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UM BIOMA EM EXTINÇÃO?

A LUTA PARA
PRESERVAR O PANTANAL BRASILEIRO

Foram necessários muitos e muitos anos,


mas o ser humano finalmente começou a
perceber que preservar o planeta é uma

(Foto: Mayke Toscano/Secom-MT -


responsabilidade urgente. Isso porque a
degradação do meio ambiente avançou
exponencialmente no último século e, por

Fotos Públicas)
todo o mundo, já é possível identificar as
suas consequências. No Brasil, um dos
lugares que mais sofreu interferência foi o
Pantanal. Em 2020, a maior planície
interior inundada do mundo, que
concentra uma variedade incrível de
espécies de animais, teve mais de 15% de
sua área destruída. Até setembro de 2020
foram pelo menos 2,5 milhões de hectares
queimados. Com tamanha destruição, a
vida no bioma sofre os impactos. Segundo
dados do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente (Ibama), a emergência
ambiental na região agrava ainda mais os
riscos de espécies que já estavam
vulneráveis.

O que estamos fazendo para as florestas do


mundo é apenas um reflexo do que estamos
fazendo a nós mesmos e uns aos outros.
Mahatma Gandhi
Com o advento da Revolução Localizado entre os estados do
Industrial e, consequentemente, a Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
utilização extensiva dos recursos além dos territórios da Bolívia e do
naturais, a relação homem- Paraguai, o Pantanal é considerado
natureza passou por diversas uma das maiores áreas inundáveis
mudanças. Enquanto nas do planeta. Reconhecido como
sociedades primitivas o homem Patrimônio Mundial da
colhia os frutos produzidos pelas Humanidade, o Pantanal Brasileiro
árvores e extraía os peixes dos rios, esbanja belezas e biodiversidade.
na sociedade moderna as pessoas No entanto, diante do atual
utilizam a natureza, contexto de destruição, esse bioma
principalmente, como instrumento corre sérios riscos. Os sete
de desenvolvimento econômico. primeiros meses de 2020 foram
Nesse contexto, objetivando a marcados por inúmeros
acumulação de riquezas e a PROBLEMAS: o seu principal rio
manutenção do poder, os países atingiu o menor nível em quase
industrializados deixam de lado os cinco décadas; a chuva foi escassa;
cuidados com o meio ambiente e o desmatamento cresceu; os
começam a desenvolver inúmeras incêndios aumentaram; e a
AÇÕES PREJUDICIAIS à natureza. fiscalização por parte do poder
No Brasil, o desmonte da público, segundo entidades que
governança ambiental ultrapassou atuam na preservação da área,
as fronteiras e se transformou em diminuiu. Inicialmente, em relação
motivo de preocupação mundial. à FALTA DE CHUVA, um dos
Pela primeira vez, durante a principais fatores associados é a
Conferência das Nações Unidas degradação da Amazônia. Com a
sobre as Mudanças Climáticas, o aceleração do desmatamento da
Brasil diminuiu o seu protagonismo região, ao longo dos anos, o
nas discussões sobre o tema. De período de chuvas tem encurtado e
acordo com o novo relatório das as secas se tornaram mais severas
agências de organizações científicas na região central e sudeste do país.
líderes, United in Science 2020, as Isso porque o crescente
concentrações de gases de efeito desmatamento da Amazônia afeta
estufa (que já estão em seus níveis diretamente o fenômeno
mais altos em 3 milhões de anos) conhecido como "rios voadores",
continuaram a aumentar. No em que a corrente de umidade que
PANTANAL, a situação também é surge na floresta origina uma
extremamente preocupante. grande coluna d’água, que é
kkkkkkk transportada pelo ar para diversas
regiões da América do Sul. A
transportada pelo ar para diversas regiões da América do Sul. A Amazônia dá vida a,
praticamente, todos os biomas do continente, incluindo o Pantanal. À medida que a
floresta vai diminuindo e perdendo suas funções ecológicas, esse “serviço
ambiental” que ela presta também vai sendo alterado. Além disso, o problema da
seca no Pantanal se torna ainda mais complicado diante da expansão do
DESMATAMENTO no bioma e no entorno. Um levantamento do Ministério Público
do Mato Grosso do Sul apontou que cerca de 40% do desmatamento na área do
Pantanal no estado podem ter ocorrido de forma ilegal, pois não foram identificadas
autorizações ambientais para a retirada da vegetação. Segundo especialistas, a
principal causa do aumento dessa atividade irregular é o crescimento do
agronegócio na região. Há décadas, o bioma convive com a produção extensiva de
gado e plantação
agronegócio de grãos.
na região. O Instituto
Há décadas, o SOS Pantanal
de anosrevelou que cerca
anteriores, desdedeo 15%
fim da
área
biomado Pantanal
convive foi
comconvertida
a produçãoem pastagem. Alémdedas
década dificuldades
1990 dentro
(período em quedoo
próprio bioma,
extensiva o Pantanal
de gado tambémde
e plantação é prejudicado duramente pelo
Inpe desenvolveu desmatamento
a plataforma que se
no Cerrado,
grãos. O onde nascem
Instituto SOSos rios.
Pantanal tornou referência para monitorar
revelou que cerca de 15% da área do focos de calor no Brasil). Em julho,
Pantanal foi convertida em pastagem. algumas cidades de Mato Grosso do
Além das dificuldades dentro do Sul e de Mato Grosso sentiram as
próprio bioma, o Pantanal também é consequências de um dos períodos
prejudicado duramente pelo ambientais mais difíceis do bioma,
desmatamento no Cerrado, onde chegando a ficar encobertas por
nascem os rios. Logo, quando alguma fumaças vindas dos incêndios no
Área de Preservação Ambiental (APP) Pantanal. A situação piora os
é desmatada, a chuva leva os resíduos problemas respiratórios de
para dentro do rio, porque não há moradores da região e se torna ainda
mais florestas para proteger a borda, mais perigosa no atual contexto da
e esses sedimentos são transportados pandemia do novo coronavírus,
para o Pantanal, deixando os rios mais principalmente para as pessoas que
rasos e mudando todo o ciclo hídrico integram o grupo de risco, como
da região. Deve-se destacar também idosos e pacientes com doenças
o problema das QUEIMADAS. Dados preexistentes. Como agravante, há os
do Instituto Nacional de Pesquisas OBSTÁCULOS enfrentados pelas
Espaciais (Inpe) mostram que os entidades que atuam na preservação
primeiros sete meses de 2020 foram da área. Os dois maiores órgãos de
os que registraram mais queimadas, fiscalização ambiental do país, o
em comparação ao mesmo período Instituto Chico Mendes de
de anos anteriores, desde o fim da Conservação e Biodiversidade
década de 1990 (período em que o (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do
Inpe desenvolveu a plataforma que se Meio Ambiente e dos Recursos
Conservação e Biodiversidade necessárias desde medidas mais
(ICMBio) e o Instituto Brasileiro do simples, do dia a dia, até ações mais
Meio Ambiente e dos Recursos complexas. Deve-se pensar,
Naturais Renováveis (Ibama), foram primordialmente, no
alvo de uma reestruturação desenvolvimento de políticas públicas
devastadora já na chegada do voltadas à preservação e à fiscalização
Ministro Ricardo Salles no governo, do meio ambiente. Também é
no início de 2019. Ele acabou essencial que a sociedade civil busque
adotando um alinhamento garantir que o poder público tome
diretamente vinculado às decisões que favoreçam a natureza e
reivindicações e ideias do que o dinheiro público seja, de fato,
agronegócio, o que, inevitavelmente, investido no combate à destruição
influenciou negativamente a ambiental.
preservação ambiental. Em abril de
2020, o Ministro publicou um
despacho aprovando o parecer da
Advocacia-Geral da União (AGU)
sobre a Lei da Mata Atlântica no qual
obriga os órgãos ambientais do
governo federal, como o Ibama e o
ICMBio, a adotar o entendimento
presente no Código Florestal, mais
brando, ao invés daquele da Lei da
Mata Atlântica, mais restritivo. Diante
disso, a reversão desse panorama e a
amenização dos impactos ambientais
dependem de um ESFORÇO
COLETIVO de toda a sociedade. São
necessárias desde medidas mais
simples, do dia a dia, até ações mais
complexas.
VOCÊ SABIA?Deve-se pensar,
primordialmente, no
Apesar da crítica situação das queimadas no Pantanal, o Ibama apresentou uma queda de 48% no
número de multas aplicadas para crimes relacionados à vegetação, como desmatamento e
queimadas ilegais, nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em 2020. O dado reflete a
diminuição das operações de fiscalização na região do maior bioma úmido do mundo. De acordo
com servidores do Ibama, os principais motivos para a queda de autuações são a redução do quadro
de funcionários e a nomeação de militares em cargos de gestão.
ANOTA AÍ

 Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)


mostram que, entre 2000 e 2018, o Pantanal perdeu cerca de 2,1 mil km² de
área nativa. Em 2020, conforme dados mais recentes, divulgados por
pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas do Pantanal (INPP) e da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), cerca de 23 mil km² do bioma
foram consumidos pelas chamas;

 A Natura é uma das principais empresas que adotam políticas de


desenvolvimento sustentável no Brasil. A marca utiliza boas estratégias de
marketing e projetos colaborativos com comunidades tradicionais. Ela
desenvolve parcerias com produtores rurais para a exploração consciente e
o manejo controlado de algumas das riquezas naturais do país: castanha do
pará, erva doce, entre outras. Com essas estratégias, a empresa consegue
gerar uma boa renda para os agricultores e preserva a natureza com a
adoção de práticas conservacionistas. Assim, a Natura revela que, para
crescer e criar novos produtos, é possível estar em harmonia com a
natureza, além de gerar um maior engajamento dos seus clientes e respeito
pela marca;

 Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o


surgimento de zoonoses (nome dado a doenças ou infecções transmitidas
entre animais e humanos) está diretamente associado a mudanças
ambientais, consequência das intervenções humanas, da modificação do
uso da terra e das mudanças climáticas. O desmatamento, a agricultura e a
urbanização, por exemplo, são responsáveis por modificar o habitat natural
das espécies e aumentar a intensidade dos contatos entre humanos e
animais selvagens, criando condições ideais para transferências virais.
DIALOGANDO

