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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A ESCOLA NA VISÃO DOS ALUNOS: DILEMAS E DESAFIOS

1
Autor: Marcia Eliane Dewes
2
Orientador: Fábio Lopes Alves

Resumo

Este artigo destina-se a apresentar a sistematização da pesquisa desenvolvida no âmbito do


Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação do Paraná
(SEED/PR). O tema de tal pesquisa é A escola na visão dos alunos: dilemas e desafios, o qual
passou pelas etapas de elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, Produção de
material Didático Pedagógico, através da produção de um vídeo-documentário, da implementação
pedagógica e o GTR (Grupo de Trabalho em Rede de professores que atuam em Escolas Públicas
do Estado do Paraná). O projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual do Campo Novo Sarandi, junto
aos alunos, com a participação dos professores e funcionários desta instituição. Os apontamentos
aqui apresentados foram levantados através da participação da comunidade escolar e refletem os
anseios, conflitos e enfrentamentos deste grupo, a qual foi seguida de reflexões e/ou debates com os
envolvidos na pesquisa, servindo de objeto norteador para o corpo docente e equipe pedagógica na
compreensão do que os alunos buscam ou anseiam, das quais surgiram possibilidades de
encaminhamentos pedagógicos e administrativos.

PALAVRAS-CHAVE: escola; alunos; dilemas e desafios.

Introdução

O Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE é uma política pública do


Estado do Paraná3 integrada às atividades da formação continuada em educação,
destinada aos professores do quadro próprio do magistério (QPM).
O objetivo do PDE é proporcionar aos professores da rede pública estadual
subsídios teórico-metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais
sistematizadas, possibilitadas pelo diálogo entre os professores do ensino superior e
os da educação básica, através de atividades teórico-práticas orientadas e tendo
como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática
escolar da escola pública paranaense.
Ao ingressar no programa, definiu-se a área de gestão escolar para os
estudos a serem realizados, orientados pela linha de estudo da Gestão democrática
1
Professora e diretora no Colégio Estadual do Campo Novo Sarandi. Bacharel em Ciências
Contábeis (Unioeste) e licenciada em Matemática (UNIPAR). Pós-graduada em Metodologia do
Ensino da Geometria. Contato: marciadewes@seed.pr.gov.br.
2
Orientador do trabalho. Professor adjunto da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
3
Lei Complementar nº 130, de 14 de julho de 2010 (PARANÁ, 2010).
da Educação: Fundamentos, princípios e processos, servindo de linha norteadora
para as produções realizadas. O título escolhido para o estudo é A escola na visão
dos alunos: dilemas e desafios, o qual transparece a temática e assunto da
pesquisa.
O projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual do Campo Novo Sarandi,
localizado em Novo Sarandi, distrito do município de Toledo, tendo como objeto de
pesquisa a visão dos alunos sobre a escola.
Portanto, o presente artigo, encontra-se estruturado da seguinte forma:
primeiro momento há a apresentação da base teórica que sustenta a pesquisa e do
desenvolvimento da produção didática realizada. Na sequência, o texto expõe os
dados levantados para análise, assim como a apreciação dos mesmos. Em seguida,
mostra-se a implementação pedagógica – realizada com alunos e professores - e a
discussão dos dados por parte de ambos. Por fim, são tecidas as considerações
finais deste estudo.

Fundamentação teórica

Iniciou-se os estudos realizando a revisão bibliográfica para a elaboração do


Projeto de Intervenção Pedagógica. Para tanto, foram selecionadas algumas leituras
iniciais e prioritárias, a saber: André (2008), Hall (2006), Silva (2000), Lopez (2010),
Quadrado (2006), Bauman (2010), Moran (2007), Iodeta (2014) e Fundação Victor
Civita (2013)4, as quais deram fundamentação teórica à problemática proposta para
o estudo.
Percebeu-se, através das leituras, que a sociedade vem passando por
contínuas e rápidas transformações, enquanto na escola as transformações são
demoradas. Segundo André (2008, p. 47), “Não é surpresa a ninguém a crise vivida
no ambiente escolar – crise que é social, é cultural, é educacional e também é
política”.

4
FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. O que pensam os jovens de baixa renda sobre a escola. Revista
Nova Escola. Editora Abril, Edição Especial n. 15 de junho de 2013. Disponível em: <http://fvc.org.br
/estudos-e-pesquisas/2012/pensam-jovens-baixa-renda-escola-743753.shtml?page=5>. Acesso em:
03 out. 2013.
Há uma crise global, vivenciada por sujeitos múltiplos e complexos. Inserida
neste contexto, a escola não consegue atender aos interesses do aluno - que é
individualista e hedonista - num tempo em que, segundo Hall (2006), as identidades
são plurais e líquidas, frutos das constantes mudanças e da globalização. A escola é
marcada pelas novidades tecnológicas, mas não há garantia de transformação das
informações em conhecimento. Assim, esse sujeito múltiplo tem desafiado
intelectuais, professores e comunidade escolar.
No entanto, esta crise não se resume a reformulação de objetivos, conteúdos
ou estratégias, pois o que está em crise são os valores que se refletem na escola e
na sociedade. Sobre isso, Goleman (1995 apud SILVA, 2000, p. 1) aponta que:

Em nosso sistema educacional, quase todo voltado para os interesses do


mercado, quase não há espaço para o pensar crítico e criativo e, menos
ainda, para o desenvolvimento de habilidades sociais que serão tão
necessárias na vida cotidiana tais como: reconhecer as próprias emoções;
ser tolerante às frustrações da vida.

A superação desta crise depende de uma nova escola, com formato dinâmico,
autônomo e democrático. Para tanto, há que se fazer um diagnóstico da realidade e
buscar estratégias para a elaboração de um projeto eficiente e eficaz, voltado à
promoção do homem integral. Para Lopez (2010, p. 40),

O reconhecimento da existência de uma crise na instituição escolar pode


nos conduzir a rever nossas ideias sobre ela, descrever as ‘práticas
escolares’, seus componentes (as mentalidades, conflitos, discursos,
procedimentos, hábitos, atitudes, regulamentações, avaliações, resultados
escolares, etc) e relacioná-los com as condições sociais, políticas e
econômicas em que estamos vivendo.

