista de Engenharia Civil IMED, v. 5, n. 1, 2018. Disponível em: https://seer.imed.edu.
br/index.php/revistaec/article/view/2173/1884. Acesso em: 10 nov. 2020.

Leituras recomendadas
ARROYO PORTERO, J. C.; MORÁN CABRÉ, F.; GARCIA MESEGUER, Á. Jiménez Montoya
esencial: hormigón armado. Madrid: Cinter Div. Técnica SLL, 2018.
FUSCO, P. B. Estruturas de concreto: solicitações normais. Rio de Janeiro: LTC, 1985.
NEVILLE, A. M. Propriedades do concreto. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016.

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Concreto
Armado

Liana
Parizotto
Revisão técnica:
Shanna Trichês Lucchesi
Mestre em Engenharia de Produção (UFRGS)
Professora do curso de Engenharia Civil (FSG)

P231c Parizotto, Liana.


Concreto armado / Liana Parizotto. – Porto Alegre :
SAGAH, 2017.
220 p. : il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-090-0


1. Concreto armado – Engenharia civil. I. Título.

CDU 624.012.45

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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Segurança e estados
limites: ações em estruturas
de concreto armado
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir as ações e os critérios para o dimensionamento de elementos


em concreto armado.
 Identificar os tipos de carregamento e suas combinações últimas e
de serviço.
 Avaliar os coeficientes utilizados nas combinações das ações e na
ponderação das resistências.

Introdução
Para garantir a segurança das estruturas de concreto armado, é necessário
que cada um de seus elementos seja dimensionado no estado limite
último (garantindo, assim, a sua resistência ao colapso) e verificado no
estado limite de serviço (o que impõe limites quanto a sua utilização,
como deformações e fissurações excessivas). Em ambos os casos, o valor
da resistência do elemento deve ser superior ao valor dos esforços aos
quais ele será solicitado, empregando os coeficientes que ponderam as
resistências e os coeficientes que majoram as solicitações. As solicitações
nos elementos são geradas pelas ações que podem ocorrer sobre a
estrutura durante a sua vida útil. Como essas ações são de naturezas
diferentes, é necessário considerá-las conforme seus valores, sua duração
e sua probabilidade de ocorrência, e combiná-las com seus respectivos
coeficientes conforme o estado limite analisado. Como resultado, obtemos
o valor a ser comparado com a resistência do concreto armado. Neste

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132 Concreto armado

capítulo você vai conhecer os tipos de ações e de carregamentos, suas


combinações e os coeficientes que devem ser utilizados como critérios de
segurança para o dimensionamento de elementos em concreto armado.

Ações em estruturas e critérios de


dimensionamento de elementos em concreto
armado
O dimensionamento de uma estrutura, no geral, segue a sequência de etapas
apresentada a seguir (PFEIL, 1988):

 avaliação das cargas atuantes: são utilizadas as cargas mais desfavorá-


veis que possam atuar na estrutura, e os seus valores são determinados
pela norma ABNT NBR 6120:1980;
 determinação geométrica da estrutura: é feita por comparação com
estruturas semelhantes ou por meio de cálculos de pré-dimensionamento;
 cálculo das solicitações nas seções: as solicitações geradas pelas car-
gas atuantes são determinadas para cada seção da estrutura, na sua
combinação mais desfavorável; dependendo da situação, as solicitações
podem ser multiplicadas por coeficientes de segurança;
 cálculo das resistências internas: as resistências são determinadas,
igualmente, para cada seção da estrutura, levando em conta as resistên-
cias características dos materiais utilizados no projeto (concreto e aço);
 verificação do comportamento: as condições a serem atendidas nas
verificações são determinadas pela norma ABNT NBR 8681:2003; os
parâmetros verificados podem ser ruptura ou abertura de fissuras nas
estruturas, por exemplo;
 correções geométricas: caso existam deficiências nas verificações, cor-
reções geométricas (geralmente na dimensão das seções) são realizadas;
as verificações são repetidas até que não existam mais deficiências;
 detalhamento: apenas algumas seções da estrutura são verificadas,
mas, para ter certeza de que a segurança se dará em todos os tramos,
é necessário que as armações tenham continuidade; para que isso seja
representado, há certas regras de detalhamento a serem obedecidas.

As estruturas são dimensionadas de modo a atender a duas situações: coe-


ficientes apropriados de segurança relacionados ao colapso e comportamento
satisfatório sob a ação de cargas de serviço. Tais situações estão relacionadas

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Segurança e estados limites: ações em estruturas de concreto armado 133

aos estados limites últimos (ELU) e aos estados limites de serviço (ELS),
respectivamente. Os estados limites são utilizados para verificar o comporta-
mento e a conformidade da estrutura para o seu uso. Ao atingir esses estados
limites, a estrutura se torna inadequada. Os estados limites podem ser (PFEIL,
1988):

 estados limites últimos (ELU): estão relacionados ao máximo da


capacidade portante da estrutura e determinam a paralisação do uso da
edificação; o ELU é caracterizado pela perda de equilíbrio da estrutura
(risco de tombamento, escorregamento) e por deformações excessivas
dos materiais (causando instabilidade ou ruptura);
 estados limites de serviço (ELS): estão relacionados com as condições
de utilização normal da estrutura e com a sua durabilidade; o ELS
é caracterizado pela abertura de fissuras, deformações e vibrações
excessivas.

Ações em estruturas
Por definição, as causas que provocam esforços ou deformações nas estruturas
são chamadas ações, e o cálculo delas irá diferir do ELU para o ELS. As ações
são classificadas em 3 categorias, conforme a ABNT NBR 8681:2003, em
função da sua variabilidade no tempo:

 permanentes: ocorrem com valores constantes ou pouco variáveis


durante aproximadamente a vida toda da estrutura; são divididas em
diretas, como o peso próprio da estrutura e dos elementos construti-
vos fixos (pisos e forros), e em indiretas, como protensão de cabos e
retração dos materiais;
 variáveis: ocorrem com valores que variam significativamente durante a
vida da construção; são cargas acidentais em função do uso da estrutura
(pessoas, mobília, veículos, etc.) e também dos efeitos do vento, de
forças de impacto, de frenagem, etc.;
 excepcionais: têm baixa probabilidade de acontecerem durante a vida
da construção e possuem duração extremamente curta; são decorrentes
de explosões, incêndios, enchentes, colisões de veículos, etc. e aparecem
apenas em alguns projetos.

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134 Concreto armado

Condições de segurança
Além dos requisitos construtivos de segurança exigidos, como detalhamento
constante das seções da estrutura e controle de materiais utilizados na cons-
trução e na execução da obra, existem requisitos analíticos. Os requisitos
analíticos de segurança surgem na análise estrutural e diferem do ELU
para o ELS. As condições apresentadas a seguir serão retomadas e melhor
esclarecidas nos próximos itens (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2003).
Para o ELU, deve ser obedecida a seguinte condição:

Rd ≥ S d

em que:
Rd = esforço resistente de cálculo;
Sd = esforço solicitante de cálculo.
Para o ELS, deve ser obedecida a seguinte condição:

Sd ≤ Slim

em que:
Sd = esforço solicitante de cálculo;
Slim = esforço solicitante limite adotado para o efeito estrutural de interesse.

Tipos de carregamentos e suas combinações


de ações
No item anterior, você viu a classificação das ações. No entanto, há ainda outra
classificação relativa ao tipo de carregamento que a estrutura poderá sofrer
ao longo de sua vida. Diferentemente das ações, que se distinguem uma da
outra pela variabilidade no tempo (permanentes, varáveis e excepcionais), os
carregamentos são classificados de acordo com a frequência com que ocorrem.
Segundo a ABNT NBR 8681:2003, um carregamento é um conjunto de
ações que têm probabilidade de ocorrerem em uma estrutura, concomitan-
temente, devendo ser combinadas de diferentes maneiras para cada tipo de
carregamento. Você vai ver a seguir os 4 tipos de carregamento:

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Segurança e estados limites: ações em estruturas de concreto armado 135

 normal: sua duração se dá por todo o período de vida da construção;


provém do uso esperado da estrutura, devendo sempre ser considerado
em todas as verificações de segurança, tanto para o ELU quanto para
o ELS;
 especial: sua duração é pequena em relação ao período de vida da
construção; provém de ações variáveis, com intensidade e natureza
especiais, e superam em intensidade os efeitos causados pelo carre-
gamento normal; deve ser considerado apenas nas verificações de
segurança para o ELU, exceto em casos particulares, em que também
é verificado para o ELS;
 excepcional: sua duração é extremamente curta em relação ao período
de vida da construção; provém de ações excepcionais, podendo causar
efeitos catastróficos, sendo analisado apenas em determinadas estru-
turas; deve ser considerado somente nas verificações de segurança
para o ELU;
 de construção: é transitório, com sua duração sendo definida de acordo
com cada caso; provém de ações durante a fase de construção da edifica-
ção e é analisado somente nos casos em que exista risco de ocorrência de
algum estado limite; deve ser observado nas verificações de segurança
de todos os estados limites que são suspeitos de acontecerem durante
a fase de construção.

Ao fazer a verificação da segurança da estrutura relativa aos estados


limites, para cada tipo de carregamento você deve utilizar as combinações que
gerarem os efeitos mais desfavoráveis nas seções críticas da estrutura. As
ações permanentes são sempre tomadas integralmente, enquanto as variáveis
têm apenas as suas parcelas desfavoráveis consideradas (ABNT, 2003). Você
vai ver a seguir as combinações de ações para o estado limite último (ELU)
e para o estado limite de serviço (ELS).

As ações permanentes são sempre tomadas integralmente, enquanto as variáveis


têm apenas as suas parcelas desfavoráveis consideradas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 2003).

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136 Concreto armado

Combinações últimas das ações


Obtemos o valor de cálculo das ações para a combinação última (Fd) por meio
de 3 tipos de combinações últimas das ações, calculadas pelas expressões
apresentadas para cada caso (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2003):

 combinações últimas normais: reúnem os valores característicos das


ações permanentes (FGi,k) e as combinações das diversas ações variá-
veis envolvidas, sendo uma das ações considerada a principal (FQ1,k),
enquanto as demais ações (consideradas secundárias) atuam com seus
valores reduzidos (ψ0jFQj,k):

em que:
FGi,k = valor característico das ações permanentes;
FQ1,k = valor característico da ação variável considerada como principal;
FQj,k = valor característico das demais ações variáveis;
ψ0j = fator de combinação para ações variáveis;
γgi = coeficiente de ponderação para ações permanentes;
γq = coeficiente de ponderação para ações variáveis diretas;
m = número de ações permanentes;
n = número de ações variáveis.

 combinações últimas especiais ou de construção: integram os valores


característicos das ações permanentes (FGi,k) e as combinações das
diversas ações variáveis especiais envolvidas, sendo uma das ações
considerada a principal (FQ1,k), enquanto as demais ações (consideradas
secundárias) atuam com seus valores reduzidos(ψ0j,ef FQj,k):

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Segurança e estados limites: ações em estruturas de concreto armado 137

em que:
FGi,k = valor característico das ações permanentes;
FQ1,k = valor característico da ação variável considerada como principal;
FQj,k = valor característico das demais ações variáveis;
ψ0j,ef = fator de combinação efetivo de cada uma das ações variáveis;
γgi = coeficiente de ponderação para ações permanentes;
γq = coeficiente de ponderação para ações variáveis diretas;
m = número de ações permanentes;
n = número de ações variáveis.

 combinações últimas excepcionais: envolvem os valores característicos


das ações permanentes (FGi,k), o valor representativo da ação transitó-
ria excepcional(FQ,exc), e as demais ações variáveis com seus valores
reduzidos(ψ0j,ef FQj,k):

em que:
FGi,k = valor característico das ações permanentes;
FQ,exc = valor da ação transitória excepcional;
FQj,k = valor característico das ações variáveis;
ψ0j,ef = fator de combinação efetivo de cada uma das ações variáveis;
γgi = coeficiente de ponderação para ações permanentes;
γq = coeficiente de ponderação para ações variáveis diretas;
m = número de ações permanentes;
n = número de ações variáveis.

Combinações de serviço das ações


Obtemos o valor de cálculo das ações para a combinação de serviço (Fd,ser)
por meio de 3 tipos de combinações de serviço das ações, calculadas pelas
expressões apresentadas para cada caso (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2003):

 quase permanentes de serviço: incluem os valores característicos das


ações permanentes (FGi,k), sem coeficiente de ponderação das ações, e as
ações variáveis envolvidas com seus valores quase permanentes (ψ2j FQj,k):

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138 Concreto armado

em que:
FGi,k = valor característico das ações permanentes;
FQj,k = valor característico das ações variáveis;
ψ2j = fator de redução (valor quase permanente) para ações variáveis;
m = número de ações permanentes;
n = número de ações variáveis.

 frequentes de serviço: englobam os valores característicos das ações


permanentes (FGi,k), sem coeficiente de ponderação das ações; a ação
variável principal é tomada com seu valor frequente (ψ1FQ1,k), e as demais
ações variáveis envolvidas estão com seus valores quase permanentes
(ψ2j FQj,k):

em que:
FGi,k = valor característico das ações permanentes;
FQ1,k = valor característico da ação variável considerada como principal;
FQj,k = valor característico das demais ações variáveis;
ψ1 = fator de redução (valor frequente) para ações variáveis;
ψ2j = fator de redução (valor quase permanente) para ações variáveis;
m = número de ações permanentes;
n = número de ações variáveis.

 raras de serviço: reúnem os valores característicos das ações perma-


nentes (FGi,k), sem coeficiente de ponderação das ações; a ação variável
principal é tomada com seu valor característico (FQ1,k), e as demais
ações variáveis envolvidas estão com seus valores frequentes (ψ1j FQj,k):

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Segurança e estados limites: ações em estruturas de concreto armado 139

em que:
FGi,k = valor característico das ações permanentes;
FQ1,k = valor característico da ação variável considerada como principal;
FQj,k = valor característico das demais ações variáveis;
ψ1j = fator de redução (valor frequente) para ações variáveis;
m = número de ações permanentes;
n = número de ações variáveis.

Coeficientes de combinação de ações e de


ponderação de resistências
Você vai ver agora os valores dos coeficientes das expressões apresentadas
anteriormente em tabelas retiradas das normas. As ações devem ser majoradas
por meio dos:

 coeficientes de ponderação das ações (γf);


 fatores de combinação (ψ0);
 fatores de redução (ψ1 e ψ2);

Já as resistências devem ser minoradas por meio dos coeficientes de pon-


deração das resistências (γm).

Coeficientes de ponderação das ações (γf)


Os coeficientes de ponderação das ações (γf) podem ter seus índices alterados
(a letra subscrita “f ” muda) para identificar a ação considerada. Os coeficientes
usados nas combinações últimas (ELU) servem para as ações permanentes
(γg) e as ações variáveis (γq). O valor básico para as ações excepcionais é
(γf = 1), salvo indicação contrária. Os coeficientes usados nas combinações de
serviço (ELS) têm como valor básico (γf = 1) (salvo exigência em contrário),
portanto, nem aparecem nas expressões (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2003).
Veja na Tabela 1, da ABNT NBR 6118:2014, os valores dos coeficientes de
ponderação, para cada tipo de combinação no ELU, para ações permanentes e
variáveis diretas, e também para ações indiretas de protensão e de deformações
impostas. Essa tabela é simplificada e considera as ações de forma agrupada.

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140 Concreto armado

Tabela 1. Coeficientes de ponderação das ações para o ELU.

Ações

Combinações Recalques
Permanentes Variáveis Protensão
de ações de apoio e
(g) (q) (p)
retração

D F G T D F D F

Normais 1,4a 1,0 1,4 1,2 1,2 0,9 1,2 0

Especiais 1,3 1,0 1,2 1,0 1,2 0,9 1,2 0


ou de
construção

Excepcionais 1,2 1,0 1,0 0 1,2 0,9 0 0

onde
D é desfavorável, F é favorável, G representa as cargas variáveis em geral e T é a
temperatura.
a
Para as cargas permanentes de pequena variabilidade, como o peso próprio das
estruturas, especialmente as pré-moldadas, esse coeficiente pode ser reduzido
para 1,3.

