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“Poderia parecer estranho ao colecio-
“nador de nossa série “Arte e Cultu-
ra” o título deste tomo, “O Ouro no
Brasil”, pois quando do lançamento
do primeiro, em 1978, afirmamos
nossa disposição de editá-la sobre
áreas inéditas da arte e da cultura
brasileira. E o ciclo do ouro já foi en-
“focado sobre praticamente todos os
aspectos, menos um: a visão artísti-
PoeStile lo MT) Res o = (oifljiito Mo rc ço
levância do Professor Pietro Maria
Bardi.

É aqui que reside o ineditismo da


presente obra. Desde as ilustrações
ao texto impecável, o leitor se encon-
tra com a fascinante visão pessoal do
autor sobre o assunto, que o percor-
re de forma original e brilhante.

Assim, nós do Banco Sudameris Bra-


sil, temos o privilégio de passar às
mãos dos leitores o número XI da Co-
leção Arte e Cultura, certos de ter-
mos, mais uma vez, atingido os obje-
tivos de nossa proposta inicial e co-
laborado com a preservação da me-
mória cultural e artística do Brasil.
BANCO SUDAMERIS BRASIL
Arte e Cultura
XI
Esta edição foi favorecida pelos benefícios
da Lei 7.505/86, de 2 de julho de 1986 (Lei Sarney)
Raízes Artes Gráficas Ltda. — CPC nº 35.001406/87-61

Copyright Banco Sudameris Brasil


Printed in Brazil, 1988
PM. Bardi

O Ouro no Brasil

LO BANCO SUDAMERIS BRASIL, 1988


o * o % ,
Dedica-se esta corrida pelo campo do ouro no Brasil aos dois
mestres que, através de suas obras, a sugeriram e orientaram:
Gilberto Freyre e Roberto C. Simonsen
O ouro no Brasil é assunto para quem dora' da escravidão, em propriedades a beata inocência sendo excelentes re-
bisbilhoteia nossa História, merecedor de selvagens” quisitos para facilitar os abusos, a co-
de atenção e reflexão, especialmente meçar pelo mais corriqueiro, isto é, ven-
hoje, quando o precioso metal impera O ouro está sempre interligado às guer- der qualquer metal dourado como se
no mundo e é portador de pre- ras, pode-se dizer que é o princípio fosse ouro.
ocupações. delas. Para não escrever sobre as re-
Não se descobre nenhuma mina inédi- centes e sobre aquelas em programa- Os desastres causados pelo ouro, isto é,
ta. Procura-se reevocar o quanto em tor- ção, é o caso de nos reportarmos à evo- a riqueza sempre mal distribuída, são
no do ouro turmas de nossos antepassa- cação registrada num ponderado artigo inúmeros, e qualquer leitor mais ou me-
dos andaram garimpando. Notar-se-ão de Roberto Pereira publicado pela re- nos os conhece. O tema pode ser pro-
fatos e episódios, à maneira jornalística, vista 'Afinal' e intitulado 'O incrível e saico, todavia, escrevendo num 'tercei-
como se deu nos precedentes textos da (amoral) mercado de armas'. Um bilhe- ro mundo, mas vale a pena pór O nariz
coleção 'Sudameris', evitando fáceis te: “Envio ao senhor meu rei, conforme no primeiro, e parentesear.
cronologias e enciclopedismos. Apare- acertado, 12 navios de batalha e 300 ar- No Brasil os problemas derivados do
cem nas páginas, às vezes, Interrup- queiros. Por eles serão pagos 200 pe- ouro são bastante numerosos; porém,
ções e até parágrafos não necessaria- ças de ouro...” na praça onde a resolução de qualquer
mente pertinentes: é para animar a no- Tal mensagem leva a crer que o autor do empecilho parece ser de solução má-
vela, em obediênciaa um redigir centra- bilhete está presente num registro co- gica, na Washington admirada e indi-
do no movimentar os fatos e os comen- mercial de Tiro, na Fenícia, oito séculos cada mudialmente, temos os problemas
tários. Vai-se correndo por estradas pro- antes de Cristo. Então: já o ouro? geralmente destinados aos países ditos
vocadoras de impressões, à cata de pobres.
tempos recuados e imaginados, isto é, A corrida, não importam os meios, para Os mendigos por lá, os sem teto, os que
da formação colonial, penetrando na possuir tanto quanto podia assegurar o se empenham em resolver como comer
etapa complementar de momentos cor- bem-estar, sempre foi fato comum, pro- representam fato de difícil solução. A fa-
relatos e mesmo aproximações, ressal- vocando manifestações de engenhosa vela para os desgraçados tornou-se
tando tudo quanto as vicissitudes do ou- astúcia, promovendo a hipocrisia dos nada menos que a estação do metrô
ro originaram, particularmente nas Mi- adestrados nas artes das trapaças. Farragut West, perto da Casa Branca.
nas Gerais, ensejando impulsos para O Quando hoje em dia sabemos das es- Lê-se, numa recente crônica de C. E.
espírito e audácia dos Inconfidentes, e pertezas dos criminosos que para acu- Lins da Silva, na 'Folha de S. Paulo”:
consequente conquista da liberdade e mular dinheiro inventam e praticam atos “Cansados de receber críticas e recla-
autonomia nacionais. impensáveis, chegamos à conclusão mações de usuários descontentes com
que eles não passam de café pequeno, o cheiro de urina que infectava a esta-
Uma história da economia brasileira quando os comparamcom os os habili- ção, os diretores do metrô construíram
sempre existiu, desde que Cabral cogl- dosos do passado. Os sistemas de en- uma cerca em torno de Farragut West
tou em utilizar o que encontrou ao se tesourar ouro ou seus derivados são an- para impedir a entrada dos 'homeless'”,
apoderar da nova Colônia, em nome de tiquíssimos e fazem parte de uma litera- o apelido dos favelados de lá.
um El-Rey. Não se atribuiu então à des- tura bastante singular, explicadora da Recebem ajuda do governo mas, não
coberta a devida importância financel- fortuna de inúmeros inescrupulosos. tendo domicílio, são uma espécie di-
ra, pois a empresa era confundida com ferente de pobres: "não se inscrevem
O território da India. A ocupação repre- Trafegar pelo ambiente do ouro propi- nos programas sociais do governo,
sentava um fato político. Somente mais ciou uma série de competições pensá- moram nas ruas, pedem esmolas ou vi-
tarde tornou-se um fato social. veis em cabeças criativas, qual a dos vem do que podem faturar vendendo la-
À economia se misturava então com a possuidores do metal e também dos tas, garrafas ou outros objetos de valor
administração, no destinar terras, des- que tinham somente o suficiente para que encontram nas latas de lixo. Não se
frutá-las, recorrendo à política 'civiliza- sobreviver: a superstição, a ignorancia, sabe com precisão quantos 'homeless'

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há no país. Mitchell Snyder diz que são cente, a maior e mais antiga do Brasil,
entre 2 e 3 milhões ou 1% da população. povoada a trabalhos e despezas do Do-
A revista 'Fortune', baseada em estudos natario Martim Affonso de Souza, autho-
universitários, afirma que são entre 250 rizado pela Carta Regia de 20 de No-
e 500 mil. O governo federal calcula o vembro de 1530, quando começarão os
número em 300 mil, pouco mais de Colonos a ter notícia da existencia do
0,1% da população. ouro neste Paiz; ou fosse pelas informa-
A Prefeitura de Nova lorque diz que na ções, que colhião dos naturaes, à pro-
cidade há 57 mil. A de Washington es- porção que com elles se familiari-
tima os seus em 6.500. São as duas ci- zavão..
dades, junto com Los Angeles e Chi- As atividades, dentro dos interesses rel-
cago, com maior número de 'ho- nícolas e locais, tomaram rumos rotinei-
meless.
É]
ros. E o início de uma 'economia fecha-
da', quando possível, de simples aceita-
Descobertas as Américas, uma das ção de serviços e troca, à espera de
convicções fixas de brancos era a de se tempos melhores. Um único distribuidor
considerarem os donos dos povos de de trabalho, aliás variando segundo as
outra cor, fato que se consolidou ainda zonas.
mais quando pensado em termos de su- Os valores eram estabelecidos através
perioridade racial. Ganhava campo o de deliberações que fixavam pouco a
racismo, no que, infelizmente, Portugal pouco então o valor do açúcar, do cou-
se distingúia, tanto assim que só nos ro, dos panos de algodão que se come-
fins do Oitocentos é que foi deliberada a çavam a tecer, das carnes conservadas.
libertação dos escravos. Quando aparecer o ouro, naturalmente,
Logo que uma terra era ocupada tenta- tudo mudará. Ao longo de reformas,
va-se transformar os legítimos donos em apareceram até moedas que Portugal
escravos. Até Cristovão Colombo, vol- dispendia na Africa. O numerário torna-
tando da sua segunda viagem, levou da va-se necessidade universal.
América 600 'ndios' para serem vendi-
dos em leilão em Sevilha. A Rainha Isa- No Quinhentos, Portugal que pouco se
bel o proibiu. Tratava-se de um empre- importava com a devastação, já que O
endimento colonial e tudo valia. Foram pau-brasil se tornava comerciável, pro-
os jesuítas que passaram a ajudar os cedeu a cortes desenfreados no litoral a
povos conquistados, tentanto cristiani- fim de abastecera Europa. Logo depois,
zá-los. Veremos como acabou a em- as atenções se voltaram para a cana-de-
presa. açúcar, e de Norte a Sul os canaviais
apareceram ensejando farta produção.
De século em século, chegaram ao Bra- Foi então o açúcaro ouro do Seiscentos.
sil os negros, contribuindo para deter- Porém o metal ricaço provocava conti-
minar o espírito da raça, como notou o nuas pesquisas, oficiais e particulares.
então jovem antropólogo Claude Levi- O Seiscentos é o século que põe à prova
Strauss, quando viveu em São Paulo, a engenhosidade dos brancos, valendo
frequentando os bairros populares. a utilização da cana e consequente pre-
Também Gilberto Freyre observou: “Do paração do açúcar. Importa-se gado e
negro, especialmente em todo o litoral, inicia-se uma produção que dá os pri-
desde o Maranhão ao Rio Grande do Sul meiros resultados econômicos para
e no Estado de Minas Gerais: influxo Portugal.
direto ou remoto do Africano”. O Brasil, De qualquer modo, é sempre a desco-
que no começo do Setecentos, tem uma berta do ouro que interessa Portugal e
população de brancos de uns cem mil, seu governo não foi pego de surpresa,
passa, em um século, para trezentos logo depois dos primeiros boatos e su-
mil, aumento este devido à importação posições: já tinha armada a eficiente
de africanos. máquina para obter as vantagens pre-
vistas. Sabia-se que de ouro, se não ple-
Cada colonizador ou presumível coloni- na, pelo menos era rica a nova Colônia,
zador estava concentrado na esperança parente próxima do México e do Peru:
de encontrar ouro. Todavia disposto a assim a caça àquela riqueza resultou to-
se testar em qualquer ato sucedâneo tal. Até no Norte, sem contar a Amazô-
pois, na posição de um Robinson Cru- nia, se andou procurando zonas auri-
soé, de qualquer jeito devia desempe- feras, encontrando ao invés, como coisa
nhar algum trabalho. Assim, obede- de valor, drogas, como se falava naque-
cendo ordens, por conveniência enfren- Je tempo: cacau, baunilha, canela, cra-
tou os modestos serviços arranjados vo e resinas aromáticas. Isto aconteceu
para se manter e sonhar com fortunas. ao explorador Pedro Teixeira, entre
Os primeiros dois séculos não deram 1637 e '39, quando por lá esteve para to-
notícias de possíveis descobertas, nem mar posse de terras então de ninguém.
mesmo de prata. Em 1663 Lisboa decretava alvarás
Todavia do ouro sempre se falou. Teste- “para regular o modo de descobrimento
munha disso é o livro 'Memoria da ori- e cultura das Minas de ouro e prata das
gem, progressos, e decadencia do Capitanias”. Outras provisões são do
Quinto do Ouro na provincia de Minas começo do Seiscentos, de 1608 e 1609:
Gerais' de José Antonio da Silva Maia: a procura de metais preciosos era cons-
“Apenas se havião lançado os primeiros tante —- porém sem resultado, conti-
fundamentos da Capitania de S. Vi- nuando a se falar no imposto do quinto.

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= sismos rota
n.

Numa manhã de 1859, o senhor Giuseppe Boni, de Módena, na ltália, entrou numa salsicharia. Enquanto esperava que
o merceeiro o atendesse, passou a examinar uma sala da loja, cujo forro era feito de pergaminhos desenhados. Esquecido
das salsichas, o Boni, diretor da Biblioteca Estense local, pagou bom preço pelos pergaminhos. Verificou que se tra-
tava do mais antigo mapa onde aparecem Brasile a linha das Tordesilhas. Era a primeira vez que se incluíam estas
informações, porque os reis portugueses proibiam sua divulgação. Para conseguir um mapa completo, um italiano teve de
subornar um cartógrafo de Lisboa, pagando-lhe 12 ducados de ouro, recebendo assim um bomtrabalho. O artista anô-
nimo, que quase certamente pertenceria às oficinas reais, reproduziu todas as terras conhecidas por Portugal, chegando
ao requinte de assinalar a ilha de Ascensão, de localização tão recente. O mapa dito de Cantino oro ficou conhecido),
data de 1502 e mede 105 x 220 cm. Mostra ainda a costa oriental da América do Norte, que só seria oficialmente desco-
berta dez anos mais tarde. Do álbum 'Mapas Históricos Brasileiros”, editado pela 'Abril', um dos numerosos trabalhos
dedicados ao conhecimento de nossa história que a casa paulista editou.

Relógio de sol existente no adro da Igreja Paroquial de Santo Antônio, Tiraden-


tes, Minas Gerais. De 'Brasil Barroco' de Maurice Pianzola.

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Na Memória' de Silva Maia, o leitor Brasil não é possível fazer, conservar e
pode se informar das vicissitudes do aumentar fazenda, nem ter engenho
quinto. corrente”.
O negócio era dos donos das fazen-
Na Paulicéia, a produção do açúcar vi- das, aqueles que eram respeitados co-
nha logo após a de Pernambuco, mo senhores, os tais comodistas, ates-
quando se começou a implantar os en- tam as lendas, que obrigavam uma es-
genhos, poucos e periclitantes. E a má- crava a lhes pôr na boca o cigarro já
quina que, em sua evolução, represen- aceso. Dados do Arquivo Público Mi-
tará uma das primeiras riquezas bra- neiro afirmam que em 1738 os pro-
sileiras. prietários, isto é, os senhores eram
Quem conseguiu examinar de perto a 1788, com 8167 escravos, numa média
produção de um antigo engenho, se im- de cinco para cada família branca. O
pressionou, atribuindo àquele surpreen- caso do cigarro pode parecer singular,
dente mecanismo a solução de vários mas geralmente o produtor da riqueza
problemas para produção não só do para si mesmo é descrito como um
açucar como de outras fabricações. impertinente aproveitador. Tratava-se
Simples na construção, a força para fun- de portugueses, aos quais Eça de
cionar atribuída ao braço humano, em Queiroz atribui qualidades de per-
seguida movimentada por bois, ou cur- sistência nas decisões. Além destas
sos hidráulicos, provocando contínuos qualidades, Gilberto Freyre cita ou-
aperfeiçoamentos artesanais e obtendo tras, devendo ser lembradas aquelas
daquele rodar o efetivo rendimento do em que diz: ouro quando se fila é sua
trabalho colonial. idéia, espírito prático sempre atento
tudo quanto era produzido era vendido, a realidade útil', 'sempre à espera de
O comércio na alta dos preços, pelo fa- alguns milagres”. Pensa-se que a soma
vor encontrado, contribuía para realizar destas virtudes tenha provocado a em-
negocios nos centros que andavam se presa tão exaltada dos bandeirantes,
formando. O reino gratificava os açu- que daqui a pouco vamos encontrar.
careiros pioneiros até mesmo com ti-
tulos, outorgando-lhes muitos privilé- Cada página, cada frase, reporta à
gios, sem contar que os nascentes fa- complementação de outros aconteci-
zendeiros acumulavam lucros de alta mentos, dependendo do interesse do
conveniência. leitor: sobre a maneira de viver dos in-
A tecnologia manual se afirmava e os dígenas e dos africanos, seus costu-
primeiros progressos das simples provi- mes, suas atividades, seus'ideais e, por
dências do sistema patronal logo im- que não dizer, suas contribuições étni-
plantado davam também certo, apesar cas não indiferentes?
do controle fiscal, como se pode pen- O Brasil, nos primeiros séculos de sua
sar, odioso. existência, à parte o caso do ouro, foi
moldando seu perfil. Nas compras dos
A nova indústria funcionava, sem impe- escravos na região mineira os trafican-
dir que as desesperadas pesquisas aurí- tes pagavam mais pelos elementos
feras continuassem. Era esta a única fi- práticos em atividades artesanais,
nalidade colonial. Procurou-se ouro até aqueles que melhor sabiam lidar com
nas redondezas de Santos, despon- metais.
tando alguns resultados aqui e ali, os Freyre considerou que Minas estava
voluntariosos permanentemente atrás atenta para estas aquisições pois, de-
da fortuna. Em São Paulo e em algumas pendendo dos investimentos dos nas-
aldeias do interior, as pesquisas deram centes empresários do ouro, os espe-
resultados modestos. As esperanças culadores tinham mais conveniências
continuavam de qualquer jeito, interes- que os fazendeiros, os quais, para a la-
sando conspícuos senhorês: preces e voura, se limitavam a compras mais
pedidos a Deus que caridosamente indi- aproveitáveis como maquinário hu-
casse os possíveis paraísos. mano.
Assim era indispensável o trabalho A vida continou no Setecentos sem
dos escravos mercantilizados através maiores perspectivas. Apesar do ouro,
de bandos sempre crescentes de trafi- se vegetava. À Instrução era mortifica-
cantes. Comprados, eram postos a tra- da: poucas, aliás raras, eram as no-
balhar nos engenhos de cana. Não se ções das primeiras letras e da doutrina
tratava somente de negros, pois os cristã. Os fazendeiros e empresários
brancos também usaram os aboríge- mandavam seus filhos para Portugal pa-
nes capturados, ensinando-os a fazer ra estudos superiores e ao voltarem vi-
pequenos serviços, como carregar e nham sempre aportuguesados, boa par-
desempenhar fáceis incumbências. te bacharéis. Os centros ficavam su-
jeitos ao canhestro sistema colonial.
Completam as crônicas os depoimen- Isto é um pouco da história da região
tos, sendo indispensável recorrer ao das Minas. Apesar de perturbada por
escritor que venerava a franqueza e imagináveis contrastes de gente mer-
não escondia seus pareceres certa- gulhada no metal provedor da solução
mente indigestos ao poder. A palavra é do dia e do futuro. Era um tempo man-
de Antonil: “Os escravos são as mãos e tido com mão de ferro, a esperança vis-
os pés do senhor: porquê sem eles no lumbrada em face das coisas desagra-

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Indios catando cascalho para encontrar ouro aluvial perto de um rio. Ilustração na
La Historia General y Natural de la India' de Gonzalo Fernandes de Oviedo, 1535-48,
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reproduzido in 'Gold of El Dorado, para a exposição do mesmo título no 'American


Museum of Natural History' de Nova lorque.

an do um ri ac ho (O ca ça do r de es cravos)
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Jean Baptista Debret, Índios atrave
Col. Museu de Arte de São Paulo

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“Modo como se estrai o ouro no Rio das Velhas e nas mais partes que á Rios”. Aquarela in 'Mapas, estatísticas e alguns
desenhos reunidos em um volume, ' Sec. XVIIl, manuscrito nº 49. Instituto de Estudos Brasileiros da USP,

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Aquarela representando a praça principal de Vila Rica com o Palácio do governo e uma companhia de milícias apresentando
as armas. De 'Mapas, esta tísticas e alguns desenhos reunidos em um volume, 'Séc. XVIII, manuscrito nº 49. Instituto de
Estudos
Brasileiros da USP.

