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PERÍCIA FORENSE - CRIMINALÍSTICA

Sumário
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2

INTRODUÇÃO .................................................................... 3
CRIMINALÍSTICA ................................................................ 4
Princípios Fundamentais da Criminalística ............................ 6
Postulados da Criminalística ............................................. 7
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL CONSTITUCIONAL: CONCEITO,
CLASSIFICAÇÃO E SUA TRÍPLICE FUNÇÃO ................................ 8
MÓDULO DIDÁTICO 1: COMO INVESTIGAR – O CASO DAS
IMPRESSÕES DIGITAIS NA CENA DO CRIME ............................ 14
Técnica do Pó ................................................................... 14
Produção de um Pó Orgânico ............................................. 15
Técnica do Nitrato de Prata ............................................... 15
Técnica do Iodo ................................................................ 17
Técnica da Ninidrina .......................................................... 18
Técnica do DFO ................................................................ 19
MÓDULO DIDÁTICO 2: COMO INVESTIGAR – AS PEGADAS
NA CENA DO CRIME ................................................................. 21
Instruções para Analisar as Pegadas .................................. 22
MÓDULO DIDÁTICO 3: COMO INVESTIGAR –AS MANCHAS
DE SANGUE NA CENA DO CRIME ............................................. 23
Primeiro Passo: Como fazer para identificar se a Substância
Encontrada na Cena do Crime é Sangue ou Não? ........................ 23
Prática de Identificação de Sangue Visível –Reagente de
Benzidina .................................................................................. 25
Parte B: O que o Sangue Encontrado na Cena do Crime pode
lhe mostrar? .............................................................................. 26
Parte C: O que os Respingos de Sangue podem lhe indicar?
................................................................................................. 27
Fios, Senos e Formatos dos Respingos .............................. 28
MÓDULO DIDÁTICO 4: COMO INVESTIGAR – AS
EVIDÊNCIAS DE BALÍSTICA NA CENA DO CRIME ..................... 30
REFERENCIAS ................................................................. 34

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO

Considerada uma disciplina nascida da Medicina Legal, que é quase tão


antiga quanto a própria humanidade. Uma vez que em épocas passadas o
médico era pessoa de notório saber, sendo sempre consultado. No século XIX
era a medicina legal que tratava da pesquisa, da busca e da demonstração de
elementos relacionados com a materialidade do crime. Mas com os avanços dos
diversos ramos das ciências, como a Química, a Biologia e a Física, houve a
necessidade de uma maior especialização, o que fez com que outros
profissionais passassem a ser consultados.

Desse modo, surge a necessidade da criação de uma nova disciplina para


a pesquisa, análise e interpretação de vestígios encontrados em locais de
crimes. Nasce assim a criminalística, uma ciência independente que vem dar
apoio à polícia e a justiça, tendo como objetivo o esclarecimento de casos
criminais.

Consta que a criminalística nasceu com Hans Gross, que é considerado


o pai dessa ciência, já que foi ele quem cunhou este termo. Juiz de instrução e
professor de direito penal austríaco, autor da obra “System Der Kriminalistik”, em
1893.

Considerada um manual de instruções dos juízes de direito, que definia a


criminalística como “O estudo da fenomenologia do crime e dos métodos práticos
de sua investigação”. A criminalística pode ser dividida em duas fases: a primeira
aquela em que se buscava a verdade através de métodos primitivos, mágicos ou
através da tortura, considerando que na maioria das vezes não se conseguia
obter uma confissão do acusado de forma espontânea; a segunda fase que
procurava a verdade através de métodos racionais, surgindo assim os
fundamentos científicos da criminalística deixando de lado as crenças nos
milagres e nas mágicas.

Dois são os seus princípios básicos:

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✓ Princípio de Locard (1877-1966): “Todo o contato deixa um


traço (vestígio)
✓ b) Princípio da Individualidade: Dois objetos podem parecer
indistinguíveis, mas não há dois objetos absolutamente idênticos.

É a combinação destes dois princípios que torna possível a identificação


e a prova científica.

Conforme o Princípio da Troca de Locard, qualquer um, ou qualquer coisa,


que entra em um local de crime leva consigo algo do local e deixa alguma coisa
para trás quando parte.

CRIMINALÍSTICA

A e exposição midiática sobre o trabalho investigativo e da perícia


criminal, como demonstram os seriados televisivos e documentários, produziram
o “Efeito CSI”, aumentando a curiosidade e o interesse do público brasileiro para
ingressar e atuar em carreiras das áreas forenses.
Então, para iniciarmos o nosso estudo, precisamos saber primeiramente
do que se tratam as Ciências Forenses. A palavra FORENSE é proveniente do
latim e significa “respeitante ao fórum judicial”. Portanto, toda Ciência a qual seus
conhecimentos podem ser utilizados para a elucidação de questões de interesse
judicial recebe essa terminologia, como por exemplo, Biologia Forense,
Entomologia Forense, Botânica Forense, Engenharia Forense, Química
Forense, Balística Forense, e assim por diante. Dessa forma, as Ciências
Forenses relacionam a Ciência e a Justiça, sendo de inegável contribuição para
a sociedade na resolução de crimes e na busca pela verdade dos fatos.
É justamente neste contexto que se insere a Criminalística, um dos
princípios das Ciências Forenses, sendo uma ciência autônoma, alimentada
pelas mais diversas áreas do conhecimento.