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014, p. 65).

Você encontra os valores para os casos especiais não contemplados na


Tabela 1 na ABNT NBR 8681:2003. As Tabelas 2 e 3 apresentam, separa-
damente, os valores das ações permanentes (γg) diretas e das ações variáveis
(γq), respectivamente.

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Segurança e estados limites: ações em estruturas de concreto armado 141

Tabela 2. Coeficientes de ponderação das ações permanentes diretas consideradas se-


paradamente.

Efeito

Desfavorável
Combinação

Favorável
Tipo de ação

Peso próprio de estruturas metálicas 1,25 1,0


Peso próprio de estruturas pré-moldadas 1,30 1,0
Peso próprio de estruturas moldadas no 1,35 1,0
local 1,35 1,0
Normal

Elementos construtivos industrializados1) 1,40 1,0


Elementos construtivos industrializados 1,50 1,0
com adições in loco
Elementos construtivos em geral e
equipamentos2)

Peso próprio de estruturas metálicas 1,15 1,0


Peso próprio de estruturas pré-moldadas 1,20 1,0
Especial ou de

Peso próprio de estruturas moldadas 1,25 1,0


construção

no local 1,25 1,0


Elementos construtivos industrializados1) 1,30 1,0
Elementos construtivos industrializados 1,40 1,0
com adições in loco
Elementos construtivos em geral e
equipamentos2)

Peso próprio de estruturas metálicas 1,10 1,0


Peso próprio de estruturas pré-moldadas 1,15 1,0
Peso próprio de estruturas moldadas 1,15 1,0
Excepcional

no local 1,15 1,0


Elementos construtivos industrializados1) 1,20 1,0
Elementos construtivos industrializados 1,30 1,0
com adições in loco
Elementos construtivos em geral e
equipamentos2)
1)
Por exemplo: paredes e fachadas pré-moldadas, gesso acartonado.
2)
Por exemplo: paredes de alvenaria e seus revestimentos, contrapisos.

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003, p. 11).

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142 Concreto armado

Tabela 3. Coeficientes de ponderação das ações variáveis consideradas separadamente.

Coeficiente de
Combinação Tipo de ação
ponderação

Normal Ações truncadas1 1,2


Efeito de temperatura 1,2
Ação do vento 1,4
Ações variáveis em geral 1,5

Especial ou de Ações truncadas1 1,1


construção Efeitos de temperatura 1,0
Ação do vento 1,2
Ações variáveis em geral 1,3

Excepcional Ações variáveis em geral 1,0


1
Ações truncadas são consideradas ações variáveis cuja distribuição de máximos
é truncada por um dispositivo físico de modo que o valor dessa ação não pode
superar o limite correspondente. O coeficiente de ponderação mostrado na
Tabela 4 se aplica a esse valor limite

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003, p. 12).

Fatores de combinação (ψ0) e de redução (ψ1 e ψ2)


das ações
Os valores característicos das ações (Fk) podem ser reduzidos, em função da
combinação de ações, tanto para o ELU quanto para o ELS. No ELU, o valor
reduzido ψ0Fk considera muito baixa a probabilidade de ocorrência simultânea
dos valores característicos de duas ou mais ações variáveis de natureza dis-
tinta. No ELS, os valores reduzidos ψ1Fk e ψ2Fk estimam valores frequentes e
quase permanentes de uma ação variável que acompanha uma ação principal
(Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2014).
Veja na Tabela 4, da ABNT NBR 6118:2014, os fatores de combinação,
para o ELU, e de redução, para o ELS, para as ações variáveis. Os valores para
casos especiais não contemplados nessa tabela estão disponíveis na ABNT
NBR 8681:2003.

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Segurança e estados limites: ações em estruturas de concreto armado 143

Tabela 4. Fatores de combinação e de redução das ações variáveis.

γf2

Ações ψ0 ψ1a ψ2

Cargas Locais em que não há 0,5 0,4 0,3


acidentais de predominância de pesos
edifícios de equipamentos que
permanecem fixos por
longos períodos de
tempo, nem de elevadas
concentrações de pessoasb

Locais em que há 0,7 0,6 0,4


predominância de pesos
de equipamentos que
permanecem fixos por
longos períodos de
tempo, ou de elevada
concentração de pessoasc

Biblioteca, arquivos, 0,8 0,7 0,6


oficinas e garagens

Vento Pressão dinâmica do vento 0,6 0,3 0


nas estruturas em geral

Temperatura Variações uniformes de 0,6 0,5 0,3


temperatura em relação
à média anual local
a
Para os valores de ψ1 relativos às pontes e principalmente para os problemas de
fadiga, ver Seção 23.
b
Edifícios residenciais.
c
Edifícios comerciais, de escritórios, estações e edifícios públicos.

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014, p. 65).

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144 Concreto armado

Coeficientes de ponderação das resistências (γm)


Encontramos os valores das resistências de cálculo ( fd) dos materiais (aço e
concreto) utilizando a seguinte expressão (Associação Brasileira de Normas
Técnicas, 2003):

fk
fd = γ
m

em que:
f k = resistência característica ( fck para o concreto e f yk para o aço);
γm = coeficiente de ponderação das resistências (γc para o concreto e γs
para o aço).
Veja os valores dos coeficientes de ponderação das resistências para o
concreto e para o aço no ELU na Tabela 5, retirada da ABNT NBR 6118:2014,
de acordo com o tipo de combinação última. Para o ELS, admite-se que
γm = 1, pois as resistências não necessitam de minoração nesse caso.

Tabela 5. Coeficientes de ponderação das resistências no ELU.

Concreto Aço
Combinações γc γs

Normais 1,4 1,15

Especiais ou de construção 1,2 1,15

Excepcionais 1,2 1,0

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014, p. 71).

A condição de segurança que deve ser respeitada para os estados limites


últimos (ELU) é dada por:

Rd ≥ S d

Obtemos os valores de cálculo dos esforços resistentes (Rd) utilizando os


valores de cálculo das resistências dos materiais ( fd) definidos em projeto.
Encontramos os valores de cálculo dos esforços solicitantes (Sd) por meio dos
valores de cálculo das ações (Fd), abordados no item anterior.

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Segurança e estados limites: ações em estruturas de concreto armado 145

A condição de segurança que deve ser respeitada para os estados limites


de serviço (ELS) é dada por:

Sd ≤ Slim

A abordagem é diferente do ELU, pois os estados limites de serviço (ELS)


são atingidos com solicitações menores do que a estrutura pode suportar até
a falha. Definimos, então, um valor limite para os esforços atuantes (Slim),
o qual deve ser menor do que o valor de cálculo dos efeitos estruturais de
interesse (Sd). Lembre-se de que o coeficiente de ponderação das ações para
o ELS vale γf = 1.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118:2014. Projeto de


estruturas de concreto – procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6120:1980. Cargas para o
cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1980.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 8681:2003. Ações e se-
gurança nas estruturas – procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
PFEIL, W. Concreto armado 1: introdução. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1988.

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Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Concreto
Armado

Liana
Parizotto
Revisão técnica:
Shanna Trichês Lucchesi
Mestre em Engenharia de Produção (UFRGS)
Professora do curso de Engenharia Civil (FSG)

P231c Parizotto, Liana.


Concreto armado / Liana Parizotto. – Porto Alegre :
SAGAH, 2017.
220 p. : il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-090-0


1. Concreto armado – Engenharia civil. I. Título.

CDU 624.012.45

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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Estádios de cálculo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as principais características dos estádios de cálculo.


 Determinar as tensões nas armaduras e no aço para cada estádio
de cálculo.
 Avaliar a utilização dos estádios de cálculo nos estados limites.

Introdução
Quando uma peça de concreto armado é ensaiada à flexão, sob a ação
de um carregamento gradativamente crescente, é possível observar que
as tensões passam por três etapas distintas durante o aumento de carga,
os denominados estádios de flexão.
Esses estádios são classificados como estádio I, estádio II e estádio III,
e diferem-se pelo comportamento característico do aço e do concreto
em cada um deles. O estádio I ainda é subdividido em estádio Ia e estádio
Ib, devido às considerações quanto à proporcionalidade das tensões e
deformações nos materiais.
O dimensionamento e a verificação dos estados limites são realizados
dentro dos critérios de equilíbrio dos estádios de flexão, tanto para evitar
a ruína da estrutura quanto para impor a ela um determinado compor-
tamento durante sua utilização.
Neste capítulo você vai conhecer os estádios de cálculo para elemen-
tos em flexão, bem como determinar suas tensões nos materiais e sua
utilização nos estados limites.

Características dos estádios de cálculo


Os estádios de cálculo, também conhecidos como estágios de tensões internas,
são as fases de comportamento distinto de um elemento de concreto armado
quando submetido a solicitações de flexão. Os estádios são avaliados em uma

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Estádios de cálculo 149

viga de concreto armado biapoiada, com armaduras longitudinais na região


tracionada, e também com armaduras transversais, sob a ação de momentos
fletores crescentes.
A viga de concreto armado submetida à flexão simples, com carregamento
variando de zero até a ruptura, basicamente passa por 4 estágios de tensões
internas nos materiais (3 estádios de cálculo, sendo que o primeiro é subdividido
em dois) (PFEIL, 1988):

 Estádio I:
■ Estádio Ia: quando se dá o início do carregamento; os materiais
trabalham em regime elástico, ou seja, as tensões são proporcionais às
deformações tanto na zona de compressão quanto na zona de tração
da viga; o concreto não está fissurado nem o aço está escoando.
■ Estádio Ib: chamado estado limite de fissuração da viga; as tensões
já não são mais proporcionais às deformações na zona tracionada,
mas seguem um diagrama praticamente linear na zona de compres-
são; o concreto ainda não está fissurado, mas é atingido o limite de
resistência à ruptura do concreto por tração na flexão (fct,f ) e, por
isso, o diagrama de tensões do concreto se plastifica (torna-se curvo).
 Estádio II: chamado estado limite de abertura das fissuras da viga;
as tensões se mantêm proporcionais às deformações na zona compri-
mida, apesar de as tensões no concreto serem mais elevadas do que no
Estádio Ib; formam-se fissuras no concreto na zona tracionada, sendo
os esforços internos de tração absorvidos pela armadura, por isso, não
é mais representado o diagrama de tensões do concreto nessa zona;
ocorre a elevação da linha neutra (linha que divide as zonas tracionada
e comprimida), pois há alongamentos maiores na seção fissurada (zona
tracionada) do que na zona não fissurada (zona comprimida).
 Estádio III: situação de ruptura da seção de concreto armado; as
tensões não são mais proporcionais às deformações, apresentando um
diagrama curvilíneo na zona comprimida (plastificação do concreto); o
colapso se dá ou pelo esmagamento do concreto ou pelo escoamento da
armadura na zona tracionada, junto com grandes aberturas de fissuras,
elevando a linha neutra.

Veja na Figura 1 as diferentes fases de comportamento de uma peça de


concreto armado submetida à flexão, com os diagramas das deformações e
das tensões no concreto ao longo da altura da seção, bem como as principais
características de cada fase (estádio).

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150 Concreto armado

Figura 1. Fases de comportamento de uma peça de concreto armado submetida à flexão.


Fonte: Campos Filho (2014, p. 1).

Tensões e deformações no concreto e nas


armaduras
Suponha uma viga de concreto armado de seção qualquer, simplesmente
apoiada, submetida à flexão simples normal. A viga possui armaduras longi-
tudinais (As) na zona em que sofre esforços de tração e também armaduras
longitudinais na zona de compressão (A’s), conforme representado na seção da
Figura 2 (observe também a distribuição de deformações ao longo da seção).

U3_C10_ Concreto armado.indd 150 09/06/2017 15:18:21


Estádios de cálculo 151

Figura 2. Seção transversal de uma viga de concreto armado e sua distribuição de


deformações.
Fonte: Campos Filho (2014, p. 2).

A partir do diagrama de deformações da Figura 2, é possível estabelecer as


seguintes relações de compatibilidade de deformações da seção de concreto
armado (válidas para o estádio I até o III), supondo que as seções permanecem
planas até a ruptura (CAMPOS FILHO, 2014):

em que:
ɛc = deformação do concreto na borda comprimida;
ɛt = deformação do concreto na borda tracionada;
ɛy = deformação do concreto em uma distância qualquer y da linha neutra;
ɛ2 = deformação da armadura comprimida;
ɛ1 = deformação da armadura tracionada;
h = altura da viga;
d = distância do centro da armadura tracionada até a borda tracionada;
d’ = distância do centro da armadura tracionada até a borda comprimida;
x = distância da borda comprimida de concreto até a linha neutra;
y = distância de uma seção comprimida qualquer de concreto até a linha
neutra.
Apenas para os estádios I e II (excluindo-se, portanto, o estádio III), as
tensões são consideradas proporcionais às deformações, ou seja, é válida a
lei de Hooke (σ = E × ɛ). Para encontrar as relações escritas anteriormente

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152 Concreto armado

em termos das tensões (σ) em cada parte da seção, basta multiplicar todas as
parcelas de (1) pelo módulo de elasticidade do concreto (EC):

Como nem todas as deformações são referentes ao concreto (há deformações


do aço também), é necessário relacionar as propriedades dos dois materiais
para que a deformação do aço seja multiplicada pelo módulo de elasticidade do
aço (ES), e não pelo do concreto. Para isso, usa-se a relação entre os módulos
de elasticidade do aço e do concreto (ae):

O módulo de elasticidade do concreto (Ec) é então escrito em função do


módulo de elasticidade do aço de armadura passiva (Es):

Sendo assim:

Reescrevendo-se a expressão (2) em termos de tensões (σ), substituindo o Ec por

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Estádios de cálculo 153

em que:
σc= tensão no concreto na borda comprimida;
σt= tensão no concreto na borda tracionada;
σ y= tensão no concreto em uma distância qualquer y da linha neutra;
σ2= tensão na armadura comprimida;
σ1= tensão na armadura tracionada.

Para o estádio Ia, são válidas as relações de (3):

Para o estádio II, σt já não é mais válida, pois o concreto já fissurou à tração:

Tensões no concreto e nas armaduras no estádio Ia


Veja a seguir as tensões no concreto e nas armaduras no estádio Ia para seções
quaisquer de concreto armado submetidas a certo momento fletor (M)− os
cálculos envolvendo a obtenção das fórmulas apresentadas aqui não serão
mostrados. Para o concreto (CAMPOS FILHO, 2014):

Para as armaduras (CAMPOS FILHO, 2014):

em que (IxH)I é o momento de inércia da seção homogeneizada de concreto


em relação à linha neutra, sendo a soma do momento de inércia da seção de
concreto em relação à linha neutra com o momento de inércia das armaduras
em relação à linha neutra:

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154 Concreto armado

Tensões no concreto e nas armaduras no estádio II


Veja a seguir as tensões no concreto e nas armaduras no estádio II para seções
quaisquer de concreto armado submetidas a certo momento fletor (M)− os
cálculos envolvendo a obtenção das fórmulas apresentadas aqui não serão
mostrados. Para o concreto (CAMPOS FILHO, 2014):

Para as armaduras (CAMPOS FILHO, 2014):

em que (IxH)II é o momento de inércia da seção homogeneizada de concreto


em relação à linha neutra, sendo a soma do momento de inércia da seção de
concreto em relação à linha neutra com o momento de inércia das armaduras
em relação à linha neutra:

Estádios de cálculo e os estados limites


Como mencionado anteriormente, os estádios são as fases pelas quais a seção
de concreto passa ao longo de um carregamento que vai de zero até a ruptura
da seção. Ao longo dessas fases, é possível identificar a ocorrência de estados
limites, que são utilizados para a verificação do comportamento e da confor-
midade da estrutura para que o seu projeto seja feito com um adequado grau
de segurança. Quando os estados limites são atingidos, a estrutura se torna
inadequada para o propósito de seu uso.
No estádio Ia, as tensões elásticas geradas pelo carregamento apresentam
pouca relevância diante das tensões causadas pela retração do concreto. Por
isso, e somado ao fato de a resistência à tração do concreto ser pouco confi-

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Estádios de cálculo 155

ável, esse estádio é pouco utilizado para analisar seções de concreto armado
(PFEIL, 1988).
O estádio Ib é utilizado para calcular o momento teórico de fissuração da
seção de concreto armado. Nesse estádio já pode ser evidenciada a ocorrência
de um estado limite de serviço (ELS), o estado limite de formação de fissuras
(ELS-F). De acordo com a ABNT NBR 6118:2014, esse é o estado em que
a formação de fissuras se inicia, portanto, admite-se que a tensão de tração
máxima do concreto é igual à resistência do concreto à tração na flexão ( fct,f ).
No estádio II a seção já está fissurada e, por isso, ele representa as condições
de trabalho da seção sob cargas de serviço, ou seja, é possível verificar outros
estados limites de serviço (ELS): o estado limite de abertura das fissuras
(ELS-W) e o estado limite de deformações excessivas (ELS-DEF). O Estádio
II foi, por muito tempo, usado como base para o dimensionamento de seções
de concreto armado, mas aos poucos foi sendo substituído por métodos com
base na ruptura da seção (PFEIL, 1988).
No estádio III, por sua vez, a máxima capacidade portante da estrutura
é atingida, podendo ocorrer o escoamento da armadura tracionada ou o es-
magamento do concreto na parte comprimida, evidenciando o estado limite
último (ELU). É nesse estádio em que é feito o dimensionamento das seções
de concreto armado.

