Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTERSECCIONALIDADE
ABSTRACT: This article exposes the results of bibliographic research, using a deductive and
monographic and historical approach as a procedural method, about the union resulting from
Covid-19 as an aggravating factor for social vulnerabilities. Thus, the research has a problem:
Do the political-preservation structures to combat Covid-19 affect, and kill, vulnerable groups?
Should there be a strategic change to face the pandemic? To answer the problem, a study of the
main aspects related to the theme was carried out and, with a theoretical approach, it was
concluded that the actions implemented to contain the Coronavirus resulted in exclusions,
therefore, the situation must be analyzed from the perspective of the union and not just as a
pandemic.
INTRODUÇÃO
1
Especialista em Direito Ambiental pelo Centro Universitário Internacional; Especializanda em Direito
Constitucional Aplicado pela Faculdade Legale; Bacharel em Direito pela Faculdade Antonio Meneghetti – AMF;
Aluna do Técnico em Meio Ambiente da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM; Membra do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Democracia e Constituição – GPDECON/UFSM e do Grupo de Pesquisa em Direitos
Animais – GPDA/UFSM, ambos coordenados pela Profª. Drª. Nina Trícia Disconzi Rodrigues Pigato e vinculados
ao Curso e Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM; E-mail:
katirehbein.direito@gmail.com.
2
Doutora em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo – SP; Professora Adjunta do Departamento de
Direito da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Democracia e Constituição – GPDECON/UFSM, vinculado ao Curso e Programa de Pós-Graduação em Direito
da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Direitos Animais –
GPDA/UFSM, vinculado ao Curso e Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa
Maria – UFSM. E-mail: nina.rodrigues@ufsm.br.
província de Hubei, na China, com mais de 86.749.940 de casos confirmados, em panorama
mundial, com registro de pelo menos 1.890.342 mortes confirmadas, em 188 países, até o dia
08 de janeiro de 2021 (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE, 2021).
No início, a cidade de Wuhan e suas proximidades foram fechadas para que não
houvesse o alastramento do vírus. Entretanto, a Covid-19 espalhou-se rapidamente para os
países vizinhos e atingiu praticamente todos os países do mundo. Desde o dia 11 de março de
2020, data da declaração da Covid-19 como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), se vive um momento de reconfiguração social.
Nesse contexto, salienta-se que a Covid-19 evoluiu ao status de epidemia para uma
pandemia rapidamente. Todavia, pesquisadores apontam que essa terminologia já não é a mais
correta para se referir a crise mundial do Coronavírus, isso porque passou a ser considerada
uma sindemia.
Brevemente, pode-se dizer que uma sindemia é caracterizada por trazer a circunstância
em que duas ou mais doenças interagem, acarretando danos maiores que somente a soma dessas
doenças. Os impactos ocasionados por essa interação também é facilitado pelas condições
sociais e ambientais que, de alguma forma, aproxima essas duas doenças ou tornam a população
mais vulnerável ao seu impacto.
Não há como falar em sindemia sem trazer as vulnerabilidades sociais, assim como se
trazer a vulnerabilidade sem considerar a interseccionalidade desses grupos minoritários. Dessa
forma, é notório que a Covid-19 assola e mata mais rigorosamente a população negra e pobre,
isso porque são os grupos mais atingidos, dadas as condições de vida econômico-social e
sociocultural.
Ante o exposto, evidencia-se que a presente pesquisa tem por objetivo apresentar o
resultado de uma pesquisa bibliográfica, sendo o escopo principal do estudo analisar o cenário
da sindemia da Covid-19, sob perspectiva interseccional e as vulnerabilidades sociais. Desse
modo, a pesquisa se fundamenta pela necessidade de explicação de diferentes aspectos que
envolvem a problemática que viabiliza a pesquisa, a qual atina seu cerne na seguinte questão:
As estruturas político-econômicas de combate à Covid-19 afetam, e matam, populações
vulneráveis? Deve haver mudança estratégica de enfrentamento da pandemia?
Buscando encontrar respostas ao problema, a pesquisa utilizou-se da abordagem
dedutiva, sendo que a mesma parte de uma abordagem global de conceituação e identificação
historicidade da Covid-19 e da evolução do status de pandemia para sindemia, para, a partir
dessa abordagem mais ampla, trazer as perspectivas interseccionais da vulnerabilidade social.
E, também, da metodologia procedimental monográfica e histórica.
Desse modo, o trabalho se estruturou em duas partes. Onde, na primeira, busca-se
expor noções essenciais à compreensão da história da crise mundial derivada da Covid-19,
assim como a evolução da terminologia pandemia para uma sindemia; e, em segundo momento,
verificar o combate ao vírus e o genocídio dos pobres, trazendo as perspectivas interseccionais
da vulnerabilidade social dos grupos minoritários.