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A Criminalística é uma ciência autônoma que surgiu a partir da medicina


legal, recebendo a contribuição principalmente das ciências naturais (Biologia,
Química, Física, Matemática).
Recebeu inúmeras definições ao longo de sua história, sempre sendo
correlacionada como uma ciência de importante contribuição para a investigação
criminal, de desenvolvimento de métodos científicos no combate e
esclarecimento de crimes.
Uma das primeiras definições da Criminalística foi de ninguém menos do
que HANS GROSS (1893), considerado o pai dessa Ciência pelas suas
contribuições, obras e ao utilizar o nome pela primeira vez na história:
“Criminalística é o estudo da fenomenologia do crime e dos métodos práticos de
sua investigação”.
Em 1947, criminalística foi conceituada no 1° Congresso Nacional de
Polícia Técnica, ocorrido em São Paulo, como sendo a “Disciplina que tem como
objetivo o reconhecimento e a interpretação dos indícios materiais extrínsecos,
relativos ao crime ou à identidade do criminoso”.
Portanto, a Criminalística estuda os vestígios/indícios materiais
extrínsecos (o exame dos vestígios intrínsecos, na pessoa, são da área Médico
Legal), objetivando também, segundo as palavras de Stumvoll (2010), além da
análise dos vestígios materiais, “as interligações entre eles, bem como dos fatos
geradores, a origem e a interpretação dos vestígios, os meios e modos como
foram perpetrados os delitos”.
Em outra definição recente do mestre JOSÉ LOPES ZARZUELA (1995),
“a Criminalística constituiu o conjunto de conhecimentos científicos, técnicos,
artísticos, destinados à apreciação, interpretação e descrição escrita dos
elementos de ordem material encontrados no local do fato, no instrumento de
crime e na peça de exame, de modo a relacionar uma ou mais pessoas
envolvidas em um evento, às circunstâncias que deram margem a uma
ocorrência, de presumível ou de evidente interesse judiciário”.

Fique atento
Em resumo, a Criminalística é considerada uma disciplina autônoma,
regida por princípios, postulados, métodos próprios, alimentada por diversas

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áreas do conhecimento (multidisciplinar), com independência das demais,


voltada para o estudo (observação, análise, interpretação) dos elementos
materiais extrínsecos relacionados a um fato criminoso.

Fique atento
CRIMINALÍSTICA ≠ CRIMINOLOGIA
A Criminologia (crimen=delito + logo=tratado, estudo) pode ser
considerada como uma ciência que estuda o crime, o criminoso, a vítima
(Vitimologia) e o controle social dos delitos, buscando compreender os fatores
causais e as interações entre esses objetos e todos os fenômenos relacionados.

A Criminalística é uma ciência que tem por objetivos:


• dar a materialidade do fato típico, constatando a ocorrência do
ilícito penal;
• verificar os meios e os modos como foi praticado um delito, visando
fornecer a dinâmica do fenômeno;
• O reconhecimento e a interpretação dos indícios materiais
extrínsecas;
• indicar a autoria do delito, quando possível;
• Interpretar os elementos que conduzam à identificação do agente;
• elaborar a prova técnica, através da indiciologia material.

Princípios Fundamentais da Criminalística

PRINCÍPIO DA OBSERVAÇÃO: conhecido também como Princípio da


Troca de Locard. “Todo contato deixa uma marca”.
PRINCÍPIO DA ANÁLISE: Metodologia científica -> “a análise pericial
deve sempre seguir o método cientifico”;
PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO (INDIVIDUALIDADE): “dois objetos
podem ser indistinguíveis, mas nunca idênticos” (também conhecido como
Princípio de Kirk);

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PRINCÍPIO DA DESCRIÇÃO: “o resultado de um exame pericial é


constante com relação ao tempo e deve ser exposto em linguagem ética e
juridicamente perfeita”;
PRINCÍPIO DA DOCUMENTAÇÃO: Cadeia de custódia da prova
material. “Toda amostra deve ser documentada, desde seu nascimento na cena
do crime até sua análise e descrição final, de forma a se estabelecer um histórico
completo e fiel de sua origem”.

Postulados da Criminalística

I) O conteúdo de um LAUDO PERICIAL É INVARIANTE COM RELAÇÃO AO


PERITO CRIMINAL QUE O PRODUZIU.
Como o perito possui um compromisso com a verdade e a verdade é uma
só, peritos diferentes não podem se desentender em suas conclusões, pois o
resultado deve ser imparcial e não depender de opiniões pessoais. “A perícia
vale o que vale o perito”, como bem ilustra o grande mestre Nerio Rojas em sua
célebre frase: “O dever de um perito é dizer a verdade; no entanto, para isso é
necessário: primeiro saber encontrá-la e, depois querer dizê-la. O primeiro é um
problema científico, o segundo é um problema moral”.

II) As CONCLUSÕES de uma perícia criminalística SÃO INDEPENDENTES


DOS MEIOS UTILIZADOS PARA ALCANÇÁ-LAS.
As conclusões de uma perícia deverão ser constantes,
independentemente das técnicas e/ou métodos cientificamente comprovados e
aplicados para alcançar os resultados. Novamente, a verdade é uma só e deverá
ser encontrada ao final mesmo seguindo por caminhos (metodologias)
diferentes. Se um perito utilizar o método A e depois usar o método B, as
conclusões deverão ser as mesmas (evidentemente que se deve considerar a
limitação de cada metodologia, precisão e sensibilidade do método, dentre
outros fatores).

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III) A perícia criminal É INDEPENDENTE DO TEMPO.


