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Criminalística e Investigação

Criminal
Sumário

UNIDADE 1 – Criminalística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
UNIDADE 2 – Metodologia de redação de laudos periciais . . . . . . . . . . . 33
UNIDADE 3 – Investigação policial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
UNIDADE 4 – Técnicas de Investigação Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
UNIDADE 5 – Limites da Investigação Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
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UNIDADE 1

Criminalística

Objetivos de aprendizagem
 Compreender a Criminalística como um conjunto de
conhecimentos científicos utilizados para a elaboração
da prova pericial.

 Estudar as perícias, os locais de crime e os


procedimentos empregados no exame de levantamento
de local, en fatizando a importância do isolamento da
área onde ocorreu o delito.

Seções de estudo
Seção 1 Criminalística: conceituação

Seção 2 Perícias

Seção 3 Locais do Crime

Seção 4 Levantamento pericial: procedimentos


empregados no exame do local
Para início de estudo
As Polícias Investigativas mais avançadas priorizam a prova
pericial, considerando que, por ser científica, é mais difícil de
ser refutada, contrariada. Também, as Polícias do Brasil que têm
como competência a apuração de crimes vem seguindo este norte.

Concebendo-se a perícia como prova primordial para a


elucidação dos delitos, o estudo da Criminalística afigura-se
como de extrema relevância.

Vamos ao estudo, então? Comecemos pelo conceito.

SEÇÃO 1 - Criminalística: conceituação


Não deve lhe ser novidade que a Constituição Federal de 1988
estabelece que a segurança pública, no nosso País, é dever de
Estado e é exercida por diversas Polícias. Em seu artigo 144, a
Carta Magna definiu as competências das Polícias, dispondo,
dentre outros, que o policiamento ostensivo, preventivo
compete à Polícia Militar e a apuração das infrações penais
compete às Polícias Federal e Civil, esta também chamada de
Polícia Judiciária. As competências das Polícias serão objeto de
discussão, porém, serão detalhadas posteriormente.

Você teve a oportunidade de ver, nos estudos anteriores, que a


Polícia Civil, via de regra, atua repressivamente, após a prática
do crime e o seu objetivo é a elucidação dos delitos, procurando
demonstrar a existência do fato criminoso, a autoria e estabelecer
as condições em que o crime ocorreu. Este trabalho é feito
através da investigação policial.

É interessante notar que a investigação policial é


formalizada através de peça preliminar e informativa
denominada inquérito policial, o qual subsidia o
processo criminal. Após a conclusão do inquérito
policial, este é remetido ao Poder Judiciário, que
poderá valer-se das provas amealhadas na fase policial
durante o processo criminal e na prolatação da
sentença.

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Neste contexto, o trabalho pericial é de suma importância, para
demonstrar materialidade e autoria do crime. Via de regra,
a perícia é realizada na fase policial, até porque muitas delas
necessitam serem feitas imediatamente ou logo após a prática do
crime.

As Polícias Investigativas mais avançadas do mundo têm como


prioridade o trabalho pericial, menos sujeito a falhas do que
a prova testemunhal. Acerca deste tema Espíndula (2002),
discorre:

(...) a prova pericial é produzida a partir de


fundamentação científica, enquanto que as chamadas
provas subjetivas dependem do testemunho ou
interpretação das pessoas, podendo ocorrer uma série de
erros, desde a simples falta de capacidade da pessoa em
relatar determinado fato, até o emprego de má-fé, onde
exista a intenção de distorcer os fatos para não se chegar à
verdade. (ESPÍNDULA, 2002:22).

É importante notar, ainda, que no sistema processual penal


brasileiro, as pessoas ouvidas na Delegacia de Polícia são
reinquiridas em Juízo, o que pode relativizar o valor probatório
do que foi dito na fase policial. Já a prova técnica é científica,
objetiva, portanto, mais difícil de ser contestada.

No Brasil não há hierarquia entre as provas e o Juiz


pode decidir de acordo com a sua consciência, desde
que o faça motivadamente. É o chamado sistema da
persuasão racional adotado pelo artigo 157 do Código
de Processo Penal Brasileiro.

Desse modo, temos um sistema processual penal que permite


todos os meios de prova, a princípio, com o mesmo valor
probatório. Ocorre que analisando as sentenças criminais verifica-
se a prevalência da prova pericial sobre as demais, pelos motivos
já expostos.

Os laudos periciais são realizados através de conhecimento


advindo da Criminalística. A Enciclopédia Saraiva de Direito
conceitua Criminalística como sendo:

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(...) Conjunto de conhecimentos que, reunindo as
contribuições das várias ciências, indica os meios
para descobrir crimes, identificar os seus autores e
encontrá-los, utilizando-se de subsídios da química,
da antropologia, da psicologia, da medicina legal, da
psiquiatria, da datiloscopia, etc., que são consideradas
ciências auxiliares do Direito penal. (ENCICLOPÉDIA
SARAIVA DE DIREITO, v. 21, 1997:486).

Segundo Gilberto Porto, Criminalística pode ser conceituada


como:

(...) sistema que se dedica à aplicação de faculdades de


observação e de conhecimento científico que nos levem
a descobrir, defender, pesar e interpretar os indícios de
um delito, de molde a sermos conduzidos à descoberta
do criminoso, possibilitando à Justiça a aplicação da justa
pena”. (PORTO, Gilberto, 1960, p.28)

José Del Picchia Filho (1982), preferiu abordá-la como disciplina

(...) que cogita do reconhecimento e análise dos


vestígios extrínsecos relacionados com o crime ou com
a identificação de seus participantes. (DEL PICCHIA
FILHO, 1982, p.5).

Segundo Garcia, Criminalística

(...) trata da pesquisa, da coleta, da conservação e do


exame dos vestígios, ou seja, da prova objetiva ou
material no campo dos fatos processuais, cujos encargos
estão afetos aos órgãos específicos, que são os laboratórios
de Polícia Técnica. (GARCIA, 2002, p.319).

A Criminalística é também denominada Polícia


Científica, Polícia Técnica ou Policiologia, e difere
da Criminologia que estuda o perfil do criminoso,
e os motivos que o levaram à prática do crime.
São disciplinas que integram a Criminalística,
dentre outras, Locais de Crime, Medicina Legal,
Balística Forense, Papiloscopia, Documentoscopia,
Odontologia Legal, Toxicologia Forense e
Hematologia Forense.

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Em Santa Catarina, o trabalho pericial é realizado pelo Instituto
Geral de Perícias, que apresenta o organograma abaixo:

Unidade 1 21
Você que reside em outro Estado, faça uma pesquisa sobre
o assunto. Como funciona o Instituto Nacional de Perícias?
Socialize a investigação no Espaço Virtual de Aprendizagem.
Use o espaço abaixo para registrar sua pesquisa.

Para ampliar seus conhecimentos sobre o conteúdo


tratado sugerimos:
DEL PICCHIA FILHO, José. Tratado de
documentoscopia. Editora Universitária de Direito:
São Paulo. 1982.
GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento
Policial. Inquérito - Procedimento Policial. 9 ed.
Goiânia: AB Editora. 2002 p. 319.
PORTO, Gilberto. Manual de Criminalística. Escola de
Polícia de São Paulo. 1960, p.28

- A seguir, você vai estudar o objeto que trata das provas e os


procedimentos de perícia.

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SEÇÃO 2 - Perícias
A investigação policial tem como foco a obtenção de provas
criminais que podem ser testemunhais e técnicas.

Prova Criminal é aquela utilizada para demonstrar ao


Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu e
das circunstâncias que possam influir no julgamento da
responsabilidade e na individualização das penas.

Você sabe a diferença entre provas criminais e


técnicas?

As provas técnicas são as perícias, realizadas por peritos


criminais, e são formadas pelas evidências materiais do crime.
As prova testemunhais são constituídas pelos depoimentos das
testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declarações das
vítimas e o interrogatório dos suspeitos ou indiciados.

Segundo Garcia (2002), perícia (...) é o conjunto de


técnicas usadas, visando provar a materialidade do
crime e apontar o autor. Um das perícias realizadas
trata-se do exame de corpo de delito. O corpo de
delito, por sua vez, é o conjunto de vestígios deixados
pelo criminoso.

Há diferenciação entre corpo de delito e exame de corpo de


delito. Segundo JESUS (2002), o exame de corpo de delito é um
auto em que se descrevem as observações dos peritos e o corpo de
delito é o próprio crime na sua tipicidade.

Nos crimes que deixam vestígios, o exame de corpo


de delito é obrigatório, sob pena de nulidade
processual, nos termos do artigo 158 do Código de
Processo Penal Brasileiro.

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Dispõe o artigo 167 do Código de Processo Penal Brasileiro:
“Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe
a falta”.

Portanto, havendo vestígios, o exame de corpo de delito é


imprescindível. Não havendo vestígios, a prova testemunhal é
apta a suprir o auto de exame de corpo de delito.

É importante ressaltar que o artigo 159 Código de Processo


Penal Brasileiro determina que todos os exames periciais,
inclusive o exame de corpo de delito, sejam realizados por dois
peritos oficiais, onde houver e, nos outros casos, as perícias
devem ser realizadas por duas pessoas idôneas, portadoras de
diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, entre as
que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame.

Para saber mais sobre o assunto que foi tratado


sugerimos:
DAMÁSIO, Jesus. Código de Processo Penal
Anotado. 18 ed. São Paulo: Saraiva. 2002. p.157.
GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento
Policial. 9 ed. Goiânia: AB Editora. 2002. p. 319.

SEÇÃO 3 - Locais do crime


Segundo Kedhy,

(...) local de crime é toda área onde tenha ocorrido um


fato que assuma a configuração de delito e que, portanto,
exija as providências da polícia. (KEDHY, 1963:11).

O exame de levantamento de local deve ser diferenciado de


acordo com a natureza da ocorrência. Dessa forma, há exame
de levantamento de local de homicídio, suicídio, afogamento,
furto qualificado, acidente de trânsito, dano, estupro, incêndio,
disparo de arma de fogo e outros.

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Isolamento e preservação das provas e vestígios essenciais à
investigação
O isolamento do local de crime é a primeira providência a ser
tomada e é responsabilidade dos policiais e peritos, que devem
sempre ter em mente a importância da proteção do local do
crime, para a preservação dos vestígios, e, conseqüentemente,
para a investigação criminal.

(...) isolamento é a proteção a fim de que o


local permaneça sem alteração, possibilitando,
conseqüentemente, um levantamento pericial eficaz.
(GARCIA, 2002: 324).

Esclarece Alberi Espíndula (2002) que:

(...) diante da sensibilidade que representa um local de


crime, importante destacar que todo elemento encontrado
naquele ambiente é denominado de vestígio, o qual
significa todo material bruto que o perito constata no
local do crime ou faz parte do conjunto de um exame
pericial qualquer, que, somente após examiná-los
adequadamente é que poderemos saber se este vestígio
está ou não relacionado ao evento periciado. Por
essa razão, quando das providências de isolamento e
preservação, levadas a efeito pelo primeiro policial, nada
poderá ser desconsiderado dentro da área da possível
ocorrência do delito (ESPINDULA, 2002: 3).

A alteração do local de crime é prevista como infração penal,


pelo artigo 166 do Código Penal:

Alterar, sem licença de autoridade competente, o aspecto


de local especialmente protegido por lei. Pena – detenção
de um mês a um ano e multa.

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O Código Brasileiro de Trânsito, no artigo 312, também
tipificou como crime a alteração de local de acidente de trânsito:

Inovar artificiosamente, em caso de acidente


automobilístico, com vítima, na pendência do respectivo
procedimento policial preparatório, inquérito policial ou
processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a
fim de induzir a erro o agente policial, o perito ou juiz:
Pena: detenção de seis meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único: Aplicar-se o disposto neste artigo, ainda
que não iniciados, quando da inovação, o procedimento
preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.

Dispõe o artigo 169 do Código de Processo Penal Brasileiro:

Para efeito de exame de local onde houver sido praticada


a infração, a autoridade providenciará imediatamente
para que não se altere o estado das coisas até a chegada
dos peritos, que poderão instruir seus laudos com
fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.

O artigo 6º do Código de Processo Penal enumera as


providências que devem ser tomadas tão logo o delegado de
polícia tenha conhecimento do fato delituoso. O inciso II deste
artigo menciona que a autoridade policial deve apreender os
instrumentos e todos os objetos que tiverem relação com o fato.
Não obstante, a prática demonstra que nada deve ser alterado
até a chegada dos peritos no local, e que apenas após o exame de
levantamento de local é possível a apreensão de qualquer material
encontrado na cena do crime.

Apenas a título de exemplo, um projétil, parte de uma munição


deflagrada, apreendido na cena do crime, pode vir a elucidar a
autoria de um homicídio. Através do Laudo de Comparação
Balística, tendo como objetos de exame o projétil e a arma de
fogo de um suspeito, é possível verificar se ele foi expelido pelo
cano daquela arma. Da mesma forma, um estojo, parte de uma
munição deflagrada, sendo objeto de exame com arma de fogo,
através de suas marcas de percussão, é possível constatar se foi
deflagrado por aquela arma.

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SEÇÃO 4 - Levantamento pericial: procedimentos
empregados no exame do local
O levantamento pericial é o trabalho pericial realizado nos locais
de crime. Após concluído, o levantamento pericial dá origem ao
laudo de exame de levantamento de local.

Segundo Garcia (2002), uma perícia completa de levantamento


de local necessita de várias fases a saber:

(...) isolamento, observações prévias ou exame do local,


fotografia, desenho ou croqui, coleta e embalagem
de evidências, transporte de evidências, exame das
evidências em laboratório, avaliação e interpretação, e
redação de laudo. (GARCIA, 2002:326).

Espíndula (2002) elencou alguns procedimentos a serem


realizados nos exames de locais de crimes contra a vida, que
podem ser, via de regra, utilizados em todos os exames de
levantamento de locais. São eles:

Procedimentos anteriores ao exame


a) anotação do endereço do fato;
b) preparação do material utilizado no exame;
c) reconhecimento do tipo de solicitação (natureza do
exame);
d) anotação do horário de solicitação do exame.

Exame preliminar da cena do crime: o que é


necessário fazer?

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 entrevista com o primeiro policial a chegar no local
do fato visando à tomada de informações relativas ao
histórico;
 visualização geral da cena do crime e verificação da
adequação do isolamento;
 escolha do tipo de padrão a ser utilizado na busca
de vestígios (em linha, em grade, em espiral, em
quadrantes, etc.);
 formulação dos objetivos do exame;
 busca de vestígios, que deve prever especial atenção às
evidências facilmente destrutíveis, tais como: marcas
de solado, impressões em poeira, dentre outras.

Anotações gerais da cena do crime: o que registrar?

 data e hora do início dos exames;


 localização exata do evento;
 condições atmosféricas;
 condições de iluminação;
 condições de visibilidade;
 completa análise das vias de acesso;
 descrição do local, com nível de detalhe exigido para
cada caso;
 condições topográficas da área.

Croqui da cena do crime: o que é e como fazer?

O croqui é o desenho do local do crime, devendo sempre ser


apresentado, independente da complexidade do local. Neste
desenho recomenda-se incluir:

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 dimensões de portas, móveis, janelas, caso necessário;
 distâncias de objetos até pontos específicos, como vias
de acesso (entrada e saída);
 distâncias entre objetos;
 medidas que forneçam a exata posição das evidências
encontradas na cena do crime;
 coordenadas geográficas em locais abertos (obtidas por
mapas ou GPS).

Qual a importância das fotografias da cena do crime?

As fotografias, internas e externas, são imprescindíveis para a


elaboração do laudo de exame de levantamento de local.

Segundo Garcia, a fotografia é o mais perfeito dos processos


de levantamento de local de crime, por tratar-se de uma
”reconstituição permanente da ocorrência, que irá permitir
futuras consultas”. (GARCIA, 2002:326).

Espíndula (2002), também discorre sobre o processamento do


local: coleta, identificação e preservação das evidências.

Quais os procedimentos de coleta?

Todas as evidências devem ser coletadas de forma legal, visando


à sua admissão como provas em um processo.

Os dois peritos de local devem efetuar a coleta de todas as


evidências.

As evidências devem ser anotadas no croqui e fotografas antes da


sua coleta.

Unidade 1 29
O que fazer na identificação?

Todas as evidências devem ser cuidadosamente identificadas. As


marcas identificadoras podem incluir iniciais, números, etc., os
quais permitam ao perito que realiza a coleta reconhecer, em data
posterior, cada evidência como aquela coletada na cena do crime.

Qual a importância da preservação?

Cada item das evidências deve ser colocado em um recipiente


ou invólucro adequado à natureza de cada material, tais como
sacos plásticos, envelopes de papel, caixas que necessitam ser
corretamente identificados e vedados ou lacrados;

Evidentemente, que técnicas especiais deverão ser aplicadas


de acordo com o delito praticado. Algumas recomendações
específicas deverão ser aplicadas nos locais de morte por
precipitação, por ação do calor, por arma de fogo, por
afogamento, por envenenamento, por aborto e outros.

- Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de Auto-


avaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos
acerca do assunto estudado.

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Síntese

Nesta unidade você teve a oportunidade de ver que, de acordo


com a Constituição Federal de 1988, que a atividade investigativa
criminal é realizada, dentre outros, pela Polícia Federal e pelas
Polícias Civis dos Estados, estas também chamadas de Polícias
Juridiciárias.

A atividade de investigação criminal consiste na apuração


dos crimes, que é feita através da busca de provas, periciais ou
testemunhais.