Estados limites de serviço nos estádios I e II


Os estados limites de serviço (ELS) existentes são identificados nos estádios
I e II. A passagem de um estádio para outro é definida pelo momento de fissu-
ração (Mr) (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014):

em que:
a = fator que correlaciona, aproximadamente, a resistência à tração na
flexão ( fct,f ) e a resistência à tração direta ( fct), sendo a = 1,2 para seções T
ou duplo T, e a =1,5
f ct= resistência à tração direta do concreto, devendo-se adotar fctk,inf para
o estado limite de formação de fissura (ELS-F) e fct,m para o estado limite de
deformação excessiva (ELS-DEF);
Ic= momento de inércia da seção bruta de concreto;
y t = distância do centro de gravidade da seção à fibra mais tracionada.

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156 Concreto armado

De acordo com a ABNT NBR 6118:2014, as resistências à tração direta


( fct) são avaliadas por meio das seguintes equações:

em que:
fct,m = resistência média à tração do concreto (MPa);
fctk = resistência característica à tração do concreto;
fck = resistência característica à compressão do concreto (MPa).

Estado limite último no estádio III


O estado limite último (ELU) é identificado no estádio III, situação na qual é
feito o dimensionamento das estruturas de concreto armado. O ELU corres-
ponde à ruína de uma seção transversal de concreto armado que pode ser dada
de duas maneiras: deformação plástica excessiva do aço ou ruptura do concreto.
O ELU é caracterizado quando a distribuição das deformações ao longo da
altura de uma seção transversal se enquadrar em algum dos domínios apre-
sentados na Figura 3 (numerados de 1 a 5). Os domínios 1 e 2 correspondem
à ruína pela deformação excessiva do aço (“alongamento”, de acordo com a
figura), e os domínios 3, 4 e 5 correspondem à ruína por ruptura do concreto
(“encurtamento”, de acordo com a figura). As linhas horizontais extremas,
inferior e superior, representam a deformação específica para o concreto, no
caso do encurtamento, e do aço, no caso do alongamento, e o eixo vertical
representa a altura da seção.

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Estádios de cálculo 157

Figura 3. Domínios de estado limite último de uma seção transversal de concreto armado.
Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014).

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158 Concreto armado

1. Com relação às deformações nos proporcionais às deformações


elementos em cada estádio de em nenhuma de suas zonas.
cálculo, assinale a alternativa correta. e) No estádio Ib as tensões
a) No estádio Ia o elemento não já não são proporcionais
se deforma de maneira elástica às deformações na zona
em sua zona tracionada. tracionada, o que caracteriza o
b) No estádio Ib as tensões já esmagamento do concreto.
não são mais proporcionais às 3. Nos estádios I e II ocorrem
deformações na zona tracionada. proporcionalidades entre as
c) No estádio II ocorre a elevação tensões e deformações que
da linha neutra, pois há facilitam o cálculo das tensões
alongamentos menores na analiticamente. Conforme essa
zona tracionada do que na análise, assinale a alternativa correta.
zona não comprimida. a) As formulações para tensão no
d) No estádio III as deformações concreto na borda tracionada
apresentam um diagrama se diferenciam apenas pelos
curvilíneo na zona comprimida, diferentes momentos de inércia
caracterizando seu da seção homogeneizada
comportamento elástico. de cada estádio.
e) Somente no estádio III é que as b) Os momentos de inércia da seção
deformações na zona tracionada homogeneizada para os estádios
não são proporcionais às tensões. I e II são os mesmos, visto que
2. Com relação às principais a seção analisada não muda.
características de cada estádio de c) O coeficiente
cálculo, assinale a alternativa correta. d) A formulação para os valores
a) O estádio Ia caracteriza o das tensões no concreto
início do carregamento, as na borda comprimida e na
solicitações são pequenas e o armadura comprimida e
concreto encontra-se fissurado. tracionada se diferem apenas
b) No estádio III formam-se as pelo momento de inércia da
fissuras, por isso é conhecido seção homogeneizada.
como estádio de ruptura da e) As formulações para o
seção de concreto armado. estádio Ia também são
c) No estádio II formam-se as válidas para o estádio Ib.
fissuras na zona comprimida 4. Segundo as relações entre
do concreto e as tensões se os estádios de cálculo e
mantêm proporcionais às análise dos estados limites,
deformações nessa zona. assinale alternativa correta.
d) O estádio III caracteriza o colapso a) No estádio Ia, as tensões elásticas
da estrutura, as tensões não são geradas pelo carregamento

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Estádios de cálculo 159

apresentam pouca relevância III e como seria seu emprego nos


diante das tensões causadas pela estádios I e II, caso fosse utilizado,
retração do concreto, por isso, é assinale a afirmação correta.
utilizado apenas para verificações a) No estádio I, o dimensionamento
do estado limite último. seria econômico, pois
b) No estádio Ib não são verificados seria possível utilizar a
estados limites de serviço. resistência à tração do
c) No estádio II a seção já está concreto nas formulações.
fissurada e, por isso, ela b) No estádio II, somente o estado
representa as condições limite último por esmagamento
de trabalho da seção sob do concreto ocorreria.
cargas de serviço, ou seja, c) Os domínios de deformação
é possível verificar estados 1 e 2, no estádio III,
limites de serviço. caracterizam o estado limite
d) O estádio II é usado como base último por deformação
para o dimensionamento de excessiva do concreto.
seções de concreto armado d) Os domínios de deformação 3,
no estado limite último. 4 e 5 correspondem ao estado
e) No estádio III, pode ocorrer limite último por ruptura do aço.
o escoamento excessivo da e) O estado limite último no
armadura tracionada ou o estádio III corresponde à ruína
esmagamento do concreto na de uma seção transversal de
parte comprimida, evidenciando concreto armado que pode
estados limites de serviço. ser dada de duas maneiras:
5. Com relação ao estado limite último deformação plástica excessiva
que caracteriza o dimensionamento do aço ou ruptura do concreto.
dos elementos estruturais no estádio

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118:2014. Projeto de


estruturas de concreto – procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
CAMPOS FILHO, A. Estados limites de serviço em estruturas de concreto armado. Porto Ale-
gre: UFRGS, 2014. Disponível em: <https://chasqueweb.ufrgs.br/~americo/eng01112/
servico.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2017.
PFEIL, W. Concreto armado 1: introdução. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1988.

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Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
CONCRETO
ARMADO
APLICADO EM
VIGAS, LAJES E
ESCADAS
Domínios da
NBR-6118, diagrama
e ábaco de interação
Bruna Manica Lazzari

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir ações e critérios para o dimensionamento de elementos em concreto


armado.
>> Identificar os tipos de carregamento e suas combinações últimas e de serviço.
>> Avaliar os coeficientes utilizados nas combinações das ações e na ponderação
das resistências.

Introdução
O dimensionamento de uma estrutura em concreto armado inicia pela análise das
ações às quais a estrutura está submetida, como cargas permanentes e variáveis.
Assim, realizada a descida de cargas na edificação, obtemos as solicitações nos
elementos estruturais. A partir desses esforços, juntamente com as relações de
tensão versus deformação dos materiais e das relações de compatibilidade de
deformações, é possível fazer o cálculo da armadura necessária em cada elemento.
Neste capítulo, você vai aprender a definir as ações encontradas em uma
edificação, bem como a realizar as combinações de cargas referentes ao Estado-
-Limite Último (ELU) e ao Estado-Limite de Serviço (ELS). Serão apresentadas as
hipóteses básicas para o dimensionamento de elementos em concreto armado,
detalhando o diagrama de domínios de deformação conforme a NBR 6118:2014.
2 Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação

Bases do dimensionamento
Na análise estrutural, deve ser considerada a influência de todas as ações
que possam produzir efeitos significativos para a segurança da estrutura
em exame, levando-se em conta os possíveis ELU e ELS. As ações a consi-
derar classificam-se de acordo com a NBR 8681:2003 (Ações e segurança
nas estruturas — Procedimento), subdivididas em permanentes, variáveis
e excepcionais.
As ações são classificadas segundo sua variabilidade no tempo. As ações
permanentes estão presentes em toda ou quase toda vida útil da estrutura.
Elas podem ser separadas em ações permanentes diretas ou indiretas. Como
exemplo de ações permanentes diretas, podemos citar: peso próprio dos
elementos de construção e peso próprio de equipamentos fixos à estrutura. Já
as ações permanentes indiretas são constituídas pelas deformações impostas,
como a força de protensão, efeito de retração e fluência, recalque de apoio
e imperfeições geométricas.
Por sua vez, as ações variáveis podem estar presentes ou não na es-
trutura. Também são chamadas de cargas acidentais da construção. Como
exemplo, podemos citar: carga móvel, carga de aceleração e frenagem,
variação de temperatura, carga de vento e pressão hidrostática. As ações
excepcionais raramente ocorrem e estão ligadas a catástrofes. Terremotos,
explosões, choques de veículos, incêndio e enchentes são alguns exemplos
de ações excepcionais (ARAÚJO, 2014). Na Figura 1 temos um exemplo de
cada ação (permanente, variável e excepcional), respectivamente. Na Figura
1a, observamos a ação permanente na consideração do peso próprio da
estrutura. Na Figura 1b, já temos pessoas caminhando sobre a passarela,
indicando uma carga variável, que pode estar ou não presente na estrutura.
E a Figura 1c mostra o resultado de uma ação excepcional (terremoto) em
uma edificação.

Figura 1. Exemplos de ações: (a) permanente; (b) variável; (c) excepcional.


Fonte: Unkas Photo/Shutterstock.com; Hien Phung Thu/Shutterstock.com; Visual Intermezzo/
Shutterstock.com.
Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação 3

As normas fundamentais para determinar as ações sobre uma edi-


ficação são:
„„ NBR 6120:2019 – Ações para o cálculo de estruturas de edificações;
„„ NBR 6123:2013 – Forças devidas ao vento em edificações.

Quando uma estrutura atinge um estado-limite, ela perde os requisitos de


estabilidade, conforto e durabilidade. Para avaliar uma estrutura, é necessá-
rio que ela cumpra os critérios referente aos ELU e ELS. O ELU representa a
situação ulterior, ou seja, quando ocorre colapso total ou parcial da estrutura,
ruptura ou deformação plástica excessiva dos materiais, transformação da
estrutura em sistema hipostático ou instabilidade por deformação. Essa
situação é indesejável e diversos coeficientes de segurança são adotados
para evitá-la. Tais coeficientes de segurança são utilizados devido à incerteza
dos valores de resistência dos materiais, erros de geometria na estrutura,
incerteza de carga e simplificações dos métodos de cálculos. Para as combi-
nações normais de ações, por exemplo, as solicitações são majoradas por um
fator de 1,4 e as resistências dos materiais são minoradas. Para o concreto,
esse coeficiente é de 1,4 e para o aço é de 1,15, conforme mostra as equações
a seguir, com os valores de cálculo para a resistência do concreto (Fcd) e do
aço (Fyd), respectivamente. Na prática, a resistência do concreto é diminuída
em 29% e a resistência do aço em 14%.

Já o ELS, ou também chamado de Estado-Limite de Utilização, está re-


lacionado à impossibilidade de utilização da estrutura. Isso ocorre quando
a estrutura não apresenta mais condições de conforto e durabilidade. Em
estruturas de concreto armado e protendido, os mais utilizados são ELS-DEF
(Estado-Limite de Serviço de Deformação Excessiva), ELS-F (Estado-Limite
de Serviço de Formação de Fissuras) e ELS-W (Estado-Limite de Serviço de
Abertura de Fissuras).
A NBR 6118:2014, no seu item 17.2.2, lista algumas hipóteses básicas para o
dimensionamento de elementos em concreto armado (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 2014):
4 Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação

„„ uma seção de concreto armado, submetida a solicitações normais


(geradas por momento fletor e esforço normal) alcança o ELU por
esmagamento do concreto na zona comprimida ou por deformação
plástica excessiva do aço (limitada a εs = 10‰);
„„ as seções transversais se mantêm planas após a deformação (hipótese
de Bernoulli), apresentando uma distribuição linear das deformações
normais ao longo da altura da seção transversal;
„„ existência de perfeita aderência entre aço e concreto, ou seja, a de-
formação na armadura é igual à do concreto adjacente;
„„ a resistência à tração do concreto é desprezada, com todo esforço de
tração sendo então absorvido pelas barras de aço;
„„ a distribuição de tensões no concreto ocorre de acordo com o diagrama
parábola-retângulo, sendo permitido o uso do diagrama simplificado
retangular (Figura 2);

Figura 2. Diagramas de tensão versus deformação para o concreto: parábola-retângulo e


retangular.

„„ a tensão nas armaduras é obtida a partir do diagrama tensão versus


deformação do aço (Figura 3);
Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação 5

Figura 3. Diagramas tensão versus deformação para o aço.

„„ as solicitações são tomadas com os seus valores de cálculo;


„„ o ELU é caracterizado quando a distribuição das deformações na seção
transversal pertencer a um dos domínios de deformação.

A Figura 3 mostra o diagrama de tensão versus deformação para o aço,


representando um modelo elastoplástico. Para armadura passiva, o alonga-
mento máximo que a NBR 6118:2014 permite é de 10‰. O valor da deformação
no início do patamar de escoamento (εyd) é calculado a partir da tensão de
escoamento (Fyd) e do módulo de elasticidade do aço (Es), o qual é equivalente
a 21.000 kN/cm2.
6 Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação

Carregamentos e combinações de carga


A partir do conhecimento das ações, é possível definir os tipos de carregamentos. A
NBR 8681:2003 classifica os carregamentos conforme sua permanência na estrutura
nos seguintes subgrupos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003):

„„ Carregamento normal — inclui as ações decorrentes do uso previsto


da construção. Deve ser considerado na verificação da segurança no
ELS e ELU. Como exemplo, podemos citar as pontes (peso próprio +
trem-tipo) e coberturas (peso próprio + ação do vento).
„„ Carregamento especial — é um carregamento de curta duração que
inclui ações variáveis da natureza ou intensidades especiais que ultra-
passem os efeitos do carregamento normal. Geralmente, são verificados
apenas no ELU. Um exemplo típico é o transporte de equipamento
sobre uma ponte que ultrapassa a carga do trem-tipo.
„„ Carregamento excepcional — é um carregamento de duração ins-
tantânea que considera ações excepcionais de efeitos catastróficos.
Considera-se a verificação da segurança apenas no ELU por meio de
uma única combinação última excepcional, como em caso de terremoto.
„„ Carregamento de construção — é um carregamento de curta duração,
considerado apenas nas estruturas que tenham risco de ocorrência de
estados-limite já durante a fase construtiva. Um exemplo disso ocorre
nas fases construtivas de pontes.

