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O CUIDADO COM A SAÚDE MENTAL: os principais traumas, estresses e estigmas em


profissionais da saúde no combate à COVID-19

Camilla Louvain; Davi Cruz; Hudson Telles

RESUMO
O presente artigo relata como foi o momento vivido pelos profissionais da saúde no combate à
COVID-19 no município de Macaé/RJ. O objetivo é mostrar como foram afetados e as marcas
deixadas pelo vírus SARS-Cov-2. Este estudo trata-se de uma pesquisa de abordagem quanti-
qualitativa, que utilizou como método um formulário, onde os profissionais da saúde
responderam de acordo com a realidade vivida por cada um. Após essas respostas, foi
observado que a saúde mental foi uma das áreas mais afetadas e que se obteve pouco apoio
por parte da gestão. A prevalência global de ansiedade e depressão aumentou 25% no
primeiro ano da pandemia de COVID-19, de acordo com um resumo científico publicado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). O resumo também destaca os grupos populacionais
mais afetados e mostra o impacto da pandemia na disponibilidade de serviços de saúde mental
e como isso mudou durante emergências de saúde pública. Um dos principais motivos desse
crescimento é o estresse sem precedentes causado pelo isolamento social causado pela
pandemia. Vinculadas a isso estão as restrições à capacidade das pessoas de trabalhar, buscar
apoio de entes queridos e participar da comunidade. Solidão, medo de ser infectados, dor e
morte de entes queridos, luto e preocupações financeiras também foram identificados como
estressores que levam à ansiedade e à depressão. Entre os profissionais de saúde, a exaustão
tem sido um importante gatilho para pensamentos suicidas. Os aumentos na prevalência de
problemas de saúde mental coincidiram com graves interrupções nos serviços, deixando
grandes lacunas no atendimento aos mais necessitados. Os serviços para condições mentais,
neurológicas e de uso de substâncias foram os mais interrompidos de todos os serviços
essenciais de saúde relatados pelos Estados Membros da OMS durante grande parte da
pandemia. Muitos países também descobriram que os serviços de saúde mental que salvam
vidas, incluindo a prevenção do suicídio, foram severamente interrompidos.

Palavras-chave: Profissionais da saúde. COVID-19. Saúde Mental. SARS-Cov-2. Impactos da


COVID-19 no Brasil.

INTRODUÇÃO

Esse estudo tem como tema o cuidado com a saúde mental e os principais traumas,
estresses e estigmas em profissionais da saúde no combate à COVID-19.
São muitos os trabalhos que abordam a saúde mental, porém de forma rasa, que na
maior parte não atinge a todo e qualquer público que necessite da abordagem. Por meio de
um levantamento bibliográfico feito no período de 2019 até o ano de 2022 na biblioteca
SciELO, foram concluídos que apenas 18 estudos realizados, mostram de forma clara a
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importância do cuidado com a saúde mental em enfermeiros durante o periodo da Covid-19.


Diante do momento excepcional de pandemia vivido no Brasil, No momento, já se
passaram mais de 15 meses de manutenção desse estado de emergência sanitária, é
fundamental lançar um olhar para o modo como os serviços de saúde vêm se adequando para
enfrentar esse contexto. Essa condição sugere alguns questionamentos, como: As adequações
na estrutura dos serviços de saúde já existentes preservaram o direito dos cidadãos ao acesso
universal ao Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo a segurança de profissionais de
saúde? As medidas de enfrentamento adotadas por serviços de saúde brasileiros são
consonantes com a preservação física e mental dos trabalhadores da saúde? (SODRÉ et al,
2022).
O SARS-Cov-2, que é uma síndrome respiratória aguda grave, é um vírus da família
do coronavírus que ao infectar os humanos, causa a doença chamada Covid-19. Antes, por ser
um microorganismo que não era transmitidos entre os humanos, era um vírus pouco
conhecido pela população, porém no ano de 2019 foi quando houve o agravo da doença, que
também ficou conhecida como “novo coronavírus” que afetou não só o Brasil, mas sim todo o
mundo (BUTANTAN, 2021).
As marcas deixadas pelo Covid-19 ainda são visíveis nos dias atuais da sociedade,
famílias que perderam entes e amigos, sem ao menos ter a possibilidade de despedida por
causa do isolamento social, fato esse que, acabou agravando problemas mais profundos na
sociedade, por exemplo o sentimento de solidão, a ansiedade, depressão, estresse, falta de ar,
tontura, dor de cabeça, problemas na saúde física e outros tipos de doenças, principalmente
mentais, deixando traumas em grande parte da população mundial.
Diante da ausência de vacinas e de tratamentos comprovadamente eficaz, as
estratégias de distanciamento social foram apontadas como a mais importante intervenção
para o controle da Covid-19. No entanto, para as equipes de assistência à saúde,
especialmente aqueles profissionais que estavam no cuidado direto de pacientes com suspeita
e diagnóstico confirmado de Covid-19, em serviços de atenção primária, nas unidades de
pronto-atendimento e nos hospitais, a recomendação de permanecer em casa não se aplicou.
(TEIXEIRA, et al, 2020).
Dados mostram que no Brasil até o ínicio de setembro de 2022 foram registrados
34.456.145 casos, sendo 684.262 obitos. Atualmente, houve um declinio na quantidade de
pessosas contaminadas ou que chegam a obito, vale ressaltar a importância que a vacina
teve/tem no cenário atual (BRASIL, 2022).
A partir disto, temos como objetivo desta pesquisa: estudar como a pandemia afetou a
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saúde mental dos profissionais da saúde no combate à COVID-19..