A verdade é imutável em relação ao tempo decorrido. "O tempo que
passa é a verdade que foge” diz respeito à dificuldade de realizar a perícia
conforme a progressão temporal; mas independentemente da dificuldade de se
atingir os resultados, a verdade é uma só e sempre será a mesma com o passar
do tempo. A verdade é perene!

INVESTIGAÇÃO CRIMINAL CONSTITUCIONAL:


CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO E SUA TRÍPLICE
FUNÇÃO

Até o atual momento não há na legislação brasileira e nenhum


dispositivo legal que defina o conceito de investigação criminal. A Constituição

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Federal, o Código de Processo Penal e a Lei 12.830/13, embora façam


menção à atividade de investigação criminal, não dizem exatamente o que seja.

Portanto, do ponto de vista normativo, não há conceito taxativo de


investigação criminal. Da leitura dos dispositivos legais referidos é possível
inferir-se, unicamente, que a investigação criminal tem como finalidade a
apuração das infrações penais e que essa incumbência é atribuição da polícia
judiciária.

A investigação criminal é o ponto de partida da persecução penal. É o


princípio da atividade de verificação de determinado fato, supostamente
criminoso.

Observa-se que, mesmo fora do processo-crime, a investigação, em si,


enquanto gênese do saber e do conhecimento, é o ponto de partida de todas
as coisas que o homem pretende ter conhecimento. Ou seja, tudo se motiva do
saber e o homem está sempre atrás do conhecimento. A investigação, assim,
é a pesquisa, a atividade de busca do saber, seja por curiosidade ou satisfação
do intelecto.

No direito criminal, entretanto, muito além da investigação que visa o


aprendizado de algo para fins de satisfação pessoal, há a necessidade dessa
atividade, determinada e disciplinada por lei, objetivando a satisfação do
interesse público. A investigação surge, assim, como mandamento
imprescindível do sistema de justiça criminal, pois espelha a "necessidade de
pesquisa da verdade real e dos meios de poder prová-la em juízo", viabilizando
a correta aplicação da lei penal.

A investigação criminal transpassa todo o procedimento de apuração da


responsabilidade penal do sujeito praticante de um crime, pois, em um primeiro
momento, inicia a busca pelo conhecimento do fato e todas as suas
circunstâncias e, a posteriori, possibilita sua análise pelos atores do sistema de
justiça criminal, possibilitando a experimentação da verdade provável, com
base nos elementos que se obteve nesse processo.

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Feitas essas apurações, pretendemos fornecer a conceituação de


investigação criminal sob dois aspectos: prático e jurídico.

Sob o aspecto prático, classificamos a investigação criminal como o


conjunto de diligências preliminares devidamente formalizadas que, nos limites
da lei, se destinam a apurar a existência, materialidade, circunstâncias e autoria
de uma infração penal, coletando provas e elementos de informações que
poderão ser utilizadas na persecução penal.

Do ponto de vista jurídico, a investigação criminal é por nós definida


como a atividade estatal destinada a elucidação de fatos supostamente
criminosos, apresentando "tríplice funcionalidade", i.e, na apuração desses
fatos, a investigação criminal possui três funções: evitar imputações infundadas
(função garantidora); preservar a prova e os meios de sua obtenção (função
preservadora); propiciar justa causa para a ação penal ou impedir sua
inauguração (função preparatória ou inibidora do processo criminal).

Destacamos que esse tríplice funcionalidade da investigação criminal,


por nós sustentada, é um mandamento implícito do sistema constitucional, de
modo que a "função unidirecional da investigação criminal", sustentada
massivamente pela doutrina clássica, ao nosso sentir, está separada dos ideais
do Estado Democrático de Direito.

A oportuna investigação criminal pressupõe que o Estado respeite os


postulados constitucionais e os direitos individuais, uma vez que “os direitos e
garantias fundamentais atuam como disposições legais de caráter negativo, na
medida em que dizem o que não se pode fazer na investigação criminal”.

Nesse ponto de vista, entendemos que a investigação criminal oficial, de


cunho constitucional, não pode ser percebida unicamente como preparatória
do processo-crime, mas sim de acordo com a tríplice funcionalidade por nós
referida.

O texto constitucional é claro ao referir que, como regra, a apuração de


infrações penais e a execução das funções de polícia judiciária competem à

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Polícia Federal e às Polícias Civis, reservando às Polícias Militares o


policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública.

Cabe à Polícia Federal, órgão mantido pela união, “apurar infrações


penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas,
assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo dispuser em lei”, bem como
“exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União”.

Quanto à Polícia Civil, menciona a Lei Maior o seguinte: “às polícias civis,
dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares”.

As atribuições dos órgãos de segurança pública estão listadas, de forma


clara, no texto constitucional, não deixando margens para dúvidas de qual é o
papel de cada instituição na tarefa de prevenir e reprimir as infrações penais,
de modo que a atividade de investigação criminal pertence à polícia judiciária.

Nessa direção, ainda, refere o artigo 4º, caput, do Código Penal que “a
polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas
respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da
sua autoria”.

Cumpre ressaltar, também, a redação legal do artigo 2º, caput, da


Lei 12.830/13, o qual refere que "as funções de polícia judiciária e a apuração
de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza
jurídica, essenciais e exclusivas de Estado", bem como do seu § 2º, de onde
se extrai que "ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe
a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro
procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das
circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais" .

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Repare que tanto a regra prevista no caput do art. 4º do Código de


Processo Penal, quanto as regras inseridas no art. 2º da Lei 12.830/13 mantém
um vínculo harmônico e simétrico com a Constituição Federal, ao passo que
demostram a sua opção pela condução da investigação criminal pela polícia
judiciária, e, para nós, nem poderia ser diferente, pois
a Constituição representa o “topo hermenêutico que conformará a
interpretação jurídica do restante do sistema”.

