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Fichamento Como se faz uma tese - Umberto Eco

Capítulo 1 - O que é uma tese e para que serve

1.1 - Porque se deve fazer uma tese e o que ela é

Na parte inaugural do seu livro, Umberto Eco explica o que é a tese à


italiana; que consiste num trabalho datilografado, com extensão média variando entre
cem e quatrocentas laudas, onde o estudante aborda um problema relacionado com o
ramo de estudos em que pretende formar-se.

Para ele, este modelo de tese não representa a conclusão de um trabalho


longo e meditado, pois é elaborada por estudantes entre 22 e 24 anos, que não apresentam
completa maturação; embora alumas constituam verdadeiras teses de PhD.

O autor passa, então, a diferenciar tese de compilação de tese de pesquisa.

1) Tese de compilação: o estudante demonstra criticamente tudo o que


extraiu de suas leituras acerca do tema, expondo seu trabalho de modo claro e mostrando
diversos pontos de vista, a fim de traçar um panorama do tema tratado;

2) Tese de pesquisa: esta modalidade demanda mais tempo e disposição do


estudante, sendo a prática dos estudos realizados.

Apesar de serem diferentes, o autor deixa claro que quem faz uma tese de
compilação pode também utilizar a pesquisa, podendo ser uma complemento da outra.

Dessa forma, a escolha entre tese de compilação e tese de pesquisa prende-se


à maturidade e à capacidade de trabalho do candidato; apesar de estar ligada também a
fatores econômicos, posto que os estudantes que trabalham ou são menos abastados,
dispõem de menos tempo ou dinheiro para se dedicar a longas pesquisas.

1.2 A quem interessa o Livro

Nesta passagem, Eco esclarece que a obra não é direcionada aos estudantes
que querem aprender a fazer uma tese em um mês, obrigados a prepara uma tese para
formar-se logo.

Para estes, ele aconselha ironicamente as seguintes vias:

a) investir uma quantia razoável para que outros façam a tese por eles;

b) copiar uma tese já pronta há alguns anos em outra universidade;

O livro destina-se ao que possuem disponibilidade para dedicar-se algumas


horas diárias ao estudo, que querem preparar uma tese que lhes dê satisfação intectual e
lhe sirva também após a formatura e que querem realizar um trabalho sério

1.3 Como uma tese pode servir também após a formatura

A tese pode ser útil também após a formatura nos seguintes casos:

a) Quando se faz dela o início de uma pesquisa mais ampla, que prosseguirá
nos anos seguintes, desde que haja oportunidade e interesse.

b) ...

Assim, elaborar um tese é indicar um tema preciso, reclher documentação


sobre ele, por em ordem estes documentos, reexaminar o tema à luz dos documentos
recolhidos, dar forma orgânica a todas as reflexões precedentes e empenhar-se para que o
leitor compreenda o que quis dizer e possa recorrer à mesma documentação a fim de
retomar o tema por conta própria.

1.4 Quatro regras básicas

Neste ponto, o autor cita as quatro regras básicas para a escolha do tema, são
elas:

1) O tema deve responder aos interesses do candidato

2) As fontes de consulta devem ser acessíveis

3) As fontes de consulta devem ser manejáveis

4) O quadro metodológico da pesquisa deve estar ao alcance da experiência


do candidato.

em resumo, "quem quer fazer uma tese deve fazer uma tese que esteja à
altura de fazer".

2. A escolha do tema

2.1 tese monográfica ou tese panorâmica?

A tese panorâmica é aquela em que para um estudante, segundo o autor, é um


desafio impossível; pois tratando de tema muito amplo, o estudante poderá elaborar uma
enfadonha resenha de nome e opiniões ou poderá cometer imperdoáveis omissões,
comprometendo em ambos os casos a sua tese.

Quanto a tese monográfica, Eco esclarece ser esta a abordagem de uma só


temática, o ponto de vista de um ponto específico.

Porém, deve-se ter em mente que fazer uma tese rigorosamente monográfica
não significa perder de vista o panorama, pois só é possível explicar ou entender algo
quando inserido em um panorama.

