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A Direita e a Esquerda: a Bússola Política

Renato Noguera

A partir dos avanços das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), a


Política ganhou um novo relevo. Os debates em redes sociais ganharam uma frequência
e velocidade banhada em volumes indeterminados de informações. Ao invés de poucas
fontes de informação especializadas, as emissoras “não certificadas” passaram a se
multiplicar de uma maneira fora do comum. Não eram mais jornalistas e analistas com
formação sólida em Ciências Humanas e/ou Ciências Sociais Aplicadas falando de
Política. Mas, todo mundo passou a falar e “formar opinião”. Um dos assuntos que
merece atenção foram os xingamentos em tempos de eleições dividindo a sociedade em
“direitopatas” e “esquerdopatas”. A briga entre coxinhas e mortadelas foi tônica do
cotidiano das campanhas eleitorais, fazendo até pessoas da mesma família
desentenderem-se. Pois bem, o que parece ter escapado às agressões verbais e, em
alguns casos, físicas, calúnias e difamações foram as definições básicas sobre os
sentidos de Direita e de Esquerda. Muitos diálogos em redes sociais parecem ser uma
conversa cheia de ruídos em que as pessoas que brigavam não estavam falando das
mesmas coisas. As palavras “Esquerdistas” e “direitistas” não são xingamentos. Um
bom debate político e devidamente qualificado pode servir para desacreditarmos de
saídas fáceis, as respostas maniqueístas que acham que um lado político é o “Bem” e o
outro é o “Mal”. Não estamos falando de anjos ou demônios, mas, de gente. O assunto
não é religioso; se trata de política. Não devemos incorporar traquejos de fé para isso, o
que não significa que os debates não sejam apaixonados.
Eu quero fazer uma breve contribuição para o debate qualificado definindo, se é
que ainda é possível, as categorias políticas Direita e Esquerda. Primeira resposta: sim.
Sem dúvida, Direita e Esquerda são categorias políticas legítimas, porque elas reúnem
princípios através dos quais partidos políticos, movimentos sociais e vários setores
organizados da sociedade trabalham para produzir um ideal de mundo. Porém,
precisamos de algumas definições.
Foi na França em de 1789 que as expressões surgiram. Na Assembléia
Nacional durante o processo revolucionário, a disposição era a seguinte: à esquerda
sentavam-se adeptos da mudança do regime, à direita estavam sentados os que não
queriam mudanças. No centro ficavam aqueles que podiam oscilar para um lado ou
outro de acordo com as circunstâncias. Neste contexto, Esquerda estava a favor da
mudança mais radical do regime, aqui coube a noção de revolucionária. Enquanto, a
Direita ficou vinculada aos ideais conservadores. Mas, essa definição é insuficiente
diante de fenômenos complexos contemporâneos. No século XX, o cientista político
italiano Norberto Bobbio (1909-2004) sistematizou da seguinte maneira: Esquerda é o
lado da Política que busca promover reformas que afetam a justiça social, a ênfase é no
quesito igualdade. Direita é o lado da Política em que as medidas defendidas são para
aumentar a liberdade individual. Essa definição já é mais adequada; porém, ainda
precisamos melhorar com a inclusão de alguns detalhes. Por exemplo, a legalização do
casamento de pessoas do mesmo sexo pode ser incluída como uma medida de aumento
da liberdade individual? Então, seria uma pauta da Direita? Mas, não são partidos de
Esquerda que defendem essa medida?
O ativista e pensador político estadunidense David Nolan (1943-2010) fez uma
bela sistematização para resolver alguns problemas. A definição de Bobbio se aplica ao
campo da economia. Nolan montou um plano que previa resolver dúvidas se uma
medida era de Esquerda ou Direita; mas, apresentou limitações porque vinculava esta
mais ao conservadorismo. Nolan foi criticado porque em seu quadro a Esquerda foi
representada por alta liberdade individual e baixa liberdade econômica. Enquanto a
Direita era o seu inverso, a controvérsia estava em justamente atribuir a esse lado da
Política baixa liberdade individual. Um quadro posterior ao plano de Nolan que parece
bem interessante foi a Bússola Política. O que produz dois eixos: um horizontal e outro
vertical. Neste as questões das liberdades políticas e individuais estão inclusas fazendo
do ponto superior o grau máximo de supressão dessas liberdades, o ponto autoritário
no ponto inferior está o libertário, grau máximo de liberdades individuais. No eixo
horizontal temos quanto mais à Esquerda mais intervenção do Estado na economia, no
outro extremo, os princípios para uma economia sem participação estatal. Ou seja, à
Esquerda um Estado intervencionista para garantir justiça social e do outro: Estado
liberal para garantir a liberdade econômica e auto-regulação do mercado.
De olho na ilustração da Bússola Política podemos compreender que é muito
mais complexo do que parece à primeira vista. Existem duas dimensões, uma puramente
econômica (eixo horizontal) e outra que está no registro das liberdades individuais (eixo
vertical). Um partido político pode ser liberal na economia e conservador nos costumes.
Outro pode ser liberal nos costumes; mas, crítico de medidas liberais na economia. Os
matizes e locais de posicionamento na Bússola são diversos. Sem definições prévias
qualquer bate papo pode virar uma péssima discussão.

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