Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE

FORA - INSTITUTO DE CIÊNCIAS


HUMANAS

PSICOPATOLOGIA GERAL

Professor: Lélio Moura Lourenço


Aluno: Thales Augusto de Rezende Rodrigues

POSITION PAPER
Ansiedade, depressão e estresse em estudantes
universitários - o impacto do COVID 19

Juiz de Fora
Setembro de 2021
Em dezembro de 2019, foi identificada pela primeira vez na cidade de Wuhan, na
China uma nova cepa de coronavírus que não havia sido identificada antes em seres humanos.
Menos de um mês após a identificação do novo vírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
declarou que o surto do novo coronavírus constituía uma situação de Emergência de Saúde
Pública de Importância Internacional (OPAS, 2020). Neste mesmo intervalo de tempo, um
alerta de que haveria um impacto na saúde mental da população também já surgira. Em março
do mesmo ano, a epidemia de COVID-19 passou ao patamar de pandemia segundo a OMS.
Uma vez que a doença tinha provocado, até então, mais de 118 mil infectados em 114 países
e 4.291 mortes percebeu-se a necessidade de se tomarem medidas mais rigorosas.

É natural supor que as pandemias sejam geradoras de um forte impacto nos campos
sociais, econômicos, políticos e, consequentemente, na saúde das pessoas. À vista disso, foram
realizados muitos estudos que buscaram compreender os efeitos de uma quarentena na saúde
mental. Alguns estudos sobre esses efeitos, que tinham como objeto de estudo outras crises
sanitárias sérias como as afetadas por MERS, SARS, Gripe Suína (H1N1) ou Ebola, mostraram
a ocorrência de efeitos psicológicos negativos como a raiva, confusão e até estresse pós-
traumático. Além disso, alguns desses efeitos se mantiveram num período prolongado. Os
principais fatores de estresse identificados foram: o tempo de duração da quarentena, os
receios em relação à doença, a frustração, diminuição de rendimentos, a informação
inadequada e também o estigma.

Mesmo com tantos conhecimentos prévios, a dimensão que uma pandemia pode ter
sobre a saúde mental de uma população ainda não é totalmente clara, mesmo porque existem
especificidades regionais e como cada uma delas lida com tal situação. Para minimizar os
efeitos da pandemia, a OMS opta por fazer diversas recomendações à população geral para
que mecanismos de coping sejam adotados com a finalidade de reduzir a ansiedade, assim,
como se pede, sejam evitadas as estratégias de enfrentamento desajustadas, como o uso do
tabaco, álcool e outras substâncias.

Finalmente, cabe falar sobre uma parcela da população que foi efetivamente afetada
pelas mudanças bruscas que a pandemia trouxe: os estudantes universitários. Devido ao
decreto de estado de emergência a suspensão das aulas foi inevitável e implacável. Isso pode
ter desencadeado dificuldade de adaptação e estados emocionais menos positivos. O artigo
estudado buscou explorar as implicações que a COVID-19 trouxe para a vida dos estudantes
universitários portugueses, como também os impactos da quarentena sobre a saúde mental no
que tange aos níveis de depressão, ansiedade e estresse. Nesse estudo foram usadas duas
amostras distintas, sendo uma recolhida em 2018 e 2019, e a outra recolhida nos oito dias que
decorreram o período de suspensão das aulas e a decretação do estado de emergência em
Portugal.

Os resultados obtidos no estudo confirmaram um aumento significativo nos índices de


ansiedade, depressão e estresse na saúde mental desses estudantes no período pandêmico em
comparação a períodos letivos normais. Esta pesquisa mostra uma congruência com outros
estudos internacionais que analisaram o efeito psicológico da COVID-19 e também de outras
pandemias. Entende-se que as informações disseminadas por diversos meios a respeito das
medidas de confinamento podem ter contribuído para o aumento dos níveis de estresse e
ansiedade nas mulheres e de depressão nos homens, de acordo com os resultados da pesquisa.
Também, apesar de que naquele momento não haviam sido contabilizados os óbitos, o
acompanhamento da situação em nível global e o aumento dos casos positivos para COVID -
19 parece ter colaborado com o impacto na saúde mental desses jovens, mesmo que estes não
sejam considerados do grupo de risco.

Um ponto relevante sobre este estudo se deve a limitação de não poder assumir que a
elevação dos níveis de ansiedade, depressão e estresse não seja exclusivamente uma
consequência da pandemia. Também é válido ressaltar que as diferenças culturais podem
ajudar a explicar as diferenças do efeito da pandemia entre os sexos. De todo modo, a pesquisa
realizada pode ser um ponto de partida para uma melhor investigação futura nessa área.

No caso brasileiro, muitos estudantes se encontraram em situação de vulnerabilidade


econômica e social, devido à falta de planejamento do governo e meios para lidar com a
pandemia e suas consequências. Um forte fator estressor para a população, de um modo geral,
foi a incerteza econômica de ter efetivamente um auxílio financeiro do governo, visto que
muitos perderam seus empregos ou tiveram uma enorme redução nos ganhos devido à
quarentena e o fechamento de estabelecimentos não essenciais. Além disso, as novas
modalidades de ensino à distância também evidenciaram diferenças sociais e econômicas,
visto que muitos estudantes não detinham instrumentos tecnológicos para acompanhar as
aulas, como também muitas vezes não tinham um ambiente propício para os estudos. No ensino
presencial, o estudante ainda podia recorrer aos centros de informática da universidade para
executar pesquisas, assim como ter o acesso livre nas bibliotecas. Outro ponto que deve ser
considerado é que a quarentena e o isolamento social interromperam eventos culturais e
encontros sociais que são muito importantes para a saúde do indivíduo. Não se pode esquecer
que o enorme número de mortos que a pandemia gerou no país também trouxe à tona o luto, o
medo da incerteza e da finitude do ser.

Contudo, com os dados que já foram colhidos, pode-se pensar em estratégias de


prevenção e remediação futuras, aliando um trabalho conjunto de diversas instituições
públicas, com a OMS e também com a Associação Americana de Psicologia. Vale lembra que
têm sido emitidas recomendações no sentido de normalização e validação de sentimento de
tristeza, ansiedade e/ou confusão geradas pela pandemia e pelas informações disseminadas
pela mídia. Assim como, tem-se difundido estilos de vida saudáveis, uso consciente dos meios
de proteção e higienização pessoal, como também das redes sociais como um meio de
informação e comunicação, além de adquirir uma postura mais criativa e de resiliência com as
situações adversas.
Referência Bibliográfica:

Organização Pan-Americana da Saúde. (2020). Histórico da pandemia de COVID-19.


Recuperado em: https://www.paho.org/pt/covid19/historico-da-pandemia-covid-19

Maia, B. R., & Dias, P. C. (2020). Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários:
o impacto da COVID-19. Estudos de Psicologia (Campinas), 37, e200067. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/1982-0275202037e200067>

Você também pode gostar