As provas periciais são técnicas, realizadas por peritos criminais


e são formadas pelas evidências materiais do crime. As
prova testemunhais são constituídas pelos depoimentos das
testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declarações das
vítimas e o interrogatório dos suspeitos ou indiciados.

A pesquisa, coleta e produção das provas periciais compete


à Criminalística. Via de regra, o trabalho pericial exige
imediatidade. A título de exemplo, o exame residuográfico
de verificação de pólvora exige a condução do suspeito
imediatamente após a prática do delito. O exame de lesões
corporais e de verificação de aborto exige lapso temporal curto
entre o crime e o exame.

Considerada a importância da prova pericial e científica é


imprescindível o isolamento e a preservação do local do crime.
Falhas no isolamento do local do crime podem impossibilitar
a produção da prova pericial. Vestígios deixados no local do
crime podem levar ao autor. Como exemplo, um simples estojo
componente de munição ou projétil componente de munição,
encontrado em local de homicídio mediante disparo de arma de
fogo, pode, através de perícia, ser prova crucial para demonstrar
autoria.

Unidade 1 31
Atividades de auto-avaliação

1) Analise as questões abaixo e assinale verdadeiro ou falso, conforme


a proposição. Confira se atendeu as expectativas no final do livro
didático.

( ) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a


apreensão de estojos no local não é importante, posto que não é
possível realizar perícia comparativa entre o estojo e a arma de fogo.

( ) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a


apreensão de projéteis no local possibilita a realização do laudo de
identificação de projéteis e, quando a arma é apreendida, o laudo de
comparação balística.

( ) O rol de provas elencados no Código de Processo Penal Brasileiro é


exemplificativo.

( ) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é


o da íntima convicção.

( ) A prova testemunhal pode suprir a prova pericial quando a infração


penal não deixar vestígios.

Saiba mais

Para saber mais sobre o conteúdo tratado acesse:

http://www.espindula.com.br e leia o artigo: Função pericial do


Estado.

http://www.abcperitosoficiais.org.br/arti.htm e leia o artigo:


Isolamento e preservação de locais de crime com cadáver.

32
2
UNIDADE 2

Metodologia de redação de
laudos periciais

Objetivos de aprendizagem
 Conhecer a forma como são elaborados os laudos
periciais.
 Conhecer alguns modelos de laudo pericial.

Seções de estudo
Seção 1 O Laudo pericial: caracterização

Seção 2 Modelos de laudo pericial


Para início de estudo
Todos aqueles que queiram se aprofundar no tema da segurança
pública têm, necessariamente, de saber acerca da importância da
prova pericial e conhecer a metodologia de redação dos laudos
periciais.

Cabe aos estudiosos do assunto segurança pública estarem aptos a


interpretar e avaliar laudos periciais, na sua forma e conteúdo.

SEÇÃO 1 - O Laudo pericial: caracterização


O laudo pericial deve ser simples e preciso, facilmente
compreendido e assimilado. Não deve tecer juízos de valor,
considerações subjetivas, mas fornecer objetivamente informações
técnicas.

Existem diversos tipos de laudos periciais, dentre eles podemos


destacar:

a) laudo de levantamento de local,


b) laudo de identificação de projétil, laudo de
comparação balística,
c) laudo de verificação de eficácia de arma de Fogo,
d) laudo de exame cadavérico, laudo de constatação de
danos, cada qual com as suas peculiaridades.

Não obstante, de forma geral, pode-se definir alguns requisitos


inerentes a todos os laudos.

Toccheto elenca alguns itens a serem preenchidos na elaboração


TOCCHETTO, Domingos e de laudo pericial relacionado a crimes contra o patrimônio, que,
ESPINDULA, Alberi. Criminalística. de forma geral, podem ser adotados na confecção dos demais.
Procedimentos e Metodologias, Veja quais são:
p.50-54.

34
1- Preâmbulo ou histórico.
2- Preliminares.
3- Objetivo da perícia ou quesitos.
4- Dos exames periciais.
5- Considerações técnicas ou discussão.
6- Conclusão e/ou respostas aos quesitos.
7- Fecho ou encerramento.
8- Anexos.

A seguir, você terá a oportunidade de conhecer cada um deles.


Vamos lá?

Preâmbulo ou Histórico
Discriminar a data, a hora e o local em que for elaborado o
laudo pericial, o nome do instituto e órgãos superiores aos
quais está subordinado, tipo de laudo, a data da requisição
e/ou solicitação, nome da autoridade que requisitou
e/ou solicitou a perícia, nome do diretor e dos peritos
signatários do laudo, bem como o objetivo geral dos
exames periciais.

Fazer, neste tópico, um pequeno histórico da requisição,


bem como uma síntese do fato que originou a requisição da
perícia e as providências tomadas referentes ao fato. Informações
fornecidas por autoridades, funcionários e proprietários devem ser
relatados neste item.

Preliminares
Neste tópico, o relator vai consignar as informações referentes
à preservação e isolamento do local e quaisquer outras
alterações que forem relevantes ao caso, ou que prejudicaram
o andamento dos trabalhos periciais. Nos casos de exames
em peças, este tópico destina-se à consignação de qualquer
fato conflitante entre a requisição e o objeto de exame, tais
como número de peças distinto do constante na requisição,
peças que não estão discriminadas, objetivos do exame
incompatíveis com o tipo de peça a ser examinada.

Unidade 2 35
Objetivo da Perícia ou quesitos
Descrever, conforme consta na requisição, quais os objetivos a
serem buscados na perícia, os quais deverão estar contidos na
requisição da perícia ou nos quesitos formulados. Não sendo
especificado na requisição os objetivos da perícia, é de bom
alvitre que os peritos descrevam com certa precisão quais são os
objetivos periciais pertinentes àqueles exames.

Dos Exames Periciais


Discriminar todas as técnicas e métodos empregados e os
respectivos exames levados a efeito naquela perícia. Não é
necessário que, nos exames periciais, constem de forma explícita
os subitens seguintes, mas seu conteúdo deve obrigatoriamente
integrar o texto relativo aos exames periciais:

a) do local: constitui a parte essencial. A descrição deve


ser metódica, objetiva, fiel, minuciosa, clara, síntese do
observado. Quando os fatos forem variados, convém
distribuí-los em capítulos conforme sua natureza e
interdependência. Evitar informações, discussões,
hipóteses, diagnósticos e conclusões;
b) dos vestígios: partindo-se das indicações (referências)
maiores para as menores (detalhes).

Descrever conforme a ordem de maior importância, como o


acesso ao terreno, ao prédio, ao cômodo, à gaveta, etc. Aqui
devem ser relacionados e devidamente descritos todos os vestígios
constatados no exame pericial. Deve-se ater somente à descrição
dos vestígios, deixando para o tópico seguinte a respectiva análise
e interpretação dos mesmos.

As técnicas ou métodos empregados devem


sempre partir do geral para o particular, de exames
macroscópicos para exames microscópicos. Quando
for empregada mais de uma técnica na realização de
um determinado exame, é preciso citá-la na ordem
em que a mesma foi aplicada.

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Considerações Técnicas ou Discussão
Do histórico e das descrições (local e vestígios) defluem as
conclusões. Porém, em certos casos há necessidade de
cotejar fatos, de analisá-los, dissipar dúvidas ou ajustar
obscuridades. Através da discussão asseguram-se
conclusões lógicas, afastando-se as hipóteses capazes de
gerar confusão, evidenciando-se aquelas que, depois de
cotejadas, conduzirão e subsidiarão a conclusão.

Buscar a coerência ou não dos elementos observados e


anteriormente citados. Confrontá-los com a normalidade.

Enfim, relatar neste tópico as análises e interpretações das


evidências constatadas e respectivos exames, de maneira a
facilitar a compreensão e entendimento por parte dos usuários do
laudo pericial.

Conclusão e/ou respostas aos quesitos


A conclusão pericial inserida no laudo pericial devem ser,
obrigatoriamente, uma conseqüência natural do que já fora
argumentado, exposto, demonstrado e provado tecnicamente nos
tópicos anteriores do laudo.

A conclusão deve obedecer a critérios técnicos conforme


já recomendados, ou seja: somente quando nos restar uma
possibilidade para aquele evento, sob a ótica técnico-científica é
que pode-se concluir de forma categórica.

Para chegar-se a essa única possibilidade, têm-se apenas duas


situações viáveis.

A primeira situação é quando, no conjunto dos vestígios


constatados e examinados, há um que, por si só, determinante.
Obviamente que vestígio determinante, neste caso, deve estar
caracterizado pela sua condição autônoma associada ao seu
significado no evento em estudo. Em muitos casos, este vestígio
determinante pode estar associado a outros elementos de
convicção técnico-científica. Veja exemplo para entender melhor
esse conceito.

Unidade 2 37
Impressão digital individualmente é um vestígio
determinante, mas, se for encontrado um desses
vestígios no local do crime, não quer dizer que foi
identificado o autor do crime e por conseqüência
trata-se de um homicídio.

Por outro lado, em um local de incêndio, a constatação de


múltiplos focos iniciais não é um vestígio determinante por si
só, mas se restar comprovado que tais focos eram isolados ou
incomunicáveis, e em conjunto com as observações anteriores,
nos locais correspondentes aos focos forem retiradas amostras
de materiais que apresentem resultados positivos em exames
laboratoriais, em pesquisa de vestígios de hidrocarbonetos
voláteis, o grau de clareza da ação dolosa será determinante para
a caracterização e materialização do delito.

A segunda situação em que os peritos poderão ter apenas


uma possibilidade será em um universo de vários vestígios,
onde nenhum deles por si só seja determinante, mas apenas
probabilísticos, e que, no seu conjunto de informações técnico-
científicas levem a uma única possibilidade.

Todavia, existem várias situações em que os peritos poderão ter


vários vestígios relacionados com o fato, onde nenhum deles por
si seja determinante. Neste caso, os peritos deverão apontar quais
são e descrevê-los. Existem, por vezes, situações em que, apesar
da existência de vestígios, mesmo analisando-os em seu conjunto,
não será possível chegar a uma definição quanto ao diagnóstico.
Neste caso, os peritos não poderão fazer qualquer afirmativa
conclusiva quanto ao fato, salientando que os vestígios existentes
são quantitativa e qualitativamente insuficientes para se chegar a
uma conclusão categórica.

Há, ainda, a situação na qual, através do seu exame ou de


sua análise, não se observem vestígios materiais capazes de
fundamentar uma conclusão. Neste caso deve-se constar no
laudo que, face à exigüidade de vestígios, não há elementos
técnicos através dos quais possa ser fundamentada uma conclusão
categórica.

38
Mesmo que não seja possível uma conclusão
categórica em uma determinada perícia, deve-se
constar no laudo o tópico correspondente e, nele
informada a impossibilidade de conclusão face aos
motivos que devem ser mencionados (exigüidade de
vestígios, falta de preservação, etc.) , de forma clara e
explicativa, porém, poderá ser levantada uma causa
mais provável.

Então, não sendo possível concluir um laudo pericial, para


auxiliar no contexto geral das investigações e, posteriormente, à
justiça, o perito deverá tomar todo o cuidado, tanto no exame
quanto no texto dessas argumentações.

Em alguns casos concretos, os peritos terão condições de eliminar


algumas admissibilidades ou hipóteses, e, com isso, delimitarem
o trabalho dos investigadores de polícia, e, posteriormente, da
justiça. A eliminação de algumas das possibilidades na verdade
é uma conclusão pela sua exclusão, e, portanto, deve seguir o
mesmo rigor técnico-científico já mencionado.

O técnico-científico se refere à técnica criminalística e o


científico às demais leis da ciência. O perito poderá se valer,
para as suas conclusões, ou de alguma técnica criminalística
já consagrada ou de alguma lei da ciência de qualquer área do
conhecimento científico, ou de ambas, de acordo com cada
situação.

Unidade 2 39
Fecho ou Encerramento
Analise um modelo de laudo e verifique os elementos que ele
contém.

Modelo de fecho ou encerramento de laudo pericial


Este laudo, composto por (...) páginas impressas em seu anverso, foi feito
em duas vias de igual teor, pelos peritos da Seção de Crimes Contra o
Patrimônio, estando ambas as vias autenticas com a rubrica dos seus
subscritores, acompanhadas pelos anexos (citar quais os anexos e o
número dos mesmos), bem como se devolve todo o material, descrito no
tópico documentos de exame, lacrados no envelope nº ..
Local e data
Nome dos peritos.
Classe e/ou cargo

Anexos
É necessário incluir, ao final, todos os anexos que foram
produzidos e que sejam necessários para acompanhar o laudo,
visando a melhor compreensão do mesmo, tais como, resultado
de exames complementares, fotografias, gráficos, relatórios de
outros peritos/profissionais, etc.

No entanto, considerando os avanços da informática, muitos


recursos gráficos podem ser inseridos ao lado, ou logo abaixo,
da parte do texto a que se refere tal assunto. Especialmente para
evidenciar algum detalhe que o texto esteja se referindo naquele
momento da argumentação. As fotografias, quando digitais ou
digitalizadas, podem seguir esse mesmo critério.

SEÇÃO 2 - Modelos de laudos Periciais


Seguem abaixo alguns modelos de laudos periciais. Este modelos
foram extraídos da obra “Inquérito e Procedimentos Policial”
(GARCIA, 2002:397-398, 415-416, 448-449).

Analise atentamente cada um deles:

40
a) LAUDO DE EXAME DE DOCUMENTOS
Aos... dias do mês de .... do ano de ....., nesta Capital, no Departamento de
Criminalística, pelo Diretor LL foram designados PP e PQ para proceder ao
exame pericial de documento, a fim de ser atendida requisição do Bel. AA,
Delegado Titular do 1ª DP, conforme Ofício nº ....

Peças Motivantes
Trata-se de manuscritos apostos em um pedaço de papel sem pauta
medindo aproximadamente 14,7 cm e 6,7 cm.
O documento encontra-se colado em uma folha de papel sem pauta
apresentando no canto superior direito “24-Z”.
Trata-se de envelope que apresenta manuscritos feitos com caneta dita
esferográfica, tinta preta. Encontra-se ele endereçado a SS e está colado a
uma folha em branco, apresentando no canto superior direito o n. “25-z”.

1. Peças Paradigmáticas
Como espécimes de confronto, contamos com padrões autênticos de JJ e
JL, contidos em Auto de Colheita de Material Gráfico Autêntico, coletados
pela Polícia Civil de São Paulo – DEGRAN – através do Dr. AB.

3 – Dos Exames
As peças motivantes e paradigmáticas foram examinadas a olho nu e por
meios óticos adequados em busca e de hábitos gráficos característicos
que, uma vez determinados, foram confrontados entre si para uma
possível origem comum ou não. Fotomacrografias foram tomadas, e
os assinalamentos necessários foram permitindo assim um controle da
conclusão pericial.

4 – Quesitos e Respostas
1º - O autor do Auto de Colheita de Material Gráfico Autêntico, JJ, é
também autor das escritas gravadas no bilhete de fls. 24, doc 05 e
envelope, doc06, fls. 25?
Resposta: sim
Para que dois grafismos sejam aceitos como do mesmo punho, é
necessário que em ambos os seguintes valores sejam convergentes:
A) habilidade gráfica;
B) hábitos gráficos;
C) que não haja divergências estruturais entre os dois grafismos.
(...)

Unidade 2 41
na carta de confronto em anexo, 01 a 07, os assinalamentos mais
preponderantes estão em quantidade e qualidade suficientes para
afirmarmos que as peças motivantes foram produzidas por JJ.
(...)
É o nosso relatório.

Obs: O material examinado é devolvido com o presente laudo.


Goiânia, ....... de....... de........

PP PQ
1º Perito 2º Perito

b) LAUDO DE EXAME DE ARMA DE FOGO


Aos ... dias do mês de .... do ano de ....., nesta Capital, no Departamento
de Criminalística da Diretoria Geral da Polícia Civil, pelo Diretor LL, foram
designados os peritos PP e PQ para proceder ao exame pericial em arma
de fogo, a fim de ser atendida requisição do Bel AA, Delegado do 1º
Distrito Policial, através do Ofício nº.
1 – Características das Peças Examinadas
Aos peritos foram apresentados sete cartuchos intactos e um estojo calibre
nominal 7.65 mm, de marca CBC, bem como uma arma de fogo, curta e
de porte, classificada como pistola semi-automática, tendo as seguintes
características:
a) Marca Beretta;
b) Fabricação italiana;
c) N de série 683C09;
d) Calibre nominal 7.65mm;
e) Mecanismo de percussão central, cão aparente e pino percursos
isolado;
f) Carregamento por pente;
g) Coronha guarnecida por talas de plástico pretas com inscrição “Cb.
BN”(lateral esquerda), bem como com o logotipo da marca da arma;
h) Dimensões: 8,5cm de comprimento de cano X13,5 de diagonal máxima;
i) Acabamento oxidado, em desgaste;

42
j) OBS: Foi utilizado um cartucho em disparo experimental
2 – Funcionamento da arma
O estado geral da arma é bom, não apresentando suas peças quaisquer
anomalias que impeçam seu funcionamento. Está apta à realização de
disparos
3 – Quesitos e Respostas
a) Quais as características da arma periciada?
Resposta_ ver item 1.
b) No estado em que se encontra, está em perfeitas condições de uso?
Resposta: Sim, ver item 2.
c) A munição que a acompanha é do mesmo calibre da arma, e qual o seu
estado?
Resposta: Sim, estado em condições de uso. Seu calibre corresponde ao da
arma, ou seja, 7,65mm.
d) Há evidências de disparo recente?
Resposta: Ver laudo químico.
e) O pedaço de chumbo pertence ao mesmo calibre da arma?
Resposta: O pedaço de chumbo a que se refere o quesito é um projétil
de arma de fogo calibre nominal 7.65mm, que, inclusive foi expelido pela
arma de fogo aqui periciada. Portanto, a resposta não só é afirmativa,
como também identifica a arma que o expeliu. Ver fotos 1 e 2.
É o relatório.
OBS: O material examinado é devolvido com o presente.
Goiânia,... de.... de ....

