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Sistemas, Regimes
e Valores Morais
3. RESSUSCITANDO CLÍSTENES
Durante 96% do tempo de existência do Homo sapiens neste planeta,
vivemos em pequenas comunidades nômades, construídas sobre fortíssimos
laços familiares. Este foi o contexto que formatou a configuração de nossos
corpos e o enredo de nossos raciocínios.
Nos 4% mais recentes, produzimos uma realidade Neolítica
completamente diversa dos milênios anteriores: agrupamo-nos em cidades
cada vez populosas e complexas, associando culturas e absorvendo
estrangeiros, e mantivemos a governabilidade dessas saladas humanas por
meio de Realismos Morais Absolutos externados em Impérios e Estados
Monárquicos que geraram estabilidade social, semearam tecnologia,
pariram a Renascença, a Reforma, o Mercantilismo, o Iluminismo, a
Revolução Industrial, o Capitalismo e até mesmo o infame Socialismo. E
então, há pouco mais de 200 anos, deslumbrados com nossos avanços e
fundamentados em meia dúzia de delírios rousseaunianos, ressuscitamos o
espírito grego ancestral da Democracia, costurando uma colcha de
incongruências nunca antes testadas – e passamos a nos surpreender com
suas ineficiências.
A Democracia, ou “o governo do povo, pelo povo e para o povo”,
como pronunciado por Abraham Lincoln em seu famoso Discurso de
Gettysburg13, surgiu no século V a.C. em várias Cidade-estado da Grécia,
mas foi Clístenes (570-508 a.C.) quem conferiu a este modelo político um
status magnificente.
Sem embargo, a Democracia ateniense não era aberta a todos os
residentes: para receber o direito ao voto você deveria ser homem, ter mais
que 18 anos de idade, ser filho de pai e mãe atenienses, não possuir dívidas
e ter completado o período obrigatório de serviço militar. Estrangeiros,
mulheres, crianças e escravos (mesmo os libertos) não votavam. Como
consequência, apesar de abrigar uma população entre 250 e 300 mil
pessoas, apenas cerca de 30% dos adultos em Atenas – o equivalente a 10%
dos habitantes – possuíam direito ao voto14.
Cerca de cem anos depois de Clístenes, e nascido após a morte de
Péricles – que levou os atenienses ao apogeu de sua democracia –, Platão
resumiu bem o aprendizado das décadas de democracia grega escrevendo
algumas recomendações para um bom governante: “... estabelecerás na
cidade médicos e juízes que hão de tratar, dentre os cidadãos, os que forem
bem constituídos de corpo e de alma, e deixarão morrer os que fisicamente
não estiverem nessas condições, e mandarão matar os que forem mal
conformados e incuráveis”7. E este era o sentido de Democracia naqueles
tempos.
O surgimento do Iluminismo na Europa trouxe consigo duas ideias
nucleares – de que o indivíduo é racional e que ele possui direitos
inalienáveis –, colocando a Democracia novamente no centro das atenções.
Basicamente, a Democracia seria uma manifestação ideal do
Consequencialismo Moral de Jeremy Bentham, Henry Sidgwick e,
especialmente, de John Stuart Mill: democraticamente correto seria tudo
aquilo capaz de levar o máximo de benefícios possível ao maior número
possível de pessoas.
A Democracia teria a vantagem de forçar os participantes a lutar pelos
seus interesses, direitos e opiniões, com efeitos benéficos no caráter dos
cidadãos sob sua influência. Em sociedades democráticas, os indivíduos
seriam encorajados a ser mais autônomos, racionais e Moralmente
competentes – ou pelo menos essa era a expectativa.
Sem dúvida alguma, a Democracia Iluminista facilitou o surgimento da
indústria, o desenvolvimento de um poderio militar e uma prosperidade
econômica sem precedentes no mundo Ocidental. Mas desde o princípio os
envolvidos sabiam muito bem das falhas potenciais deste sistema e
procuraram contê-las.
Nos EUA, os Federalistas deixaram evidente que estavam criando uma
República, não propriamente uma Democracia, e desenvolveram
ferramentas para restringir a vontade popular15. Contudo, como ocorre com
qualquer religião, a fé terminaria se mostrando mais forte que as regra:
quando a franquia política se expandiu, mais pessoas passaram a participar
das tomadas de decisão e o sistema se tornou uma sequência infinita de
referendos, paralisias e insolvências.
Na Grécia antiga, o crescimento da participação popular resultou em
demagogia. Não é preciso ser um profundo especialista para perceber que a
Democracia Ocidental seguiu o mesmo rumo, estabelecendo uma
hegemonia política das volúpias populares: os membros eleitos não buscam
exatamente uma governança eficaz, mas velejam ao sabor da opinião
pública em busca de reeleição, fazendo com que os eleitores
sistematicamente votem em quem quer que prometa a falácia de “menos
impostos” e “aumento dos investimentos públicos”.
A Democracia não é uma forma de governo desejável em ou aplicável
a todos os contextos humanos. Rousseau foi de grande lucidez ao afirmar
que as sociedades, assim como os humanos, possuem um tempo de
maturação que é necessário esperar antes de colocá-las sob a gestão de si
mesmas23. Formas diferentes de governos podem ser boas para diferentes
povos e em diferentes épocas e vice-versa, e devemos tomar grande cuidado
ao santificar ideologias: considerar um determinado sistema político-
econômico “supremo” não lhe confere imunidade contra o desvirtuamento.
Pelo contrário: cega-nos para a percepção de sua decadência, silenciando
argumentações e impedindo correções de trajetória que poderiam salvar-lhe
de seus equívocos intrínsecos.
4. ARGUMENTOS CONTRA A DEMOCRACIA
As principais características dos regimes Democráticos modernos
incluem: (1) mudança de governo por meio de eleições; (2) participação
ativa do povo (cidadãos) na vida política e cívica; (3) proteção dos direitos
humanos e (4) igualdade de todos os cidadãos perante a Lei. Infelizmente,
estes ideais majestosos não evitaram que a Democracia se transformasse em
uma ficticiocracia editada e publicada por facções que visam unicamente
seus próprios interesses ilícitos e, para tanto, sufocam a iniciativa privada,
sobretaxam os contribuintes, subornam a justiça, protegem o crime
organizado, institucionalizam a corrupção tornando-a impune e fomentam a
miséria econômica, a deseducação e a fragmentação cultural do povo.
