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Pandemia e a Saúde Mental

Maria Rita Lana de Azevedo¹

Resumo

O novo coronavírus (COVID-19), identificado na China no final de 2019, tem


um alto potencial de transmissão, e devido a sua incidência generalizada foi
reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma
pandemia. A falta de informações concisas, o alcance geográfico, medidas de
controle insuficientes e a alta taxa de mortalidade, levaram a população a
situação de medo, insegurança, perturbações psicológicas implicando
diretamente na saúde mental.

Palavras-chave: saúde mental, medo, perturbações psicológicas, pandemia.

Introdução

Em meados de dezembro de 2019 a Organização Mundial de Saúde


(OMS) notificou um extenso número de pessoas internadas com pneumonia
por causa desconhecida na cidade de Wuhan, na China. Vários exames foram
feitos e por meio do sequenciamento genético de amostras de células epiteliais
das vias aéreas dos pacientes, em janeiro de 2020 foi anunciada a descoberta
de um novo betacoronavírus, denominado SARS-CoV-2, causador da doença
COVID-19 (SILVA e OLIVEIRA, 2020).
No dia 11 de março 2020, a OMS define o surto da COVID-19 que
estava acontecendo em vários países como pandemia, após o número de
novos casos diários terem aumentado significativamente. Seis dias depois foi
anunciada a primeira morte por Covid-19 registrada no Brasil. No dia 17 de
março foi registrada a morte de um homem, de 62 anos que estava internado
em um hospital em São Paulo. Seu quadro de saúde apresentou uma rápida
evolução e com apenas sete dias de internação veio a óbito (SILVA e
OLIVEIRA,2020).
A pandemia da Covid-19 obrigou o mundo a adotar como rotina o “novo
normal”. E mediante a essa rápida transformação do modo de vida, veio o
pânico da contaminação pelo vírus sars-cov-2, uma vez que só se assistia
anúncios de mortes provocadas pela doença e suas consequências. Como
efeito colateral de toda essa nova adaptação, muitas pessoas começaram a
desenvolver transtornos de saúde mental. Para se ter uma noção, nos meses
de abril e maio de 2020, primeiros meses das pandemia, oito entre dez
brasileiros já sofriam de algum transtorno de ansiedade, quando houve o
aumento das mortes pelo novo coronavírus (JR, 2021).
Durante a pandemia, é comum que os profissionais da área da saúde,
cientistas e gestores no geral, se concentrem no vetor patógeno e no risco
biológico, fazendo um esforço coletivo para entender os possíveis mecanismos
físicos e patológicos além de sugerir medidas de prevenção a fim de conter e
tratar a doença. Entretanto, as decorrências psicológicas e psiquiátricas
oriundas do episódio, tendem a ser subestimadas e negligenciadas,
provocando mais conflitos no enfrentamento da pandemia e aumentando o
número doenças associadas.
Nesse sentido, além de todos os agravantes patológicos específicos
causados pela COVID-19, é importante ressaltar dentro do contexto as
condições de saúde mental da população mediante os múltiplos reflexos que
essa pandemia tem motivado, uma vez que vários estudos recentes apontaram
mudanças significativas no quadro de saúde mental da população em âmbito
mundial.
A preocupação com a saúde mental da população se intensificou
durante essa relevante crise social. A pandemia da COVID -19 pode ser citada
como uma dessas crises, pelo qual tem se caracterizado como um dos maiores
problemas de saúde pública internacional das últimas décadas, que vem
atingindo praticamente todo o planeta (OMS, 2020). Um agravante como esse
acarreta perturbações psicológicas e sociais que comprometem a capacidade
de enfrentamento da sociedade, em vários níveis de intensidade (Ministério da
Saúde do Brasil, 2020a). Para isso, necessita-se de esforços emergenciais de
diversas áreas do conhecimento psíquico a fim de propor formas de lidar com
os contextos gerados por essa crise.
Com isso, deve-se considerar importante à atenção especial às
demandas de alterações nos quadros psicológicos que podem ter surgido em
decorrência da situação atual enfrentada pelo mundo. Portanto, deve ser
enfatizando a necessidade pela busca de uma atenção especial, no sentido de
preservar a população ao máximo possível à saúde psíquica. Para corroborar
com esse desafio, este trabalho agrupou informações de pesquisa a respeito
da saúde mental frente a crises de saúde pública gerada pela pandemia da
COVID – 19. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo desenvolver
reflexões críticas sobre os efeitos da pandemia do novo Coronavírus na saúde
mental.

Metodologia

Trate-se de um estudo reflexivo realizado a partir da estruturação de


uma revisão narrativa da literatura sobre os impactos da pandemia do novo
Coronavírus na saúde mental da população. As reflexões aqui problematizadas
partiram da leitura e análise dos autores à luz da literatura pertinente à temática
de pesquisa, uma vez que esse delineamento auxilia no embasamento de
debates teórico e científicos colaborativos.