REVISÃO DE LITERATURA

O Relatório Mundial de Saúde Mental de 2022, divulgado pela OMS (Organização


Mundial da Saúde) traz dados alarmantes sobre a piora dos transtornos mentais em todo o
mundo, com aumento superior a 25% dos novos casos de depressão e ansiedade.

Segundo a OMS, o Brasil tem a maior prevalência de depressão na América


Latina. É também o país mais ansioso do mundo. Para os profissionais de psiquiatria, a
solidão é considerada um gatilho – um propulsor de transtornos de humor. Diante da situação
de pandemia, a comunidade médica teme que epidemias paralelas afetem a saúde mental da
população brasileira. Isso foi evidenciado pelo aumento do sofrimento psíquico, sintomas
psicológicos e transtornos mentais nesse período, que marcou o primeiro pico de casos
(PFIZER, 2020).

Outros estudos também apontam de um modo geral, como a sociedade tem


sido afetada com problemas psíquicos. Segundo OPAS (2022), mesmo antes da pandemia de
COVID-19, apenas uma pequena fração das pessoas necessitadas tinha acesso a cuidados de
saúde mental eficazes, acessíveis e de qualidade. Por exemplo, 71% das pessoas com psicose
em todo o mundo não acessam serviços de saúde mental. Enquanto 70% das pessoas com
psicose são tratadas em países de alta renda, apenas 12% das pessoas com essa condição
recebem cuidados de saúde mental em países de baixa renda. Para a depressão, as lacunas na
cobertura dos serviços são amplas em todos os países: mesmo em países de alta renda, apenas
um terço das pessoas com depressão recebe cuidados formais de saúde mental e estima-se que
o tratamento minimamente adequado para depressão varie de 23% em países de baixa renda
para 3% em países de baixa e média-baixa renda.

O aumento dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais durante a pandemia


pode ocorrer por diversas causas. Dentre elas, pode-se destacar a ação direta do vírus da
Covid-19 no sistema nervoso central, as experiências traumáticas associadas à infeção ou à
morte de pessoas próximas, o estresse induzido pela mudança na rotina devido às medidas de
distanciamento social ou pelas consequências econômicas, na rotina de trabalho ou nas
relações afetivas e, por fim, a interrupção de tratamento por dificuldades de acesso.
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Esses cenários não são independentes. Ou seja, uma pessoa pode ter sido exposta
a vária destas situações ao mesmo tempo, o que eleva o risco para desenvolver ou para
agravar transtornos mentais já existentes. O distanciamento social alterou os padrões de
comportamento da sociedade, com o fechamento de escolas, a mudança dos métodos e da
logística de trabalho e de diversão, minando o contato próximo entre as pessoas, algo tão
importante para a saúde mental (BVS, 2020).

Desde o começo da pandemia os enfermeiros estão na linha de frente contra o


Covid-19, muitos profissionais da saúde tiveram que enfrentá-la com uma enorme carência de
equipamentos (como em Manaus com a falta de respiradores), falta de treinamentos
adequados e com exaustivas jornadas de trabalhos. No início, muitos profissionais ficaram
com medo de contrair a doença e levar para casa e com isso tomando medidas extremas, como
isolar cômodos da casa para não ter contato com a família, alugar casa separada dos familiares
para não correr o risco de levar o vírus para dentro de casa e não colocar os parentes em risco.
Com isso, muitos se sentiram sozinhos, sem o amparo da família num momento tão
conturbador, causando em alguns depressão e transtorno de ansiedade.