É necessário reconhecer, assim, que, com base nas normas acima


mencionadas, a investigação criminal é atribuição da polícia judiciária,
representada por organismos sociais cuja função, por excelência, é a apuração
da materialidade e autoria das infrações penais.

Veja-se que quando a Lei Maior faz essa afirmativa, de forma clara, ela
está expressando que a atividade investigativa, no âmbito criminal, será
realizada pelas instituições que carregam em seu bojo as atividades de polícia
judiciária, i.e., a Polícia Federal e as Polícias Civis, nas suas respectivas áreas
de atuação.

Cumpre referir que, mesmo diante dos comandos constitucionais que


definem as atribuições dos órgãos estatais, o Supremo Tribunal Federal firmou
o entendimento de que o Ministério Público pode conduzir investigações de
natureza criminal, por meios próprios, sendo que, conforme demonstramos, ao
nosso ver, inexiste comando legal autorizando tal inferência.

Delineado o cenário constitucional em que se desenha a investigação


criminal, bem como feita referência às leis infraconstitucionais que, baseadas
nas disposições da Constituição Federal, disciplinam o assunto,
estabelecemos que a investigação criminal, atualmente, pode ser dividida em
três espécies.

a) Investigação criminal autêntica ou pura: Inclui-se nesta


classificação a investigação criminal autorizada e legalizada pela Constituição
Federal, conduzida pela polícia judiciária, sob a presidência de um delegado
de polícia de carreira. Diz-se autêntica ou pura porque se trata do modelo

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padrão de investigação criminal adotado pela Constituição. É a investigação


criminal genuína.

b) Investigação criminal derivada: Insere-se nesta classificação a


investigação criminal igualmente mencionada no texto constitucional como
exceção ao modelo padrão. Conforme apontamos, a Constituição não conferiu
o monopólio da investigação criminal à polícia judiciária, havendo duas
exceções, nas quais a atividade de investigação criminal poderá não ser
desempenhada pela polícia judiciária, quais sejam: a apuração das infrações
penais militares e as apurações das comissões parlamentares de inquérito.
Diz-se derivada porque deriva do modelo padrão e possui, igualmente,
sustentação constitucional.

c) Investigação criminal não autêntica ou impura: Enquadra-se nesta


classificação qualquer outra forma de investigação criminal levada a cabo fora
dos padrões estabelecidos pela Constituição Federal, independentemente da
instituição que a realize, pois, diante da inexistência de mandamento
constitucional que lhe confira legitimidade, se apresenta como forma de
flexibilização negativa das garantias fundamentais. Diz-se não autêntica ou
impura porque não possui previsão constitucional.

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MÓDULO DIDÁTICO 1: COMO INVESTIGAR – O


CASO DAS IMPRESSÕES DIGITAIS NA CENA DO
CRIME

Nesse módulo iremos debater as técnicas que podem ser usados para o
reconhecimento de impressões digitais e como podemos analisa–lá.

Técnica do Pó

Sendo a mais utilizada entre os peritos, é usada quando as impressões


localizam–se em superfícies que possibilitam o decalque da impressão, ou seja,
superfícies lisas, não rugosas e não adsorventes. A adsorção é um
acontecimento caracterizado pela fixação de moléculas de uma substância (o
adsorvato) na superfície de outra substância (o adsorvente). Quando a
impressão digital é recente, a água é o principal composto no qual as partículas
de pó aderem. À medida que o tempo passa, os compostos oleosos, gordurosos

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ou sebáceos são os mais importantes. Esta interação entre os compostos da


impressão e o pó é de caráter elétrico, tipicamente forças de van der Waals e
ligações de hidrogênio.

Coleta de impressões digitais I

Material: um pedaço de carvão, graal e pistilo, uma folha de papel e um


rolo de fita adesiva transparente.

Procedimento: Pegue um pedaço de carvão e triture–o muito bem até


obter um pó muito fino. Borrife o pó sobre a superfície que pode conter
impressões digitais, e retire o excesso um pequeno pincel. A seguir, recolha a
impressão digital com fita adesiva e cole–a em um papel branco para depois ser
associada com a impressão digital de possíveis suspeitos.

Produção de um Pó Orgânico

Material: 1 g de brometo de potássio, 25 mL de água destilada, 35 g de


amido de milho, bastão de vidro, erlenmeyer de 100 mL, copo de Becker de 250
mL, graal e pistilo.

Procedimento: Um deles seria dissolver 1 g de brometo de potássio em


25 mL de água destilada. Em seguida, lentamente, dissolve–se 35 g de amido
de milho na solução aquosa de brometo de potássio. Esta mistura é deixada
secar por setes dias e após é reduzida a pó. Este, por sua vez, é conservado em
um recipiente contento sulfato de cálcio anidro como dessecante.

Técnica do Nitrato de Prata

O Nitrato de Prata reage com cloretos de secreções da pele, com um


resultado da revelação de cor acinzentada quando exposto à luz. Após a
revelação, a impressão deve ser fotografada imediatamente, pois muito
frequentemente a reação acaba preenchendo a região vazia entre as cristas

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papilares, e assim forma–se um borrão. Indicada para superfícies porosas,


plásticos e madeira não envernizada. Se manuseada com outros reagentes
devem ser empregadas após aplicação do iodo e da Ninidrina. Seu resultado
também é inócuo em artigos que tiverem sido expostos à água.