Discussões

A preocupação com a saúde mental da população se intensifica durante


uma grave crise social. A pandemia da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19)
pode ser descrita como uma dessas crises, a qual tem se caracterizado como
um dos maiores problemas de saúde pública internacional das últimas
décadas, tendo atingido praticamente todo o planeta (World Health
Organization [WHO], 2020a). Um evento como esse ocasiona perturbações
psicológicas e sociais que afetam a capacidade de enfrentamento de toda a
sociedade, em variados níveis de intensidade e propagação (Ministério da
Saúde do Brasil, 2020). Esforços emergenciais de diferentes áreas do
conhecimento - dentre elas a Psicologia - são demandados a propor formas de
lidar com o contexto que permeia a crise.
Estudos revelaram que os coronavirus podem induzir sequelas
psicopatológicas através de infecção viral direta no sistema nervoso central ou
indiretamente através da resposta imunológica. Estudos clínicos feitos em
animais têm demonstrado que os coronavirus podem causar dano neuronal. 
Além da possível infiltração cerebral, a tempestade de citocinas envolvidas na
resposta imune pode ainda causar sintomas neuropsiquiátricos por precipitar
neuro-inflamação (MAZZA, M.G. et. Al, 2020).
Levando em conta a evidência prévia a partir de epidemias de SARS
( Severe Acute Respiratory Syndrome) e MERS ( Middle East Respiratory
Syndrome), a partir de alguns estudos preliminares os autores apontam a
hipótese de que os sobreviventes da COVID-19 teriam uma maior chance no
desenvolvimento de condições psiquiátricas como Transtornos de humor,
Transtornos de ansiedade, TEPT e insônia (MAZZA, M.G. et. Al, 2020).
Um estudo feito a partir do acompanhamento de 402 pacientes
sobreviventes da Covid – 19, no período de 6 de abril a 9 de junho de 2020, em
Milão. Os pacientes foram submetidos a avaliação clinica, eletrocardiograma,
gasometria e analise hematológica. A avaliação psiquiátrica foi realizada por
meio de uma entrevista clinica estruturada em aproximadamente 30 dias após
a alta hospitalar. Foram aplicados questionários de auto-avaliação de
psicopatologia, embasados pela literatura para a delimitação de patologia,
englobando os sintomas de varias doenças psicológicas como TEPT,
depressão, ansiedade, síndrome obsessivo – compulsivo e insônia. Foi
avaliada também a saturação de oxigênio como medida de ponderação da
eficiência respiratória. Além disso, foram inclusos no estudo dados clínicos e
sociodemográficos, histórico psíquico, durante a hospitalização e os
marcadores inflamatórios durante o quadro de internação.
É possível dividir as consequências da pandemia em quatro ondas. A
primeira se refere à sobrecarga imediata sobre os sistemas de saúde em todos
os países que tiveram que se preparar às pressas para o cuidado dos
pacientes graves infectados pela Covid-19. A segunda está associada à
diminuição de recursos na área de saúde para o cuidado de outras condições
clínicas agudas, devido a realocação de verba para o enfrentamento da
pandemia. A terceira tem relação com o impacto da interrupção nos cuidados
de saúde de várias doenças crônicas. Por fim, a quarta inclui o aumento de
transtornos mentais e do trauma psicológico provocados diretamente pela
infecção ou por seus desdobramentos secundários.
As pessoas reagem de maneira diferente a situações estressantes.
Como cada um responde à pandemia pode depender de sua formação, da sua
história de vida, das suas características particulares e da comunidade em que
vive. Os grupos que podem responder mais intensamente ao estresse de uma
crise incluem:
– pessoas idosas ou com doenças crônicas que apresentam maior risco se
tiverem Covid-19;
– profissionais de saúde que trabalham no atendimento à Covid-19;
– pessoas que têm transtornos mentais, incluindo problemas relacionados ao
uso de substâncias.

Conclusão
Nunca se falou tanto em saúde mental. Antes mesmo de a pandemia se
tornar parte da vida de praticamente toda a população do planeta, os números
já eram alarmantes. A pandemia acabou intensificando os quadros de
ansiedade e depressão e desestabilizando doenças pré-existentes que
estavam controladas. Além disso, novos casos proliferaram e a busca por
tratamento aumentou. O número de pessoas com questões psicológicas
provavelmente é muito maior, pois muitos não buscam ajuda.
Outro ponto importante é o impacto profundo na interação social. As
pessoas reagem de maneiras diferentes ao distanciamento. Agora, com
estudos mais atualizados estamos mais flexíveis à convivência nos círculos
mais íntimos, mas claro que vivendo com restrições. Por fim, acredito que esse
‘novo normal’ ainda ficará na nossa cultura por muitos anos.

Referências Bibliográficas
JR, FERRAZ. Pandemia pode ter criado um novo transtorno de ansiedade,
a coronafobia. Jornal da USP. São Paulo. 2021.
MAZZA, M.G. et. Al. Ansiedade e depressão em sobreviventes da COVID-
19: Papel dos preditores inflamatórios e clínicos. Brain, Behavior, and
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Silva HGN, Santos LES, Oliveira AKS. Efeitos da pandemia no novo


Coronavírus na saúde mental de indivíduos e coletividades. J. nurs. health.
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