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dáveis, fugindo da severidade das in-
tendências. Vida de coletivismo des-
combinado, aliás composto de indivi-
dualismo em que o egoismo era parte
dominante.

oingular, como os recém-chegados às


montanhas inóspitas conseguiram se
improvisar em mineradores. A cata do
metal oferecia os mais inesperados fa-
vores, desde as águas correntes de um
rio até o brilhar de uma pedra possibi-
litando às mãos e às peneiras, o esca-
vara terra, O arrancar a rocha. Tudo foi
difícil. Apesar de Portugal enviar mes-
tres, profissionais procedentes da Áfri-
ca, pouco melhoramento se verificou. (...) em todos os rios que descem
Surpresas, o adivinhar, o conseguir se desta serrania, desde Patos até S.
apoderar da fortuna, as porções possi- Paulo, se acha ouro e toda a terra de
velmente escondidas dos que supervi- suas várzeas e arredores é um puro
sionavam a cata, os controladores ra- ouro. Rara é a parte em todo este
pidamente enviados como agentes de grande distriçto aonde se não ache,
El-Rey, combinando eventuais e profi- em uma em mais cantidade de que em
cuos entendimentos. Para quem tinha outras; paragens ha em que se acha-
escravos pretos, tanto melhor. Estes ram pedaços inteiros e vergas gran-
deviam pagar pelas falhas, as paula- des d'ouro já perfeito; mas ordinario é
das soando numa constante; porém tirar em grãos, mais miudos, outros
conselho de Antonil, como válido, era mais grossos, e todos quantos vão a
o de que não se devia bater na cabeça buscal-o vêm providos delle e é di-
dos pobres africanos, porque “podem nheiro e remedio ordinario daquella
ferir a um escravo de préstimo que vale gente. E quando os pés destas monta-
muito dinheiro e perdê-lo”. A dureza nhas assim são ricos de prata e ouro,
das punições era absoluta. Entre as va- quanto o serão as entranhas dos mon-
riadas: o preso podia ser marcado a tes? E a mesma corda que a do Potoci
ferro quente numa espádua com um F e não duvido que se houvera a mesma
maiúsculo, quando recidivo lhe corta- diligencia nos dariam as mesmas ri-
vam uma orelha. Curioso: também na quezas e o tempo irá mostrando esta
Inglaterra, no século do ouro brasilei- virtude, e no presente já em São Vi-
ro, O servidor de casa que fugia era as- cente se bate moeda de ouro eéalio
sim marcado na fronte. dinheiro ordinario”. Sobre a minera-
ção compraz-se em minucias o ver-
E um dever, ao se referir à mineração, Doso biographo: “á enxada faziam as
começar-se lembrando dos africanos. excavações de quatro, cinco, seis pal-
Eles foram, nas Minas, algo na ordem mos e mais, no logar escolhido, até
de milhares e milhares. Para se ter uma bater no cascalho; si a terra é anil, dá-
idéia em número: no códice de Caeta- se o trabalho por perdido; si é amarel-
no da Costa Matoso, conservado na la, muito branda, á moda de sabão, en-
Biblioteca Pública de São Paulo, dão- coniram-se lages atravessadas de
se dados sobre a população de cor em meta! que despensa a fusão, ou vê-se
Minas Gerais no Setecentos: em 1738 o ouro, aqui já formado pela acção de-
os escravos são 101.607, os forros fecante do sol, além ainda em forma-
1.206. O tráfego negreiro vinha de lon- ção, como claramente se percebe,
ge: já na metade do século inaugura- porque em parte se vê a materia molle
dor da Colônia, Portugal tinha avança- e em parte rija e formada emouro, cou-
do os primeiros pedidos à Guiana a fim sa que até agora não ouvi de outra al-
de obter levas de escravos. guma parte do mundo. " Simão de Vas-
concello, S.J. citado in J. Capistrano
O que nos deixa um tanto curiosos é de Abreu, 'Ensaios e estudos (critica e
que o eminente financista Roberto C. história)', 1932.
Simonsen, quando editou o primeiro
compêndio da sua 'História Econômi-
ca do Brasil 1500-1820", então novi-
dade, confiou o prefácio a um roman-
cista, o espirituoso, Afrânio Peixoto,
autor de 'As razões do coração, 'Uma
mulher como as outras' e 'Sinhazi-
nha'. O prefaciador tornou-se conhe-
cido por uma idéia a ser notada: sero
africano importado possuidor de uma
cultura superior à do nosso indígena,
uma afirmação que provocou uma sé-
rie de restrições, inclusive oficiais. Re-
clamou-se: “... os autóctones do Brasil
serem postos em degrau inferior aos

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Villa Ricca" in Voyage Pittoresque dans le Brésil par Rugendas, J. M. (1802-1858)


vol. 1, Paris, 1835. Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

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Uma das mais conhecidas gravuras de


J. M. Hugendas, representa 'Lavage du
Mineral d'or prês de la Montagne lta-
columi, in Voyage Pittoresque dans le
Brésil'vol. 1, Paris, 1835. Instituto de Es-
tudos Brasileiros da USP

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filhos da terra dos Negros, quando
nossos aborígenes eram já astróla-
tras, e assim por diante.
O escritor não sabia serem os aboríge-
nes luxuriosos e de um viver coletivo
indigesto aos moralistas ocidentais,
como se lê de escandaloso nas Cartas
do padre Manoel da Nóbrega.
Releve-se no prefácio de Afrânio Pei-
xoto uma série de 'ovos de Colombo,
como por exemplo: economicamente
a América do Sul é superiorà do Norte.
se a riqueza era o ouro, lê-se numa car-
ta de Américo Vespucci aos Médicis,
quando descreve com detalhes sua
segunda viagem, em 1501: “O país não
produz nenhum metal, salvo o ouro
que existe em grandíssima quantida-
de apesar de que nós nesta viagem não
pudemos levar, porém disto tivemos
confirmação por parte de todos os in-
dígenas que afirmam que nestas par-
tes o ouro abunda, e às vezes dizem
que entre eles é pouco considerado e
de quase nenhum valor..."
Outra observação de Afrânio: a In-
glaterra deve ao Brasil, através do nos-
So ouro, considerável benefício, o que
é verdade, como veremos em seguida.
Sabe-se que desde otratado de
Cromwell, em 1654, Portugal ficou em
posição dependente, satélite da In-
glaterra, e depois do novo tratado, o de
Methuen, em 1703, a submissão tor-
nou-se humilhante. MEMORIA
Peixoto documenta, em bem nutridos
trinta parágrafos, nossas vicissitudes * ORIGEM, PROGRESSOS, E DECADENCIA
do dar e haver nos primeiros séculos. dt E Ex Le | Do

Na verdade, a leitura, em vários pon-


tos, romanticamente ou não, da 'Histó-
| QUINTO DO OURO
o 2 k 1 Ra

ria de Simonsen tem seu interesse.


ça ra — FROVINCIA
Continuando a justificativa da nossa
dedicatória: foi um prazer especial | DE MINAS GERAES.
examinar aquelas situações, levando-
nos a compará-las com um outro clás- Jor Antonio da Bilca Maia.

sico da nossa literatura, capítulo por


capítulo, especialmente a cornucópia
das centenas de notas. Falamos de
Casa Grande & Senzala' de Gilberto
Freyre, relatando a antiga vida brasi-
leira, sua realidade, isto é, as relações
do trabalho e do seu proveito, inclusi- RIO DE JANEIRO.
ve o dos colonizadores e seus capan-
gas, lutas, compromissos, malandra- NA TEPOORAPHIA IMPERIAL E NACIONAL;
gens no prosperar da conquista. 1837,
Relida a obra fundamental de Gilberto,
por ocasião da elaboração deste en-
saio, estas páginas são dedicadas ao
pernambucano e bem assim ao eméri- Frontispício de 'Memória' do juriscon-
to Simonsen. sulto e político brasileiro José Antônio
da Silva Maia (Porto, 1789 — Rio de Ja-
Se a história do ouro provocou os facil- neiro, 1853): uma história documentada
mente imagináveis desagrados, pos- sobre o quinto, desde suas primeiras
sibilitou uma infinidade de eventos de aplicações até aos acontecimentos dos
extraordinários resultados. Hoje o ou- primeiros três decênios do Oitocentos.
ro nos dá algumas dores de cabeça, Várias as referências neste trabalho de
mas é bom saber que as crises apare- total exatidão, inclusive os comentários
cem para serem resolvidas. do seu autor, como se registra; ocasião
Infelizmente não são mais os tempos para testemunhar a importância da Bi-
em que Gabriel Soares de Souza, autor blioteca Brasiliana" de José Mindlin, ao
de 'O Tratado Descritivo do Brasil em qual vai nosso agradecimento por nos
1587, afirmava: "... Dos metais que o ter assinalado e oferecido a publicação,
mundo faz mais conta, que éo ouro e a colaboração indispensável à redação
prata, fazemos aqui tão pouca (conta)”. desta história do ouro no Brasil.

18
Comentada por Antonio Barreto ('O mineiro é um motor do mundo de dentro
quando o de fora está enguiçado”) no livro Momentos de Minas! do Núcleo de Fo-
tografias de Minas Gerais, coordenado por Branca de Paula, se reproduz esta ima-
gem de lavador de ouro, por Miguel Aun, executada em Araguary.

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Corte ao longo de um rio. De 'Ouro do Amapa | Rio de Janeiro, 1924

19
Para os primeiros povoadores do Bra-
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silo ouro era, e ainda é, tudo quanto vi-

DO BRASIL
[44 E out nie À
nha da natureza. Todavia a idéia fixa |

de encontrar o precioso metal agitava


qualquer cabeça com a cobiça insa- POR
aa
SUAS DROGAS,
ciável de obtenção do enriquecimento
curiofas do modo de fere:
= Nard
bencficiar o Tabaco; dE DES
imediato. nerd do indo emita,
brir as da Preta ; am

Como não estariam saturados de cobi-


we cÃa Conquifa da America Mirridy
sm Bnmd PORTUGAL ad
7 a Cru, & Comiráiu Ei PTS praga
ça os deportados ou amantes de aven- E OBRA.
turas, interessados na estratégia in- SD E ANDRE JOAO ANTONI
dividualística contra o isolamento, 4:pi:
a
OFFERECIDA
do Veceryrel
e desas qe phoribcada nos Ale rt Em acmaa
Padee Jour
empenhados em descobrir como Compéutus
de) ESU,
ecsrca do rá,
MifeognoAApolheles, dk

construir um teto ou se abrigar da chu-


va, a cada momento enfrentando o
problema de sobreviver?

A terra, ainda não delimitada, era da


Coroa, com base na fórmula jurídica
do direito romano que era bem clara:
“Quem é proprietário de um espaço
possui tudo acima dele e por baixo até med. E S B o A, ps
O Inferno”; porém, qualquer um dela e Rea DESLANDESLANA;
o hem en rtas Amei deiguç Ão
podia se apoderar. Os meios ficavam a Di pm Ls -
critério dos audaciosos e dos sabidos,
a fantasia ajudando. Não parecia com-
= ms . ss — F Jshoss em ISji

plicado embarcar num navio até como Não será supérfluo lembrar que a obra
clandestino, a decisão firme, votos a de Antonil, um clássico da primeira his-
uma das Nossas Senhoras para contri- tória brasileira, passou pelos aconteci-
buir na proteção, para um tranquilo mentos mais complexos. Recorda-se no
desembarcar no El Dorado. prefácio da edição de 1837 que o livro
Apareciam na terra, então ainda de tornou-se bem raro por causa da proibi-
ninguém, os sujeitos mais indescrití- ção e perseguição no tempo do El-Rei
veis, que aqui aportavam com a finali- D. João V; lembra a que “título inferirão
dade de abarcar fortuna, em pequena os leitores quanto a elle he util a todos
ou grande escala. os estudiosos de economia política e
Foi sempre assim, mesmo no século em geral a todos os Brasileiros, que alli
das imensas imigrações. O desejo era acharão a certeza de que o seu aben-
vencera parada. çoado paíz já então era a mais rica parte
Aterra conquistada, depois, passará a da America em quanto a productos ru-
ser monopólio de El-Rey, e foi por ele rais.. A edição da qual se reproduz o
repartida em sesmarias, oferecidas a frontispício leva a antiga anotação: "Per-
alguns privilegiados, de nobreza here- muta feita com a Biblioteca pelo Sr. J. C.
ditária ou da burocracia estratificada, (Capistrano) de Abreu”, lembrando-nos
para dar subsistência a um rudimentar o mestre da historiografia brasileira
desfrute.
morando" na Biblioteca Nacional.
Protagonistas os mineiros, os quais
sem perder tempo procuravam des-
cobrir a possibilidade de contra-
bandearo quanto podiam, fugindo
dos impostos imediatos, baixados por “CULTURA E OPULENCIA |
El-Rey, dito também Throno, numa
montanha de dispositivos como por POR: SUAS DROGAS E MINAS, .
exemplo estes: Ordens do Conselho we

- COM VARIAS gonicris Fono


Par"

DO MODO DE FAEKA O ASSUCAR:


se

Ultramarino, Bandos das Capitanias « PLANTAR E BENEFICIAR O TABAÇO; TIRAR OURO DAS MINAS, E
DESGUBAIR AS DA FRATA, E DOS GRANDES EMOLUMENTOS QUE
Gerais, Provisões da Junta da Fazen- E
:
ESTA CONQUISTA DA AMERICA MERIDIONAL DA! AO REINO DE
PORTUGAL COM ESTES,
E OUTROS GENEROSK CONTRATOS RELES, |
da, Editais, Portarias, Devassas, Pro-
cessos das Intendências, etc. “Obra de André João AntoniF,
Havia os que administravam o chama- | OFPRARCIUA 405 QUA Bão rua OLONIFIGADO NOS ALTARHS
do 'quinto eos contraventores de
Ein AQ VENBRARIS. FARA JOGÁ ANGIUETA,
qualquer disposição, à mercê do man- ac Tara tacerdote da Companhia da Jem,
dachuva de prontidão, os desviadores Mislogurio Ra o mato Thsumalargo de Brasil

punidos, seja com o confisco ou com a ARA IMPRESSO EM LISBOA,


apropriação de quaisquer bens que ti- RA OrsEanA ARAL MaiLundmaima
ie
COM dh LpCRRGil RECESMANLAS ,
'
vessem.
a

“NovameiTe REIMPAEASO NO HIQ DE JANEIXO, +

RO VR) DE NOVA FAISURGO


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Citamos duas vezes Antonil, agora va-


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le dedicar um parágrafo para este per-


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sonagem, André João Antonil, nasci-


do Andreoni, em 1649 em Luca, Itália, Ea

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dos
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+ VENDE-SE:
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jesuíta que chegou ao Brasil a convite " EM GASA DE HOUZA E'COMP,,


do padre Antonio Vieira, aqui produ- Did. DOS Ly PORINDA, MS OM,
zindo um volume de base para o nosso NM, ABR.
livro. Trata-se de Cultura e Opulência ,
a %

ú ais
EM 4


do Brazil, por suas drogas e minas, no E ch u à q E b

20
Segunda maior pepita do mundo, propriedade da Caixa Econômica Federal, extraí-
da em Serra Pelada, pesando mais de sessenta quilos e que foi apresentada no Mu-
seu de Arte de São Paulo, na exposição 'Minerais, Minérios e Gemas do Brasil, em
março de 1984. Foto de Luiz Hossaka.

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a Al y rae Aide foro: 7
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Desde o tempo dos bandeirantes, a caça ao ouro nunca parou. Quem tema paciên-
cia de consultar os boletins do o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio
encontrará reconhecimentos geológicos de voluntariosos especialistas contrata-
dos, como Antônio Rodrigues Vieira Junior, o qual foi mandado ao Amapá, na zona
do antigo território contestado Franco-Brasileiro, para estabelecer, em 1924, 0
quanto restava das garimpagens do Oitocentos, ricas se não do metal, pelo menos
de um entusiasmo ainda bandeirante. A reprodução deste desenho da relação é
para lembrar o quanto os problemas foram estudados.

21
qual Antonil oferece ao leitor a seguin- Quem não leuo livro de Antonil deve
te dedicatória “...aos que desejam ver fazê-lo a fim de se instruir sobre a pri-
glorificado nos altares ao venerarel mitiva mineração que se processou na
Padre José de Anchieta, Sacerdote da Colônia, texto eivado de sutilezas
Companhia de Jesus, missionário úteis para se conhecer a formação da
Apostólico, e novo Thaumaturgo do mentalidade nacional, no pensar de
Brazil”. cada um a fim de tirar o máximo provei-
No frontispício do livro, Antonil subli- to da aventura, a começar por El-Rey.
nhava: “Com várias notícias curiosas
do modo de fazer o açúcar, plantar e Raciocinava certo o governador de
beneficiar o tabaco, tirar ouro das mi- uma região do Norte, D. Diogo de Me-
nas e descobrir as da prata e dos gran- nezes, fazendo sabera El-Rey: “Creia
des envolvimentos que esta conquista V. M. que as verdadeiras minas do Bra-
da América Meridional dá ao reino de sil são açúcar e pau Brasil de que V. M.
Portugal com estes e outros gêneros e tem tanto proveito, sem lhe custar de
contratos reais.” Tratava-se de um texto sua fazenda um só vintem”.
da maior importância, tanto que o cen- De conversa em conversa, de lem-
sor do Santo Ofício decretava que “se brança em lembrança, recordações
pode estampar com letras de ouro”. do que se leu, os acontecimentos cor-
E de fato, a propósito das peripécias rem numerosos. Esta história é um
do próprio ouro, se trata de um relato desfilar de personagens merecedores
indispensável a tudo quanto aqui se de nota. Eis mais alguém a ser celebra-
recorda. Os primeiros capítulos dedi- do, homem de visão agrícola: Martim
cados ao tema representam um verda- Afonso de Souza, chegado ao Brasil
deiro festival da cata do metal, de vez em 1091.
em quando denominado 'preto'. Anto-
nil supervisiona vários empreendi- Para sair da monotonia do contar co-
mentos, as minas abertas a todos os mo a administração reinícola exerceu
que quisessem aproveitar. O frade não as previstas relações minerador-al-
pode registrar o que se reserva a El- fândega, eis alguns dados do confisco
Rey, valendo os quintos devidos, e às do ouro clandestino, os quais confir-
vezes denunciando 'sonegando-se mam qual a operosidade dos fiscais e a
tanto ouro não quintado, bem se deixa destreza dos sonegadores: já em 1701 se
ver que o ouro que cada ano setira, confiscam 695 oitavas; em 1708, 7324;
sem encarecimento algum, passa de em 1713, 7103; e assim por diante.
cem arrobas, e que nestes dez anos Ainda para interessar, eis uma página
passados se tem tirado mais de mil ar- antecipadora da Inconfidência: os epi-
robas. E, se nos primeiros anos não sódios de revolta contra os desfruta-
chegaram a cem arrobas, nos outros dores não faltaram. Deve ser lembrado
certamente passaram. E continuando o de Piranguií, em cena o paulista Do-
ao presente o rendimento com igual mingos Rodrigues do Prado, um ele-
ou com maior abundância por razão mento conhecido como insubordina-
do maior número dos que se empre- do e sedutor dos povos”, para qualifi-
gam em catar, só os quintos devidos a cá-lo de popular. Em 1720 recusou-se
Sua Majestade se foram notavelmente a pagar os quintos e, convocando um
diminuindo, ou por se divertir para ou- grupo armado, expulsou do cargo vio-
tras partes o ouro em pó, ou por não ir à lentamente o capitão-mor e mandou
Casa dos Quintos, ou por usarem al- matar o juiz ordinário, provocando a
guns de cunhos falsos, com engano ofensiva militar. Condenado à morte,
mais detestável. Mas ainda assim, não Domingos se refugiou na mata ficando
deixou Sua Majestade de ter grande impossível prendê-lo, tanto que foi en-
lucro na Casa da Moeda do Rio de Ja- forcado, porém, contam as crônicas,
neiro, porque comprando o ouro a do- em estátua' e, ele conhecedor da pu-
ze tostões a oitava, e batendo-se em nição, enforcou também 'em estátua
dous anos três milhões de moeda na- o ouvidor que o tinha condenado. E
cional e provincial de ouro, foi lucran- um dos vários motins daquele tempo, o
do seiscentos mil cruzados de avanço”. povo e seus chefes demonstrando hosti-
As 'qualidades abundantes do metal lidade aos patrões.
nas minas asseguravam o maior ren- O povo reagia às arbitrariedades, in-
dimento' aos bandeirantes que o re- vadindo repartições, capaz até de ma-
lator apelida de 'paulistas”, encontran- tar, não suportando um regime que ti-
do-se também capitães, tenentes, sar- nha como bandeira a avareza, obri-
gentos-mores, com bastante hierar- gando às vezes os governantes a de-
quia. E se dá notícia de insaciáveis, os cretaro perdão”. Não faltavam os es-
quais em vez de “ir buscar indios nos cândalos, e na própria administração:
matos se desviam desta diligência me- até a descoberta em 1731 de uma fábri-
nos escrupulosa e mais útil” para ti- ca bem aparelhada de moeda falsa em
rar da terra 'rendosa;, não sem dis- Paraopeba, na comarca de Sabará. O
cutir, como ocorreu no rio das Mortes, boato revelava que o estabelecimento,
onde alguns homens morreram, “bri- evidentemente vindo de Portugal, era
gando entre si sobre a repartição dos de um parente próximo de João V.
índios gentios que traziam do sertão”.
Os capturados deviam servir no traba- Os fiscais se empenhavam em desco-
lho das minas. brir os fraudadores do fisco. A pena

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déi a de como era reco lhido o ouro aluvial:


fotografia'a é é possível ter uma idéi
posto E peneira, pacientemente examinado, para obter restos de
paricidara
ouro. Foto de Anísio Magalhães.

