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Formação para

Educadores em
Liderança e Cidadania
Módulo 1
As Juventudes e o Novo Ensino
Médio
As juventudes respondem:
Presente, Professor(a)!

Antes mesmo dos portões da escola se abrirem, estudantes já começam a se aglomerar


na expectativa de entrar e ocupar os pátios. Ao mesmo tempo, outros estudantes descem do
ônibus, outros estão no banho, alguns a espera do transporte, deixando a irmã na creche... são
diversos caminhos, rotinas que vão se construindo, e em um momento todos esses trajetos se
encontram, dentro da escola. Já parou para se perguntar o que leva cada um desses(as) jovens
para dentro da escola? Qual a história de cada um(a)? Qual o trajeto até estar sentado com os
olhos atentos ao que você tem a dizer, uns mais, outros menos…? O sinal bate, é hora de iniciar
as aulas, e o que nós professores(as) apresentaremos hoje para contribuir com a formação
dessas juventudes que se apresentam para nós?
Abrimos o nosso curso trazendo para o primeiro plano o principal protagonista de todos
os processos que acontecem na escola: nossos(as) estudantes. Para nós professores e
professoras, os(as) estudantes não são apenas o futuro, mas também o presente. Além de
estarem construindo o que virão a ser, eles(as) já são! São e podem ser muitas coisas.
Conhecê-los nos ajuda a levar uma prática pedagógica para dentro de sala de aula que
esteja alinhada com o que de fato esperam de nós.
A forma como imaginamos nossos(as) estudantes, como os(as) definimos interfere
diretamente na nossa prática como educadores. Ao entrar em sala de aula, se um(a) professor(a)
vislumbra encontrar pessoas que não querem nada com o ensino, percebe seu estudante como
alguém que está ali por obrigação, sem nenhuma perspectiva, dificilmente essa profissional
conseguirá apresentar uma aula que engaje os(as) jovens e proporcione ampliar seus horizontes
e participar de sua formação como cidadãos(ãs).
Por outro lado, se esperamos encontrar na nossa frente pessoas em processo de
formação, com sonhos, desejos, e que precisam se equipar com conteúdos, habilidades e
ferramentas que os auxilie a enfrentar os desafios mais variados que se fazem presente, nossa
prática tem o potencial de ser transformadora. Não é mesmo?
Por isso, fazemos esse convite de irmos a fundo, conhecermos as juventudes presentes
nas nossas escolas para, ao entrarmos em sala de aula, garantirmos o acesso de estudantes a
uma educação engajada na construção de práticas em prol do bem-estar coletivo. Já parou para
pensar que a cada ano, nós professores(as) nos distanciamos ainda mais das vivências dos
nossos estudantes? Nós nos tornamos mais velhos(as), experimentamos novas experiências,
contudo as juventudes com as quais trabalhamos estão sempre na faixa etária entre os 14 e 19
anos. Então, durante essa aula teremos a oportunidade de pensar em como nos aproximar das
As juventudes respondem:
Presente, Professor(a)!

realidades das juventudes.


Ao falar sobre as juventudes, muitas pessoas associam a uma fase transitória, definida a
partir de uma faixa etária, entre 15 e 29 anos. No entanto, é preciso ir além e perceber que
definimos arbitrariamente o que é ser jovem em nossa cultura. Não se trata de uma fase
definida, pois ela é construída a partir do contexto em que a sociedade está inserida. Para
entendermos melhor, cabe compartilhar que a UNESCO, um dos órgãos da Organização das
Nações Unidas (ONU), por exemplo, considera, desde 1995 que as juventudes são as pessoas
que vivenciam a faixa etária entre os 15 e 24 anos, já o governo da Nigéria, localizado no
continente africano, entende a juventude como sendo as pessoas entre 18 e 35 anos de idade
(PRICE, 2019). Isso se deve uma vez que cada contexto, cada país, exige um tempo diferente
para que indivíduos tenham a oportunidade de vivenciar a transição entre a infância e a vida
adulta, se preparar e capacitar plenamente para a entrada e permanência no mercado de
trabalho. As pesquisadoras Miriam Abromovay e Mary Garcia Castro destacam que:

Em geral, a juventude é caracterizada como o tempo ou período do ciclo da vida no qual os


indivíduos atravessam da infância para a vida adulta e produzem significativas transformações
biológicas, psicológicas, sociais e culturais, que podem variar de acordo com as sociedades, as
culturas, as classes, o gênero, a inscrição étnico-racial e a época. Nas sociedades contemporâneas, o
período da juventude prolonga-se na medida em que os processos de emancipação dos jovens são
retardados por diversos motivos, como a ampliação do período de formação escolar para enfrentar
as exigências do mercado de trabalho. Na medida em que as sociedades passam do rural ao urbano,
do agrário ao industrial e do industrial à atual sociedade do conhecimento, a abrangência do que
vem a ser o jovem, em termos etários, alarga-se e assume dimensões que são inéditas na história da
humanidade. (ABRAMOVAY & CASTRO, 2006, p.8)

Essas informações nos ajudam a compreender ainda mais como de fato a juventude se
refere não só a um período etário, mas um momento identitário de nossos(as) estudantes. Isso
quer dizer que um(a) jovem não só é classificado(a) dessa forma por causa de sua idade, mas por
tudo o que vivencia e constrói, por todos os desafios que se apresentam, inclusive as novas
possibilidades e construção de si, enquanto ser social.
O Brasil é considerado um país jovem. De acordo com a projeção mais recente da
quantidade de jovens vivendo no nosso país, Jovens: Projeções Populacionais, Percepções e
Políticas Públicas, do Centro de Políticas Públicas da FGV Social, em 2021 são 47,8 milhões de
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Presente, Professor(a)!

pessoas entre 15 e 29 anos. Um recorde histórico, pois nunca tivemos tantas pessoas jovens.
Contudo, a pesquisa também aponta que desde o Censo de 2010 há uma queda no percentual
de jovens, denominada de "Pororoca Jovem", representando aumento e diminuição "repentina"
da quantidade de jovens. E inclusive, os centros urbanos deixaram de ser os espaços com a maior
densidade demográfica das juventudes, sendo as periferias metropolitanas as novas regiões
tipicamente jovens. Esses dados nos dizem muito sobre a importância do engajamento de
governos a partir de políticas públicas focadas nessa parcela da população.
Atualmente, são milhares de pessoas com sonhos, projetos de vida, expectativa e
desejos de viver e construir seu presente e seu futuro. E por isso, nós, enquanto sociedade,
precisamos garantir o acesso dessas pessoas às principais ferramentas que possibilitem a
concretização de seus anseios. As juventudes precisam acessar o direito à família, à saúde,
ao lazer, à educação, ao mercado de trabalho, à cultura, e a todos os elementos que possam
garantir-lhes uma experiência digna enquanto seres humanos. Todos esses acessos e outros
estão presentes no Estatuto da Juventude, um documento importante que deve ser
trabalhado em sala de aula e de conhecimento de estudantes e profissionais da educação.
Negar qualquer um desses direitos, pode ser o fechamento das trilhas para que elas possam
alcançar seus objetivos.
As juventudes também estão vulneráveis às crises e desafios impostos. Por exemplo,
elas foram diretamente afetadas a partir do contexto em que vivemos durante a Pandemia do
COVID-19. Segundo pesquisa da Organização Cuso International (2021), que utilizou dados
da ONU, um em cada seis jovens ficou sem trabalho na América Latina, sendo que muitas
outras enfrentaram a precarização das condições de estudo e trabalho. Nós profissionais da
educação vivenciamos isso no nosso dia a dia, identificando uma grande quantidade de
estudantes com dificuldades de acessar os conteúdos e debates ofertados por nós, isso
devido não só à falta de acesso a serviços remotos, como de um ambiente favorável aos
estudos dentro de casa e a necessidade de um trabalho remunerado para garantir o sustento
da família, durante a crise, entre outros motivos.
As juventudes respondem:
Presente, Professor(a)!

