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Discente: Manuel Paulo Alfinete

Docente: Apolónia Guambe

Criminalística: Origem, Conceito e Evolução Histórica


Nos primórdios da fase técnico-científica, a partir do século XIX, cabia à medicina legal, além
dos exames de integridade física do corpo humano, toda a pesquisa, busca e demonstração de
outros elementos relacionados com a materialidade do fato penal, como o exame dos
instrumentos do crime e demais evidências extrínsecas ao corpo humano.

A criminalística é considerada uma disciplina nascida da Medicina Legal, que é quase tão antiga
quanto a própria humanidade. Uma vez que em épocas passadas o médico era pessoa de notório
saber, sendo sempre consultado. No século XIX era a medicina legal que tratava da pesquisa, da
busca e da demonstração de elementos relacionados com a materialidade do crime.

Mas com os avanços dos diversos ramos das ciências, como a Química, a Biologia e a Física,
houve a necessidade de uma maior especialização, o que fez com que outros profissionais
passassem a ser consultados.

Desse modo, surge a necessidade da criação de uma nova disciplina para a pesquisa, análise e

interpretação de vestígios encontrados em locais de crimes. Nasce assim a criminalística, uma


ciência independente que vem dar apoio à polícia e a justiça, tendo como objetivo o
esclarecimento de casos criminais.

Consta que a criminalística nasceu com Hans Gross, que é considerado o pai dessa ciência, já
que foi ele quem cunhou este termo. Juiz de instrução e professor de

direito penal austríaco, autor da obra “System Der Kriminalistik”, em 1893. Considerada um
manual de instruções dos juízes de direito, que definia a criminalística como “O estudo da
fenomenologia do crime e dos métodos práticos de sua investigação”.

A criminalística pode ser dividida em duas fases: a primeira aquela em que se buscava a verdade
através de métodos primitivos, mágicos ou através da tortura, considerando que na maioria das
vezes não se conseguia obter uma confissão do acusado de forma espontânea; a segunda fase que
procurava a verdade através de métodos racionais, surgindo assim os fundamentos científicos da

criminalística deixando de lado as crenças nos milagres e nas mágicas. Paralelamente verificou-
se que através das ciências naturais é possível interpretar os vestígios do delito através da analise
das evidências do fato e sua autoria.
Desde o seu surgimento a criminalística visa estudar o crime de forma a não distorcer os fatos,
zelando pela integridade e sempre perseguindo a evidência, com o fim de promover a justiça e
como um meio de obter os argumentos decisórios para a prolação da sentença (ZARZUELA,
1996). Dois são os seus princípios básicos:

a) Princípio de Locard (1877-1966): “Todo o contacto deixa um traço (vestígio)”;

b) Princípio da Individualidade: Dois objetos podem parecer indistinguíveis, mas não há dois
objetos absolutamente idênticos.

É a combinação destes dois princípios que torna possível a identificação e a prova científica. De
acordo com o Princípio da Troca de Locard, qualquer um, ou qualquer coisa, que entra em um
local de crime leva consigo algo do local e deixa alguma coisa para trás quando parte.

No mundo virtual dos computadores, o Princípio da Troca de Locard é válido (ou pelo menos
parte dele) onde quer que o intruso interfira ele deixa rastros. Tais rastros podem ser
extremamente difíceis ou praticamente impossíveis de serem identificados e seguidos, mas eles

existem. Nesses casos, o processo de análise forense pode tornar-se extremamente complexo e
demorado, necessitando do desenvolvimento de novas tecnologias para a procura de evidências.

Nesse sentido, a criminalística baseia-se no fato de que um criminoso deixa no lugar do crime,
alguns vestígios, e por outro lado também recolhem na sua pessoa, na sua roupa e no seu
material, outros vestígios, e todos eles imperceptíveis, mas característicos da sua presença ou da
sua atividade (princípio de LOCARD).

A criminalística ocupa-se fundamentalmente em determinar de que forma se cometeu o delito e


quem o cometeu, também abrange interrogações: “como?”, “porque?”, “quem?”, que
instrumentos foram utilizados, “donde?”, “quando?”, ou seja, a criminalística utiliza uma

série de técnicas, procedimentos e ciências que estabelecem a verdade jurídica acerca do ato
criminal.

