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GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL


Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação – EAPE

PRÁTICA REFLEXIVA DA APRENDIZAGEM DESENVOLVIDA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

IDENTIFICAÇÃO DO CURSISTA E DA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL DOS ESTUDANTES ATENDIDOS

CRE Unidade Educacional Professor(a) Matrícula

Núcleo Bandeirante CED 01 – Riacho Fundo II Júlia Andrade Vivas 7007759-2

ESTUDANTES ATENDIDOS

Série/ Ano/ Bloco Aulas semanais Período

2ª série / Ensino Médio 2 aulas – 1h30m de 03/08/2023 a


12/10/2023.

ESTABELECIMENTO DE PROPOSIÇÃO
Produzir um texto para relatar a experiência realizada em sua escola, devendo conter as seguintes partes:

 Introdução
Um dos pilares fundamentais para a construção do projeto de vida é a compreensão e a assimilação da sociedade e do ambiente social que
estamos inseridos. A partir disto é possível analisar a realidade vivida com consciência e crítica a fim de transformá-la, quando necessário, e também
de aproveitar as redes de apoio existentes. Quando pensamos no ambiente social de um adolescente logo vem em nossas mentes a escola, afinal de
contas este é o espaço que o jovem passa mais de um terço do seu dia e também o local onde as relações sociais se desenvolvem com mais freqüência.
Considerando a escola como um espaço fértil para compreensão do impacto da sociedade na vida dos adolescentes realizamos em sala de aula duas
atividades que deram origem a este projeto interventivo.
A primeira atividade foi um levantamento da nossa escola dos sonhos, em grupos os estudantes foram discutindo o que uma escola ideal teria.
Após este momento fizemos uma roda para cada grupo compartilhar os seus desejos para escola dos sonhos, neste momento foi possível identificar
que muitos dos estudantes pediam e sonhavam com as mesmas coisas para sua escola. Aqui surgiram muitas demandas como ampliação do espaço
físico, valorização dos professores, investimento em carteiras confortáveis, variedade no lanche escolar, aulas práticas como culinária e horta,
valorização e respeito do estudante, construção de um ginásio...
Realizada este atividade nos separamos novamente em quatro grupos para fazer a “matriz FOFA” da nossa escola. A matriz FOFA consiste em
apontar as forças, as oportunidades, as fraquezas e as adversidades que um grupo possui para realizar seus objetivos e/ou sonhos. Cada grupo ficou
responsável por uma variável da matriz, as forças e as fraquezas são pontos internos da escola, ou seja, o que a escola já possuí de “ruim” para
desenvolver os sonhos dos estudantes (algo que dificulta o sonho) e o que ela já possuí de “bom” que pode facilitar esta conquista. As oportunidades e
as adversidades são pontos externos, ou seja, tudo aquilo que está fora da escola e fora do nosso controle e que gera facilitadores ou obstáculos, como
por exemplo, a comunidade escolar, o governo, o transporte público, o bairro, as leis...
Separar os pontos positivos e negativos internos e externos que envolvem nosso ambiente educacional se fez importante para a compreensão da
dimensão que os planejamentos para mudanças toma. Dessa forma os estudantes puderam compreender que algumas demandas escolares não são
realizadas por adversidades externas e que modificar essa situação é mais difícil do que trabalhar em cima das fraquezas. Outro ponto relevante é que
a partir da matriz FOFA enxergamos as dificuldades ao lado de aspectos positivos que podem servir de apoio, inspiração e até impulso para iniciar
uma mudança.
O fato é que os estudantes sentiram muita dificuldade em pensar nos pontos positivos da escola para realizar pelo menos um sonho da escola
ideal. Sendo assim o presente projeto interventivo busca trabalhar com os adolescentes do 2° ano do ensino médio o papel fundamental da organização