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Custódias, bronze fundido e cinzelado, artesanato mineiro e português da me-


tade do século XVIIl, 25 cm de altura por 17 cm de diâmetro. Aba e decorações
aplicadas com as armas do Reino de Portugal. Típico exemplar de um conjunto
de pesos que servia para pesar o ouro a ser quintado. A caixa é notória pela ri-
queza da decoração e pelo tamanho que a faz das mais importantes, dentre as
conhecidas. Deve-se notar que é difícil fazer uma distinção entre as obras de
procedência metropolitana e as coloniais. Pode ser que esta peça tenha vindo
diretamente de Lisboa, já que se tratam de pesos oficiais. Na época era evitado
que os colonos fundissem metais para que não se desenvolvesse a metalurgia
na colônia. A procedência é atribuída a Casa de Fundição de Minas Nova.

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25
mais séria podia ser a extradição para teratura existente permite um retrato
fora da capitania ou até mesmo exílio bem aproximado, possibilitando
na India. As autoridades, naturalmen- eventuais revisões, correções, desde
te, como qualquer polícia, se valiam o modo de pensar, os trajes, o falar, O
também dos espiões. Um bando pre- realizar, o decidir.
cisava: “Qualquer escravo que de- O que vale mesmo para manifestar
nunciar o seu senhor e por virtude de uma visão própria é o romantismo que
dita denunciação for confiscado, fica- os enquadrou, a começar pela manel-
rá forro e se lhe passará carta de alfor- ra como os descreveram ao adjetivá-
ria em nome de Sua Majestade, e se lhe los e apresentá-los.
dará a terça parte do dito confisco" No que se refere à escravidão o histo-
O contrabando tornava-se um fato igual- riar resultou bem mais fácil, pois dos
zinho ao que hoje sabemos ser praticado africanos e dos denominados índios
notadamente com a cocaína ou a maco- existiram mais elementos comproba-
nha. A caça aos contraventores alcan- tórios.
çava até mesmo a 'classe baixa dos de- Mas como retratar o bandeirante”
nunciantes:. Era o terror, os traficantes O sujeito era de formação um tanto iné-
praticamente patrões, através de organi- dita: meio rebelde, talvez um desertor
zações bem estudadas e conduzidas, dos canaviais, com uma maneira própria
procuravam entendimentos. Nem todos de encarar a liberdade, indiferente ao
Os senhores eram da estirpe do Domin- que diziam as leis e os alvarás, interes-
gos, acima encontrado. sado em mexer com o imenso do ignoto,
Quando descobriam os contrabandistas vislumbrador do futuro. Pode-se imagl-
o rigor tomava decisões bem severas, ná-los até frequentando a sacristia de al-
especialmente se metidos no mais fácil guma capela, a fé guardando a sua
setor dos diamantes, os quais abunda- parte. Acima da fé: caráter, independên-
vam na Terra. cia, inventivae ação.

A descoberta das primeiras destas pe- A figura do bandeirante, de qualquer


çasé um fato até curioso: um simpló- jeito, não é a da estátua de Luigi
rio, indo à caça de escravos nas tribos Brizzolara na Avenida Paulista. Os ar-
do Espírito Santo, viu numa praça, in- tistas vestiram-nos opulentamente.
divíduos que se serviam de pedras Na aldeia que depois seria São Paulo,
com brilhos. De posse das mesmas, o nemo capitão ou o intendente se per-
fulano partiu para Lisboa, correndo a mitiam pretender aquela elegância.
informar El-Rey. Qual a recompensa? Será um tanto irônico que Carlos
Foi nomeado tabelião e capitão-mor Drummond de Andrade, hóspede da
da Vila do Príncipe. suntuosidade de Sabará, comente:
Esta descoberta é lenda, como a do “Al tempo!/ Não é bom pensar nes-
ouro. As versões são numerosas e ao sas coisas mortas, muito mortas./ Os
mesmo tempo incertas. séculos cheiram a mofo/ e a história é
Foram os bandeirantes? Qual deles? cheia de teias de aranha./ Na água su-
Dizem que nos últimos anos do Seis- ja, barrenta, a canoa deixa um sulco lo-
centos outros simplórios, parece que go apagado./ Quéde os bandeiran-
de Taubaté, descobriram a existência tes?/ O Borba fugiu,/ dona Maria Pi-
do metal. Se dá até o nome do felizar- menta morreu./ Mas tudo, tudo é ine-
do: Antonio Rodrigues Arzão, que an- xoravelmente colonial:/ bancos jane-
dava à caça de nativos em 1698 no Es- las fechaduras lampiões./ O casario
pírito Santo, conseguindo encontrar alastra-se na cacunda dos morros/ re-
três oitavas de ouro que logo mostrou banho dócil pastoreado pelas igrejas:/
ao regente daquela Capitania. Não é a do Carmo — que é toda de pedra,/ a
muito certo, pois a primeira descober- Matriz — que é toda de ouro”.
ta se atribui a um outro caçador de na- À citação de nosso poeta nos lembra
tivos, o qual teria mostrado ao gover- uma lúcida apreciação de Roger Basti-
nador do Rio de Janeiro doze oitavas. de: O sociólogo que quiser com-
Outros historiadores atribuem a pri- preendero Brasil, não raro trans-
meira descoberta, em 1597, a Afonso forma-se em poeta”.
Sardinha, na Serra da Jaguaminhaba e
de Jaraguá perto da vila de São Paulo. Então deixa-se que cada um, respeito-
Mas a primazia se atribui a outros ele- samente, imagine o bandeirante a seu
mentos. O singular todavia é que o tal modo, tendo em conta que um outro
Arzão, sendo premiado com a patente poeta dos tempos do surgimento do
de capitão-mor de Taubaté, foi auto- Brasil, o prodigioso Gregório de
rizado a abrir uma casa de fundição. Mattos, dizia: “Que os Brasileiros são
Geralmente a descoberta é dada como bestas,/ e estão sempre a trabalhar/ to-
em Minas, em 1700. da a vida para manter/ maganos de
Portugal”.
Uma coisa é certa: foram os bandel- Parece que o bandeirante não era bem
rantes os descobridores. aquele português timorato da Coroa
que arribou nas colônias, para de qual-
Pode-se imaginar como eram depois quer jeito povoá-las, já que um ou ou-
de se ter lido não se sabe quantos li- tro tratado oficial marcava os confins
vros a eles dedicados, pois a variada li- da Terra.

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Depois do ouro a nova ri queza do Brasil foi o café, uma planta importada em 1718.
Eis como foi ilustrado no volume Brasil exporta' de Antonio Olinto.

21
Naquele findar do Quinhentos, Portu-
gal se empenhou em vencer sua Sur-
preendente prova ocupacional, des-
cobrindo outras riquezas que não o
ouro. São os bandeirantes que iniciam
as marchas, substituindo até o patrão,
eles mesmos tornando-se tal. Sem dú-
vida, não sabiam o que havia do outro
lado do canavial do fazendeiro princi-
piante.

Achavam bom emigrar como resolu-


ção, satisfazendo aquele momento da
vida. O fazendeiro tinha resolvido o
problema e ganhava, até com os afri-
canos que andava comprando. Como
imitá-lo? Tratava-se de fazer dinheiro,
mas como?
Fatal que os pensamentos se voltas-
sem para a lenda, aliás o falar contínuo
sobre o ouro.
Precisava-se de gente para trabalhar,
mas não tendo meios, como adquiriro
que faltava”?
Fácil: submetê-lo ao longo da pro-
jetada marcha através dos desconhe-
cidos caminhos pelo sertão inóspito,
apoderando-se de 'indios, invadindo
as tribos.
A caminhada foi planejada partindo,
segundo disseram, de Piratininga. Re-
crutando um grupo de brancos, os
mais robustos, sujeitos esculturados
por Victor Brecheret no monumento
as Bandeiras. As turmas recolhidas fo-
ram à aventura, porém na direção de
possíveis jazidas de ouro, parece que
ao norte e sul de Cananéia, nas pos-
sessões dos nativos Tupis e Carijós.
Entre os bandeirantes estavam: Fer-
não Dias Pais, Garcia Rodrigues, Bor-
ba Gato e Matias Cardoso de Almeida.
Os que devem ser lembrados são mul-
tos. Assim, mais nomes: Antônio Dias,
o padre João de Faria Lima e João Lopes
de Lima, os quais começaram a cata de
ouro aluvionário, com a certeza da
prosperidade que o ouro podia trazer.
Os acampamentos irão se formar nas
terras que serão Ouro Preto e Mariana,
Lisboa intervindo e favorecendo a des-
coberta, contando por meio da comu-
nicação boatesca com o previsto vo-
luntarismo marcado pelas brigas.
Aqui cada um pode ser romancista.
Concluía Mario de Andrade: a desco-
berta do ouro se deve a São Paulo. Se-
ria preciso articular os detalhes da cor-
rida, defrontando-se com pacíficas
porém desconfiadas tribos, as conse-
quentes escaramuças, flechas de uma
parte, espingardas de outra, mortos e
feridos, as prisões, o encurralar os
sem culpa nenhuma à cata do metal.
Quando possível matanças de anti-
mais para comer e redes armadas pa-
ra mal dormir.
Novos encontros, a paisagem nem
olhada, árvores demais incomodando
a caminhada, águas para transpor: vi- Victor Brecheret criando o monumento
da de inferno num país de verde. Os às Bandeiras, assim representou um
bandeirantes tão indiscretos, sem dú- dos audaciosos descobridores do ouro
vida cabeçudos, galgaram as monta- em Minas.

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Com o desenvolvimento da caça ao ouro , as cidades de Minas andaram se povoando, através de um continuo trabalho de
ocupação, o ouro atrtraind
ai o mineiros, artesãos e comercian tes. Aqui uma vista de Ouro Preto, onde aparecem construções
do Setecen tos. De 'Minas Colonial " foto Euler C âssia.
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Fundos da Casa dos Contos, de Ouro Preto. Foto de Euler Cássia, publicada em
Minas Colonial”

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Escravos extraindo ouro, gravura de D.K. Bonatti, sec. XIX. Coleção Particular,
São Paulo.

Vista geral das instalações da mina de Morro Velho, Minas Gerais.

91
nhas como se sabe. Enfim, tinham des- "Os prospectores paulistas que fi.
cobert o queriam.
o que zeram trabalho pioneiro em Minas
O boato voou, como se já houvesse Gerais, primeiro encontraram ouro
mecanismo eletrônico para o mundo aluvial no leito dos rios e riachos. Os
todo ouvir. Movimentou-se a Colônia depósitos de tal ouro eram chamados
inteira: os primeiros forasteiros fo- faisqueiras, porque ao sol faiscavam
ram ao encontro dos paulistas. Con- as partículas maiores. Daí a palavra
tradições, aliás, lutas, E mais: uma faisqueiro para classificar o prospec-
guerra que apelidaram dos 'emboa- tor itinerante ou o mineiro de ouro de
bas': os paulistas contra os que se pre- plácer.
cipitaram para lá. Algumas crônicas às Quando os rios estavam na enchente
vezes denunciam as atitudes dos ban- grossos demais para o trabalho, os
deirantes como “dissensões dos Pau- faisqueiros voltavam sua atenção para
listas com os Europeus”, dando ori- as margens e sua vizinhança imediata
gem a novos regimentos e cartas rê- — tabuleiros — onde era freqúente en-
gias de 1702. contrarem também ouro. Quando tais
Derramamento de sangue. Começava depósitos se exauriam, ou OS recém-
a época do ouro. chegados encontravam-no já traba-
Havia os que se batiam por causa do lhado pelos seus predecessores, os
metal, os portugueses que se reputa- prospectores seguiam adiante, pro-
vam donos diante dos forasteiros; in- curando ouro nas fendas e rachaduras
cluindo alguns cristãos, negros e Ín- das encostas vizinhas — grupiaras ou
dios: degladiavam-se e, de vez em quan- guapiaras. Todos os mais recuados
do, sobrava um morto. Os paulistas trabalhos em ouro foram do tipo plá-
eram xingados porque a cachaça os Colhido o cascalho, o minerador devia
peneirá-lo a fim de retirar o ouro. cer, e só quando o ouro de aluvião se
amolecia. Os escravos não eram nem foi fazendo escasso foi que os minera-
dignos de serem olhados, os nativos dores cavaram túneis e poços nas en-
considerados bestas, ainda pior. costas... O processo primitivo de lavar
Instantâneo exagerado? Talvez, mas e peneirar o ouro mostrava-se o mais
apenas para estar mais perto da reali- simples. O único instrumento neces-
ade. sário era a bateia, uma bacia grande
e rasa, cônica, feita de madeira ou de
Neste festejar o primeiro metal é bom metal, que o mineiro segurava com
não esquecer o quinto, o qual entra em ambas as mãos. O subsolo arenoso,
ação sem demora. Já em 1700 rendia 940 misturado ao cascalho que continha
oitavas de ouro, dando início a uma, na as pepitas de ouro, era colocado na
medida do possível, arrecadação, bateia com alguma água suficiente
através de portaria nomeando o guar- para cobri-lo. O mineiro, então, rodava
da-mor para uma sumária divisão das
cuidadosamente a bateia num movi-
terras mineiras, proibindo qualquer
mento circular ou elíptico, e, de vez
trânsito do ouro para São Paulo, Rio em quando, inclinava-se para deitar
de Janeiro, Bahia e Pernambuco sem fora um pouco da água e dos casca-
guia responsável pelo pagamento das lhos, cuidando de que o ouro ficasse
dívidas com as Casas de Quintar. Es- no fundo, até que fôsse claramente vi-
creve Costa Maia que nunca os minei- sível. O cascalho nem sempre era o da
ros puseram em dúvida a “obrigação superfície do solo, pois retiravam-no
de pagar o Quinto do Ouro extraído de profundidades diferentes, sob uma
das Minas das Geraes; este Direito camada de areia, terra ou argila. Os
chamado Senhoreal que se dizia de- poços ou escavações feitas no curso
vido pela Regalia, e Senhoreagem das da extração do cascalho, eram cha-
Minas dos metaes, comprehendidas mados 'catas”, e muitos terrenos de Mi-
entre Direitos Reaes... O systema po- nas Gerais depressa tomavam, por
rém da sua arrecadação tem soffrido causa deles, o aspecto de favos. À
notaveis alterações”. proporção que os depósitos se foram
Portugal, de tempos em tempos, cui- razendo em menor número e mais pro-
dava de afirmar seus direitos; até em fundos, os métodos de extração tor-
1789, já na decadência do ouro, uma naram-se mais complicados, no pri-
representação da Câmara de Sabará meiro quarto do século XVIII. Lavadou-
repetia: “Bem persuadidos estamos, ras e máquinas hidráulicas foram em-
Excelentissimo Sr, da justiça com que pregadas, e em alguns casos o leito
S. Magestade nos pede a contribuição do rio ou do riacho era exposto, atra-
do Quinto do Ouro, perfeitamente re- vés do represamento da água ou do
conhecemos, que elle he devido em desvio artificial da corrente para outro
consequência de Supremo Senhorio canal. Ao contrário do que com fre-
que tem nestas conquistas, e princi- quência se declara, a mineração sub-
palmente nos Vieiros, e Minas que he terrânea foi algumas vezes feita na Mi-
hum dos Direitos Reaes, que já adoptou nas Gerais colonial, mas é sabido que
a nossa Legislação, ainda muito antes tal processo não era comum.”
da descoberta deste Continente...” C. R. Boxer, “A idade de ouro do Bra-
sil, Companhia Editora Nacional, São
Eis um retrato otimista dos mineiros Paulo, 1969.
que completa o parágrafo acima. E de
Nelson de Sena e se lê no prefácio de
Aires da Mata Machado Filho para o

32
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precioso ensaio 'Mineiridade' de Syl-
vio de Vasconcellos: “Foram sempre
gente conservadora de tradições, de
hábitos, aferrada a terra e ao lar, 'te-
mente a Deus e à Lei”, de poucas e des-
cansadas falas, e nenhuns amores pe-
la exibição e patacoadas, como diziam
OS nossos avoengos. No melo dessa
aparência moleirona e apática, re-
passada de uma certa astúcia inata,
são os mineiros em geral escravos fiéis
da palavra empenhada, destemerosos
opositores ao despotismo, amigos
leais da ordem, extremados na defesa
de sua fé religiosa, da honra de seus la-
res e da independência de suas cren-
ças políticas, no seio das 'montanhas
alterosas'. Desdenhando a zombetei-
ra irreverência com que são alvejados,
nas desfrutáveis revistas e na insulsa
crítica literária dos que só vivem nas
capitais e desconhecem por inteiro a Mineiros lavando terras auriferas nas 'canoas.
gente boa e forte que moureja no in-
terior do Brasil, arroteando campos,
pastoreando rebanhos, plantando e
cultivando a terra — vivem alguns mi-
lhões de mineiros presos à gleba em
que nasceram, amigos das suas roças
e gado, contentes da modéstia folgada
dos seus haveres, que lhes garantem
teto, roupa, lume e pão, para si mes-
mos e para quantos (e são muitos) os
que rodeiam e vivem sob a sua autori-
dade e cuidados”.
Mineiridade é um termo que se tornou
comum, abraçando toda a região mais
típica do garimpo pela abundância do
metal promotor de riqueza, ainda na
crista das preocupações de muitos po-
vos que procuram “teto, roupa, lume e
pão”, antonomásia da nossa Minas, à
qual se deve também a rebeldia contra
o regime de proibição política.
Estamos numa região a qual não se sa-
be ao certo se Deus ou Satanás ponti-
lhou da riqueza que serviu ao mundo,
ao “Mundo, mundo, vasto mundo/ se
eu me chamasse Raimundo/ seria uma
rima, não seria uma solução, na iro-
nia de Carlos Drummond de Andrade.

Os aplausos que posteriormente fo-


ram tributados aos intrépidos bandei-
rantes, armados mais de convicção do
que de espingardas, para melhor se
apoderarem dos gentios e do ouro, e a
caminhada superadora de rios e de
matas, simbolizam a aventura. Nas fi-
chas dos bandeirantes encontram-se
mamelucos, sertanistas desiludidos
com a rotina agrícola atraídos pela fe-
bre do ouro. Não tendo bússolas,
orientando-se pelas estrelas, transi-
tando por caminhos inóspitos, abrin-
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do estradas ao acaso, galgando ro- CE sa
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mitivos habitantes, não selvagens,


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mas civilizados à moda deles, civiliza-


ção digna da mais humana considera- Aparelho primitivo hidráulico de pulverização de minérios auriferos. Ão lado,
ção. Assim sendo, o se apoderar dos instrumentos de mineração usados no Brasil no começo do século XIX.

34
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Fig 1. Verrama p'sondar orrior e examinar or seu
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Cuvaca emque re lava à terraou carcalhodegue


Fig 9. Coação seca de terra per falta d'agua. se havia formado o caxambu.
Hum preto formando o seu caxambu.