Vejamos algumas definições de criminalística que nos permitem ampliar esse entendimento,
começando por um entendimento mais básico: “Criminalística é uma ciência, dentre aquelas
consideradas auxiliares do Direito Penal”. Nesse sentido tem por objeto a descoberta do crime,
bem como a identificação de seus autores. Ainda em busca de uma definição ampla, vejamos o
que diz a Enciclopédia Saraiva de Direito sobre Criminalística:

“Conjunto de conhecimentos que, reunindo as contribuições de varias ciências, indica os meios


para descobrir os crimes, identificar os seus autores e encontralos, utilizando-se da química, da
antropologia, da psicologia, da medicina legal, da psiquiatria, da datiloscopia etc. que são
consideradas ciências auxiliares do Direito Penal”.
Criminalística é disciplina que tem por objetivo o reconhecimento e interpretação dos indícios
materiais extrínsecos relativos ao crime ou à identidade do criminoso. Os exames dos vestígios
intrínsecos (na pessoa) são da alçada da medicina legal.

Nas entrelinhas desta conceituação, mais do que uma simples definição, objetiva-se que a
moderna Criminalística necessariamente esteja imbuída do fator da dinâmica, com a análise dos
vestígios materiais, as interligações entre eles, bem como dos fatos geradores, a origem e a
interpretação dos vestígios, os meios e modos como foram perpetrados os delitos, não se
restringindo, tão somente, à fria estática narrativa, sem vida, da forma como se apresentam os
vestígios, isto é, ao simples visum et repertum.

De acordo com a história, na velha Roma, o Imperador César aplicara o método de “exame

do local”, ou seja, tendo chegado aos seus ouvidos que um de seus servidores, Plantius Silvanius,
tendo jogado sua mulher, Aprônia, de uma janela, compareceu ao local e foi examinar o seu
quarto de dormir “e nele encontrou sinais certos de violência”. Considerando que um dos
aspectos mais importantes da Criminalística é o exame do local do delito, este ato de César foi,
talvez a aplicação primeira do método do exame direto de um local de crime, para a constatação
do ali ocorrido.

Vejamos, a seguir, cronologicamente, como evoluíram a Criminalística e seus diferentes ramos,


especialmente a Papiloscopia e também a Medicina Legal, através de dados colhidos em diversas
fontes:

1) Em 1560, na França, Ambroise Paré falava sobre os ferimentos produzidos por arma de fogo;

2) Em 1563, em Portugal, João de Barros, cronista português, publicou observações feitas na


China sobre tomadas de impressõesdigitais, palmares e plantares, nos contratos de compra e
venda entre pessoas;

3) Em 1651, em Roma, Paolo Zachias publicou “Questões Médicas”, sendo considerado, assim,
o “pai da Medicina Legal”;

4) Em 1665, Marcelo Malpighi, Professor de Anatomia da Universidade de Bolonha, Itália,


observava e estudava os relevos papilares das polpas digitais e das palmas das mãos; em 1686,
novamente Malpighi fazia valiosas contribuições ao estudo das impressões dactilares, tanto que
uma das partes da pele humana leva o nome de “capa de Malpighi”;

5) Em 1753, na França, Boucher realizava estudos sobre balística, disciplina que mais tarde se
chamaria Balística Forense;

6) Em 1805, na Áustria, teve início o ensino da Medicina Legal; na Escócia, ocorreu em 1807 e
na Alemanha, em 1820; por essa época também se verificou na França e na Itália;
7) Em 1809, a polícia francesa permitiu a inclusão de Eugene François Vidocq , um célebre
delinquente dessa época, originando, para alguns, o maior equívoco para a investigação policial,
mas, para outros, a transformação em uma das melhores polícias do mundo, já que muitos de
seus sistemas de investigação foram difundidos a muitos países; em 1811, Vidocq fundou a
Sûretê (Segurança);