PP PQ
1º Perito 2º Perito

Unidade 2 43
c) LAUDO DE EXAME CADAVÉRICO
Aos... dias do mês de ... de ...., no Necrotério do Instituto Médico-Legal,
nós, médico-legistas que abaixo assinamos, atendendo à requisição da
Delegacia do 1º DP, procedemos ao exame CADAVÉRICO no cadáver que
nos foi apresentado como sendo de SS (qualificação completa), no qual
observamos:
Descrições das lesões: 1 – ferida pérfuro-contusa, medindo 0,8 cm
de diâmetro, com área de chamuscamento, localizada na região
bucinadora (cochecha) direita, com trajeto transfixando a língua e ramo
mandibular esquerdo, com saída na região bucinadora contra-lateral;
2 – ferida pérfuro-contusa, medindo 0,8 com de diâmetro, com área de
chamuscamento e câmara de mina, localizada na região parietal esquerda,
logo acima do pavilhão auricular (orelha), transfixante, com grande
destruição de massa encefálica, com saída na região carotideana direita,
logo abaixo do pavilhão auricular; 3 – sem outras lesões. Nada mais tendo
sido constatado, passamos a responder aos quesitos.
1º - Houve morte? Resposta: Sim, houve morte.
2º - Qual a causa da morte? Resposta: Hemorragia intracraniana
3º - Qual o instrumento ou meio que a produziu?
Resposta: Pérfuro-contundente
4º - Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel?
Resposta: Prejudicado
5º - Qual a data do óbito? (especificar hora, dia, mês e ano); Resposta:
Óbito dia .../.../..., às 17 h.
Dado e passado no Instituto Médico-Legal, em Goiânia, Capital de Goiás,
aos ... dias do mês de .... de ....

PP PQ
1º Médico-Legista 2º Médico-Legsita

44
d) LAUDO DE EXAME DE LESÕES CORPORAIS
Aos... dias do mês de ...., no Gabinete do Instituto Médico-Legal, nós,
médico-legistas que abaixo assinamos, atendendo à requisição da
Delegacia do 1º DP, procedemos ao exame de corpo de delito - LESÕES
CORPORAIS - a pessoa que nos foi apresentada como sendo SS
(qualificação completa), na qual observamos:
DESCRIÇÃO DAS LESÕES: 1 - cicatriz de ferida pérfuro-cortante, medindo
3 cm de extensão, localizada no hipocôndrio esquerdo, próximo ao
rebordo costal; 2- cicatriz de incisão cirúrgica, mediana, medindo 25 cm
de extensão, localizada na linha média do abdome; 3 – cicatriz de incisão
cirúrgica, medindo 2 cm de extensão, localizada no flanco esquerdo
(dreno); 4 – relatório de lesões, cujo teor é o seguinte: “Aos .../.../..,
examinei SS e constatei o seguinte: estado geral comprometido. Lesões
apresentadas: 1 – ferida penetrante no abdome, no hipocôndrio esquerdo;
2 – choque hipovolêmico, Instrumento: arma branca. Tratamento:
cirúrgico, ressecção de estômago devido à laceração extensa; reposição
sangüínea; antibióticos, soroterapia. Seqüelas que futuramente poderão
se apresentar: distúrbio digestivo. Afastamento de suas ocupações por
40 dias. Hospital BDF. Dr. OS, CRM – GO 007”. Nada mais tendo sido
constatado, passamos a responder os seguintes quesitos:
1º - Houve ofensa à integridade corporal ou à saúde do paciente?
Resposta: Sim.
2º - Qual o instrumento ou meio que a produziu? Resposta: Pérfuro-
cortante.
3º - Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel?. Resposta: Prejudicado.
4º - Resultou incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta
dias? Resposta – Sim
5º - Resultou perigo de vida? Sim, devido à lesão penetrante no abdome
com a laceração do estômago e devido ao estado geral comprometido
produzido por choque hipovolêmico que necessitou de cirurgia e de
reposição sangüínea.
6º - Resultou debilidade permanente ou perda ou inutilização de membro,
sentido ou função? Resposta: Sim, debilidade permanente da função
digestiva.
7º - Resultou incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade
incurável ou deformidade permanente? Resposta: Não
8º - Resultou aceleração de parto ou aborto? Resposta: Não

Unidade 2 45
Dado e passado no Instituto Médico-Legal, em Goiânia, Capital de Goiás,
aos ... dias do mês de .... de ....

PP PQ
1º Médico-legista 2º Médico-Legista

- Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de Auto-


avaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos
acerca do assunto estudado.

Síntese

O laudo pericial deve ter linguagem clara, acessível e as


informações devem ser objetivas, sem haver juízos de valor.

O laudo pericial deve ser formado por:

1. Preâmbulo ou histórico.

Discriminar a data, a hora e o local em que for elaborado o laudo


pericial, o nome do instituto e órgãos superiores aos quais está
subordinado, tipo de laudo, a data da requisição e/ou solicitação,
nome da autoridade que requisitou e/ou solicitou a perícia,
nome do diretor e dos peritos signatários do laudo, bem como o
objetivo geral dos exames periciais.

2.Preliminares.

Neste tópico o relator vai consignar as informações referentes à


preservação e isolamento do local e quaisquer outras alterações
que forem relevantes ao caso, ou que prejudicaram o andamento
dos trabalhos periciais.

3.Objetivo da perícia ou quesitos.

Descrever, conforme consta na requisição, quais os objetivos a


serem buscados na perícia, os quais deverão estar contidos na
requisição da perícia ou nos quesitos formulados.

46
4.Dos exames periciais.

Discriminar todas as técnicas e métodos empregados e os


respectivos exames levados a efeito naquela perícia.

5.Considerações técnicas ou discussão.

Do histórico e das descrições (local e vestígios) defluem as


conclusões. Porém, em certos casos há necessidade de cotejar
fatos, de analisá-los, dissipar dúvidas ou ajustar obscuridades.

6.Conclusão e/ou respostas aos quesitos.

7.Fecho ou encerramento.

8.Anexos.

Atividades de auto-avaliação

Leia as questões a seguir e responda com base no conteúdo. Verifique


no final do livro as indicações e comentários.

1. Qual a importância do laudo pericial na investigação criminal?

Unidade 2 47
2. Que tipo de prova é o laudo pericial?

3. O laudo pericial é sempre conclusivo?

Saiba mais

Para aprofundar seus conhecimentos tratados nesta unidade você


pode assistir:

Filme: “Seven”. (EUA). Lançado em 1995. Gênero: Policial.


Duração: 128 min. Direção: David Fincher.

Ou, então, ler:

Artigo: “Laudo pericial e outros documentos técnicos”.

Disponível em: http://espindula.com.br/default4.htm. Acessado


em 17 de julho de 2006.

48
3
UNIDADE 3

Investigação Criminal

Objetivos de aprendizagem
 Compreender o conceito e o histórico da Polícia.

 Contextualizar a investigação criminal, concebendo-a


como o trabalho realizado pelas Polícias Federal e Civil,
dentre outros órgãos.

 Identificar os procedimentos de apuração de infrações


criminais, provas técnicas e testemunhais para subsidiar
o processo criminal.
 Identificar procedimentos de prova criminal e o
seu histórico, a partir dos pontos relevantes para
compreender o sistema de provas brasileiro da
atualidade.
 Conhecer o inquérito policial percebendo-o como

procedimento sigiloso, inquisitivo e informativo, de


competência exclusiva das Polícias Federal e Civil, no
qual a investigação criminal é formalizada.

Seções de estudo
Seção 1 Conceito e histórico da polícia

Seção 2 Conceito de investigação criminal

Seção 3 Conceito de prova

Seção 4 Evolução histórica da prova criminal

Seção 5 Inquérito policial


Para início de estudo
Para que você compreenda como é exercida a atividade estatal
de segurança pública brasileira na atualidade, é imprescindível
que verifique quais são as polícias existentes que integram este
sistema e quais suas respectivas funções. Dessa forma, saberá
quais polícias serão responsáveis pela investigação criminal.

Importante, também, verificar o que é investigação criminal,


inquérito policial e prova criminal, e saber quais os tipos de
provas já foram aceitáveis em tempos passados e como é o
sistema de provas da atualidade.

SEÇÃO 1 - Conceito e histórico da polícia


A palavra Polícia é vocábulo derivado do latim “politia”, que
por sua vez, procede do grego “politeia”, que significa, segundo
Thomé, (...)administração da cidade.
THOMÉ, Ricardo Lemos.
Contribuição à Prática da Polícia
Segundo o mesmo autor, Polícia pode ser definida como:
Judiciária, 1997, p.10.
(...) instrumento de utilidade e que passa a ser responsável
pela investigação das infrações penais cometidas e pela
política de disciplina e restrição empregada a serviço do
povo.

Marcineiro (2001), conceitua Polícia como sendo:

(...) a organização administrativa que tem por atribuição


impor limitações à liberdade (individual ou de grupo) na
exata medida necessária à salvaguarda e manutenção da
ordem pública (...). No entanto, a polícia mais visível a
todos é a de segurança pública e por isso mesmo todos
tendemos a confundi-la, enquanto parte, com o todo
(...) a polícia se especializa e hoje, se apresenta com
duas funções: a polícia preventiva (administrativa), de
proteção individual e coletiva e a polícia judiciária, ou
seja, atividade policial repressiva (judicial) ao crime e de
auxílio à justiça penal (investigação científica dos crimes).
(MARCINEIRO, 2001: 47,48).

50
Segundo Tourinho Filho (2001),

(...) a Polícia é o órgão incumbido de manter e preservar


a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do
patrimônio (TOURINHO FILHO, 2001:27).

Você já teve a oportunidade de ler o que dispõe o artigo 144 da


Constituição Federal de 1988 com relação à segurança pública.
Diz o artigo:
A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal;
III – polícia ferroviária federal;
IV – polícias civis;
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Portanto, às Polícias Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e


Militares cabe o policiamento ostensivo, atuando precipuamente
na prevenção dos delitos.

De outro lado, é interessante que você perceba que a atuação


principal das Polícias Federal e Civis ocorre após a prática do
crime, na repressão dos delitos. Apuram materialidade e autoria
das infrações penais, por meio da função investigativa.

O que cabe à Polícia Federal?


À Polícia Federal cabe a apuração das infrações penais contra
a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei, além de prevenir e reprimir
o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando
e o descaminho, nos termos do artigo 144, § 1º, I e II da
Constituição Federal de 1988.

Unidade 3 51
O que cabe à Polícia Civil?
A Polícia Civil, também chamada de Polícia Judiciária, tem
competência residual, tendo a função de apurar as infrações
penais e respectivas autorias, ressalvadas as atribuições da Polícia
Federal e as infrações da alçada militar, de acordo com o artigo
144, § 4º, da Carta Magna.

A Polícia como organização surgiu em 1829, na


Inglaterra, com a criação da Polícia Metropolitana de
Londres, considerada a primeira organização policial
do mundo.No Brasil, a história da Polícia tem início
apenas no século XIX, ano de 1808, com a vinda da
Família Real Portuguesa ao Brasil, em decorrência
das invasões napoleônicas no continente europeu.
Segundo (MARCINEIRO e PACHECO, 2001:15).

Inicialmente, segundo Thomé (1997), a ação militar em defesa


da posse, a função policial e a função de julgar não estavam
separadas. A atividade investigativa ficava sob a responsabilidade
dos magistrados, em especial dos Juízes de Paz. Com o rápido
crescimento das atividades econômicas e sociais, fez-se necessária
a organização dos serviços policiais.

Segundo Marcineiro e Pacheco, (2001), a origem da Polícia


Judiciária, como organização, ocorreu em 1841, com a
promulgação da Lei no. 261, de 03 de dezembro, que apresentava
uma organização policial incipiente, criando em cada província
um Chefe de Polícia, com seus delegados e subdelegados
escolhidos dentre os cidadãos.

A partir da promulgação da república, em 1889, a Polícia passou


a atuar de acordo com o modelo político vigente. Na democracia
Segundo Silva, Democracia é “(...) a Polícia tinha como foco a segurança pública dos cidadãos,
um regime político em que o poder e, nos períodos ditatoriais, a Polícia tinha como prioridade
repousa na vontade do povo”. In: salvaguardar a segurança nacional estatal, o que fica evidenciado
SILVA, José Afonso da. Curso de
pelos dispositivos que versavam sobre segurança pública,
Direito Constitucional Positivo,1999,
p.130. inseridos nas Constituições Federais que se sucederam.

52
Importante a diferenciação que Marcineiro e Pacheco,
na obra Polícia Comunitária. Evoluindo para a Polícia
do Século XXI, p.33, fazem entre segurança nacional e
segurança pública: a primeira com sendo a defesa do
Estado e a segunda como tendo o foco na segurança
da sociedade.

A atual Constituição Federal de 1988 é fruto de uma


redemocratização, iniciada em 1985, após vinte e um anos de
regime de exceção. Promulgada em um Estado Democrático
de Direito, a Carta Magna prima pela garantia dos direitos
individuais. Segundo Canotilho
(1999), “(...) garantias
Nesse contexto, a Polícia passa a ter o dever de prestar serviços são os meios processuais
respeitando tais garantias e contribuindo para salvaguardá-las. adequados à proteção dos
direitos. In: CANOTILHO,
José Joaquim Gomes.
Direito Constitucional e
Teoria da Constituição,
SEÇÃO 2 - Conceito de investigação criminal 1999, p.372.

Você sabe o que significa investigar? Que sentido esta


palavra assume no contexto da segurança pública?

Segundo Bueno (1977), investigar significa

(...) indagar, pesquisar, fazer diligências para achar, (...),


descobrir. (BUENO, 1977:685).

É um ato instintivo do homem que o faz movido pelo princípio


inteligente e pelo instinto de curiosidade. Você concorda? Muito
bem, vamos adiante e contextualizando.

A investigação policial é atividade de natureza


sigilosa exercida por policial ou equipe de policiais
determinada por autoridade competente que,
utilizando metodologia e técnicas próprias, visa
a obtenção de evidências, indícios e provas de
materialidade e de autoria do crime.

Unidade 3 53
A investigação policial, ou investigação criminal, é atividade
policial direcionada à apuração das infrações penais e de sua
autoria. É o trabalho realizado por policiais, especialmente
delegados e seus agentes, procurando esclarecer a autoria e
materialidade de delitos, bem como as circunstâncias em que
ocorreram. Estas circunstâncias são detalhes de fatos criminosos
com a preocupação de melhor identificar as pessoas com
eles relacionados e o próprio objeto do crime, visando reunir
elementos probatórios para o indiciamento ou não e posterior
encaminhamento à apreciação judicial.

Qual o objetivo da Investigação criminal?

O objetivo da investigação criminal é amealhar provas criminais,


para comprovar materialidade e autoria do delito.

- A seguir você vai estudar sobre a prova e seu conceito.

SEÇÃO 3 - Conceito de prova


Como dito, o objetivo da investigação criminal é a busca das
provas criminais necessárias para a elucidação do crime.

O vocábulo “prova” origina-se do latim probatio, que por sua


GRINOVER, FERNANDES E GOMES vez emana do verbo probare, com o significado de demonstrar,
FILHO diferem fonte de Prova, meio reconhecer, formar juízo sobre um fato.
de Prova e objeto da Prova: “Pode-
se, assim, distinguir entre fonte De Plácido e Silva (1978), A prova consiste, pois, na
de Prova (os fatos percebidos pelo demonstração da existência ou da veracidade daquilo que se
juiz), meio de Prova (instrumentos
pelos quais os mesmos se fixam em
alega como fundamento do direito que se defende ou que se
juízo) e objeto da Prova (o fato a ser contesta.(De PLACIDO e SILVA, 1978: 1253).
Provado, que se deduz da fonte e se
introduz no processo pelo meio de
Prova)”. (GRINOVER, Ada Pellegrini; Segundo Greco Filho (1997:196), a prova é todo meio
FERNANDES, Antônio Scarance; destinado a convencer o juiz a respeito da verdade de
GOMES FILHO, Antônio Magalhães. uma situação de fato.
As Nulidades no Processo
Penal,1982, p.106).

54
Todas as afirmações de fato feitas pelo autor, bem como as
afirmações feitas pelo réu, que normalmente se contrapõem
àquelas, podem ou não corresponder à verdade. De acordo com
Cintra,
CINTRA, Antônio Carlos
as dúvidas sobre a veracidade das afirmações de fato de Araújo; GRINOVER, Ada
feitas pelo autor ou por ambas as partes no processo, a Pelegrinni; DINAMARCO;
propósito de dada pretensão em juízo, constituem as Cândido Rangel.Teoria
questões de fato que devem ser resolvidas pelo juiz, à Geral do Processo, 2003,
vista da prova dos fatos pretéritos relevante. p.348.

Portanto, a prova constitui o instrumento por meio


do qual se forma a convicção do juiz a respeito da
ocorrência ou inocorrência dos fatos controvertidos no
processo.
(CINTRA, Antônio Carlos
de Araújo; GRINOVER, Ada
Especificamente com relação à prova criminal, pode-se afirmar Pelegrinni; DINAMARCO;
que é aquela utilizada para demonstrar a ocorrência ou não 2003: 348).
de uma infração penal e as circunstâncias que possam influir
no julgamento da responsabilidade e na individualização das
penas. As provas criminais formam a convicção a respeito da
autoria e materialidade da infração penal, das condições de
antijuridicidade e culpabilidade, e de todos os demais elementos
necessários para fundamentar uma decisão condenatória ou
absolvitória.