Dessa forma, uma tese monográfica é preferível a uma tese panorâmica, pois
quando se restringe o campo, trabalha-se melhor e com mais segurança.

2.2 Tese histórica ou tese teórica?

Para o autor uma tese teórica é uma tese que se propõe a encarar um
problema abstrato que pode já ter sido ou não objeto de outras reflexões. Quando um
estudante opta por esta tese, pode acabar fazendo uma tese panorâmica, ou uma tese
muito curta e sem organização interna, que mais se aproxima de um poema lírico que de
um estudo científico.

Por fim, o autor acaba desbocando em uma tese historiográfica, que parte de
um outro autor, para assim ter um ponto de apoio.

"Os homens medievais, que tinham um respeito exagerado pela


autoridade dos autores antigos, diziam que os modernos, embora
ao seu lado fossem <<anões>>, apoiando-se neles tornavam-se
<<anões às costas de gigantes>> e, desse modo, viam mais além
que os seus predecessores"

Eco também trata da tese experimental, que segundo ele não pode ser feita
em casa, o autor não pode inventar um método e na qual o paciente deve ser estudado de
maneira panorâmica.

II.3 Temas antigos ou temas contemporâneos?

Para o autor, a elaboração de uma tese contemporânea é sempre mais difícil;


pois, para os temas antigos sempre existem esquemas interpretativos seguros que podem
ser utilizados, enquanto que para os temas modernos as opiniões ainda são vagas e
contraditórias.

Assim, apesar de os textos serem de mais fácil acesso e a bibliografia ser


mais reduzida, os textos contemporâneos acabam se tornando extremamente difíceis.

II.4 Quanto tempo é preciso para fazer uma tese?

"digamo-lo desde já: não mais de três anos e não menos de seis
meses."

Caso não consiga elaborar a tese em três anos, uma dessas três coisas terá
acontecido:
1) escolha errada da tese, superior às forças do estudante;

2) Tentar dizer tudo e cabar martelando a tese por 20 anos (um estudioso
hábil deve ser capaz de atentar-se a certos limites)

3) foi vítima da "neurose da tese", deixando-a a de lado e retomando-a, nunca


sentindo-se realizado.

Também não dura menos de seis meses, pois entre o plano de trabalho, a
pesquisa bibliográfica, a coleta de documentos e a execução do texto passam facilmente
seis meses.

Ocorre que, uma tese de última hora obriga o orientador a devorar


rapidamente os capítulos ou a obra já pronta; podendo criar dificuldades na banca
examinadora ao candidato caso não goste, sendo desagradável também para ele, que não
deveria chegar à banca com uma tese que não lhe agrade, sendo motivo de descrédito
para qualquer orientador.

Com essas ressalvas, o autor revela que é possível elaborar uma boa tese de
seis meses, desde que apresente estes requisitos:

1) tema circunscrito

2) tema atual ou marginal

3) documentos cuja consulta seja fácil

O tempo a que o autor se refere não é ao tempo da redação definitiva, mas ao


período entre o surgimento da primeira ideia da tese e sua apresentação final

II.5 É necessário saber línguas estrangeiras?

Inicialmente Eco ressalta que não se pode fazer uma tese sobre um autor
estrangeiro se este não for lido no original, isso porque nem sempre se traduziram todas
as obras daquele autor, nã podendo obras menores serem descartadas pois pode
comprometer a compreensão de seu pensamento. Além disso, nem semrpe as traduções
fazem justiça ao pensamento do autor.

Ainda, também não se pode fazer uma tese sobre determinado assunto se as
obras mais importantes a seu respeito foram escritas numa língua que ignoramos.

Por fim, uma tese não pode ser feita, sobre um autor ou sobre um tema, lendo
apenas as obras nas línguas que conhecemos, pois é impossível ter segurança em qual
língua está a obra decisiva.

Dessa forma, antes de estabelecer o tema de uma tese, é preciso dar uma
olhada na bibliografia existente e avaliar se não existem dificuldades linguísticas
significativas

Pensando nos estudantes que não sabem outras línguas e não podem
aproveitar a ocasião para aprendê-las, seja por falta de tempo ou de recursos, o autor
aconselha trabalhar sobre um tema especificamente pátrio, que não remeta a literaturas
estrangeiras, bastando o recurso a uns poucos textos já traduzidos.