Durante a elaboração do projeto estrutural, é importante saber combinar


as ações de forma adequada, de modo que os efeitos potencialmente mais
desfavoráveis à estrutura sejam levados em consideração. Basicamente, as
combinações podem ser classificadas em dois grupos principais: combinação
última e combinação de serviço.
O valor característico de uma ação (Fk), seja ela permanente ou variável,
é transformado no seu respectivo valor de cálculo (Fd) por meio do coefi-
ciente ponderador γf. O valor desse coeficiente é resultado da multiplicação
de três fatores: γf1, γf2 e γf3. O γf1 considera a variabilidade das ações, o γf2
considera a simultaneidade das ações e γf3 considera as aproximações de
projeto. A Figura 4 inclui tabelas da NBR 6118:2014, que mostram os valores
desses coeficientes de ponderação, os quais são utilizados nas combinações
últimas e de serviço.
Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação 7

Figura 4. Tabelas 11.1 e 11.2 da NBR 6118:2014.


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014).
8 Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação

Já a Figura 5 mostra parte da tabela 11.3 da NBR 6118:2014, que indica


a expressão para combinação normal das ações no ELU. Essa combinação
de ações é a mais utilizada em projetos, pois envolve a parcela de cargas
permanentes e variáveis.

Figura 5. Combinações últimas.


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014).

Essa expressão está dividida basicamente em duas parcelas: ações perma-


nentes e ações variáveis, como detalha a Figura 6. As ações permanentes não
são afetadas pelo coeficiente γf2, pois atuam sempre de forma simultânea,
e não podem ser reduzidas. O mesmo acontece com a ação variável principal
Fq1k, que sempre deve ser tomada pelo valor total. As demais cargas variáveis
são influenciadas pelo coeficiente γf2 (ou redutor Ψ0), de forma a ponderar a
probabilidade de ocorrência simultânea dessas ações.
Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação 9

Figura 6. Expressão detalhada — combinação última normal.

A Figura 7 apresenta as expressões para as combinações utilizadas na


verificação dos ELS: combinação quase permanente (CQP), combinação fre-
quente (CF) e combinação rara (CR).
10 Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação

Figura 7. Combinações de serviço.


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014).

Exemplo 1
Neste exemplo, você pode conferir uma aplicação da formação das combi-
nações referente ao ELS. Imagine um edifício hipotético de concreto armado
de uso residencial, submetido às seguintes ações:

„„ peso próprio (PP);


„„ carga variável de uso (Q);
„„ vento (V) — importante para a análise global da edificação e cálculo
dos pilares.

Indique as combinações de serviço para combinações quase permanentes


(CQP), combinações frequentes (CF) e combinações raras (CR).
A resposta está desenvolvida na Figura 8.
Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação 11

Figura 8. Desenvolvimento do Exemplo 1.


(Continua)
12 Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação

(Continuação)

Figura 8. Desenvolvimento do Exemplo 1.

Domínios de deformação no ELU


Para o dimensionamento de elementos estruturais em concreto armado,
devemos conhecer em qual domínio de deformação a seção se encontra
(CLÍMACO, 2016). Para isso, é necessário analisar o diagrama de domínios de
deformação do ELU, representado na Figura 9, o qual pertence ao item 17.2.2
da NBR 6118:2014.
Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação 13

Figura 9. Diagrama de domínios de deformação no ELU.


Fonte: Adaptada de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014).

Observa-se que a ruptura por alongamento plástico excessivo da armadura


de tração ocorre nos domínios 1 e 2 e na reta a.

„„ Reta a: indica tração uniforme.


„„ Domínio 1: neste domínio temos tração não uniforme, sem compressão.
O ELU é caracterizado pelo escoamento do aço (ε s = 10‰);
„„ Domínio 2: este domínio é caracterizado pela existência da flexão
simples ou composta sem ruptura à compressão do concreto (εc < εcu).
O ELU é caracterizado pelo escoamento do aço (ε s = 10‰) e a linha
neutra corta a seção.

Já a ruptura convencional por encurtamento-limite do concreto ocorre


nos seguintes elementos.

„„ Domínio 3: este domínio é caracterizado pela existência da flexão


simples (seção subarmada) ou composta com ruptura à compressão
do concreto (εc = εcu) e com escoamento do aço (ε s > ε yd). A linha neutra
corta a seção. É a situação ideal de projeto, pois há o aproveitamento
pleno dos dois materiais.
„„ Domínio 4: aqui podemos ter flexão simples (seção superarmada)
ou composta com ruptura à compressão do concreto (εc = εcu) e sem
escoamento do aço (ε s < ε yd). A linha neutra corta a seção. A ruptura da
14 Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação

peça ocorre de forma frágil, sem aviso, pois o concreto rompe antes
que a armadura tracionada se deforme excessivamente.
„„ Domínio 4a: este domínio se caracteriza por apresentar flexão com-
posta com armaduras comprimidas e ruptura à compressão do con-
creto (εc = εcu). A linha neutra corta a seção na região de cobrimento
da armadura menos comprimida.
„„ Domínio 5: caracterizado pela compressão não uniforme, sem tração.
A linha neutra não corta a seção. Neste domínio, a deformação última
do concreto é variável, sendo igual a εc = εc2 na compressão uniforme
e εc = εcu na flexocompressão (linha neutra tangente à seção).
„„ Reta b: compressão uniforme.

As relações de compatibilidade de deformações são decorrentes da hipó-


tese que as seções permanecem planas até a ruptura. Na Figura 10, podemos
observar a distribuição de deformação na seção para os seis domínios de
deformação do ELU estabelecidos pela NBR 6118:2014.

Figura 10. Representação da deformação na seção para cada domínio.

Por meio dessas relações, conhecida a posição da linha neutra x, podemos


determinar os valores das deformações em qualquer fibra da seção transver-
sal. A posição de x é definida pela distância da fibra de maior encurtamento
(ou menor alongamento) da seção até a linha neutra. Se estabelecermos
uma relação por semelhança de triângulos, chegaremos à expressão geral
indicada a seguir:
Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação 15

Nesta equação, εc é a deformação da fibra mais comprimida do concreto


(ou menos tracionada), ε1 é a deformação da armadura inferior (na posição 1)
e ε2 corresponde à deformação da armadura superior (na posição 2). O valor
de d indica a altura útil da seção, que corresponde à distância entre a fibra
mais comprimida (ou menos tracionada) e o centro geométrico da armadura
na posição 1. Já a altura d’ indica a distância entre a fibra mais comprimida (ou
menos tracionada) e o centro geométrico da armadura na posição 2. Vale lem-
brar que, dependendo do domínio, a armadura na posição 1 é a mais tracionada
(ou menos comprimida) e a armadura da posição 2 é a mais comprimida (ou
menos tracionada). Para o caso específico do Domínio 3, podemos observar
as expressões para obter as deformações εc, ε1 e ε2 no Exemplo 2, a seguir.

Exemplo 2
Considerando o Domínio 3, mostre as expressões para obter a deformação
das armaduras nas posições 1 e 2. Além disso, indique as expressões do Xlim,
ou seja, a posição-limite entre os Domínios 3 e 4.
A resposta está desenvolvida na Figura 11.

Figura 11. Desenvolvimento do Exemplo 2.


16 Domínios da NBR-6118, diagrama e ábaco de interação

Referências
ARAÚJO, J. M. Curso de concreto armado. Rio Grande, RS: DUNAS, 2014. v. 1 a 4.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118:2014: projeto de estru-
turas de concreto: procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR8681:2003: ações e segurança
nas estruturas: procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
CLÍMACO, J. C. T. Estruturas de concreto armado: fundamentos de projeto, dimensio-
namento e verificação. 3. ed. Brasília: Unb, 2016.

Leituras recomendadas
ARROYO PORTERO, J. C.; MORÁN CABRÉ, F.; GARCIA MESEGUER, Á. Jiménez Montoya
esencial: hormigón armado. Madrid: Cinter Div. Técnica SLL, 2018.
FUSCO, P. B. Estruturas de concreto: solicitações normais. Rio de Janeiro: LTC, 1985.
NEVILLE, A. M. Propriedades do concreto. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016.
ESTRUTURAS
EM CONCRETO
ARMADO

Priscila Correa
Revisão técnica:

André Luís Abitante


Engenheiro Civil
Mestre em Engenharia e Ciência dos Materiais,
ênfase em Controle de Processos

Shanna Trichês Lucchesi


Mestre em Engenharia de Produção
Professora do curso de Engenharia Civil

NOTA
As Normas ABNT são protegidas pelos direitos autorais por força da legislação
nacional e dos acordos, convenções e tratados em vigor, não podendo ser
reproduzidas no todo ou em parte sem a autorização prévia da ABNT –
Associação Brasileira de Normas Técnicas. As Normas ABNT citadas nesta
obra foram reproduzidas mediante autorização especial da ABNT.

C825e Correa, Priscila Marques.


Estruturas em concreto armado / Priscila Marques Correa ;
[revisão técnica : André Luís Abitante, Shanna Trichês
Lucchesi]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018.
160 p. : il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-301-7

1. Engenharia civil. 2. Concreto armado. I. Título.

CDU 624.012.45

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147


UNIDADE 3
Protensão: materiais e
disposições construtivas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Determinar como funciona o sistema de protensão.


 Identificar quais materiais são utilizados em estruturas protendidas.
 Detalhar o traçado geométrico da estrutura em protensão.

Introdução
Neste texto, você vai ver como funciona o sistema de protensão e os
materiais utilizados em estruturas protendidas. Além disso, você vai es-
tudar detalhadamente o traçado geométrico da estrutura de protensão.

Sistema de protensão
O sistema de protensão (ou protendido) tem sido uma solução para engenhei-
ros e arquitetos, quando se trata das limitações de projetos de construção e
execução de estruturas de concreto leves, sem sacrificar a sua resistência.
O uso de armaduras protendidas em estruturas vem crescendo nas últimas
décadas, principalmente para a construção de silos, tanques, pontes e viadutos.
Como a própria palavra já menciona, protensão ou pré-tensão é o processo
pelo qual se aplicam tensões de compressão prévia na peça concretada.
Para um melhor entendimento, imagine uma pessoa carregando vários
cadernos sobrepostos. Para que eles sejam erguidos até o alcance da estante
sem que caiam, ela precisará aplicar uma força horizontal, que gera uma força
de atrito entre as fileiras; essas forças são capazes de superar o peso próprio
2 Protensão: materiais e disposições construtivas

do conjunto. A aplicação dessa força é entendida como força de protenção, ou


seja, cria pré-tensões contrárias àquelas forças de operação.
Na Figura 1, observa-se um exemplo de estrutura protendida (laje). Em
função de esse tipo de estrutura apresentar aços de rigidez elevada, por exemplo,
CP190, esses elementos apresentam maior durabilidade e resistência.

Figura 1. Laje de concreto protendido.


Fonte: Lopes ([2017]).

Protensão aplicada ao concreto


O concreto é um dos materiais mais usados na construção civil, e sua produção
tem um custo relativamente baixo. A principal característica desse material
é apresentar resistência a compressão axial; porém, a sua resistência a tração
é baixa, podendo chegar a 10% da resistência a compressão. Dependendo do
traço utilizado, o concreto pode sofrer tração, ocasionando fissuras e reduzindo
a quase zero a resistência a tração.
Como o concreto trabalha de maneira distinta a compressão e tração,
dependendo da solicitação, é necessária uma compressão prévia — ou seja,
protensão — nas regiões em que as solicitações produzem tensões de tração.
A protensão no concreto é uma forma de introduzir nas vigas esforços
prévios que reduzam as tensões de tração no material, quando solicitado em
Protensão: materiais e disposições construtivas 3

serviço. Utilizam-se cabos de aço de elevada resistência, os quais devem estar


tracionados e ancorados no concreto.
Na Figura 2, observa-se uma viga de concreto armado, sujeita a esforço de
flexão. É possível verificar que, na parte superior da viga, ocorre a compressão
e, na inferior, um esforço de tração. Percebe-se que ocorre a fissuração, mas
não a ruptura total, devido à resistência da armadura de aço.

Figura 2. Viga de concreto armado convencional.


Fonte: Martins ([200-?]).

Na Figura 3, observa-se uma aplicação de tensão prévia na viga de concreto,


mediante o uso de cabos de aço tracionados e ancorados nas extremidades
do elemento. O esforço ocasionado pela ancoragem do cabo denomina-se
protensão.

Figura 3. Aplicação de uma protensão.


Fonte: Martins ([200-?]).

Sistemas com armaduras pré-tracionadas


Os sistemas com armaduras pré-tracionadas são mais adequados para insta-
lações fixas (fábricas). Nesse sistema, ocorre um pré-alongamento da arma-
dura, no qual se utilizam apoios independentes do elemento estrutural. Esse
pré-tracionamento da armadura ocorre antes do lançamento do concreto.
4 Protensão: materiais e disposições construtivas

Após a cura do concreto, a ligação da armadura com os apoios é desfeita e a


ancoragem ocorre por aderência.
Na Figura 4, tem-se a representação de três vigas simultaneamente pré-
-tracionadas. O processo é dividido em seis etapas:

1. As armaduras são colocadas.


2. É realizada a fixação das armaduras.
3. A fixação é feita por meio de um dispositivo mecânico.
4. A placa de ancoragem da esquerda é fixa e a da direita é móvel. Ao
longo do curso, estica-se a armadura, empurrando a placa móvel, a qual
é fixada posteriormente por calços.
5. Mantêm-se as armaduras esticadas.
6. É feita a compactação do concreto nas formas, envolvendo as armaduras
protendidas, as quais se aderem. Após a cura, a tensão é lentamente
retirada das armaduras.

Figura 4. Protensão de três vigas simultaneamente.


Fonte: Martins ([200-?]).

Sistemas com armaduras pós-tracionadas


Os sistemas com armaduras pós-tracionadas são muito utilizados quando a
protensão é realizada em obra. Nesse sistema, ocorre um pré-alongamento
da armadura após a cura do concreto, em que os apoios são partes do próprio
elemento. A seguir, a aderência é atingida permanentemente, por meio de
bainhas. Esse sistema é classificado conforme os tipos de cabos, os seus
percursos na viga, os tipos e os posicionamentos das ancoragens, entre outros.
Protensão: materiais e disposições construtivas 5

Protensão com aderência inicial


Esse tipo de protenção é aplicado para a fabricação de pré-moldados de con-
creto protendido. A armadura ativa é posicionada, ancorada em blocos nas
cabeceiras e tracionada. Posteriormente, coloca-se a armadura passiva, para
então ocorrer o lançamento do concreto e seu adensamento. Depois da cura
do concreto, retiram-se as formas e o equipamento que mantinha os cabos
tracionados. Com isso, os fios são cortados, transferindo a força de protensão
para o concreto por meio da aderência, que deve estar desenvolvida.

Protensão com aderência posterior


A protensão é aplicada sobre uma peça com concreto no estado endurecido,
e a aderência ocorre por meio da injeção de uma pasta de cimento no interior
das bainhas, com auxílio da bomba injetora. Geralmente os cabos são pós-
-tracionados; quando a força de protensão é atingida, ocorre o ancoramento
dos cabos (por cunhas metálicas ou argamassa de elevada resistência).

Protensão sem aderência


A protensão é aplicada sobre o concreto já endurecido, não ocorrendo aderência
entre os cabos e o concreto. A falta de aderência ocorre apenas para a armadura
ativa, visto que a passiva sempre estará aderente ao concreto (Figura 5).

Figura 5. Protensão sem aderência.


Fonte: Veríssimo e Cesar Junior (1998).
6 Protensão: materiais e disposições construtivas

Características referentes à aderência


No Brasil, não é comum o uso de protensão sem aderência e, ao contrário dos
Estados Unidos, a norma não versa sobre esse assunto. Não há uma padro-
nização entre os países sobre a questão da aderência, pois tanto o concreto
protendido aderido como o não aderido têm suas particularidade. No protendido
não aderido, as perdas por atrito são menores e há maior rapidez e facilidade
em posicionar os cabos, com uma maior excentricidade. No caso do protendido
com aderência, ocorre um aumento da capacidade das seções no estado limite
último, a falha de um cabo tem consequências restritas e ocorre uma melhoria
do comportamento da peça entre os estágios de fissuração e de ruptura.
Como observado na Figura 6, a aderência da armadura influencia no
comportamento de fissuração do concreto, pois, quando não há aderência dos
cabos, forma-se um maior número de fissuras de grande abertura. Quando a
viga apresenta uma menor abertura, a armadura está mais protegida contra
a corrosão.

