POLARIZAÇÃO POLÍTICA E A DIFICULDADE DE

DIALOGAR

Nos últimos anos, o cenário político

brasileiro tem enfrentado uma das maiores
crises de sua história, com escândalos de
corrupção, desvios de verba pública,
operação Lava Jato e o impeachment da ex-
presidenta Dilma Rousseff. Tais
acontecimentos, atrelados à insatisfação
popular, ocasionaram uma ascensão de
ideais políticos extremistas contra a
corrupção, além de valores conservadores,
comumente associados aos partidos de
“direita”. Em contrapartida, grupos de
“esquerda”, com convicções pautadas nas
lutas sociais, como igualdade de gênero e
raça, posicionaram-se em oposição à
ideologia difundida pelo grupo anterior.
Apesar de a divergência política ser uma
característica essencial da democracia, o
Brasil passa por uma grande polarização.

O homem, por natureza, é um animal político.

Aristóteles.
Demócrito.
A palavra POLÍTICA provém do
grego “politeia”, palavra usada para
designar tudo aquilo relacionado à
pólis, ou cidade-estado da Grécia
Antiga. O surgimento da política,
portanto, remonta às cidades
gregas, em especial Atenas,
primeira cidade com governo
democrático da história. O
SISTEMA POLÍTICO implantado
buscava regular a forma pela qual a
sociedade deveria funcionar, além
de estabelecer os critérios, como
idade e sexo, para a participação
política. Nesse cenário, nota-se
que, além de definir determinadas
regras sociais, a política se torna
objeto de análise por vários
filósofos, como ARISTÓTELES,
nascido na Grécia no ano de 384
a.C. Ele considerava que a política,
praticada com honestidade e
ausente de interesses próprios, era
a maneira de garantir o bem
comum. Nesse sentido, é exercem um papel fundamental na
importante compreender que a
política abrange diferentes
FORMAS DE GOVERNO e REGIMES.
Em sua obra “Política”, ele infere
que as formas de governo se
relacionam ao número de pessoas
que exercem o poder soberano,
sendo elas: monarquia,
aristocracia, democracia, tirania,
oligarquia e demagogia. Os regimes
políticos, por sua vez, dizem
respeito ao comportamento do
governo e seu governante. São eles:
democráticos, autoritários e para todos esses objetivos
totalitários. A análise aristotélica,
democráticos, autoritários e
totalitários. A análise aristotélica,
apesar de completa e essencial para
compreender o sistema político,
não abrange as recentes formas de
governo, por exemplo, a
REPÚBLICA FEDERATIVA, adotada
no Brasil. Em primeiro lugar, é
importante mencionar que o Brasil
é um Estado Democrático de
Direito, isto é, o governo é
destinado ao povo e exercido pelos
representantes eleitos,
normalmente por meio do voto
livre e secreto. A República
Federativa do Brasil, de acordo com
a Constituição Federal, tem o
objetivo principal de construir uma
SOCIEDADE LIVRE, JUSTA E
SOLIDÁRIA; o desenvolvimento
nacional; erradicação da pobreza e
da marginalização; e a redução das
desigualdades sociais. Nesse
cenário, os PARTIDOS POLÍTICOS
democracia, uma vez que
possibilitam a identificação das
posições ideológicas de
determinados políticos. Para MAX
WEBER, partido político é “uma
associação que visa a um fim
deliberado, seja ele 'objetivo',
como a realização de um plano com
intuitos materiais ou ideais; seja
'pessoal', destinado a obter
benefícios, poder e,
consequentemente, glória para os
chefes e sequazes; ou ainda voltado
conjuntamente”. Essas noções
para todos esses objetivos conjuntamente”. Essas noções básicas sobre o sistema
político e partidário são essenciais para compreender o atual cenário político
brasileiro e seus desdobramentos. É fato que a democracia - poder do povo - admite
uma DIVERSIDADE de pensamentos entre os grupos sociais, de modo que a
construção política deve ser pautada na discussão de ideias e diálogos entre tais
grupos. Todavia, o Brasil vivencia um momento de EXTREMA POLARIZAÇÃO
POLÍTICA, com tensão nos debates e conversas sobre o assunto, observada através
da oposição entre os grupos sociais, usualmente identificados por “esquerda” e