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presentou nenhum fato satisfatório. = d

Lembrança oportuna: foi publicado Settedet HIS Ip dee edad,


num excelente volume dedicado às tri-
de

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e 16 vintens de ouro doa reis,


bos Xingu, 'Unter Indianorum in Zen-
tral-Brazilien', de Gunther Hartmann, uid
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onde são referidas as expedições ale- se
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Capitania de Almas Croracsy
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mãs desde a de Karl von den Steinen de Meia oitava


Seleehios
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até às mais recentes: povoações de


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uma ordem exemplar, urbanismo e ar- *


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feito, até a engenharia da construção, “PE AR ns de
um modelo de soluções de areja- JT f ; |
mento singulares, as artes governan-
e até às jóias. Apt ft great teto
do desd a rede

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Da corrida à descoberta do ouro so- Título de 16 vinténs de ouro da Caixa de
mos levados a pensar num fenômeno Fundição do Ouro da Capitania de Mi-
bem brasileiro: acumular massas em nas Gerais, correspondente a meia oi-
torno de uma possível realidade. tava de ouro, seiscentos réis. 'De Icono-
Quando Juscelino decidiu construir grafia de Valores Impressos no Brasil'
Brasília, a convocação de trabalhado- Ea. Banco Central, 1979.
res para realizar a empresa foi um fato
popular grandioso, a ponto de hoje a
Capital estar contornada até de cida-
des satélites.
E quando o Brasil, na segunda metade
do Oitocentos, evidenciava ser um
E indispensável para quem se envolve
país de futuro, não atraiu para aqui os
no assuntos da História, recorrer à bi-
milhões de braços que revoluciona- bliografia. No caso do ouro ou aspectos
ram nossa demografia”? inerentes ao tema se trata de uma quan-
Seja como felizmente foi, Carlos tidade de livros e dados possíveis de
Drummond de Andrade sintetizou: “E serem encontrados em nossas bibliote-
virá a companhia inglesa e por sua vez cas geralmente muito bem ordenadas.
comprará tudo e tudo voltará a nada e Os que têm prática em trabalhos históri-
secado o ouro escorrerã o ferro, e se- cos, naturalmente perceberão que as
cos os morros de ferro taparão o vale pesquisas poderiam ser mais amplas,
sinistro onde não mais haverá privilé- porém o propósito foi o de atualizar uma
gios, e se irão os últimos escravos, e vi- atividade que continua nas crônicas, es-
rão os primeiros camaradas”. pecialmente nestes últimos tempos em
que o comércio do ouro tornou-se co-
E o caso de São Paulo? E lícito inter- mum no Brasil.
romper o conto do ouro para recordar
um outro ouro, uma planta importada
de fora no Setecentos, bem no princi-
pio: um dos tantos ouros verdes”
Despontava no imenso da riqueza na-
cional um outro ouro, o café, cuja cul-
tura o Marquês de Pombal, que vamos
daqui a pouco encontrar, tinha in- Mininiaria da Agrieultora, Indostria + Commereio
MIGUEL CALMON DU Ci E ALMESDA Motyirs

centivado. Um empreendimento mais


Berrigo Gesioglrs o ESinsralcgico da BMiasil
EUTEDIO DAuZÔ DE OLIVER Cemprise eus

simples e cômodo. A corrida para ins-


taurar a cafeocracia parecia sugerida
BOLETIM N. 3
pela do metal. O pessoal se revezava
aqui para ganhar. Diferente a dedica-
ção, menos complicada, sem muitos Juro no Amapá
fiscais, gravames reduzidos a taxa-
ções possíveis. Linhito no Alto-Solimões

Da empresa aurífera São Paulo não ti-


rou proveito, aliás poucos benefícios,
também porque a Coroa aplicou divi-
sões territoriais que alteraram a vida
da capital das bandeiras.
oabe-se que os paulistas viviam num
vai-e-vem do Rio de Janeiro e até de
Minas, parando em aldeias “todas RO DE MERO
Flama gt 1 oa ções

muito pobres e a maior parte miserá-


veis porque os seus effectos, que são
os mantimentos, e dão para vestirem e
comerem... E o que relata mais um
cronista. Já em 1780, Manoel Cardoso
de Abreu prevê no 'Divertimento Ad- Capa do livro 'Ouro do Amapá; o qual
mirável' que se trata de um centro sur- lembra o quanto os Governos Federais
desenvolviam as pesquisas do ouro.

36
Braço que servia de sustentação da balança oficial destinada à pesagem de ouro.
Séc. XVII? Existente em São João del Rey, MG.

Prensa manual de bronze com doisÉ ri laterais que servia para cunhar moe-
das e barras de ouro. Datada de 1680, tem gravadas as armas de Portugal. Acervo
do Museu do Ouro, Sabará, MG.

3/
gindo como cabeça de ponte do futu-
ro. Acrescenta que os paulistas vão
“buscar as fazendas para nela vende-
rem;... outros vão buscartropas de
animaes cavallares ou vaccuns para
venderem...' Mais adiante: “Os mora-
dores das villas de Jundiahy, São João
de Atibaia e Mogy Mirim e das fregue-
zias de Jugquery e Jaguary... também vi-
vem na mesma miséria, vendendo os
seus effectos na dita cidade (Cunha), e
aos passageiros”.
Manoel! talvez exagerasse um pouco,
porém sendo largamente reportado
por Simonsen, é digno de crédito. O
autor de História Econômica do Bra-
sil junta as imposições que então se
exerciam por lá: “quinto, das entra-
das, das passagens dos rios; dízimos,
ofícios de justiça, donativos, arrema-
tações privilegiadas de contratos, dos
confiscos”.
Todavia São Paulo estava destinada a
vencer.

O fato real da descoberta é fornecido


pelas cobranças do quinto que desde
1/00 tem 940 oitavas taxadas; em
1/11, 13.507; 0 que dá um perfeito in-
dício de como se encontrou o metal. CMERGEGESTENHS
Entre 1720e '28 a produção cresce, |
graças à descoberta de novas minas [9 | )
em Mato Grosso e em Goiás, aumen- Eu úlr Asi
tando consideravelmente a fortuna do indo E éd
erário régio.

Já que estamos falando de produção,


recorramos mais uma vez à História
de Simonsen. Ficamos sabendo que o
metal no século fatídico brasileiro,
aquele Setecentos que vai merecer
mais páginas, ofereceu “o primeiro
impulso à formação dos grandes
stocks nos tempos modernos. Entre
1700e 1770 a produção do Brasil foi
praticamente igual a toda a produção
de ouro do resto da América, verifica-
da entre 1493 e 1850; cerca de 50% do
que o resto do mundo produziu nos sé-
culos XVI, XVlle XVIII”.
Cerca de cem mil toneladas de ouro fo-
ram produzidas desde que o metal foi
extraído a partir, calcula-se, do quinto
milênio antes de Cristo. Desta quanti-
dade se estabeleceu que quarenta por
cento se encontram depositados nos
cofres dos 'bancos centrais das prin-
cipais potências como reserva mone-
tária, sendo outras dezenas de tonela-
das guardadas por investidores priva-
dos, como parte do seu amplo comér-
cio,
Cada região afortunada com a des-
coberta do ouro teve seus anos de gló- Capa de “Sua Boa Estrela" (Nº 76, 1981)
ria. No tocante ao Mato Grosso, obser- revista dos amigos da “Mercedes-Benz
ve-se que se reduzia a Vila Bela, se- do Brasil", número dedicadoà Chapada
gundo nos conta o Visconde de Tau- de Diamantina, Bahia, onde o apareci-
nay em documentado livro dedicado a mento dos diamantes representou o in-
Dom Pedro Il: “A população orçava em eà
cremento das pesquisas, o comércio
pouco mais de 800 almas, toda ela de prosperidade dos centros de garimpel-
cor preta, e cor tão dominante que as ros, lapidadores de pedras preciosas€
pessoas que o não eram mereciam aventureiros. E um dos inúmeros servi
contagem a parte, formando o diminu- ços que a publicação oferece para 0 co-
to total de 14, e destas só 2 re- nhecimento do Brasil.

38
Aspecto da região do ouro em Minas Gerais, fotografia reproduzida no interes-
sante trabalho que a revista Mercedes Benz dedicou a Minas Gerais.

Detalhe da reportagem que a revista


da Mercedes Benz ' dedicou à lavra do
ouro em Minas Gerais.

39
conhecidamente brancas. Não mos- “Das minas geraes de Cataguas as mi-
travam as ruas o menor vestígio de cal- lhores, e de maior rendimento forão
camento... contínuas eram as inunda- até agora a do ribeiro d'Ouro Preto: a
ções, vendo-se por toda a parte os re- do ribeiro de N. 5. do Carmo; e a do ri-
síduos das vazantes em charcos e po- beiro de Bento Rodrigues, do qua! em
ças... De todos os lados, compactos pouco mais de cinco braças de terra
matagaes de fedegoso e vassorinhas se tirarão cinco arrobas de ouro. Tam-
ocultam cobras e comumente tam- bém o rio das Velhas he muito abun-
bém não poucos jacarés vindos do rio, dante de ouro, assim pelas margens,
embora pequenos... Igreja frequenta- como pelas ilhas, que tem, e pela ma-
da quase exclusivamente por nuvens dre, ou veio d agua; e delle se tem tira-
de morcegos... e no meio de toda essa do, e tira ainda em quantidade abun-
desolação um povo abastardado, pre- dante.
so de molestias periódicas e vivendo Chamão os Paulistas ribeiro de bom
dura miséria...” rendimento, o que dá em cada batea-
isto, naturalmente, era diferente em al- da duas oitavas de ouro. Porém assim
gumas cidades mineiras que soube- como ha bateadas de meia oitava, e
ram se servir da improvisada fortuna. de meia pataca; assim ha também ba-
teadas de tres e quatro, cinco, oito,
comente o ouro enviado à fiscalização dez, quinze, vinte, e trinta oitavas, e
utilizava as balanças. Importá-las foi mais: e isto não poucas vezes succe-
tarefa feita pelos comerciantes. Eles deu na do ribeirão, na do Ouro Preto,
eram verdadeiros aproveitadores, na de Bento Rodrigues, e na do rio das
mestres em sonegação e em possíveis Velhas. Os grãos de maior peso, que
trapaças. se tirarão, forão hum de noventa e
Outro inconveniente a ser superado cinco oitavas; outro de tres libras, que
era separar o ouro dos restos de casca- repartirão entre si tres pessoas por um
lhos nele fixados. As análises estabe- machado, outro que passou de cento e
leciam as diversas variações do valor. cincoenta oitavas, em forma de huma
Avaliavam os experts improvisados. lingua de boi, que se mandou ao go-
Todas estas simples ocorrências de- vernador da nova colonia; e outro
viam ser resolvidas com os comercian- maior de seis libras”. André João An-
tes. Os mais ativos eram os traficantes tonil, Cultura e Opulência do Brazil
de escravos, que tinham facilidades e por suas Drogas e Minas.
sistemas próprios para entrar e sair
das zonas demarcadas. O que faz con-
Cluir que os beneficiados da situação
foram os sujeitos práticos do comprar
e vender.
Ali estava, a seu modo, o princípio da
economia propriamente dita, e por ini-
ciativa de indivíduos práticos no mer-
cantilizar.
A corrupção de vez em quando apre-
sentava sintomas de generalização,
tanto assim que era oportuno fechar
um olho, já que havia implicações por
parte de superiores que não podiam se
tornar públicas.

A audácia dos do contra se voltava em


direção aos mandatários do regime.
Eis uma das histórias mais divertidas,
escolhida entre as numerosas dessa
espirituosa picaretagem, registrada
em Cuiabá. Em 1728, dali saíram qua-
tro cunhetes fielmente entregues, fe-
chados e selados, destinados ao pro-
vedor da Real Fazenda de São Paulo.
Enviados ao Rio de Janeiro, dali foram
remetidos com as devidas cautelas pa-
ra desembarcar em Lisboa. Abertas na
presença Del-Rey Dom João V e de al-
guns ministros estrangeiros, convi-
dados especialmente para presencia-
rem o ato, acharam chumbo er grãos
para munição em lugar de ouro. Trans-
crevo de Abreu Lima: “Dando tanto es-
trondo esta metamorfose, mandou El-
Rey ao juiz do fisco do Rio de Janeiro
que fosse imediatamente devassar o
caso, de cuja diligência resultou a pri-
são do provedor e o sequestro de seus
bens; mas sendo remetido para a ca- Apuração final do ouro.

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Vila Rica (Ouro Preto) em 1821.

"A relativa escassez de mulheres plantações de cana-de-açúcar e ta-


brancas em muitas regiões, e a misci- baco, e nas fazendas de criação, essa
genação resultante entre homens riqueza to! considerada, na voz po-
brancos e mulheres de cor, chocou, pular, como enorme. Tal opinião era
abertamente, muitos observadores es- apoiada pelo fato de que exatamente
trangeiros, e provocou bastante co- quando as primeiras jazidas de ouro
mentários adversos dos governadores de Minas Gerais começaram a apre-
e bispos coevos. sentar sinais de exaustão, novas des-
Essa miscigenação em larga escala cobertas foram feitas em Cuiabá, e de-
foi responsável, indubitavelmente, pois veio a descoberta (oficial) de dia-
pelo crescimento de um proletariado mantes no Sérro do Frio. Tais desco-
de cor, urbano e rural, que não tinha bertas foram seguidas, no devido
educação apropriada e vivia de expe- tempo, pelo achamento e exploração
dientes. Esse estado de coisas levou, dos campos auriíferos de Goiás e Mato
por sua vez, às chagas sociais como a Grosso. A chama de esperança que la-
vadiagem, a prostituição, as doenças, teja eternamente no peito humano, era
que tal estado de insegurança social periodicamente reavivada por essas
propicia. Por outro lado, um número descobertas sucessivas, sempre que
surpreendente de pessoas dessa co- as jazidas precedentes pareciam es-
munidade de cor eventualmente pro- tar declinando em produção. Tinha-
grediu, fôsse como vaqueiros, nos dis- se a impressão de que a riqueza mi-
tritos criadores do Rio São Francisco e neral do Brasil era inesgotável, e que
do Piauí, como músicos e tabeliões se um distrito mineiro já não oferecia
mulatos em Minas Gerais, ou em ou- proveitos, outro depressa seria desco-
tros ofícios e ocupações, onde habili- berto no sertão, para substituí-lo. Em-
dosas pessoas de cor eram muitas ve- bora muito do ouro e dos diamantes do
zes encontradas — às vezes desa- Brasil tivesse sido gasto em pagamen-
fiando as leis discriminatórias. Ade- tos para importações provenientes da
mais, o cadinho racial brasileiro, com Europa Setentrional, ou prodigalizado
todas as suas variedades, ênfases e nas igrejas e conventos do mundo por-
origens, realizou fusão mais ou menos tuguês do Atlântico, acreditou-se am-
pacífica entre as três raças, a euro- plamente — embora errôneamente —
péia, a africana e a ameríndia, que, as- que D. João V fosse o mais rico mo-
sim não fôsse, poderiam ter precisado narca da Europa, crença que seus
resolver suas diferenças étnicas e cul- gastos generosos nada faziam para
turais com derramamento de sangue. diminuir.”
Fósse qual fôsse a extensão da rique-
za retirada das minas de ouro e dia- CR. Boxer, A idade de ouro do Brasil'
mantes do Brasil, para não falar nas Companhia Editora Nacional.
deia de Lisboa, e mostrando alí com
muita evidência a falsidade do crime
imputado, não só se conseguiu a sua
liberdade como a entrega total dos
seus bens. O povo de Cuiabá que tinha
sido muito vexado pelos exatores dos
direitos reais, e cujos bens arrecada-
dos a força com a mais odiosa violên-
cia perfizeram as sete arrobas de ouro,
viu neste acontecimento inesperado
um milagre do céu em castigo a tanta
crueldade”.

Apesar de tudo que acontecia, a pro-


dução encontrava seu caminho, sen-
do o mais cuidado o das caravelas que
levavam a riqueza a Portugal, particu- “As primeiras notícias da descoberta
larmente a Dom João V, monarca que o do ouro na Província de Mato Grosso
papa tinha apelidado de 'magnânimo' tiveram lugar logo após a primeira
e de majestade fidelíssima': uma es- fase de colonização, na Capitania de
pécie de Luís XIV local, na verdade um São Vicente. Martim Afonso de Sousa,
déspota prepotente e extravagante, o primeiro donatário de São Vicente,
dono do Brasil que fazia administrar enviou Aleixo Garcia e forte escolta
com rigor, despachando para cá até para as regiões situadas a oeste do
um regimento de dragões a fim de ater- Brasil, com a finalidade de conhecé-
rorizar as Minas. Ordenava aos seus las de perto.
capangas a tarefa de impor dureza O espírito empreendedor desse ho-
particular. O ouro “de tão fácil pro- mem deu causa a que vastas zonas
cedência acabava em Lisboa desper- fossem percorridas até mesmo além
diçado em festas, na suntuosidade do Paraguai, em direção ao Peru. De
dos palácios, nos amores de El-Rey volta dessas regiões, Garcia, trazendo
que seus confessores lhe perdoavam, alguma prata e um pouco de ouro,
enfim em inúmeros exemplos do que acampou com seus companheiros e o
um soberano não deveria se permitir filho menor às margens daquele rio.
realizar. Dali, mandou para São Vicente a noti-
cia de descoberta. Enquanto esperava
Aventurar-se no matagal da adminis- resposta e auxílio da capitania, sobre-
tração colonial, armado de paciência e vieram Os índios guaicurus e paia-
de constância, é lavra para arquivistas. guás, inimigos dos várzeas e xaráies,
Melhor perseguir os acontecimentos entre os quais se encontravam os ex-
de cima. À História do Brasil se de- pedicionários, os quais foram trucida-
senvolve entrelaçada de ordens e con- dos, com exceção do filho de Garcia,
tra-ordens, deixando a cada qual de- que foi levado pelos assaltantes, jun-
cidir por conta própria. Então torna-se tamente com o tesouro . Essas cenas
difícil ver mais claramente, justifican- cruéis repetiram-se no ano seguinte
do-se até a severidade exercida contra com sessenta portugueses, que se
a avidez pecuniária, para se saber de- achavam na mesma região, e que ha-
pois a extensão da tolerância compro- viam ido em auxílio de Garcia. Foram
missada das próprias autoridades. todos traiçoeiramente assassinados.
Algumas notícias dão a expedição de
Uma descrição meticulosa da minera- Garcia como tendo sido realizada nos
ção do ouro nos foi deixada, entre ou- anos de 1532 e 1533, enquanto outras
tros viajantes, por Auguste de Saint- afirmam o contrário, dizendo que pou-
Hilaire. Ao passar por Minas Gerais, co tempo depois desse triste aconteci-
chegou a criticar os 'sábios alemães mento os espanhóis iniciaram as pri-
no que se referia aos instrumentos meiras tentativas para se estabelece-
ainda, dois séculos depois, obsoletos, rem no Paraguai, sob a chefia de Se-
os quais tinham em geral nomes indi- bastião Caboto.” W. L. von Eschwege,
genas. Foi observado: o mesmo voca- “Pluto Brasiliensis”, Editora da Univer-
bulário ainda hoje é usado em Serra sidade de São Paulo, 1979.
Pelada.
A um proprietário de lavra em ltajuru o
francês mostrou a possibilidade de
empregar carretas ao invés de escra-
vos para transportar cascalhos, mas o
brasileiro alegou que o costume era
aquele, e que não se importava com os
eventuais desvios do metal. Comen-
tou Saint-Hilaire: “Por muito imperfei-
to que possa ser o método de lavagem
empregado, atualmente no interior do
Brasil, não sei de ninguém que, com a
exceção de Eschwege, tenha tentado
aperfeiçoá-lo”. Saint-Hilaire se referia

42
Arca de jacarandá utilizada para guardar o ouro. Coleção Francisco Marques dos
Santos.

ao Barão de Eschwege, o cientista ale- vanca, O almocafre, a batela: eis os


mão que, a serviço de Portugal, acom- nossos instrumentos; cavaraterra e
panhou o Príncipe Regente quando da lavá-la: eis a nossa ciência”.
sua transferência para cá em 1808. O
barão estava bem a par dos problemas As notícias que chegavam de Lisboa
de mineração do Brasil, tendo aqui eram as de que João V promovia feste-
construído usinas de prata. Voltou à jos quando da chegada das caixas
Europa em 1821. contendo ouro, seus capangas envol-
tos em capas bandadas de sedas a co-
Este caso nos leva a lembrar como o res e chapéus de plumas' nos bailes
trabalho da mineração se desenvolvia reais, quando se cuidava de brindar o
artesanalmente e assim continuou, 'dom de Deus.
sem soluções mais industriosas. De
vez em quando apareciam estrangei- A política de mineração do reino, ao
ros experientes no minerare pro- longo de todo o Setecentos, conti-
punham mudanças técnicas, porém nuou intransigente no não progredir.
sem alcançar régias consequências. Sabe-se que um progressista, em
Comentou J. F. dos Santos: “Quem era 1799, tentou até se dirigir à rainha Do-
responsável por nossa ignorância? A na Maria a fim de denunciar e expor o
Corte portuguesa que só queria ouro, que já se praticava nas minas da In-
e pouco se importava em administrar glaterra, França, Rússia e, principal-
aos mineiradores meios convenientes mente, na Alemanha, fazendo saber
para facilitar sua extração. Assim o mi- que algumas destas nações tinham es-
neirador trabalha às cegas, segundo colas de mineralogia: “Estas nações
uma antiga rotina que lhe havia sido não obstante manterem muitas minas
ensinada pelos primeiros descobri- abertas e em um trabalho ativo, que
dores e nenhuma noção tinham da ar- são como tantas escolas práticas para
te da mineração. Mandou-se quebrar seus mineiros, todavia não cessam de
nossa fábricas, e que em nossos teares publicar obras sobre este objeto e ins-
fossem fabricados tecidos de algodão truir O povo por todas as maneiras pos-
para vestir os escravos. Isto para que o Siveis', concluía o homem de visão
trabalho de manufatura não nos dis- Doutor José Vieira Souto. Nem respos-
traisse da mineração e pudéssemos ta obteve. O mesmo Vieira Souto em
pagar todos os anos os tributos de suas Memórias sobre a Capitania de
centenares de arrobas de ouro... volta- Minas' nos diz: “O ferro, metal tão ne-
vam carregados os galeões da Metró- cessário a todas as artes, a todos os ofi-
pole. O que porém era ensinado para cios e ainda às mesmas ciências, mais
extraí-lo das entranhas da terra? A ala- precioso ao homem que o ouro e a pra-

43
ta... entre nós é derramado com uma
prodigalidade espantosa .
É possível medir-se a pouca visão dos
administradores ao sabermos que So-
mente em 1815 é que armou-se uma
fábrica de fundição de ferro, no Mor-
ro do Pilar.