Figura 6. Viga de concreto: A) com aderência; B) sem aderência.


Fonte: Veríssimo e Cesar Junior (1998).
Protensão: materiais e disposições construtivas 7

A protensão nas vigas de concreto melhora a resistência quanto às solicitações de


flexão e de cisalhamento.

Materiais utilizados em concreto protendido


O concreto protendido é composto pelos seguintes materiais: concreto simples,
aço não protendido, aço protendido, ancoragem e bainhas metálicas.

Concreto
O emprego da protensão requer técnicas mais elaboradas do que as utilizadas
para o concreto armado não protendido. Nesse sentido, o controle de qualidade
é necessário do início ao fim do processo.
A principal propriedade mecânica do concreto é a resistência a compressão
axial ( fck). Essa resistência é determinada em ensaios de ruptura de corpos de
prova normatizados. Por exemplo, o concreto não protendido apresenta uma
resistência na faixa de 20 a 30 MPa, quando, nos concretos com protensão, a
resistência é em torno de 30 a 40 MPa.
Geralmente é utilizado o cimento Portland CPIV, mas, em casos de con-
cretos especiais, como o concreto de alta resistência (CAR), é necessário o
uso de cimentos especiais, como o cimento de alta resistência inicial (CPV).

Armaduras não protendidas


Para as armaduras não protendidas, é comum utilizar vergalhões, que são usa-
dos em concreto armado. No caso de estruturas protendidas, essas armaduras
recebem as qualificações de convencionais ou suplementares.
Os aços utilizados como armadura convencional são designados pela sigla
CA (concreto armado), seguida pelo valor do limite de escoamento em kgf/mm².

Armaduras protendidas
Os aços utilizados para a produção de armaduras de protensão são classifi-
cados como:
8 Protensão: materiais e disposições construtivas

 Fios trefilados de aço carbono, com diâmetros variando entre 3 mm a


8 mm (Figura 7).

Figura 7. Fios trefilados.


Fonte: Alibaba (2017).

 Cordoalhas, constituídas por fios trefilados, enrolados em forma de


hélice, podendo ser com dois, três ou sete fios. A classificação quanto à
resistência a tração dos aços utilizados para a produção das cordoalhas
é CP-190 e CP-210 (Figura 8).

Figura 8. Cordoalha.
Fonte: MFRural (2016).
Protensão: materiais e disposições construtivas 9

 Barras de aço-liga, laminadas a quente, com diâmetro superior a 12


mm (Figura 9).

Figura 9. Barra de aço-liga.


Fonte: Belians (2017).

As principais propriedades mecânicas dos aços de protensão são:

 Limite de elasticidade de 0,01%.


 Limite de escoamento de 0,2%, após descarga.

Os aços de protensão devem ser tracionados com a maior tensão possível,


para que não ocorra uma redução da tensão aplicada, após determinado tempo.
Em geral, a perda não pode ultrapassar 20%.

Bainhas para armaduras pós-tracionadas


Bainhas são tubos nos quais as armaduras de protensão são posicionadas,
podendo ser com aderência posterior ou também sem aderência (Figura 10).
São fabricadas em aço laminado, com diferentes espessuras, variando entre 0,1
a 0,35 mm, e costurados em hélice. Para criar aderência, as bainhas são pre-
enchidas com argamassas. Elas devem atender aos seguintes quesitos:

a) Ter uma boa barreira, para evitar a entrada da pasta para seu interior.
b) Ter tamanho suficiente para comportar os cabos e a passagem da pasta
de injeção.
10 Protensão: materiais e disposições construtivas

Figura 10. Bainha metálica.


Fonte: Bastos (2015).

Ancoragem
Uma forma simples e econômica de fixação dos fios e das cordoalhas é por
meio de cunhas e portas-cunha. As cunhas se apresentam de duas formas: bi
ou tripartidas (Figura 11).

Figura 11. Elemento de ancoragem.


Fonte: Bastos (2015).
Protensão: materiais e disposições construtivas 11

Traçado geométrico da estrutura em protensão

Estrutura protendida com armaduras pré-tracionadas


Em estruturas protendidas com armaduras pré-tracionadas, o traçado geomé-
trico é simples, em decorrência do processo construtivo. As armaduras podem
ser retilíneas ou poligonais (Figura 12).

Figura 12. Estrutura protendida com armadura pré-tracionada.


Fonte: Hanal (2005).

Estrutura protendida com armaduras pós-tracionadas


Nas estruturas protendidas com armaduras pós-tracionadas, colocadas no
interior de bainhas flexíveis, os cabos podem assumir uma forma qualquer.
Entretanto, deve-se evitar um elevado número de curvas, para reduzir as
perdas por atrito.

Figura 13. Estrutura protendida com armadura pós-tracionada.


Fonte: Hanal (2005).
12 Protensão: materiais e disposições construtivas

Acesse o link para conhecer mais sobre os fundamentos


do concreto protendido Hanal (2005).

https://goo.gl/QYmTwN

1. São características das estruturas 3. Com relação às cordoalhas de


de concreto protendido: aço para concreto protendido,
a) o elevado custo de produção. conforme a resistência à tração,
b) a baixa resistência a tração. estas se classificam em:
c) a concretagem feita em camadas a) CP-190 e CP-210.
e adoção de enchimento b) CP-500 e CP-600.
com concreto celular. c) CP-150 e CP-200.
d) a integração entre elementos d) CP-170 e CP-250.
de enchimento e pré- e) CP-400 e CP-550.
moldados, eliminação das 4. Em uma estrutura de concreto
tensões transversais e protendido, o elemento construtivo
facilidade de moldagem. que envolve e protege a
e) a ausência de fissuração, armadura ativa é denominado:
resistência a ambientes agressivos a) ancoragem.
e obtenção de grandes vãos. b) bainha.
2. Com relação às cordoalhas de c) cordoalha.
aço para concreto protendido, d) estribo.
conforme o número de fios, e) forma.
estas se classificam em: 5. Para a execução de uma passarela
a) cordoalha com quatro fios e sobre uma via urbana, com vão
cordoalha com oito fios. livre de 10 m e gabarito acima de
b) cordoalha com cinco fios e 5 m, com custo de manutenção
cordoalha com dez fios. mínimo e previsto para até
c) cordoalha com três fios e 20 anos, deve-se utilizar:
cordoalha com sete fios. a) qualquer tipo de estrutura.
d) cordoalha com seis fios e b) concreto armado.
cordoalha com doze fios. c) aço.
e) cordoalha com quatro fios e d) aço ou concreto armado.
cordoalha com nove fios. e) concreto protendido.
Protensão: materiais e disposições construtivas 13

ALIBABA. Fios atrelados. 2017. Disponível em: <https://portuguese.alibaba.com/pro-


duct-detail/hot-sale-2-3mm-carbon-steel-spring-wires-cold-drawn-high-carbon-
-spring-steel-wire-1914014032.html>. Acesso em: 21 dez. 2017.
BASTOS, P. S. dos S. Concreto protendido. 2015. Disponível em: <http://wwwp.feb.
unesp.br/pbastos/Protendido/Ap.%20Protendido.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2017.
BELIANS. Barra dywidag COFRESA (Pack). 2017. Disponível em: <https://belians.com/es/
chapas-de-muro/196-barra-dywidag-cofresa>. Acesso em: 21 dez. 2017.
HANAL, J. B. de. Fundamentos do concreto protendido. São Carlos: [s.n.], 2005. Disponível
em: <http://www.set.eesc.usp.br/mdidatico/protendido/arquivos/cp_ebook_2005.
pdf>. Acesso em: 21 dez. 2017.
LOPES, M. Concreto protendido reduz custos, materiais e tempo de obra. [2017]. Dis-
ponível em: <http://www.temsustentavel.com.br/concreto-protendido-e-custos-
-materiais/#comments>. Acesso em: 21 dez. 2017.
MARTINS, F. Conceito de concreto protendido. [200-?]. Disponível em: <https://goo.gl/
dCwen3>. Acesso em: 21 dez. 2017.
MFRURAL. Cordoalhas para currais. 2016. Disponível em: <http://www.mfrural.com.
br/detalhe/cordoalhas-para-currais-166489.aspx>. Acesso em: 21 dez. 2017.
VERISSIMO, G. de S.; CESAR JUNIOR, K. M. L. Concreto protendido: fundamentos básicos.
2017. Disponível em: <http://wwwp.feb.unesp.br/lutt/Concreto%20Protendido/CP-
-vol1.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2017.

Leitura recomendada
QCONCURSOS.COM. Questões de concursos. [200-?]. Disponível em: <https://goo.gl/
jiaV82>. Acesso em: 21 dez. 2017.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
ESTRUTURAS
EM CONCRETO
ARMADO

Priscila Correa
Revisão técnica:

André Luís Abitante


Engenheiro Civil
Mestre em Engenharia e Ciência dos Materiais,
ênfase em Controle de Processos

Shanna Trichês Lucchesi


Mestre em Engenharia de Produção
Professora do curso de Engenharia Civil

NOTA
As Normas ABNT são protegidas pelos direitos autorais por força da legislação
nacional e dos acordos, convenções e tratados em vigor, não podendo ser
reproduzidas no todo ou em parte sem a autorização prévia da ABNT –
Associação Brasileira de Normas Técnicas. As Normas ABNT citadas nesta
obra foram reproduzidas mediante autorização especial da ABNT.

C825e Correa, Priscila Marques.


Estruturas em concreto armado / Priscila Marques Correa ;
[revisão técnica : André Luís Abitante, Shanna Trichês
Lucchesi]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018.
160 p. : il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-301-7

1. Engenharia civil. 2. Concreto armado. I. Título.

CDU 624.012.45

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147


Protensão: critérios
de projeto
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Estimar a força de protensão.


„„ Determinar a força Pi.
„„ Compreeender como funciona o processo gráfico para protensão do
tipo curvas limite e fuso limite.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar como funciona a estimativa da força de
protensão. Quando se projeta um elemento em concreto protendido,
sabe-se que a ideia principal é esticar as cordoalhas ou os fios de aço
de forma a comprimir o concreto. Desse modo, deseja-se reduzir a área
tracionada e melhorar assim a capacidade portante. Logo, estimar a força
de protensão é de suma importância para um bom dimensionamento.

Estimativa da força de protensão


Primeiramente, deve-se ter uma estimativa de P∞ (força de protensão), que
representa o valor final que a força deve manter, após todos os tipos de perdas
de protensão. Para entender esse processo, é importante conhecer alguns
tópicos, como o estado limite último e o estado limite de serviço.
O estado limite último refere-se à ruína da estrutura, enquanto o estado
limite pode corresponder à formação de fissuras, à abertura de fissuras e
ao estado limite de descompressão. Esta deve ser verificada no concreto
protendido, o que corresponde à verificação; quando se tem em um ou dois
pontos da seção transversal uma tensão normal nula, não ocorre tração no
restante da seção.
116 Protensão: critérios de projeto

O dimensionamento apresentado foi embasado parte no estado limite de


serviço e parte no estado último de ruptura. Para isso, inicialmente deve-se
conhecer as ações atuantes, os materiais, a geometria, a seção transversal, os
esforços solicitantes e o nível de protensão. Então, devem ser considerados:
σ b = tensão normal na base;
σt = tensão normal no topo;
g1 = peso próprio do elemento estrutural;
g2 = carga permanente adicional;
q1 = carga variável principal;
q2 = carga variável secundária;
P∞ est = força de protensão final estimada.
Primeiramente, deve-se admitir que os carregamentos externos causem
tração na borda inferior da peça e compressão na borda superior. No exemplo a
seguir, vamos abordar uma protensão completa, com combinações frequentes
de ação.

Protensão completa
Essa modalidade de protensão deve ser utilizada para pré-tração com classes
de agressividade CAA III e CAA IV. Devem ser verificadas as combinações
frequentes e as raras.

Combinação frequente de ações

Para respeitar o estado limite de descompressão na borda inferior, utiliza-se


a Equação 1.

Onde:
σ1g1 = tensões devido ao peso próprio do elemento estrutural; g
σ1g2 = tensões devido à carga permanente adicional;
σ1q1 = tensões devido à carga variável principal;
σ1q2 = tensões devido à carga variável secundária;
σ1p∞= tensões devido à força de protensão, após todas as perdas;
ψ1,1= coeficiente devido a combinações de serviço;
ψ2,2= coeficiente devido a combinações de serviço.
Tendo todos os valores, consegue-se o valor de σ 1p ∞, aplicando-o na
Equação 2, que é uma equação da resistência dos materiais, em uma com-
binação de tensão na compressão com tensão na flexão.
Protensão: critérios de projeto 117

Onde:
P∞ est = força de protensão final estimada;
ep = excentricidade da força de protensão em relação ao eixo baricêntrico;
Ac = área de concreto (bw.h);
W1 = módulo de resistência à flexão (momento de inércia dividido pela
distância da linha neutra até a fibra mais externa).
Na Figura 1, são apresentados os diagramas de tensão para cada um dos
carregamentos. O primeiro representa a carga permanente; o segundo, a carga
permanente adicional; o terceiro, a carga variável; e o quarto é a força devido
ao efeito da protensão. É importante notar que o sentido do diagrama está ao
contrário, em relação aos outros três, o que está correto, pois a protensão é
realmente uma força contrária, que visa reduzir os efeitos da tração na borda
inferior. Foi considerado, neste exemplo, que a carga q2 é igual a zero.

Figura 1. Tensões na protensão completa para a combinação frequente de ações.


Fonte: Bastos (2015).

Combinação rara de ações

Para respeitar o estado limite de formação de fissuras na borda inferior, deve-


-se utilizar a Equação 3.

Onde:
σ1g1 = tensões devido ao peso próprio do elemento estrutural;
118 Protensão: critérios de projeto

σ1g2 = tensões devido à carga permanente adicional;


σ1q1 = tensões devido à carga variável principal;
σ1q2 = tensões devido à carga variável secundária;
σ1p∞= tensões devido à força de protensão, após todas as perdas;
ψ1,2= coeficiente devido a combinações de serviço;
Na Figura 2, você pode observar os diagramas de tensão para cada um dos
carregamentos. O primeiro representa a carga permanente; o segundo, a carga
permanente adicional; o terceiro, a carga variável; e o quarto é a força devido
ao efeito da protensão. É importante notar que o sentido do diagrama está
ao contrário dos outros três, o que está correto, pois a protensão é realmente
uma força contrária, que visa reduzir os efeitos da tração na borda inferior.
Considerando a carga q2 como zero, observa-se que o coeficiente de ponderação
é utilizado apenas na última parcela da carga variável.

Figura 2. Tensões na protensão completa para a combinação rara de ações.

Assim, deve-se sempre verificar que a tensão no topo resultante da seção


deve ser σts ≤ 0,7 fck. Também é preciso verificar a tensão na base, que deve
estar entre os valores:

Dessa forma, pode-se estimar os valores de σ1p∞ por meio da Equação 4, que
é uma equação da resistência dos materiais, em uma combinação de tensão
na compressão com tensão na flexão.

Onde:
Protensão: critérios de projeto 119

P∞ est = força de protensão final estimada;


ep = excentricidade da força de protensão em relação ao eixo baricêntrico;
Ac = área de concreto (bw.h)
W1 = módulo de resistência à flexão (momento de inércia dividido pela
distância da linha neutra até a fibra mais externa).
Entre os valores A e B de P∞, escolhe-se o de maior valor absoluto.

Protensão limitada
Essa modalidade de protensão deve ser utilizada para pré-tração com CAA II
ou para pós-tração com classes de agressividade CAA III e CAA IV. Devem
ser verificadas as combinações quase permanentes e as frequentes.

Combinação quase permanente de ações

A NBR 6118 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014)


estabelece essa limitação, mas pode ser adotada na estimativa de P∞. Para respeitar
o estado limite de descompressão na borda inferior, deve-se utilizar a Equação 5.