Ao trabalhar com o iodo é necessário seguir algumas instruções: usar


luvas, roupas limpas que cubram todo o corpo e óculos de proteção como forma
de proteger a sua pele e seus olhos, e tomar cuidado quanto à inalação, pois o
vapor de iodo é bastante irritante.

Coleta de impressões digitais II

Material: solução de nitrato de prata 5%, borrifador, vidro de relógio.

Procedimento: Borrife a solução de nitrato de prata sobre a superfície


suspeita. Outra opção é colocar a superfície suspeita em uma cuba (ou vidro de
relógio, ou copo de Becker de boca larga) contendo solução de AgNO 3 5%
durante aproximadamente 30 segundos. A reação entre o sal do suor e o
reagente químico, o nitrato de prata, formará um composto, como mostra a
Figura 1, que vai ter precisamente a forma das impressões digitais.

Com exceção dos cloretos de prata, mercúrio e chumbo, todos os outros


são solúveis em água. É exatamente uma destas exceções, o cloreto de prata,
que permite a visualização da impressão. Na figura 1, "XCl(aq)" representa
qualquer sal de cloro excetuando os já mencionados, como o cloreto de sódio
dissolvido [NaCl(aq)]. Deve–se deixar a superfície contendo a impressão secar
em uma câmara escura. Após isto, ela é exposta à luz solar o tempo necessário
para que o íon prata seja reduzido à prata metálica, revelando a impressão sob

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um fundo negro. A impressão digital revelada deve ser fotografada rapidamente


antes que toda a superfície escureça.

Técnica do Iodo

O iodo tem como característica a sublimação, ou seja, passagem do


estado sólido diretamente para o estado vapor. Para esta mudança de estado, o
iodo precisa absorver calor. Este calor pode ser, por exemplo, o do ar que
expiramos ou até mesmo o calor de nossas mãos direcionado sobre os cristais.
Seu vapor tem coloração acastanhada e, quando em contato com a impressão,
forma um produto de coloração marrom amarelada, como demonstra a Figura 2.
O vapor interage com a impressão através de uma adsorção física, não havendo
reação química. Um benefício que esta técnica tem em relação às demais, como
a do pó, é que ela pode ser utilizada antes de outras.

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Coleta de impressões digitais III

Material: iodo (I2), saco plástico.

Procedimento: Esta técnica é utilizada geralmente quando a impressão


encontra–se em objetos pequenos. Colocando–se o material a ser examinado
junto com os cristais em um saco plástico selado, após agitação é produzido
calor suficiente para a sublimação dos cristais.

Técnica da Ninidrina

A ninidrina reage com aminoácidos para produzir um produto de reação


com coloração roxa, como mostra a Figura 3. Apropriado para superfícies
porosas, o tempo de revelação médio é de 10 dias, podendo ser acelerado com
aplicação de calor e umidade. Se utilizada em conjunto com outras substâncias
químicas, deve ser empregada depois do iodo e antes do nitrato de prata. Muito
utilizada pelas polícias técnico–científicas, seu resultado é inócuo em artigos que
tiverem sido expostos à água.

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Preparação da solução de ninidrina

Materiais: 0,5 g de ninidrina, 30 mL de etanol anidro, erlen–meyer de 100


mL.

Procedimento: Dissolva a ninidrina no etanol anidro, utilizando um


erlenmeyer de 100 mL. Esta mistura pode ser armazenada em um borrifador. O
líquido deve ser borrifado a cerca de 15 cm da superfície. Espere alguns
instantes até a evaporação do solvente, repetindo a operação quantas vezes
forem necessárias.

Técnica do DFO

O DFO (diazafluorenona) é uma substância com alta capacidade de


revelação (em torno de dez vezes comparado à ninidrina). Muito aplicada em
superfícies porosas (como papel e cartolina), sua reação pode ser acelerada
através de aplicação de calor (requer o emprego de câmara de vaporização). Se
for empregada em processos que incluam a ninidrina, o DFO deve ser utilizado
antes desta. Muito útil também para revelar manchas de sangue, sua aplicação
demanda a utilização de uma fonte de luz do tipo azul forense.

Preparação do DFO

Materiais: 50 mg de DFO, 4 mL de metanol, 2 mL de ácido acético glacial,


100 mL de freon, pipetas volumétricas de 2 mL, proveta de 100 mL, erlenmeyer
de 250 mL.

Procedimento: Mistura–se o DFO ao metanol e ao ácido acético. Após a


dissolução do DFO, dilui–se a solução em 100 mL de freon.

Instruções para analisar as impressões digitais

Para que seja possível identificar/descobrir a quem pertence cada uma


das impressões digitais recolhidas em uma cena de crime ou situação
semelhante, será necessário equiparar com as digitais de uma base de dados,

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tentando encontrar os traços característicos de cada uma para chegar ao


possível suspeito. Para isso o professor ou quem desejar realizar esse tipo de
atividade deverá criar seu próprio banco de dados, recolhendo impressões
digitais de diversas pessoas e as mesmas podem ser organizadas em fichas que
contenham algumas informações, por exemplo, impressão digital, nome, idade,
altura, data de nascimento, como se fosse uma ficha cadastral.

Na análise das impressões digitais a comparação é desenvolvida a partir


de 6–7 pontos–chave (intersecção, centro, bifurcação, fim de linha, ilha, delta e
poro) escolhidos dentre os traços mais característicos. Se todos coincidirem
temos a chamada: "Correspondência Positiva". Além desses pontos chaves para
examinar as impressões digitais também são consideradas as linhas que formam
nossos dedos. Por exemplo, arco, presilha interna, presilha externa e verticilo.