O sistema democrático familiar para nós é um Frankenstein costurado
com pedaços de monarquia (Poder Executivo), aristocracia (Supremo
Tribunal Federal) e oligarquia (Senado e Câmara dos Deputados). Em A
República, Platão afirmou que a Democracia é inferior a todos estes três
sistemas separadamente. Junte-se a isto o sintoma de que a maioria das
pessoas exprime um interesse apático pelo bem-estar comum e não reúne o
conjunto de talentos necessários para pensar com clareza acerca das
dificuldades do processo de governar, e teremos um Estado guiado por
ideias sórdidas disseminadas por bons manipuladores. Levada a cabo, a
Democracia arrisca-se a jogar a Moralidade no lixo e se tornar um concurso
corrupto de popularidade que premia quem mente mais e melhor.
Apesar de ter afirmado que “rigorosamente falando, nunca existiu
verdadeira democracia nem jamais existirá: a democracia contraria a
ordem da Natureza”23, Rousseau demonstrava uma enorme credulidade
quanto à superioridade indisputável da democracia. Escreveu ele: “o clamor
público quase nunca eleva aos primeiros postos homens que não sejam
esclarecidos e capazes e não os ocupem com dignidade; ao passo que, nas
monarquias, os que se elevam são, na maioria das vezes, pequenos
rixentos, pequenos velhacos e pequenos intrigantes cujos pequenos
engenhos na corte permitem alcançar grandes postos”23.
É absolutamente ingênuo considerar um governo democrático como
um governo melhor per se. Os sistemas políticos são compostos por
humanos e humanos são falhos, angustiados pela garantia de uma
sobrevivência que jamais será certa, e por isso temos essa tendência a nos
comportar mal em qualquer parte e em qualquer época: estamos
condenados a viver à mercê da sociedade enquanto procuramos uma forma
de salvar o próprio umbigo antes dos outros.
Em termos de governança e capacidade de produzir desenvolvimento,
o altar de 241 anos de sucesso da Democracia norte-americana deve, por
justiça, ser contraposto à longevidade de diversos outros Impérios da
antiguidade que produziram, ao seu modo e à sua época, êxitos
extraordinários.
Por exemplo: as dinastias chinesas foram iniciadas pela Dinastia Xia
(2.100 a.C.), seguindo até a Dinastia Qing, terminada em 1911 – um
percurso de 4 mil anos! Em 1912, a Revolução de Xinhai estabeleceu a
República da China, que durou até 1949, quando o Partido Comunista
assumiu o controle do Estado, estabelecendo um regime unipartidário que
resiste até hoje – e que é bastante semelhante à doutrina política das
Dinastias, de quem herdamos a feitura de papel, os tipos móveis de
impressa, a pólvora, a bússola, o relógio mecânico, o chá e a seda, entre
outros.
O Império Bizantino, uma continuação fisiológica da decomposição do
Império Romano, durou mais de mil anos (de 330 a 1453 d.C.) e produziu
avanços notáveis nos campos da arquitetura, da engenharia de guerra e da
legislação civil. No campo médico, foram os bizantinos que fizeram a
primeira separação bem sucedida de gêmeos siameses. E também foram os
bizantinos que conceberam a noção de hospital como um local de
tratamento e cura, e não apenas um depósito para pessoas à espera da morte.
O Califado – a forma islâmica monárquica de governo – durou 1.300
anos, tendo início com o Califado Ortodoxo, fundado pelo sogro de Maomé
em 632, e terminando com a dissolução do Império Otomano em 1923. No
auge de sua glória, seus territórios incluíam a Arábia, Pérsia, parte da
Anatólia, Ásia Central, Cáucaso, Chipre e Norte de África. Tanto em
extensão territorial quanto em tempo de duração, o Califado foi um dos
maiores impérios da história e introduziu inovações em áreas tão diversas
quanto cerâmica, química, engenharia, música, saúde mental e tratamento
de feridas.
Realmente, não existe um motivo para pensar que os governos
democráticos são eternos e tampouco virtuosos por natureza, do mesmo
modo que não existem motivos para pensar que eles representem
exatamente os conceitos e vontades populares: os processos de decisão por
opinião majoritária são tão limitados quanto falhos e corruptíveis.
O processo eleitoral é uma parte essencial do consentimento para que
um governo democrático se estabeleça, mas, graças à benesse da ignorância
popular, a classe política frequentemente representa nossas piores
indolências e não nossos mais elevados ideais Morais.
Arremedando Platão, Thomas Hobbes (1588-1679) também afirmou
que a Democracia é inferior à monarquia, pois cidadãos e políticos tendem
a não cultivar um bom senso de responsabilidade legislativa, mediocrizando
a qualidade do processo de tomadas de decisões16. Os cavaleiros da
Democracia contra-argumentam dizendo que os princípios democráticos
estão fundamentados nos direitos à Liberdade e à Autonomia que cada
indivíduo deve possuir sobre sua vida. O paradoxo consiste em que, em
uma Democracia, as decisões são tomadas por consenso, e não (ou
raramente) por unanimidade: se uma pessoa tem direito à Liberdade e
Autonomia, mas é obrigada a viver sob decisões e leis majoritárias com as
quais não concorda, ela existe em uma ditadura imposta pela vontade de
terceiros e não com Liberdade e Autonomia.
Uma vez que a Democracia preza o processo de decisão coletiva, a
questão que se apresenta é até que ponto o cidadão deveria ter a obrigação
de obedecer a uma decisão democrática quando discorda dela. Um Estado
democrático estaria Moralmente autorizado a impor suas regras aos
cidadãos? Se positivo, que diferença há entre um Estado nestes moldes e o
Leviatã de Hobbes? Se negativo, qual seria – e como determinar – o limite
para a autoridade do Estado?
Na visão de Consequencialistas como Stuart Mill, a legitimação da
autoridade do Estado democrático estaria ligada à sua capacidade de
promover o maior bem possível ao maior número possível de pessoas.