Onde:
σ1g1 = tensões devido ao peso próprio do elemento estrutural;
σ1g2 = tensões devido à carga permanente adicional;
σ1q1 = tensões devido à carga variável principal;
σ1q2 = tensões devido à carga variável secundária;
σ1p∞= tensões devido à força de protensão, após todas as perdas;
ψ2,1= coeficiente devido a combinações de serviço;
ψ2,2= coeficiente devido a combinações de serviço;
Dessa forma, o valor adotado para σ1p ∞ resulta da Equação 6:

Onde:
P∞ est = força de protensão final estimada.
ep = excentricidade da força de protensão em relação ao eixo baricêntrico;
Ac = área de concreto (bw.h);
W1 = módulo de resistência à flexão (momento de inércia dividido pela
distância da linha neutra até a fibra mais externa).
120 Protensão: critérios de projeto

Combinação frequente de ações

Para respeitar o estado limite de formação de fissura, é necessário atender à


Equação 7:

Onde:
σ1g1 = tensões devido ao peso próprio do elemento estrutural;
σ1g2 = tensões devido à carga permanente adicional;
σ1q1= tensões devido à carga variável principal;
σ1q2 = tensões devido à carga variável secundária;
σ1p∞= tensões devido à força de protensão, após todas as perdas;
ψ1,1= coeficiente devido a combinações raras de serviço;
ψ2,2= coeficiente devido a combinações raras de serviço;
Para se obter o valor de σ1p∞, tem-se a Equação 8:

Onde:
P∞ est = força de protensão final estimada.
ep = excentricidade da força de protensão em relação ao eixo baricêntrico;
Ac = área de concreto (bw. h);
W1 = módulo de resistência à flexão (momento de inércia dividido pela
distância da linha neutra até a fibra mais externa).
Assim, deve-se escolher o maior valor entre os dois.

Protensão parcial
Essa modalidade de protensão deve ser utilizada para pré-tração com CAA I
ou para pós-tração com classes de agressividade CAA I e CAA II. Devem ser
verificadas as combinações de ações quase permanentes e as frequentes. A
NBR 6118 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014)
não estabelece essa limitação, mas pode ser adotada uma estimativa de P∞.
Para respeitar o estado limite de descompressão na borda inferior, segue-se
a Equação 9:
Protensão: critérios de projeto 121

Onde:
σ1g1 = tensões devido ao peso próprio do elemento estrutural;
σ1g2 = tensões devido à carga permanente adicional;
σ1q1= tensões devido à carga variável principal;
σ1q2 = tensões devido à carga variável secundária;
σ1p∞= tensões devido à força de protensão, após todas as perdas;
ψ2,1= coeficiente devido a combinações raras de serviço;
ψ2,2= coeficiente devido a combinações raras de serviço.

O valor para σ1p ∞ é definido pela Equação 10:

Onde:
P∞ est = força de protensão final estimada.
ep = excentricidade da força de protensão em relação ao eixo baricêntrico;
Ac = área de concreto (bw.h);
W1 = módulo de resistência à flexão (momento de inércia dividido pela
distância da linha neutra até a fibra mais externa).

Determinação da força Pi
A força Pi é a força inicial, sem as perdas. Ela deve ser calculada a partir da
força final, com todas as perdas; assim, consegue-se estimar qual a força inicial
que deve ser aplicada para se obter o resultado final P∞. Devem ser realizados
os seguintes passos:

a)  De acordo com Hanai (2005), a perda de protensão total deve ser ar-
bitrada com base em projetos e na experiência. Logo, deve-se estimar
uma perda de 20 a 30% na protensão (nessa estimativa, não estão
computadas as perdas por atrito dos cabos).
b)  Determina-se a força no “macaco”, a partir da Equação 11.
122 Protensão: critérios de projeto

Onde:
P∞ est = força de protensão final estimada;
Δ Parb = perda de força estimada;
Pi, est = força de protensão inicial estimada.

c)  Considerando os limites de tensão na armadura de protensão, nas ope-


rações de estiramento, determina-se a área de armadura de protensão,
por meio da Equação 12:

Onde:
Pi est = força de protensão correspondente aos valores limites de tensões
na armadura ativa;
Ap,est = área da seção transversal da armadura ativa;
σ p i, lim = tensão de protensão correspondente aos valores limites de tensões
na armadura ativa.

d)  Com tabelas de aço, determina-se o número de fios, cordoalhas ou


cabos, bem como a área efetiva (Ap, ef ).
e)  Aproveitando o máximo da capacidade resistente do aço empregado,
determina-se Pi, ef, de acordo com a Equação 13:

Onde:
Pi ef = força de protensão correspondente aos valores limites de tensões na
armadura ativa;
Pi = valor adotado em projeto;
Ap, ef = área da seção transversal da armadura ativa;
σ p i, lim = tensão de protensão correspondente aos valores limites de tensões
na armadura ativa.
Protensão: critérios de projeto 123

Verificação de tensões normais no concreto


Após a determinação dos valores da força de protensão, é necessária a ve-
rificação das tensões normais do concreto, em diferentes etapas (produção,
transporte, montagem, entre outras).

Tensões normais na seção


de maior carregamento externo
Deve-se analisar, na seção mais solicitada, os carregamentos externos e as
tensões normais. Avalia-se todas as combinações possíveis de ações, como
nas etapas a seguir:

„„ transferência da força de protensão à seção;


„„ transporte da peça pré-moldada internamente ou no canteiro;
„„ estocagem (no caso de peças pré-moldadas);
„„ transporte externo à fábrica;
„„ montagem das peças.

É necessária a averiguação dos estados limites de descompressão para


cada combinação, bem como a avaliação da formação de fissuras, conforme
o nível de protensão, além da compressão excessiva.
Caso ocorra, por exemplo, o transporte interno e externo à fábrica, mas
ainda haja um controle de uma equipe técnica, pode-se abrir uma exceção, como
disposto na norma NBR 6118 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2014).

Tensões normais ao longo do vão


De acordo com Bastos (2015), é importante verificar a tensão ao longo do vão,
pois tensões elevadas podem se apresentar em regiões com baixa solicitação de
carregamento externo. O uso da armadura ativa transmite força de protensão à
peça, provocando esforços elevados em regiões que podem ser pouco solicitadas.
A verificação da seção pode ser feita repetindo os cálculos de tensões para
outras seções representativas; porém, pode-se usar sistemas gráficos de veri-
ficação de tensões. A vantagem do uso desses sistemas é poder complementar,
considerando também o uso das armaduras.
Os processos gráficos utilizados são curvas limites e fuso limite.
124 Protensão: critérios de projeto

Processo de curvas limites

É indicado para quando ocorre uma variação da força de protensão ao longo do


vão, encurvamento e ancoragem de cabos antes do apoio. Esse processo limita
as tensões provocadas pela compressão, ao longo do vão da peça. Deve-se
estabelecer limitações às tensões provocadas pela protensão. As combinações
citadas anteriormente podem ser desfavoráveis, como:

a)  Estado em vazio: g1 + P0

É uma situação em que se tem apenas o g1, que é o peso próprio, e a força
da protensão P0.
Nessa circunstância, agem somente o peso próprio e a protensão antes da
perda progressiva.

b)  Estado em serviço: g + q + p

É uma situação em que se consideram todas as cargas permanentes que


ocorrem na estrutura. Em relação às cargas acidentais, consideram-se estas
multiplicadas pelos seus devidos coeficientes de segurança. É uma análise
na qual se utilizam os mesmos critérios dos estados limites de serviço do
concreto convencional.
Nessa situação, pode ocorrer uma quantidade significativa de carga natural
(permanente + acidental) e pouca protensão.
Considerando ambos os estados como situações extremas, deve-se verificar
a limitação imposta pelas tensões provocadas pela protensão, para que não
ultrapasse o limite de uso.

Limite das tensões para o estado em vazio

Em uma seção aleatória de uma peça, σ 1v lim e σ2v lim são valores limites das
tensões normais no concreto, como apresentado na Figura 3.
Protensão: critérios de projeto 125

Figura 3. Curvas limites: tensões no estado em vazio.


Fonte: Hanal (2005).

Na borda inferior, tem-se a Equação 14.

Onde:
σ1p0 = tensão na borda inferior de compressão, referente à protensão;
σ1g1 = tensão na borda inferior de tração, referente ao peso próprio;
σ1v = tensão na borda inferior, referente à sobreposição de efeitos;
σ1v, lim = tensão limite na borda inferior.
Na borda superior, segue-se a Equação 15:

Onde:
σ2p0 = tensão na borda superior de compressão, referente à protensão;
σ2g1 = tensão na borda superior de tração, referente ao peso próprio;
σ 2v = tensão na borda superior, referente à sobreposição de efeitos;
σ 2v, lim = tensão limite na borda superior.
126 Protensão: critérios de projeto

Limite das tensões para o estado em serviço

Considerando uma seção aleatória de uma peça, em que σ1v lim e σ2v lim são os
valores das tensões normais no concreto, tem-se a seguinte situação, apre-
sentada na Figura 4:

Figura 4. Curvas limites: tensões no estado em serviço.


Fonte: Hanal (2005).

Para a borda inferior, tem-se a Equação 16:

Onde:
σ1p∞= tensão na borda inferior de compressão, referente à protensão;
σ1g = tensão na borda inferior de tração, referente ao peso próprio;
σ1q = tensão na borda inferior de tração, referente ao peso próprio;
σ1s = tensão na borda inferior, referente à sobreposição de efeitos;
σ1s, lim = tensão limite na borda superior para o estado em serviço.
Na borda superior, segue-se a Equação 17:

Onde:
σ2p∞ = tensão na borda superior de tração, referente à protensão;
σ2g = tensão na borda superior de compressão, referente ao peso próprio;
Protensão: critérios de projeto 127

σ2q = tensão na borda superior de compressão, referente ao peso próprio;


σ2s = tensão na borda superior, referente à sobreposição de efeitos para o
estado de serviço;
σ2s, lim = tensão limite na borda superior para o estado de serviço.

Curvas limites para tensões devido à protensão

As equações a seguir definem as curvas limites para as tensões devido à pro-


tensão. Essas curvas permitem traçar gráficos para verificar, nos diagramas,
se as tensões ultrapassam os limites. Para facilitar a verificação, trabalha-se
com tensões relativas, reunindo todas as informações em um único diagrama.
Para determinar as tensões relativas, toma-se como base as tensões pro-
vocadas pela protensão, na seção mais requisitada.
Assim, tem-se ambos os membros divididos pela respectiva tensão de
protensão no meio do vão: σ1p0, m ou σ2p0, m para a borda inferior ou superior em
vazio (Equações 18 e 19); e σ1p∞, m e σ2p∞, m para a borda inferior ou superior em
serviço (Equações 20 e 21).

Onde:
σ1p0 = tensão na borda inferior de compressão, referente à protensão;
σ1p0, m = tensão na borda inferior de compressão, referente à protensão no
meio do vão;
σ1v, lim = tensão limite na borda inferior para o estado vazio;
σ1g1 = tensão na borda inferior de tração, referente ao peso próprio;
σ1v = curva limite devido à protensão no estado vazio.

Onde:
σ2p0 = tensão na borda superior de tração, referente à protensão;
σ2p0, m = tensão na borda superior de tração, referente à protensão no meio
do vão;
σ2v, lim = tensão limite na borda superior para o estado vazio;
σ2g1 = tensão na borda superior de tração, referente ao peso próprio;
128 Protensão: critérios de projeto

σ2v = curva limite devido à protensão no estado vazio.

Onde:
σ1p∞ = tensão na borda inferior de compressão, referente à protensão;
σ1p∞, m = tensão na borda inferior de compressão, referente à protensão no
meio do vão;
σ1s, lim = tensão limite na borda inferior para o estado de serviço;
σ1g = tensão na borda inferior de tração, referente ao peso próprio;
σ1q = tensão na borda inferior de tração, referente ao peso acidental;
σ1s = curva limite devido à protensão no estado de serviço.

Onde:
σ2p∞ = tensão na borda superior de tração, referente à protensão;
σ2p∞, m = tensão na borda superior de tração, referente à protensão no meio
do vão;
σ2s, lim = tensão limite na borda superior para o estado de serviço;
σ2g = tensão na borda superior de compressão, referente ao peso próprio;
σ2q = tensão na borda superior de compressão, referente ao peso acidental;
σ2s = curva limite devido à protensão no estado de serviço.

Processo de fuso limite

É indicado para quando a força de protensão for praticamente constante, ao


longo do vão, e os cabos se mantenham ancorados junto aos apoios. No caso
do fuso limite, é estabelecida a excentricidade da força de protensão.

Estado em vazio

Avaliando o estado em vazio à situação mais desfavorável, definida com a


atuação da protensão antes das perdas e do peso próprio da peça, e sendo Mg1
o momento fletor devido ao carregamento permanente g1, tem-se o centro de
pressão indicado na Figura 5.
Protensão: critérios de projeto 129

Figura 5. Tensões no estado em vazio, com o momento fletor externo devido


ao carregamento permanente g1.
Fonte: Bastos (2015).

Avaliando a borda inferior como crítica, tem-se as Equações 22 e 23.

Considera-se a1v como o valor limite de ep – emg1, isto é, a excentricidade


limite do centro de pressão, que ocorre quando σ bv = σ bv, lim, de acordo com as
Equações 24 e 25.

Onde:
a1v = excentricidade limite do centro de pressão.

O e k1 é a excentricidade limite do núcleo central de inércia da seção, com


a qual uma força normal aplicada produz tensão nula na borda inferior. Com
isso, tem-se a Equação 26:
130 Protensão: critérios de projeto

Onde:
e k1 = excentricidade limite do núcleo central da seção.
Desse modo, para que a tensão limite na borda inferior não seja extra-
polada, o centro de pressão não poderá estar a uma extensão do centro de
gravidade da seção transversal maior que abv, de acordo com a Equação 27 e
representado na Figura 6.

Figura 6. Limite para o fuso no estado em vazio, considerando a borda inferior como crítica.
Fonte: Bastos (2015).

Avaliando a borda superior como crítica, tem-se a Equação 28:

Quando σtv = σtv, lim, então (ep – emg1) = atv, e segue-se a Equação 29:
Protensão: critérios de projeto 131

Entre abv e atv, deve-se tomar o valor mais antagônico para definir o limite
para a armadura de protensão.

Estado em serviço

Avaliando o estado à situação mais desfavorável, definida com a atuação da


protensão após as perdas, a carga permanente total e a sobrecarga variável,
tem-se, conforme a Figura 7:

Figura 7. Tensões no estado em serviço, com o momento fletor externo devido à carga
permanente total e à carga variável.
Fonte: Bastos (2015).

Avaliando a borda inferior como crítica, tem-se a Equação 30:

Quando σ bs = σ bs, lim, então (ep – emgq) = abs, de acordo com a Equação 31:

Avaliando a borda superior como crítica, tem-se a Equação 32:


132 Protensão: critérios de projeto

Quando σts = σts, lim, então (ep – emgq) = ats, de acordo com a Equação 33:

Adota-se o valor mais desfavorável entre abs e ats, como na Equação 34:

Traçado do fuso limite

De acordo com Bastos (2015), com os esforços em diferentes seções transversais


e os resultados calculados, traça-se o diagrama correspondente ao fuso limite,
como mostrado na Figura 8.

Figura 8. Região do fuso limite.


Fonte: Bastos (2015).