Em síntese, a prova criminal é aquela utilizada para demonstrar


ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu
e as circunstâncias que possam influir no julgamento da
responsabilidade e na individualização das penas.

SEÇÃO 4 - Evolução histórica da prova criminal


O sistema probatório, no Processo Penal Brasileiro, adotou o
modelo europeu-continental, fazendo-se importante uma breve
análise das origens deste modelo.

Os meios de prova, concebidos como instrumentos de


reconstituição de fatos pretéritos, sempre acompanharam a
história da civilização, estando fortemente condicionados por
circunstâncias históricas e culturais.

Unidade 3 55
Na Antigüidade, a religião era a força propulsora das
organizações rudimentares e, posteriormente, das
cidades, estando acima de tudo e de todos. Leis e
religião se misturavam. Coulange (1996) menciona
que o respeito dos antigos às leis advinha da crença
de que estas eram ditadas pelos deuses, tinham
origem sagrada. (COULANGE, 1996:152).

Esta foi uma época em que os homens não conheceram a


liberdade individual, pois não se tinha a mais leve idéia sobre
a individualidade humana e sobre os Direitos a ela inerentes.
Foi neste período em que se instituíram as ordálias ou juízos de
Deus, e os juramentos. Aqueles se fundavam na crença de que
Deus não deixaria de sustentar o Direito do inocente, estes no
pressuposto de que ninguém se atreveria a tomar Deus como
testemunha de uma falsidade.

Santos (1970), conceitua ordália como “sendo a submissão de


alguém a uma prova, na esperança de que Deus não o deixaria sair
com vida ou sem um sinal evidente, se não dissesse a verdade ou fosse
culpado.” (SANTOS, 1970:25).

Segundo Santos (1970), as ordálias constituíram a


prova suprema usada pelos germanos primitivos e os
povos antigos da Ásia, não tendo aplicação entre os
romanos, que, segundo Sznick conheceram e fizeram
uso da tortura contra seus escravos na Antigüidade.
(SZNICK, 1978:24).

Durante muitos séculos na Idade Média, com o domínio absoluto


dos bárbaros na Europa, as ordálias também tiveram aplicação.
Segundo

Santos, (1970:26) na prova pelo fogo se fazia o acusado carregar


uma barra de ferro em brasa por certa distância, ou caminhar,
com os pés nus, sobre ferros candentes, e a prova pela água
fervente consistia no acusado tirar um ou mais objetos do fundo
de uma caldeira de água fervente, sendo o acusado absolvido se
não restassem lesões e condenado no caso contrário.

56
Montesquieu (1996), menciona que a prova pela água fervente
podia ser substituída, a critério do acusador, por certa quantia e
pelo juramento de algumas testemunhas que declarassem que o
acusado não havia cometido o crime. (MONTESQUIEU, 1996:
553).

Acerca dos juramentos, Santos (1970) analisa:

Compreende-se facilmente a inclusão do juramento entre


os velhos sistemas probatórios, que se reflete na influência
exercida pelas religiões sobre os homens e as organizações
sociais da Antigüidade e da Idade Média, bem como
na circunstância de ser quase impossível, numa época
em que a escrita não existia, colherem-se provas
testemunhais, dada a pouca densidade da população e
a própria natureza patriarcal dos agregados humanos.
Assim, pode-se dizer que a prova pelo juramento
decorria da própria necessidade (...). (SANTOS, 1970:
30-31).

Com a desmoralização do juramento, instituiu-se como instituto


probatório o duelo, também chamado combate judiciário.

No final da época medieval e durante a Idade Moderna surgiram,


na Europa, os tribunais da inquisição, período em eram tidos
como hereges os que contrariavam os dogmas oficiais da Igreja
Católica.

Mas para que a tortura era utilizada? Qual a finalidade?

Discorrendo sobre este momento, Cotrin (1997) menciona que a


tortura era utilizada oficialmente nos interrogatórios, na presença
dos juízes, com a finalidade de obter a confissão. (COTRIN,
1997:157).

Novinski (1982) nomina este método de “inquisitivo”, atuante


nos séculos XVI, XVII e XVIII, e que atendia aos interesses de
todas as facções do poder: coroa, nobreza e clero. (NOVINSKY,
1982:47).

Unidade 3 57
Considerando a dificuldade de se obter outros meios de prova,
a confissão do acusado representava o objetivo primordial do
procedimento inquisitório. Enfocando a tortura, Gomes Filho
(1997), menciona: somente ela podia fornecer a certeza moral a
respeito dos fatos investigados, e a pesquisa cedia vez à confirmação de
uma verdade já estabelecida.(GOMES FILHO, 1997:22).

No que se refere à valoração das provas, é neste


período que surgiu o sistema das provas legais,
pelo qual cada prova tinha seu valor previamente
determinado, e somente a combinação destas
autorizaria uma condenação criminal.

A tortura clássica tornou-se mecanismo regulamentado e


legalizado de Prova. Segundo Foucault, (2002) a tortura é um
jogo judiciário estrito (...), o paciente é submetido a uma série de
provas, de severidade graduada, e que ele ganha agüentando ou perde
confessando. (FOUCAULT, 2002:36).

Ortega (1998), discorrendo sobre o sistema jurídico-penal e


processual penal, nos séculos XVI e XVII, na Europa, menciona
que a tortura tratava-se de peça fundamental no processo,
utilizada para obter a confissão do réu, e era diferenciada de
acordo com a classe social a que pertencia o indivíduo, estando
a nobreza sujeita à tortura apenas nos delitos considerados
extremamente graves. Portanto, o princípio da igualdade era
inexistente naquela época. (ORTEGA, 1998:463)

Sobre este tema, Beccaria (1993), autor da obra Dos


Delitos e Das Penas, escrita no século XVIII, cuja
essência é a defesa do indivíduo contra as atrocidades
e arbitrariedades daqueles tempos, e que influenciou
a reforma de muitos Códigos Penais e Processuais
Penais Europeus, manifestou-se afirmando que a
tortura é muitas vezes um meio seguro de condenar
o inocente fraco e de absolver o criminoso robusto.
(BECCARIA, 1993:36).

58
Valiente (2002), sintetiza algumas das idéias defendidas por
Beccaria, na obra citada: a mudança do processo inquisitivo para
o acusatório, público, com meios de prova claros e racionais; a
igualdade entre nobres, burgueses e plebeus; a proporcionalidade
entre os delitos e as penas; a nítida separação entre a religião e
o Estado e seus Poderes, desvinculando os conceitos de pecado
e delito; a supressão total da tortura e da pena de morte; e a
preferência dos métodos preventivos aos repressivos; idéias estas
que continuam a influenciar os sistemas penais e processuais
penais atuais. (VALIENTE, 2002:161,162)

Para Bentham, a tortura era empregada para suprir a deficiência


dos meios probatórios da época: “A tortura, empregada para BENTHAM, Jeremias.
arrancar as confissões, objetiva suprir a deficiência das provas. Tratado de Las Pruebas
Supondo que o delito não está provado, que faz o juiz? Ordena Judiciales. p.316. “La
tortura, empleada para
atormentar uma pessoa, na dúvida de ser inocente ou culpado”.
arrancar las confesiones,
(tradução da autora). se encamina a suplir
la insuficiencia de las
Sabadell (2002), discorrendo sobre a tortura oficializada afirma: pruebas. En el supuesto
de que el delito no está
A tortura judicial está vinculada ao sistema de provas probado, qué hace el juez?
legais, desenvolvido a partir do século XIII pelos Ordena atormentar a una
doutrinadores do Direito medieval europeu. Sua base é a persona, en la duda de si
classificação sistemática das provas romanas, segundo o es inocente o culpable”.
método escolástico, em graus: provas plenas, semiplenas,
indícios e presunções. Acima da prova plena está o
notorium. Por meio deste instituto era concedida a
dispensa de produção de provas em determinados casos.
(SABADELL, 2002:275).

Sabadell (2002), conceitua notorium como sendo a prova à


qual se deve dar a máxima credibilidade, já que, diferentemente
das demais provas, não se permite que se estabeleça nenhuma
discussão ou questionamento. *tradução: rainha das
Provas (cf. CALDAS,
Na Idade Média e grande período da Idade Moderna, inexistia a Gilberto. O Latim no
Direito. p.495;
concepção de direitos individuais, havendo sempre a prevalência
do interesse público em detrimento do indivíduo, o que se ** tradução: uma só
testemunha equivale a
coaduna com o sistema inquisitório. A confissão era a regina
nenhuma testemunha. (cf.
probatium* e o depoimento de uma só testemunha não possuía CALDAS, Gilberto. O Latim
valor probatório (testis unus, testis nullus**). no Direito. p.308.

Unidade 3 59
Em matéria de processo penal, o princípio da inocência do
acusado era desconhecido, as provas não eram reunidas para
apurar uma possível responsabilidade penal do réu, sendo que
esta era constituída por cada um dos elementos que permitiam
reconhecer um culpado.

De acordo com Sabadell (2002),

(...) a existência de uma meia prova implicava a


consideração do réu como meio culpado. Um grau
alcançado na demonstração da culpa (prova semiplena),
implicava, conseqüentemente, um determinado grau de
punição, incluindo a autorização para o uso da tortura.
Em outras palavras, não se torturava um inocente, e sim
um meio culpado, para confirmar a suspeita legalmente
criada de que ele era realmente culpado. (SABADELL,
2002:278).

Foram citados alguns meios de prova utilizados no transcorrer


da história. É importante, também, mencionar os sistemas de
valoração de prova, além do já citado sistema das provas legais.

Conforme Sabadell (2002), o sistema das provas legais passou por


várias fases, sendo inicialmente rígido, mas ao longo dos séculos a
doutrina o submeteu a modificações para facilitar a sua aplicação,
até o surgimento posterior do sistema da livre apreciação de
provas.

Os ideais iluministas postulados pela Revolução Francesa


romperam com o sistema inquisitivo, e, através da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, conferiram maior
liberdade aos juízes na apreciação da prova e na indicação dos
motivos da convicção.
cf. GOMES FILHO. Antônio
Magalhães. Direito à Prova no Tratava-se do sistema da íntima convicção. Tais ideais foram
Processo Penal, 1997, p.28-29. uma reação ao sistema inquisitório e à doutrina das provas legais.
Vêm ao encontro de um sistema probatório que respeita o ser
humano enquanto sujeito de direitos e garantias individuais,
dentre elas, a proibição legal da tortura, a presunção de inocência
do acusado e o direito ao contraditório.

Segundo Grinover (1982), a Declaração dos Direitos do


Homem e do Cidadão, de 1789, advinda da Revolução Francesa,
consagrou a escola do Direito Natural, “selando a concepção

60
da existência de direitos subjetivos preexistentes ao Estado, não
criados, mas reconhecidos por este”.

Acerca desta Declaração, menciona Bobbio (1992),

(...) o núcleo doutrinário da Declaração está contido


nos três artigos iniciais: o primeiro refere-se à condição
natural dos indivíduos que precede a formação da
sociedade civil; o segundo, à finalidade da sociedade
política, que vem depois (...) do estado de natureza; o
terceiro, ao Princípio de legitimidade do poder que cabe à
nação. (BOBBIO, 1992:93).

Segundo a Declaração Universal dos Direitos do


Homem - art. 1º: “Todos os seres humanos nascem
livres e iguais em dignidade e Direitos”; art. 2º: “O
objetivo de toda associação política é a conservação
dos Direitos naturais e imprescritíveis do homem”;
art. 3º:”O Princípio de toda soberania reside
essencialmente na Nação. Nenhuma corporação,
nenhum indivíduo, pode exercer autoridade que
aquela não emane expressamente”. Disponível em:
<http://www.gila.net/legislação.net/internacional/
declaração_Direitos_homem_cidadao_1789.htm>.
Acesso em 14.12.03.

Gomes Filho (1997:55) entende que uma verdadeira Justiça penal


pressupõe o reconhecimento, à defesa, do poder de produzir
provas contrárias às da acusação, a fim de obter-se não uma
verdade extorquida inquisitoriamente, mas uma verdade obtida
através de meios probatórios produzidos pelas partes.

Gomes Filho (1997:31) afirma que em 1808, o Code d’instruction


criminelle francês instituiu a combinação entre os padrões
inquisitório e acusatório, influenciando os demais ordenamentos
continentais e representando, até os dias atuais, o modelo
inspirador da maioria das legislações.

A doutrina passou a postular limitações à íntima convicção do


juiz, e, segundo esta nova concepção, o juiz só estaria autorizado
a condenar se, além de convencido, estivesse amparado por um CAPEZ, Fernando.Curso
mínimo de elementos probatórios. Passou-se a postular pelo de Processo Penal. 2002,
sistema da persuasão racional, também chamado por Capez de p.267.

Unidade 3 61
sistema da livre (e não íntima) convicção, da verdade real ou do
livre convencimento.

Conforme Colucci (1988):

Num terceiro estágio, em respeito ao contraditório,


fi xou-se como pressuposto do direito de defesa o
conhecimento pelas partes dos caminhos percorridos
pelo juiz ao julgar (persuasão racional), cedendo-se ao
julgador liberdade de valoração da prova, desde que
acompanhada de demonstração lógica dos motivos
da decisão. A motivação das sentenças e decisões de
modo geral, tornou-se verdadeira garantia individual,
evitando-se que a excessiva liberdade na avaliação das
provas transformasse o processo penal em instrumento
de opressão e terror, em vez de protetor das liberdades
públicas. (COLUCCI, 1988:237-250).

O sistema probatório de persuasão racional foi adotado pelo


Código Processual Penal Brasileiro - Decreto-Lei n.3689, de
03.10.1941-, através do seu artigo 157.
Código Processual Penal Brasileiro,
(ano), art. 157: “O juiz formará sua Não serão atendíveis as restrições à prova estabelecidas
convicção pela livre apreciação da pela lei civil, salvo quanto ao estado das pessoas; nem é
prova”. prefi xada uma hierarquia de provas: na livre apreciação
destas, o juiz formará, honesta e lealmente, a sua
Oportuna a transcrição deste trecho convicção. A própria confissão do acusado não constitui,
da Exposição de Motivos do Código fatalmente, prova plena de sua culpabilidade. Todas as
Processual Penal Brasileiro. Trecho provas são relativas; nenhuma delas terá, ex vi legis, valor
extraído da Exposição de Motivos do decisivo, ou nec essariamente maior prestígio que outra.
Código Processual Penal Brasileiro, Se é certo que o juiz fica adstrito às provas constantes
no capítulo que discorre sobre dos autos, não é menos certo que não fica adstrito a
Provas. nenhum critério apriorístico no apurar, através delas, a
verdade material. Nunca é demais, porém, advertir que
livre convencimento não quer dizer puro capricho de
opinião ou mero arbítrio da apreciação das Provas. O juiz
está livre de preconceitos legais na aferição das Provas,
mas não pode abstrair-se ou alhear-se ao seu conteúdo.
Não estará ele dispensado de motivar sua sentença. E
precisamente nisto reside a suficiente Garantia do Direito
das partes e do interesse social.

Através do sistema da persuasão racional, não há hierarquia entre


as Provas e o juiz pode decidir de acordo com a sua consciência,
desde que o faça motivadamente e, considerando-se a visão
sistêmica, obedecendo à Constituição da República, o Código

62
de Processo Penal e demais legislações vigentes. Tal motivação
não se faz necessária apenas nas decisões do júri, considerando a
soberania dos vereditos e o sigilo das votações, preceituados no
artigo 5º, XXXVIII, da Carta Magna.

De outro lado, os meios de prova mencionados no Código de


Processo Penal são apenas exemplificativos, admitindo-se as
provas inominadas.

Acerca deste sistema, entende Capez (2002), que:

(...) atende às exigências da busca da verdade real,


rejeitando o formalismo exacerbado, e impede o
absolutismo pleno do julgador, gerador do arbítrio,
na medida em que exige motivação. Não basta ao
magistrado embasar a sua decisão nos elementos
probatórios carreados aos autos, devendo indicá-los
especificamente. Não pode, igualmente, o magistrado
buscar como fundamento elementos estranhos aos autos.
(CAPEZ 2002:267).

Tem-se, pois, um sistema processual penal que permite


todos os meios de prova, limitados, entretanto, pelas normas
constitucionais e infraconstitucionais.

Neste sistema, concebe-se a prova no Processo Penal como


verdadeiro direito garantido às Polícias, à acusação e à defesa,
assegurado pela leitura coordenada da Constituição da
República, e por textos legais internacionais.

SEÇÃO 5 - Inquérito policial


Como você viu anteriormente, o objetivo principal das
Polícias Civil e Federal é a investigação criminal, que procura
demonstrar a existência do fato criminoso, a autoria e estabelece
as condições em que o crime ocorreu.

Mas, a investigação criminal não é atividade exclusiva destas


Polícias. O Ministério Público, Congresso Nacional, Polícias
Militares e outros órgãos podem exercer atividade investigativa.

Unidade 3 63
O inquérito policial é de atribuição exclusiva das
Polícias Federal e Civil.

Após a prática da infração penal, cabe à Polícia Judiciária a


apuração imediata do delito, por meio da investigação policial,
cujos atos e resultados deverão ser formalizados, via de regra,
através do inquérito policial.