“direita” no aspecto IDEOLÓGICO. Trata-se de um processo de radicalização,
experimentado pelos brasileiros, com início em meados de 2013, atingindo um grau
inédito nas últimas eleições presidenciais. A TENSÃO foi marcada pelos seguintes
acontecimentos:
inédito nas protestos
últimas de junho de 2013,
eleições panelaços O
SOCIALMENTE. contra o governo,
distanciamento
Impeachment
presidenciais. AdeTENSÃO
Dilma foi
Rousseff,
marcadaprisão do ex-presidente
radical Lula e greve
das pautas ideológicas dos
tende a
caminhoneiros.
pelos seguintesDiante disso, os eleitores adotaram
acontecimentos: DIFICULTAR discursos mais
o RADICAIS
diálogo,e
EXTREMISTAS,
protestos dede junhomodo que deaqueles
2013,que concordam com as políticas
IMPULSIONANDO de “direita”
a intolerância
concentraram
panelaços contraseus esforços
o em torno do combate
governo, política àe corrupção, frequentemente
o discurso de ódio. Assim, o
ligada aos políticos
Impeachment de doDilma
PartidoRousseff,
Trabalhista (PT).oponente político passa a ser visto
prisão do ex-presidente Lula e greve como INIMIGO. Nesse sentido, o
dos caminhoneiros. Diante disso, os crescente uso dos meios digitais
eleitores adotaram discursos mais intensifica essa polarização e, por
RADICAIS e EXTREMISTAS, de modo vezes, é palco para a REPRODUÇÃO
que aqueles que concordam com as dessa divisão política. As redes sociais
políticas de “direita” concentraram se tornaram INSTRUMENTOS de
seus esforços em torno do combate à acesso à informação política,
corrupção, frequentemente ligada discussão e mobilização, contudo,
aos políticos do Partido Trabalhista enfrentam grandes problemas, como
(PT). Por outro lado, os eleitores a manipulação, desinformação e a
simpatizantes com a “esquerda” disseminação de notícias falsas. Além
centralizaram suas pautas em relação disso, as plataformas digitais, como
aos programas sociais e serviços Facebook e WhatsApp, são utilizadas
públicos. Esses aspectos para propagação do discurso de ódio
impulsionaram os PARTIDOS contra determinadas ideologias e
POLÍTICOS à centralização de suas posições políticas. As VIOLÊNCIAS
pautas. Logo, políticos de “esquerda” VERBAL e FÍSICA por motivações
e “direita” assumem posições cada políticas têm sido frequentes no
vez mais distintas POLÍTICA e âmbito social. De acordo com o
SOCIALMENTE. O distanciamento levantamento realizado pelas ONGs
radical das pautas ideológicas tende a Terra de Direitos e Justiça Global, no
DIFICULTAR o diálogo, período entre janeiro de 2016 e
levantamento realizado pelas ONGs que a extrema polarização política
Terra de Direitos e Justiça Global, no traz prejuízos significativos para o
período entre janeiro de 2016 e âmbito social. Além da violência em
setembro de 2020, foram registrados decorrência da divergência política,
327 CASOS DE VIOLÊNCIA POLÍTICA, tem-se que a polarização dificulta o
sendo 125 assassinatos ou atentados. exercício do poder, uma vez que
No ÂMBITO FAMILIAR, diversos são haverá contínuas manifestações
os relatos de pessoas que contrárias ao poder, encabeçadas
protagonizaram ou presenciaram pelos opositores. O cenário
discussões acaloradas sobre política IMPOSSIBILITA o DIÁLOGO e a
com seus familiares, amigos e CONSTRUÇÃO de debates
colegas. Tais discussões ganharam esclarecedores e benéficos à
espaço nos grupos do WHATSAPP e, manutenção da democracia e do
principalmente, nas publicações do bem-estar de toda a sociedade.
FACEBOOK. O algoritmo das redes
sociais favorece que determinados
conteúdos e informações cheguem
aos indivíduos que compactuam com
a ideia, de maneira que o indivíduo
reforce as suas crenças, através de
vídeos, notícias, artigos e imagens. A
consolidação dos seus ideais e a
indisposição ao diálogo com os
demais resultam a INTOLERÂNCIA e a
INCAPACIDADE de aceitar opiniões
divergentes, propiciando um
ambiente hostil e propenso às
discussões. Dado o exposto, infere-se
que a extrema polarização política
traz prejuízos significativos para o
âmbitoVOCÊ
social.
SABIA?