Quantos foram os escritores que rela-


taram a história do Brasil? Difícil tentar
uma antologia dos compêndios. Mas O ouro e seus derivados representam
há um que não se pode deixar de re- um símbolo da vida, o fundamental, e
cordar, o qual apesar de ser rico em re- as artes símbolo da engenhosidade e
levos negativos é, no entanto, escrito do comportamento. O metal serve
com uma certa independência. Alude- para manifestar sentimentos e signifi-
se a Paulo Prado, o qual compara a cados em várias atividades, desde a
História do Brasil a uma pintura im- devoção a um ídolo religioso até o re-
pressionista: “Dissolveram-se nas cô- conhecimento do valor de um único
res e no impreciso das tonalidades as ser. Para não nos determos em uma
linhas nítidas do desenho e, como se exempliticação sistemática, nesta
diz em gíria de artista, das 'massas e corrida ao encontro de quanto o ouro
volumes', que são na composição his- representa, as ilustrações do texto do-
tórica a chronologia e os factos”. cumentam fatos do próprio trabalho
Haveria uma outra maneira, na arte da para descobri-lo, retirá-lo da terra e
pintura, para descrever uma idéia do transformá-lo em objetos, proceden-
Brasil. Por ocasião de exposições, às tes de ofícios os mais disparatados,
vezes se apresenta, resumida e possi- desde a singular ourivesaria até os
velmente definida, a figura do Brasil: o que lembram instrumentos de minera-
modo impressionista, sem dúvida, dá dores, estes recordação das origens
resultado, porém quem está em con- das conquistas em terra brasileira.
dição de criar um retrato realista teria Não esquecendo das minas que, em
de trabalhar com mais precisão, fora pleno século do estupidificador pro-
do aproximativo do impressionismo, gresso científico, ainda registram o
recorrendo a um artista verista. Prado trabalho para se apoderar daquela
tem páginas no seu Retrato' próximas preciosidade. Assim, as ilustrações
ao realismo evidente, às vezes deta- destas páginas, não obedecendo ao
lhadas demais e, talvez, escolhendo convencional sistema enciclopédico,
somente crônicas penosas, quando pulam de uma figura a outra, para con-
existe um outro lado da moeda. firmar a variedade sem limites de
como o ouro tem sido manipulado, as
páginas registrando trabalhos de ouri-
É verdadeiramente curioso não saber vesaria, através dos tempos, sendo os
quem foi o tal que descobriu a maravi- de hoje os mais ricos de fantasia e téc-
lha do ouro. E plausível pensar que co- nica.
municou a outros a surpresa, o boato
se espalhando. Numerosas são as imagens religiosas,
Qualquer imaginação vale para atri- pois o país do ouro, como foi apeli-
buir retroatividade e situar a descober- dado, favoreceu a produção dos obje-
ta numa localidade de um continente. tos de culto e se valeu da aplicação do
O metal extraído e manipulado passou
ouro nas dourações não só das escul-
turas representando santos mas tam-
a ser considerado o que de mais sur-
preendente a terra podia oferecer. bém ornamentando ambientes inteiros
como metal. O Brasil é riquíssimo em
Deu-se então início a uma história, ve-
esculturas douradas como também
tando, ao longo de milênios, a consis- em objetos usados nas missas, espe-
tência de qualquer recordação.
cialmente encontrados nos museus de
A engenhosidade, a idéia, impulso por
impulso, conquista por conquista, arte sacra. Tratam-se de materiais re-
colhidos das muitas igrejas erigidas
acabaram por atribuir ao metal o sím- em todos os estados, quando possível
bolo do que de mais valioso o homem de ouro e, em muitos casos, de prata.
tinha encontrado, todos jurando que Através da reunião das imagens de
nada mais poderia valer como riqueza, origem religiosa é possível docu-
ao lado naturalmente dos diamantes e mentar, ampliando naturalmente o nú-
também da prata. Estas riquezas, mui- mero, o quanto foi recolhido nos cinco
to acima da riqueza agrícola e de todas séculos de nossa história.
as outras áreas, andou gerando um
torvelinho infinito, um continuo nas-
cer, crescer e vencer, ficando desde
sempre o ouro como símbolo emble-
mático de perpétua procura.

Oportuno este aparte: circulando tal


quantidade de ouro, é possível que no
Brasil não se note o enfeite, o mostrar
jóias?

44
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Faca de ouro utilizada em rituais de sacrifício; a empunhadura representa o deus


Namiap, do culto peruano, de braços abertos. Exposição no Castelo de São
Justo, Trieste, 1981. A arte dos peruanos está geralmente ligada ao trabalho em
ouro, mas é bom lembrar que também na arquitetura e na engenharia eram muito
error 1 avançados, como se vê nesta construção Kalasasaya e nesta ponte suspensa
as sobre o rio Apurimac. Desenho de George Seguier, 1877.

Das nações sul-americanas, as que usaram o ouro, como também a prata, para
confeccionar objetos de apreço, foram o México e o Peru. Distinguem-se tam-
bém outros países como a Colômbia. Cada nação conserva acervos importan-
tes, uma vasta literatura ilustrando-os. Recentemente a exposição 'Ouro do
Peru, realizada no Museu de Arte de São Paulo, deu ao público a oportunidade
de conhecer obras de extraordinária singularidade: o precioso metal empre-
gado não somente na ourivesaria, mas também utilizado em objetos de uso do-
méstico,

45
De fato, na Bahia, Gabriel Soares de
Souza nos deixa a notícia de que 'mul-
tos moradores, gente de fazendas
exhibem peças de prata e ouro..., al-
guns com “dois a três mil cruzados em
jóias de ouro e prata lavrada , as mu-
lheres “mui bem ataviadas de jóias de
ouro". Eram portugueses que vinham
do reino. Divulgavam então o gosto de
aparecer. Não vamos esquecer que a
moda andava acompanhando a vida
de todos os países. Quanto ao que se
passava aqui, O francês Pyrard de La-
val, conta nas suas memórias que no
começo do Setecentos, frequentan-
do a boa sociedade da época, andava
“vestido de seda à portugueza e à moda
de Gôa que é differente da dos portu-
guezes de Lisbôa e do Brasil: notícia
pescadano Retrato de Paulo Prado.
No prefácio que Rodrigo Melo Franco
de Andrade, o inesquecível coordena-
dor dos estudos dedicados ao nosso
patrimônio cultural, fez para 'As artes
plásticas no Brasil — Ourivesaria' de “Os mineiros, inábeis para lutar contra
José Gisella Valladares, observa-se: as forças da natureza, completamente
“As vicissitudes históricas do povoa- ignorantes da arte de explorar as mi-
mento do nosso território e do nas, e sobrecarregados de vexames e
desenvolvimento da nossa civilização impostos, acabaram por abandonar,
material no Brasil, aliadas às con- pouco a pouco, os seus trabalhos. As
dições anteriores do País e de suas po- minas, que no começo do século XVIII,
pulações, não forneceram nem es- se achavam em estado cada vez mais
timularam, particularmente aqui, uma florescente, não tardaram em pericli-
produção artística original, e valiosa”, tar, a ponto de cairem, para o fim do
A arte nacional dependeu dos manei- século, em completa decadência. Foi
rismos da Europa nos tempos da Colô- assim que, no tempo em que as minas
nia, sendo cada manifestação regula- estavam em plena prosperidade, nas
da pelo que se fazia em Portugal, o vizinhanças do ano de 1750, o número
qual por sua vez dependia da Espanha. de trabalhadores ocupados na explo-
Assim, a ourivesaria não teve outro ca- ração ascendia a mais de 80.000, ao
minho se não se ater ao que era impor- passo que em 1820 mal atingia a 6.000
tado. Desembarcaram então na Bahia o número de pessoas ocupadas na ex-
os primeiros artífices. tração do ouro. Ao passo que o quinto
A Terra era nova aos trabalhos de arte rendia 1.170 quilos de ouro em 1750,
tanto de ouro como de prata, ao passo não chegava a mais de 570 em 1799, e
que em outras colônias, como o Peru e apenas a 105 em 1819.”
o México, a ourivesaria representava Von Eschwege, 'Pluto Brasiliensis”
uma das atividades dominantes. O Berlin, 1833. Editado pela Universi-
Brasil dos indígenas não dava ne- dade de São Paulo, em 1979.
nhuma importância aos metais e às pe-
dras preciosas, o ornamento era de
plumagem de pássaros, os corpos re-
cebendo desenhos, os lábios osten-
tando argolas e outros enfeites.
Um princípio de riqueza existia em
Pernambuco mais que na Bahia. As
jóias eram naturalmente de importa-
ção, todavia havia alguns ourives, co-
mo documentam as denúncias e con-
fissões do Santo Ofício. Calculou-se
que no Rio de Janeiro, na metade do Se-
tecentos, os mestres ourives eram 3/9.
Os interesses portugueses eram bem
guardados: os ourives deviam com-
prar o ouro somente na Casa da Moe-
da, para saldar o quinto. De qualquer
jeito, os enganadores tinham a possi-
bilidade de usar o ouro em pó, os artífi-
ces eram cúmplices dos contrabandis-
ta, e a engenhosidade multiplicava as
pilhagens contra as fiscalizações.
Nos centros de comércio, o ouro
começava a brilhar nas roupas das
mulheres, como comenta José Gisella

46
À douração ocorre nos objetos de representação ou de culto, como se vê nesta
armadura dos Templários, confraria de espírito medieval do século XVI: estes
guerreiros místico-religiosos tinham por símbolo uma bandeira preta e branca,
cuja empunhadura é aqui reproduzida, o preto significando terror e morte aos
inimigos, o branco sinal de paz. Da nova e esplêndida revista brasileira 'Ven-
tura.

47
Valladares: “Mas a verdade é que todo
esse ouro junto constitui uma insignt-
ficância, quando comparado ao que,
sob a forma de barras, mvedas ou mes-
mo em pó, passou para o estrangeiro .

Tratando de ourivesaria deve-se notar


como o interesse pelo ouro em Minas
teve uma outra aplicação: o dourar,
uma operação artesanal da mator Im-
portância, como o leitor pode consta-
tar, por exemplo, na leitura de alguns
contratos cujos termos Manuel Ban-
deira comunicou ao Patrimônio Histó-
rico em 1938, relatando como se con-
fiou ao pintor Manuel da Costa Ataíde
a douração dos seis altares laterais e
de dois púlpitos da Igreja de Nossa Se-
nhora do Carmo em Ouro Preto. À
'excelentíssima e respeitável Mesa,
através de um termo de minuciosa
descrição, estabelecia as normas téc-
nicas literalmente transcritas, deta-
lhando o trabalho, momento por mo-
mento, especificando para “assentar
o ouro em seus devidos lugares, bem
como tudo que for pessas geraes de ta-
lha, biscates, capiteis, tarjas, festões
de flores, redondos, filetes, meias ca-
nas, do guarda-pó, simalhas, e moldu-
raseurnas...

A descoberta de minas de prata no


Brasil no Quinhentos é considerada
lenda. A que era aqui trabalhada pro-
cedia da Argentina, do Rio da Prata, do
México e do Peru, através de importa-
ções não oficiais. Chegavam ao Rio de
Janeiro navios carregados de prata la-
vrada e também boa quantidade de
moedas de prata. O contrabando nas
mãos dos portugueses prosperava.
Houve até sérias divergências defla-
gradas pelos ourives. As fraudes, de
qualquer jeito, iam se aperfeiçoando
nas pilhagens mais astutas.
Num texto de segura documentação,
de Waldemar Mattos, no 'Registro de
Marcas, publicado na Bahia, se co-
menta: “...de toda a cidade, facto esse
mais prejudicial à população do que o
retorno da moeda para o Reino, a qual
poderia voltar, ao passo que, converti-
da “em baixelas e diferentes usos ex-
traordinários”, nunca mais tornaria a
ser moeda, delito que não tinha des-
culpa, porque, mesmo que viesse enri-
quecer ou contribuir para o “esplen-
dor das casas particulares”, debilitava
“a República”, que só se conservaria,
mediante a circulação da moeda, “a al-
ma que mais vivamente animava as cl-
dades, os reinos e as monarquias.
Situação caótica, incontrolável, pois a
fiscalização defendia as corrupções,
esta novidade tão antiga quanto a
moeda.
Declarava-se um 'lastimável fim da Re-
pública', pois a calamidade represen-
tava um estado de coisas na urgência
de mudanças que não mudavam, aliás
intervindo garantias que pioravam a si-
tuação.

48.
alar as atividades dos
Grupo de ordens maçônicas do primeiro reinado. Coleção José Claudino da Nóbrega. Devem-se assin ca-se
antiquários, a serem considerados autênticos preservadores das artes do passado, e nesta página particularmente, desta
José Claudino da Nóbrega, autor de um livro de memórias documentando o que descobriu e passou por suas mãos, inclusive a
numismática brasileira, um setor que exige conhecimentos técnicos significativos, no caso do Brasil complicados pela cunha-
gem feita em vários locais. NO citado livro, por nós prefaciado, observamos: “Conheço o Nóbrega desde sempre, como amigo e
como instituição no setor no qua! me aventurel, O antiquariato, uma profissão de muitas emoções. Vocação? Não sei. Pode ser
que se tome aquele caminho por acaso, gosta-se, e por ali se val, Duscando e farejando, descobrindo e sopesando”; todas
estas iniciativas que Nóbrega cumpriu, inclusive a dedicação no que se refere aos objetos de'O ouro, sendo ele possuidor hoje de
ouro no Brasil
uma preciosa coleção de moedas, jóias, ourivesaria, à qual se recorreu para ilustrar este

49
Os prateiros mudaram-se para o Rio
pois sabiam que tudo continuaria, já que
as leis não eram respeitadas.
O bando começou a ser lançado sem
obter resultados. Finalmente se desco-
bre que o único sistema para controlar
os prateiros era a marcação. O volume
assinalado acima registra as marcas
de 1/25 a 1845. E de uma elaboração
muito acurada, apesar do estado das
declarações.

Chegou agora o momento de dar relevo


a quanto Simonsen observou e já se
acenou ao destino do ouro por parte de
Portugal: não aplicando, como deveria
ser, no desenvolvimento da Colônia,
desperdiçando-o na 'mãe-pátria' ou
passando-o à Inglaterra.
Portugal, pagando com o ouro brasileiro
as aquisições das primeiras manufatu-
ras inglesas, nunca soube aproveitá-las
na Colônia, como seria justo e vantajoso
para o próprio patrão.
“Eram poucos os melhoramentos para o
muito dinheiro arrecadado por meio de
imposto. Muita corrupção nos meios ofi-
ciais e quase oficiais. Conspícuas fortu-
nas feitas de repente por personagens
lustres... Muito contrabando...”, registra
Gilberto Freyre.

Na metade do século deu-se o apogeu


da fortuna aurífera: criam-se casas de
fundição em Vila Rica, Sabará, São
João del Rey e Vila do Principe. Rece-
beram-se avalanches de ouro, carimba-
ram-se barras e barras, confinando-se
o metal em pó às casas de câmbio para
evitar sua circulação, motivo permanen-
te de fraudes. A desorganização tomara
conta, aumentando a ação fiscalizadora
e a severidade.
Então, o governo do Marquês de Pom-
bal se interessou pelo principal, isto é, 0
ouro, intervindo na reformulação das ca-
pitanias, transferindo a capital de Sal-
vador para o Rio de Janeiro, tomando “Vários forão os preços de ouro no de-
uma série de providências, até mesmo curso destes annos: não só por razão
de ordem industrial, como a construção da perfeição de hum, maior que a do
de navios e outras decisões de caráter outro, por serem de mais subidos qui-
social. lates; mas também a respeito dos lu-
O leitor já compreendeu que, agora, es- gares, aonde se vendia: porque mais
tá em cena um personagem que tem barato se vende nas minas, do que na
muito, mas muito a ver com o Brasil: uma villa de S. Paulo, e de Santos; e muito
espécie de outra majestade para a Co- mais vale nas cidades do Rio de Ja-
lônia. O Marquês de Pombal, lembrado nero, e da Bahia, do que nas villas re-
por alguns historiadores pela sua ener- feridas. Também muito mais vale quin-
gica ação como o Richelieu portugues, tado, do que em pó: porque o que se
logo percebeu que o prestígio do reina- vende em pó, sahe do fogo com bas-
do dependia somente da colônia brasi- tantes quebras: além do que va! por
leira, e nesta concentrou feroz atenção differença por razão do que se pagou,
através de reformas administrativas e ou não se pagou de quintos.” Andre
severidade violenta contra Os possiveis João Antonil, Cultura e Opulência do
sabotadores. Brazil por suas Drogas e Minas.
No que se refere às relações Portugal-
Inglaterra, recorramos a Celso Furtado:
“ cabe ao ouro do Brasil uma boa parte
da responsabilidade pelo grande atra-
so relativo que, no processo de desen-
volvimento econômico da Europa, teve
Portugal no Setecentos. Em realidade,
se o ouro criou condições favoráveis ao
desenvolvimento endógeno da colônia,

50
Comenda colonial: Ordem do Grão
Pará. Ouro e Crisólito. Dada aos gran-
des dignatários da Igreja Católica.
Coleção José Claudino da Nóbrega.

A medalha de ouro, concedida por


ocasião de manifestações políticas e
de acontecimentos civis e esportivos,
pode ser considerada como uma dis-
tinção rememorativa de fatos.
A medalhística no Brasil desenvolveu-
se no Oitocentos. Afirma o esplêndido
folheto que o Museu de Valores, ligado
ao Banco Central, lançou por ocasião
de uma exposição temporária come-
morativa do quinto aniversário daque-
la instituição, que a primeira notícia
que se tem da confecção de medalhaé
no Brasil se refere ao objeto que aqui
reproduzido, celebrando a desco-
berta de minas de ouro por Antônio Ro-
drigues Arzão, em 1698. Os dizeres na
faixa circular são: "João D. G. Reg. de
Port P. do Brasil”.
Nossos antiguários ficaram sempre
atentos aos objetos relacionados com a
história Drasileira. Entre eles, deve ser
citado José Claudino de Nóbrega, autor
de Memórias de um viajante antiquario"
Esta curiosa peça de ourivesaria, um re-
lógio em ouro, foi lançada para come-
morar o Centenário da Independência
do Brasil.

51
não é menos verdade que dificultou O
aproveitamento dessas condições ao
entorpecer o desenvolvimento da Me-
trópole... Em suas memórias, o Marquês
de Pombal afirma categoricamente que
a Inglaterra havia reduzido Portugal a
uma situação de dependência, conquis-
tando o reino sem os inconvenientes de
uma conquista militar; que todos os mo-
vimentos do Governo eram regulados
de acordo com os desejos da Inglater-
Id.

Pode ser que o Marquês tenha conside-


rado o Brasil num momento em que a ar-
recadação do quinto andava murchan-
do. De fato, o desembargador José
João Teixeira na sua 'Memória', dedica-
da ao governo da Capitania de Minas
Gerais, atribuía a diminuição do rendl-
mento do quinto não só à escassez do
ouro, mas também às seguintes origens:
“4º A decadencia dos Mineiros, impos-
sibilitados de manter as Fabricas ne-
cessárias para a mineração. 2º A falta
de negros, monopolio delles, e grandes
Direitos, que pagão. 3º O abuso nas
concessões dos Guardas Móres. 4º As
demandas sobre terras, e agoas mine-
raes. 5º O mão estado, o methodo da
mineração. 6º As demandas sobre pri-
vilegios de Mineiros. 7? A divisão das
Fabricas”. Pombal devia remediar es-
sas circunstâncias.

Mas, o grande ciclone provocado no


Brasil por Pombal, foi a expulsão dos je-
suítas.
Descobrindo que a proteção dos jesuí-
tas aos nativos esconde princípio não
só de patronagem na patronagem de
El-Rey, contra eles lança uma devassa
sem possibilidade de apelação: fecha
o que a Companhia de Jesus em seu cir-
culo andou construindo e lhes proíbe até
de rezar, sem falar do confessar, o se in-
terpor entre a gente e Deus.
A expulsão dos jesuítas suscitou naquele
tempo e mesmo depois calorosas dis-
cussões pró e contra. Lembra-se aqui O
que escreveu Joaquim Nabuco, também Tipo de tocheiro encontrado nas igre-
apologista da abolição da escravatura: jas brasileiras, em prata, às vezes tam-
“Sem os jesuítas a nossa História colo- bém em madeira dourada.
nial não seria outra coisa senão uma ca-
deia de atrocidades sem nome, de
massacres como os das Reduções; o
país seria cortado de estradas como as
que íam do coração da Africa aos mer-
cados das costas, por onde só passa-
vam as longas filas de escravos
Os sacerdotes construíam as capelas,
ambientes de reunião e de esperança.
Resultavam por lá celebrações de fes-
tas ligadas à Igreja e, por que não, de
caráter civil, recepção de hóspedes de
peso, Os primeiros instrumentos musi-
cais dos negros alegrando discreta-
mente as comitivas. As contribuições
eram dos cristãos velhos e novos. Cen-
tro também de discussão e de ação da
vida comunitária, Contínuo o batismo
dos pretos, frequência sempre mais nu-
merosa das missas e participação ativa
nas cerimônias.

o2
Tabaqueira de ouro, tendo ao centro a coroa imperial e o monograma do Impera-
dor D. Pedro ll, oferecida pelo mesmo ao Abade Geral Frei Manoel de São Cae-
tano Pinto, por ter libertado os escravos da Comunidade Beneditina Brasileira.
Do livro '400 anos do Mosteiro de São Bento da Bahia.