O auto de prisão em flagrante, previsto no Código de


Processo Penal Brasileiro, o termo circunstanciado, previsto
nas Leis Federais n. 9099/95 e n. 10259/2001, e o auto de
apuração de atos infracionais, previsto no Código da Criança
e do Adolescente (Lei Federal n. 8069/90), também são
procedimentos policiais que podem ensejar investigação.
Considerando que, de forma geral, os atos investigativos são
praticados no inquérito policial, este estudo aborda apenas este.

Segundo Tourinho Filho (2001:25) inquérito policial


(...) é o conjunto de diligências realizadas pela Polícia
visando a investigar o fato típico e a apurar a respectiva
autoria.

Via de regra, a notícia de um crime chega ao conhecimento


da autoridade policial através do boletim de ocorrência,
mediante requisição ministerial ou judicial, ou ainda, mediante
requerimento de qualquer pessoa.

A partir deste momento, normalmente, cabe ao delegado de


polícia determinar a instauração do inquérito policial, onde se
diligenciará para buscar provas demonstrando materialidade e
autoria do crime, o que é feito através da investigação.

As atividades são as mais diversas de acordo com o


delito praticado, declarações de vítimas; depoimentos
de testemunhas; interrogatório de suspeito e/ou
indiciado; representações por mandados de busca
e apreensão, prisões, quebra do sigilo telefônico,
quebra do sigilo bancário, quebra de sigilo fiscal;
requisição de todas as perícias necessárias; realização
de acareações, avaliações reconhecimentos pessoais,
fotográficos; e outros.

64
Todos estes atos são formalizados no inquérito policial, não
existindo um rito pré-estabelecido para a atividade investigativa.
Estas têm uma seqüência determinada pela autoridade policial
que estiver presidindo o inquérito policial, em face da necessidade
da realização desta ou daquela diligência, de acordo com as
peculiaridades da infração penal praticada.

O inquérito policial apresenta a forma escrita; é de natureza


inquisitiva, em que o princípio do contraditório não é
considerado; é sigiloso; é, de forma geral, de iniciativa obrigatória
e indisponível; após a sua instauração, não pode ser arquivado
pelo delegado de polícia, nos termos do artigo 17 do Código de
Processo Penal Brasileiro.
O artigo 6º. Do Código de Processo penal Brasileiro delibera quanto aos
procedimentos da Polícia Judiciária na apuração dos delitos, destacando-
se:
a) Comparecimento e preservação do local.
b) Apreensão dos instrumentos e todos os objetos relacionados com o
fato.
c) Coleta de todas as provas do fato e de suas circunstâncias.
d) Oitiva do ofendido ou da vítima; se for possível.
e) Oitiva do indiciado.
f) Reconhecimento de pessoas e coisas e acareações.
g) Exame de corpo de delito, se for o caso.
h) Identificação datiloscópica do indiciado, se for o caso.
i) Investigação sobre a vida pregressa do indiciado, inclusive seus
antecedentes criminais.
j) Reprodução simulada dos fatos, se for o caso.

Para que a investigação policial tenha resultado e o inquérito


policial seja concluído comprovando materialidade e autoria do
crime, faz-se necessária a aplicação de técnicas investigativas.
Quando o crime, cabe à Polícia realizar planejamento específico,
detalhando quais atividades investigativas serão realizadas, em
que tempo, e definindo as técnicas a serem aplicadas. Não se
pode contar com a improvisação e com a sorte no que concerne à
investigação policial.

Unidade 3 65
- Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de Auto-
avaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos
acerca do assunto estudado.

Síntese

As polícias existentes no Brasil e suas atribuições estão descritas


na Constituição Federal de 1988. Através da Carta Magna,
verificamos que cabe à Polícia Federal e às Polícias Civis dos
Estados, também chamadas Polícias Judiciárias, a função
investigativa criminal, ou investigativa policial.

Investigação criminal é a atividade voltada à apuração das


infrações penais, através da elucidação da materialidade e
autoria dos delitos. Para tanto, busca-se amealhar provas
criminais, concebida como aquelas utilizadas para demonstrar
ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu
e as circunstâncias que possam influir no julgamento da
responsabilidade e na individualização das penas.

Os meios de prova, concebidos como instrumentos de


reconstituição de fatos pretéritos, sempre acompanharam a
história da civilização, estando fortemente condicionados por
circunstâncias históricas e culturais.

O sistema de provas foi sendo alterado com o transcorrer dos


tempos. Na Idade Média e grande período da Idade Moderna,
vigia o sistema de provas legais, que eram previamente
determinadas e hierarquizadas, sendo a confissão considerada
aquela de maior valor, nominando-a de “rainha das provas”.

O sistema das provas legais passou por várias fases, sendo


inicialmente rígido, mas ao longo dos séculos a doutrina o
submeteu a modificações para facilitar a sua aplicação, até o
surgimento posterior do sistema da livre apreciação de provas.

66
Após a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do
Cidadão, de 1789, que conferiu diversos direitos e garantias
ao homem até então não existentes, surgiu o sistema da livre
apreciação de provas, em que o juiz tinha total liberdade na
valoração das provas e nas suas decisões processuais, decisão
absolutória ou condenatória, ficando isento de motivar as suas
sentenças absolutórias ou condenatórias.

Após abusos praticados nas sentenças, criou-se o sistema da


livre convicção, verdade real ou persuasão racional, no qual
a obrigatoriedade da motivação das decisões judiciais e das
sentenças tornou-se verdadeira garantia individual. Este sistema
foi o adotado pelo Código de Processo Penal Brasileiro vigente.

Além das Policias mencionadas, outros órgãos exercem função


investigativa, dentre eles, Congresso Nacional, Assembléias
Legislativas dos Estados, Ministério Público.

Ocorre que, o inquérito policial é de atribuição exclusiva das


Polícias Federal e Civis.

Atividades de auto-avaliação

Assinale verdadeiro ou falso:

( ) O rol de provas elencados no Código de Processo Penal Brasileiro é


exemplificativo.

( ) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é


o da íntima convicção.

( ) O inquérito policial é peça imprescindível para a instauração do


processo criminal.

( ) As Polícias exercem atividades excludentes, razão pela qual a Polícia


Militar é proibida de realizar qualquer tipo de investigação criminal.

Unidade 3 67
2. Responda a seguinte questão:

Na sua percepção, durante o curso de uma investigação, os policiais


devem estar voltados prioritariamente à indicar e localizar o autor do
crime ou à busca da verdade?

Saiba mais

Para complementar seus conhecimentos você pode ler:

Texto: Inquérito Policial – Sigilo irrestrito. Disponível em:

http://www.direitonet.com.br/textos/x/15/73/1573

Artigo: Flagrante eficiente. Disponível em:

www.http://www.damasio.com.br/?page_name=art_05_
2005&category_id=31

68
4
UNIDADE 4

Investigação Criminal

Objetivos de aprendizagem
 Estudar técnicas de investigação policial.

 Identificar a função das Polícias Investigativas e verificar


qual a relação com a investigação experimental e suas
respectivas técnicas.

 Conhecer e técnicas como o interrogatório, infiltração


policial, informante e vigilância.

Seções de estudo
Seção 1 Interrogatório

Seção 2 Infiltração policial

Seção 3 Informante

Seção 4 Vigilância
Para início de estudo
Para iniciar os estudos desta unidade considero oportuno
que você conheça termos-chave para a compreensão do que
se pretende abordar. Assim, ficará mais fácil o entendimento
do conteúdo desenvolvido nas seções que seguem. Vamos lá?
Comecemos com a palavra “técnica.”

O que é técnica?

Bem, Técnica, de acordo com Pasold (2003), (...) é um conjunto


diferenciado de informações, reunidas e acionadas em forma
instrumental, para realizar operações intelectuais ou física, sob o
comando de uma ou mais bases lógicas de pesquisa.
PASOLD, Cesar Luiz. Prática Então, podemos dizer que a investigação necessita de técnicas
da Pesquisa Jurídica. Idéias
e Ferramentas Úteis para o
que assegurem um trabalho lógico, seqüencial, pautado
Pesquisador do Direito, 2003, p.107. pelas garantias individuais e coletivas do cidadão, na busca
imparcial da verdade objetivando cumprir o dever do Estado,
na preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio. Visa à investigação policial resposta para as
perguntas: (hectâmetro).
a) Quem?
b) O que?
c) Onde?
d) Com que auxílio?
e) Por que?
f) De que maneira?
g) Quando?

Agora veremos o que é um procedimento. Mas, como essa


palavra pode ser definida?

70
Procedimento é o conjunto dos atos pelos quais se ordenam e se
exercitam, sob determinados preceitos legais, os meios necessários
para instruir a causa e assegurar ou restabelecer uma relação jurídica
controvertida.

Então, na investigação policial podemos dizer que procedimento


é o conjunto dos atos policiais que tem por objetivo colher as
provas da infração penal. Concorda?

O procedimento se consubstancia nos diversos atos


policiais no decorrer das investigações e a técnica
representa a maneira como o procedimento é
realizado.

A investigação é direcionada de acordo com os diferentes tipos de


delitos, guardando características próprias e peculiares em função
dos mesmos.

É um estudo profundo de um problema, com a finalidade de


descobrir fatos novos. Tanto a investigação quanto a análise
se baseiam no exame completo de um problema concreto. A
investigação será realizada a fim de obter informação sobre
um tema, nela se procura, sobretudo, recolher e organizar
informações básicas.

Na seqüência, você terá a oportunidade de conhecer algumas


técnicas policiais mais comumente usadas num processo de
investigação. Vamos lá?

SEÇÃO 1 - Interrogatório
Interrogatório é o termo utilizado pelo Código de
Processo Penal para conceituar a inquirição do
acusado no processo penal. O procedimento do
interrogatório encontra-se disposto nos artigos
185 a 196 do Código de Processo Penal, que
foram todos alterados pela Lei n. 10792, de
1.12.2003.

Unidade 4 71
No âmbito policial, denomina-se interrogatório o ato em que
o suspeito ou indiciado pela prática da infração penal presta
depoimento formalmente nos autos, perante a autoridade policial.
Usualmente conceitua-se declaração como sendo a inquirição da
vítima e depoimento a inquirição da testemunha. Evidentemente
que as técnicas ora mencionadas também podem ser aplicadas
durante a tomada de declarações da vítima ou a tomada de
depoimento de testemunha.

O interrogatório deve sempre ser orientado através


de técnica, chamada técnica de interrogatório. O
interrogador tem o dever de conhecer o fato que
investiga, melhor do que o investigando, a fim de que
saiba fazer as perguntas com pertinência, segurança e
sabedoria, demonstrando firmeza e seriedade.

A preparação é importante porque é comum o autor da infração


penal, embora confessando o delito, fazê-lo de forma a se
beneficiar, diminuindo as conseqüências penais, alegando, por
exemplo, uma legítima defesa putativa ou uma injusta provocação
da vítima, etc.

Dessa forma, é importante que o interrogador busque, de forma


técnica, elucidar o crime, tentando sempre buscar a verdade dos
fatos.

Quais as técnicas de interrogatório?

Técnicas de abordagem dos fatos


Os fatos acontecem dentro de uma estrutura de tempo, espaço,
ação e resultado. Entretanto, quando alguém vai narrá-los, nem
sempre o faz obedecendo a uma seqüência real desses fatos dentro
daquela estrutura. Pode acontecer que o interrogador, em favor da
investigação, não tenha interesse de obter a narrativa de maneira
ordenada.

72
Assim, levando-se em conta a seqüência como um interrogado
pode narrar os fatos que estão sendo investigados, o interrogador
pode se valer de cinco técnicas, a saber: da seqüência memorial;
da seqüência dos fatos; da seqüência embaralhada; da seqüência Estas técnicas foram
protaitiva, e da seqüência retroativa: mencionadas em aulas
expositivas no Curso de
 A experiência tem demonstrado que a prática de um Formação para Delegado
delito, via de regra, quebra a rotina de quem o pratica, de Polícia – Ministradas
na Academia da Polícia
tanto por força das atividades necessárias à perpetração
Civil de Santa Catarina.
do delito, como em razão dos cuidados que se toma Ano 1998.
para ocultar os fatos. Isto não pode deixar de ser
levado em conta por quem investiga.
 Por essa razão, é importante buscar apurar onde e com
quem o suspeito ou indiciado esteve durante todo o dia
do crime, manteve contatos ou encontros com pessoas
estranhas, ausentou-se de casa ou do trabalho sob
qualquer pretexto, se saiu mais cedo ou chegou mais
tarde, etc.
 Dessa forma, a seqüência como os fatos serão
abordados deve obedecer a critérios técnicos que sejam
de pleno conhecimento e domínio do interrogador.

A aplicação de técnicas na atividade investigativa


consiste no uso da inteligência. O policial que faz
uso da violência na investigação, além de incidir em
conduta criminosa também não prima pelo raciocínio
inteligente, promovendo resultados negativos para o
caso específico e para a Instituição Policial.

O emprego de técnicas no transcurso do interrogatório norteia


o interrogador para que demonstre conhecimento e segurança
acerca do delito que investiga, e obtenha objetivamente a
informação desejada.

Técnica da Seqüência Memorial


Esta técnica tem aplicação quando a pessoa que estiver sendo
inquirida se prontifica a narrar os fatos espontaneamente. A
seqüência com que os fatos são narrados depende da lembrança
que interrogando tenha das circunstâncias do fato.

Unidade 4 73
Muitas vezes o interrogando inicia a sua fala pelo ato executório e
depois desordenadamente vai narrando as demais circunstâncias,
por parte, na medida em que estas vão lhe surgindo na memória.

Técnica da Seqüência dos Fatos


Esta técnica procura abordar o acontecido levando em conta
a seqüência em que os fatos se desenrolaram, percorrendo a
narrativa do início ao fim do delito.

Para aplicação desta técnica faz-se necessário que a pessoa que


estiver sendo inquirida demonstre a vontade de expor os fatos,
devendo o interrogador conduzir a narrativa para que os fatos
sejam relatados de forma clara e dentro da seqüência dos próprios
acontecimentos, quando, como e porque iniciou, como se
desenvolveu e como e quando terminou.

Técnica da Seqüência Embaralhada


Esta técnica aplica-se quando há indícios de que a pessoa que
está sendo inquirida optou por mentir acerca dos fatos que se
investiga.

O interrogador deve, então, embaralhar ao máximo os pontos já


abordados, induzindo o interrogando a erro, para que não consiga
responder com encadeamento, lógica e coerência às perguntas
feitas, fazendo-a constatar que a sua versão dos fatos não condiz
com as demais provas materiais e testemunhais amealhadas.
Somente uma narrativa real e verdadeira se sustentaria harmônica
diante desta técnica.

Técnica da Seqüência Protaitiva


É a técnica pela qual o interrogador parte de um determinado
momento que pode ser de horas ou dias antes do crime e vai
avançando no tempo, buscando esclarecer as atividades e
convivências da pessoa que se interrogando, levando-se em
conta o tempo decorrido, a partir do momento estabelecido pelo
interrogador.

74
A experiência tem demonstrado que para esconder atividades e
encontros relacionados com a preparação e execução do crime,
o suspeito ou indiciado acaba inventando situações que são
facilmente desmentidas posteriormente.

Técnica da Seqüência Retroativa


Esta técnica percorre o tempo de forma inversa aos
acontecimentos.

Parte de um determinado momento que pode ser da comunicação


do delito ou de sua execução e vai retroagindo no tempo até um
determinado horário, cujas evidências indiquem como sendo
o tempo gasto para o suspeito ou indiciado cogitar, preparar e
executar o delito.

Técnicas de Comportamento
São técnicas que tratam da postura, da forma como o
interrogador deve se comportar frente ao interrogando. Estas técnicas foram
mencionadas em aulas
expositivas no Curso de
Técnica da Espontaneidade Formação para Delegado
de Polícia – Ministradas
É a técnica que deve ser utilizada para o início de um
na Academia da Polícia
interrogatório. Civil de Santa Catarina.
Ano 1998.
Consiste em permitir que o interrogando, espontaneamente, sem
qualquer interferência do interrogador, narre livremente o fato
criminoso. Por esta técnica, o interrogando faz uma narrativa dos
fatos por ele praticados; da forma mais livre possível.

Através desta técnica, o interrogador se comporta de forma


amigável com o interrogando, dando a este um grau de liberdade
maior nas suas colocações.

Ainda que a narrativa não corresponda àquilo que já foi


apurado nos autos, o interrogador não deverá interferir, tudo
registrando fielmente, inclusive não deixar transparecer que
não está acreditando na versão apresentada. Se a versão for
mentirosa, certamente não resistirá ao crivo da investigação séria,
profissional e criteriosa. A verdade virá naturalmente à tona.

Unidade 4 75
Todavia, é interessante que perceba que nem todo autor de crime
confessa o fato espontaneamente e aí se faz necessário o emprego
de outras técnicas para se chegar à verdade.

Técnica da Indução
Caracteriza-se pela formulação de perguntas ao interrogando
que o induzam, pela própria maneira como são formuladas, a dar
uma resposta certa e objetiva.

A técnica da indução permite ao interrogador direcionar


o diálogo. Através desta técnica o interrogador discute as
circunstâncias do delito e elucida pontos relevantes mencionados
durante a narrativa espontânea.

O que caracteriza esta técnica é a formulação de perguntas bem


elaboradas que induzam o interrogando a dar uma resposta
certa, precisa, sobre este ou aquele momento do delito, sobre esta
ou aquela circunstância não esclarecida.

As perguntas devem ser claras, diretas e de preferência curtas,


para que não paire dúvidas ao interrogando sobre a resposta que
deverá dar.