Assim, reconhecendo a existência de uma crise, a comunidade escolar


pensará em uma transformação significativa das práticas escolares, através da
reflexão, análise, pesquisa e interpretação, contextualização e avaliação das ações.
Para nominar e sintetizar essas mudanças que vivemos nas últimas décadas,
referimo-nos a elas como pós-modernidade, que segundo Jameson (1996 apud
QUADRADO, 2006, p.2),

Precisávamos de um nome para tentar organizar toda essa experiência


contraditória que vimos vivendo nas últimas décadas, pois os termos antes
utilizados para nomear nossa época - como pós-estruturalismo ou
sociedade pós-industrial - eram por demais restritos para lograr a
disseminação do multivalente pós-modernismo/pós-modernidade.
Tais constatações demonstram que os tempos atuais são a substituição de
algo que antes era considerado como coletivo, centrado, unidade, determinado,
“possível de nomear”, por algo que “não é possível de definir”, “deixou de ser”, “se
dispersou”, “tornou-se indeterminado”, “não busque a transcendência” e o
individualismo.
A atual crise desafia a essência da ideia de educação, passando a questionar
sua formação e seus pressupostos. Essa fase, definida pelo desejo e pela
necessidade constante de substituição das “coisas” pelas novidades, chegou
também ao conhecimento e à educação, pois passam a ser vistos como “produto”.
Bauman (2010, p. 47) postula que,

Em nosso mundo volátil, de mudanças instantâneas e erráticas, os hábitos


consolidados, os esquemas cognitivos sólidos [...] transformam-se em
desvantagens. Pelo menos, este é o papel que lhes oferece o mercado do
conhecimento, que (como qualquer mercado em relação a qualquer
mercadoria) odeia a fidelidade, os laços indestrutíveis e os compromissos a
longo prazo, considerados obstáculos que atravancam o caminho e
precisam ser removidos.

As mudanças com relação à crise só ocorrerão pelo viés da educação, pois


esta possibilita a integração do humano com o tecnológico.
No que toca a justificativa deste estudo, sua gênese deu-se a partir de um
fato muito comum no espaço escolar: ouvir reclamações – dos docentes -sobre o
comportamento dos alunos e, em contrapartida, ouvir reclamações dos alunos sobre
os professores e o ambiente escolar. Verifica-se assim, que há uma distância entre
as visões do professor e do aluno sobre a escola. Estas diferentes perspectivas são
a origem deste estudo, porém o foco é “a visão do aluno sobre a escola”.

Desenvolvimento do projeto: a produção didática

Nesta seção do artigo, apresentaremos questões relacionadas à produção


didática. Para tanto, serão apresentadas e explicadas as etapas desenvolvidas
nesse passo do projeto, a saber: a observação participante, as entrevistas e a
produção do material multimídia.
Seu início foi em meados de agosto de 2013 com o primeiro contato formal
com a equipe diretiva e pedagógica do colégio para apresentação deste projeto. Em
seguida, iniciou-se a observação participante na qual se faz necessário, inicialmente,
visualizar a situação desejada sem se mostrar ao observado e, em seguida,
procedem-se registros escritos e fotográficos, onde os detalhes podem revelar
aspectos que lhes são peculiares. Portanto fez-se a observação dos alunos durante
15 dias, nos três turnos de funcionamento do colégio, cujo intuito foi observar as
reações dos alunos durante o período escolar buscando verificar o que gostam e
não gostam no colégio, cuja observação ocorreu em diferentes momentos.
Porém, tal ferramenta metodológica não alcançou o objetivo, pois ocorreu
somente a observação distante dos alunos, o que não possibilitou a obtenção das
informações para a pesquisa. Assim sendo, fez-se necessária uma mudança de
estratégia metodológica para alcançar o objetivo proposto.
Desta forma, na sequência, durante a segunda quinzena de setembro,
buscou-se a aproximação com 08 pequenos grupos - compostos por seis a dez
integrantes - através de uma conversa informal, durante os intervalos, explicando-
lhes que se tratava de um projeto de pesquisa do PDE. Esta etapa possibilitou parte
da obtenção das informações necessárias para a análise proposta.
Constatando-se que não seria possível levantar dados suficientes por uma
questão de tempo, ou seja, demandaria mais tempo que o previsto, o que poderia
prejudicar o andamento da pesquisa, decidiu-se novamente por mudar a estratégia.
Por conseguinte, optou-se pela utilização de uma entrevista5 com roteiro
semi-estruturado, que se realizou durante o mês de outubro e possibilitou a
entrevista com alunos, professores e agentes educacionais I e II, para obtenção de
maiores informações de forma mais clara e sem restrição de tempo.
A realização destas entrevistas com alunos - de 08 turmas, sendo 03 do
período matutino, 03 do vespertino e 02 do noturno, representando mais de 50% dos
estudantes da instituição - aconteceu em sala de aula, durante quatro aulas em cada
turma. As opiniões dos estudantes foram elencadas na lousa – sem exclusão e/ou
exclusão de nenhuma resposta - as quais, posteriormente, foram registradas em um
caderno para compor os dados da pesquisa. A finalização desta atividade levou
aproximadamente um mês.
Durante a realização das entrevistas, observou-se um grande envolvimento
dos estudantes, o que pode ser constatado pelo número significativo de respostas.