estudantil para o planejamento de mudanças no ambiente escolar, uma força que toda escola possuí, mas que muitas vezes não é explorada por falta de
autonomia, espaço e respeito ao adolescente e suas demandas. O tema escolhido estava presente na escola dos sonhos das quatro turmas que
realizaram a atividade, além disso, foi o ponto mais levantado em todos os grupos, o lanche escolar não agrada os estudantes. Quando questionados
sobre o que poderia mudar no lanche para ele ser melhor a resposta foi praticamente unânime “estamos cansados de comer frango de segunda a sexta”,
compreendemos então que a demanda seria a diversificação alimentar oferecida na merenda.
O tema se torna duplamente relevante quando analisamos a importância da educação alimentar no projeto de vida. Repensar o lanche escolar
aproximará os estudantes dos debates sobre alimentação. Busca-se a partir deste projeto transmitir aos adolescentes o papel fundamental que o
conhecimento básico em alimentação tem em nossas vidas, comer de forma saudável e consciente vem sendo cada vez mais necessário nos dias atuais.
Como aponta a socióloga Paula Johns, “atualmente os sistemas alimentares não são favoráveis à saúde, mas sim aos lucros das grandes corporações do
setor, especialmente fabricantes de produtos ultraprocessados, cujo consumo é uma das principais causas de todas as formas de má nutrição.”, para
isso a autonomia no processo de escolher e cozinhar seus próprios alimentos se torna necessária, principalmente entre os jovens que são os mais
afetados pelo que os cientistas chamam de sindemia global.
A sindemia global é a coexistência de três pandemias presentes em todo o mundo, são elas: obesidade, desnutrição e mudanças climáticas.
Estas possuem causas em comum e devem ser combatidas simultaneamente, ainda de acordo com a socióloga mencionada acima, estes problemas
podem começar a ser resolvidos quando o acesso a discussões sobre alimentação adequada chegar de forma igualitária a todos os cidadãos, bem como
o conhecimento e fortalecimento das políticas públicas promotoras da alimentação adequada e saudável, como é o caso do Programa Nacional
Alimentação Escolar (PNAE).
Comida é também autoconhecimento, outro ponto que torna relevante o estudo sobre alimentação em projeto de vida. O antropólogo Roberto
da Matta diz que “comida não é apenas uma substância alimentar, mas é também um modo, um estilo e um jeito de alimentar-se. E o jeito de comer
define não só aquilo que é ingerido, como também aquele que o ingere”. Diferenciando assim comida de alimento, alimentar é somente suprir as
necessidades básicas de fome e nutrição, já comer parte de outro pressuposto, o da identificação com aquilo que se come. Compreende-se então que o
problema posto pelos estudantes dialoga com essa diferenciação. A merenda escolar é completa e saudável, mas não preenche os adolescentes de
significado, não os define, o que torna a rotina alimentar tediosa e repetitiva para eles. A diversificação alimentar, além de entusiasmar os jovens,
consiste também em reeducação do gosto e do paladar.
Um estudo mostrou que os jovens não se sentem confiantes ou com autonomia suficiente para prepararem suas próprias refeições, buscando
alternativas pré prontas ou fast foods para se alimentarem no dia a dia. O processo de socialização com a culinária e com os alimentos é um dos
principais fatores que motivam ou desmotivam os jovens a se relacionarem melhor com a alimentação (CAMARGO, et al. 2023). Cozinhar, além de
fornecer dietas mais saudáveis também desenvolve relações sociais e identificação cultural. A socialização culinária na escola é um ponto de partida
para que os adolescentes, quando atingirem a vida adulta e morarem sozinhos por exemplo, sintam mais disposição, conforto e simpatia com o
processo de comprar comida in natura e cozinhar para si e para sua família.