Porém, em uma nação onde apenas 8% da população é plenamente
alfabetizada e 1 de cada 5 jovens – um total de 7,3 milhões de pessoas ou
mais de dois Uruguais inteiros – não trabalham, não estudam e nem estão
procurando emprego8,9, como esperar que o Utilitarismo democrático seja
capaz de identificar com clareza e razoabilidade o “maior bem possível para
o maior número possível de pessoas”?
Stuart Mill acreditava que a Democracia era a melhor forma de
governo devido aos seus efeitos secundários sobre a melhora da Moralidade
dos cidadãos. Graças à liberdade de deliberação, eles aprenderiam a reunir
informações sobre suas opiniões, discutir seus méritos e escolher uma
representatividade fiduciária da confiança pública que daria expressão aos
seus ideais e preferências. Quando pensamos na Democracia como um
regime onde a sociedade usufrui deste tipo de liberdade vigiada pelo
respeito ao Estado de Direito e à sombra de decisões planificadas em prol
do “maior bem possível para a coletividade”, temos um sistema
curiosamente semelhante ao Socialismo-Comunismo.
Ainda contra o argumento de Mill, deve-se observar que algumas
sociedades são constituídas por cidadãos que não possuem os ingredientes
necessários para legislar, pois lhes falta disciplina, auto-responsabilidade,
civilidade, educação, cultura, caráter, recursos intelectuais e senso de dever.
Como confiar na capacidade normativa de uma Democracia constituída
majoritariamente por cidadãos deste quilate?
O viés mais terrível da Democracia consiste em perpetuar a tirania da
mediocridade quando a maioria é composta por ignorantes, e quando as
minorias começam a influir sobre as maiorias, a utilidade geral contraria
Stuart Mill, deixando de ser aquela de todos – e o cidadão que produz
começa a perder tanto o interesse em produzir quanto em continuar cidadão.
Platão alertou sobre isso em A República, dizendo que “o maior dos
castigos é ser governado por quem é pior do que nós”, ao que foi plagiado
por Rousseau, que anotou que “não existe outra forma de governo em que a
vontade das minorias mais facilmente domine tudo em prejuízo do
Estado”7,23.
Em O Poder da Inteligência Emocional, Daniel Goleman afirma que
2% da população humana são os que de fato produzem mudanças, 13%
veem as mudanças acontecer (e às vezes até apoiam e auxiliam os outros
2%), e 85% da massa sequer percebe o que está acontecendo e apenas segue
o rebanho na direção que lhes é determinada4. O desastre da Democracia
está em que os 85% que "seguem o rebanho" votam sobre a direção que a
manada deverá seguir.
Certamente, regimes ditatoriais não são conhecidos por garantir
dignidade, respeito ou oportunidades iguais – e menos ainda Liberdade ou
Autonomia. O ar de paz e serenidade da Democracia é sedutor quando
comparado a regimes totalitários. Mas, se alguém discorda de um método
ou uma forma particular de Democracia, esta pessoa não encontra também
coerção para adequar-se ao status quo?
Liberdade e autonomia para exigir mudanças não são garantias de que
estas mudanças ocorrerão: ter direito a uma voz, especialmente no caso de
uma voz solitária, não é suficiente para exercer o poder de mudanças, ainda
que elas sejam Moralmente justas e necessárias. Apesar das amplas janelas
de vidro e das paredes douradas com discursos incentivadores, a
Democracia pode ser retratada como outro formato para um regime por
prisão – neste caso, de prisão pela vontade da maioria.
O princípio básico do manto democrático é o respeito pela diversidade.
Todavia, os interesses das pessoas são variados devido aos seus talentos
naturais, ao modo como foram educadas e ao pluralismo do contexto onde
cresceram, e estes fatores criam vieses cognitivos que comprometem sua
capacidade de compreender os interesses de outras pessoas e grupos.
Obviamente, a discordância é a regra – e a Democracia seria um método
construtivo para produzir alguma convergência nestas discordâncias. O
Relativismo Moral da Democracia, entretanto, impõe limites importantes
aos interesses das pessoas: o discurso de busca pela igualdade resulta em
uma regressão infinita onde a liberdade de um é cada vez mais aprisionada
pela liberdade de terceiros e da coletividade como um todo, favorecendo o
status quo e criando uma tirania majoritária incompatível com o argumento
de liberdade e igualdade soberanas.
O risco maior da Democracia não é o de não ser estabelecida, mas o de
ser estabelecida absolutamente. Uma Democracia absoluta é lugar onde a
Moralidade da maioria determina as leis que regem a todos. Por exemplo:
se a maioria é preguiçosa, a indulgência se tornará cultura. Se a maioria é
pobre, ela decidirá que tem mil direitos e nenhum dever – e isto se tornará
Lei. Se for criminosa e corrupta, determinará que este tipo de
comportamento não deve ser necessariamente punido – e isto se tornará
norma.
Considerando a Democracia como o governo pelos valores Morais do
cidadão-médio, é impossível não questionar se estes cidadãos estão mesmo
à altura da tarefa que se lhes apresenta. Platão defendia que algumas
pessoas são mais inteligentes e, por conseguinte, mais Morais que outras.
Em uma sociedade especializada, alguns terão a tarefa de serem
professores, médicos, advogados, psicólogos, engenheiros, operários,
policiais. Outros, a tarefa de serem políticos. Se não podemos esperar que
um engenheiro tenha especialização suficiente para dirimir sobre aspectos
técnicos de uma neurocirurgia, como esperar que o cidadão-médio tenha
competência para avaliar e decidir sobre os intricados gerenciamentos da
esfera governamental?
Sem a habilidade e o conhecimento necessários para participar de
modo inteligente da política, o voto deixa de ser uma ferramenta de
deliberação razoável, transformando-se em uma ilusão mercantilizada pelo
populismo demagogo de mais fácil entendimento. No caso brasileiro,
debater se nosso país tem condições sócio-econômico-culturais para um
sufrágio universal como o atual virou uma espécie de blasfêmia, mas é
necessário enfrentar este tabu argumentativo. Resta saber se há coragem e
lucidez suficientes para uma troca sadia de ideias nesse sentido.