8) Em 1823, Johannes Evangelist Purkinje, num elevado acontecimento da história da


datiloscopia, apresentou um tratado como um ensaio de sua tese para obter a graduação de
Doutor em Medicina, na Universidade de Breslau, na Alemanha; em seus escritos, discorreu
sobre os desenhos digitais, agrupando-os em nove tipos, assinalando a presença do delta e
admitindo a possibilidade destes nove tipos serem reduzidos a quatro;

9) Em 1829, na Inglaterra, Sir Robert Peel fundou a Scotland Yard (este nome é originário do
fato de a polícia de Londres estar ocupando uma construção que antes havia servido de
residência aos príncipes escoceses, quando visitavam Londres);

10) Em 1840, o italiano Orfila criou a Toxicologia e Ogier aprofundou os estudos em 1872; esta
ciência auxiliava os juízes a esclarecer certos tipos de delitos, principalmente naqueles em que os
venenos eram usados com frequência; esta ciência, ou disciplina, também é considerada como
precursora da Criminalística;

11) Em 1844, uma bula de Inocêncio VII recomendava a intervenção dos médicos nos assuntos
criminais;

12) Em 1858, William James Herschel, Delegado do Governo inglês na

Índia (Bengala) iniciou seus estudos sobre as impressões digitais,

concluindo pela sua imutabilidade; nessa mesma época, o Dr. Henry

Faulds, médico inglês, que trabalhava em um hospital de Tóquio,

observou impressões digitais em peças de cerâmica pré-histórica

japonesa, iniciando, desse modo, seus estudos sobre impressões

digitais, apresentando, finalmente, as seguintes sugestões: que as

impressões digitais fossem tomadas com tinta preta, de imprensa;

que fossem examinadas com lente; que existe certa semelhança entre

as impressões digitais dos homens e dos macacos;

13) Em 1864, Lombroso propôs o Sistema Antropométrico como processo de identificação (na
Itália);
14) Em 1866, Allan Pinkerton, em Chicago, nos EUA, colocava em prática a fotografia criminal
para reconhecimento de delinquentes, disciplina que, posteriormente, seria chamada Fotografia
Judicial e atualmente se conhece como Fotografia Forense;

15) Em 1882, Alfonso Bertillón criava, em Paris, o Serviço de Identificação Judicial, em que
ensaiava seu método antropométrico, outra das disciplinas que se incorporaria à Criminalística
geral; nessa mesma época, Bertillón publicava tese sobre o Retrato Falado, outra das precursoras
disciplinas Criminalísticas, constituindo- -se na descrição minuciosa de certos característicos
cromáticos e morfológicos do indivíduo;

16) Em 1888, na Inglaterra, Sir Francis Galton foi convidado pelo “Real Instituto de Londres”
para opinar sobre o melhor sistema de identificação; deveria proceder a estudos comparativos
entre os sistemas de Bertillón (Antropométrico) e o das impressões digitais.

Galton concluiu pela superioridade deste último e esboçou um sistema de classificação


datiloscópico, adotando três tipos, denominados arcos, presilhas e verticilos, publicado na revista
Nature;

17) Na Argentina, em 1º/9/1891, Juan Vucetich, Encarregado da Oficina de Identificação de La


Plata, apresentou um sistema de identificação, denominado Icnofalangometria (combinação dos
sistema de Bertillón com as impressões digitais);

18) Em 1892, em Graz, Áustria, o mais ilustre e distinguido criminalista de todos os tempos, o
Doutor em Direito Hans Gross publicou sua obra: Manual do Juiz de Instrução – todos os
sistemas de Criminalística; em 1893, foi impressa na mesma cidade austríaca, a segunda edição
de sua obra, e a terceira em 1898. Do conteúdo científico desta obra se depreende que o Doutor
Hans Gross, em sua época, constituiu a Criminalística com as seguintes matérias:

Antropometria, Contabilidade, Criptografia, Desenho Forense, Documentoscopia, Explosivos,


Fotografia, Grafologia, Acidentes de Trânsito Ferroviário, Hematologia, Incêndios, Medicina
Legal, Química Legal e Interrogatório; Avaliação e Reparação de Danos; Exames de Armas de
Fogo; Exames de Armas Brancas; Datiloscopia; Exame de Pegadas e Impressões; Escritas
Cifradas (uso de símbolos para a formação de frases), etc.