O interrogador jamais deve contar o fato que investiga ao


interrogando, pois assim fazendo correrá o risco de prejudicar a
busca da verdade.

De um modo geral, ainda que o interrogando resolva narrar os


fatos espontaneamente, dificilmente o fará de forma completa,
isso acontece tanto intencionalmente, como por qualquer outro
motivo, como esquecimento e até mesmo por desconhecer este ou
aquele detalhe.

Assim, pela técnica da indução, formulando perguntas bem


elaboradas, leva-se o interrogando a, se tiver mentido na narrativa
espontânea, não conseguir sustentar a sua versão dos fatos.

76
Técnica da Persuasão
Esta técnica tem por objetivo persuadir, convencer o investigando
a primar pela verdade dos fatos. Assim o policial deve
argumentar com os benefícios da lei, mostrando ao interrogando
que somente tem a ganhar se disser a verdade. Evidentemente, o
interrogador jamais deve inventar benefícios legais inexistentes.

As Leis Federais de números 8.072/1990 e 9.269/1996, prevêem


diminuição da pena de um a dois terços para o concorrente que
confessa o delito, delatando os demais participantes.

A Lei Federal n. 9.807/1999, em seu art. 13, dispõe que o juiz


poderá conceder o perdão judicial, com a conseqüente extinção da
punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado
efetiva e voluntariamente com a investigação ou processo
criminal.

A Lei Federal n. 9034/95, que dispõe sobre a utilização de meios


operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas
por organizações criminosas, no seu artigo 6º, menciona a
colaboração eficaz, ou delação premiada, que consiste em um
instrumento que permite ao indiciado, em troca da diminuição
de pena, fornecer informações que propiciem o desmantelamento
de organização criminosa da qual faça parte, ou que tenha
conhecimento das suas atividades.

Entre as atenuantes do crime, há a confissão espontânea, prevista


no art. 65, inciso III, letra “d” do Código Penal Brasileiro,
constituindo um incentivo à confissão.

Outros argumentos ainda podem ser utilizados pelo interrogador,


tais como a possibilidade de responder o crime em liberdade, em
face da primariedade, bons antecedentes, residência fi xa, emprego
e profissão certos, etc.

Além dos benefícios legais, que outros que podem


ser sustentados?

Unidade 4 77
O primeiro argumento é de que, uma vez esclarecido o fato
criminoso cessa a perseguição da polícia, que sempre causa
transtornos à vida pessoal, social e profissional de alguém.

Sabe-se que o silêncio do interrogado não pode ser interpretado


em prejuízo a sua defesa, nos termos do artigo 5º, LXIII, da
Constituição Federal de 1988.
Art. 5º, LXIII, da Constituição Federal
de 1988: “O preso será informado Não obstante, esta atitude motiva a intensificação das
de seus direitos, entre os quais o investigações.
de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família A cessação da pressão social e da imprensa também pode
e de advogado”. constituir um forte argumento para convencer uma pessoa a
esclarecer o delito.

Técnica do Desmentido
Esta técnica consiste em relacionar e mostrar ao suspeito que está
faltando com a verdade, mostrando a ele todas as controvérsias
que seu interrogatório apresenta, oferecendo a ele, após, a
oportunidade de dizer a verdade. Com paciência, o interrogador
deve aguardar a reação do suspeito, agindo sempre com calma e
segurança.

Após a aplicação desta técnica, deve-se retornar à técnica da


espontaneidade.

Técnica do Questionamento
Consiste em questionar o que foi dito pelo indiciado e que não
estiver de acordo com o que se apurou. Deve-se indagar acerca do
que foi alegado pelo indiciado que esteja mal esclarecido.

Técnica da Alternância
Consiste na aplicação das técnicas mencionadas acima, com o
diferencial de que, a aplicação de cada técnica deve ser feita
por policial diferente, alterando-se, portanto as técnicas e seus
aplicadores.

Cada policial deverá estar plenamente certo da técnica que irá


aplicar, além de conhecer com a maior profundidade possível o
fato delituoso que estiver sendo apurado.

78
Esta técnica tem proporcionado bons resultados práticos, pois
é muito comum o investigando, no decorrer da aplicação das
técnicas, escolher um dos policiais para revelar a verdade, por ter
maior afinidade com ele do que com os demais.

Técnica da Informação Cruzada


Aplica-se esta técnica nos casos em que se investiga dois ou mais
co-autores ou partícipes do delito, e quando a versões dos fatos
oferecidas por eles sejam controversas.

Deve ser aplicada por um único policial, de maneira


que se mantenha um perfeito domínio sobre os pontos
abordados e que estes sejam explorados com todos os
interrogandos.

É importante inquirir os suspeitos separadamente


impossibilitando que um deles tome conhecimento das
declarações dos demais.

Quando o interrogador verifica que existem divergências,


questionar o interrogando cuja versão esteja em desacordo com
o conjunto probatório podendo realizar acareação entre os
suspeitos, a fim de elucidar os fatos.

É interessante que você perceba que a acareação deve ser breve e


se restringir apenas ao ponto em que houve controvérsia.

Do Emprego do Detector de Mentiras


Diferentemente de outros Países, o detector de mentiras
não é utilizado no Brasil, sabendo-se que ele busca afetar
psicologicamente o suspeito.

Unidade 4 79
SEÇÃO 2 - Infiltração policial
A infiltração policial trata-se de técnica operacional eficaz, que
permite a obtenção de conhecimentos profundos da organização
criminosa, obtidos pelo policial infiltrado.

Apresenta elevado risco para o policial infiltrado, pelo que


requer planejamento e preparação. Deve ser realizada por
tempo determinado, mediante prévia autorização judicial e,
preferencialmente, sob acompanhamento do Ministério Público.

No Brasil, em descompasso com a maioria dos países mais


avançados no tocante à repressão ao crime, a infiltração até
bem pouco tempo não era permitida. Foi inserida no sistema
processual penal brasileiro pela Lei n. 10217/01, que alterou a
redação do artigo 2º da Lei Federal n. 9034/95:

Art. 2º. Em qualquer fase da persecução criminal são


permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, os
seguintes procedimentos de investigação e formação de
provas:
.................................................
V – infi ltração por agentes de polícia ou de inteligência,
em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos
especializados pertinentes, mediante circunstanciada
autorização judicial.

Trata-se de uma técnica de investigação que objetiva obter


informações, mediante o recrutamento e posterior inserção
de pessoas, em determinado ambiente, sob a proteção de uma
história-cobertura.

A infiltração visa a atingir, entre outros, os seguintes objetivos:


obter informações ou provas; constatar se um crime está sendo
planejado ou realizado; determinar o momento oportuno
para a realização de uma operação policial; identificar pessoas
envolvidas em um crime.

80
SEÇÃO 3 - Informante
A técnica do informante permite estabelecer procedimentos
uniformes, a serem utilizados no manejo de fontes vivas
(informantes), que se encontram inseridos na comunidade, e,
portanto, possuem informação de grande valia.

Existe a necessidade de sua regulamentação


através de diretrizes gerais, a serem seguidas
pelos órgãos policiais, que contemplem
o acompanhamento e fiscalização pelas
Corregedorias de Polícia.

SEÇÃO 4 - Vigilância
A vigilância é a observação encoberta, contínua ou periódica
de pessoas, veículos, lugares e objetos com a finalidade de obter
informações sobre as atividades e a identidade de pessoas. Muito
freqüentemente, a vigilância é a única técnica de investigação a
que se pode recorrer para averiguar a identidade dos fornecedores,
transportadores e compradores de drogas ilícitas.

O planejamento de uma operação de vigilância, seja a pé ou por


outros meios, deve levar em conta a possibilidade de uma contra-
vigilância, por parte do suspeito ou de seus cúmplices, por meios
similares, incluídas as contramedidas eletrônicas.

Quais os tipos de vigilância existentes?

De modo geral, existem três tipos de vigilância:

Unidade 4 81
a) Vigilância móvel: em que o investigador segue um
indivíduo a pé ou em um veículo.
b) Vigilância fixa: que consiste em vigiar continuamente,
a partir de um ponto fixo, um local, objeto ou pessoa.
c) Vigilância eletrônica: na qual se utilizam aparatos
eletrônicos, mecânicos ou de outra índole para
interceptar o conteúdo de comunicações orais ou
telefônicas.

Quais os são objetivos de uma operação de vigilância?

 Obter provas de um delito.


 Proteger agentes encobertos ou corroborar seu
testemunho.
 Localizar pessoas observando seus conhecidos e os
lugares que freqüentam.
 Testar a confiabilidade de informantes.
 Localizar bens escondidos ou contrabando.
 Impedir que se cometa um ato criminoso ou prender
uma pessoa no momento em que comete o delito.
 Obter informações que possam ser utilizadas em
interrogatórios.
 Obter pistas e informações graças aos contatos
mantidos com outras fontes.
 Determinar onde se encontra uma pessoa a qualquer
momento.
 Obter provas admissíveis nos tribunais.

82
Uma das primeiras medidas que antecedem qualquer operação
de vigilância é a designação do policial coordenador. Nas
operações em que participam vários policiais, deve ser preparado
um plano tático que preveja as eventualidades e especifique a
função de cada um dos policiais, a dura ção da vigilância, as
substituições. Além disso, deve-se estabelecer um sistema seguro
de comunicação com os superiores e uma coordenação central.
Também devem ser combinados sinais para a comunicação entre
os policiais da vigilância.

Na seqüência, você tem a oportunidade de ver mais


pormenorizadamente aspectos da vigilância eletrônica,
considerando a sua ampla utilização e sua previsão legal.

a) Vigilância eletrônica
A vigilância eletrônica compreende muitas e diversas tecnologias,
algumas das quais exigem um equipamento complexo e caro. Em
muitos países, a vigilância eletrônica está estritamente limitada
pelo temor de violar o direito à intimidade das pessoas. É
extremamente importante que se levem em conta essas limitações
potenciais à estratégia de investigação, e se atue de acordo ao
planejar as operações de vigilância eletrônica.

A vigilância eletrônica é um aparato investigativo que ocasiona


excelentes resultados operacionais, destacadamente no combate
ao crime organizado e ao tráfico de drogas.

Para utilizar eficazmente os diversos aparatos e técnicas


requeridas por esse modo especializado de investigação, é
necessário receber instrução e capacitação especializadas.

Considerando a abrangência do tema, é oportuno destacar que o


estudo procurou enfocar a vigilância que se cumpre como recurso
de investigação policial, mediante a captação de conversações
ambientais e a interceptação de comunicações telefônicas.

Unidade 4 83
b) Captação de conversações ambientais
No que concerne à captação de conversações ambientais, a Lei
Federal n. 10217/2001 instituiu no sistema jurídico brasileiro
esta modalidade de vigilância eletrônica. A Lei Federal n.
10217/2001 acrescentou o inciso IV, ao artigo 2º da Lei Federal
n. 9034/1995, disciplinando expressamente acerca da captação
e interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou
acústicos, bem como o seu registro e análise.

c) Interceptação de comunicações telefônicas


Mendes, (1999), como a maioria dos doutrinadores, considera
interceptação telefônica a captação, por terceiro, de conversa
telefônica, sem ou com o conhecimento de um ou de ambos
os interlocutores. Quando feita por um dos interlocutores, a
captação é chamada gravação de conversa telefônica. A prova
obtida mediante gravação de conversa telefônica será objeto de
comentário posteriormente.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso


XII estabelece: (...) é inviolável o sigilo da correspondência e
das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal.

Anteriormente à previsão constitucional o fundamento legal


utilizado para a interceptação era o artigo 57, inciso II, alínea
“e” da Lei n. 4117/62 (Código Brasileiro das Telecomunicações),
que, excepcionando o princípio constitucional, admitia fossem
violadas as comunicações, desde que judicialmente autorizadas e
(...) para fins de investigação criminal ou prova em processo penal.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, a quebra do


sigilo das comunicações passou a ter tratamento constitucional,
porém, exigindo necessária regulamentação por lei ordinária, no
entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência, inclusive
do Supremo Tribunal Federal.

84
Em 1996, entrou em vigor a Lei Federal n. 9296/96
que regulamentou o inciso XII, parte final, do artigo 5º,
da Constituição Federal e tratou das interceptações
telefônicas. O parágrafo único do artigo 1º da Lei
n.9296/96, Lei n. 9296/96, artigo 1º, § único: “O
disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do
fluxo de comunicações em sistemas de informática
e telemática” estendeu a sua abrangência à
interceptação do fluxo de comunicações em sistemas
de informática e telemática. A discussão doutrinária
acerca da legalidade deste dispositivo será comentada
oportunamente.

A Lei n. 9296/96 prevê diversas exigências para a concessão de


interceptação telefônica, tais como:

 a interceptação deve ser utilizada como prova em


investigação criminal e em instrução processual penal;
 infração penal apurada deve ser punida com pena de
reclusão;
 requerimento deve ser feito pela autoridade policial,
na investigação criminal, ou pelo representante do
Ministério Público, na investigação criminal e na
instrução processual penal;
 necessidade de ordem judicial;
 prazo máximo de interceptação de quinze dias,
prorrogável por igual período, comprovada
necessidade;
 procedimento deve tramitar em segredo de justiça;
 exigência de realização de auto circunstanciado após
o término da interceptação, constando o resumo das
operações realizadas.

A mencionada Lei, em seu artigo 10º, previu:

Constitui crime realizar interceptação de comunicações


telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar
segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com
objetivos não autorizados em lei.
Penal – reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

Unidade 4 85
Com o advento da Constituição Federal de 1988, que inseriu
diversos direitos e garantias individuais muitas vezes limitadoras
da busca da prova criminal, e também em razão dos crescentes
índices da criminalidade, os agentes estatais que realizam
investigação viram-se obrigados a se aperfeiçoar no exercício
profissional e a se pautar em técnicas eficazes à atividade
investigativa.

Dessa forma, técnicas e procedimentos passaram a ser adotados.


Nesse contexto, recursos como técnicas de interrogatório,
infiltração, uso de informantes e vigilância são cada vez mais
utilizados pelas Polícias investigativas na elucidação dos delitos.

- Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de Auto-


avaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos
acerca do assunto estudado.

Síntese

A atividade investigativa afigura-se como trabalho lógico e


seqüencial que objetiva a apuração das infrações penais, através
da coleta de provas criminais.

Dessa forma, é imprescindível ao êxito desta atividade a adoção


de procedimento, que se consubstancia na escolha dos diversos
atos policiais no decorrer das investigações e a técnica representa
a maneira como o procedimento é realizado.

Interrogatório é o termo utilizado pelo Código de Processo


Penal para conceituar a inquirição do acusado no processo
penal. O procedimento do interrogatório encontra-se disposto
nos artigos 185 a 196 do Código de Processo Penal, que foram
todos alterados pela Lei n.10792, de 1.12.2003.

Algumas técnicas investigativas foram estudadas nesta unidade.

- Interrogatório

É o ato em que o suspeito ou indiciado pela prática da


infração penal presta depoimento formalmente nos autos, perante
a autoridade policial. As técnicas de interrogatório também
podem ser utilizadas na inquirição da vítima e testemunha.

86
As técnicas de interrogatório são as seguintes:

1.Técnicas de abordagem dos fatos: da seqüência memorial, da


seqüência dos fatos, da seqüência embaralhada, da seqüência
protaitiva e da seqüência retroativa.

2. Técnicas de comportamento: da espontaneidade, da indução da


persuasão, do desmentido, do questionamento, da alternância, da
informação cruzada.

- Infiltração

A infiltração policial trata-se de técnica operacional eficaz, que


permite a obtenção de conhecimentos profundos da organização
criminosa, obtidos pelo policial infiltrado. Requer planejamento
e preparação e foi inserida no sistema processual penal brasileiro
está pela Lei 10217/01, que alterou a redação do artigo 2º da Lei
Federal n. 9034/95.

– Informante

A técnica do informante permite estabelecer procedimentos


uniformes, a serem utilizados no manejo de fontes vivas
(informantes), que se encontram inseridos na comunidade, e,
portanto, possuem informação de grande valia.

- Vigilância

A vigilância é a observação encoberta, contínua ou periódica


de pessoas, veículos, lugares e objetos, com a finalidade de obter
informações sobre as atividades e a identidade de pessoas. Muito
freqüentemente, a vigilância é a única técnica de investigação a
que se pode recorrer para averiguar a identidade dos fornecedores,
transportadores e compradores de drogas ilícitas.

A vigilância eletrônica compreende muitas e diversas tecnologias,


algumas das quais exigem um equipamento complexo e caro.
Em muitos países, a vigilância eletrônica está estritamente
limitada pelo temor de violar o direito à intimidade das pessoas.
É extremamente importante que se leve em conta essas limitações
potenciais à estratégia de investigação, e atue de acordo ao
planejar as operações de vigilância eletrônica.

Unidade 4 87
São modalidades de vigilância eletrônica, a captação de
conversações ambientais e a interceptação de comunicações
telefônicas.

A captação de conversações ambientais encontra-se prevista no


inciso IV, do artigo 2º da Lei Federal n. 9034/95. Este inciso foi
acrescentado pela Lei Federal n. 10217/2001.

A interceptação de comunicações telefônicas encontra-se


disciplinada pela Lei Federal n. 9296/96.

Atividades de auto-avaliação

Assinale verdadeiro ou falso:

( ) Durante o interrogatório do indiciado, o advogado poderá fazer


perguntas, em face do princípio do contraditório consagrado pela
Constituição Federal de 1988.