Aristóteles insistia que a diferença entre uma boa Moral e a
Imoralidade não residia no número de tomadores de decisão, mas nos seus
objetivos; e defendia que o método de decisão Democrático era o melhor
dentre todos, pois agregava o potencial de sabedoria, estabilidade e
incorruptibilidade do povo. Observando nosso país, é fácil perceber como,
de Aristóteles a Stuart Mill, os filósofos foram ingênuos em dimensionar as
consequências Morais impiedosas que a má-educação escolar e cultural
podem produzir quando resultam em um estado de Embotamento nacional.
O dilema fundamental na Democracia está no fato de que a maioria das
pessoas não vota com base em suas próprias convicções Morais, mas a
partir de valores que aprenderam ainda na infância e na escola, tornando o
voto uma expressão irracional de fixações que viralizam como memes. Se a
Democracia pretende ter algum sucesso, ela precisa assegurar que as vozes
mais influentes serão aquelas dos mais bem informados, que dedicaram boa
parte de seu tempo a construir entendimentos baseados em reflexão e
estudo. Tragicamente, em uma Democracia, estas vozes serão sempre uma
minoria e tendem a ser ignoradas, sufocadas pelos berros do populismo dos
menos informados.
Para tentar contornar o risco deste vício, alguns teóricos defendem uma
limitação dos poderes exercidos pela maioria simples ou pela coalizão de
minorias: eles pregam a favor de que os interesses econômicos sejam a
bússola para a política, pois qualquer Moralidade democrática diferente
desta produziria graves ineficiências. Infelizmente, parecem ignorar que
este tipo de Imperativo Categórico facilmente se deterioraria em um modelo
de metacapitalismo plutocrático, onde a riqueza e o controle do mercado se
concentrariam nas mãos de alguns poucos eleitos, sabotando o exercício
democrático.
Por mais iconoclasta que seja, vale observar que uma Democracia não
é necessariamente melhor que um regime Absolutista: existem casos de
sucesso e de insucesso em ambos os lados.
Por exemplo: o regime chinês configura uma semi-Democracia
Meritocrática Vertical5. A seleção dos políticos é extremamente
competitiva, apesar de ainda ser corrupta e um tanto fascista (mas estas
qualidades não estão presentes também na nossa forma de Democracia?), e
o sistema monopartidário evita que os políticos passem mais tempo em
campanha que fazendo o serviço para o qual foram eleitos.
Para o sociólogo norte-americano Daniel Bell, a Democracia Ocidental
está não está tão preocupada com Governança, mas com a garantia dos
direitos individuais. Enquanto os EUA consideram a Democracia um fim
em si mesma, a China a aborda como um meio para atingir os grandes
objetivos nacionais: seus líderes estão dispostos a permitir uma maior
participação popular se e quando isso conduzir a um desenvolvimento
favorável aos interesses da nação. Entretanto, esses mesmos líderes não
hesitariam por um segundo em cortar liberdades e direitos para se adaptar
às condições do momento5.
Após os violentos protestos de 1989, os chineses fizeram exatamente
isto, providenciando as mudanças necessárias que os colocariam na posição
de segunda maior economia do mundo. Nenhum referendo foi realizado
quanto à adequação destas mudanças: elas foram tecnicamente analisadas e
totalitariamente executadas, sem discussão ou choro ou plebiscitos em
nome da crença nos “direitos inalienáveis dos indivíduos”.
Em termos comparativos, o sistema da China é mais eficiente que o da
Rússia: o regime russo, baseado em um forte Estado executivo, produz
benefícios para a população que, em geral, são ignorados pelo Ocidente6.
Muitos acusam a política russa de ser pouco competitiva e eficiente, com
uma tendência para legislações pessoais que silenciam as opiniões de
segmentos importantes da população e acentuam os abismos entre o povo e
aqueles que exercem o poder. Como resultado, o ambiente interno tende a
ser instável, nutrindo suas próprias crises.
O Estado forte da Rússia tem um registro misto de sucessos e falhas,
mas é difícil imaginar que aquele país, com uma área quase do tamanho da
América Latina inteira, tivesse sido capaz de alcançar algum progresso sem
ele. Localizada na interseção de várias culturas e tradições, a Rússia
enfrentou grandes adversidades para manter-se como uma nação soberana,
conseguindo livrar-se a duras penas da colonização por outras potências –
talvez com uma exceção para a ocupação Mongol ocorrida no século XIII.
Nos últimos trezentos anos, a Rússia tem sido um agente ativo na política
internacional, ainda que isto tenha custado a priorização de seu poderio
militar em detrimento de outras urgências domésticas.
É provável que o regime político russo se perpetue por muitas décadas.
Primeiro, porque conta com áreas extensas para exploração de recursos
naturais e sua economia é fraca na área de produção e serviços. Segundo, a
proposta de um Estado descentralizado, com enfraquecimento das
obrigações sociais, não encontra eco entre a população, mentalmente
acostumada a um modelo paternalista de governo. Se o Estado falhar no
cumprimento de suas obrigações, os cidadãos russos tendem a apoiar
políticos que prometam ordem e estabilidade social ao invés de políticos
com argumentos competitivos, progressistas ou liberais – uma conduta
assustadoramente similar ao comportamento padrão do brasileiro médio.
O sistema político ideal é o sonho de uma matemática sobrenatural
capaz de trazer razoabilidade para este Mundo. Obviamente, este milagre
jamais será alcançado com plenitude, mas apenas em migalhas fragilmente
articuladas: para alcançar a excelência, as Democracias devem se equilibrar
entre a necessidade de prover oportunidades para todos e a necessidade de
fazer o que deve ser feito. Não é uma tarefa para qualquer Hércules.
9. O CONSERVADORISMO
Se a Direita abrangesse uma área geográfica, poderíamos dizer que
alguns distritos seriam ocupados por casas de Libertarianos; teríamos
alguns clubes de Neoconservadores aqui e alguns acampamentos de
nômades Anarcocapitalistas acolá, mas quem reinaria mesmo, o grupo que
teria a jurisdição do condado, seria o clã dos Conservadores.