E, ainda, as mortes de entes queridos em um curto espaço de tempo, juntamente


à dificuldade para realizar os rituais de despedida, dificultando a experiência de luto e
impedindo a adequada ressignificação das perdas, aumentando o estresse.

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma pesquisa de abordagem quanti-qualitativa, que utilizou


como metodo um formulário. A coleta de dados foi realizada no período de dezembro de dois
mil e vinte e dois à março de dois mil e vinte três. Os locais de pesquisa foi realizada nas
unidades de saúde municipal da cidade, localizados em Macaé-Rj. no qual possuem diversos
profissionais, dentre eles enfermeiros, médicos, técnicos em enfermagem, etc.
A técnica utilizada foi a de pesquisa descritiva. Foram entrevistados 15 profissionais
das categorias enfermeiros, médicos, técnicos em enfermagem, etc. Sendo eles funcionários
de serviços de saúde pública. As informações foram coletadas por meio de entrevista
semiestruturada e posteriormente os profissionais dos referidos serviços, respoderam a um
questionário.
Os dados coletados no questionário foram utilizados para análises mais detalhadas,
posteriormente foram observadas as condições de saúde mental dos entrevistados e a busca
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por profissionais qualificados para tratamento foi indicada como a melhor forma para lidar de
uma melhor maneira com cada problema observado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da respostas dos entrevistados, foram encontrados os seguintes dados:


Um grande ponto levantado foi a idade desses profissionais que atuaram na linha de
frete, por conta do impacto do COVID-19 em pessoas com idade mais avançada.

Fonte: próprio autor

Com relação a idade dos entrevistados, foi encontrado que a grande maioria que estava no
combate frente a COVID-19 tem a idade entre 26 e 50 anos, com base essas informações,
concluimos que profissionais da saúde acima dos 50 anos foi preservado, ou seja, por
circunstacias fisicas, esses profissionais precisaram ter um cuidado ainda maior do que os
outros, logo os demais profissionais abaixo dos 50 anos, atuaram insesantemente no combate.
Foi observado que 78,6% dos entrevistados tiveram sua rotina de trabalho alterada por
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conta da pandemia.

Fonte: próprio autor

A alteração na rotina era algo eminente para os profissionais graças a grande demanda
de pacientes e a escassez de profissionais e equipamentos. Muitos profissionais tiveram que
adotar o isolamento parcial da familia, carga horaria maior, mudanças de turno, noites em
claro com diversos pacientes chegando a todo momento, com fome, sem àgua e ainda auxiliar
no treinamento de recém formados.

Todos os entrevistados relataram que tiveram sua saude mental impactada por conta da
pandemia do COVID-19, onde os principais aspectos afetados foram o Stress (aparecendo em
31,6% das respostas), Sono (23,7%) e Alimentação (15,8%).
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Fonte: próprio autor

Uma pesquisa realizada em março de 2021, apontou como os principais aspectos


afetados perturbação do sono, distúrbios em geral, incapacidade de relaxar/estresse,
dificuldade de concentração ou pensamento lento, e alteração no apetite/alteração do peso,
percebe-se a recorrencia de diversos aspectos afetados e muito se dá por conta das mudanças
vividas, onde os profissionais foram submetidos a diversas situações sem preparo, afinal o
profissional da saúde é treinado para recuparar vidas e evoluir com melhorias, mas devido a
grande quantidade de mortos e infectados, a preocupação com a hipotese de ser mais um
infectado ou morto só aumentavam. (LEONEL, F. 2021)

57,1% tiveram problemas com sua saúde mental durante a pandemia, sinalizando com
“ruim”, quando questionados sobre e 35,7% sinalizaram como “razoavel” e apenas 7,1% dos
entrevistados permaneceram com uma boa saúde mental.
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Fonte: próprio autor

Com base no último gráfico, foram apontados como os principais causadores: Perda de
entes queridos, aumento na demanda de trabalho, ansiedade, medo de contaminação, morte e
sofrimento de pacientes e a pressão no trabalho.
Foi observado que 92,9% dos entrevistados apontaram que atualmente sua saúde
mental está de razoável para boa.

