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‘Do artesanato intelectual’ in: A imaginação Sociólogica. 40 ed., Zahar 1975, p 211-243.

WRIGHT WILLS, C.

No texto o autor, reflete sobre o conceito de ‘artesanato intelectual’ no estudo da sociologia,


como uma forma de adaptação da metodologia, versando sobre como o cientista social dentro de
uma escola de tradição clássica pensa a disciplina como um ‘ofício’. Relata sobre as angústias e
incertezas da cadeira de pesquisa possa trazer para o conceito das ciências sociais, e as dúvidas
que geram a cerca da forma de se pesquisar e dos conteúdos que possam ser desenvolvidos nas
pesquisas.
1) o primeiro ponto abordado é salientar que a pesquisa faz parte do pesquisador, logo cada parte
dos objetos (pesquisa e vida pessoal) não devem sofrer dissociação, mas sim servem para
complementar (ou enriquecer) um ao outro. Não se pode deixar de canto as experiências apenas
em detrimento da erudição, o que visualizo nessa passagem uma boa referência ao pensamento
aristotélico de associar a Phrônesis e Sophia.
O autor faz referência a um arquivo pessoal no qual contem todas as suas impressões e
observações, como um exercício de anotação e poder organizar os assuntos, tal comportamento
pode ser relacionado a metodologia do trabalho cientifico que recomenda o uso de ‘fichamentos’
como forma de organização metodológica para ciências em um todo. O autor lança mão desse
recurso como forma de apresentar a forma de organizar a si mesmo e seus trabalhos, destacando
que é importante o fácil acesso a esse arquivo. O autor adverte ainda ao costume de que muitos
pesquisadores tomam de encontro a produção textual ou de conhecimento para a busca de
projetos ou patrocínios, comportamento esse que acaba por engessar de modo improdutivo a
capacidade intelectual e a amplitude de possibilidades dos pesquisadores.
2) a respeito do uso do arquivo salientado e evocado anteriormente, MILLS, destaca que muitas
de suas obras advieram de pequenas anotações destacadas desse arquivo como forma de instigar
posteriormente sua atenção e refletir sobre as possibilidades dos temas no ponto de vista
metodológico. Segundo o autor ‘o bom trabalho na ciência social de hoje não é (...) feito de u ma
‘pesquisa’ empírica claramente delineada. Compõem-se, antes, de muitos estudos bons, que em
pontos-chaves encerram observações gerais sobre a forma e a tendência do assunto. Assim, a
decisão (...) não pode ser tomada enquanto o material existente não for trabalhado e estabelecidas
formulações gerais hipotéticas’. Logo, tendo em mão a instigação para pesquisa inicia-se a busca
por fundamentação ou formulação, em trabalhos de autores anteriores, que MILLS destaca sendo
três, a saber: a) de alguns, aprendemos diretamente pela reformulação sistemática do que o
homem diz ou de determinados pontos ou de um todo; b) alguns autores são aceitos ou refutados,
dano razoes e argumentos; c) outros são usados como fonte de sugestões para nossas próprias
elaborações e projetos.
3) A utilização dos outros livros, o conteúdo devidamente contido nas nossas notas, devendo
contar também com nossas observações e por vezes sugestões para novos estudos mesmo
empíricos. O autor demonstra certa resistência ao trabalho empírico, a qual ele define tendo
como ‘objetivo (...) é solucionar desacordos e dúvidas sobres fatos, e assim tornar mais frutíferas
as discussões dando a todos os lados maior base substantiva’, ressalta-se que ainda imperava a
época do escrito uma forte tendência a valorizar a pesquisa empírica, o que faz MILL salientar
que pode haver tantas ou iguais ‘virtudes’ advindas das leituras do que no empirismo.
Para o autor, deve-se exaurir as leituras antes de partir para o campo empírico, sendo o trabalho
empírico como fundamento secundário para as pesquisas de um primeiro esboço de uma
investigação de dado problema, valorizando primeiramente o raciocínio. Numa forma de
dominar os problemas, ele sugere 4 fases, a saber: 1) reconhecer a função do tópico, questão ou
área de preocupação; 2) a construção de elementos para as relações lógicas, através de pequenos
modelos preliminares; 3) eliminação de falsas opiniões, advindas ao longo dos processos

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precendentes; e 4) formulação e reformulação das questões dos fatos que perdurem.

4) a respeito da ocorrência das ideias, em linhas gerais e simples o autor defende que as ideias
advém do processo de imaginação sociológica, que defende como formas definidas para a
estimular: 1) o acesso aos arquivos de notas gerados; 2) atenção de forma lúcida em relação às
palavras e frases, numa busca de ‘definir com menor numero de palavras e maior precisão’
termos; 3) refletir sobre noções gerais e suas classificações em tipos, buscando uma nova
classificação; 4) considerar os extremos, iniciando também a percepção pelo oposto daquilo que
nos motiva; 5) em favor de uma simplicidade, buscar trabalho em termos de sim-ou-não; 6)
tentar obter uma percepção comparada; e por fim 7) liberar a imaginação.

5) MILLS defende a apresentação do trabalho de forma simples e clara, atentando para uma
linguagem accessível a todos. Ele traça uma critica aos círculos acadêmicos que compreendem
que a forma simples inteligivelmente está atrelado a uma simples literação ou a um conteúdo
puramente jornalístico, afirma portanto ‘escrever é pretender a atenção dos leitores. Isso é parte
de qualquer estilo. Escrever é também pretender para si um status pelo menos bastante para ser
lido’ e em tom mais duro ‘para superar a prosa acadêmica, temos de superara primeiro a pose
acadêmica’.
Tendo em vista as formas de complexidade e dificuldade de assunto, a forma de status dado a
quem escreve e a qual publico se deve atingir, MILLS, lança mão de três argumentos: 1) os
termos técnicos apresentam certas ‘cargas’ de conteúdo, e escrever com clareza diz respeito no
controle dessas ‘cargas’, informando o desejado de forma mais simples visando dar
entendimento as palavras aos destinatários finais; 2) o autor dá a ideia de que qualquer escrito,
com exceção dos grandes estilistas, que não seja imaginável como discurso humano é mau
escrito; 3) a importância de que qualquer autor saiba exatamente os públicos aos quais se
pretende atingir e também o que se pensa deles.

6) O autor, termina sua exposição, destacando que não se pode estar ‘começando a trabalhar num
projeto’, mas sim ‘trabalhando’, segundo ele ‘segundo esse modo de vida e trabalho, haverá
sempre muitos tópicos que desejamos ampliar’, e que ‘pensar é lutar para impor ordem, e ao
mesmo tempo abarcar o maior numero possível de aspecto’.

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