Em entrevista, o engenheiro químico e cientista ambiental, Flávio Gramolelli Júnior,


fala sobre o impacto dos incêndios no Pantanal e na Amazônia.
Por que estamos tendo incêndios dessa grandeza? Até onde o fogo é impacto do
clima e impacto humano?
É um conjunto dos dois fatores. Nas regiões da Amazônia e Pantanal estamos tendo
problemas de seca. E, impressionantemente, o Pantanal, que é um pântano, uma
área bastante úmida, está apresentando alto índice de seca. É um indicativo de que
pode estar ocorrendo o que desde a década de 1970 é chamado de ‘mudanças
climáticas globais’, já discutidas na primeira reunião mundial do meio ambiente em
1972 e que foi reforçada em outros encontros, como a assinatura do protocolo de
Montreal.
Quais os prejuízos para a biodiversidade do Pantanal e da Amazônia, já que o fogo
interrompe vários ciclos da fauna e da flora?
Estamos perdendo fauna e flora com essa quantidade de incêndios. Os animais que
sobreviveram às queimadas não encontram comida. O ciclo acaba sendo totalmente
impactado. E na flora, nem temos dimensão do quanto perdemos. De fato, temos
uma perda realmente significativa.
Quanto tempo será preciso para que a natureza se recomponha nesses locais?
Se deixarmos a natureza em paz e não houver mais incêndios, de cinco a dez anos
podemos ver o início de uma recuperação por conta dos estágios sucessionais, no
cerrado e na floresta amazônica. No entanto, o problema é que sabemos que todo
ano pega fogo. E infelizmente estamos com um governo que incentiva isso (...).
Confira a matéria completa: https://bit.ly/3r5oEQb

@PENSAMENTOVINCULAR
MOMENTO SOCIOLÓGICO
A sociologia ambiental, enquanto produção científica e acadêmica, ganhou destaque a partir dos
movimentos de contestação social surgidos no início da década de 1960 e da constatação da
situação emergencial de degradação dos recursos naturais. Nesse contexto, grupos de sociólogos
começaram a dar importância à problemática ambiental e perceber a sua importância. O tema
passou a ocupar a agenda dos governos, organismos internacionais, movimentos sociais e setores
empresariais em todo mundo. Assim, em 1990, a obra do sociólogo Ulrick Beck surge como um
marco divisor na teoria sociológica contemporânea, no tocante ao meio ambiente. O sociólogo
desenvolve o conceito de “sociedade de risco”, onde analisa a relação entre a sociedade
contemporânea, a ciência e a natureza. Essa noção de risco está diretamente ligada à ação do
homem sobre o meio ambiente e deriva, a partir da Revolução Industrial, do aumento da
intervenção humana sobre a natureza. Nesse contexto, a sociedade de risco é caracterizada pela
incerteza quanto ao futuro e pela potencialidade de destruição da vida, manifestada pelo uso
inadequado das tecnologias e pelo esgotamento dos recursos naturais. Para Beck, as
consequências do desenvolvimento científico e industrial geraram um conjunto de danos difíceis
de contenção, espacial ou temporalmente. Temos, assim, uma “condição antropológica” da
sociedade de risco: as destruições não podem mais ser atribuídas a causas externas, mas, sim, à
própria sociedade (que produz e fabrica esses danos). Diante disso, o sociólogo deixa de tratar a
questão ambiental como uma dificuldade isolada e passa a observá-la como um problema inerente
à sociedade.

O videodocumentário “Heróis do Fogo” aborda


assuntos que tem relação com o tema. Ela está
disponível no Youtube.
Sinopse: Lançado pelo Polo Socioambiental Sesc
Pantanal, o documentário relata a luta contra o fogo
na maior Reserva Particular do Patrimônio Natural,
durante a pior temporada das últimas décadas no
bioma. O registro traz depoimentos de quem estava
na linha de frente do combate, imagens dos animais
sobreviventes, além da fauna e flora atingidas pelo
fogo nos 98 mil hectares, da área de 108 mil,
conservada há 23 anos.
BIBLIOGRAFIA

DE VIVEIROS, Edna Parizzi; DE MIRANDA, Maria Geralda; NOVAES, Ana Maria Pires; AVELAR, Kátia Eliane Santos. Por uma
nova ética ambiental. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
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SILVEIRA, Daniel. Área queimada no Pantanal em 2020 supera em 10 vezes a área de vegetação natural perdida em 18
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TOOGE, Rikardy. Governo libera o registro de 42 agrotóxicos genéricos para uso dos agricultores. Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2020/11/27/governo-libera-o-registro-de-42-
agrotoxicos-para-uso-dos-agricultores.ghtml. Acesso em: 21/03/2021.
SUDRÉ, Lu. Mesmo com pandemia, governo Bolsonaro já liberou 150 novos agrotóxicos este ano. Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2020/05/13/mesmo-com-pandemia-governo-bolsonaro-ja-liberou-150-novos-
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