 Objetivos de aprendizagem
Objetivo geral:
- Aproximar os estudantes da socialização culinária e alimentar

Objetivo específico
- Despertar o interesse pela alimentação como um pilar importante para nossas vidas pessoais e sociais.
- Adotar comportamentos preventivos, em relação aos e riscos à saúde e identificar estratégias para suprir necessidades e garantir o seu bem-
estar e desenvolvimento pessoal, financeira, físico, social, emocional e intelectual ao longo de sua vida (Objetivo B3 do Caderno Orientador de
Projeto de Vida).

 Metodologia
Para atingir o objetivo propostos será feita, em primeiro momento, uma exposição da professora aos estudantes sobre a relação
existente entre projeto de vida e alimentação, bem como a importância da independência e autonomia alimentícia de cada um de nós. Em
seguida teremos uma roda de conversa com uma especialista em alimentação, a nutricionista e mestranda no Programa de Pós Graduação em
Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural na UnB, Samanta Fabbris. Neste momento os estudantes poderão tirar suas dúvidas iniciais sobre
alimentação em todas as suas dimensões.
Em seguida iniciaremos os estudos sobre o funcionamento da alimentação escolar, tendo como base o Guia Alimentar para a População
Brasileira. Os estudantes farão uma pesquisa para compreender quem são as pessoas envolvidas na merenda escolar, desde o repasse
financeiro, passando pela compra dos alimentos, até a cantina o momento de preparação do lanche. Organizaremos em grupos entrevistas com
os membros da escola que cuidam da gestão alimentar para entender a realidade local como verba recebida, origem dos alimentos, lista de
produtos comprados e receitas pré estabelecidas. Depois de realizar essas entrevistas teremos outro encontro com a Samanta, nutricionista, para
tirar dúvidas específicas sobre o Programa Nacional Alimentação Escolar e o Guia Alimentar para a População Brasileira e compreender quais
propostas podem ser desenvolvidas dentro de um contexto escolar para a modificação do lanche.
Seguiremos então para a construção coletiva de propostas, que devem partir dos estudantes com direcionamento da professora. As
propostas serão desenvolvidas em dois encontros e ao final do segundo encontro os estudantes irão decidir se desejam apresentar a proposta
para escola e se sim, como desejam.
Ao final colocaremos em prática a familiarização desenvolvida com a alimentação executando uma receita simples e possível de ser
aplicada em sala de aula de forma coletiva para um lanche de confraternização feito pela própria turma.

Pré planejamento da execução do projeto:

11 semanas – 10 aulas planejadas


03/08 Alimentação e projeto de vida, a importância da independência alimentícia em nossas vidas.
10/08 Roda de conversa com nutricionista convidada.
17/08 Como funciona a alimentação escolar?
24/08 Organização de entrevistas com os funcionários da escola que trabalham com a alimentação escolar.
31/08 Aplicação das entrevistas.
07/09 2° encontro com nutricionista convidada.
14/09 Construção coletiva de propostas para alimentação escolar.
21/09 Finalização das propostas e como vamos apresentá-la à escola.
28/09 SEMANA DE PROVA
5/10 Apresentação das propostas para escola*
12/10 Oficina de culinária, confraternização e finalização do projeto.

