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Os caçadores de cobras dos EUA que

lutam contra pítons gigantes

CRÉDITO,FLORIDA FISH & WILDLIFE


Article information

• Author,Max Matson
• Role,BBC News
• 4 agosto 2023

Desde que a Flórida lançou sua primeira competição pública de caça a pítons-
birmanesas, há uma década, milhares de pessoas dos Estados Unidos e de
outros países tem se empenhado em matar o maior número possível das
enormes serpentes.
Jake Waleri, 22, por exemplo, tem um grande plano para as férias de verão da
Universidade de Ohio: caçar cobras.
O nativo de Naples, Flórida, diz que sempre esteve a par do problema das
pítons-birmanesas, uma espécie invasora que tomou conta das Everglades
(região pantanosa subtropical no sul do Estado) e a destruição que elas
causam no habitat natural da Flórida.
Ele começou a caçá-las há dois anos - após ver caçadores em ação na TV. No
ano passado, ele entrou no Florida Python Challenge, o concurso anual de
caça às pítons do Estado, mas desistiu porque estava muito atrás no ranking.
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"Este ano eu quero ganhar", diz ele.


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Fim do Matérias recomendadas
O Florida Python Challenge atrai anualmente centenas de participantes de
lugares tão distantes quanto Canadá, Bélgica e Letônia, de olho nas
perspectivas de fama e fortuna, incluindo até U$ 30 mil (aproximadamente R$
150 mil) em prêmios em dinheiro.
Os vencedores recentes do "Desafio da Píton" incluem um professor de
ciências surdo que pegou uma cobra de quase 16 pés com as próprias mãos,
uma dupla de pai e filho que despachou rapidamente 41 cobras e um jovem de
19 anos que disse que usaria seu prêmio de U$ 10 mil (cerca de R$ 50 mil)
para equipar melhor seu caminhão para futuras caçadas.
Waleri e seu primo - que se autodenominam Glade Boys - planejam caçar
cobras todas as noites assim que o concurso começar, em 4 de agosto. Ele diz
que eles levarão bebidas energéticas para a maratona de 10 dias e "muito
repelente (de insetos) - isso é importante".
Ele também leva uma peça única de bota e roupa de borracha que vai até a
altura do peito caso precise entrar na água, um rolo de fita adesiva para selar a
boca da píton antes de matá-la e um bastão especial para afastar cobras
venenosas da estrada para que não sejam atingidas por carros.
"Se você não se sente confortável com cobras, vai estranhar muito quando
tentar agarrar aquela cabeça", diz ele.
"E se você hesita, e tiver com a mão bem à frente da cabeça daquela cobra,
ela vai te morder."

CRÉDITO,GLADES BOYS
Legenda da foto,

Jake Waleri (à direita) estava caçando cobras por cerca de dois anos quando capturou
uma píton de quase seis metros que quebrou o recorde
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Brasil Partido

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Episódios

Fim do Podcast
Conservacionistas locais dizem que a competição é necessária para conter os
danos causados pela píton-birmanesa nas Everglades.
As Everglades contêm a maior área selvagem subtropical dos EUA, bem como
o maior ecossistema de mangue do Hemisfério Ocidental. A ponta sul da
Flórida foi descrita pela Unesco como "um rio de grama fluindo
imperceptivelmente do interior para o mar", que sustenta uma grande
diversidade de flora e fauna.
Mas as pítons-birmanesas, que foram introduzidas no sul da Flórida a partir da
Ásia por meio do comércio de animais de estimação exóticos no final do século
20, tornaram-se a maior ameaça às espécies nativas da região.
Pesquisas estimam que os répteis, que podem ter seis metros de comprimento,
a grossura de um poste de madeira e pesar mais de 90 quilos, mataram mais
de 90% de algumas espécies locais, como guaxinins, coelhos e gambás.
As cobras se escondem no mato, pântano e árvores; e atacam répteis,
pássaros, veados e até jacarés. Eles não têm predadores locais que os
ataquem com frequência suficiente para manter sua população sob controle.
Os predadores colossais, que também são bons nadadores e podem ficar
debaixo d'água por 30 minutos, superam outros predadores, como a ameaçada
pantera da Flórida, por recursos alimentares.
As pítons carregam parasitas nocivos que também foram descobertos em
pulmões de 13 espécies de cobras nativas.
Em 2012, um ano antes do início do "Desafio da Píton", autoridades federais
proibiram a importação de pítons birmanesas, mas o estrago já estava feito.

CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

A vida selvagem local em Everglades, na Flórida, foi ameaçada pela preponderância de