19) Em 1896, Juan Vucetich (nascido na Croácia, Yugoslávia), consegue que a Polícia do Rio da
Prata, Argentina, deixe de utilizar o método antropométrico de Bertillón; ainda, reduz a quatro os
tipos fundamentais da Datiloscopia, determinados pela presença ou ausência de delta;

20) Em 1899, na Áustria, Hans Gross criou os Arquivos de Antropologia e Criminalística;

21) Em 1902, em Portugal, começou a utilização das impressões plantares e palmares como
complemento da identificação datiloscópica;
22) Em 1903, no Rio de Janeiro, Brasil, foi fundado o Gabinete de Identificação, onde já estava
estabelecido o Sistema Datiloscópico de Vucetich;

23) Em 1908, na Espanha, Constancio Bernaldo de Quiroz reduzia a três as fases da formação e
evolução da Polícia Científica: a) uma primeira fase, equívoca, quando os policiais, incluindo o
Chefe, como Vidocq, eram recrutados entre os próprios delinquentes porque eram conhecedores
dos criminosos e as artes dos malfeitores;

b) uma segunda fase, empírica, na qual o pessoal, já não recrutado entre os delinquentes, luta
com meios empíricos e com as faculdades naturais, vulgares ou excepcionais; c) uma terceira
fase, a científica, em que a estas faculdades naturais se unem métodos de investigação técnica
fundados na observação racional e nas experiências químicas, fotográficas, etc.;

24) Em 1909, nos Estados Unidos, Osborn publicou um livro intitulado Questioned Documents;

25) Em 1920, no México, o Prof. Benjamim Martinez fundou o Gabinete de Identificação e o


Laboratório de Criminalística;

26) Em 1933, nos Estados Unidos, foi criado o F.B.I. (Federal Bureau of Investigation), em
Washington, por iniciativa do Procurador- -Geral da República, Mr. Homer Cummings.

Criminalística Estática

A Criminalística tem sido definida como a ciência ou disciplina que estuda os vestígios materiais
extrínsecos, com a finalidade de caracterizar o crime e suas circunstâncias, identificar seu autor e
o seu modo de atuação. Identifica-se com a “prova material” nos moldes atuais, à chamada
CRIMINALÍSTICA ESTÁTICA, aquela do visum et repertum (do latim reporta-se ao que se
vê), formalizada por uma simples verificação e exames materiais rotineiros.

À luz desse conceito, é da natureza da prova criminalística a essencialidade material de seus


estudos e conclusões, muito embora, é lícito fazer a primeira advertência desde logo, sofrendo a
interferência pessoal do perito já na fase de levantamento dos dados, e no estudo em que cumpre
interpretar certos vestígios, sua inter-relação e vinculação ao resultado.

Criminalística Dinâmica

Em sua trajetória até nossos dias, passou por mínimas e cautelosas metamorfoses, representadas
pela CRIMINALÍSTICA DINÂMICA, conservando a mesmíssima matriz axiológica original,
continuando no culto aos vestígios materiais, entretanto utilizando as “informações técnicas”
colhidas nos locais das ocorrências apenas para orientar procedimentos e raciocínios sobre os
fatos assinalados objetivamente.

Como sucede até hoje, a Criminalística tem por esteio as ciências naturais modernas, marcadas
pela objetividade, em nome da qual, inicialmente, suprimiu todo e qualquer elemento subjetivo
do processo de conhecimento, por entendê-los como fatores de perturbação da “racionalidade”
da ciência e, só no passado recente, passou a admiti-los restritivamente a certos aspectos
periféricos, de caráter meramente figurativo do trabalho pericial.

Ora, se, sob o ponto de vista eminentemente técnico, sempre tivermos os vestígios materiais
qualitativa e quantitativamente suficientes, toda e qualquer discussão se faz inócua. Sabemos que
esta não é a vivência diária, restando à Criminalística reconhecer as lacunas, aderindo
passivamente à capitulação, ou lançar-se à busca de alternativas saneadoras.