5
Para cumprir as formalidades necessárias, ao final da entrevista foi realizada a coleta e o
preenchimento dos “Termos de Cessão gratuita de Direitos Autorais de Pessoa Física para Pessoa
Física”, para ciência e permissão (assinatura) dos responsáveis de cada aluno, professor e agente
educacional I e II, que participaram da entrevista e/ou do documentário.
Realizou-se também, em paralelo, entrevistas com 12 professores, 06
agentes educacionais I, 04 agentes educacionais II, 02 pedagogos, vice-direção e
direção. Estes profissionais responderam ao questionário, de forma individual ou
mesmo coletiva.
Na sequência foi realizada a sistematização das informações coletadas,
juntando as respostas das diferentes turmas obtendo um parecer geral do colégio do
ponto de vista dos alunos e dos profissionais da educação.
Dando continuidade às atividades propostas para a produção didática passou-
se para a elaboração de um roteiro norteador para a realização da filmagem de um
documentário6 sobre o assunto abordado.
A filmagem do vídeo com os alunos e professores foi realizada no dia 12 de
novembro de 2013. Neste dia, os alunos foram retirados das aulas com o
consentimento prévio da direção e do professor para que se pudesse fazer a
gravação sem a incidência do barulho, além de garantir a não exposição de imagens
de alunos sem a devida autorização.
Iniciou-se a filmagem pela apresentação individual de cada aluno, e,
posteriormente eles foram divididos em 02 grupos. O tempo de duração da filmagem
de cada grupo foi de 20 a 30 minutos. Na entrevista sem a filmagem, os
adolescentes falaram de maneira muito espontânea, porém percebeu-se que em
frente a câmera filmadora, tiveram mais dificuldades para expor suas opiniões,
falando de maneira mais contida. Com o início da edição do documentário
constatou-se a necessidade de regravar algumas falas, além de reedição de
algumas partes, pois com o nervosismo visível diante das câmeras não conseguiram
falar de modo natural tudo aquilo que tinham apresentado nas entrevistas.
O roteiro de entrevista apontado no vídeo7 foi o mesmo do questionário
aplicado em sala (momento em que se obtiveram as respostas apresentadas nos
quadros abaixo):

6
Para isto realizou-se uma reunião com os alunos que se disponibilizaram a participar do
documentário, para esclarecimento sobre a gravação do vídeo e checagem da devolução do Termo
de Cessão de Pessoa Física para Pessoa Física e do documento de direito de uso de imagem de
cada um dos participantes nas entrevistas e nas gravações, conferindo seu preenchimento e
assinatura do responsável.
7
A proposta da Produção do Material Multimídia - Vídeo/Documentário está disponível no endereço
eletrônico: <https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=y9tjkKP7R20&hd=1>, com
duração aproximada de treze minutos.
Quadro 1 – Avaliação pessoal sobre a escola
Como você avalia a nossa escola?
Alunos Professores e agentes educacionais
- Escola boa, bem organizada e - Necessita de melhorias: mais salas, lugares para
comprometida, de estrutura física boa, mas guardar os trabalhos, espaço para exposição de
precisa de uma reforma: pintura, atividades, na quadra de esportes, sala de jogos e
construção de passarelas e coberturas sala dos professores, acessibilidade, wc para
ligando os ambientes, colocação de tela na professores, criar sala de leitura, laboratório de
quadra, piscina com aulas de natação, ar informática, e na internet. - Poderia ser colocada
condicionados novos, salas ambientes e internet wi-fi na escola.
bem equipadas, laboratórios equipados e - Salas de aula, bem como os demais ambientes,
sendo usados constantemente. são arejadas, limpas e organizadas, inclusive os
- A maioria das regras são seguidas, porém ambientes externos, como os jardins. Possui boa
muitas regras são desnecessárias. iluminação.
- Abre portas para o futuro. - Parte organizacional: melhor que outras escolas,
- A maioria dos professores possui em bom muito bem organizada, possui professores
conhecimento e conseguem transmiti-lo comprometidos, porém alguns que vem de fora não
com sabedoria e paciência. se envolvem nos eventos.
- Poderia ter materiais tecnológicos, - Tem os recursos necessários aos professores na
preferencialmente em cada sala, sala de aula como TV, multimídia, biblioteca e
atendendo os professores (projetores, bibliotecária para auxiliar, bons livros aos
notebook, som, tv, etc) e outros para professores, fornece matérias.
atender aos alunos, como por exemplo, ter - Equipe Diretiva é acessível/companheira, exerce
um computador por aluno, com boa sua função adequadamente; boa equipe pedagógica
capacidade de internet, e armários para para apoio e incentivo aos professores para
guardar seus materiais. desenvolver novas idéias. É de cobrança séria, certa
- O lanche deveria ser natural, sendo e exigente.
inclusive produzidos pelos próprios alunos, - Bom relacionamento entre professores,
sem os enlatados mandados pela SEED. funcionários, que estão integrados e comprometidos.
- Deveria fornecer todos os materiais para - Alunos participativos, interessados e disciplinados,
os alunos, diminuindo a escrita. a grande maioria.
- Deveria ampliar os projetos e as
atividades, já existentes, melhorando a
participação dos alunos.
- Mudar a cor do uniforme e exigir o uso
dele por completo.
- Gostariam que o intervalo fosse maior e o
período letivo menor.
Fonte: DEWES (2013)

Quadro 2 – Preferências dos alunos com relação à escola.

O que os alunos gostam na escola? O que os alunos não gostam na escola?


Alunos Professores e agentes Alunos Professores e agentes
- Namorar, porque - De aulas/atividades - Educação Física: - Das regras e dos
deixa feliz; diferentes: fora da sala, repetição anual de limites.
- Ficar com os de passeios, atividades conteúdos e do - Da rotina, ficar dentro
amigos na hora do práticas relacionadas professor, mesmo de sala, das tarefas, das
recreio e lanche; com os conteúdos estilo de danças todos avaliações, de serem
- Lanche bom; trabalhados ou com o os anos, jogar xadrez cobrados, de estudar.,
- Ambientes limpos; cotidiano, atividades a aula toda. - Demonstram não
- Bom aprendizado; que possam ser - Professor que fala gostar das aulas
- Dos professores desenvolvidas com o que não gosta dos tradicionais (professor
que explicam bem uso da tecnologia (TV, alunos. falando, alunos ouvindo/
e, que são tablet, multimídia, - Aulas repetitivas, reproduzindo),
simpáticos. computador, etc.) monótonas, consideram-nas
- Fazer atividades - Professores amigos, previsíveis, com monótonas, com
fora da sala. companheiros, prioridade para os conteúdos não
- Aulas dinâmicas, motivadores, que falam estudos tradicionais, relacionados a sua
como: festas, a linguagem deles. deveriam ter mais vivencia.
apresentações, - Gostam de ser recreação, músicas, - Não gostam de ser
noites culturais, elogiados. esportes, etc. cobrados, nem de
passeios, feira do - São adeptos da “lei do - Das regras. avaliações, pois nem
conhecimento, menor esforço”. - Aulas no horário de todos gostam de
filmes, confecção - Do encontro com verão. estudar.
de cartaz, atividade amigos, onde trocam - Intervalo muito curto.
física, etc. ideias, contam seus - Ar condicionado
- Transporte problemas, ouvem os velho.
gratuito. outros.
Fonte: DEWES (2013)

Quadro 3 – Relação entre a dinâmica da aula e o perfil do professor.