Este saleiro não é assinado, e deveria


sê-lo, pois seu autor para compô-lo en-
pl.

frentou um trabalho complexo, a come-


car pela fundição em três partes de cris-
tal, juntando depois duas figuras: a
avestruz e o índio de cocar, utilizando
prata e pedras preciosas, esmalte na
base e singular tratamento decorativo
nos componentes que se observam
quando se abre a tampa. Objeto atribui-
do a um ourives do Oitocentos, do qual
se lamenta não haver uma sigla nem
uma marca, para poder datar com preci- |
são o laborioso objeto. Coleção parti- Coen PS
cular São Paulo. AO TES oie no MAD

o)
Será a devotada ação da Igreja que
contribuirá de maneira preeminente na
difusão de um senso a indicar como na-
cionalista.

Inútil sublinhar que ao longo do século,


até a constatação do quase total exauri-
mento, não pararam as lavras para se
apoderar do ouro. Aumentava o número
dos que procuravam o metal, improvisa-
da quantidade de aspirantes à riqueza.
Povoavam-se os centros próximos às
minas, acentuavam-se os desequili-
brios econômicos, porém a vida ia se
sistematizando, apesar de motivos de
contusão.
Delineavam-se os ajustes da economia,
mérito sempre dos ligados ao comér-
cio, providenciando o indispensável
abastecimento. Vários e novos produtos
começavam a ser desfrutados, princi-
palmente o couro, produzindo sapatos,
recipientes, mobiliário, selas e arreios
para cavalos e até mesmo o preparo de
roupas. Os forasteiros' continuavam a
vir de Portugal, como também elemen-
tos de outras capitanias, pessoal práti-
co na montagem de novos empreendi-
mentos, participando de atividades
Úteis nos centros que iam surgindo.
Minas ia se construindo, surgindo arte-
sanato de tudo que se precisava, nota-
damente materiais para usar na constru-
ção.

E um período em que se verifica um mo-


do comum no agir, pensar e querer, uma
coincidência e uma certa empatia, evi-
dente ou tácita ainda, que vinca e refor-
ça os interesses classistas, inclusive a
concretização de uma série de eventos
de ruptura que incidem para mudar ru-
mo: inícios de uma consciência nacio-
nal. O brasileiro agora ainda é, e, ao
mesmo tempo não é mais, algo colo-
nial; ergue-se como elemento com a
mais firme oposição a fiscal, mascate e
'marinheiro”.
Teremos a possibilidade de constatar,
nos tempos de Brasil-Brasil, um aconte-
cimento exemplar: a trágica calamida-
de que se abateu sobre o Rio de Janeiro
em fevereiro de 1988, determinou a soli-
dariedade do Brasil inteiro, além de in-
tervenções de compreensão por parte
de numerosas manifestações estran-
geiras. Episódios de franca ajuda para
com as vítimas das enchentes consti-
tuiram provas de afetividade comoven-
tes, a serem assinaladas como provas
de que o Brasil vai demonstrando a coe-
são da nacionalidade.

Desmontados os acampamentos da
fortuna, os primitivos agrupamentos são
transformados aos poucos em aldeias,
sendo construídas as primeiras igrejas
onde os padres iniciavam a adoração
das imagens com fé e o quanto ao der-
redor se arranja. Surgem as vilas, inter-
vindo novos capitães chegados de Lis-
boa a fim de assistir à formação das ci-
dades. Logo se processava o apareci-
mento de adequadas administrações.

54
]
h

Dá prob asas afaciro “á

O]
PT

pi Da o us e rn om RE dae ado
i m
Ju

Coroa de D. Pedro Il: ouro, brilhantes e pérolas, manufaturada pelo ourives francês
Charles Marin em 1841, para a coroação do Imperador.

Espadim em ouro com aplicações de


esmalte verde e branco, marfim no pu-
là-
nho, guardas em ouro, legenda na
mina: Viva D. João VI, Rei do Reino
Unido" Ourives lisboeta do começo
do século XIX, peça rara e interessante
relativa à história portuguesa e ao
mesmo tempo brasileira; 20 cm com-
primento. Coleção particular, São
Paulo.

5
Do improvisado se passava ao definiti-
vo, cada bairro criando ambientes para
reuniões. Não faltam os pelourinhos.
Como expõe Joaquim Felício dos San-
tos, até no Oitocentos: “Uma picota, em
lugar bem público, com uma argola de
ferro presa no alto, onde se amarram os
escravos para serem surrados. Desgra-
cadamente em muitas de nossas vilas e
cidades ainda se ostenta em público
esse sinal de barbaria da atualidade.
Simão de Vasconcellos descobriu um
documento já de 1711 relatando que em
Nossa Senhora do Monte do Carmo de
Albuquerque, a Câmara aprovou uma
das primeiras despesas: a construção
do pelourinho, “a primeira armadilha
para aterrorizar O povo e, mais que tudo,
como medida acauteladora dos reais
quintos que iam redourar as carruagens
e multiplicar os colares da Bahia, eram,
como se sabe, a forca e o pelourinho”.

Uma das causas da diminuição da mi-


neração era atribuída às deserções dos
lavradores, talvez por terem encontra-
do o que lhes interessava. Isto já no últi-
mo decênio do Setecentos. Na sua Me-
mória', Silva Maia insiste a respeito do
contrabando e da sonegação com o co-
mentário que se reporta também para
informar qual a opinião moral de um bra-
sileiro do começo do Oitocentos: um
panegírico que poderia ser proclamado
a cada dia nestes tempos de fim do sé-
culo. Eis: Ainda alguns há, que dotados
de virtudes Civis e Religiosas, dão a
Deus o que é de Deus; e a Cesar o que é
de Cesar; sabendo que faltar ao paga-
mento dos impostos Legaes ha con-
trahir huma das primeiras obrigações
do Cidadão, o que tal contravenção os
tornaria indignos de partecipar dos
commodos, que a sociedade não pode
promover sem as despesas para que
não concorressem..

O ouro andava desaparecendo, mas em


suas montanhas ficavam outros bens
passíveis de aproveitamento, entre
eles o ferro que tempos depois nos da-
ria uma Volta Redonda e as indústrias
correlatas; e também minas de chumbo,
platina, cristal de rocha, berilo, bauxita,
antimônio, cassiterita; ensejava, ainda,
a extração de estanho, zinco, cromo,
cobalto, titânio, enxofre e várigs outros
materiais: a potencialidade do Brasil.

Vila Rica torna-se Ouro Preto e, pela


abundância dos diamantes, Arraial do
Tijuco passou a chamar-se Diamantina.
Imaginável o afluxo de garimpeiros por
lá. As montanhas de Minas sempre
mais conquistadas e disputadas. E o ou-
ro que permite descobrir pouco a pouco
a vida urbana.
A Colônia encontra a prosperidade e
Ouro Preto esbanja a riqueza. Felizmen-
te as artes são testemunhas da ressur-
reição.
A arquitetura aparece em um estilo bar-
roco de sentido português; todavia, po-
de-se pensar num estilo indicado como

56
ASR
dm
A
o
im
A
Caixa de fumo de Frederico o Grande, trabalhada em ouro, a qua! mostra o Hei
usando a faixa da Ordem da Aguia Negra, os lados e a base gravados com sim-
=”

bolos das Artes e Ciências, c. 1762.

Taça de ouro da Rainha Anne pela


Bramham Moor Racer em 1705e 1708.

df
brasileiro, pois são notados motivos no
decorar que surgem apropriadamente
da Terra.

Barroca era também a vida por lá. Fácil


comprovar, especialmente através da
constatação da pomposidade de cer-
tos documentos. Assim, a esperteza
dos que em torno do ouro queriam ga-
nhar através de outras empreitadas, co-
mo transportes, drogas, gado, tabaco,
sal, eram perseguidos por ordens dita-
das no Palácio de Nossa Senhora da
Ajuda, por meio de solenidades como
esta, datada de 1761: “Conde de Boba-
della, Mestre de Campo, General dos
Meus Exercitos, Principal Comissario e
Plenipotenciario da Divisão dos Limi-
tes da América Meridional das Partes
do Sul, Governador e Capitão Geral.
Amigo D'El-Rey..., para o conde resol-
ver um minúsculo problema de 'machos
e mulas. E constante um uso supérfluo
de palavras para fatos tão corrigueiros.
Mais que barroco, rococó.
As novas cidades, como também o Rio
de Janeiro, andavam tomando seu
próprio vulto, ricas em um pouco de tudo.
Há, ou pode se imaginar, crônicas que
fazem pensar na Idade Média. Cair nas
tramas dos inescrupulosos ou acreditar
nos charlatões eram acontecimentos
do dia-a-dia. Comunicação se dava pe-
la via de boatos. Encontravam-se sabi-
dos camuflados de falsos mendigos.
Significativo o número dos que Santo
Agostinho apelidava de 'vagi, vagabun-
di, vagatici'. As praças cheias dos im-
pingidores de ungúentos e de remédios,
saltimbancos, comedores de fogo e fal-
sos sacerdotes.
Apresenta-se todo um pessoal bem fa-
lante, os quais se inspiravam, para vi-
ver, nestes versos populares italianos:
“Con arte e inganno/ vivrô meta
dell'anno/ con inganno e con arte/ vivrô
laltra parte.
Uma leitura recente nos remeteu à Itália
da Idade Média e da Renascença, pe-
rodo pleno de guerras, conquistas, flo-
rescimento do Cristianismo e outras
maravilhas. Porém, em torno dos gê-
nios, dos antecipadores, da devoção e
dos Santos, devem-se conhecer outras
realidades que despontaram naqueles
tempos, como os traficantes que já vi-
mos, os sujeitos de costumes nem sem-
pre persuasivos, que, por baixo do pa-
no, desenvolviam a vida, emergindo o
antigo contraste entre os que passam
bem e os que lutam para sobreviver.
Também a Colônia era povoada de ha-
bilidosos que utilizavam vias escusas
para subir.

Vamos, de vez em quando, dar notícias


de Portugal.
Esta é saborosa e vem de Coimbra.
Francisco de Melo Franco tem a audá-
cia de colocar em circulação, manuscri-
to, O Reino da Estupidez', dedicado ao
conservadorismo obscuro daquela uni-
versidade; a estupidez, banida de todos

8
Pingente Lalique em ouro e esmalte,
c. 1900.

Pelo que confirmam recentes leilões


internacionais, um outro 'ouro' que vai
se afirmando é a obra de arte, das anti-
gas às modernas. Alguns preços al-
cançados por pinturas de Van Gogh,
Renoir, Cézanne, Modigliani e até Pi-
casso desequilibraram o mercado.
Nas grandes e potentes nações se atri-
bui sempre mais valora pinturas e es-
culturas. Daqui a pouco os economis-
tas deverão incluir nos relatórios de
valores o andamento do mercado in-
ternacional.

ça E ria á
-. iii Rd & F F iz
PE PE RR TRA a TT PRA
E : ee. ma LADA

Par de braceletes de ouro e diamantes desenhados por J. Brateau, 1878,


para a Maison Boucheron, para a Exposição daquele ano.

59
os países, lá se refugia juntando-se à
superstição, ao fanatismo e à hipocrisia,
recebendo as mais altas homenagens.
É um novo Gregório de Mattos que em-
prega a sátira desde que não é possível
usar a força. Ao longo do século, a Me-
trópole espolia sua Colônia sem pie-
dade, desperdiçando o Ouro das Minas
no luxo. E suficiente uma alusão à cons-
trução do monstrengo arquitetônico de
Mafra, que empregou dezenas de mi-
lhares de braços e 2.500 carros de bois:
profusão de mármores, estátuas, telas,
madeiras brasileiras, sinos, carrilhões,
adornos, tudo inspirado na já exaurida
Renascença italiana.

A mineração, pobre em técnica, prisio-


neira da avidez oficial, continua a ser
praticada na base escravocrata.
Tentativas de desviar rios para encon-
trar bons cascalhos não dão resultados,
pois a administração tem vista curta, só
interessada no negócio do quinto para a
Coroa e no dos meirinhos, guardas-
mores e guardas menores. Já na me-
tade do século, o quinto tinha come-
çado a murchar através de fraudes, abu-
sos, violências e corrupção.
Aumenta então a tomada de consciên-
cia. Compreendia-se que aquela re-
messa de exageradas fortunas para as
margens do Tejo merecia oposição. A
exploração diamantífera mostrara-se
ainda mais degradante; Diamantina,
por exemplo, foi transformada em uma
ilha incomunicável, dependendo direta-
mente da Coroa, ocupada militarmente.
Havia o terror da forca para aqueles que
praticassem o menor deslize. Mesmo
assim havia o desafio de uma figura
prestigiosa, o faiscador, à margem da
lei, um tipo bem romântico de jagunço
justiceiro, às vezes símbolo da liber-
dade e independência.

A vida de Minas Gerais, como previsto,


deveria dar ao Brasil o herói da liber-
tação.
O regime colonial ia se esgotando, o ar-
bítrio do ouro finalizava, enquanto na
Europa o furacão de Napoleão intimi-
dava as nações, inclusive Portugal.
Consequentemente o Brasill começava
a esperar uma total libertação, pelo me-
nos alimentava alguma esperança de
tempos melhores.
O Brasil andou compreendendo que o
jugo português estava com seus dias
contados. Os Inconfidentes já tinham
dado os primeiros sinais, sendo o de Mi-
nas o mais consistente: Tiradentes es-
tava preparando uma revolução. O he-
rói, preso, enforcado e esquartejado em
21 de abril de 1792, ensejou a conclu-
são de um processo marcado por um
crime, inominável, do regime opressor.

A página do enforcamento de Tiraden-


tes por ordem da 'Rainha Nossa Senho-
ra' de Portugal, é a todos os brasileiros
notória. Todavia é bom recapitular como
foi redigida. “Manda que com baraço e
pregão seja levado pelas ruas públicas

60
Um laboratório de ourivesaria era quase sempre estreito e escondido, contando
com poucos instrumentos, também para a fundição, pois através deste meio pe-
ças pequenas podiam ser produzidas. Mas o ateliê se tornava repleto de idéias e
fantasia quando o ourives se punha a executar uma obra, o que se pode associar
ao anônimo mestre que deu à luz esta singular obra-prima, taça em ouro e es-
malte do Sagrado Imperador Leopoldo |, datada de 1665, em leilão na Sotheby's,
da coleção Nelson Rockefeller.

Quem acompanha o mercado da ourivesaria antiga, especialmente através dos


leilões em Londres e Nova lorque, descobre quantidades significativas de obje-
tos de ouro, confirmando o interesse sempre crescente por este setor. São ofere-
cidas às vezes peças surpreendentes e de grande importância, de épocas e de
lugares os mais variados. Além dos objetos do passado, nota-se um mercado
notável para produções contemporâneas, sendo o art-nouveau bastante consi-
siderado. Assim, nestas páginas, aparecem algumas ilustrações que lembramo
quanto a ourivesaria é apreciada.

61
desta Cidade ao lugar da forca, e nela
morra morte natural para sempre e que
separada a cabeça do corpo seja le-
vada a Villa Rica, donde será conser-
vada em poste alto junto ao lugar de sua
habitação, até que o tempo a consuma,
que seu corpo seja dividido em quartos,
e pregados em iguaes partes em postes
pelas estradas de Minas nos lugares
mais públicos, etc.

Como vimos, Pombal se preocupou em


incentivar alguma indústria, mas deve-
seobservar que na Colônia eraterminan-
temente proibida a presença de qual-
quer fábrica ou manufaturas'. O que se
produzia utilizando qualquer espécie de
maquinário implicava em uma solicita-
ção prévia, sendo muito complicado
conseguir-se alvarás, os contraventores
punidos adequadamente.
A instalação de estaleiros para constru-
ção de caravelas foifeita pararesolveros
problemas dostransportes. Portugal não
cobria a demanda
Levaro material para litoral já era com-
plicado, devido aos possíveis ban-
didos.
De Minas para o Vale do Ribeira, alguns
desvios demandavam a São Paulo ou
Rio de Janeiro, servindo para isto o em-
barcadouro de Paraty. Os transportes
marítimos tinham uma certa organiza-
ção. Vinham de Portugal em frotas, es-
coltados por navios de guerra, e volta-
vam preparadas para resistir a even-
tuais assaltos.

Passemos mais uma vez a Portugal. O


que restava de ouro possibilitava solu-
cionar as dificuldades do reino, que per-
mitia ainda luxar na corte e nos deriva-
dos, com ondas de hedonismo, até que
se percebeu sua fuga para a controla-
dora Inglaterra. E no penoso reinado de
José | e durante a caricatura do rei Sol,
João V, que Portugal acompanha a de-
cadência das minas do Brasil e sua pró-
pria decadência política.
Raymundo Faoro em 'Os donos do po-
der se reporta a uma instantânea faceta
dessa situação, recorrendo ao historia-
dor português Oliveira Martins: “A per-
versão dos instintos, o vazio das inteli-
gências, a maldade imbecil e a carolice
piegas e lubrica retratavam a primor, O
estado caduco do corpo da nação nes-
se sudário de brocado de sacristia, fe-
dendo a incenso e a morrão. Portugal
era um cenário de ópera, armado numa
igreja.
Enquanto no Brasil se pensava na vitó-
ria das Inconfidências, Portugal se dis-
tinguia pelos costumeiros hábitos de
pomposidade da Coroa. Para dar con-
ta destes, eis a crônica da missa do
casamento da filha de um intendente,
já em 1815, descrito brilhantemente
por Joaquim Felício dos Santos: ....
cantada que tudo se fez com muita
pompa e grandeza: brilhava portoda a
parte boa fivella de oiro, meias de se- Colar, ouro e diamantes, século XVill,
da cor de carne ou perola, chapeos à procedente de Sabará, MG. Coleção
talaveira, a boa casaca de pano fino; a no- particular, São Paulo.

62
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Uma das jóias favoritas da Duquesa de Windsor, datada de 1940. Fotografias de


mais de trinta anos já mostram a Duquesa usando esta jóia, criada para Cartier
por Jeanne [oussaint, a qual discutia com o Duque de Windsor sobre muitos pro-
jetos de jóias.

63
breza de Tejuco jamais se viu com tanta
magnificência.
E quanto as Senhoras, isso então, fal-
tam-me inteiramente as expressões: eu
as contemplava com uma admiração
extranha: a natureza e a arte com que
estavam ornadas, as fazião amaveis...
Seguiu o jantar.
Eram tres salões... as iguarias exhala-
vão um cheiro tão delicioso... Burbulha-
va nos copos o generoso vinho do Pico,
da Madeira, Feitoria, Champagne,
Porto... licores exquisitos, cerveja de
toda a qualidade, doces com muita
grandeza; tudo formava o espetáculo
mais brilhante e majestoso que se pode
imaginar... “À descrição continua por
páginas e, lendo-a, recorda-se um re-
cente casamento da filha de um marajá
atual que os jornais comentaram como o
mais espetacular. O ouro pode ser mal
empregado, vício tão antigo quanto
contemporâneo.

Voltamos, um momento ao Setecentos.


Foi um século de fatos do 'outro mundo”.
Atravessando oceanos, em Sidney: ba-
talhas entre autóctones ainda existentes
e os brancos que apanharam por cele-
brar o bicentenário da “descoberta”. A
Inglaterra tinha despachado para aque-
la ilha-continente oitocentos bandidos
que deviam levar para lá a civilização
ocidental.
É para ficar em casa: o Setecentos, dito
também o século do ouro, em vez da In-
confidência, nos reserva acontecimen-
tos de remarcável importância, além
dos que se notaram, cada um deles
merecedor de comentários. E o século
que vai vencendo o patronato dos portu-
gueses, sacrificando o emancipador
Tiradentes.
O ouro escavado no Setecentos dá vida Colar desenhado pela paulista Terezi-
a Minas Gerais e se a fortura tem outras nha Hilsenbeck, conseguindo um má-
destinações, a gente do Brasil se im- ximo de simplicidade na forma e na de-
porta mais em encontrar novas vias não coração.
só de sobrevivência, mas outros ouros.

