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local ficou muito mais seco que o normal e, por isso, não só vegetações de Cerrado,
adaptadas a essa situação, foram queimadas, mas também as áreas de floresta
densa. O fogo atingiu 31% de todo o Pantanal e estima-se que 17 milhões de vertebrados
foram mortos em decorrência desse fenômeno apenas naquele ano.
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presença humana. Como esse é o felino com as mais poderosas mandíbulas, a
devastação da mata aumenta os riscos de conflito com a população da região.
Um estudo de 2018 calculou a população de onças-pintadas ao longo de sua área de
distribuição. De acordo com esses dados, foram estimadas cerca de 1668 onças-
pintadas no Pantanal. Barros, no entanto, acredita que esse número seja maior
devido à metodologia empregada pelos pesquisadores e a existência de pesquisa
recente apontando regiões com cerca de 13 indivíduos por 100 quilômetros
quadrados (km²). De qualquer forma, a dependência do habitat faz com que o
desmatamento seja o maior problema para a sobrevivência desses animais.
De 2005 a 2018, o impacto do fogo não era tão alto na região, mas a tendência
apresentada em 2019 a 2020 já cria um impacto preocupante para a sobrevivência
desses felinos. Eles são animais ágeis e conseguem escapar do fogo em situações
normais, porém os incêndios do período foram tão intensos que se espalharam por
raízes e caules subterrâneos da vegetação. A brasa no solo ou no subsolo foram as
grandes responsáveis pelos ferimentos que comprometeram as garras desses
animais. Algumas das onças feridas durante as queimadas foram resgatadas e seus
filhotes provavelmente serão integrados ao habitat natural futuramente.
As mudanças climáticas, o desmatamento da Amazônia e a diminuição da água
proveniente das nascentes desmatadas explicam a seca registrada em 2019 e 2020,
porém a maior parte das ocorrências de foco de incêndio se devem à ação humana.
Essa situação agravou-se ainda mais em consequência da redução da fiscalização e
de aportes para o controle das queimadas.
As atividades econômicas podem ser manejadas de forma que minimizem os seus
impactos sobre as espécies pantaneiras e seu habitat natural. Para isso, são
necessárias ações efetivas dos órgãos de manejo ambiental para a implementação de
pesquisas e tecnologias já existentes. Nesse contexto em que as mudanças climáticas
e a ação humana se retroalimentam, os estudos de impactos isolados não têm
capacidade de criar soluções sustentáveis. A conservação da vegetação e da
biodiversidade como um todo, depende de soluções técnicas integradas
considerando impactos humanos oriundos de hidrelétricas, agricultura e pecuária.
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residentes, ou seja, que estabeleceram áreas por onde circulam. Para monitorar
animais, atualmente utiliza-se um colar com o Sistema de Posicionamento Global
(GPS) integrado.
Existem outras formas de monitoramento que estipulam a quantidade de animais
por região através das imagens de câmeras, variáveis ambientais e modelos de
densidade, cujos dados também foram utilizados. Entretanto, Alan esclarece que “se
uma onça estabelece uma área de vida, é porque o local é útil para outras onças. Se
uma onça morre, outra pode se estabelecer ali. Uma vez que se tem uma área de vida
estabelecida, a gente pode assumir a área como sendo prioritária.”
Além de Barros, também colaboraram com a pesquisa o orientador Paulo Inácio
Prado do Laboratório de Ecologia Teórica do Departamento de Ecologia do IB-USP, o
co-orientador Ronaldo Gonçalves Morato e outros pesquisadores brasileiros e
estrangeiros. Morato é coordenador do centro de pesquisa de mamíferos do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão que cria planos de
ação para a conservação de mamíferos ameaçados.
Alan trabalha com movimentação animal há mais de 20 anos e seu foco de pesquisa
atualmente é a análise de seleção de habitat e movimentação das onças-pintadas. O
método de área de vida utilizado foi disponibilizado pelo pesquisador Christen H.
Fleming e outros pesquisadores, vinculados à Universidade de Maryland e ao
Smithsonian Institute.