O Conservadorismo está para a Direita assim como o Progressismo está
para a Esquerda.
Alguns podem dizer que Conservadorismo e Progressismo são
orientações essencialmente políticas e não possuem conotações Morais. Eu
discordo absolutamente. Esquerda versus Direita; Conservadorismo versus
Progressismo; Libertarianismo versus Socialismo; e Anarcocapitalismo
versus Comunismo, não significam apenas referenciais político-
econômicos, mas verdadeiras díades Morais cujos ventos influenciam todas
as extensões socioculturais de nossa existência.
Estas denominações podem parecer modernas, mas os conceitos que
expressam certamente não são. Estes Caos & Ordem, estes Yin e Yang
comportamentais, acompanham nossa espécie há muito tempo e se alternam
em nossas Identidades Pessoais como um carrossel de engrenagens:
dificilmente você encontrará alguém 100% de Direita ou 100% de
Esquerda, ou 100% Conservador ou 100% Progressista, 100% do tempo.
Somos uma bagunça ambulante de todas estas importâncias, eventualmente
sacando uma ou outra de nossos bolsos segundo a maior vantagem para o
momento.
Dito isto, vamos explorar exatamente o que significa ser um
Conservador:
O Conservadorismo pode ser conceituado como um sistema que
suspeita da revolução e confia plenamente na experiência. Um Conservador
é alguém que procura a melhora gradual da sociedade a partir de arranjos já
testados, pois reconhece que a ordem é difícil de ser alcançada, fácil de ser
perdida e dispendiosa para ser recuperada.
A noção de tradição e manutenção da ordem é central no pensamento
Conservador, mas em um fluxo gradual e cauteloso: fúrias inovadoras são
rotuladas como impulsos cegos e imaturos. A visão social orgânica do
Conservadorismo deposita sua fé na família, na propriedade privada e na
religião, rejeitando uniões “místicas” entre a Identidade Pessoal e o Estado.
Com todo este pragmatismo, soa tentador classificar o
Conservadorismo como reacionário, mas isto é um equívoco. O
Conservadorismo não defende uma paralisação inegociável do tecido social,
mas a moderação nas mudanças, o passo a passo no lugar dos saltos, pois o
conhecimento humano é imperfeito e algumas aventuras podem ter
consequências desastrosas. O Conservadorismo carrega um espírito
renovador intrinsecamente Cético: “jamais deposite todas suas fichas no
Estado e jamais, jamais! confie plenamente no governo ou nos políticos”,
alertam seus arautos.
Dentro de seu clube, os Conservadores podem ser desmembrados em
Tradicionais (ou Clássicos) e Não-Tradicionais (ou Neoconservadores). Os
Clássicos são Realistas Morais por natureza, e defendem que existe um
modelo Moral superior que deveria ser aplicado a todas as sociedades
humanas. Os Neoconservadores, por outro lado, admitem pequenas doses
de Relativismo, aceitando que algumas configurações político-econômicas
devem ser adaptadas ao contexto histórico, temporal e cultural de uma
determinada sociedade. Mas abordaremos o Neoconservadorismo com
maiores detalhes mais adiante.
Voltemos aos Clássicos:
No Conservadorismo tradicional, a obediência à ordem é considerada
uma das maiores virtudes políticas, mas isto não elimina a possibilidade de
liberdade. Na verdade, para seus adeptos, a liberdade corre lado a lado com
a obediência.
Por exemplo: apesar do Conservadorismo não ser contra o Livre
Mercado, ele tende a acreditar que o mercado deve ser suplementado por
algum tipo de Moralidade incorporada na forma de autoridades
oficializadas. A visão que os Conservadores têm do Livre Mercado é
essencialmente Deontológica: o Livre Mercado é a melhor maneira de
conquistar prosperidade, mas ele deve obedecer aos direitos e deveres
prescritos pelos costumes e tradições, e qualquer ameaça de erosão destes
sustentáculos é repelida com severidade.
Filosoficamente, os Conversadores estão mais para Hobbes que Platão,
devido à convicção do primeiro quanto à ignorância e corrupção dos
governantes e a indispensabilidade da responsabilidade individual. Algumas
vezes, David Hume é classificado como um Conservador por seu ceticismo
quanto aos “fins que justificam os meios”. Se tivesse vivido o suficiente
para testemunhar a Revolução Francesa, Hume teria ficado horrorizado
tanto com os meios quanto com os fins empregados por Robespierre, e
quase certamente aceitaria o rótulo de Conservador de bom grado. O
ceticismo de Hume foi o precursor do Conservadorismo de Edmund Burke
(1729-1797).
Burke está para o Conservadorismo como Marx está para o
Progressismo. Em Reflexões sobre a Revolução na França, Burke alertou
sobre a histeria da “utopia de perfeição humana” em andamento35.
Escrevendo em 1790, ele mais ou menos previu o período de Terror que se
instalaria 3 anos mais tarde e guilhotinaria a ex-rainha Maria Antonieta,
Antoine Lavoisier e outros 40 mil coitados.
Apesar de Burke considerar o ateísmo jacobino uma ameaça à tradição
cultural do Ocidente, o entusiasmo religioso não é um pré-requisito para o
Conservadorismo: Alexis de Tocqueville (1805-1859), um Conservador
criterioso e ele mesmo um agnóstico reservado, acreditava que a Religião
era pertinente para a Democracia não exatamente por causa da fé, mas pelo
fato de a Moral Religiosa representar um recurso eficaz para resistir às
ameaças do materialismo exacerbado44.
Diferentemente da objetividade de Tocqueville, Burke era prisioneiro
de uma concepção feudal do mundo e impregnou seu Conservadorismo
com a ideia de que a Religião era a base da sociedade civil e de que o
Cristianismo, dentre todas as opções (incluindo o Hinduísmo e o
Islamismo), representava o veículo mais certeiro para o progresso social.
Advinda a Modernidade, Michael Oakeshott (1901-1990) assumiu o
posto de Referência Maior no Conservadorismo. Sua lógica, mais secular
que a de Burke, segue uma trilha um tanto pessimista, preferindo a
familiaridade à perfeição, o testado ao não testado, e o palpável ao possível.