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MÓDULO DIDÁTICO 2: COMO INVESTIGAR – AS


PEGADAS NA CENA DO CRIME

Provas por impressão – moldes de gesso

Ao abordar uma cena de crime com a intenção de registrar provas por


impressão, pegadas, a primeira coisa a se fazer é entrar, procurando impressões
e reconstruindo os eventos do crime com todo o seu conhecimento. Desse modo,
é possível indicar os fatos importantes como a direção de viagem ou o número
de suspeitos na cena.

Procedimento:

1) Descubra e escolha uma pegada nítida e coloque/prenda uma tira de


cartolina à sua volta, de modo a formar um círculo que contorne a pegada e
enterre–o no terreno. Prenda–a com um clipes ou grampeador.

2) Prepare o gesso. Ponha um pouco de água num balde, adicione o pó


de gesso e mexa bem. Em seguida despeje o gesso na marca da pegada e deixe
secar durante 15 minutos.

3) Desenterre o molde de gesso e a terra à sua volta. Envolva o molde em


papel de jornal. E deixe–o durante um dia para solidificar.

4) Quando o gesso estiver duro, desprenda a cartolina e lave o molde


debaixo de água corrente, utilizando uma escova de dentes velha. O molde final
será uma cópia exata da pegada de uma das pessoas que esteve na cena do
crime e que pode auxilia–ló a desvendar o caso.

Outro tipo de análise que pode ser executada é quanto ao tipo de pegada.
Dessa forma, por meio de uma pegada, usando a fórmula mostrada a seguir, é
possível calcular o número do calçado/sapato de uma determinada pessoa (S)
com o auxílio de uma fórmula matemática. Para isso é necessário medir (em
centímetros) o tamanho da pegada (p).

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Instruções para Analisar as Pegadas

Para que seja possível reconhecer a quem pertence os moldes das


pegadas coletadas na cena do crime, será necessário conferir com os "calçados"
de uma base de dados, tentando encontrar traços característicos de cada uma
para chegar ao possível suspeito, assim como nas impressões digitais. Além
disso, por meio das pegadas encontradas em uma cena de crime também se
pode realizar outros tipos de análises. Por exemplo, fazer uma reconstrução da
cena, no sentido de tentar identificar o sentido/direção dessas pegadas, a fim de
compreender qual foi o caminho realizado pelo possível suspeito ou pessoas
envolvidas, o que pode ajudar na análise final do caso.

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MÓDULO DIDÁTICO 3: COMO INVESTIGAR –AS


MANCHAS DE SANGUE NA CENA DO CRIME

Os vestígios de sangue podem determinar várias informações importantes


de um crime, de acordo com o lugar onde ele cai, da maneira como cai, da
consistência, do tamanho e do formato das gotas ou pingos de sangue.

Primeiro Passo: Como fazer para identificar se a


Substância Encontrada na Cena do Crime é Sangue ou
Não?

Quando uma provável mancha de sangue é coletada, a mesma é levada


a testes de presunção. Esses são geralmente catalíticos e envolvem o uso de
agente oxidante. Um exemplo é o reagente de Kastle–Meyer, um indicador que
pode mudar de cor (ou luminescente) e que sinaliza a oxidação catalisada pela
hemoglobina. Se a amostra for de sangue, esta terá, necessariamente,
hemoglobina, a qual possui a característica de decompor o peróxido de
hidrogênio (comportamento de peroxidase) em água e oxigênio nascente. Então,
este oxigênio promoverá a forma colorida (rosa) do reagente fenolftaleína, como
mostra a Figura 4, evidenciando ao perito que a amostra pode conter sangue.

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A Figura 5 mostra o esquema das reações envolvidas nesse processo.

Da mesma forma que o reagente de Kastle–Meyer, o reagente de


benzidina baseia–se na catálise da decomposição do peróxido de hidrogênio em
água e oxigênio pela hemoglobina presente no sangue. O oxigênio formado irá
oxidar a benzidina, alterando–lhe sua estrutura, fenômeno que é perceptível, sob
o ponto de vista experimental, com o aparecimento da coloração azul da solução.

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No entanto, há casos em que a mancha não é explicita ou que o criminoso


limpe a cena do crime a fim de ocultar o acontecido. Como detectar rastros de
sangue, se estes não são visíveis a olho nu? Para estes casos, utiliza–se o
luminol, que reage com quantidades muito diminutas de sangue. É um composto
que, sob determinadas condições, pode fazer parte de uma reação
quimiluminescente. Sua sensibilidade pode chegar aos impressionantes
1/1.000.000.000, mesmo em locais com azulejos, pisos cerâmicos ou de
madeira, os quais tenham sido lavados. Ele é indicado para locais onde há
suspeita de homicídio e superfícies que, aparentemente, não exibem traços de
sangue.

Prática de Identificação de Sangue Visível –Reagente


de Benzidina

Materiais: 2 vidros de relógio; 2 hastes flexíveis com algodão; 2 espátulas;


0,16 g de benzidina cristalizada, 4 mL de ácido acético glacial e 4 mL de peróxido
de hidrogênio de 3 a 5%, 1 frasco lavador; 50 mL de água deionizada.

Procedimentos: Coletar duas amostras usando os vidros de relógio.


Molhar as amostras coletadas com água deionizada, em seguida misturar cada
uma das amostras de forma a ter uma mistura homogênea e colocar um pouco
de cada amostra nas hastes flexíveis. Pingar duas gotas de reagente sobre cada
amostra contida nas hastes e anotar o que ocorreu. Pingar duas gotas de
peróxido de hidrogênio em cada haste e anotar o que aconteceu.