As juventudes e suas diversidades

Você já reparou que durante o nosso texto sempre nos referimos às juventudes no plural,
e não no singular, juventude. Isso se deve ao fato de que não existe apenas uma única
forma de vivenciar essa fase da vida, mas diversas. Ser uma jovem de 15 anos não é o
mesmo que uma jovem de 23, ou 29 anos. Ao mesmo tempo, uma jovem de 24 anos não
vivencia essa fase da vida da mesma forma, com desafios similares que uma jovem da
mesma idade residindo em um território diferente, e com outros marcadores sociais.

Marcadores Sociais (mais conhecidos como marcadores sociais das


diferenças) são características associadas aos indivíduos que os
hierarquizam dentro de um espectro social, a partir dos valores culturais
estabelecidos. Podemos apresentar como exemplo os marcadores de raça,
gênero, classe social, sexualidades, etnia, religião, entre outros.

Existem milhares de formas de ser jovem em nosso país, e é preciso nos atentar que
cada pessoa desenvolve um projeto de vida diferente, para respeitarmos cada trajetória e
valorizarmos toda a diversidade presente na sociedade. A escola é um espaço do encontro
das diversidades, muitas vezes é o primeiro espaço em que as juventudes têm o contato
com realidades diferentes daquelas que vivenciam dentro de seu ambiente familiar, ou
território. E por isso precisamos pensar em uma prática pedagógica que possibilite
identificar toda essa diversidade e valorizá-la. Mais a frente veremos que a proposta da
Base Nacional Comum Curricular e do Novo Ensino Médio podem ser ferramentas
excelentes para cumprir essa tarefa. Mas por enquanto, precisamos pensar de que forma
nós professores e professoras conseguimos construir uma prática pedagógica que abarque
toda a diversidade posta pelas juventudes.
As juventudes respondem:
Presente, Professor(a)!

A Figura 1 nos chama a atenção


para o fato de que, muitas vezes, o
nosso papel como professores(as), de
trabalhar a educação por meio da
formação cidadã é confundido com o
papel de definir e controlar a forma de
pensar, agir e estar no mundo, o
socializar torna-se o padronizar.
Não é sobre isso que se propõe a
construção de uma educação para
liderança e cidadania. Você vai perceber
que durante a jornada de estudantes
pelo Aprofundamento em Liderança e
Figura 1. Disponível em: <http://www.marcelo.sabbatini.com>. Cidadania, para o protagonismo do
Acesso em: 02 set. 2021
projeto de vida, e engajamento das
juventudes para a garantia de seus
direitos, propomos o trabalho com a Pedagogia das Juventudes (DAYRELL, 2016). Ou seja,
uma pedagogia que respeite as singularidades dos jovens, e que os acolha enquanto sujeitos.
Por isso o nosso convite, para conhecermos aqueles(as) que são os protagonistas de
nosso trabalho, e que trazem todo o sentido para o ensino médio: as juventudes! Além do
vídeo e do texto, convidamos você e a sua escola a desenvolver uma atividade que promova o
aprofundamento sobre quem são os estudantes com os quais vocês trabalham diariamente.
Bons trabalhos!

Para ampliar o nosso debate


Para o nosso debate ir além deste texto indicamos acessar o Estatuto das Juventudes e o
Documentário Escolarizando o mundo - o último fardo do homem branco, uma produção
estadunidense e indiana, dirigida por Carol Back (2011). Indicamos também assistir ao vídeo:
Projeto define oito tipos de bullying que devem ser evitados na escola. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=psieH5qBIpk. Acesso em 02 de set. 2021
As juventudes respondem:
Presente, Professor(a)!

Referências Bibliográficas

ABRAMOVAY, Miriam. CASTRO, Mary Garcia. Juventude, Juventudes: o que une e o que
separa. UNESCO. Brasília, 2006. 744p.

DAYRELL, Juarez (organizador). Por uma pedagogia das juventudes: experiências educativas
do Observatório da Juventude da UFMG / Belo Horizonte: Mazza Edições, 2016.

PRICE, Roz. Youth employment needs in Nigeria. 2019.

UNDESA. Definition of Youth. Disponível em


https://www.un.org/esa/socdev/documents/youth/fact-sheets/youth-definition.pdf. Acesso em
11 de ago. 2021.

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