Oakeshott considerava que a função do Estado e da política consistia em
permitir que as pessoas vivessem juntas à luz de suas histórias e tradições, e
não guiadas por metas universais extrínsecas como igualdade ou eliminação
da pobreza.
Para Oakeshott, o Conservadorismo não era um credo ou uma doutrina,
mas uma disposição para o carpe diem. Todavia, ele defendia que devemos
nos libertar da escravidão que é o compromisso inegociável com as
tradições, retornando a ela mais tarde, enriquecidos e melhor informados
acerca do mundo36.
Seguindo os passos de Burke e Oakeshott, passamos pelo
Conservadorismo prudente de Russell Kirk (1918-1994)37 e chegamos
àquele que é, provavelmente, o pensador Conservador mais influente vivo
neste momento: Roger Scruton, cuja filosofia Conservadora baseia-se nos
conceitos de autoridade, fidelidade e tradição.
Se o começo do século XX caracterizou-se pela disseminação das
ideologias de Esquerda e do Niilismo, o começo do século XXI está sendo
o palco de uma onda reversa: o Conservadorismo Clássico, ostentando um
Realismo Moral insuflado com ares de teocracia judaico-cristã, ressurgiu do
ostracismo e começou a colonizar o imaginário de muitos órfãos que
perambulavam nas ruas babélicas da Pós-Modernidade.
A principal linha de defesa da legitimidade das intenções dos
Conservadores repousa na presumida competência de seu sistema Moral.
Mas tanto eles quanto seus opositores dizem portar as novas tábuas da
salvação contendo a codificação para uma Moralidade universal. Quem está
com a razão?
É irreal proclamar que a expansão do Conservadorismo fatalmente
produzirá um mundo mais ético, intelectual e meritocrático – assim como é
irreal asseverar que a justiça Progressista é necessariamente objetiva e
apolítica. O Conservadorismo traz consigo o risco de agravar aquilo que
afirma pretender eliminar: o poder exercido em nome de interesses próprios
e desvinculado dos valores de um Estado democrático. Infelizmente, no
desespero de nos agarramos a uma Moralidade qualquer, estamos adotando
qualquer uma que se apresente. O Progressismo Coletivista é uma ideologia
perniciosa sustentada em metanarrativas fantasiosas, e o Conservadorismo
hiperbólico apresenta sinais de uma síndrome semelhante.
O Conservadorismo tem uma incômoda complacência quanto ao status
quo, mesmo quando ele se torna inaceitável. Para um Conservador, uma
revolução não prova coisa alguma além do fato de que revoluções são
possíveis, e talvez por isso os Conservadores do século XIX tenham reagido
com tamanha intensidade contra a industrialização e a voracidade do
nascente Livre Mercado Capitalista. Mais tarde, Burke escreveria
longamente sobre esta espécie de “nostalgia feudal”, e Scruton faria algo
parecido, criticando a “nova estética” dos prédios em Londres.
O apego extremo às tradições pode tornar o Conservadorismo Clássico
outra versão dos velhos idealismos que negam a realidade e descartam os
diferentes desejos e propósitos que existem em cada um dos membros de
uma sociedade. Levado à risca, ele pode aprisionar a sociedade em uma
austeridade tão inabalável que, eventualmente, todo o tecido apodrece e se
desfaz.
Nossa Identidade Pessoal foi programada para a preservação da espécie
segundo instintos formatados ao custo de várias inovações disruptivas ao
longo de nossa história. A despeito do poder do Objetivismo de Ayn Rand e
do Individualismo Pós-Moderno, ainda possuímos essa carga genética que
nos torna profundamente felizes quando nos dedicamos à família, aos
amigos, à religião (qualquer que seja ela), à comunidade e à nação. Aqueles
que possuem este traço comportamental mais proeminente tendem a se
identificar com os ideais Conservadores. Curiosamente, isto faz com que os
Conservadores tenham traços mais Consequencialistas que os Progressistas
que tanto demonizam: o Conservadorismo se dispõe a sacrificar dinheiro
para não sacrificar coisas que têm Valor. O que poderia ser mais Utilitarista
que isto?
Em essência, a verdade é que todos somos Conservadores em algum
grau: todo mundo prefere ter dinheiro vivo na carteira ao invés de viver em
uma sociedade onde este recurso foi banido. Mas este espírito cauteloso não
significa insegurança: quando comparados com pessoas Progressistas, os
Conservadores referem mais autoconfiança, se acham mais atraentes e mais
eficazes tanto política quanto economicamente42. Por isso, não surpreende
que, ao cruzar dados de três estudos nacionais realizados nos EUA e em
outros nove países, pesquisadores do Departamento de Psicologia da
Universidade de Nova Iorque descobriram que pessoas com orientações
político-ideológicas de Direita possuem uma maior percepção de bem-estar
e felicidade que aquelas com orientações de Esquerda. Aparentemente, a
resposta para esta diferença reside no fato de que pessoas de Direita
possuem uma resiliência emocional maior para lidar com os efeitos das
desigualdades econômicas43.
Em O Contrato Social e outros escritos (1762), Rousseau afirmou que
a vontade particular tende às preferências, e a vontade geral tende à
igualdade, à retidão e à utilidade pública. É um deslize bobo. Na verdade, a
vontade particular tende aos privilégios e à corrupção, e a vontade geral
tende à institucionalização da demagogia. É por isso que qualquer
sociedade necessita de um Estado instituído, de Leis claras, de Justiça
eficaz e de uma Moralidade sólida. A Esquerda por inteiro e a parte mais
extrema da Direita não entendem o que são Leis, Justiça ou Moralidade; e a
única diferença entre ambas está no fato de que a primeira deseja alcançar
essa distopia aumentando o Estado, e a segunda, abolindo-o. Apenas o
Conservadorismo parece apresentar o equilíbrio necessário para levar esta
tarefa a cabo.