pítons
Agora, a temporada de caça às pítons é aberta, o que significa que elas podem
ser mortas em qualquer época do ano, sem necessidade de permissão e sem
limite de quantas podem ser caçadas.
O concurso atraiu críticas de grupos de defesa de direitos dos animais, como a
Peta (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais), que dizem que deveria
haver regulamentos que exigissem que os animais fossem exterminados de
maneira humana, e que isso não deveria ser feito por caçadores amadores.
“Sabemos que algo deve ser feito para corrigir o erro do comércio de animais
de estimação exóticos, mas o verdadeiro teste de uma civilização é se ela pode
resolver seus problemas humanamente”, disse a organização em um
comunicado de 2019.
Um mês antes do início da competição deste ano, Waleri estava caçando
pítons nos pântanos com amigos de universidades de outros Estados, que não
tinham experiência em capturar cobras selvagens.
Mas os novatos rapidamente puseram a mão na massa quando encontraram
uma píton de 5,7 metros na reserva nacional de Big Cypress.
“Pensei que fosse como dar uma gravata, mas a coisa saiu do controle”, diz
Waleri, explicando que é necessário segurar a cabeça para evitar que a cobra
morda e comece a se contrair.
"Assim que ela saiu deslizando pela estrada, pude ver o seu tamanho enorme e
percebi que estávamos entrando em uma luta um pouco mais intensa do que
eu pensava", diz ele.
Depois que eles a pegaram, a píton foi declarada como a maior já encontrada
no Estado.
'Pensei que fosse uma árvore'
Brandon Call, um professor surdo de ciências do ensino médio que cresceu
com cobras e répteis de estimação, levou para casa o prêmio de maior cobra
capturada por um amador durante o Desafio Píton de 2021, ganhando U$ 1,5
mil (cerca de R$ 7,5 mil). Este ano ele estará competindo pela terceira vez.
Call, que usa a Linguagem Americana de Sinais para se comunicar, diz que
este ano planeja caçar com uma equipe de professores de ciências surdos. Ele
diz que a surdez lhe dá uma maior sensação de consciência visual que torna
mais fácil detectar cobras camufladas.
Algumas das cobras que mata são trazidas para a escola e exibidas aos
alunos, que também são surdos. Às vezes, eles as dissecam como um projeto
de classe.
"Meus alunos sempre curtem muito quando faço isso."
CRÉDITO,FLORIDA FISH AND WILDLIFE
Legenda da foto,

O professor de ciências surdo Brandon Call pegou a maior cobra de 2021


Uma gota no balde
Não está claro o impacto que a matança sancionada pelo Estado teve no
ecossistema de Everglades, porque especialistas dizem que é impossível saber
quantos animais estão na natureza.
"A forma como vemos é que cada píton-birmanesa que é removida do
ecossistema de Everglades é uma vitória e é uma cobra a menos que estará
atacando nossos pássaros, mamíferos e outros répteis nativos", diz Carli
Segelson, que ajuda sediar o evento para a Divisão de Conservação de
Habitats e Espécies do estado.
"Então, cada um que é removido está ajudando a causa."
Chamar a atenção para os danos causados por espécies invasoras é a maior
prioridade do concurso.
"É um evento de conscientização", diz Melissa Miller, especialista em espécies
invasoras que pesquisa o problema da píton na Universidade da Flórida.
"Uma cobra enorme chama muita atenção."
Pítons são difíceis de capturar, diz ela, o que torna a caça ainda mais
necessária.
Segundo suas estimativas, as pítons passam cerca de 80% do tempo
completamente paradas - raramente se movem, a menos que uma refeição
passe na sua frente para ser esmagada até a morte.
Elas também são boas de fuga extremamente difíceis de detectar.
"Se você tivesse, digamos, 100 pítons em uma determinada área e enviasse
alguém para procurá-las, eles talvez encontrassem apenas uma."
CRÉDITO,UNIVERSITY OF FLORIDA
Legenda da foto,

A Dra. Miller tem pesquisado as pítons da Flórida por mais de uma década
Desde que as remoções de píton começaram na Flórida, cerca de 17 mil delas
foram mortas. Apenas um pequeno número foi removido durante a competição,
que se tornou uma tradição anual sob o governo do governador Ron DeSantis.
Além disso, a Florida Fish and Wildlife Conservation Commission também
administra o Programa de Eliminação de Píton, que paga "agentes de remoção
de píton" para matá-las e recentemente treinou cães para farejá-las.
Outro programa envolvendo Melissa Miller insere cirurgicamente sinalizadores
de rádio em pítons machos, transformando-os em "batedores" que viajam em
busca de uma fêmea reprodutora.
A maioria das cobras foi encontrada perto de estradas e diques - lugares onde
os humanos podem alcançá-las facilmente, que ela descreve como as "bordas"
de seu habitat, acrescentando que os caçadores "não estão realmente
chegando às pítons no interior".
Como 97% dos Everglades são inacessíveis sem equipamento especializado,
como um aerobarco ou um helicóptero, é provável que as caçadas estejam
tendo apenas um pequeno impacto.
Regras da caça
Os competidores têm de pagar U$ 25 (R$125) e completar um programa de
treinamento de 30 minutos, que se concentra em como identificar corretamente
as cobras e matá-las de forma rápida e humanizada.
Como é ilegal transportar pítons vivas sem uma permissão especial, a maioria
dos caçadores de cobras é instruída a abater as pítons no local antes de levá-
la a uma estação de pesagem oficial.
O método de abate recomendado é chamado de "double-pitthing". Consiste em
esfaquear a cabeça da cobra, cortando a medula espinhal e, em seguida,
girando a ferramenta para destruir o cérebro. Armas de fogo também são
permitidas m caça, mas apenas nas áreas específicas em que seu uso é legal.
Identificar corretamente as cobras é crucial. Matar uma cobra nativa leva à
desqualificação imediata, diz Segelson, uma das organizadoras do concurso.
Os competidores são proibidos de matar as pítons macho "batedoras",
equipadas com rádio, que servem, para levar os pesquisadores às fêmeas - e
que podem botar cerca de 100 ovos por ano.
As carcaças podem ser mantidas ou vendidas. As autoridades incentivam as
pessoas em todo o mundo a comprar couro de píton da Flórida e desencorajam
os caçadores de comê-las devido a seus altos níveis de mercúrio.
Mas esse conselho não impede alguns caçadores dedicados a aproveitar a
presa como podem - fazendo carne seca de píton até biscoitos a partir de seus
ovos.

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