Será que, num contexto de circunstâncias não cognoscíveis, quando os vestígios materiais
inclusos por si só não forem satisfatórios para lastrear uma conclusão pericial inequívoca ou
quando simplesmente inexistirem, a Criminalística não poderia abdicar, ainda que parcial e
criteriosamente, da decantada objetividade científica, aproveitando tais elementos subjetivos
como matéria de consideração e de análise no modelo clássico de perícia criminalística?

Há uma orientação nessa direção. Observe-se que o paradigma (do grego parádeigma = modelo,
a forma como procedemos e atuamos no mundo) da ciência moderna é dito newtoniano,
mecanicista; outros o chamam de cartesiano, em alusão ao racionalismo de René Descartes (1596
– 1650). Esse paradigma de ciência, newtoniano-cartesiano, entrou em crise com Einstein (1879
– 1955), a Mecânica Quântica e outras descobertas científicas desde o início do século XX,
iniciando, desde então, uma profunda e irreversível revolução científica ainda em curso,
configurando aquilo que se chamou de Ciência Pós-Moderna.

Com o advento da Ciência Pós-Moderna apontase a possibilidade da inserção de elementos


imponderáveis na Criminalística, por demais importantes para serem relegados, desde que
brotem de uma base racional, da inter-relação entre os fatos objetivamente assinaláveis, possam
ser identificados através de uma relação científica e tratados dentro dos preceitos
epistemológicos da prática científica atual.

Criminalística Pós-Moderna

Dentro desse contexto, vislumbra-se que o papel da Criminalística atual, que bem poderíamos
chamar de CRIMINALÍSTICA PÓS-MODERNA, como um sistema permeável e em constante
evolução, não é só reportar-se ao que se vê, fazendo cotejos ou interpretações, mas sim o de
construir uma esquematização, um modelo inteligível que englobe todos os elementos válidos,
pondo-os a serviço do homem e da justiça.

Os princípios científicos da criminalística

No ambiente em que surgiu, no cultivo de sua etiologia científica e no atendimento a seus bem
definidos objetivos, a Criminalística edificou-se como uma das ciências da prova material,
firmando-se através dos seguintes princípios:

Princípio do Uso: os fatos apurados pela Criminalística são produzidos por agentes físicos,
químicos ou biológicos;
Princípio da Produção: sobreditos agentes agem produzindo vestígios indicativos de suas
ocorrências, com uma grande variedade de naturezas, morfologias e estruturas;

Princípio do Intercâmbio: os objetos ou materiais, ao interagirem, permutam características ainda


que microscópicas;

Princípio da Correspondência de Características: a ação dos agentes mecânicos reproduzem


morfologias caracterizadas pelas naturezas e modos de atuação dos agentes;

Princípio da Reconstrução: a aplicação de leis, teorias científicas e conhecimentos tecnológicos


sobre a complexão dos vestígios remanescentes de uma ocorrência estabelecem os nexos causais
entre as várias etapas da ocorrência, culminando na reconstrução do evento;

Princípio da Certeza: sendo os princípios técnicos e científicos que presidem os fatos


criminalísticos inalteráveis e suficientemente comprovados, atestam a certeza das conclusões
periciais;

Princípio da Probabilidade: em todos os estudos da prova pericial, prepondera a descoberta no


desconhecido de um número de características que corresponda à característica do conhecido.
Pela existência destas características comuns, o perito conclui que o conhecido e o desconhecido
possuem origens comuns devido à impossibilidade de ocorrências independentes deste conjunto
de características.

Princípios fundamentais da Perícia criminalística

Outros são os princípios ditos como Princípios Fundamentais da Perícia Criminalística,


referindo-se a observação, a análise, a interpretação, a descrição e à documentação da prova
(STUMVOLL, 2010).