De tanto sangue derramado por decisão


de El-Rey, restaram as solitárias mas
cordiais cidades de Minas, as artes ser-
vindo, como no passado, para levar ao
esquecimento a realidade das ações. E
um esplendor de monumentos em que
arquitetos, escultores, pintores e ourives
se esmeraram, produzindo as obras que
hoje nos encantam e que constituem um
ajuste do barroco, o nosso barroco. O adereço feminino andou se demo-
Imputado pelas Ordens, imposto aos cratizando neste século. Como ma-
improvisados construtores, deixados terial usado passou-se do ouro à prata,
porém livres para descobrir outras for- da prata aos metais de modesto valor
mas no infinito do modelar, até mesmo e até aos plásticos, sem contar vidro.
elocubradas em diversidades. Aliás de- De fato, o ornamento passou a ser pro-
viam juntar até ao exagero novos moti- duzido industrialmente, tendo no co-
vos, enriquecê-los, moldá-los com fi- mércio uma extraordinária aceitação,
nura, celebrar requintes nunca antes a variedade do design decorativo com
tentados: a única liberdade daquele contínuo processo inventivo. Uma das
tempo para lembrar tanto o ouro quanto razões desta situação se deve à pre-
Deus. Sabe-se: arquitetos que inovam; servação do ouro pelo seu valor: geral-
escultores com as mãos sobre a pedra- mente as jóias são guardadas nos co-
sabão, o Aleijadinho eternizando o inol- fres de bancos, pois ouro e pedras
vidável de Congonhas do Campo; pin- preciosas constituem a ambição dos
tores caseiros representando as Nossas cidadãos.

64
O ouro representou e representa O or-
Er

namento mais querido pela mulher. O


uso vem das velhas épocas, pois é co-
nhecida a popularidade do metal na
Mesopotamia e no Egito, produtores
de jóias de deslumbrante artifício. O
uso continuou nas civilizações suces-
sivas. Como vimos, já os historiadores
do Quinhentos anotavam no Brasil o
enfeitar das esposas dos fazendeiros.
Para recordar o quanto hoje se produz
no setor, eis algumas jóias de artistas
contemporâneos, de singular re-
quinte. À respeito de Orietta del Sole
valem estas observações: são formas
originais tanto pela naturalidade
quanto pela conquista da laboriosi-
dade, que aderem à tendência sempre
mais aceita dasimplificação,o compor
preferindo a linha reta e a modelação
livre; às vezes um toque de feitura sur-
preendente dilui-se discretamente no
conjunto de um colar ou de um bra-
celete. Particular atenção é dada ao
esmero das peças, elaboradas meti-
culosamente no detalhe e no poli-
o componentes da graça de uma
jóia.
Senhoras familiares, às vezes levadas
ao céu em arredondadas nuvens, pre-
paradores de ingredientes de ouro e
prata, valendo uma lavra de prata dou-
rada; e quantos artesãos se constituiam
em autores do que ocorria nas missas e
em procissões, desde os paramentos
até as campainhas?
Afinal: a arte em Minas é tudo o que nos
resta. O tráfego colonial sendo esque-
cido.
Também a vida podia-se dizer ainda
barroca, pois o comer era difícil e com-
plicado, os valores envolvidos na mais
arbitrária das apreciações. Como for-
mar uma idéia”? Pagava-se tudo com ou-
ro, desde o raro que o contrabando
oferecia, até as armas, o valor mais
conspícuo, chegando de fora algum
vestuário de moda.
E o sujeito que o mostrava mal vivia num
barraco.

Começava um outro século, o quarto das


Américas. O Brasil então tocando o fim
das travessias coloniais, habilitando-se
dali a pouco a emprender uma nova es-
perança, pois se tornará uma Terra livre,
complicada, porque a se estruturar, in-
felizmente, ainda com a escravatura
como base da economia, a ignorância
popular ainda sério obstáculo, valendo o
mandachuvismo de novos patrões.
Andaram-se apontando, em cada re-
gião, os mais poderosos, geralmente do-
nos de fazendas, os quais depois da
queda do metal precioso tornaram-se
previdentes, cuidando e manipulando a
antiquissima riqueza. Da maioria deles
poucosesabiae, não usando a definição
plutocrática, os mais letrados pronuncia-
vam o nome de Plutão que, se dizia, era
deus da agricultura.
De repente, as tropas de Napoleão con-
vulsionam a Europa e a corte de Lisboa
é obrigada a fugir, transferindo-se para
o Rio de Janeiro. O comando é do Prín-
cipe-Regente Dom João, uma vez que
reinava em Portugal sua mãe, Dona
Maria |, a Louca. E a Coroa que se trans-
fere para a Colônia. Estamos no primei-
ro decênio do Oitocentos, período em
que efetivamente começa o Brasil ver-
dadeiro.
Um dos primeiros atos do regente, por
instâncias do Visconde de Cayru, foi o
de abrir alfândegas, impostas para con-
tinuar os modos do domínio.
Para afirmar a extravagante administra-
ção de carimbo português, ao contrário
do que pode ser considerado regular,
observemos que quando o novo chefe
retornou à metrópole, levou em sua
companhia nada menos que 3.000 cor-
tesãos, então brasileiros.
O ouro, depois da vinda do Principe
Dom João, tornou-se moeda circulante,
com a prata e o cobre.
Uma vez aqui, o Príncipe-Regente, põe-
se a pensar em tudo. Até as artes mere-
cem uma atenção especial, ao ponto
de, em 1816, convidar uma missão artís-
tica francesa, chefiada por Joaquim Le-

66
O ouro em fio bordado numa colcha de seda representando pássaros sobre um
fundo de vegetação tropical, um motivo oriental importado de Macau. Coleção
Museu do Ouro, Sabará, Minas Gerais.

67
bretton, integrada entre outros por
Grandjean de Montigny, Nicolas Antol-
ne e Auguste-Marie Taunay, Jean-
Baptiste Debret, Charles Simon Pradier
e os irmãos Marc e Zéphririn Ferrez.
A Inglaterra segue, passo a passo, Por-
tugal; tanto isto é verdade, que os nego-
ciantes ingleses se precipitam para o
Brasil. São eles os provedores, a come-
çar com a venda de vidros. Em 1764, 0
comandante Byron, maravilhado, cons-
tatara na Capital que somente o Palácio
do vice-rei apresentava vidraças, ense-
jando, então forte importação de vidro.
Com o vidro vinha também a tinta para
pintar as galerias, toneladas de ferro,
barris de manteiga e sabão, e até
mesmo mobiliário e peças para decora-
ção. Na publicidade dos jornais, tanto
no Recife quanto na Bahia, aos ingleses
deve ser deferido o papel de renova-
dores.
Gilberto Freyre reproduz em seu livro Aqui se oferece ampla relação do que
numerosos anúncios em que as indús- se refere as moedas de ouro, sua apli-
trias britânicas oferecem de tudo: ma- cação mais comum para representar
quinário, serviços de banco, compa- valor nas práticas da vida.
nhias de seguros. Até artigos 'para ca- Além de uma escolha de peças anti-
valheiros': “variado sortimento de feitio gamente de uso nacional, hoje tornan-
francez e inglez de diversas fazendas e do-se raridades numismáticas, eis
varias cores;casacas pretas de panno fi- uma página reservada a um conjunto
nissimo insuperavel; chapeos de castor recentemente leiloado na Sotheby's
pretos e brancos”. Se oferecia também de Nova lorque, registrando valores
água de colônia, uísque, cnampanha, incomuns. Há um certo tempo, aumen-
mostarda, relogios, carros para dois ca- tos dedicados a obras raras vêm sur-
valos, etc, mercadorias que eram adqui- preendendo, o que de resto se registra
ridas pelo desprovido rico, mas permi- para as artes plásticas.
tindo que o Brasil aviasse um outro Vão-se estabelecendo os sintomas de
modo de viver. uma concorrência ao ouro? Ão que
parece deve-se refletir sobre certas
Até aqui falou-se do metal, das pos- importâncias que distinguiram, por
sibilidades de consegui-lo, caçá-lo, exemplo, pinturas de Van Gogh e dos
tundí-lo. Alude-se ao ouro que já no mestres impressionistas, inclusive de
Quinhentos embelezava as coloniza- elementos contemporâneos. Os valo-
doras, resultado de empresas laborio- res deram realce excepcional às artes
sas, às vezes prenhes de sacrifícios he- plásticas dos mestres do passado.
rÓiCos, pois nos primeiros tempos as As referências dos valores continuam
pesquisas se processavam de uma porém na base do ouro e das cotações
complicada maneira. O oposto daqui- publicadas diariamente, demonstra-
lo que hoje acontece, pois é possível ção da sua contínua potência, pois
escavar galerias a uma profundidade tudo participa do estabelecer o
de 2.500 metros, 1.600 abaixo do nível “quanto vale
do mar, o que nos dá uma idéia do que
significa minerar.
Refere um técnico: “Adentrá-las des-
faz a idéia do ouro fácil e exposto, por-
que os túneis perseguem filões invisí-
veis, detectados apenas pelos espe-
cialistas que estudam as rochas. São
quase duas horas de caminhada até o
nível mais profundo. O forte calor, o ar
rarefeito, a poeira das rochas e a dis-
tância, são os obstáculos que o ouro
propõe a quem se atreva a desvendá-
lo”.
Nas minas de hoje o garimpeiro é ou-
tro. E já que se fala de mineração, eis
também um alarme de 'Visão”: “Des-
conhecidos de boa parte dos brasilei-
ros, OS recursos minerais do país cor-
rem o risco de ficar eternamente soter-
rados. Mal dimensionados, são ainda
cobertos de preconceitos, entre os
quais o nacionalismo estreito, que im-

68
o de am o e d a s de o ur o, em le il d os a partir d e um mile
lãão este ano na Sotheby'y's de Nova lorque, com preços estiimmaad | oito-
Co le çã s r

69
pede o desenvolvimento maior da ati-
vidade mineradora”. Entra em discus-
são a política.
Os parágrafos ligados ao ouro no Bra- “Em 1641, apenas começando o pri-
sil e suas peripécias, devem agora hos- meiro anno da dynastia bragantina, o
pedar um fato extraordinário: ainda te- marco de prata corria por dois mil e oi-
mos uma imensa mina em atividade, a
já lembrada Serra Pelada. tocentos. No anno seguinte a oitava de
Foi há uns dez anos que garimpeiros ouro, que valia quatrocentos e ses-
improvisados e forasteiros aborda- senta e oito réis, a 29 de Março subiu a
ram aquela Serra, ao que parece bas- seiscentos e sessenta, o marco a qua-
tante rica, tanto que acabou virando renta e dois mil duzentos e quarenta
um favelão, abrigando garimpeiros e réis. Estava dado o primeiro passo... À
suas famílias. lei de 4 de Agosto de 1688 fixou o grão
Repete-se lá o que ocorria nas monta- de ouro em vintem, a oitava em mil e
nhas de Minas tal e qual, se lermos as quinhentos réis... A lei chegou à Bahia
reportagens dos cronistas do Sete- em meiados do anno seguinte,
centos e as dos cronistas de agora. As quando, por morte do titular Mathias
antigas aparecem mais genéricas, en- da Cunha, governava interinamente o
quanto as de hoje mais edificantes. arcebispo D. Manoel da Ressurreição,
Os mineradores agora estão organiza- que a transmitiu ao desembargador
dos num sindicato e bem atuante para Manoel Carneiro de Sá, chanceller da
defender os interesses coletivos. A Relação, para publica-la, como era de
Serra é uma vila, que contémtodo o seu officio. Entre os dois potentados
necessário, até com treze igrejinhas. parece houvera attritos e não reinava
Tem também um posto de polícia. Tra- grande harmonia. O chanceller não
ta-se de um fenômeno social-traba- deu signal de vida. O arcebispo man-
lhista de grande importância, com dou proceder á publicação, “ao som
seus problemas a serem possivelmen- de caixas e tambores que alvoroçava
te resolvidos. o povo e não sabia si era leiou bando ,
Os acontecimentos de dezembro de commenta Carneiro de Sá. A attitude
'87 deveriam ensinar, pois a revolta da- do chanceller procedia de motivos su-
quela turma populosa foi séria. Neste periores a despeitos mesquinhos,
tempo da eletrônica e dos milagres da como explica em documento official.
química, o ouro é ainda captado num Tinha duvida si podia applicar-se ao
lavrar parecido ao dos séculos, para Brasil uma lei relativa a moedas que
não dizer ao dos milênios passados. aqui não corriam, e mandava que as
Nos últimos anos a situação tornou-se patacas de menos de sete oitavas de
crítica. Em 1986 uma dezena de pes- prata fossem pesadas e valessem a
soas morreu devido ao desabamento tostão a oitava. A generalidade das
de um barranco de 25 metros de altura. patacas da Bahia não passava de qua-
No mesmo ano, outros dois morreram tro oitavas e meia e valiam seiscentos
soterrados. O episódio voltou a se re- e quarenta; cada moeda perderia por-
petir em agosto de '87, matando mais tanto, levada á balança, cento e no-
sete garimpeiros e ferindo outros trin- venta réis; o prejuizo total seria de tre-
ta e quatro. zentos mil cruzados; resolveu por isso
A uns trinta quilômetros de Serra Pela- participar á côrte estes inconvenien-
da surgiu, aliás, está nascendo um no- tes e esperar pela decisão para agir. O
vo centro, pois um fazendeiro desco- arcebispo, recemchegado à terra e
briu possíveis jazidas do querido me- pouco conhecedor da situação, con-
tal. Foram alguns garimpeiros da Ser- fessa ter sentido escrupulos; decidiu-
ra que alugaram pedaços daquela pro- o a noticia de se haverem antecipado
priedade que começava a revelar gra- em Pernambuco. Apenas a lei se di-
mas de ouro. Todos concordaram em vulgou, soaram vozes descontentes,
não divulgar a novidade, mas hoje a in- encheu-se a Camara de povo, e foi re-
ventada Catia é meta de tudo quanto digido um papel contrario á execução
se precisa para dar vida aos primeiros da medida. O arcebispo convocou en-
refúgios, o comércio presente, junta- tão uma junta geral a que assistiram
mente ao barraco-igrejinha, a ilusão pessoas de todos os estados, — alguns
do ouro atraindo gente. Já se pensa ministros, frades e sacerdotes, asse-
num policial, num posto de gasolina, gura Carneiro de Sá, que não quiz
prostitutas e tudo o mais. O fazendeiro comparecer. Votaram-se varias re-
proprietário desempenha as funções soluções: eliminou-se o emprego das
de coordenador, cuidando de dar uma balanças e fixou-se em dois cruzados
certa regularidade à abertura e manu- o valor da pataca...” J. Capistrano de
tenção dos barrancos, e cada um dos Abreu, 'Ensaios e estudos (crítica €
voluntários vence como pode, sem história), 1932.
apostar no número favorável de uma
das muitas loterias.
A revista 'Veja', depois de uma com-
pleta reportagem sobre Serra Pelada,
publicou o 'ponto de vista do enge-

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Frontispício de um livro fundamental para se conhecer a história do ouro no Brasil,


publicado em 1944 em comemora ção ao cinguentenário do 'Instituto Histórico e
Geográfico de São Paulo"


nheiro de minas Décio Sândoli Casa-
dei, o qual conclui: “mineração não é
arimpo. .,
cravo “E o exemplo cru da explo-
ração do homem, e o que mais choca,
com a conivência de toda a nação. Não
há mais como esconder essa mentira
do enriquecimento fácil. A verdade é
que alguns poucos donos de barran-
cos enriquecidos abusam da humilda-
de e da necessidade de sobrevivência
de dezenas de milhares.
Evidentemente que para os bem pen-
santes e, neste caso, de um conhecido
profissional do ramo, o Governo de-
veria resolver o sério problema mais
do século XVIII que do XX. Todavia os
garimpeiros se opõem terminante-
mente a uma proposta de mecaniza-
ção, pois da mina depende a sua so-
brevivência.
Mistérios e paradoxos do garimpar.
As normas, aliás, leis para o comércio
do ouro, continuaram a valer em todos
os tempos e em todos os países onde o
metal era e é encontrado.
Para ficar no Brasil, o Banco Central,
para a aquisição do ouro bruto nos ga-
rimpos oficialmente funcionando, es-
tabelece normas de meticulosa severi-
dade. As instituições financeiras, além
da Caixa Econômica Federal, para
operar nesses eldorados, devem se
submeter a uma série de imposições
tais que fazem pensar no quinto e nos
décimos de portuguesa memória. E é
justo que seja assim.
À documentação exigida para a autori-
zação é a seguinte: uma solicitação
com a qualificação da instituição, a
exposição fundamentada do pedido,
o local, a data e o nome e cargo dos sig-
natários; duas cópias datilografadas e
autenticadas da ata da reunião do con-
selho de administração ou da direto-
ria, ou do ato deliberativo, relativos
aos pedidos de sociedade por quotas
de responsabilidade limitada, como
endereço completo do posto, a área de
abrangência de suas operações e, se
for o caso, os dados da agência bancá-
ria à qual ficará subordinada e ainda
cópia do ato declaratório da Secreta-
ria da Receita Federal que autoriza a
instituição a operar com ouro bruto.
O pitoresco do garimpar foi e é ainda a
burocracia.

Mas parece que não é possível cair fo-


ra do ouro, pois o mando é dele.
No 'Anuário Estatístico do Brasil' de
'86 do benemérito IBGE, na seção 'In-
dústrias extrativas de minerais”, se
aprende que a produção de ouro entre
'83 e '85 foi respectivamente: bruta,
13.308.608, 13.405.310 e 17.740.077;
beneficiado, 53.684, 37.218 e 29.678;
quantidades expressas em quilogra-
mas. Nos mesmos anos (fonte do Ban-
co Central) a reserva de ouro, sempre
em quilos, foi, no início do ano: 4.735, Moedas de ouro, acima de 4000 réis,
16.819 e 45.879; comprados: 51.489, emissão 1814; embaixo de 5400 réis,
29.084 e 50.622, comprados das minas emissão 1811.

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Moedas de três dobras (128800), cunhadas no Rio de Janeiro e Minas Gerais. Coleção José Claudino da Nóbrega.

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r e s de D. Joãao V cunhados em Vila Rica, cujo valor era de 20 mil réis no Brasil e em Portugal de 24 mil réis. Letra M De
GR a 1727. Coleção José é Claudino da Nóbrega.

13
nacionais: 51.499,28.142e 28.241,
vendidos ao Exterior: 39.415, 4e 24.
Então, o ouro não mais extraído, pelo
menos como se imagina, mas sem cer-
teza, retorna nos papéis da economia
nacional.

O ouro está provocando protestos no


Brasil. Um dos últimos veio das propri-
edades dos Yanomamis, uns duzentos
quilômetros a leste de Boa Vista, capi-
tal do Território de Roraima, onde já
em 1964 foram descobertos filões de
ouro. Foi precisamente na localidade
Xirixan-na na fronteira com a Venezue-
la, causando o recorrer as flechas que
tiveram por resposta os rifles. Chega a
Funai que tentou evacuar o Iniciado
garimpo, o que foi impossível. O en-
viado da 'Folha de S. Paulo, J. B. Na-
tali, numa reportagem, precisou que
“aquelas alturas, 36 monomotores já
haviam se deslocado dos garimpos de
Ipitinga (PA), com os pilotos cobrando
20 gramas de ouro pela ida e 15 gra-
mas para a volta à capital do Território.
O ouro é obviamente moeda forte. As
duas prostitutas que sabiamente se
instalaram à beira do rio Couto de Ma-
galhães cobram 5 gramas por meia
hora de amor”.
Parece que estamos lendo em Antonil
o milagre das Minas: a contínua apari-
ção de aventureiros especuladores; A numismática é, sem dúvida, hoje, um
alguns para chegar até lá, morrem ao dos estudos mais praticados. Existem
longo dos caminhos “com uma espiga coleções, especialmente em museus,
de milho na mão, sem terem outro sus- de grande importância e uma literatura
tento”. Compare-se com as cenas de específica em todos os países, tam-
hoje, tudo sendo resolvido até por via bém no Brasil como aqui se vê.
aérea.
Surgem então sérios perigos devido à
invasão dos garimpeiros, sendo aber-
tos na mata pousos de aviões que os
trazem com equipamento e viveres.
Continua-se, parágrafo por parágrafo,
agora que os tempos do ouro torna-
ram-se recordação, a enfatizar mais
uma vez que significativa quantidade
de trabalhos foi perdida pela adminis-
tração de Portugal, francamente in-
capaz ou, pelo menos desperdiçador
da fortuna que sua Colônia lhe tinha
oferecido.
Retirados das minas os últimos resí-
duos do ouro, reanimados os incenti-
vadores da autonomia da nação, a pro-
videncial ameaça de Napoleão a está-
tica Europa, tudo somado, favoreceu o
momento de pensar num Brasil sem
minas de ouro, porém rico, para não di-
zer riquíssimo, do potencial que lhe as-
segurava o futuro no convívio mundial.
Será então, depois da expedição-fuga
do príncipe Dom João ao Rio de Janei-
ro, numa última tentativa de mantero
domínio, que vai começar a vida do
Brasil, sem o ouro das minas, mas com
o ouro de um trabalho final e realmen-
te civil,
Civil para dizer predisposto a uma vida
menos desordenada. Os séculos que
podem ser classificados do ouro, com
um viver complicado e permanente-
mente provisório e remediado no que

74
De cima para baixo: barras de ouro em diferentes tamanhos; Casa de Fundição de
Vila Rica; Casa de Fundição de Sabará; também Casa de Fundição de Sabará;
Casa de Fundição do Rio das Mortes.