A polarização política no país é um dos aspectos mais importantes para explicar as divergências
no comportamento dos brasileiros em relação à Covid-19. De acordo com a pesquisa “A
comunicação no enfrentamento à Covid-19”, coordenada pelo Centro de Pesquisa em Comunicação
Política e Saúde Pública da Universidade de Brasília (CPS/UnB), em parceria com pesquisadores da
Universidade Federal de Goiás (UFG), da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Western
University (Canadá), apenas 1,4% dos opositores do governo (43,2%) não estava preocupado com a
doença. Entre os brasileiros satisfeitos com o governo (35,2%), o percentual foi cinco vezes maior,
8,7%.
 ANOTA AÍ

• A polarização política no Brasil alcançou um nível de intolerância superior à

média internacional de 27 países observados em uma pesquisa realizada
pelo Instituto Ipsos. De acordo com o levantamento, realizado em 2019, 32%
dos brasileiros acreditam que não vale a pena dialogar com pessoas que
tenham visões políticas divergentes das suas;

• Conforme pesquisa realizada pelo Datafolha, no ano de 2019, 51% dos

brasileiros que utilizam o WhatsApp desistiram de fazer um comentário ou
compartilhar algum conteúdo político para evitar discussões com a família
ou com os amigos. Ademais, uma em cada quatro pessoas (27%) saiu de
algum grupo para evitar discussões, e 19% deixaram de seguir ou
bloquearam o perfil de algum amigo ou colega por divergir do seu
posicionamento político;

• Além do Brasil, outros países vivem o momento de polarização política,

como é o caso do Estados Unidos. A divergência norte-americana ocorre,
sobretudo, pela sobreposição entre identidades sociais e partidos políticos.
Os grupos sociais que partilham da mesma identidade racial, religiosa ou
sexual tendem a escolher o mesmo partido político;

• De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), 39,2% dos

brasileiros aprovam o desempenho pessoal do atual presidente da
República, Jair Bolsonaro, enquanto 55,4% reprovam. Os dados expostos
corroboram a polarização política vivenciada pelo país. É notório que há a
formação de dois polos distintos e ambos com um número significante de
pessoas.
 DIALOGANDO

Em entrevista, Steven Levitsky, cientista político estadunidense e professor da

Universidade Harvard, realiza considerações importantes sobre a democracia na
América Latina e nos Estados Unidos.
De acordo com sua especialidade e experiência, o que mais o preocupa neste tempo
de pandemia?
[...] A pesquisa do Latinobarômetro de 2018 mostrou que cada vez menos mexicanos e
brasileiros confiam na democracia e, se olharmos para o futuro, temo que continuará
diminuindo. Há países com Estados que não funcionam bem, com alto nível de
desigualdade e sistemas públicos de saúde que não funcionam, com fome e que
registrarão um aumento da dívida pública muito preocupante. O espaço de manobra
que esses governos terão será muito limitado, com cortes no gasto social e o quase certo
aumento da desigualdade social.
Por acaso, caminhamos para um regime híbrido, para um autoritarismo
competitivo, como você define, em certos países da América Latina?
[...] Espero que os militares não voltem a governar diretamente e que a variante mais
provável seja a democracia fragilizada e os regimes híbridos, liderados por outsiders,
populistas de “esquerda” ou de “centro-direita”, que prometam solucionar os
problemas de outra maneira, assim como [Hugo] Chávez ou [Alberto] Fujimori, que
ganharam porque as pessoas estavam cansadas da classe política, dos políticos
tradicionais, dos governos do status quo.

Confira matéria completa em: https://bit.ly/3qZq12M

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 MOMENTO HISTÓRICO

Os conceitos de “direita” e “esquerda” foram consolidados na sociedade por volta do século 19,
após a Revolução Francesa. Durante o período revolucionário, iniciado em 1789, na França, os
girondinos, reputados como conciliadores e mais moderados, ocupavam o lado direito da
Assembleia Nacional Constituinte. O lado esquerdo, por sua vez, era ocupado pelos jacobinos,
considerados mais radicais e exaltados. Essa sistematização das ocupações da Assembleia deu
origem à nomenclatura política que categoriza os dois posicionamentos políticos supracitados.
Nesse cenário, pensadores, como Karl Marx e Friedrich Engels, construíram os ideais de esquerda.
Edmund Burke, Alexis de Tocqueville e Thomas Carlyle, por sua vez, influenciaram os ideais de
direita. Apresentado o marco histórico, é importante compreender que os pensamentos
ideológicos foram construídos e moldados ao longo do tempo e dos acontecimentos. Em linhas
gerais, é visto que o pensamento de “esquerda” foi moldado a partir da ideia de coletividade e de
intervenção do Estado, principalmente com o intuito de atenuar as diferenças socioeconômicas. O
pensamento de “direita” foi formado a partir da centralização do indivíduo e de suas liberdades,
possibilitando-lhe fazer as próprias escolhas.

O documentário “Democracia em Vertigem” aborda

assuntos que tem relação com o tema. Ele está
disponível na Netflix.
Sinopse: Documentário sobre o processo de
impeachment da ex-presidente do Brasil, Dilma
Rousseff, que foi considerado como um dos reflexos
da polarização política e da ascensão da extrema-
direita para o poder. O filme conta com imagens
internas e exclusivas dos bastidores do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC e do Palácio da Alvorada,
enquanto ocorria a votação para a queda de Dilma.
 BIBLIOGRAFIA

FARIA, Flavia. Para evitar brigas, 51% desistiram de comentário de política no WhatsApp, diz
Datafolha. Folha de S. Paulo, 24 dez. 2019. Disponível em:
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mascara.htm. Acesso em: 18 mar. 2021.
UOL NOTÍCIAS. In: GOMES, Bianca et al. Polarização política no Brasil supera média de 27 países. [S.
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estado/2019/04/14/radicalismo-politico-no-brasil-supera-media-global.htm. Acesso em: 18 mar. 2021

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