Um sintoma desta ponderação pode ser observado no fato de que a
crescente onda Conservadora da segunda década do século XXI pouco a
pouco está adotando um discurso mais suave e agradável, deixando de lado
as pirraças reacionárias de outrora. Talvez isto seja uma adaptação
estratégica para aumentar suas tropas e expandir seu território, ou talvez
seja um sintoma tardio da boa prudência receitada por Russell Kirk – neste
caso, seria um benfazejo sinal de sabedoria dos tempos.
Estes Conservadores ponderados ainda não são muitos, mas suas vozes
estão começando a ser ouvidas e seus votos, contados.
18. CONCLUSÃO
As ideologias políticas de Direita se iniciam da fronteira entre o
Progressismo de Esquerda e o Neoconservadorismo de Direita, e se
estendem até os campos mais loucos do Anarcocapitalismo. De uma ponta à
outra, a Moralidade deste espectro pode ser caracterizada pela valorização
do quadrilátero formado por Capitalismo, Liberdade, Democracia e
Meritocracia. Cada um destes pilares merece uma consideração final breve:
Como vimos, o Capitalismo tem duas sementes principais – a
Propriedade Privada e o Livre Mercado –, mas nenhuma delas cumpre os
critérios para uma Verdade substantiva.
Por exemplo: a ideia de que o trabalho cria o direito à Propriedade
Privada pode ser apenas uma preferência específica meramente cultural.
Outras civilizações associaram a Propriedade Privada à graça divina, à
piedade, à devoção, à descendência familial, ao status social, etc. Nós,
ocidentais pós-lockeanos, a associamos ao trabalho, e não existe um padrão
objetivo para classificar qual associação é a melhor ou a mais justa:
simplesmente temos que escolher uma delas para acreditar.
O próprio conceito de Livre Mercado é um contrassenso, uma vez que
ele não é exatamente livre, pois não pode ser sustentado sem que poderosas
forças gravitacionais externas mantenham a estabilidade do tecido social. A
Matéria Escura que produz estas forças atende pelo nome de Estado, e os
filamentos que mantém a superestrutura operacional atende pelo nome de
governo.
À primeira vista, como o Livre Mercado tende a treinar as pessoas para
se preocupar principalmente – ou apenas – com o progresso material. Ele
não conduz necessariamente à evolução Moral. Em uma economia de Livre
Mercado, as pessoas não buscam pela verdade, beleza, honra, coragem ou
sabedoria. Elas buscam conforto. Neste sentido, uma sociedade Capitalista
não difere muito de uma sociedade Comunista: em ambas, a motivação dos
indivíduos é atingir um determinado padrão material de vida e só – algo que
foi bem percebido e descrito por Maximilian Carl Emil “Max” Weber
(1864–1920), um dos sociólogos mais influentes do século XX, junto com
Karl Marx e Emil Durkheim.
Segundo Weber, o ser humano não quer “por natureza” ganhar dinheiro
e sempre mais dinheiro, mas simplesmente viver, viver do modo como está
habituado a viver e auferir o necessário para tanto33. Onde quer que o
Capitalismo moderno tenha dado início à sua obra de incrementar a
produtividade do trabalho pelo aumento de sua intensidade, ele se chocou
com a resistência infinitamente tenaz desta filosofia pré-capitalista, e choca-
se ainda hoje por toda parte, tanto mais quanto mais atrasada é a mão-de-
obra da qual depende.
Apesar de o Livre Mercado e o direito à Propriedade Privada estarem
associados a maiores índices de desenvolvimento humano, a lógica do
Capitalismo, como demonstrado no final dos séculos XIX e XX, quando
deixada à vontade, tende para uma concentração cada vez maior de renda e
poder, fomentando oligarquias e plutocracias. O conjunto das evidências
pode até ser positivo, mas é uma ingenuidade acreditar que o Capitalismo
seja 100% auto-reparador: os interesses que o regem são forças que
precisam ser disciplinadas de alguma maneira por princípios Morais mais
elevados que o lucro; caso contrário, ele conduzirá à exaustão dos recursos
naturais e reduzirá a sociedade a apenas um meio para aumento da
produção e uma finalidade para o consumo.
Se os humanos capitalistas fossem economicamente racionais, jamais
teríamos presenciado algo como a Mania das Tulipas na Holanda (1635), a
Crise de Crédito de Londres (1772), o Pânico da Filadélfia (1873), a Grande
Depressão Americana (1929), a Crise da OPEP (1973), a Crise Asiática
(1997), a Bolha da Internet (2000) ou a Crise Financeira Mundial (2008),
para citar apenas alguns descalabros. Poderíamos dizer que estas catástrofes
financeiras representam um tipo de mecanismo de autocorreção, assim
como os eventos planetários de extinção em massa. Mas, se for isso mesmo,
estes eventos são mecanismos bem truculentos de autocorreção.
Não surpreende, portanto, a facilidade com que a retórica das soluções
pragmáticas do Realismo Moral de cunho socialista-comunista causa
encantamento: seus "imperativos categóricos" e suas "verdades
substantivas" são alicerçados em operações aritméticas simples, básicas, de
resultados inteiros e sem casas decimais. Não existem variáveis civis, não
existe heterogeneidade popular no Comunismo: tudo é monoteísmo
ideológico absolutista. Não obstante, não é mais ou menos assim também
que o opera a Democracia Capitalista?
Elimine do enunciado a seguir o termo "coletividade", substituindo-o
por "lucro", e o resultado será tão idêntico quanto um gêmeo univitelino:
“todas as ações devem ter como objetivo o fomento do
desenvolvimento e a proteção do bem-maior para a coletividade (ou para o
lucro). É em nome da coletividade (ou do lucro) que as leis devem ser
elaboradas; a política, construída; o cidadão, instruído; as instituições,
preservadas; o futuro, planejado”.
Lucro ou Coletividade, Capitalismo ou Comunismo, vistos por esta
ótica, parecem sofrer da mesma síndrome dos “fins que justificam os
meios”. São como Caim e Abel, Harry Houdini e Hardeen, Fredo e Michael
Corleone, Mufasa e Scar, Cláudio e Hamlet – competem entre si, odeiam-
se, vilipendiam-se, mas pertencem à mesma exata linhagem.