Fonte: próprio autor


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E, no geral, 64,3% apontou que o estado da saúde mental não atrapalha o seu
desemprenho no trabalho, 14,3% apontaram que talvez o atual estado de saúde mental pode
vir a atrapalhar o desempenho no trabalho e 21,4% afirmam com total certeza que esse fator
está alterando diretamente o desempenho no trabalho.

Fonte: próprio autor

Lazer com a família, prática de esportes, acompanhamento profissional (psicólogo) e


descanso foram apontados como principal atividade para auxiliar na recuperação de uma boa
saúde mental.
Muito se falou sobre o descaso das empresas com os profissionais que acabaram
afetando a saúde mental dos profissionais, que são eles a falta de equipamentos, negligência,
falta de estrutura adequada, desvalorização e falta de assistência psicológica.

Poderiam ter encaminhado para ajuda psicologica, mesmo assim não fizeram.
Não pensaram em nós profissionais. Eu digo para que brindes, saudações de palmas,
isso não vai nos ajudar. Bater palmas para gente para que? Sabendo que essa era a
nossa função. Não sobrevivemos de palmas e muito menos de mensagens.
Presisavamos de um pouco mais de respeito, de dignidade. Queria que soubessem o

nosso valor, reconhecimento deles (chefes) foi ZERO para a gente. ( Citou um
entrevistado)

CONCLUSÃO
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Além da pandemia, os profissionais tiveram que enfrentar o grande descaso das


instituições onde trabalha, falta de equipamentos adequados, mortes e distanciamento da
família, uma tarefa um tanto quanto difícil, que afetou demais sua saúde mental. Muitos
precisam de acompanhamento médico para total recuperação, mas outros lidam de uma forma
diferente para sua recuperação. Um estudo pós pandemia poderá ser mais claro quanto ao
estado dos profissionais e quais foram as ferramentas utilizadas para o enfretamento de tanta
luta.

REFERÊNCIAS

BUTANTAN, Qual a diferença entre SARS-CoV-2 e Covid-19? Prevalência e incidência


são a mesma coisa? E mortalidade e letalidade?. 2021. Disponível em:
https://butantan.gov.br/covid/butantan-tira-duvida/tira-duvida-noticias/qual-a-diferenca-entre-
sars-cov-2-e-covid-19-prevalencia-e-incidencia-sao-a-mesma-coisa-e-mortalidade-e-
letalidade. Acesso em: 3 set. 2022.

BVS, Saúde mental e a pandemia de Covid-19, Disponível em:


https://bvsms.saude.gov.br/saude-mental-e-a-pandemia-de-covid-19. Acesso em: 12 de set.
2022

CORONAVÍRUS BRASIL, Painel de Controle Covid-19. Disponível em:


https://covid.saude.gov.br/. Acesso em: 2 set. 2022.
OPAS, OMS destaca necessidade urgente de transformar saúde mental e atenção.
Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2022-oms-destaca-necessidade-
urgente-transformar-saude-mental-e-atencao. Acesso em: 10 set. 2022.

SODRÉ, R.L.R.; SERRA, J.R.; TIPPLE, A.F.V.; OLIVEIRA, K.R. dos S.; PEREIRA, L.V.;
Transformação de uma clínica cirúrgica para atendimento a pacientes com Covid 19: relato de
experiência. Texto Contexto Enfermagem [Internet]. 2022; v. 31, n. 01 :e20210359.
Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2021-0359pt

TEIXEIRA, C.F de S.; SOARES, C.M.; SOUZA, E.A.; LISBOA E.S.; PINTO, I.C. de M.;
ANDRADE L.R. de.; ESPIRIDIÃO, M.A.; A saúde dos profissionais de saúde no
enfrentamento da pandemia de Covid- 19. SciElo Brasil. 2020; Available from: DOI:
10.1590/1413-81232020259.19562020. Acesso em: 10 de set. 2022
LEONEL, F.; Pesquisa analisa o impacto da pandemia entre profissionais de saúde.
Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisa-analisa-o-impacto-da-pandemia-
entre-profissionais-de-saude. Acesso em: 19/02/2022

OPAS, Pandemia de COVID-19 desencadeia aumento de 25% na prevalência de ansiedade e


depressão em todo o mundo.
Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/2-3-2022-pandemia-covid-19-desencadeia-
aumento-25-na-prevalencia-ansiedade-e-depressao-em-todo-mundo. Acesso em: 23 de Mar.
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