 Resultados obtidos
Por se tratar de um trabalho baseado na pedagogia histórico-crítica o desenvolvimento dos objetivos está moldado ao processo de
aprendizagem pessoal e coletivo dos estudantes envolvidos, sendo assim o planejamento inicial foi totalmente modificado a partir dos
interesses da turma. Nossas atividades em Projeto de Vida foram perpassadas por uma demanda da escola em realizar projetos para o dia da
consciência afro-indígena, como sou conselheira da turma que escolhi aplicar a PRAD fiquei responsável por desenvolver com eles o trabalho
desta data comemorativa. Duas semanas antes de questioná-los sobre qual tema gostariam de trabalhar para este evento escolar recebemos em
sala a nutricionista, Samanta, que fez um debate muito proveitoso com a turma, e estudamos o começo do Guia Alimentar Para a População
Brasileira.
Para a minha surpresa quando fiz a roda de conversa sobre o dia da consciência afro-indígena a turma em unanimidade decidiu fazer
um projeto sobre a culinária brasileira e a influência da culinária indígena e africana em nossa cultura. Decidimos coletivamente o que
gostaríamos de trabalhar e como apresentaríamos os resultados para a escola no dia da feira afro-indígena. A partir desta roda de propostas e
conversa avaliei a influência e os resultados obtidos com o início da aplicação da PRAD. O pequeno encontro com a nutricionista e o contato
com o guia alimentar já foram suficientes para despertar nos estudantes um interesse próprio sobre alimentação, considerei então o objetivo
geral atingido. Começamos a desenvolver este novo trabalho com pesquisas sobre os alimentos indígenas e africanos que consumimos no
nosso dia a dia, assim os estudantes foram percebendo que a comida não é só necessária para a sobrevivência e saúde física, mas também uma
peça importante para desenvolver cultura e relações sociais. Depois construímos caixas sensoriais de alimentos para identificarmos a comida
sem enxergar, dentro da caixa foi colocado um alimento muito importante para a culinária indígena, o milho, em três versões diferentes que
estudamos anteriormente no guia alimentar: in natura, minimamente processado e ultra processado. Os estudantes perceberam como pratos
tradicionais estudados nas pesquisas levam muito mais alimentos in natura do que processados ou ultra processados, atingindo então os
objetivos específicos do trabalho, despertar o interesse pela alimentação como um pilar importante para nossas vidas pessoais e sociais, e
adotar comportamentos preventivos, em relação aos e riscos à saúde e identificar estratégias para suprir necessidades e garantir o seu bem-estar
e desenvolvimento pessoal, financeira, físico, social, emocional e intelectual ao longo de sua vida.
Toda a avaliação foi feita de forma coletiva com rodas de conversa, autoavalição pessoal e coletiva e participação ativa no
desenvolvimento da atividade.
 Considerações finais
Diante da mudança do projeto os resultados ainda não foram finalizados, entretanto, ao longo da execução já é possível perceber o
maior interesse dos estudantes nos assuntos que envolvem alimentação, bem como a elevação do pensamento destes diante da comida que
comem todos os dias e de onde elas vieram. A ação para a transformação da realidade aconteceu no momento em que a turma decidiu
apresentar para a escola um trabalho importante de resgate cultural da alimentação brasileira, valorizando a cultura indígena e africana
presentes no país. A apresentação final e total dos resultados será feita no dia 20 de novembro onde os estudantes vão entregar para a escola
um livro de receitas afro-indígenas, orientar a dinâmica das caixas sensoriais e executar uma oficina de culinária em sala.

 Referências bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.
DE CAMARGO, Anice Milbratz; MAZZONETTO, Ana Cláudia; LE BOURLEGAT, Isabelle Schroeder; DEAN, Moira; FIATES, Giovanna
Medeiros Rataichesck. Percepções de adultos jovens brasileiros sobre o ato de cozinhar. DEMETRA: Alimentação, Nutrição & Saúde, [S.
l.], v. 18, p. e69961, 2023. DOI: 10.12957/demetra.2023.69961. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/demetra/article/view/69961.
Acesso em: 8 nov. 2023.
DISTRITO FEDERAL. Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Caderno Orientador, Unidade Curricular Projeto de Vida.
Brasília, 2022.
DISTRITO FEDERAL. Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Currículo em Movimento do Novo Ensino Médio. Brasília,
2020.
JOHNS, Paula. Sindemia Global: novo relatório sobre sistemas alimentares, obesidade, desnutrição e mudanças climáticas. 2019. Disponível
em: < https://alimentacaosaudavel.org.br/blog/noticias/sindemia-global-novo-relatorio-sobre-sistemas-alimentares-obesidade-desnutricao-e-
mudancas-climaticas/4983/>
DaMATTA, R. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.

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