( ) É necessário que a vítima seja interrompida durante o relato do


ocorrido, para que sejam feitas perguntas dirigidas aos autores, armas
e outros dados importantes.

( ) No caso de haver mais de um suspeito, é importante que eles sejam


interrogados conjuntamente.

( ) O detector de mentiras e a hipnose são meios de prova aceitos no


ordenamento brasileiro, considerando que o rol de provas elencado
no Código de Processo Penal Brasileiro é apenas exemplificativo.

( ) São modalidades de vigilância eletrônica a captação de conversação


ambiental e a interceptação telefônica.

( ) Interceptação telefônica e gravação telefônica são sinônimos.

88
2. Responda à seguinte questão:

Indivíduo ameaçado de morte por telefone e grava esta ameaça,


durante uma conversação, este realiza gravação telefônica ou
interceptação telefônica? Por quê? Justifique sua resposta.

Saiba mais

Para aprofundar seus conhecimentos leia o:

Artigo: “Violação da intimidade por intermédio de interceptação


telefônica, escuta telefônica e gravação clandestina-prova-sua
validade na persecução criminal.” Disponível em:

http://direitonetcombr/artigos/x/24/32/2432

Unidade 4 89
5
UNIDADE 5

Limites da Investigação
Criminal

Objetivos de aprendizagem
 Conhecer a prova criminal, seu conceito e sua evolução
histórica.
 Relacionar a prova às manifestações e aos princípios
constitucionais de garantia dos direitos fundamentais.

Seções de estudo
Seção 1 Sobre as provas: história e garantias
constitucionais
Para início de estudo
Para a manutenção de um Estado Democrático de Direito é
necessário que a atividade estatal seja limitada por direitos e
garantias individuais.

Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988, tida como


garantista, instituiu diversos direitos individuais ao cidadão
que devem ser respeitados e acabam por limitar a atuação
policial investigativa na busca da prova. Também outras normas
infraconstitucionais elencam direitos individuais, de ordem
material e processual.

A Constituição da República explicita, dentre outros, o


direito à vida, à liberdade, à igualdade, à integridade física e
moral, à privacidade, à honra e imagem, bem como garante as
inviolabilidades da manifestação do pensamento, da liberdade
espiritual, da expressão intelectual, artística e científica, do
domicílio, do sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e telefônicas. Assegura, ainda, a garantia
da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos e o
direito à não produzir prova contra si próprio. Todos devem ser
considerados na investigação criminal.

Como você já teve a oportunidade de ver, a investigação policial


almeja a apuração da materialidade e autoria dos crimes,
mediante a obtenção de provas criminais.

Nesta unidade você terá a oportunidade de estudar sobre as


provas, sua história e como elas se inserem no ordenamento
jurídico brasileiro e concebidas no âmbito dos direitos e princípios
constitucionais.

Vamos lá ? Comecemos, então, com um pouco de história.

92
SEÇÃO 1 - Sobre as provas: história e garantias
constitucionais
Num Estado Democrático de Direito a busca pela prova
na investigação policial não é absoluta, encontrando limites
expressos constitucional e infraconstitucionalmente.

A prova, instrumento por meio do qual se forma a convicção


do juiz a respeito da ocorrência ou inocorrência dos fatos
controvertidos no processo, sempre foi influenciada pelo contexto
histórico, social e cultural da civilização.

Você sabia?
Que durante a Antigüidade e parte da Idade
Média, quando a religião era o valor supremo
das organizações e desconheciam-se os direitos
fundamentais, instituiriam-se as ordálias e os
juramentos, meios de prova que outorgavam a Deus a
capacidade de condenar ou absolver os indivíduos?
Que no final da Idade Média e grande período da
Idade Moderna, com a criação dos Tribunais da
Inquisição, a tortura era oficialmente aceita como
meio de Prova necessário para a obtenção da
confissão?
Utilizava-se o sistema das provas legais, em que a
confissão era mais valorada do que as demais provas.

Desconhecendo o princípio da presunção de inocência, as provas


não eram reunidas para apurar uma possível culpabilidade do
réu, sendo que esta era constituída de cada um dos elementos que
permitiam reconhecer um culpado.

Prevalecia a concepção organicista da sociedade, em que o


interesse do Estado estava acima do indivíduo, o qual não possuía
direitos e garantias limitadores do poder estatal.

Apenas com os ideais iluministas da Revolução Francesa, os


valores do homem considerado em sua individualidade passaram
a serem observados. Contrapondo-se ao sistema das provas
legas, criou-se o sistema da íntima convicção, concedendo total

Unidade 5 93
liberdade aos juízes na apreciação da Prova, dispensando-os de
motivar suas decisões.

O homem passou a ser respeitado enquanto sujeito


de direitos e garantias, dentre elas, a proibição legal
da tortura, a presunção de inocência do acusado e
o direito ao contraditório. A busca pela verdade na
investigação e no processo criminal passou a sofrer
limitações consubstanciadas nas liberdades públicas.

Posteriormente, opondo-se ao subjetivismo da íntima convicção


do juiz, surgiu o sistema da persuasão racional ou livre convicção,
pelo qual a motivação das decisões judiciais tornou-se verdadeira
garantia individual.

Como você pode ver, através do sistema da persuasão racional,


adotado pelo Código Processual Penal Brasileiro, não há
hierarquia entre as provas e o juiz pode decidir de acordo com
a sua consciência, desde que o faça motivadamente e obedeça à
Constituição da República e demais textos legais.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem,


de 1789, e outros textos internacionais sobre
Direitos humanos, proclamaram diversos direitos
fundamentais, muitos deles consagrados pela
Constituição Federal de 1988.

Estes direitos e garantias consubstanciam-se em limites à


atividade estatal, inclusive no que concerne à produção da prova
na investigação e no processo penal.

Neste contexto, no Estado Democrático brasileiro, os princípios


e regras insertos, explicita ou implicitamente, na Constituição
da República atuam como norteadores da fase policial e do
processo penal, que passa a ser concebido não apenas como
instrumento para persecução penal, mas, também, como meio
para salvaguardar direitos fundamentais.

94
Quando a prova viola normas de direito material,
tais como os princípios constitucionais, é tida como
ilícita. Quando a prova ofende preceitos de ordem
processual é chamada ilegítima. Ambas, provas ilícitas
e ilegítimas, são ilegais.

Nesta linha de pensamento, verifica-se que a atuação da Polícia


em um Estado Democrático de Direito é limitada, também,
pelos direitos e garantias individuais. Aos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário cabem respeitar os direitos fundamentais,
também chamados de liberdades públicas, conceituadas por
Grinover, como sendo (...) os Direitos do homem que o Estado, Liberdades fundamentais
através de sua consagração, transferiu do Direito natural ao Direito e liberdades públicas
positivo. (GRINOVER: 1992:15). são também expressões
usadas para exprimir
Acerca deste tema, sintetizam Grinover, Scarance e Gomes Direitos Fundamentais
(cf. SILVA, José Afonso
Filho:
da. Curso de Direito
Constitucional Positivo.
(...) os Direitos do homem, segundo a moderna doutrina
1999, p.181)
constitucional, não podem ser entendidos em sentido
absoluto, em face da natural restrição resultante do
Princípio da convivência das liberdades, pelo que não se
permite que qualquer delas seja exercida de modo danoso
à ordem pública e às liberdades públicas. As grandes
linhas evolutivas dos Direitos Fundamentais, após o
liberalismo, acentuaram a transformação dos Direitos
individuais em Direitos do homem inserido na sociedade.
De tal modo que não é mais exclusivamente com
relação ao indivíduo, mas no enfoque de sua inserção na
sociedade, que se justificam, no Estado social de Direito,
tanto os Direitos como as suas limitações. (GRINOVER,
et all, 1999:113).

Efetivamente, o processo penal é o instrumento no qual se


desenvolve a instrução probatória, através de quaisquer meios de
provas, desde que não ofendam os direitos fundamentais, que se
colocam como limites à atividade investigativa policial.

Unidade 5 95
A utilização das provas e os direitos fundamentais
A Constituição da República explicita as garantias concernentes
à vida, liberdade, igualdade, segurança, propriedade, integridade
física e moral, intimidade, vida privada, honra e imagem das
No contexto desta discussão, a
pessoas; bem como às inviolabilidades da manifestação do
autora adotou como sinônimas as pensamento, da liberdade espiritual, da expressão intelectual,
expressões ‘Direito à intimidade” e “ artística e científica, do domicílio, do sigilo da correspondência
Direito à Privacidade”. e das comunicações telegráficas, de dados e telefônicas. Assegura
ainda, as seguintes garantias, dentre outras: da inadmissibilidade
das provas obtidas por meios ilícitos, da publicidade dos atos
processuais, do interrogado reservar-se no direito de permanecer
calado.

Relembre o que diz o artigo 5º. da Constituição da República:

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do Direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (..) incisos III – ninguém será submetido a tortura
nem a tratamento desumano ou degradante; IV – é livre a
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; IX
– é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica
e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o Direito à indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação; XI- a casa
é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou , durante o
dia, por determinação judicial; XII – é inviolável o sigilo da
correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e
das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal; LVI – são
inadmissíveis, no processo, as Provas obtidas por meios ilícitos;
LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

96
LXIII – o preso será informado de seus Direitos, entre os quais
o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
família e de advogado”.

Também a tortura está proibida em diversas declarações


internacionais, inclusive na Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, de 1969, e no Pacto Internacional sobre os Direitos
Civis e Políticos, de 1966, mencionados anteriormente. No
Brasil, trata-se de crime inafiançável e insuscetível de graça ou
anistia.
Constituição da República,
Desta forma, qualquer tipo de violação à integridade física e artigo 5º, inciso XLIII
psíquica do acusado, bem como a utilização de meios que afetem – “a lei considerará
a liberdade de declaração, a intimidade e a dignidade pessoal crimes inafiançáveis e
do acusado, tais como o detector de mentiras, o hipnose, a insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura
narcoanálise, não são aceitas pelo ordenamento brasileiro, ainda (...)”. O crime de tortura
que com o consentimento do interrogado, posto que tais direitos, encontra-se tipificado na
enquanto fundamentais, são irrenunciáveis. (SILVA, 1999: 185). Lei n. 9455, de 07 de abril
de 1997.
Em face da garantia constitucional da presunção de inocência, é
vedado constranger o suspeito a fornecer provas que prejudiquem
a sua defesa, razão pela qual as intervenções corporais, tais como
exames de sangue e testes de alcoolemia, sem a anuência daquele,
são vedados pelo nosso sistema legal. Faz-se importante lembrar
que, da mesma forma, a sua negativa não presume a veracidade
do fato que se quer provar.

Acerca deste tema, afirma Gomes Filho (1997),

(...) o que se deve contestar em relação a essa


intervenções, ainda que mínimas, é a violação do Direito
à não auto-incriminação e à liberdade pessoal, pois
se ninguém pode ser obrigado a declarar-se culpado,
também deve ter assegurado o seu Direito a não fornecer
Provas incriminadoras contra si mesmo. O Direito à
Prova não vai ao ponto de conferir a uma das partes no Constituição da República,
processo prerrogativas sobre o próprio corpo e a liberdade art. 5º, XI – “a casa
de escolha da outra. (GOMES FILHO, 1997:119). é asilo inviolável do
indivíduo, ninguém
nela podendo penetrar,
A garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio sem consentimento do
morador, salvo em caso
excepciona apenas a entrada, sem consentimento do morador, em
de flagrante delito ou
caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, desastre, ou para prestar
durante o dia, por ordem judicial, garantindo a privacidade do socorro, ou, durante o dia,
cidadão. por determinação judicial.

Unidade 5 97
Como já visto, a Constituição da República garantiu, ainda, a
inviolabilidade do sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no
último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal.
Constituição da República, art. 5º, XII – “é inviolável o sigilo da
correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma em que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal.

Desconsiderando-se a discussão doutrinária acerca da expressão


cf. MENDES, Maria Gilmaíse de “último caso” incidir exclusivamente sobre as comunicações
Oliveira. Direito à Intimidade e telefônicas ou abranger as comunicações telegráficas, de dados e
Interceptação Telefônica. 1999, telefônicas, devemos concluir que, pela leitura do inciso XII do
p.173-174. artigo 5º da Constituição da República, verifica-se que o sigilo da
correspondência não atinge nenhuma das duas interpretações.

Desta forma, defende-se a análise gramatical deste inciso


e advoga-se que o sigilo da correspondência e/ou das
comunicações telegráficas e de dados não comporta exceções,
sendo absoluto, ou, embasado na visão sistêmica do ordenamento
jurídico, defende-se que nenhuma liberdade individual é
absoluta, e que, portanto, a interceptação da correspondência
e/ou das comunicações telegráficas e de dados, respeitados certos
parâmetros, é possível.

O que diz o Supremo Tribunal Federal sobre isso?

O Supremo Tribunal Federal já decidiu favoravelmente à


Lei n. 6538/78, art. 47: Para os possibilidade da interceptação, pela administração penitenciária,
efeitos desta Lei, são adotadas de correspondência que seria remetida por preso, com
as seguintes definições: (...) fundamento em razões de segurança pública, de disciplina
Correspondência: É toda prisional ou de preservação da ordem jurídica.
comunicação de pessoa a pessoa,
por meio de carta, através da via O Código de Processo Penal prevê que as cartas poderão ser
postal ou telegráfica.
exibidas em juízo pelo respectivo destinatário, para a defesa de
seu direito.

98
Código de Processo Penal, art. 233: “As cartas
particulares, interceptadas ou obtidas por meios
criminosos, não serão admitidas em juízo”. § único:
“As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo
respectivo destinatário, para a defesa de seu Direito,
ainda que não haja consentimento do signatário.

A inviolabilidade do sigilo de dados complementa a previsão ao


direito à intimidade e abrange as informações bancárias e fiscais
dos cidadãos.

O Art. 3º da Lei Complementar 105/2001


No que se refere ao sigilo bancário, os artigos 3º e 4º da
Lei Complementar 105/2001, que dispõe sobre o sigilo das
operações de instituições financeiras e dá outras providências,
permite a violação do sigilo bancário por decisão judicial ou por
determinação de comissão parlamentar de inquérito.

Veja o que diz o artigo:

“Serão prestadas pelo Banco Central do Brasil, pela Comissão


de Valores Mobiliários e pelas instituições financeiras as
informações ordenadas pelo Poder Judiciário, preservado o seu
caráter sigiloso mediante acesso restrito às partes, que delas não
poderão servir-se para fins estranhos à lide.

§ 1o Dependem de prévia autorização do Poder Judiciário


a prestação de informações e o fornecimento de documentos
sigilosos solicitados por comissão de inquérito administrativo
destinada a apurar responsabilidade de servidor público por
infração praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha
relação com as atribuições do cargo em que se encontre investido.

§ 2o Nas hipóteses do § 1o, o requerimento de quebra de


sigilo independe da existência de processo judicial em curso.

§ 3o Além dos casos previstos neste artigo o Banco Central


do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários fornecerão à
Advocacia-Geral da União as informações e os documentos
necessários à defesa da União nas ações em que seja parte”.

Unidade 5 99
Art. 4o da Lei Complementar 105/2001:

“ O Banco Central do Brasil e a Comissão de Valores


Mobiliários, nas áreas de suas atribuições, e as instituições
financeiras fornecerão ao Poder Legislativo Federal as
informações e os documentos sigilosos que, fundamentadamente,
se fizerem necessários ao exercício de suas respectivas
competências constitucionais e legais.

§ 1o As comissões parlamentares de inquérito, no


exercício de sua competência constitucional e legal de ampla
investigação, obterão as informações e documentos sigilosos de
que necessitarem, diretamente das instituições financeiras, ou
por intermédio do Banco Central do Brasil ou da Comissão de
Valores Mobiliários.

§ 2o As solicitações de que trata este artigo deverão ser


previamente aprovadas pelo Plenário da Câmara dos Deputados,
do Senado Federal, ou do plenário de suas respectivas comissões
parlamentares de inquérito” .

Também o sigilo fiscal pode ser excepcionado por ordem judicial


ou determinação de comissão parlamentar de inquérito.

Código Tributário Nacional, art. 198: “Sem prejuízo do


disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação,
para qualquer fim, por parte da Fazenda Pública ou
de seus funcionários, de qualquer informação, obtida
em razão do ofício, sobre a situação econômica ou
financeira dos sujeitos passivos ou de terceiros e
sobre a natureza e o estado dos seus negócios ou
atividades. Parágrafo único: Excetuam-se do disposto
neste artigo, unicamente, os casos previstos no artigo
seguinte e os de requisição regular da autoridade
judiciária no interesse da Justiça”. Constituição
Federal, art. 58, § 3º : “As comissões parlamentares de
inquérito, que terão poderes de investigação próprios
das autoridades judiciais, além de outros previstos nos
regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela
Câmara de Deputados e pelo Senado Federal (...).

100
Neste sentido faz-se importante realizar uma breve análise sobre
as interceptações telefônicas.

Interceptação telefônica
Como já foi mencionado, há diferenciação entre esta e gravação
telefônica. Quando feita por um dos interlocutores, a captação
é chamada gravação de conversa telefônica. O entendimento
doutrinário e jurisprudencial majoritário é no sentido de dar à
gravação, telefônica ou ambiental, tratamento diferenciado da
interceptação, aceitando-se a gravação, por um dos interlocutores,
como prova lícita. Este é o entendimento pacífico do Supremo
Tribunal Federal:

Interceptação telefônica e gravação de negociações


entabuladas entre seqüestradores, de um lado, e policiais
e parentes da vítima, de outro, com o conhecimento dos
últimos, recipiendários das ligações. Licitude desse meio
de prova. Precedente do STF: (HC 74.678, 1ª Turma,
10.06.97). 2. (...). (STF -1ª Turma. HC 75261 – MG
– 1ª Turma - Rel. Min. Octavio Gallotti - . j. em
24.06.1997 - p. DJU em 22.08.97.