Historicamente, não trata-se da primeira vez que a humanidade é assolada por doença
viral cujo contágio excedeu as fronteiras do país epicentro da propulsão. A lista de vírus é
abrangente (SENHORAS, 2020). Toma-se como exemplo o HIV, que se encontra presente na
sociedade desde o ano de 1920, quando descoberto na capital da República Democrática do
Congo, em Kinshasa; o SARS-CoV, que é da família dos Coronavírus, vírus que derivou a
doença da Síndrome Respiratória Aguda Grave, entre os anos de 2002 e 2003; o vírus MERS-
CoV, também da família dos Coronavírus, causador da Síndrome Respiratória do Oriente
Médio, que persiste desde o ano 2012; o Vírus Ebola, que assolou a sociedade entre os anos de
2014 e 2016; e, atualmente, a Covid-19, doença causada por um vírus que também é da família
Coronavírus, o SARS-CoV-2 (QUAMMEN, 2020).
O surto de SARS-CoV-2 teve registros de início em 31 de dezembro do ano de 2019,
quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi avisada sobre vários casos de pneumonia
da cidade de Wuhan, que faz parte da província de Hubei, na República Popular da China
(ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2020), onde funcionava o mercado de
frutos do mar de Huanan, com a venda de animais silvestres, conhecidos como “mercados
úmidos”. As origens genéticas do vírus SARS-CoV-2 trouxeram a compreensão de que ele é
um rearranjo de um Coronavírus que transbordou e se sintetizou com o sistema imunológico
humano, durante ou antes do surto de Wuhan, de um morcego com uma cepa de pangolim (que
são animais proibidos de serem comercializados, pois estão em extinção) (WALLACE, 2020).
O novo Coronavírus foi o responsável por causar a doença da Covid-19, denominada
cientificamente por Coronavirus Disease 2019, e originou infecções respiratórias que variam
de quadros que vão de infecções assintomáticas a casos respiratórios considerados graves, que
levam ao óbito rapidamente, requerendo atendimento médico célere e específico aos infectados
(ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2020).
No dia 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou que o SARS-CoV-2 tratava-se de uma
emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII) (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2020). Em virtude desse cenário, como meio de prevenção, o Brasil
sancionou a Lei nº 13.979, no dia 06 de fevereiro de 2020, que trouxe as “medidas para
enfrentamento da emergência de saúde pública”, decorrente do novo Coronavírus (BRASIL,
2020). Posteriormente, em 11 de março de 2020 a OMS elevou o estado de contaminação pelo
vírus à pandemia (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2020).
Esse alerta global auferido pela OMS tornou-se muito importante para que os países
tentassem minimizar os meios de propagação do vírus, momento de implementar medidas que
viessem a descontinuar o ciclo de transmissão da Covid-19. Ainda, tem-se que a relevância do
poder de transmissibilidade do vírus atravessa por várias classificações que vão de endemia,
epidemia, até chegar a uma pandemia e sindemia.
Nessa perspectiva, cumpre elucidar que quando uma doença subsiste somente em uma
determinada região, ou quando as proporções são ínfimas e a doença não sobrevive em outros
lugares, é conceituada como uma endemia. Quando essa doença se alastra para outras
populações, em mais de uma cidade ou região, conceitua-se como uma epidemia. Contudo,
quando uma epidemia se espalha rapidamente de forma desequilibrada, por mais de um
continente ou por todo o mundo, ela é compreendida como uma pandemia (FRANÇA, 2020).
A Covid-19 evoluiu nessas três conceituações de forma muito rápida, e desde que foi
caracterizada pela OMS como uma pandemia, fora tratada como uma, visto sua abrangência.
Todavia, essa terminologia já não é a mais correta a ser utilizada. Isso porque a doença passou
a ser compreendida como uma sindemia por diversos estudiosos do tema.
O termo sindemia, que trata-se de um neologismo que combina sinergia com
pandemia, foi cunhado pelo antropólogo americano Merrill Singer, na década de 1990, para
explicar a circunstância em que duas ou mais doenças interagem, acarretando danos maiores
que somente a soma dessas doenças (BATISTA et al., 2020). Ademais, o impacto causado por
essa interação também é facilitado pelas condições sociais e ambientais que, de algum modo,
aproxima essas duas doenças ou tornam a população mais vulnerável ao seu impacto, ou seja,
essa interação com a circunstância social é o que faz com que não seja apenas uma comorbidade
(PLITT, 2020).
No caso da Covid-19, nota-se como a doença interage com uma variedade de
condições pré-existentes (diabetes, câncer, problemas cardíacos e diversos outros fatores) e se
percebe uma taxa desproporcional de resultados adversos em populações desfavorecidas,
primordialmente de baixa renda, além de minorias étnicas (PLITT, 2020).