Para saber mais sobre o concreto protendido, acesse o


material disponível no link:

https://goo.gl/F51YDZ
Protensão: critérios de projeto 133

1. Em relação à estimativa da para pré-tração com classe de


força de protensão, assinale agressividade CAAII ou CAA III.
a alternativa correta. e) A protensão parcial é utilizada
a) A força de protensão estimada para pré-tração com classe de
consiste no valor final do esforço, agressividade CAA I e CAA II.
não levando em consideração as 3. Analise as afirmativas abaixo,
perdas existentes no processo. sobre a pós-tração, e assinale
b) Para a estimativa da força a alternativa correta.
de protensão, devem ser a) A protensão parcial é utilizada
considerados dois estados de para pós-tração para classe de
limite: o estado limite último agressividade CAA II e CAA III.
e o estado limite de serviço. b) A protensão limita é utiliza
c) Nas hipóteses de cálculo, na pós-tração para classe de
considera-se que os agressividade CAA II e CAA III.
carregamentos externos causam c) A protensão completa é utiliza
tração na borda superior da peça para pós-tração para classe
e compressão na borda inferior. de agressividade CAA IV.
d) Os estados limites considerados d) A protensão limitada e a protensão
em concreto protendido são completa são utilizadas na
três: estado limite último, estado pós-tração para as mesmas
limite de serviço e estado classes de agressividade.
limite de descompressão. e) A protensão parcial é utilizada na
e) A força de protensão final pós-tração para as classes CAA I e
depende unicamente das ações CAA II, enquanto que a protensão
atuantes no elemento estrutural limitada é utiliza na pós-tração
e do grau de protensão. para as classes CAA III e CAA IV.
2. Analise as afirmativas abaixo, 4. Sobre as combinações de ações
sobre a pré-tração, e assinale que os diferentes tipos de
a alternativa correta. protensão devem ser submetidos,
a) A protensão completa é utilizada assinale a afirmativa correta.
para pré-tração com classe de a) Na protensão completa, devem
agressividade CAA III e CAA IV. ser verificadas as combinações
b) A protensão limitada e a protensão quase permanentes e freqüentes.
completa são utilizadas na b) Na protensão limitada, devem
pré-tração para as mesmas ser verificadas somente as
classes de agressividade. combinações quase permanentes.
c) A protensão parcial e a protensão c) Na protensão completa e na
limitada são utilizadas na protensão limitada devem
pré-tração para as mesmas ser verificadas as mesmas
classes de agressividade. combinações de ações.
d) A protensão limitada é utilizada d) Na protensão limitada e na
134 Protensão: critérios de projeto

protensão parcial devem possíveis, diferentemente do


ser verificadas as mesmas estado limite de descompressão,
combinações de ações. que não necessita ser analisado
e) Na protensão parcial em todas as combinações.
é verificada apenas a c) O transporte interno e externo das
combinação rara de ações. peças pré-moldadas de concreto
5. Analise as afirmativas abaixo, protendido deve ser avaliado, no
sobre a verificação das tensões que se refere ao carregamento
normais do concreto, e assinale da seção mais solicitada.
a alternativa correta. d) A verificação só é necessária
a) A verificação das tensões normais nas seções submetidas a
na seção mais solicitada é maiores solicitações causadas
realizada apenas considerando por carregamentos externos.
a transferência da carga de e) Os processos gráficos de curvas
protensão para a viga. limites e fuso limite são utilizados
b) A formação de fissuras deve ser na verificação das tensões normais
avaliada em todas as combinações nas seções de maior carregamento.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: projeto de estruturas de


concreto armado: procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
BASTOS, P. S. dos S. Concreto protendido. 2015. Disponível em: http://wwwp.feb.unesp.
br/pbastos/Protendido/Ap.%20Protendido.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2018
HANAI, J. B. de. Fundamentos do concreto protendido. São Carlos: UFSCAR, 2005. Disponí-
vel em: <http://www.set.eesc.usp.br/mdidatico/protendido/arquivos/cp_ebook_2005.
pdf>. Acesso em: 17 jan. 2018.

Leitura recomendada
VERÍSSIMO, G. S.; CÉSAR JR., K. M. L. Concreto protendido: fundamentos básico. 1998.
Disponível em: <http://wwwp.feb.unesp.br/lutt/Concreto%20Protendido/CP-vol1.
pdf>. Acesso em: 17 jan. 2018.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
ESTRUTURAS
EM CONCRETO
ARMADO

Priscila Marques Correa


U N I D A D E 4
Protensão:
dimensionamento I
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar quais são as premissas para o dimensionamento de cálculo.


„„ Relacionar quais são os domínios existentes.
„„ Desenvolver o dimensionamento de estruturas submetidas à flexão.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar flexão em elementos de concreto armado,
mas, para isso, você deve compreender como o concreto armado se
comporta. Sabe-se que o concreto armado é uma combinação entre um
material quase-frágil e um material dúctil: o concreto resiste aos esforços
de compressão, enquanto o aço suporta os esforços de tração.
Neste texto, você vai aprender a realizar o dimensionamento e o
equacionamento interno de forças e momentos, para que, então, você
chegue ao resultado para o dimensionamento da área de aço.

Dimensionamento de cálculo
O concreto armado surge da união entre um material quase-frágil — o concreto
— e um material dúctil — o aço. Essa junção proporciona uma combinação
de um material com excelente capacidade de compressão com um material
resistente à tração. Sabe-se que um dos esforços principais que acometem
vigas e lajes em concreto armado é o esforço de flexão. O estudo dos efeitos
da flexão no concreto protendido, devido aos fatores relatados, deve ser rea-
lizado com cuidado.
136 Protensão: dimensionamento I

Então, deve-se tratar da análise última de ruptura: quando se determina a


capacidade última do elemento estrutural. Na Figura 1, tem-se um diagrama
de carga x flecha. Nele estão apresentados alguns pontos interessantes: o ponto
1 e o ponto 2 correspondem à contraflecha da viga, sem considerar o peso
próprio; já o ponto 3 é a junção do peso próprio e da força de protensão. O
ponto 4 representa o estado uniforme de flecha zero, enquanto no ponto 5 se
tem a descompressão do elemento. O ponto 6 é quando a viga está fissurada;
no ponto 7, o concreto e o aço atingem seu limite plástico; no ponto 8, o aço
entra em escoamento, enquanto o ponto 9 é o ponto de máxima capacidade
portante do elemento.

Figura 1. Diagrama carga x flecha.


Fonte: Bastos (2015).

Hipóteses de cálculo
Quando se estuda flexão em vigas de concreto, deve-se utilizar algumas
hipóteses de cálculo para o estado limite último de ruptura ou de deformação
plástica excessiva. Os diferentes tipos de flexão (simples, composta, normal
ou oblíqua) e de compressão ou tração são apresentados a seguir.
Protensão: dimensionamento I 137

A hipótese das seções planas, sob efeito de esforços de flexão, é uma


combinação de compressão na região superior e de tração na região inferior;
as seções transversais permanecem planas. Como resultado, as deformações
(ε) das fibras de uma seção são proporcionais às suas distâncias à linha neutra,
como observado na Figura 2.

Figura 2. Deformações em uma seção.


Fonte: Fernandes (2006).

Onde:
d = altura útil da viga (em cm);
h = altura da seção;
LN = linha neutra da seção;
εs = deformação da armadura convencional;
εc,u = encurtamento último do concreto.
O concreto protendido pode romper, de acordo com a quantidade de arma-
dura de protensão. As hipóteses podem ser de ruptura da armadura, logo após
o início da fissuração (ruptura brusca); esmagamento do concreto comprimido,
após o aço entrar em escoamento da armadura; e o esmagamento do concreto
antes de a armadura entrar em escoamento.

Pré-alongamento
Deve-se empregar uma força Pd, que corresponde a P, com coeficiente de
segurança. Acrescida a essa força, deve-se considerar a variação de força
que corresponde ao efeito das cargas permanentes e de serviço, que causam
o encurtamento por deformação imediata do concreto — também chamadas
de forças de neutralização. Essas forças anulam a tensão no concreto no
centro da armadura. Assim, pode-se ter, ao final, a força de protensão inicial
Pnd, de acordo com a Equação 1.
138 Protensão: dimensionamento I

Pnd = Pd + αp × Ap × 𝜎cpd Equação 1

Onde:
Pnd = força de protensão inicial de cálculo;
𝜎cpd = tensão de cálculo do concreto em nível de protensão;
Pd = força de cálculo do concreto;
Ap = área da armadura de protensão;
αp = razão modular entre o módulo do aço e do concreto
Pode-se utilizar a lei de Hooke para determinar a deformação de pré-
-alongamento, de acordo com as Equações 2 e 3.

𝜎 = E × 𝜀 Equação 2

Onde:
σ = tensão;
E = módulo de elasticidade;
ε = deformação.

Equação 3

Onde:
ԑpnd = deformação no pré-alongamento de projeto;
Pnd= força de protensão inicial de projeto;
Ap= área da armadura ativa;
Ep= módulo de elasticidade das cordoalhas de aço.
Pode-se calcular a força de protensão (Pd) no estado limite último, após
as perdas, com a Equação 4.

Equação 4

Esses coeficientes de segurança devem ser utilizados de acordo com o tipo


de solicitação que está sendo empregado. Quando a solicitação é favorável, o
valor é de 0,9; quando o efeito é desfavorável, deve-se utilizar o valor de 1,2.
γP = 0,9 (efeito favorável)
γP = 1,2 (efeito desfavorável)
Deve-se considerar o efeito mais desfavorável, utilizando a Equação 5.
Protensão: dimensionamento I 139

Equação 5

Onde:
Ac = área de concreto;
Ic = inércia do concreto;
ep = excentricidade do centro de gravidade da armadura protendida.
Quando se aplica a protensão Pd, surgem deformações devido a essa força.
A borda superior sofre alongamento, e a inferior sofre encurtamento; quando
se acrescentam as cargas externas, ocorrem deformações em função dessas
cargas. Deve-se equilibrar todas essas cargas e, assim, deve-se conhecer os
domínios de deformações.
O diagrama tensão × deformação do concreto é paraboloide, de acordo com
a Figura 3. Observa-se que a resistência à tração do concreto é desprezada,
pois o concreto apresenta uma baixa resistência à tração. Então, na região da
seção abaixo da linha neutra, a parte tracionada não existe, pois se admite que
ele esteja fissurado. Em função disso, utiliza-se a armadura como incremento
da resistência à tração.
Como a distribuição das tensões é um diagrama paraboloide, pode-se
aproximar por um comportamento retangular, utilizando-se a relação y = 0,8 x,
sabendo que y é a distância da face superior à linha neutra da seção. A tensão
desenvolvida no concreto é 0,85 fcd (resistência de cálculo do projeto), para
quando a largura da seção se mantiver constante; caso contrário, considere
uma tensão de 0,80.
É importante adotar uma forma para a distribuição de curvas de tensões
de compressão na seção de concreto para realizar o dimensionamento. Para
isso, adote uma parábola de 2º grau como forma para o dimensionamento,
considerando desde a linha neutral até a fibra, com deformação de 0,2%,
completada com uma linha reta, até a borda comprimida. Nesse caso, a
tensão de 0,85 fcd é condizente com os resultados obtidos experimentalmente
(HANAL, 2005).
O diagrama parábola-retângulo é válido para qualquer forma de seção
transversal e pode ser usado também na flexão oblíqua (Figura 3).
Conforme o tempo aumenta, a resistência à compressão do concreto reduz
(efeito Rusch). Isso ocorre por ações de longa duração e, também, pela eleva-
ção de parte da argamassa à superfície e a exsudação da água, que afetam a
resistência da parte superior de concreto, onde poderão ocorrer as máximas
tensões de compressão (HANAL, 2005).
140 Protensão: dimensionamento I

Figura 3. Diagrama paraboloide para seção transversal.


Fonte: [Diagrama paraboloide para seção transversal] [(200-?)].

Deve-se considerar que a aderência da armadura com o concreto seja


perfeita. Dessa forma, as deformações nas barras das armaduras são iguais à
mesma deformação do concreto.
Considerando que o alongamento máximo permitido na armadura de
tração é de 1%, quando se tem esse valor, ele indica o excesso de fissuras e
deformação do concreto. Após isso, o concreto perde a sua resistência.
O encurtamento de ruptura do concreto, na parte não totalmente comprimida
(flexão), é de 0,35%. Contudo, pode variar entre 0,35% e 0,20%, mantendo-se
constante a 0,20% a deformação, a 3/7 da altura total, partindo da borda compri-
mida, como representado na Figura 4. Tem-se como Nu a força normal aplicada e
Mu o momento fletor, assim como εc,u é o encurtamento do concreto na ruptura.

Figura 4. Encurtamento de ruptura.


Fonte: Fernandes (2006).

Essa característica é influenciada por diferentes fatores, como velocidade de


deformação, forma da seção transversal e posição da linha neutra na seção. Os
valores aqui propostos como critério para o encurtamento são simplificatórios.
A tensão na armadura é obtida a partir do diagrama tensão-deformação do
aço correspondente, e conforme as hipóteses citadas anteriormente.
Protensão: dimensionamento I 141

Existem diferentes vigas, como as com seções retangulares e as vigas T. Em essência,


o dimensionamento é muito parecido entre as duas; a de maior seção obviamente
suporta maiores cargas — ou seja, no dimensionamento da viga T, deve-se levar em
consideração a colaboração da mesa.

Domínios de deformação na seção transversal


A ruína da seção transversal para qualquer tipo de flexão no estado limite
último (ELU) é caracterizada pelas deformações do concreto e do aço. Estes
atingem os valores máximos das deformações específicas dos materiais.
As deformações do concreto e do aço, ao longo de uma seção transversal
retangular com armadura simples, definem seis domínios de deformação. As
retas que correspondem aos limites entre cada um deles, como representado
na Figura 5.

Figura 5. Domínios de deformação no ELU em uma seção transversal.


Fonte: Fernandes (2006).

Para determinar a resistência de cálculo de uma dada seção transversal, é


necessário identificar em qual domínio está situado o diagrama de deforma-
ção do aço e do concreto. Os domínios 1 e 2 correspondem ao estado limite
por deformação plástica excessiva (aço com alongamento máximo) e são
fixados pela reta A, que corresponde ao alongamento de 1%. Os domínios
3, 4 e 4a referem-se ao estado limite de ruptura do concreto na flexão e são
142 Protensão: dimensionamento I

fixados pela reta B, que corresponde ao encurtamento de 0,35% na borda


mais comprimida da seção. O domínio 5 corresponde ao estado limite de
ruptura do concreto na compressão e é fixado pela reta C, que corresponde
ao encurtamento de 0,2% na fibra, distante (3/7) h da borda mais compri-
mida da seção.

Domínio 1 – Tração não uniforme, sem compressão


„„ Linha neutra é externa à seção.
„„ Reta do diagrama de deformações na seção passa pelo ponto A cor-
respondente a um alongamento de 1% na armadura mais tracionada.
„„ Profundidade da linha neutra desde x > -∞ até x ≤ 0.
„„ O estado limite último é caracterizado por deformação plástica excessiva
da armadura.
„„ A seção resistente é composta por aço, não havendo participação re-
sistente do concreto.

Domínio 2 – Flexão simples ou composta


„„ Flexão simples e flexão composta com grande excentricidade.
„„ Linha neutra é interna à seção transversal.
„„ Alongamento da armadura atinge 1%, e o encurtamento da fibra mais
comprimida de concreto é inferior a 0,35%.
„„ Linha neutra x > 0 até x < 0,259d.
„„ O estado limite último é caracterizado pela deformação plástica ex-
cessiva da armadura.

Domínio 3 – Flexão simples ou composta


(seção subarmada)
„„ A linha neutra corta a seção transversal, na fronteira entre os domínios
3 e 4. Sua altura (x = x3) depende do tipo de aço.
„„ Encurtamento de 0,35% na borda comprimida, alongamento na arma-
dura está compreendido entre 1%.
„„ O ELU é caracterizado pela ruptura do concreto comprimido após o
escoamento da armadura.
„„ Campo de profundidade da linha neutra desde x = 0,259d até x ≤ xy.
„„ Ruína ocorre com aviso.
Protensão: dimensionamento I 143

„„ A ruptura do concreto ocorre simultaneamente ao escoamento da


armadura.
„„ As peças que chegam ao ELU no domínio 3 são denominadas
subarmadas.

Domínio 4 – Flexão simples ou composta


(seção superarmada)
„„ Flexão simples e de flexão composta com grande excentricidade.
„„ A linha neutra corta a seção transversal (tração e compressão).
„„ Encurtamento de 0,35%, alongamento na armadura está situado entre
εyd e 0.
„„ No ELU, a deformação da armadura é inferior a εyd (não atinge a tensão
de escoamento).
„„ Campo de profundidade da linha neutra desde x > xy até x < d.
„„ A seção resistente é composta por aço tracionado e concreto comprimido.
„„ Ruptura frágil e sem aviso.
„„ As peças que chegam ao ELU no domínio 4 são denominadas peças
superarmadas e não são econômicas.