Como é uma Como é o perfil do Como é uma aula O que você como
aula gostosa, professor motivador? chata, com um professor poderia
com um professor fazer, para motivar o
professor desmotivador? aluno?
motivador?
Alunos Professores e agentes Alunos Professores e
agentes
-É aquela com - Alia a teoria à prática. - Professor que: entra - O professor deveria:
um professor - Desperta no aluno o em sala sendo irônico, motivar os alunos;
que: faz interesse pelos conteúdos “dá patada”, fala melhorar a qualidade
atividades e os relaciona com a vida. palavrões; é estressado, das aulas saindo do
diferentes, fora - Realiza projetos que vão mal humorado, chato, convencional: trazendo
de sala ou ao encontro das estúpido, está “de mal novidades, utilizando
brincadeiras e ansiedades dos alunos. com a vida”; diferentes estratégias e
participa delas; - É atualizado, ; só usa giz e apagador, recursos de mídia,
ensina brincando;acompanha o avanço faz apenas aulas em organizando a sala em
se aproxima dos tecnológico. que só fala e o aluno círculo, fazendo aulas
alunos, é amigo, - Despertar sonhos, copia, tornando a aula externas, viagens,
bem humorado, incentivando-os a uma bagunça, pesquisas, entrevistas,
paciente, criativo;
estudar. mostrando produção de vídeo;
sabe explicar, - Procura ser amigo, desorganização e falta tornar os assuntos das
preocupa-se em colocando-se no lugar do de preparo; não aulas atrativos,
saber se o aluno aluno para entender suas reexplica o conteúdo, e relacionando-os com a
aprendeu ou não dificuldades. xinga quando é vida dos alunos; estar
e não reclama - Deve mostrar aos solicitado; trata os motivado para poder
pra reexplicar; alunos que todos os alunos de forma motivar, e gostar do
incentiva sem conteúdos trabalhados diferente; não que faz.
obrigar; tem são importantes, embora desenvolve a aula,
domínio de turma muitas vezes não possam demonstrando não
e de conteúdo; ser relacionados de dominar o conteúdo,
- Aula em que se maneira prática com falta de vontade e
faz viagem de situações do dia a dia. interesse; o que faz
estudo. - O professor precisa registros por qualquer
estar motivado, ter coisa; apresenta uma
compromisso social com aula muito elaborada
a educação, demonstrar (de difícil compreensão),
dedicação, entusiasmo, ou muito simplória, sem
amor e prazer no que faz. aprofundamento.
Fonte: DEWES (2013)

Quadro 4 – Interesse pela aula

Quando a aula não esta sendo interessante, o que você faz?


Alunos Professores
- Atrapalha, - Planejar vários métodos ou as estratégias como, por exemplo, reproduzir
conversa, dorme, música enquanto os alunos estão fazendo as atividades, propor atividades
pensa em outras em grupo, solicitar a opinião dos alunos.
coisas sem relação - Entender o porquê a aula não está interessante, procurando reverter a
com a escola; não situação com atividades diferentes: mostrando que o assunto trabalhado é
faz atividade, faz importante para os conteúdos futuros (pré-requisito), retomando o
brincadeiras; não conteúdo, procurando explicá-lo de maneira diferente usando exemplos
respeita; diverte-se práticos e tecnologias e trazendo o conteúdo para a realidade dos alunos,
com distrações. ou seja, transformar a aula que está convencional numa aula interativa.
Fonte: DEWES (2013)

Quadro 5 – O uso da tecnologia nas aulas.

Existe diferença entre a aula que tem o auxílio da tecnologia daquela que não tem?
Alunos Professores
- Aulas com vídeos, filmes e outras ferramentas - As tecnologias propiciam mais
tecnológicas geram interesse e há um maior atenção e interesse, diversificam a
aprendizado, tornando-a interessante. aula, pois fazem parte do dia a dia dos
- Depende do trabalho doprofessor: uma aula bem alunos, podendo facilitar a
explicada, fundamentada, pode ser melhor do que uma aprendizagem e estimular a
onde o professor usa a tecnologia, mas de forma participação do aluno.
inadequada e nada ensina.
Fonte: DEWES (2013)

Quadro 6 – Possíveis melhorias no ambiente escolar.

O que poderia ser feito para melhorar o ambiente escolar, ser mais atrativo?
Alunos Professores
Âmbito pedagógico: - Ser mais valorizada
- A escola ter autonomia para escolher os profissionais que nela atuam. pelos pais e alunos.
- Instituir o período integral; - Poderiam ser
- Duas disciplinas por noite. criados mais espaços
- Mais palestras, pesquisas, viagens, aulas de leitura e informática. de lazer.
- Mais aulas de educação física, desde que seja com outro perfil. - Montar salas
- Melhorar os laboratórios, propiciando aulas práticas, de pesquisa e ambientes para cada
experiências. disciplina, onde os
- Ter aulas diversificadas, usando metodologias diferentes, diminuindo a alunos mudariam de
monotonia. ambiente a cada
- Mais conteúdos midiáticos e realização de simulados. aula.
- Mais projetos como: jardinagem, pintura, culinária, judô, karatê, capoeira, - Ouvir os alunos, ver
natação, canto, teatro, informática, dança; suas dicas, para
- Ensino Médio ter reforço para todas as matérias. detectar o problema.
- Poder optar entre inglês ou espanhol (aulas em paralelo). - Professor gostar do
- Provas com consulta ou em dupla. que faz.
- Livros bons de leitura. - Professor precisa
- Professor prestar mais atenção na sala, cumprir o regulamento. mudar, atualizar-se e
- Acabar com a decoreba. se empenhar mais.
- Valorizar e respeitar os professores. - Professor precisa
- Participar e se interessar mais pela aula - estudar mais. ter controle sobre a
- Não ter bagunça nas aulas. turma.
- Notebook ou tablet para cada aluno, extinção do caderno. - Mudar a formação
Conselho de classe interativo, com os alunos. universitária.
- Professores que
Âmbito organizacional: motivem os alunos.
- Ajudar na limpeza e manter a escola limpa.
- Zelar pelos materiais.
- Não estragar os trabalhos.
- Participar ativamente do Grêmio Estudantil.
- Recreio maior e aulas mais curtas.
- Liberar celular e o wi-fi, internet rápida, porém com restrições de acesso a
sites.
- No intervalo: liberar a sala de jogos e de informática, ter TV, som ou
vídeo-game.
- Fornecer os materiais escolares para quem não pode.
- Sexta-feira ter só jogos.
- As músicas da rádio interativa da quarta ser bem mais baixo;
- Reformular o Projeto Estudante Destaque.
- A escola fornecer material gratuito para os alunos.
- Menos burocracia para reservar material multimídia na biblioteca.
- Aperfeiçoar os projetos: Hora Treinamento, Fanfarra, Pré-vestibular e
Espanhol.
- Mudar a cor do uniforme, que deveria ser completo.