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Parte B: O que o Sangue Encontrado na Cena do


Crime pode lhe mostrar?

As manchas podem auxiliar a recriar um crime por causa da maneira como


o sangue se comporta. Ele deixa o corpo como um líquido, seguindo as leis do
movimento, do atrito e da gravidade. Ao se movimentarem, as gotas assumem
a forma esférica por causa da tensão superficial. As moléculas do sangue são
muito coesas, ou seja, atraem umas às outras, pressionando até ficarem de um
formato com a menor área possível. Assim, por causa das leis anteriores, as
gotas se comportam de maneiras previsíveis quando caem sobre uma superfície
ou quando uma força age sobre elas.

Lembre–se do que acontece quando você derrama gotas de água sobre


o chão. O líquido cai devagar formando uma poça circular. O formato e o
tamanho dependem da quantidade de água derramada, da altura em que estava
o copo e se você derrubou sobre o carpete, madeira, ou alguma outra superfície.

Uma grande quantidade de água forma uma poça maior. E se cair de uma
longa altura terá um diâmetro menor. Em uma superfície dura irá manter uma
forma circular, enquanto o carpete absorve um pouco da água e faz as margens
aumentarem. O mesmo ocorre com o sangue, ou seja, a circunferência de uma
mancha de sangue ela tende a aumentar conforme aumenta a altura, como
mostra a Figura 7.

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Desta forma, podemos determinar a que distância da evidência de sangue


e onde possivelmente a pessoa se encontrava quando foi alvejada (deitada,
sentada ou em pé).

Parte C: O que os Respingos de Sangue podem lhe


indicar?

O sangue se comporta de maneira muito semelhante com as gotas de


água derramadas. Um respingo de baixa velocidade geralmente é o resultado de
gotas de sangue pingando, se a vítima é esfaqueada e anda pelo local
sangrando. A força do impacto é de 1,5 metros por segundo ou menos e o
tamanho dos pingos fica entre 4 e 8 mm. Respingos de sangue podem identificar
como a vítima estava na hora em que foi ferida. Um respingo de média
velocidade tem uma força entre 1,5 e 30,5 metros por segundo e o seu diâmetro
geralmente não é maior do que 4 mm. Esse tipo de respingo pode ser causado

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por um objeto sem ponta, como um bastão, ou pode ocorrer quando a pessoa é
espancada ou golpeada com faca.

Os respingos de alta velocidade geralmente são provocados por


ferimentos à bala, embora também possam ser causados por outras armas se o
agressor aplicar muita força. Eles se movimentam com uma velocidade maior do
que 30,5 metros por segundo e geralmente parecem com um borrifo formado por
gotas pequenas, com menos de 1 mm de diâmetro.

O tamanho e a força do impacto são apenas dois aspectos usados para


conseguir informações sobre os respingos de sangue. A seguir, vamos ver os
formatos e como os analistas usam fios, e funções para mapear uma cena do
crime.

Fios, Senos e Formatos dos Respingos

A técnica de colocar fios sobre cada respingo é apenas um modo de


determinar a área de convergência ou a fonte de sangue. Nesse método, que é
usado por vários analistas, o especialista documenta a localização de cada
respingo usando o sistema de coordenadas. A seguir, ele estabelece
uma base para demonstrar para onde o pingo está voltado em relação ao chão
e ao teto. Usando fios elásticos, o profissional coloca linhas a partir de cada
respingo até a base. Depois, usa um transferidor na base da área onde os fios
convergem para determinar o ângulo de lançamento de cada gota. Se estiverem
principalmente na parede, é provável medir a distância entre a área de
convergência e o objeto para descobrir onde a vítima estava.

Alguns analistas usam cálculos trigonométricos para descobrir a área de


convergência. As medidas da mancha de sangue se tornam os lados de um
triângulo retângulo: seu comprimento é a hipotenusa e a largura fica do lado
oposto ao ângulo que o analista está tentando descobrir, como mostra a Figura
8.

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Para isso, primeiramente é necessário descobrir cada mancha e medir o


comprimento e a largura delas usando uma régua ou compasso de calibre. Em
seguida, calcular o ângulo usando essa fórmula: ângulo de impacto = arco seno
(lado oposto/hipotenusa). Para que a fórmula funcione é preciso medir o
comprimento e a largura da mancha; dividir a largura da mancha pelo
comprimento e determinar o arco seno desse número (usando uma calculadora).

Uma gota de sangue que cai perfeitamente na vertical ou formando um


ângulo de 90° com a horizontal deixa uma mancha redonda. À medida que o
ângulo de impacto com a horizontal diminui, a mancha fica cada vez mais longa
e desenvolve uma "ponta" que indica a direção de lançamento da gota, como
mostra a Figura 9.

Quanto maior a diferença entre a largura e o comprimento, mais agudo


será o ângulo de impacto. Por exemplo, imagine uma mancha de sangue com 2
m de largura e 4 mm de comprimento. A largura dividida pelo comprimento seria
igual a 0,5. O arco seno de 0,5 é 30°, então o sangue caiu na superfície formando

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um ângulo de 30° com a horizontal. Em uma mancha com a largura de 1 mm e


comprimento de 4 mm, o coeficiente seria de 0,25. Nesse caso, o sangue caiu
na superfície formando um ângulo com cerca de 14° com a horizontal.