Domínio 4a – Flexão composta com


armaduras comprimidas
„„ A linha neutra é interna à seção, mas situa-se entre a armadura menos
comprimida e a borda tracionada da seção.
„„ Campo de profundidade da linha neutra de x ≥ d até x < h.
„„ O ELU é caracterizado pela ruptura do concreto com encurtamento de
0,35% na borda comprimida, sem aparecimento de fissuras.

Domínio 5 – Compressão não uniforme, sem tração


„„ A linha neutra é externa à seção, e a reta do diagrama de deformações
na seção passa pelo ponto C.
„„ A reta de deformação gira em torno de C, distante 3/7 da borda mais
comprimida.
„„ Encurtamento de 0,20%.
„„ Campo de profundidade da linha neutra desde x ≥ h até x < +∞.
„„ O ELU é atingido pela ruptura do concreto comprimido, com encur-
tamento na borda mais comprimida situado entre 0,35% e 0,20%, de-
144 Protensão: dimensionamento I

pendendo da posição da linha neutra, mas constante e igual a 0,20%,


na fibra que passa pelo ponto C.

Os domínios aplicam-se a qualquer seção e disposição


da armadura e também a situações de flexão oblíqua.
Para saber mais sobre concreto armado, acesse o ma-
terial disponível no link e código a seguir:

https://goo.gl/cLo0Cz

Dimensionamento de estruturas
submetidas à flexão

Seção retangular com armadura simples


A seção retangular com armadura simples mais a armadura protendida é
caracterizada da seguinte forma (Figura 6):

Figura 6. Equilíbrio de forças internas na seção retangular.


Fonte: Fernandes (2006).

Assim, deve-se proceder ao equilíbrio de forças para começar o dimensio-


namento. De acordo com a Equação 6, tem-se um equilíbrio entre as reações
Protensão: dimensionamento I 145

do concreto da armadura comprimida e, também no outro sentido, a armadura


tracionada mais a protensão.

Rcc + Rsc = Rpt + Rst Equação 6

Onde:
Rcc = resultante da força do concreto;
Rsc = resultante da força da armadura de aço comprimida;
Rpt = resultante da força da armadura de aço de protensão;
Rst = resultante da força da armadura de aço convencional;
Logo, sabe-se que a reação do concreto é igual à Equação 7.

Rcc = 𝜎cd × Ac = 0,85 × fcd × 0,8 × x × bw Equação 7

Onde:
Rcc = resultante da força do concreto;
fcd = resistência de projeto do concreto;
x = linha neutra;
bw = base da viga.
A reação da armadura comprimida corresponde à Equação 8.

Rsc = 𝜎’sd × A’s Equação 8

Onde:
Rsc = resultante da força da armadura de aço comprimida;
σ’sd = tensão da armadura de aço comprimida;
A’s = área de aço da armadura comprimida.
A reação da armadura protendida corresponde à Equação 9.

Rpt = 𝜎pd × Ap Equação 9

Onde:
Rpt = resultante da força da armadura protendida;
σpd = tensão da armadura protendida;
Ap = área de aço da armadura protendida.
A reação da armadura tracionada corresponde à Equação 10.

Rst = 𝜎sd × As Equação 10


146 Protensão: dimensionamento I

Onde:
Rst = resultante da força da armadura de aço tracionada;
σsd = tensão da armadura de aço tracionada;
As = área de aço da armadura tracionada.
Sabe-se que a tensão da armadura é igual à Equação 11.

Equação 11

Onde:
fyd = resistência de projeto;
fyk = resistência de cálculo característica;
σsd = tensão da armadura de aço tracionada;
Ainda, sabe-se que a tensão da armadura comprimida é igual à Equação 12.

Equação 12

Onde:
f’yd = resistência de cálculo;
f’yk = resistência de cálculo de projeto;
σ’sd = tensão da armadura de aço comprimida;
A tensão da armadura protendida segue a Equação 13.

Equação 13

Onde:
fyd = resistência de cálculo;
fyk = resistência de cálculo de projeto;
σpd = tensão da armadura protendida;
Assim, substituindo-se na Equação 6, tem-se a Equação 14.

0,85fcd × 0,8x × bw + f’yd × A’s = 𝜎pd × Ap + fyd × As Equação 14

Então, pode-se encontrar a linha neutra com a Equação 15.

Equação 15

Protensão: dimensionamento I 147

Deve-se verificar os limites de compatibilidade de deformações, de acordo


com as Equações 16, 17 e 18:

Equação 16

Equação 17

Equação 18

Pode-se fazer o equilíbrio de momentos de acordo com a Equação 19:

Mud = 𝜎pd × Ap (dp – 0,4x) + fyd × As (ds – 0,4x) + f’yd × A’s (0,4x – d’) Equação 19

Onde:
Mud = momento de designer (m.máx. × 1,4 – em kN/cm);
bw = base da viga (em cm);
x = altura da linha neutra (em cm);
fcd = valor de cálculo da resistência do concreto ( fck/1,4 em kN/cm²);
d = altura útil da viga (em cm);
d’ = altura útil da armadura negativa (em cm).
Sabe-se que existe uma conexão entre x e y, de acordo com a Equação
20. Pode-se ainda conectar com os estados limites de serviço, pois, como a
curva tensão–deformação do concreto tem um comportamento paraboloide,
é adotado por simplificação um diagrama tensão–deformação retangular.
Equação 20

Para isso, deve-se comparar os resultados do Bhaskara, transformados em
x, os quais devem estar dentro do intervalo de x23 e x34.
Equação 21

Equação 22

Existe uma quantidade mínima e máxima de aço que se deve colocar na
viga, conforme o Quadro 1.
148 Protensão: dimensionamento I

Quadro 1. Taxa mínima de aço (NBR 6118/14).

Válido para seção retangular

fck 20 25 30 35 40 45 50
(MPa)

ρmin 0,150 0,150 0,173 0,201 0,203 0,259 0,288

Equação 23

Onde:
ac
= área de concreto da viga;
Isso decorre da necessidade de se assegurarem condições de ductilidade e de
se respeitar o campo de validade dos ensaios que deram origem às prescrições
de funcionamento do conjunto aço–concreto.

Asmáx → As + A’s = 4% bw × h Equação 24


149 Protensão: dimensionamento I

BASTOS, P. S. dos S. Concreto protendido. Bauru: UNESP, 2015. Disponível em: <http://
wwwp.feb.unesp.br/pbastos/Protendido/Ap.%20Protendido.pdf>. Acesso em: 19
jan. 2018.
[Diagrama paraboloide para seção transversal] [(200-?)]. Disponível em: <http://
www.scielo.br/img/revistas/riem/v8n4//1983-4195-riem-08-04-00547-gf18-pt.jpg>.
Acesso em: 19 jan. 2018.
FERNANDES, G. B. Solicitações normais cálculo no estado limite último. Campinas: UNI-
CAMP, 2006. Disponível em: <http://www.fec.unicamp.br/~almeida/ec702/APOS-
TILA-EC702-v2006.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2018.
HANAI, J. B. de. Fundamentos do concreto protendido. São Carlos: UFSCAR, 2005. Disponí-
vel em: <http://www.set.eesc.usp.br/mdidatico/protendido/arquivos/cp_ebook_2005.
pdf>. Acesso em: 17 jan. 2018.

Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: projeto de estruturas de
concreto – procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
CARVALHO, R. C. Cálculo e detalhamento de estruturas usuais de concreto armado:
segundo a NBR 6118-2014. São Carlos: Edufscar, 2014. v. 1.
HANAL, J. B. de. Fundamentos do concreto protendido. São Carlos: UFSCAR, 2005.
ESTRUTURAS
EM CONCRETO
ARMADO

Priscila Marques Correa


Protensão:
dimensionamento II
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Avaliar o efeito da força cortante na protensão.


„„ Reconhecer o efeito da força de protensão.
„„ Identificar o estado limite último (ELU) ao corte.

Introdução
Quando se emprega a protensão em elementos, existem diversas melho-
rias que podem ser observadas, como a redução dos esforços solicitantes
e também o aumento do desempenho quanto à resistência à flexão. Além
disso, modificações também são conferidas ao efeito do cisalhamento.
A protensão faz com que se modifique o ângulo de inclinação das
tensões de tração, e, desta forma, as fissuras de cisalhamento têm o
seu ângulo reduzido. Essas e outras alterações serão estudadas neste
capítulo.

Avaliação da força cortante na protensão


Quando se avalia o efeito cortante em peças de concreto protendido, deve-se
entender como é o comportamento em elementos de concreto armado simples,
devido ao fato de que a sistemática de cálculo é muito semelhante.
A força de protensão emprega tensão no elemento estrutural, pois as ten-
sões principais de tração são reduzidas, e assim, as fissuras que são geradas
apresentam um ângulo bem menor do que na viga em concreto armado con-
vencional. Veja que na Figura 1 está apresentado a trajetória das tensões em
uma viga de concreto armado simples, sujeita a esforços de flexão combinado
com cisalhamento (LEONHARDT; MÖNNING, 1979):
152 Protensão: dimensionamento II

Figura 1. Trajetória das tensões de compressão e das tensões de tração.


Fonte: Bastos (2017).

Efeito da força de protensão


De acordo com Mehta e Monteiro (2014), as fissuras em um elemento soli-
citado a esforços de tração, manifestam-se sempre no sentido perpendicular
aos esforços, e como as tensões de tração são em linha contínua, o padrão de
fissuração está conforme apresentado na Figura 2:

Figura 2. Padrão de fissuração de vigas em concreto armado.


Fonte: Bastos (2017).

Uma das formas de resolver o problema das fissuras inclinadas no con-


creto convencional, é o método de Ritter Mörsch, da treliça clássica a 45º.
Este método consiste em reproduzir na estrutura em concreto uma treliça
plana com banzos superiores comprimidos e banzos inferiores tracionados.
Assim se faz o dimensionamento de forma a que o concreto consiga suportar
os esforços das bielas comprimidas, onde há a região tracionada, tem-se o
aço que absorve estes esforços de tração (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2014). Observe a Figura 3:
Protensão: dimensionamento II 153

Figura 3. Metodologia da treliça Ritter Mörsch.


Fonte: Bastos (2017).

Conforme explicado, os ângulos no concreto protendido são menores ou a


inclinação destas bielas é menor do que 45º, situado entre 15º e 35º. Observa-
-se que quanto maior o grau de protensão, menor será os esforços de tração,
reduzindo drasticamente a quantidade de aço por metro no elemento estrutural.
No equilíbrio de forças, utiliza-se, como exemplo, uma viga biapoiada
simples. A curvatura do cabo produz esforços que são contrários à força
cortante que se desenvolve na viga. Nota-se que a componente seno reduz o
efeito da força cortante, pode-se realizar um somatório de forças verticais no
eixo y, na Equação 1. Acompanhe a Figura 4:

Figura 4. Metodologia da treliça Ritter Mörsch.


Fonte: Bastos (2017).
154 Protensão: dimensionamento II

Equação 1
Onde:
Vsd = esforço cortante de projeto.
Vd = esforço cortante.
Pd = força de protensão.
Uma outra condição, que deve ser estabelecida, é que a armadura longitu-
dinal de tração junto à face tracionada por flexão deve atender à Equação 2.

Equação 2

Pode-se observar na Figura 5, o banzo de concreto comprimido e as ar-
maduras convencionais e de protensão:

Figura 5. Componentes dentro da viga.


Fonte: Bastos (2015).

Existem vigas com diversas seções que podem ser retangulares ou em T. Basicamente,
o dimensionamento é muito parecido entre as duas vigas, quando se dimensiona uma,
deve-se levar em consideração a colaboração da mesa.
Protensão: dimensionamento II 155

Estudo limite último (ELU)


Para o procedimento de cálculo, se deve fazer a verificação do estado limite
último (ELU). É necessário fazer as verificações de acordo com a Equação
3, a parcela Vrd2 corresponde à parcela comprimida das bielas do concreto.

Equação 3

E Vrd2 pode ser encontrado de acordo com a Equação 4.

Equação 4

Onde:
fcd = resistência de projeto do concreto.
bw = base da viga.
d = altura útil.

Após a verificação das bielas comprimidas, deve-se calcular a resistência


à tração do concreto, que precisa ser calculada conforme as Equações 5, 6 e 7.

Equação 5


Assim, se pode calcular a contribuição do concreto no cálculo da armadura
que corresponde a VC0 e deve ser calculado de acordo com a Equação 8.

Equação 8
Onde:
bw = menor largura da seção, compreendida ao longo da altura útil d,
contudo, quando existirem bainhas injetadas com diâmetro , a largura
resistente deve ser recalculada de acordo com a Equação 9.
156 Protensão: dimensionamento II

Equação 9

Deve-se calcular a variável Asw,α/s conforme a Equação 10.

Equação 10

Como se tem uma combinação de esforços, que é compressão mais flexão,
deve-se utilizar a Equação 11 para encontrar Vc, que será incorporado ao
cálculo da área de aço final.

Equação 11

Onde:
M0 = momento fletor que anula a tensão normal de compressão na borda
da seção (tracionada por Md,máx), provocada pelas forças normais de diversas
origens concomitantes com VSd, sendo esta tensão calculada com valores de γf e
γp iguais a 0,9, respectivamente; M0 corresponde ao momento fletor que anula a
tensão normal na borda menos comprimida, ou seja, corresponde ao momento
de descompressão referente a uma situação inicial de solicitação em que atuam:

a)  a força normal e o momento fletor (Npd e Mpd) provocados pela protensão,
ponderados por γp = 0,9.
b)  as forças normais oriundas de carregamentos externos (Ngd e Nqd), afe-
tados por γf = 0,9 ou 1,0, desconsiderando-se a existência de momentos
fletores concomitantes.

Desta forma, pode-se calcular M0, de acordo com a Equação 12.

Equação 12

Onde:
Wb/Ac = corresponde à distância da extremidade superior do núcleo central
de inércia da seção ao centro de gravidade, ou seja, corresponde à excentri-
cidade do centro de pressão com a qual a tensão na borda inferior se anula.
P∞= força de protensão.
ep = excentricidade.
MSd,max = momento fletor de cálculo, máximo no trecho em análise, que
pode ser tomado como o de maior valor no semitramo considerado (para este
Protensão: dimensionamento II 157

cálculo, não se consideram os momentos isostáticos de protensão, apenas os


hiperestáticos).
É necessário considerar a contribuição do concreto pela parcela Vc, para saber
o estado de fissuração do concreto no trecho considerado no estado limite
último (ELU). Cabe salientar que esta relação pode ser próxima de zero. Desta
forma, a seção pode estar fissurada na zona b, contudo, se o valor é próximo de
1, não há fissuras, elas se encontram na zona a. Visualize a Figura 6:

Figura 6. Componentes dentro da viga.


Fonte: Bastos (2015).
Protensão: dimensionamento II 159

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: projeto de estruturas de


concreto – procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
BASTOS, P. S. dos S. Dimensionamento de vigas de concreto armado à força cortante.
Bauru: UNESP, 2017.
BASTOS, P. S. dos S. Concreto protendido. Bauru: UNESP, 2015. Disponível em: <http://
wwwp.feb.unesp.br/pbastos/Protendido/Ap.%20Protendido.pdf>. Acesso em: 22
jan. 2018.
LEONHARDT, F.; MONNIG, E. Construções de concreto: princípios básicos sobre a armação
de estruturas de concreto armado. Rio de Janeiro: Interciência, 1979. v.1.
MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: microestrutura, propriedades e materiais.
2. ed. São Paulo: Pini, 2014.

Leituras recomendadas
CARVALHO, R. C.; FIGUEIREDO FILHO, J. R. Cálculo e detalhamento de estruturas usuais
de concreto armado. 4. ed. São Carlos: Edufscar, 2015.
HANAL, J. B. de. Fundamentos do concreto protendido. São Carlos: UFSCAR, 2005. Disponí-
vel em: <http://www.set.eesc.usp.br/mdidatico/protendido/arquivos/cp_ebook_2005.
pdf>. Acesso em: 22 jan. 2018.

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