Âmbito infra estrutural:


- Ter equipamentos novos para a fanfarra.
- Cadeiras e carteiras mais confortáveis.
- Armários para cada aluno guardar os materiais.
- Uma TV “grande”, rádios, caixas de som e DVD em cada sala;.
- Projetor com notebook para os professores.
- Colocar ar condicionado novo.
- Ter lousa digital ou quadro de pincel.
- Chuveiros, relógios digitais, espelhos no banheiro masculino,
- Lixeiros e bebedouros melhores e limpos.
- Ter área de lazer, campo de futebol, campo de arreia, futebol sete,
campo de golfe, campo de tênis, quadra maior, campeonatos esportivos,
academia, boxe, atletismo, piscina, natação e bancos.
- Consertar o Espiribol, as janelas, a casa de arte, pintar os murros,
ampliar a quadra esportiva, atividades recreativas, gincanas, torneio entre
classes, festas nas datas comemorativas.
- Ter sala própria para cada disciplina, para apresentação de trabalhos,
assistir filmes (auditório).
- Cobertura para esperar o transporte quando chove.
- Melhores condições de transporte.
- Ter Cantina ou restaurante ou praça de alimentação.
- Seguranças no portão e no pátio.
- Melhorar a iluminação no pátio.
- Escola de dois andares, com elevador.
- Melhorar o lanche, sem enlatados, mais saladas, sucos naturais, e frutas.
- Poder usar facas.
- Deveria poder repetir o lanche de maior preferência.
- Quando tiver cereal, acrescentar outros complementos.
- Ter enfermaria.
- Arrumar as cortinas rasgadas ou trocar.
Fonte: DEWES (2013)

Análise dos dados

Cotejando a fundamentação teórica que norteia tal pesquisa com os dados


obtidos durante a observação participante e entrevista com os sujeitos envolvidos,
apresenta-se nesta seção as reflexões realizadas.
Ademais as inúmeras e diversificadas respostas, optou-se por apontar e
discutir as questões que foram mais ressaltadas pelos entrevistados. Desta forma,
referindo-se aos quadros acima, podemos elencar diversos pontos. A análise destes
quadros será conjunta, pois muitas respostas se entrelaçam. O primeiro deles refere-
se à importância da relação humana estabelecida na escola: a do professor-aluno e
a amizade entre os estudantes. Tal questão também foi abordada em uma pesquisa
publicada pela Revista Nova Escola, de autoria da Fundação Vitor Civita, expõe a
fala de Ana Paula Corti (2013, p. 15), a saber:

as amizades parecem ser um fator decisivo para que o estudante continue


frequentando as aulas. ‘Pena que essa sociabilidade ainda seja vista pela
escola como algo negativo. As entrevistas nos mostram que as amizades e
os relacionamentos devem ser reconhecidos como aliados’ [...] Da mesma
forma, a ligação com os professores importa. ‘A pesquisa deixa claro que os
docentes tornam o sistema escolar humanizado e estimulante para os
jovens’.

Ainda sobre as relações professor-aluno, percebeu-se que os estudantes


entendem que é responsabilidade do professor tornar a aula atrativa. Apontam
traços de personalidade que influenciariam, direta ou indiretamente, na concepção
do que entendem por “bom professor” ou “professor bom”, compreendido como
motivador. Ou seja, não só veem o ponto negativo, criticando a falta de professores
motivadores, mas também, citam nomes de professores que consideram ter estas
características. Isto transparece que o estudante tem uma concepção do que é “uma
boa aula”.
Este mesmo perfil de “bom professor” traçado pelos estudantes é feito pelos
professores. Assim, percebemos uma contradição: o professor reconhece esse fato,
mas, no entendimento dos alunos, ele não o faz. Ou seja, há linhas de conforto
dentro da escola. A fala de Haroldo da Gama Torres aponta as mesmas
reclamações feitas em uma pesquisa da Fundação Vitor Civita:

o bom professor consegue produzir vínculos, despertar o interesse para a


disciplina que ensina e trazer os conteúdos para a vida dos alunos
estabelecendo, de algum modo, paralelos que deixam a experiência do
aprendizado menos abstrata. O pior professor, na opinião deles, só fica
escrevendo na lousa, de costas para a sala, não tira dúvidas, não dialoga e,
muitas vezes, adota um registro repressivo. O discurso dos estudantes não
passa pela competência técnica do professor, mas pela natureza do contato
estabelecido entre eles. Os vínculos formados com os educadores
influenciam na percepção geral que os adolescentes têm sobre a escola
(TORRES, 2013, p.16).

Outro ponto sobre o qual os alunos falaram muito é a infraestrutura do


colégio. Ao mesmo tempo em que tecem elogios sobre, afirmando que é bom,
também assinalam que é necessária uma reforma e, ainda, a construção e criação
de mais espaços que atenderiam as necessidades pedagógicas das aulas práticas e
recreativas, por exemplo. Tal questão liga-se a outro tema que se deve apontar: as
constantes queixas dos estudantes no que toca a falta de aulas mais práticas e
variadas, onde ocorra uma relação entre o conteúdo e a sua vivência. Em
comparação com a pesquisa citada acima percebemos que há uma percepção
comum entre estes e aqueles estudantes, expondo a fala de Celso Ferretti, docente
da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR):

Os alunos reclamaram da ausência de aulas práticas, que está, em grande


parte, relacionada à falta de infraestrutura adequada. As bibliotecas não
contam com um profissional especializado e nos laboratórios de Ciências
não há quem faça a manutenção e prepare os equipamentos para as aulas.
Nesse cenário, a atuação dos professores fica limitada (NOVA ESCOLA,
2013,p.12).