Princípio da Observação: todo contato deixa uma marca (Edmond Locard);

Princípio da Análise: a análise pericial deve sempre seguir o método cientifico;

Princípio da Interpretação: dois objetos podem ser indistinguíveis, mais nunca idênticos;

Princípio da Descrição: o resultado de um exame pericial é constante com relação ao tempo e


deve ser exposto em linguagem ética e juridicamente perfeita;

Princípio da Documentação: Toda amostra deve ser documentada, desde seu nascimento na cena
do crime até sua análise e descrição final, de forma a se estabelecer um histórico completo e fiel
de sua origem. Este princípio, baseado na Cadeia de Custódia da prova material, visa proteger,
seguramente, a fidelidade da prova material, evitando a consideração de provas forjadas,
incluídas no conjunto das demais, para provocar a incriminação ou a inocência de alguém. Todo
caminho do vestígio deve ser documentado em cada passo oficializando-o, de modo a não
pairarem dúvidas sobre tais elementos probatórios.
Relação entre a Criminaística e outras Ciências (Medicina Legal, Química e Física)

Medicina Legal

A medicina legal, como ciência auxiliar do direito, tem a função de realizar estudos ao examinar
pessoas, descrevendo a natureza de ferimentos, as lesões produzidas, os objectos utilizados;
substâncias orgânicas, o exame de órgãos e vísceras para detectar substâncias; o exame
cadavérico para determinar a causa da morte, entre outras.

Ao lado da tecnologia da criminalística propriamente dita, não se deve esquecer da importância


específica da medicina legal no esclarecimento dos fatos criminosos. O legista realiza exames
nos corpos de pessoas vivas e mortas, que permitem determinar pormenores e circunstâncias do
crime.
Entre estas pode-se destacar, por exemplo, a descoberta da hora em que um assassinato ocorreu,
isto é, em termos técnicos, a cronotanatognose (do grego, crono = tempo, tanato = morte, gnose
=conhecimento).
Determinar o tempo decorrido entre o óbito e a autópsia tem como base as transformações que se
processam no cadáver e, em geral, não se obtêm datas e horários exatos, mas aproximados. Para
isso, pode-se levar em conta o esfriamento corporal ("algor mortis"), pois sabe-se que, cessadas
as funções vitais, o corpo passa a perder calor, à razão de cerca de 1º C por hora.

Reconstituição do Crime

Finalmente, para esclarecer os crimes, técnicas de caráter estritamente policial não podem ser
esquecidas. Uma delas é a reprodução simulada dos fatos, a chamada reconstituição do crime,
que se compõe das descrições dos fatos "in loco", feitas pelo acusado, vítimas e evetuais
testemunhas.
A reprodução simulada tem como objetivo verificar a coerência das versões apresentadas, bem
como confrontá-las com os vestígios levantados pela perícia. É aqui que a vida imita a arte e os
conflitos psicológicos do acusado podem levá-lo a contradições significativas para um bom
detetive.

Química Legal

Química Legal como é o ramo da química que se ocupa da investigação forense no campo da
química especializada, a fim de atender aspectos de interesse judiciário, atendendo basicamente
as áreas de estudos da criminalística e damedicina legal.

Temos como exemplo de análises químicas de interesses forenses possíveis, as reacções


empregadas nas análises de disparos de armas de fogo, identificação de adulterações em
veículos, identificação de numeração serial em armas de fogo, revelação de impressões digitais,
identificação de sangue em locais de crime e peças relacionadas a estes , bem como constatação
de substâncias entorpecentes e Toxicologia Forense.
Química Legal também pode ser conceituada como a ciência que se encarrega da análise,
classificação e determinação de elementos ou substâncias encontradas nos locais de averiguação
ou ocorrência de um delito ou que podem estar relacionadas a este.

As diversas ramificações da química feitas meramente por questões didácticas, quer sejam elas,
química geral, orgânica, analítica, bioquímica, entre outras, diariamente são utilizados nas
ciências forenses laboratoriais de forma isolada ou associada, pois não raro existe a necessidade
de complementação de análises de corpos de delito a fim de se identificar sua origem e
composição.

Laboratório Forense

Os laboratórios de criminalística têm por atribuições genéricas, a realização das perícias e


pesquisas forenses que exigem utilização de materiais, métodos e profissionais próprios das
ciências exactas experimentais, envolvendo biologia, bioquímica, química, física, balística, entre
outras, sempre que houver um facto criminal a ser esclarecido. os exames dos laboratórios
desenvolvidos em todo o mundo seguem normas rígidas, que procuram preservar a precisão dos
resultados e a reprodutibilidade dos testes, que são requisitos fundamentais de qualquer análise
científica.