MÓDULO DIDÁTICO 4: COMO INVESTIGAR – AS


EVIDÊNCIAS DE BALÍSTICA NA CENA DO CRIME
Nesse módulo iremos examinar um pouco sobre alguns procedimentos
que podem ser usados quanto a evidências de balísticas e como podemos
examinar. Contudo, seria conveniente, primeiro estudar o que vem a ser uma
arma de fogo, do que ela é constituída, como é o seu funcionamento (mecanismo
de disparo), assim como, o cartucho.

Instruções para Análise

São inúmeros os procedimentos e as técnicas que podem ser utilizadas


na interligação entre a arma e o crime, algumas mais simples e outras de ordem
mais complexas, como mostraremos a seguir.

Identificação do Atirador pela Arma

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A identificação do atirador pela arma baseia–se no encontro de


impressões digitais deixadas nas armas (conforme detalhado no módulo 1).

Identificação da Arma pelo Projétil

Em primeiro lugar é necessário achar o projétil, em seguida, é necessário


examinar o projétil, verificando seu peso, formato, comprimento, diâmetro,
composição, calibre, raiamento, estriações laterais finas e deformações. Para se
obter a identificação da arma deve–se realizar tiros de prova, produzindo
projéteis da mesma forma, calibre, dimensões, constituição, do mesmo
fabricante, da mesma série que o projétil suspeito. Esses tiros de prova serão
disparados em saco de algodão ou em uma caixa d’água.

Os projéteis assim colhidos serão comparados com aqueles a serem


identificados, com o auxílio de lentes de aumento, do microscópio binocular e do
microscópio comparador.

Confronto Balístico

Quando um disparo é efetuado por uma arma de fogo, o projétil é expelido


pelo cano e sai na direção do alvo. Este projétil, por estar em contato direto com
a superfície interna do cano, passa a incorporar marcas e micro–estriamentos
em sua superfície. Sendo assim, uma alternativa para ligar a arma de fogo ao
crime é uma técnica utilizada pelos peritos chamada de Confronto Microbalístico.

Obtém–se, no caso, o projétil, após, faz–se testes com a(s) arma(s) de


fogo suspeita(s), disparando- a(s) em tanques de água, por exemplo, a fim de
obter o projétil sem deformações, a não ser as inerentes ao contato com as raias
ou superfície interna do cano. Após, com a ajuda de um microscópio óptico,
observa–se as micro–estrias dos dois projéteis (o retirado da vítima e o
produzido no tanque de água) e, através desta observação, pode–se ligar ou não
a arma ao crime.

O confronto microbalístico não se delimita apenas aos projéteis. Se


houver cápsulas de cartuchos deflagradas na cena do crime, é possível analisar
as marcas do percutor e as ranhuras produzidas na culatra. Seria como uma

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análise de impressão digital, onde cada arma produz um conjunto de micro–


estrias único. E esses, assim obtidos serão comparados com aqueles a serem
identificados, com o auxílio de lentes de aumento, do microscópio binocular e do
microscópio comparador.

Identificação da Arma pela Pólvora

A pólvora pode apresentar–se queimada ou não e pode ser encontrada


na cápsula, na arma ou no corpo ou vestes da vítima. O seu exame se faz através
do exame do sarro, que permite verificar se o disparo foi feito com pólvora negra
ou com pólvora piroxilada. Primeiramente, observa–se o aspecto da pólvora,
macroscópica e microscopicamente. A pólvora negra deixa no interior do cano
abundante resíduo preto, que passa em poucos dias a uma cor cinzento–
esbranquiçada, para depois tomar o aspecto avermelhado de ferrugem.

A pólvora piroxilada deixa pouco resíduo, de cor cinza escura, que não se
altera a não ser muito depois com a ferrugem. Em seguida, se realiza o exame
químico do sarro, no qual a parte interna do cano ou outro objeto qualquer é
lavado com água quente, sendo essa água de lavagem submetida à análise. O
líquido é filtrado e sua reação é verificada com a fenolftaleína: a pólvora negra
dá reação fortemente alcalina; a pólvora sem fumaça dá reação neutra. A análise
mostrará, no caso da pólvora negra, a presença de sulfetos, sulfatos,
tiossulfatos, carbonatos, tiocianatos, e também de carvão e enxofre. Com
relação à pólvora piroxilada, encontrar-se nitritos e nitratos.

Distância e Direção do Tiro

A determinação da distância do tiro pode ser calculada usando as


fórmulas mostradas na Figura 10, com as respectivas especificações e usando
as unidades do Sistema Internacional de Unidades.

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Com o objetivo de descobrir a posição do atirador no momento do disparo,


é necessário traçar uma circunferência com centro no alvo e raio igual à distância
calculada anteriormente. Em seguida, fazer uma reconstrução da cena levando
em conta a posição do corpo (alvo) e o local onde o projétil se encontra.

Resíduos de Arma de Fogo

No momento do tiro são expelidos, além do projétil, diversos resíduos


sólidos (provenientes do projétil, da detonação da mistura iniciadora e da
pólvora) e produtos gasosos (monóxido e dióxido de carbono, vapor d'água,
óxidos de nitrogênio e outros). Também integram a parte sólida dos resíduos
partículas constituídas pelos elementos antimônio (Sb), bário (Ba) e chumbo
(Pb), provenientes de explosivos como sais de chumbo, bário e antimônio, além
da composição da liga de projéteis e cartuchos. Parte desses resíduos sólidos
permanecem dentro do cano, ao redor do tambor e da câmara de percussão da
própria arma. Porém, o restante é projetado para fora, atingindo mãos, braços,
cabelos e roupas do atirador, além de se espalharem pela cena do crime.

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