O parágrafo único do artigo 1º da Lei n.9296/96 (Lei n.


9296/96, artigo 1º, § único: “O disposto nesta Lei aplica-
se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas
de informática e telemática”.) estende a sua abrangência
à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de
informática e telemática. Existe discrepância doutrinária acerca
da constitucionalidade deste dispositivo.

Streck não vislubra qualquer inconstitucionalidade neste artigo,


alegando que o fluxo de comunicações em sistema de informática STRECK, Lenio Luiz.
e telemática são variantes da modalidade comunicações As Interceptações
telefônicas. Conceituando a informática como a prática de Telefônicas e os
comunicações via computador e a telemática como a ciência Direitos Fundamentais.
que trata da manipulação e utilização da informação através Constituição – Cidadania
– Violência. A Lei 9296/96
do uso combinado do computador e meios de comunicação, e seus Reflexos Penais e
este autor entende que o veículo de tais variantes é o telefone, Processuais. p. 42-44.
e que portanto, será possível a interceptação para prova em
investigação criminal e em instrução processual penal, sendo o
caso.

Unidade 5 101
De outro lado, Greco Filho (1996), concebe que esta questão está
centrada na interpretação que se dá à expressão “último caso”,
prevista no inciso XII do artigo 5º da Constituição Federal. Este
autor entendendo que tal expressão limita-se às comunicações
telefônicas, excluindo as comunicações telegráficas e de dados, e
vislumbra os sistemas de informática e telemática como variantes
das comunicações de dados, considera inconstitucional o
dispositivo sob comento.

Outros Tribunais, como o Superior Tribunal e Justiça e o


Tribunal de Justiça de Santa Catarina, já decidiram pela
STJ – HC 15026 – SC – 6ª T. – Rel. constitucionalidade das interceptações dos sistemas de
Min. Vicente Leal – p. DJU em informática e telemática. Nesse sentido...
04.11.2002 TJSC – MS . 251
– (17096) – Blumenau – Rel. Des. CONSTITUCIONAL – PROCESSUAL PENAL – HABEAS-CORPUS – SIGILO
Otávio Roberto Pamplona – p. DJSC DE DADOS – QUEBRA – BUSCA E APREENSÃO – INDÍCIOS DE CRIME
em 26.10.2001 – p. 119 – INVESTIGAÇÃO CRIMINAL – LEGALIDADE – CF, ART. 5º, XII – Leis nº.9.034/95 e
nº 9.296/96 – Embora a Carta Magna, no capítulo das franquias democráticas
ponha em destaque o direito à privacidade, contém expressa ressalva para
admitir a quebra do sigilo para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal (art. 5º, XII), por ordem judicial. A jurisprudência pretoriana
é unissonante na afirmação de que o direito ao sigilo bancário, bem como ao
sigilo de dados, a despeito de sua magnitude constitucional, não é um direito
absoluto, cedendo espaço quando presente em maior dimensão o interesse
público. A legislação integrativa do canon constitucional autoriza, em sede
de persecução criminal, mediante autorização judicial, “o acesso a dados,
documentos e informações fiscais, bancários, financeiras e eleitorais” (Lei nº
9.034/95, art. 2º, III), bem como “ a interceptação do fluxo de comunicações em
sistema de informática e telemática” (Lei nº 9.296/96, art. 1º, parágrafo único).
Habeas-corpus denegado”. STJ – HC 15026 – SC – 6ª T. – Rel. Min. Vicente Leal
–p. DJU em 04.11.2002.

Ainda, decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina com


relação à prova. Leia atentamente mandado de segurança a
seguir:

102
MANDADO DE SEGURANÇA – DECISÃO MONOCRÁTICA – QUEBRA DE SIGILO
DE CORREIOS ELETRÔNICOS (E-MAIL) – ART. 5º, XII, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL – CORRESPONDÊNCIA – SISTEMA DE INFORMÁTICA E TELEMÁTICA –
INCLUSÃO NO CONCEITO – Há controvérsia se as comunicações em sistema de
informática/telemática, via correio eletrônico (e-mail), estão compreendidas
no sigilo de correspondência, de dados ou de comunicações telefônicas
preconizado pelo art. 5º, XII, da Constituição Federal. A Lei nº 9.296/1996, no
parágrafo único do seu art. 1º, equiparou-as às comunicações telefônicas,
em relação às quais é pacífico que cabe a quebra do sigilo por determinação
judicial. A matéria é objeto da ADIN nº 1.499-9, na qual foi indeferida a
medida liminar, não por ausência do fumus boni iuris, mas do periculum in
mora, estando pendente de julgamento. Na espécie, todavia, para a análise
do caso não há a necessidade de se perquirir sobre a constitucionalidade da
equiparação. É que a interceptação do fluxo de tais comunicações (informática
e telemática), ainda que constitucional, porque representa exceção à garantia
constitucional prevista no preceito referido, há de ser deflagrada com cautela,
devendo o magistrado verificar se estão presentes os pressupostos legais para
o deferimento da medida e, em caso positivo, seguir o procedimento fixado
na Lei nº 9.296, de 1996, disso dependendo a licitude ou ilicitude da medida.
No caso, sendo as infrações investigadas punidas, no máximo, com a pena
de detenção, descabe a quebra do sigilo, ante a regra inserta no inciso III do
art. 2º da Lei nº 9.256/1996. Segurança concedida.(TJSC – MS. 251 – (17096)
– Blumenau – Rel. Des. Otávio Roberto Pamplona – p. DJSC em 26.10.2001 – p.
119).

Foram sucintamente mencionados neste item, em caráter


exemplificativo, apenas alguns limites materiais à prova, que
ensejam muita discussão doutrinária e jurisprudencial.

Limitações probatórias
Além dos preceitos limitativos de ordem material, existem
limitações probatórias previstas no Código de Processo Penal.
Podemos citar: a obrigatoriedade da prova pericial para a
constatação da materialidade da infração penal, quando esta
deixar vestígios, com possibilidade de suprimento pela prova
testemunhal, no caso de desaparecimento destes vestígios; a
impossibilidade de condenação embasada exclusivamente na
confissão do acusado; necessidade, em regra, dos laudos periciais
serem lavrados por dois peritos oficiais; restrições de prova
relacionadas ao estado civil das pessoas; proibição de depor como
testemunhas as pessoas que, em razão de função, ministério,
ofício, ou profissão, devam guardar segredo.

Unidade 5 103
Código de Processo Penal, art. 158 – “Quando
a infração deixar vestígios, será indispensável o
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não
podendo supri-lo a confissão do acusado”; art. 167
– “Não sendo possível o exame de corpo de delito,
por haverem desaparecido os vestígios, a Prova
testemunhal poderá suprir-lhe a falta”; art. 159, caput
–“Os exames de corpo de delito e as outras perícias
serão feitos por dois peritos oficiais”; art. 155 – “No
juízo penal, somente quando ao estado das pessoas,
serão observadas as restrições à Prova estabelecidas
na lei civil”; art. 62 – “No caso de morte do acusado,
o juiz somente à vista da certidão de óbito, e depois
de ouvido o Ministério Público, declarará extinta e
punibilidade”; art. 207 – “São proibidas de depor as
pessoas que, em razão de função, ministério, ofício
ou profissão, devam guardar segredo, salvo se,
desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o
seu testemunho”.

Portanto, perceba que a produção da prova criminal encontra-se


limitada por preceitos insculpidos na Constituição da República,
Código de Processo Penal, e demais textos legais que, quando
violados, conferem ilegalidade à prova.

104
Síntese

A prova criminal, objeto da investigação policial, , sempre


foi influenciada pelo contexto histórico, social e cultural da
civilização.

Durante a Antigüidade, e parte da Idade Média, quando a


religião era o valor supremo das organizações e desconheciam-
se os direitos fundamentais, instituíram-se as ordálias e os
juramentos, meios de prova que outorgavam a Deus a capacidade
de condenar ou absolver os indivíduos.

No final da Idade Média, e grande período da Idade Moderna,


com a criação dos tribunais da inquisição, a tortura era
oficialmente aceita como meio de Prova necessário para a
obtenção da confissão. Utilizava-se o sistema das provas legais,
em que a confissão era mais valorada do que as demais provas.

Desconhecendo o princípio da presunção de inocência, as provas


não eram reunidas para apurar uma possível culpabilidade do
réu, sendo que esta era constituída de cada um dos elementos que
permitiam reconhecer um culpado.

Prevalecia a concepção organicista da sociedade, em que o


interesse do Estado estava acima do indivíduo, o qual não
possuía direitos e garantias limitadores do poder estatal.

Apenas com os ideais iluministas da Revolução Francesa, os


valores do homem considerado em sua individualidade passaram
a ser observados. Contrapondo-se ao sistema das provas legas,
criou-se o sistema da íntima convicção, concedendo total
liberdade aos juízes na apreciação da prova, dispensando-os de
motivar suas decisões.

O homem passou a ser respeitado enquanto sujeito de direitos e


garantias, dentre elas, a proibição legal da tortura, a presunção de
inocência do acusado e o Direito ao contraditório. A busca pela
verdade no processo passou a sofrer limitações consubstanciadas
nas liberdades públicas.

Posteriormente, opondo-se ao subjetivismo da íntima convicção


do juiz, surgiu o sistema da persuasão racional ou livre convicção,

Unidade 5 105
pelo qual a motivação das decisões judiciais tornou-se verdadeira
garantia individual.

Através do sistema da persuasão racional, adotado pelo Código


Processual Penal Brasileiro, não há hierarquia entre as provas e
o juiz pode decidir de acordo com a sua consciência, desde que
o faça motivadamente e obedeça à Constituição da República e
demais textos legais.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1789, e


outros textos internacionais sobre direitos humanos proclamaram
diversos direitos fundamentais, muitos deles consagrados pela
Constituição da República.

Estes direitos e garantias consubstanciam-se em limites à


atividade estatal, inclusive no que concerne à produção da prova
no processo penal.

Neste contexto, no Estado Democrático Brasileiro os princípios


insertos, explicita ou implicitamente, na Constituição da
República atuam como norteadores do processo penal, que passa
a ser concebido não apenas como instrumento para persecução
penal, mas também como meio para salvaguardar direitos
fundamentais.

A Constituição da República explicita, dentre outros, o


direito à vida, à liberdade, à igualdade, à integridade física e
moral, à privacidade, à honra e imagem, bem como garante as
inviolabilidades da manifestação do pensamento, da liberdade
espiritual, da expressão intelectual, artística e científica, do
domicílio, do sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e telefônicas. Assegura, ainda, a garantia
da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos.

Todos estes direitos e garantias limitam a atividade policial


investigativa.

Quando uma prova é produzida com ofensa a algum destes


direitos e garantias, é tida como ilícita, posto que ofende norma
de direito material, e passa a não ter qualquer valor para embasar
uma sentença, além da responsabilidade penal e administrativa a
quem produziu a prova está sujeito.

106
Atividades de auto-avaliação

Assinale verdadeiro ou falso:

( ) Exames de sangue e testes de alcoolemia podem ser realizados no


suspeito mesmo que sem a sua anuência.

( ) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento


do morador, em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ainda que sem ordem judicial.

( ) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento do


morador, durante o dia ou à noite, com ordem judicial.

( ) O registro dos arquivos extraídos da memória de computador, objeto


de exclusiva apreensão mediante entrada em residência, sem ordem
judicial, constitui prova lícita.

( ) Captação de conversa ambiental por um dos interlocutores, é


prova lícita.

2. Responda à seguinte questão:

Para comprovar um crime de trânsito, expondo a dano potencial a


incolumidade de outrem, previsto no artigo 306, do Código de Trânsito
Brasileiro, é possível comprovar a embriaguez constrangendo o
condutor a realizar o teste do bafômetro, mesmo sem a sua anuência?
Em caso negativo, fundamente e informe que outros meios de prova
poderiam ser utilizados para tanto.

Unidade 5 107
110
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1998. 293 p.

VALIENTE, Francisco Tomás Y. La Tortura Judicial en


España. Barcelona: Crítica, 2002. 273 p.

SABADELL, Ana Lucia. Problemas Metodológicos na


História do Controle Social: o exemplo da tortura. Revista
Brasileira de Ciências Criminais. Editora Revista dos Tribunais.
Ano 10. n. 39.julho/setembro 2002. p.266-287.

114
116
Respostas e comentários das
atividades de auto-avaliação

Respostas e comentários das questões das unidades do Livro


didático

Unidade 1
1) Assinale V ou F

(F) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo,


a apreensão de estojos no local não é importante, posto que
não é possível realizar perícia comparativa entre o estojo e a
arma de fogo.

(V) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de


fogo, a apreensão de projéteis no local possibilita a realização
do laudo de identificação de projéteis e, quando a arma é
apreendida, o laudo de comparação balística.

(V) O rol de provas elencados no Código de Processo Penal


Brasileiro é exemplificativo.

(F) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal


Brasileiro é o da íntima convicção.

(V) A prova testemunhal pode suprir a prova pericial quando a


infração penal não deixar vestígios.
Unidade 2
1) Qual a importância do laudo pericial na investigação criminal?
R: O laudo pericial vem sendo percebido como uma das provas
cruciais para a investigação, posto que, na condição de prova objetiva,
científica, é mais difícil de ser refutado.

As Polícias investigativas mais avançadas do mundo vêm priorizando a


prova pericial.

2) Que tipo de prova é o laudo pericial?


R: O laudo pericial é prova objetiva, científica.

3) O laudo pericial é sempre conclusivo?


R: O laudo pericial nem sempre é conclusivo. No sistema da livre
convicção, adotado pelo Código de Processo Penal Brasileiro, as
provas não possuem valor pré-determinado, e, portanto, não são
hierarquizadas, ficando a critério do juiz esta valoração.

Unidade 3
1) Assinale verdadeiro ou falso:

(F) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é o


da íntima convicção.

(F) O inquérito policial é peça imprescindível para a instauração do


processo criminal.

(F) As Polícias exercem atividades excludentes, razão pela qual a Polícia


Militar é proibida de realizar qualquer tipo de investigação criminal.

2. Responda à seguinte questão:

Na sua percepção, durante o curso de uma investigação, os policiais


devem estar voltados prioritariamente à indicar e localizar o autor do
crime ou à busca da verdade?
R: Em um Estado Democrático de Direito, o objetivo primordial da
investigação deve ser a busca da verdade dos fatos, ainda que a
verdade demonstre que o suspeito não é o autor do crime, ou que o
autor agiu embasado em alguma excludente de antijuridicidade, tal
como legítima defesa ou estado de necessidade. Dessa forma, muitas
vezes no transcorrer da atividade investigativa são coletadas provas em
favor da inocência do suspeito.

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Unidade 4
1) Assinale verdadeiro ou falso:

(F) Durante o interrogatório do indiciado, o advogado poderá fazer


perguntas, em face do princípio do contraditório consagrado pela
Constituição Federal de 1988.

(F) É necessário que a vítima seja interrompida durante o relato do


ocorrido, para que sejam feitas perguntas dirigidas aos autores, armas e
outros dados importantes.

(F) No caso de haver mais de um suspeito, é importante que eles sejam


interrogados conjuntamente.

(F) O detector de mentiras e a hipnose são meios de prova aceitos no


ordenamento brasileiro, considerando que o rol de provas elencado
no Código de Processo Penal Brasileiro é apenas exemplificativo.

(V) São modalidades de vigilância eletrônica a captação de conversação


ambiental e a interceptação telefônica.

(F) Interceptação telefônica e gravação telefônica são sinônimos.

2. Responda à seguinte questão:

Indivíduo ameaçado de morte por telefone e grava esta ameaça,


durante uma conversação, este realiza gravação telefônica ou
interceptação telefônica? Por quê?
R: Realiza gravação telefônica. A interceptação necessita de ordem
judicial para ser feita e é sempre realizada por um terceiro.

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Unidade 5
1) Assinale verdadeiro ou falso:

(F) Exames de sangue e testes de alcoolemia podem ser realizados no


suspeito mesmo que sem a sua anuência.

(V) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento


do morador, em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ainda que sem ordem judicial.

(F) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento do


morador, durante o dia ou à noite, com ordem judicial.

(F) O registro dos arquivos extraídos da memória de computador, objeto


de exclusiva apreensão mediante entrada em residência, sem ordem
judicial, constitui prova lícita.

(V) Captação de conversa ambiental por um dos interlocutores, é prova


lícita.

2. Responda à seguinte questão:

Para comprovar o crime de trânsito, expondo a dano potencial a


incolumidade de outrem, previsto no artigo 306, do Código de Trânsito
Brasileiro, é possível comprovar a embriaguez constrangendo o
condutor a realizar o teste do bafômetro, mesmo sem a sua anuência?
Em caso negativo, fundamente e informe que outros meios de prova
poderiam ser utilizados para tanto.
R: Em face do direito de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa, senão em virtude de lei, previsto no artigo 5º, II, da
Constituição Federal de 1988, ninguém pode ser obrigado a produzir
prova contra si próprio, pelo que não é possível constranger alguém a
realizar o bafômetro, sem o seu consentimento.

A prova testemunhal e o laudo pericial de verificação de embriaguez,


realizado por médicos legistas, são outros meios de prova que podem
demonstrar o estado de embriaguez.

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