A finalidade de um laboratório de criminalística reside no exame técnico-científico dos vestígios,


principalmente aqueles que não são passíveis de comprovação de campo, buscando-se respostas
de como fora perpetrada a infracção penal, vinculando-se ao seu autor ou autores, através da
determinação do nexo de casualidade.

Os laboratórios Químicos Legais em sua grande maioria realizam análises por via clássica ou
química húmida, ou seja, exames que são realizados através de reagentes específicos no
reconhecimento de substâncias desconhecidas ou na comparação de substâncias químicas com
padrões industriais. Maia diz ainda que nesta área situam-se os exames de falsificação de
líquidos (bebidas, combustíveis, tintas, entre outras), fluidos biológicos (sémen, sangue, entre
outros), resíduos de tiro, produtos de perspiração das impressões digitais, dentre outros.

Algumas técnicas e equipamentos na Rotina forense

Espectrométria de Massas (MS)

A espectrometria de massas é uma técnica usada para o estudo das massas de átomos, moléculas
ou fragmentos de moléculas. Para se obter um espectro de massa, asmoléculas no estado gasoso
ou espécies dessorvidas a partir de fases condensadas são ionizadas . Trata-se de uma técnica
destrutiva, ou seja, necessita-se de alíquotas das amostras que serão destruídas no decorrer da
análise, porém é uma técnica com bastante sensibilidade, sendo amplamente utilizada em
diversas aplicações.
A partir do reservatório do sistema de amostragem, moléculas neutras são inseridas no
espectrômetro, o qual apresenta feixes de elétrons responsáveis pela ionização dessas moléculas.
Placas aceleradoras e de focalização mandam esses íons na direção de um tubo analisador, porém
antes passam por um campo magnético, para que pela diferença de suas cargas e massas, sofram
diferença na trajetória. O campo separa os íons em um padrão chamado espectro de massas. A
leitura dos espectros possibilita conhecer o comparar com espectros de bancos de dados, a
identidade das espécies-problema.

Cromatográfia

A cromatografia é um método físico-químico de separação. Ela está fundamentada na migração


diferencial dos componentes de uma mistura, que ocorre devido a diferentes interações. De um
modo geral, a separação por cromatografia se deve uma fase estacionária e uma fase móvel, onde
passa a mistura, havendo interações diferentes entre seus componentes (soluto) com as
respectivas fases.

A fase estacionária é fixa (se a separação for feita em coluna, a fase estacionária fica fixada a
coluna), sendo um material poroso, sólido ou líquido viscoso. Já a fase móvel pode ser líquida ou
gasosa, a qual se move através da coluna.

Os diferentes tipos de cromatografia se devem aos diferentes tipos de interações possíveis entre
os solutos e as fases estacionárias e móveis, podendo ser realizadas em uma coluna ou de forma
planar. A cromatografia líquida se dá quando a fase móvel é líquida, enquanto a fase estacionária
é sólida, havendo interação soluto-fase estacionária, como na cromatografia de adsorção, onde
um soluto tem mais facilidade em ser adsorvido por poros na fase estacionária, levando mais
tempo para se deslocar.

A cromatografia gasosa se dá quando a fase móvel é gasosa, enquanto a fase estacionária é


líquida ou sólida. A fase móvel é um gás de arraste, o qual leva os componentes da mistura
analisada (no estado gasoso), e a fase estacionária exerce atração sobre um dos componentes,
retardando o tempo de eluição e promovendo assim a separação das espécies.

Através do cálculo do tempo de retenção de um determinado analito sobre um determinado tipo


de cromatografia, é possível comparar e chegar à identidade da espécie presente na mistura
analisada. Existe a possibilidade também da junção dos cromatógrafos e de espectrômetros, os
quais juntos potencializam o trabalho, levando a resultados mais rápidos nas análises realizadas.

Testes Colorimétricos

O uso de teste de cor talvez seja a forma de análise mais comum e utilizada para se determinar a
presença de certa substância em uma amostra, se tratando unicamente de uma técnica qualitativa.
Devido ao baixo custo de reagentes, fácil reprodução, a qual por uma reação química simples
revela resultados que podem ser interpretadas a olho nu, as técnicas colorimétricas ainda hoje são
utilizadas largamente em rotina de laboratórios de química analítica. Até mesmo quem não é
químico por formação pode utilizar os testes de cor sem larga experiência, como o exemplo de
policiais em procedimentos de rotina, na busca de substâncias ilícitas, sem a necessidade de um
laboratório.