II.6 Tese científica ou tese política?

2.6.1 Que é a cientificidade?

Um estudo científico debruça-se sobre um objeto reconhecível e definido de


tal maneira que seja reconhecível igualmente pelos outros. Definir o objeto é deixar claro
as condições sob as quais podemos falar, com base em certas regras que estabelecemos,
ou que outros estabeleceram antes de nós.

Em segundo lugar, o estudo deve dizer do objeto algo que ainda não foi dito,
ou rever de uma ótica distinta algo que já foi dito, devendo, portanto, acrescentar
informações ao que já se sabe.

O estudo, ainda, deve ser útil aos demais, medindo-se a importância


científica pelo grau de indispensabilidade que a contribuição estabelece.

Por fim, o estudo científico deve fornecer elementos para a verificação e a


contestação das hipóteses apresentadas e, portanto, para uma continuidade pública,
permitindo que outros possam continuar a pesquisa, para contestá-la ou afirmá-la.

O autor conclui então que não existe oposição entre tese científica e tese
política, pois, pode-se dizer que todo trabalho científico, na medida que contribui para o
desenvolvimento do conhecimento geral, tem sempre um valor político positivo. E, por
outro lado, toda empresa política com possibilidade de êxito deve possuir uma base de
seriedade científica.

2.6.2 Temas histórico-teóricos ou experiências "quentes"?

Para Umberto, cada um deve fazer o que lhe agrada. Porém, em se tratando
de um estudante em crise "pode-se cultivar interesses políticos (sindicais, por exemplo)
mesmo fazendo uma boa tese histórica sobre os movimentos operários do século passado.
Pode-se entender as exigências contemporâneas de contra-informação junto às classes
inferiores estudando o estilo, a difusão, as modalidades produtivas das xilografias
populares no período renascentista".

Já se o estudante quiser ser polêmico, o autor orienta que se dedique a


atividades políticas e sociais, e não ao relato de suas próprias experiências diretas.
Entretanto, o estudante deve estar atento ao risco de superficialidade
existente em teses de caráter político, seja porque para estas teses o método de pesquisa
tenha que ser inventado, ou porque a maioria acaba se prestando à compreensão de
fenômenos reais.

E como o aluno pode escapaz desse risco?

"analisando estudos "sérios" sobre temas semelhantes, não se


metendo num trabalho de pesquisa social sem pelo menos ter
acompanhado a atividade de um grupo com alguma experiência,
munindo-se de alguns métodos de coleta e análise de dados, não
presumindo fazer em poucas semanas trabalhos de pesquisa que
comumente são longos e difíceis."

2.6.3 Como transformar um assunto de atualidade em tema científico?

Nesta passagem o autor demostra como transformar um tema atual em tema


científico utilizando o tema das estações de rádio, mostrando como obter os dados da
pesquisa, como comparar os programas de rádio e como averiguar a audiência das
emissoras.

II.7 Como evitar deixar-se extrapolar pelo orientador?

A postura mais honesta a ser tomada pelo professor é recomendar um tema


que conhece pouco e que quer conhecer mais e não indicar um tema que conhece bem, e
não terá dificuldade de acompanhar o aluno.

Para evitar contratempos o estudante deve entrar em contato com diplomados


anteriores, obtendo informações acerca da lisura do professor, lerá seus livros para
verificar se o orientador costuma mencionar seus colaboradores, e deverá ter confiança
nele.

3. A Pesquisa do Material

3.1 A ACESSIBILIDADE DAS FONTES

3.1.1 Quais são as fontes de um trabalho científico

3.1.2 Fontes de primeira e de segunda mão

3.2 A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

3.2.1 Como usar a biblioteca

3.2.2 Como abordar a bibliografia: o fichário


3.2.3 A citação bibliográfica

3.2.4 A biblioteca de Alessandria: uma experiência

3.2.5 E se for preciso ler livros? Em que ordem?

4. O Plano de trabalho e o Fichamento

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