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Monitoramento da mortalidade de vertebrados silvestres por atropelamentos

em um trecho da rodovia BR-262, Corumbá, Mato Grosso do Sul

1. Introdução

O processo civilizatório no qual a nossa sociedade se encontra tem aumentado o


consumo dos recursos naturais do planeta. O impacto das ações humanas sobre o
ambiente, e consequentemente, sobre a diversidade biológica, pode ser visto de várias
formas, como na extinção de espécies, tráfego de plantas e animais, degradação
ambiental (poluição, queimadas, desmatamento, mineração), superexploração das
espécies para uso do homem e fragmentação do ambiente (Primack e Rodrigues 2001).
Trigueiro (2005) afirma que os veículos automotores são um dos maiores
problemas ambientais do planeta, pois a aquisição histórica dos veículos requisitou uma
modificação da estrutura das cidades, como o alargamento das ruas e avenidas,
construção de túneis, pontes e elevados, bem como a pavimentação de toda a malha
rodoviária.
Segundo relatório do DNIT (2013), atualmente o Brasil possui uma malha
rodoviária de 1.691.163,80 km, sendo que destes, 65.117,30 km pertencem ao estado do
Mato Grosso do Sul. Esta quantidade de rodovias que transpassa o ambiente natural
causa impacto no mesmo, como a redução não intencional da fauna, por meio de
acidentes levando a óbito uma grande quantidade de vertebrados silvestres na região.
Em recente reportagem do jornal O Estado, publicada em setembro do corrente
ano, a Polícia Militar Ambiental do Mato Grosso do Sul comenta o levantamento de 1.1 mil
carcaças de animais encontradas somente nas rodovias federais do Mato Grosso do Sul.
Alguns autores (Fischer, 1997; Catella et. al, 2010; Sobanski et al., 2012) registraram a
quantidade de vertebrados, tanto silvestres quanto domésticos, que tem sido atropelados
na BR-262, que tem origem em Vitória-ES, e termina em Corumbá-MS, passando por
fazendas e fragmentos preservados dos biomas do cerrado e do pantanal.
Os atropelamentos na BR 262 (entre os quilômetros 360 e 560) são mais intensos
sobre mamíferos com maior distribuição geográfica, podendo ser espécies de área aberta
como tamanduás e tatus. Os atropelamentos são mais severos em locais onde a rodovia
cruza por zonas próximas a áreas bem conservadas do Pantanal e da Serra de Maracaju
ou em regiões com matas ciliares bem desenvolvidas (Cáceres et al., 2012).
Todavia, os atropelamentos de fauna não são uma problemática restrita a esta
rodovia. Foram registrados danos à fauna por acidentes com veículos na BR 174 no
Amazonas (Omena-Junior et al.,2012); no Rio Grande do Sul nas estradas RS 040 (Rosa
e Mauhs, 2004), BR 392 e BR 471 (Rosa e Bager, 2011), BR 472 e BR 290 (Tumeleiro et
al., 2006); em Goiás nas estradas GO 156, GO 215, GO 320 e BR 060 (Gomes, 2013);
MG 354 em Minas Gerais (Santos, 2012); e na BR 482 em Minas Gerais (Sassi et al.,
2013),
Mesmo com trabalhos já desenvolvidos, o monitoramento da mortalidade da fauna
silvestre do entorno da malha rodoviária brasileira ainda se faz necessário, tanto para
verificar se a aplicação de medidas mitigatórias tem amenizado os acidentes com os
animais, quanto para verificar até que ponto as rodovias estão influenciando no
comportamento dos vertebrados que estão próximos a ela.

2. Objetivos
2.1. Geral
Monitorar o impacto ambiental de um trecho da rodovia BR-262 sobre a fauna
silvestre, identificando pontos críticos de acidentes a fim de direcionar a adoção de
medidas mitigadoras.

2.2. Específicos
2.2.1. Identificar os principais grupos faunísticos impactados pela estrada BR 262,
verificando o grupo com maior frequência de acidentes;
2.2.2. Correlacionar o índice de atropelamentos com o sexo dos animais
atropelados e com as variações sazonais do Pantanal, como o índice pluviométrico, o
período de enchente e vazante, e a cota dos corpos hídricos da região.

3. Metodologia
3.1. Área de estudo
A área de amostragem situa-se no trecho da rodovia BR-262 compreendido entre a
localidade conhecida como Passo do Lontra (-19.649993, -57.026355) e o município de
Corumbá (-19.0098, -57.6547). Este trecho possui extensão de 118 km, e é cercado por
diversas fazendas e fragmentos florestais.
3.2. Coleta dos dados
Os trajetos na rodovia serão realizados entre às 8h00 e 11h00 horas da manhã,
duas vezes por semana, em um veículo seguindo uma velocidade média de 50 km/h. As
observações serão feitas por um grupo composto por três pessoas, em decorrência da
acuidade visual (Prado, 2006). Ao localizar um animal atropelado, serão feitos registros
fotográficos com escala, e o local será georeferenciado com a utilização de um GPS.
Ainda em campo, o animal será identificado até a menor categoria taxonômica possível
(Bager et al., 2000). Será também registrado o número do exemplar (Código), margem em
que foi encontrado, sentido da pista e quilômetro (Prado, 2006). Os animais atropelados
que estiverem em boas condições serão acondicionados em sacos identificados e levados
para o acervo da coleção zoológica didática do Campus do Pantanal da UFMS, onde
ficarão inicialmente acondicionados em um freezer. As carcaças de animais que não
forem encaminhadas ao laboratório serão retiradas da estrada e depositadas nas matas e
capoeiras próximas, fora da área da rodovia, para evitar que sejam recontadas e evitar o
atropelamento de predadores oportunistas e carniceiros (ICMBIO, 2013; Santos, et al.,
2009). O teste G será utilizado para avaliar se houve diferença significativa nas
abundâncias totais de atropelamentos ao longo das estações de cheia e seca do
Pantanal. O mesmo teste será utilizado para investigar se há sazonalidade nas ordens de
vertebrados registradas. Os testes estatísticos serão realizados através do programa
BioEstat 5.0 (Ayres et al., 2007).
4. Cronograma de execução

2015 2016 2017

Atividades Mar-Jun Jul-Dez Jan-Fev Mar-Jun Jul-Dez Jan Fev

Revisão bibliográfica X X X X X

Disciplinas X X

Coleta de dados X X X

Análise dos dados X

Redação da dissertação X X

Entrega da dissertação X

5. Orçamento
Item Especificação Quant. Unitário Total

1 Álcool etílico hidratado 92,8º INPM – 1L 50 l R$ 5,00 R$ 250,00

2 Formol 37% 5 R$ 5,00 R$ 25,00

3 Luvas descartáveis (látex) 2 cx R$ 20,00 R$ 40,00

4 Sacos plásticos de 100 L 1 pac R$ 50,00 R$ 50,00

5 Tambores de plástico 150 L 10 R$ 100,00 R$ 1000,00

6 Combustível (gasolina) 600 l R$ 3,45 R$ 2070,00

TOTAL: R$ 183,45 R$ 3435,00


6. Referências Bibliográficas

AYRES, M., AYRES JR, M., AYRES, D. L. & SANTOS, A. S. BioEstat 5.0. Aplicações
estatísticas nas áreas das ciências bio-médicas. Sociedade Civil Mamirauá: MCT-CNPq,
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BAGER, A., MOTTA, A. S., AMARAL, F. P. 2000. Avaliação do sistema de proteção à


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