O desenvolvimento de uma cor pode indicar a presença de uma droga ou de uma determinada
classe de drogas. Uma vez que mais de um composto pode dar o mesmo resultado, os testes de
cor não são específicos e não identificam conclusivamente a presença de um composto. Devido a
esse fato, o uso do teste colorimétrico entra como uma técnica primária, servindo para identificar
a presença do possível grupo alvo na amostra, para posteriormente passar por uma técnica
analítica mais sofisticada, determinando o teor e a composição da amostra problema.

Aplicações da ciência forense

A rotina forense, como já citado, não se restringe apenas a laboratórios e a ocorrências policiais,
sendo essas apenas uma parte do vasto ramo de aplicação dos conhecimentos forense. Os
serviços de um perito podem ser solicitados em perícias ambientais, onde este avaliará possíveis
danos causados por pessoas ou empresas Perturba do o equilíbrio e a preservação do meio
ambiente; perícias industriais, avaliando o espaço físico, equipamentos e condições de trabalho,
ou então sobre os produtos ali fabricados, se há riscos para trabalhadores e consumidores; na
análise de vestígios deixados pelo disparo de armas de fogo, os quais são expelidos na
combustão da carga explosiva contidas nos cartuchos que compõe as munições das armas.

Física Legal

A física legal é a ciência que estuda e aplica os conceitos e leis da física em situações de especial
interesse para as ciências forenses. O perito deverá descrever e explicar os fenómenos físicos
responsáveis por determinado acontecimento contribuindo, deste modo, para uma decisão
judicial.

A investigação física aplicada às ciências forenses compreende um vasto conjunto de áreas de


intervenção:

Compreensão da natureza da radioatividade, das radiações e identificação de situações no


âmbito de análise forense onde é útil a radiação;

Noções sobre armas de fogo, munições e compreensão de factores associados a balística


internam, balística de transição, balística externa e balística terminal; determinação da trajetória
de projéteis, características de disparo (distância), orifícios de entrada e saída; energia de disparo,
energia de impacto (indicador da intenção de ataque);
Análise de acidentes de viação; compreensão dos fatores causais e circunstâncias do acidente e
análise de fragmentos oriundos do acidente;

Estudo e análise dos padrões de manchas de sangue (tipos e morfologia) como contributo para o
esclarecimento da relação causa-efeito importante na reconstrução da cena do crime e na
descoberta da verdade;

Estudo de fenómenos reprodutíveis associados a queda de objetos.

A aplicação de princípios fundamentais da física associada ao estudo da cinemática, leis de


Newton, trabalho e energia, conservação do momento linear e estática/dinâmica de fluidos
contribuem a determinação da verdade material. A física legal pode intervir e complementar
outras áreas das ciências forenses, tais como a acidentologia rodoviária e a balística forense.

É a parte da física destinada à observação, análise e interpretação dos fenômenos físicos-naturais,


de interesse judiciário. Dentre estes se destacam relativos aos acidentes de trânsitos. Tais
fenômenos podem ser vistos como parte da dinâmica dos corpos rígidos.

Ex: Imagine que você esteja andando tranquilamente com o seu carro, e quando atravessa uma
rua, um outro motorista apressado que vinha pela rua perpendicular não consegue parar,
colidindo então com o seu veículo. O outro motorista afirma para o policial que sua velocidade
era compatível com a via. Porém, se fosse verdade ele provavelmente teria conseguido parar o
carro antes da colisão.

Neste caso para saber a real velocidade do veículo, os peritos utilizam o conceito de conservação
da Quantidade de Movimento, para saber as velocidades dos veículos apόs a colisão.

O Perito irá verificar a marca dos pneus deixadas pelos carros, medindo então a distância que
eles percorreram até parar completamente. Como o pneu está deslizando, teremos então uma
força de atrito envolvida e sabendo disso, podemos encontrar a velocidade final dos automoveis.

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