Imagina-se a circulação do ouro como moeda usada e seu deslocamento para Por-
tugal, outros países e colônias. As variantes dos centros da moeda foram numerosas
nos desenhos e nos dizeres. Restaram poucos exemplares que os colecionadores
de numismática disputam, entre elas as cunhadas na Casa da Moeda de Vila Rica,
MG, entre 1724 e 27.

Dobrões de ouro de D. João V. Casa da moeda de Vila Rica Coleção Jose Clau
-
dino da Nóbrega


se referia à vida moral, os três séculos
do colonialismo deixaram nos costu-
mes marcas a serem revisadas e modi-
ficadas.
O que encontra o descendente dos
monarcas lisboetas pode ser descrito
somente em páginas negativas, como
de resto fez o já lembrado Paulo Prado.
O novo regime devia enfrentar esta si-
tuação, seja na Capital como nas for-
mandas cidades, para não dizer no
Brasil inteiro, com a escravidão ainda
vigorando.
Ter vencido o atraso, começado a re-
construir uma sociedade, dado ativi-
dade às primeiras indústrias e inaugu-
rado o comércio com o mundo, deve
ser considerado consequência do
fim do ouro metálico.
O tema ouro, com seus numerosos des-
vios, às vezes com algumas comple-
mentações nem sempre pertinentes, re-
sulta do mergulhar na História do Brasil,

“memórias
encontrando não se sabe quantos cami-
nhos. As interferências, como se disse
nas primeiras páginas deste livro, são

do distrito
muitas, e nos obrigaram a parentesear.
Agora, no fim do inquérito, revendo o
acúmulo de anotações deixadas de la-
do, a surpresa torna-se mais convida-
tiva a rememorar um rico conjunto de
fatos e observações de certo interes-
diamantino
se, e que foram sacrificados a fim de fi- joaquim felício dos santos
car dentro dos limites de uma expo-
sição abreviada.
E

Foram citados numerosos depoimen-


tos de participantes do empreendi-
mento aurífero, de viajantes, de co-
mentadores. Agora para concluí-los
eis um reduzido número de atestados
que não se referem especificamente ao
ouro, mas ao Brasil. Afinal, com estas
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páginas se pensa concluir este ensaio.

Já foi notado, e parece estar hoje fora


de discussão, que o Brasil é um país
nascido, e será sempre considerado,
como uma terra de contrastes, nas
grandes, nas pequenas, às vezes nas
minúsculas novidades da vida, um Capa de um dos livros, documento a ser
lido, de Joaquim Felício dos Santos, da
bom sinal e, consequentemente, uma Editora Itatiaia de Belo Horizonte, em
democracia. Remexendo nos escani- colaboração com a Universidade de
nhos da História é que se pode aquila- ne Paulo, 1976. Capa de Cláudio Mar-
tar como se desenvolveram os fatos,
ins,
onde em qualquer setor se defronta
com os que são a favor e os que são
contra, beneméritos e não beneméri-
tos, toda uma pléiade que El-Rey nos
impingia, também ele com opiniões
contrastantes entre si.
Um livro que considera essa situação é
o de Roger Bastide, o qual promoveu,
na Universidade de São Paulo, a apli-
cação da Sociologia, aqui ensinando
ao longo de dezessete anos e forman-
do valioso grupo de alunos. Além de
reconhecido professor apaixonado
pelo Brasil, pois como foi dito, aqui se
integrou, de regresso à França, onde o
esperava uma posição digna do seu al-
to espírito, continuou tão brasileiro
quanto qualquer um de nós, dentre os
que mais amam este pedação de conti-

76
Como se informa no texto, uma das providências para recolher o quinto e evitar a
circulação do ouro em barras, era o controle dos contraventores. Para isso, nos cen-
tros mais produtivos instituíam-se as Casa de Fundição, para obter barras devida-
mente numeradas e marcadas com as insígnias reais, acompanhadas do certifi-
cado que garantia a autenticidade. As barras podiam circular no comércio, tendo
até função monetária. Mas a Coroa recomendava o uso das moedas de cobre vindas
de Portugal, trazendo a legenda 'Aes usibus apitius oro; isto é o cobre é mais pró-
prio para o uso do que o ouro.

PranaR para cunhar moedas. De 'Moedas do Brasil' de Álvaro de Salles de


iveira.

TT
nente americano, cheio de defeitose
qualidades, xingador e elogiador, feliz
e sofredor, ignorante e generoso...

Um italiano que escreve sobre os pri-


meiros decênios do Oitocentos se as-
sina Giuseppe Compagnoni. Trata-se
de um polígrafo leigo em historiogra-
fia e até onde se sabe inventor da ban-
deira branca-vermelha-verde, o qual
depois de ter afirmado que os Estados
Unidos sem exceção, o mais vasto
império que não por acaso a força nas
indústrias vai criando”, reserva um fu-
turo radioso ao Brasil, prevendo que
será o mais potente estado do mundo
emparelhando-se com os Estados
Unidos “com até maiores vantagens”,
precisando somente de uma boa ad-
ministração.

Quando foi publicada no Brasil a tradu-


ção do famoso livro 'Brasil, país do futuro'
de Stefan Zweig, este advertia: “Longe
de mimquerer dara ilusão de que no Bra-
sil tudo se acha no estado ideal. Muita
coisa ainda se acha no início e emtransi-
ção”. Porém quantas as realidades, as
conquistas desta Terra então de cin-
quenta milhões de habitantes. Contra o
frontispício se lê um 'mote' atribuído ao
conde Prokesch Ostem que em carta a
Gobineau, em 1868, quando este diplo-
mata hesitava em aceitar o posto de mi-
nistro no Brasil, observava: “Um país
novo, um posto magnífico, longe da mes-
quinha Europa. Um novo horizonte polí-
tico, uma terra de futuro e um passado
desconhecido que convida o estudioso
a pesquisar, uma natureza esplêndida e
o contacto com novas idéias exóticas”.

De vez em quando é bom anotar sobre


o que se esperava e se espera do Bra-
sil, Uma das lembranças veio através
da leitura do capítulo que Zweig de-
dicou ao ouro no Setecentos, onde até
se encontra um registro atribuído a
Martim Afonso de Souza, o qual, che-
gando ao Rio de Janeiro em 1581,
exclama: “Ha mais hentil gente”.

Até aqui foi a história que figurou nes-


tas páginas. Pode ser queo leitor,
observando as ilustrações, queira sa-
ber algo sobre a atualidade do ouro no
Brasil. Porém todos sabem que nosso
metal, desde sempre, continuou a ser
objeto de comércio, por sua liquidez,
rentabilidade e segurança. O registro
de seus valores está diariamente nos
jornais, sendo determinado pelas Bol-
sas de Mercadorias. Para saber a cota-
ção de hoje é só procurar nas páginas
econômicas.

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Barras de chumbo douradas, com as dimensões das verdadeiras. Veículo promocional do Banco Sudameris Brasil,

Réplica de moeda de ouro usada como objeto decorativo de mesa

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doo apequa rif íci o e
s e pesados comportamentos, sem contar os casos fatais. Parece que aqui estão os ultimos garim-
infe rno, no mel hor dos cas os, de purgatori o.
jov ens jog ado s na ave ntu ra. Vid a se não de ori gin and o vit ima s, com o oco rre no
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Eras velhos yrá tic os e mas sa que se consolidam em pro tes tos ,
lev a até a dec isõ es de
abnegada
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nde pon te pró xim a à mina . Esp lên did a foto de Fláv io Canalinga na
os garimpeiros obstruiram a gra
começo do do ano, ano, quando 19 88.
revista 'Veja', 3/fe vereiro/

81
Aqui a arquitetura da Terra do Ouro à espera do Barroco, notando-se as primeiras aparições daquele estilo no portal da
Igreja Nossa Senhora do Rosário, também chamada Capela do Padre Faria, em Ouro Preto, Minas Gerais. Da interessante
monografia que Maurice Pianzola dedicou ao barroco brasileiro.

O Museu do Ouro de Sabará, a única Casa de Fundição que restou no Brasil. De


Minas Colonial”.

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Âmbula em ouro fundido e cinzelado,


século XVIIl. De base campanular, re-
pousando sobre três pês fitomórficos,
| na base reservas com Arca de Ali-

| ança, Tábuas dos Mandamentos
Serpente Alada. Coluna em grande se
balaústre com vazaduras, da qual bo-
eleva o recipiente para hóstias,
judo, cor oad o por tam po cam pan ula r
em três patamares, encimado por cruz
| as
| com pedras preciosas € raionadas e
na bas
| quinas. Decoração, tanto
na col una e no tam po, de moti-
qua nto volu-
vos vegetais como flores, ramãasain ,
e bot ões , ven do- se da o
tas, fol has
vinhas, fl-
bojo do recipiente, por entreO Pelicano,
e

gura de um Evangelista,
Joã o (co m ins cri ção IOAN'ES), O
São tam po, O
Agnus Dei e São Luc as, No
rela-
Coração Trespassado, Penas Ent a
çadas e o emblema da Santíssim
Trindade.
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Beneditinos em Olinda' editado pela Sanbra em 1986.


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Neste retábulo do altar da capela do noviciado da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, no Rio de Janeiro, obra de Mestre
Valentim, vê-se a profusão do ouro usado para enfeitar todo o conjunto.

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O Barroco mineiro, conforme este desenho de Lucio Costa demonstra, passou, no


que se refere aos retábulos, da severa ornamentação à pujança dos detalhes, de-
senvolvendo-se, depois, de forma mais simplificada. Do livro 'As Igrejas setecen-
tistas de Minas' de Krúger Mourão.

O desenho mostra o problema do Barroco, o estilo que pode indicar o uso co-
mum da douração, ofício que representou no Brasil um emprego basilar nas de-
corações de interiores de igrejas. Acenando àquele estilo, na definição do reno-
mado arquiteto Lúcio Costa, o adjetivo indica aquela maneira como própria da
Terra, particularidade já estudada em numerosas publicações, algumas assi-
naladas na bibliografia.

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Nesta imagem de Santa Escolástica, do século XVIII, tem- se o exemplo da douraç ao que era muito usada para enriquecer
a imagemeoda tar Acervo Mosteiro de São Bento, São Paulo.

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Nave da igreja do convento de São Francisco, Salvador, c uja construção foi realizada entre 1708e 1723, a colocação da
talha dourada terminada em cerca de 1743. De 'Brasil Ba roco por Maurice Pianzola. Foto de Kyioshi Yamada.

88
Altar-mor da Igreja de São Francisco, em Salvador, BA: uma otuscante cintilação de ouro. De 'Brasile;, ensaio recolhido pela
Editora 'Eda” Savigliano, Itália, 1975. Foto Carlo Moriondo.

89

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O conhecimento e datações de ourive-


sarias antigas são assuntos reserva-
dos a especialistas, como de resto se
dá para qualquer outra produção. São
geralmente técnicos que sabem, an-
tes de tudo, distinguir entre objetos
originais e cópias, pois, como em quatl-
quer outra área, existem as falsifica-
ções e as atribuições arbitrárias que
não são poucas. Nas Memórias do
antiquário paulista Nóbrega, um capi-
tulo é dedicado aos problemas acena-
dos, especialmente no que diz respel-
to à numismática.

Custódia do IV Congresso Eucarístico Nacional, em ouro, prata platinada, bri-


lhantes e diamantes, altura de 99 cm e peso 6.810 gramas. O projeto inicial, de
1942, foi do professor Cletto Luzzi, de Roma, sofrendo algumas modificações in-
Pa por desenhistas nacionais, sendo a peça produzida no Rio Grande do
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Âmbula de prata fundida cinzelada e dourada. Na inscrição se lê: “Esta âmbula deu
de esmola Cazzilia Mendes de Almeida à Sagrada Religião de São Bento em 13 de
Junho de 1727". Em contraste aparece PFC do Rio de Janeiro. Acervo dos Padres
Beneditinos.

Esplendor de prata e de ouro e pedras


semi-preciosas, certamente da ima-
gem de Nossa Senhora, segunda me-
tade do séc. XIX, procedente de igreja
de Mato Grosso. Tem a particulari-
dade de incorporar os símbolos positi-
vistas da bandeira brasileira: ramalhe-
te de café e de tabaco e as estrelas do
Cruzeiro do Sul. Coleção particular,
São Paulo.
Imagem de Nossa Senhora do O, feita em barro. Século XVII, São Paulo. Do livro
Memórias de Um Viajante Antiquário de José Claudino da Nóbrega.

As esculturas em madeira ou cerâmica dedicadas a figuras re ligiosas,


quando
de um certo apreço, são sempre policromadas, o toque de ouro
ressaltando a
decoração. O escu7 ltor ou artesão devia então conhecer a técnica da douraçã
Geralmente a policromia desaparece ou se deteriora com o tempo, o.
restando in-
tacta a douração.

983
“A relativa escassez de mulheres bran-
cas em muitas regiões, e a miscigena-
ção resultante entre homens brancos e
mulheres de cor, chocou, abertamente,
muitos observadores estrangeiros, e
provocou bastante comentários adver-
sos dos governadores e bispos coevos,
Essa miscigenação em larga escala foi
responsável, indubitavelmente, pelo
crescimento de um proletariado de cor,
urbano e rural, que não tinha educação
apropriada e vivia de expedientes. Esse
estado de coisas levou, por sua vez, às
chagas sociais como a vadiagem, a
prostituição, as doenças, que tal estado
de insegurança social! propiciam. Por
outro lado, um número surpreendente de
pessoas dessa comunidade de cor
eventualmente progrediu, fosse como
vaqueiros, nos distritos criadores do Rio
São Francisco e do Piauí, como músicos
e tabeliões mulatos em Minas Gerais, ou
em outros ofícios e ocupações, onde ha-
bilidosas pessoas de cor eram muitas
vezes encontradas — às vezes desa-
fiando as leis discriminatórias. Ademais,
o cadinho racial brasileiro, com todas as
suas variedades, ênfases e origens, rea-
lizou fusão mais ou menos pacífica entre
as três raças, a européia, a africana e a
ameríndia, que, assim não fosse, po-
deriam ter precisado resolver suas di-
ferenças étnicas e culturais com derra-
mamento de sangue.
Fosse qual fosse a extensão da riqueza
retirada das minas de ouro e diamantes
do Brasil, para não falar nas plantações
de cana-de-açúcar e tabaco, e nas fa-
zendas de criação, essa riqueza foi con-
siderada, na voz popular, como enorme.
Talopinião era apoiada pelo fato de que
exatamente quando as primeiras jazidas
de ouro de Minas Gerais começaram a
apresentar sinais de exaustão, novas
descobertas foram feitas em Cuiabá, e
depois veio a descoberta (oficial) de dia-
mantes no Séêrro do Frio. Tais descober-
tas foram seguidas, no devido tempo,
pelo achamento e exploração dos cam-
pos auríferos de Goiás e Mato Grosso. A
chama de esperança que lateja eterna-
mente no peito humano, era periodica-
mente reavivada por essas descobertas
sucessivas, sempre que as jazidas pre-
cedentes pareciam estar declinando em
produção. Tinha-se a impressão de que
a riqueza mineral do Brasil era inesgota-
vel, e que se um distrito mineiro já não
oferecia proveitos, outro depressa seria
descoberto no sertão, para substituí-lo.
Embora muito do ouro e dos diamantes
do Brasil tivesse sido gasto em paga-
mentos para importações provenientes
da Europa Setentrional, ou prodigali-
zado nas igrejas e conventos do mundo
português do Atlântico, acreditou-se am-
plamente — embora erroneamente — que
D. João V fosse o mais rico monarca da
Europa, crença que seus gastos genero-
sos nada faziam para diminuir.” E
C. R. Boxer, 'A idade de ouro do Brasil",
Companhia Editora Nacional.

94
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Imagem de São Bento, em madeira policromada, com detalhes dourados.


Acervo do Mosteiro de São Bento, São Paulo.

Uma das aplicações do ouro em pó,


usado na Idade Média e Renascença
para ilustração de manuscritos, espe-
cialmente livros religiosos. Agui, uma
letra inicial de um manuscrito do Sé-
Eu XV. Coleção P. M. Bardi, São
aulo

95
O ouro nas imagens religiosas era
usado em ornamentos, especialmente
nas coroas, como se vê nesta relíquia
bizantina, a pintura recoberta de prata
e de ouro, aparecendo somente a testa
eas mãos. Ourivesaria do século XVIII,
provavelmente grega. Coleção parti-
cular, SP,

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Sabe-se através da história da arte que as pinturas dos primeiros séculos deste
milênio eram geralmente executadas tendo por fundo uma camada de ouro, os
chamados fundos-de-ouro. O autor desta pintura devia, então, conhecer aquela
técnica, como se pode ver, acurada.

97

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Em 1964, por iniciativa dos Diários e Emissoras Associadas, uma idéia do perma-
nentemente presente na vida nacional, Assis Chateaubriand, foi lançada a campa-
nha 'Ouro para o bem do Brasil" obtendo resultados de alta significação, pois se
tratou de uma ação nacional. Arrecadaram-se fortunas em ouro, jóias e moedas
estrangeiras: uma quantidade que representou a unidade e a vontade do Brasil,
para sanear o seu balanço econômico. Vale aqui como lembrança do aconteci-
mento alguns dados que pode-se ter no relatório de quanto foi oferecido a Casa da
Moeda. Através das fotografias, vê-se o povo que, dia após dia, alluía aos centros
de coleta; os caminhões devidamente escoltados que transportavam as doações.

Foi em '32, que devido a exigências


políticas, foi lançada em São Paulo uma
campanha popular para recolher ouro.
Para atingir este objetivo registrou-se
uma intensa corrida de doações, que re-
presentou um dos fatos do desenvolvi
mento social e político do Estado.
Angelo Agostini, na “Vila Fluminense” de 12-9-1868, representou “O ouro ea prata
fogem espavoridos na nova inundação de papel moeda”. De Herman Lima História
da Caricatura no Brasil”, Rio de Janeiro, 1963, Vol. |.

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O pacote trouxe uma novidade: os contribuintes que não declararem pagamen-


tos a profissionais liberais, aluguéis ou pensões terão de pagar multa de 20%
sobre o valor declarado. Os que têm rendimento de mais de uma fonte e não re-
colherem corretamente também terão de pagar multa de até 20%. Estas são as
novidades que se encontram na imprensa, tornando-se o leão a fera dos contri-
buintes, inclusive os que investem no metal ouro.

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Todos os que entendem dos valores, em jornais e revistas, logo correm para saber e
ver as estatísticas publicadas. Em nossa pesquisa fizemos o mesmo, seguindo os
desenhos da revista Senhor. Nesta página: o ouro em companhia do café, da soja e
do boi. Reproduzimos uma das páginas de estatísticas, Revista Senhor; 15/fe-
vereiro/1966.

PERFIL DO MERCADO
(Variação % na semana, até o dia 26)

Dólar paralelo

Eis como os jornais, geralmente, in-


-48 formam a respeito do andamento do
mercado. 'Folha de S. Paulo; 28 de fe-
vereiro 1988.

100
Os historiadores, naturalmente, acha-
rão resumidas as indicações aqui rela-
cionadas. Mas, referindo-seao quanto
foi escrito desde o começo, é bom justi-
ficar que estas paginas atendem a um
propósito setorial: o ouro no Brasil en-
volve quantidades de eventos políticos,
sociais e estéticos, que os leitores vo-
luntariosos podem conhecer nas publi-
cações dos dois autores aos quais se
dedica este ensaio, e em numerosas
outras sobre a história nacional.

ABREU E LIMA, José Ignácio de. Sinor- ———. Ensaios e Estudos (Crítica e MANN, Hans. Minas Gerais. Rio de Ja-
se ou Dedução cronológica dos fatos História). Rio de Janeiro, 1932. neiro, 1961.
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102
|
|

| A Raízes Artes Gráficas


| imprimiu 10.000 cópias
| deste livro, projetado
| pelo Prof. P. M. Bardi
na primavera de 1988.

|
|
COLEÇÃO
ARTE E CULTURA
| — O Modernismo no Brasil
| -— A Arte da Prata no Brasil
Il — A Arte da Cerâmica no Brasil
IV — Mestres, Artífices, Oficiais e
Aprendizes no Brasil
V -— À Madeira desde o Pau-Brasil até
a Celulose
Vi — Lembrança do Trem de Ferro
VIl — Comunicação: Notícias de Cabral
à Informática
VIIll - Engenharia e Arquitetura na
Construção
IX — Excursão ao Território do Design
X -Emtorno da Fotografia
XI — O Ouro no Brasil

Banco Sudameris Brasil

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