Aliada a tais reclamações, observa-se a cobrança de mais projetos e


atividades práticas na escola, das mais diversas áreas. Este ponto reincide em
quase todas as perguntas feitas e se fortalece quando o estudante afirma estar
desmotivado ao assistir apenas a aulas tradicionais. Estas aparecem, nesta
pesquisa, como ponto-chave das questões dadas como negativas pelos estudantes.
Assim, corrobora o que já foi apontado no início deste texto e por inúmeros
pesquisadores: que a escola não acompanha as mudanças da sociedade, em
decorrência, não sabe ainda lidar com os sujeitos imersos em uma cultura líquida e,
assim, enfrenta uma crise.
Tem-se ainda questão do uso de tecnologias em sala de aula, o que se
mostrou divergente comparando a fala dos estudantes e dos professores. Os
primeiros reclamam sua ausência e dizem que sentem falta de aulas em que há seu
uso. Já a fala dos professores transparece que há a existência do seu uso, que
precisa apenas ser melhorada. Assim, percebemos as diferentes percepções sobre
a mesma questão neste ambiente escolar, os estudantes, ao mesmo tempo em que
pedem mais uso de tecnologias nas aulas, a querem bem empregada, isto é, que o
professor a use como ferramenta, “se ele tiver atrelado a um propósito pedagógico
bem estabelecido, permitindo tornar as aulas mais dinâmicas” afirma Marcos
Magalhães, segundo o artigo da Fundação Victor Civita, publicado na Revista Nova
Escola (2013, p. 11).
As sugestões para a melhoria do ambiente escolar, apontadas no quadro 6,
foram divididas em três âmbitos: pedagógico, organizacional e infra estrutural. As
solicitações foram inúmeras, reiterando o que já havia sido apontado em outros
momentos e acrescentando ainda mais algumas sugestões. É fácil notar que muitas
dessas sugestões são simples e de ordem prática no cotidiano escolar, basta o
professor adequar o seu planejamento e metodologia. Outras sugestões por sua vez
são grandes e ousadas, além é claro de ser necessário um profundo investimento.
Mas com certeza essas sugestões são para melhorar o ambiente escolar, tornando-
o mais atrativo e assim possibilitando um melhor rendimento do aluno, fazendo com
que esse possa ter novas perspectivas de futuro através da educação. Apreende-se
ainda, das solicitações, a escola idealizada pelos estudantes, que faz alusão ao
modelo apresentado em filmes e seriados norte-americanos.

Implementação didático-pedagógica

Após a análise das respostas de alunos, professores e agentes, partiu-se


para a Implementação Pedagógica, o terceiro passo do projeto. Ela se deu no mês
de fevereiro de 2014, com a apresentação do projeto e da Unidade Didática aos
membros da comunidade escolar, em diferentes momentos.
Na sequência, para a implementação, foram planejados dois momentos
distintos: o primeiro, realizado com os alunos e o segundo, com os professores.
No primeiro momento, realizou-se os feedbacks aos alunos entrevistados,
possibilitando aos mesmos refletirem sobre seus apontamentos. Foram projetadas –
no multimídia - as repostas apresentadas por eles no ano anterior e, para cada
tópico apresentado, foi solicitado aos alunos que apontassem: o tempo possível para
o atendimento de cada solicitação (curto, médio ou longo prazo), quem deverá
realizar tal ação (o colégio, os alunos, a mantenedora SEED, os professores, a
equipe diretiva e pedagógica ou os agentes educacionais) e as ações necessárias
para tal. Como no quadro abaixo:

Quadro 7 – Retomada e análise das questões apontadas pelos estudantes.


Problemática Prazo para atendimento Quem deve fazer Ações necessárias
apresentada Curto Médio Longo Colégio SEED

Fonte: DEWES (2014)

Nesta ação, as falas transpareceram uma ideia conhecida: a de que apontar


falhas é mais fácil do que apontar soluções, uma vez que para muitos tópicos eles
precisaram pensar em possibilidades, para outros não encontraram soluções e,
inclusive, apontaram tópicos que julgaram desnecessários terem sido apresentados,
por não serem úteis ou proveitosos.
Na sequência desta ação, promoveu-se 2 encontros com os líderes de turma
e o Grêmio Estudantil quando foram analisados o Regulamento Interno da instituição
e as leis que se referem ao cumprimento das 800 horas e dos 200 dias letivos
previstos no calendário escolar e o estudo do calendário escolar deste colégio. Ao
final desta ação, os estudantes compreenderam permanência dos itens do
Regulamento, e ainda acrescentaram novos. Sobre as leis estudadas, entenderam
as questões legais que envolvem o calendário acadêmico, reconhecendo que a
escola também tem limites com relação a isso.
Para esta pesquisa, entende-se que o feedback tem como objetivo buscar
respostas apenas às questões apontadas como negativas. Desta forma, apresenta-
se a seguir, os resultados obtidos na primeira ação.
No que se refere à forma de como os alunos avaliam a escola, obteve-se as
seguintes definições sobre as reinvindicações:
• Prazo de atendimento8: 35,4% (curto prazo), 39,6% (médio prazo), 25% (longo
prazo);
• Quem deve fazer as ações: 56% devem ser resolvidas pelo colégio, através de:
promoções e contribuições dos alunos; 44% pela SEED, através de: ofícios,
manifestações, conscientização dos governantes, ampliação do porte com a
contratação dos profissionais reivindicados.
• Ações elencadas como prioritárias pelos alunos e professores: colocar
condicionadores de ar novos, mudar a cor de uniforme devendo ser completo,
celular e wi-fi liberados, internet de qualidade, armários individuais para os alunos,
arrumar as cortinas rasgadas ou trocá-las, cadeiras e carteiras mais confortáveis,
multimídia nas salas, quadro de pincel.
No que toca os apontamentos referentes às questões: o que não gostam na
escola, aulas chatas/desmotivadoras e ao que fazem quando a aula não está
interessante, temos os seguintes resultados:
• Prazo de atendimento: todas foram definidas para serem atendidas em curto
prazo.