Uma pandemia como a contemporânea não engloba somente um vírus que “ataca”
corpos. Ela significa, também, uma alteração da ordem social, além da interação dessas
doenças. Logo, falar em sindemia propõe uma interação entre os agentes causais, os processos
sociais, e os estados patológicos, que representam uma patoplastia complexa. Sendo assim,
como já mencionado, a terminologia sindemia deriva da soma de sinergia com pandemia.
Entretanto, se pode utilizar a partícula “sin” (sem) como um indicador de fusão de horizontes
conceituais, já que a busca rápida pelas causas desordena a necessidade de compreender o que
está acontecendo (STEPKE, 2020).
Salienta-se que se os países tratarem da Covid-19 como uma sindemia vai haver uma
visão mais ampla do momento social contemporâneo, abrangendo a educação, emprego,
habitação, alimentação, e meio ambiente. Tratando a Covid-19 mormente como uma pandemia
exclui tal prospecto mais amplo (HORTON, 2020).
Dito isso, pode-se descrever que uma abordagem sindêmica revela aspectos biológicos
e sociais, interações que são importantes para o prognóstico, tratamento e política de saúde.
Limitando o dano causado pelo SARS-CoV-2 exigirá uma atenção muito maior para a
desigualdade socioeconômica do que até agora foi admitido. Uma sindemia não é apenas uma
comorbidade. As sindemias são caracterizadas por aspectos biológicos e sociais, interações
entre condições e estados, e essas interações aumentam a suscetibilidade de uma pessoa,
chegando a prejudicar sua saúde (HORTON, 2020).
Ainda, pela perspectiva de sindemia, tem-se que as ameaças postas à saúde não são
epidemias concorrentes, assim como fenômenos separáveis. Em vez disso, se manifestam de
forma desproporcional e tendem a se agrupar entre populações específicas, principalmente as
mais vulneráveis socialmente, com pouco poder aquisitivo financeiro. Logo, engloba um
conjunto de problemas de saúde que agem mutuamente de forma potencializador, onde, agindo
paralelamente num contexto de ambiente social e físico deletério que aumentam a
vulnerabilidade, impactam significativamente o estado geral de doença de uma população, seja
ela física ou mental (SINGER, 2010).
Nota-se que as desigualdades sociais, além de seus problemas particulares, são
categóricos no agravamento de doenças, principalmente no contexto atípico atual. As
contrariedades que consternam a humanidade recaem assertivamente sobre os grupos mais
vulneráveis. No Brasil, vista a herança escravista, que ainda detém reflexos do paradigma
colonial, a vulnerabilidade recai sobre as mulheres, negros, homossexuais, transexuais, dentre
outros, mais rigorosamente quando são pobres (UNIVERSIDADE..., 2020). Nesse sentido,
passa-se a análise da interseccionalidade da vulnerabilidade social durante a pandemia da
Covid-19.
2 DO COMBATE À COVID-19 AO GENOCÍDIO DOS POBRES: PERSPECTIVAS
INTERSECCIONAIS DA VULNERABILIDADE SOCIAL
3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BATISTA, Sandro Rodrigues; et al. Protective behaviors for COVID-19 among Brazilian
adults and elderly living with multimorbidity (ELSI-COVID-19 Initiative). Health Sciences.
Preprint/Version 1. 2020. Disponível em:
https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/1027/1470. Acesso em: 25 out.
2020.
GRAGNANI, Juliana. Por que o Coronavírus mata mais as pessoas negras e pobres no
Brasil e no mundo. 2020. Disponível em:
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/07/12/por-que-o-coronavirus-mata-
mais-as-pessoas-negras-e-pobres-no-brasil-e-no-mundo.ghtml. Acesso em: 09 jan. 2021.
HORTON, Richard. Offline: COVID-19 is not a pandemic. v. 396. sep. 26. The Lancet,
2020. Disponível em: https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-
6736%2820%2932000-6. Acesso em: 09 jan. 2021.
PIRES, Luiza Nassif; et al. COVID-19 e desigualdade: a distribuição dos fatores de risco no
Brasil. 2020. Disponível em: https://ondasbrasil.org/wp-content/uploads/2020/04/COVID-19-
e-desigualdade-a-distribui%C3%A7%C3%A3o-dos-fatores-de-risco-no-Brasil.pdf. Acesso
em: 09 jan. 2021.
PLITT, Laura. Covid-19 não é pandemia, mas sindemia: o que essa perspectiva científica
muda no tratamento. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-
54493785. Acesso em: 09 jan. 2021.
STEPKE, Fernando Lolas. Perspectivas bioéticas en un mundo en sindemia. Acta bioeth. vol.
26, nª. 1. Santiago, 2020. pp.7-8. ISSN 1726-569X. http://dx.doi.org/10.4067/S1726-
569X2020000100007.