Aqueles que advogam o Capitalismo democrático e liberal citam os
EUA (a nação mais rica do mundo atual e uma potência militar
inquestionável) como exemplo de liberdade, dividendos e bonança. Aqueles
que defendem o comunismo coletivista e ditador podem citar a China (a
segunda maior economia do planeta e com uma população equivalente a
quatro EUA) como exemplo de objetividade, planejamento e disciplina.
Ao final do embate, com direito a graves acusações Morais e meia
dúzia de xingamentos bilaterais, sobram silogismos de ambos os lados na
mesma medida em que faltam entendimentos racionais entre as partes. A
sujeição castradora ao Grande Irmão está para os Estados de Esquerda
assim como a obsessão pelo sucesso financeiro e o acúmulo de
Propriedades está para os Estados de Direita – mas nenhum deles ousar
apontar o dedo para os podres da própria família.
Assim como ocorre com a liberdade teórica do Livre Mercado
Capitalista, a própria liberdade defendida pela Direita é um paradoxo. Ela
certamente é mais ampla que aquela existente na Esquerda, mas isso não a
torna isenta de críticas.
Liberdade já significou liberdade da escravidão, da servidão feudal, do
despotismo das dinastias, e então livramento da oligarquia industrial e da
opressão das forças produtivas. Atualmente, Liberdade significa livrar-se da
insegurança material e das coerções que limitam o acesso às oportunidades.
Em todos estes casos, nossa liberdade ocorre por dádiva de um Estado: não
temos liberdade, não somos seus possuidores. Somos, sim, tutelados para
usufruir apenas a parte permitida dela.
O terceiro pilar das ideologias de Direita, a Democracia, conceituada
como a noção de que todos os humanos compartilham Direitos Naturais
idênticos apenas pelo fato de serem humanos, pode parecer evidente nos
dias de hoje, mas nem sempre foi assim. Na maioria das civilizações que
construímos, nossos irmãos de espécies eram submetidos a formas diversas
de escravidão, servidão, opressão e domínio – uma existência que,
infelizmente, continua sendo realidade para milhões de Homo sapiens neste
planeta.
Apesar de nobre, a Democracia nem sempre é o melhor regime para
nações destituídas de fundamentos para Liberdade e Prosperidade. Ao
conseguir vender a ideia de que o povo tem plena capacidade de governar a
si mesmo (algo que sempre me remete aos moais do Parque Nacional Rapa
Nui...), a “Tirania da Maioria” – um termo cunhado por Alexis de
Tocqueville e tornado famoso por John Stuart Mill – se tornou um dos
maiores sucessos de marketing da história. Mas, em essência, não passa da
mesma aristocracia tribalista de sempre, cujos plutocratas significam "o
povo" tanto quanto um prostíbulo corresponde a uma academia de
ginástica: suas atividades podem até conter algumas similaridades, mas a
proposta Moral que expressam e defendem, não.
Para que a Democracia tenha alguma chance de ser Boa e Correta, o
governo deve entender que havia o Indivíduo antes do Estado, e que ele, o
indivíduo, é a menor minoria dentro de uma sociedade. Quanto menos
espaço o Estado ocupar, mais espaço os indivíduos terão para buscar sua
felicidade. Na mesma medida, os indivíduos deveriam entender que é
impossível desvincular autopertencimento de auto-responsabilidade.
Finalmente, temos o quarto pilar da Direita: a Meritocracia.
Monopólios custam caro, sufocam a inovação e oferecem os piores serviços
possíveis. Quanto maior a competição interna, mais arejado e fortalecido
será o ambiente econômico. Isso significa que a base produtiva de ser o
mais ampla possível. Multinacionais devem ser bem vindas, mas serão
sempre as pequenas companhias que movimentarão as engrenagens
criativas e produzirão a maioria dos novos postos de trabalho. E nenhum
desses empreendimentos vicejará caso a atmosfera Moral não seja
meritocrática. Assim, não devem existir barreiras para ascensão social ou
inovações empresariais. Racismo, sexismo, taxas de cartório, políticas
discricionárias de licenciamento, burocracias para registro de patentes,
impedimentos para acesso à educação, tudo isso deve ser combatido com
uma energia implacável. Mas a Meritocracia plena permanecerá como um
ideal jamais atingido – o que é bom, pois ela tem seus próprios demônios,
como vimos.
Apesar de seus pilares focados no sucesso individual, uma parte
considerável da Direita costuma cometer o equívoco de não perceber que o
Homo economicus, racional e calculista, é um engodo. Como observado por
Max Weber e pelo biólogo norte-americano Peter Corning, não são
exatamente o capitalismo, a liberdade, a democracia e o lucro, mas a
empatia, a reciprocidade, um senso justiça e até mesmo algum grau de
altruísmo que formam a base dos valores que formatam nossos
comportamentos e condicionam nossa felicidade45.
Parte dos Direitistas torcem pelo exercício do poder em nome do
nacionalismo, do belicismo, de políticas "pró-família" ou da Religião. Ao
procederem dessa maneira, violam a integridade dos princípios que
deveriam proteger. Acredito que isso não decorra de má-fé, mas de
ignorância e de um sincretismo inconsciente com as heranças Paleolíticas
que trazemos.
Sou essencialmente um sujeito de Direita, mas procuro policiar-me
diuturnamente contra toda forma de cegueira dogmática unipolarizante.
Poder e Riqueza não precisam de defensores. Ambos podem defender-se
por si mesmos. São os pobres e os indefesos que precisam de ajuda e
padroeiros. Muitos podem deixar sua condição de desamparo caso recebam
o auxílio necessário. Muitos permanecerão nela, a despeito de qualquer
auxílio – ou porque assim o desejam ou porque não são cognitivamente
capazes de dar o salto. Qualquer que seja a explicação, deveríamos respeitar
suas limitações sem torná-los escravos delas ou fazê-los escravos nossos.
Como profetizado por Tocqueville, “a inferioridade de nossa natureza,
incapaz de apreender com firmeza o verdadeiro e o justo, frequentemente
reduz-se a optar apenas entre dois excessos”15. E a Direita, por mais
eficiente, íntegra e confiável que procure proceder, não pode escapar do
destino de ser um desses polos.
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