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Legenda da foto,
O tamanduá-bandeira, cujo nome científico é Myrmecophaga tridactyla, é uma espécie
considerada em risco de extinção
Article information
Author, Leandro Machado
Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
Twitter, @machadoleandro
7 março 2023
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Não há dados oficiais sobre a população atual de tamanduás, mas um relatório da
International Union for Nature Conservation (IUCN) apontou que ela diminuiu em 30%
entre 2003 e 2013 - esse número, último disponível, é apenas uma estimativa por conta
da dificuldade de calcular a quantidade de animais que existem na natureza.
Além do desmatamento do principal habitat, uma das causas apontadas como explicação
dessa queda são os acidentes com veículos em rodovias de Estados como o Mato Grosso
do Sul e Minas Gerais.
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Ou seja, os tamanduás estão sendo atropelados em um ritmo tão acelerado que isso está
atrapalhando a reprodução da espécie.
"Ele só se refere a uma pequena parte das rodovias do Estado e a apenas tamanduás
encontrados na pista ou no entorno. Muitos se arrastam e morrem em outros locais, ou
são comidos por outros animais antes dos pesquisadores chegarem."
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Crédito, Bettina Ávila
Legenda da foto,
Os tamanduás-bandeira comem mais de 10 mil formigas por dia
Nos três anos do monitoramento, foram registrados 12,4 mil animais mortos em
acidentes - 40% deles eram de grande porte.
"Esse é um problema crítico e crônico. E não só para a fauna, mas também para a
segurança nas estradas. Há casos de famílias que morreram em acidentes como esses. É
um problema que afeta direta ou indiretamente cada um de nós que usa as rodovias, que
têm familiares, amigos ou funcionários usando essas estradas e que diariamente estão
expostos ao risco", explica Saito.
Para a bióloga, se políticas públicas não forem implementadas para diminuir o número de
acidentes, a tendência é que a situação fique pior, para humanos e animais.
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"Por causa do agronegócio, o Mato Grosso do Sul está expandindo sua malha viária nos
últimos anos. O que está acontecendo é uma tragédia, para humanos e animais. Todos
temos direito a estradas mais seguras", diz.
Em uma parceria com o governo do MS, o projeto desenvolveu um manual com ideias de
políticas públicas que poderiam diminuir os acidentes nas 142 rodovias estaduais, que
totalizam 13,3 mil quilômetros - 8,5 mil deles ainda não pavimentados.
Legenda da foto,
A população de tamanduás-bandeira diminuiu 30% entre 2003 e 2013
Filhotes órfãos
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A onda de mortes de animais silvestres nas estradas motivou a criação do TamanduASAS,
uma parceria do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF) com o Ibama,
universidades, ONGs e empresários.
Nos últimos sete anos, biólogos e veterinários do projeto estão recolhendo e tratando os
filhotes de tamanduá que sobrevivem aos atropelamentos.
Legenda da foto,
Os veterinários e biólogos do projeto TamanduASAS resgatam e reabilitam tamanduás
que sobrevivem aos acidentes nas estradas
"A mãe carrega um único filhote nas costas por vários meses. Alguns conseguem escapar
dos acidentes, mas, como eles dependem muito da presença materna nos primeiros meses
de vida, acabam morrendo depois", explica a veterinária Juliana Magnino, analista
ambiental do IEF e uma das coordenadoras do projeto.
Magnino conta que recebe, em média, 16 filhotes órfãos anualmente, 90% deles
envolvidos em acidentes.
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Eles são novamente inseridos na natureza quando já estão autossuficientes, com cerca de
um ano e meio.
Legenda da foto,
Depois da recuperação, eles são soltos em Reservas Particular de Patrimônio Natural
(RPPN)
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Crédito, Bettina Ávila
Legenda da foto,
Projeto precisou entender o comportamento dos animais
"A gente percebeu que alguns dos nossos filhotes depois morriam por diversos problemas,
como doenças típicas de cachorros e gatos, caçados por cães que vivem nas fazendas e até
por afogamento em uma piscina abandonada", explica.
Ao lado do corpo, "havia galões de agrotóxicos vazios que tinham sido descartados
indevidamente", segundo um relato dos pesquisadores publicado pela Abravas
(Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens).
Ainda não se sabe como os tamanduás se intoxicaram com o pesticida, mas, segundo
Juliana Magnino, eles podem ter comido algo contaminado com o pesticida.
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"Ou eles podem ter aspirado terra contaminada. Quando eles procuram alimentos, fuçam,
cheiram tudo, e acabam ingerindo outras coisas. Eles podem ter ingerido essa terra com
organofosforados", diz.
"O organofosforado não é utilizado para cupins, e sim para lagartos. Eu nunca tinha
ouvido falar de tamanduás morrendo por causa disso. Então, com certeza foi um acidente,
ou um erro no uso do produto", afirma.
Legenda da foto,
Veterinários e biólogos do projeto TamanduaASAS
Desmatamento do Cerrado
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Com a perda de espaço, vegetação e biodiversidade, o tamanduá tem menos recursos para
se alimentar e se reproduzir. Também há relatos de mortes em queimadas.
No total, foram perdidos 815,5 mil hectares de vegetação nativa no ano passado.
De acordo com o MapBiomas, 45,4% do Cerrado já foi destruído para dar lugar à
agropecuária, principalmente o cultivo de soja e milho.
Segundo ele, essas áreas preservadas legalmente em Minas Gerais estão ajudando a
conservar as espécies típicas do Cerrado.
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Crédito, Victor Castro
Legenda da foto,
A veterinária Juliana Magnino com Heather e seu filhote
Boa notícia
Apesar do cenário desanimador, nem todas as notícias são ruins para a população de
tamanduás-bandeira.
Heather, que ficou órfã depois de sua mãe ser atropelada, chegou ao projeto em julho de
2020. Tinha apenas dois quilos, e poucos meses de vida. Dois anos depois, foi libertada
em uma reserva particular.
"Ela nem estava mais sendo monitorada. Mas um dia ela voltou para a área do projeto, e
estava com um filhote nas costas. Foi nosso primeiro caso de reprodução. É nossa gota de
esperança", diz a veterinária Juliana Magnino.
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Crédito, Bettina Ávila
Legenda da foto,
Heather, que sobreviveu a um acidente, deu à luz a um filhote no ano passado
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