8
No que se refere à definição dos prazos, entende-se: curto prazo, o período de 1 a 3 anos; médio
prazo, de 3 a 10 anos e; longo prazo, acima de 10 anos.
• Quem deve fazer as ações: a maioria das soluções foram apontadas como sendo
deveres da escola (dos próprios professores) e, em raras situações, da SEED;
• Ações elencadas como prioritárias pelos alunos: diálogo maior entre comunidade
escolar e alunos; orientações aos professores pela equipe diretiva e pedagógica
quanto a: mudanças pedagógicas e metodológicas, importância da interação
professor-aluno; exigência do cumprimento das regras, carga horária e conteúdos
programáticos, ter garantido o direito de reexplicação do conteúdo afim de sanar
dúvidas; contratação de mais profissionais para atender as demandas da escola;
trabalhar com os alunos os regulamentos da escola;caso necessário, haver a
possibilidade de fazer registros dos professores.
Das reivindicações apresentadas na questão sobre as melhorias no ambiente
escolar, temos:
• Prazo de atendimento: 55,2% (curto prazo), 22,4% (médio prazo), 10,5% (longo
prazo) e 11,9% (desnecessárias);
• Quem deve fazer as ações: 55% pelo colégio e professores e 45% pela SEED;
• Ações elencadas como prioritárias pelos alunos:- devem ser reivindicadas a
SEED: organização do tempo integral nas escolas, fornecimento de materiais e
profissionais (inclusive psicólogos, assistente social, enfermeira, etc.), possibilitar
a ampliação de projetos, planejar currículos e grades escolares alternativos e
flexíveis, possibilitar às escolas a autonomia na escolha dos seus profissionais,
aumento do repasse de verbas, ampliação do fornecimento de alimentos da
agricultura familiar, solicitação de equipamentos modernos, além da ampliação da
capacidade da internet; - cabe à escola: além das questões já apontadas acima,
tem-se o estímulo ao Grêmio Estudantil,a organização das turmas e dos
professores para atividades culturais, artísticas e esportivas; manutenção da horta
escolar; planejamento, em calendário escolar, das diversas atividades solicitadas;
buscar parcerias na comunidade;
A segunda etapa da implementação foi realizada em julho de 2014, durante a
segunda etapa da Formação Continuada, com a escolha de temas que levem a
sensibilização do quadro de educadores, diante dos desafios apresentados pelos
alunos, para que ocorra uma maior aproximação entre estes protagonistas do
contexto escolar.
Iniciou-se a implementação com a aplicação de dinâmica de motivação
relacionada à função de educador, posteriormente, a Assistente Social Simone
Ferrari palestrou sobre o perfil do adolescente e do jovem contemporâneo, visando
sensibilizar os educadores diante da necessidade de inovação e reconhecimento
dos dilemas dos educandos e dos desafios da educação.
Debateu-se sobre a importância de lutar para que a escola tenha as equipes
multiprofissionais, para que os educandos possam ser atendidos pelo profissional
habilitado, resultando em maior eficácia na intervenção, maior rapidez no
diagnóstico e na eventual reversão da dificuldade. Se isso acontecer, o trabalho do
docente pode focar mais diretamente na essência do processo ensino-
aprendizagem.
No dia seguinte, reunidos em grupos, os educadores realizaram uma
avaliação institucional e uma autoavaliação com relação ao seu desempenho.
Em síntese, seguem abaixo os apontamentos da avaliação institucional:

Quadro 8 – Avaliação institucional do corpo docente sobre o colégio.


Pontos positivos Pontos negativos

- Bom relacionamento interpessoal/ - É distante de Toledo.


entrosamento entre professores e demais - Rotatividade de professores/ alguns não são
agentes, de forma harmoniosa. comprometidos.
- Equipe pedagógica e diretiva atuante, - Alunos com pouco interesse e perspectiva de
que reconhece e valoriza seus futuro, em decorrência da obrigatoriedade de estudar
profissionais, possibilitando-lhes até a maioridade.
autonomia; - Falta de envolvimento, comprometimento e
- Lado humano bem desenvolvido, valorização por parte dos pais.
buscando fazer sempre o melhor pelo todo. - Dificuldade de engajar pais nas instâncias
- Profissionais qualificados, comprometidos colegiadas.
e atuantes, que compartilham - Dificuldade financeira para: melhorar a estrutura
experiências. física e atender as reivindicações como: possibilitar
- Reconhecimento da diversidade de competições, exposições, passeios, etc.
alunos e atendimento especializado - O banheiro da sala dos professores, totalmente
àqueles com dificuldade. impróprio e inadequado.
- Convivência harmoniosa entre diferentes - Computadores lentos, quando funcionam.
etnias e religiões. - Necessidade de troca dos condicionadores de ar e
- Parte física bem estruturada. da melhoria e atualização do acervo bibliográfico.
- Adesão aos projetos do governo. - Falta de materiais para os projetos.
- Bom atendimento aos pais. - Não ter feira de ciências/ conhecimento.
- Prática da gestão democrática. - Pouco investimento em palestras informativas e de
- Organização, rotina/ ambiente agradável. conscientização dos alunos.
- Compromisso com a qualidade do - Boa parcela da clientela com baixo conhecimento
estudo. cultural.
- Não progressão automática. - Recursos enviados pelo governo são insuficientes.
- APMF angaria recursos para manter os - Desinteresse e desmotivação dos alunos em
reparos. atividades curriculares e diferenciadas.
- Promove eventos que envolvem a - Porte inadequado.
comunidade escolar e a comunidade em
geral.
- Boa qualidade no lanche.
Fonte: DEWES (2014)

Ademais o elencado, duas questões autoavaliativas foram feitas, a saber:


Como você se avalia como profissional? E Se você fosse aluno hoje, como você
veria a escola?. Os docentes responderam à primeira indagação, em geral,
avaliando-se como: limitados, porém comprometidos, cientes que podem melhorar
sempre, pois estão em constante formação, buscando aperfeiçoamento e, também,
se veem como positivos, animados e otimistas. Com relação à segunda,
responderam que veriam com “bons olhos”, pois: é um ambiente limpo, agradável;
há a preocupação com o bem estar e o aprendizado dos alunos; há aulas e
momentos culturais fora de sala de aula. Mas também, necessitaria ter: maior
comprometimento político e financeiro por parte do Estado; colegas que
valorizassem mais a escola que tem, sendo mais comprometidos; uma escola com
melhores condições de utilização das tecnologias e equipamentos; professores mais
capacitados para ministrar aulas mais dinâmicas; uma nova proposta pedagógica;
mais atividades esportivas e lúdicas; mais passeios, torneios, visitações, etc.
Em um momento posterior, foram apresentadas as respostas dos alunos
sobre a definição de prazos e a responsabilidade de cumprimento das mudanças
sugeridas, as respostas dos professores foram ao encontro das respostas dos
estudantes9, por esta razão, acredita-se não ser necessário apontá-las novamente.
Na sequência, foi projetado o documentário com os depoimentos de alunos e
professores do CECNS. Este momento, em especial, gerou um grandioso debate,
pois do ponto de vista dos professores as respostas dos alunos sobre a sua visão de
escola são, em grande parte, genéricas e mal fundamentadas. Ainda, chamaram
atenção para a postura tomada pelos estudantes no que toca à sua forma de falar e
se expressar em uma situação comunicativa considerada mais formal.
Por fim, a última atividade planejada da era a construção de um Plano de
Ação coletivo que, devido à forma como os docentes receberam e debateram os
dados levantados pela pesquisa, não foi efetivado por questões de tempo.
Por essa razão, foi solicitado aos professores que realizassem uma avaliação
sobre este projeto, onde afirmaram que este proporcionou uma análise da escola e
do processo ensino aprendizagem que está posto. Verificou-se que a maioria dos

9
Ver seção 3 deste trabalho.
posicionamentos dos alunos não vem ao encontro com o objetivo da escola, o
ensino, pois os mesmos estavam preocupados em melhorar seu bem-estar e sua
convivência, mas não entendem que o estudo e a dedicação são fundamentais para
que o processo de ensino e aprendizagem ocorra de forma significante. Da mesma
forma, possibilitou conhecer melhor os alunos e suas características, a troca de
experiências, reconhecer o que é responsabilidade do professor e do poder público,
identificar os “desafios comuns” do grupo, buscar motivação para os desafios
propostos e, ressaltaram que a problemática foi muito pertinente para refletir sobre
as práticas pedagógicas e a realidade dos alunos, mexendo com a “zona de
conforto”.

Grupo de Trabalho em Rede – GTR

Em paralelo a implementação ocorreu o GTR - Grupos de Trabalho em


10
Rede , que realizou-se pela interação virtual entre os Professores PDE e os demais
professores interessados da Rede Pública Estadual.
Após trilhar um caminho de reflexões, sintetizou-se as contribuições e
observações relevantes feitas por esta autora e pelos participantes deste GTR,
socializadas nos diários e fóruns referentes às três temáticas deste curso.
O grupo refletiu sobre a relevância do trabalho que ora se apresenta para a
realidade da escola pública, seus pontos fortes e fracos. No transcorrer do curso as
ações implementadas11 foram avaliadas como positivas já que o mesmo motiva a
repensar as práticas pedagógicas, entender opiniões e desafios que suscitam
reflexões e diálogos, cuja meta é a aprendizagem. Houve considerações que
refletem pessimismo sobre os problemas da educação.
Percebeu-se a complexidade das questões a partir de opiniões conflitantes a
respeito da função da escola. Segundo um participante, acreditar que o problema da
educação está na má utilização das tecnologias é uma falácia, já que a crise não é
só da escola. Na opinião de muitos participantes do grupo, é preciso que os
coordenadores pedagógicos se unam mais ao corpo docente e que promovam
momentos de formação com trocas de experiências e reflexão sobre as práticas
10
Neste grupo participaram 16 pessoas, das quais 2 são diretores, 2 vice-diretores, 2 pedagogos, 2
professores, 8 professores da educação especial, os quais após se apresentarem, participaram das
três temáticas propostas, sendo que somente 11 concluíram as atividades.
11
Questões apresentadas no capítulo 3 deste texto.
pedagógicas e, também, que existe descompromisso e incompetência, tanto por
parte de gestores como de professores. Já outra participante discorda dizendo que a
escola como um todo, vem sendo desconsiderada e não se veem políticas públicas
sérias e comprometidas com a educação de verdade.
Para todos os participantes, o envolvimento dos alunos na busca de soluções
para os problemas tira-os da zona de conforto e faz com que percebam que a escola
é um lugar de embates, de contradições e tem objetivos que precisam ser
cumpridos. É preciso, também, abrir espaço para que as vozes dos funcionários das
escolas, pais e comunidade sejam ouvidas quanto à melhoria da educação.

Considerações finais

A convivência com estudantes, corpo docente, funcionários, pais e


comunidade escolar gera tensões entre estes segmentos, as quais sempre
existiram, mas que na pós-modernidade sua complexidade vem aumentando e
deixando um travo amargo de angústia, de quase impotência diante de situações
cotidianas para as quais não se encontram saídas, soluções.
As tensões causadas por esse jogo de força puderam ser percebidas nesta
pesquisa, uma vez que a opinião dos alunos (geralmente silenciada) transpareceu
percepções e anseios diferentes dos apresentados pelos professores, fato que
gerou debate, pois os docentes não veem – e muitos não aceitam – as questões
levantadas e reivindicadas pelos estudantes, e transferem a crítica a outros setores,
como o sistema educacional, o Estado, etc.
Dentre as diversas questões discutidas, a mais apontada pelos alunos foi a
reivindicação por aulas diversificadas e dinâmicas, cujos conteúdos estejam
relacionados a sua vivência. Este fato indica caminhos e motes importantes a serem
discutidos no ambiente escolar, os quais exigem transformações tanto da prática
pedagógica, como das relações professor-aluno.
Estas transformações somente ocorrerão quando os professores
compreenderem que os sujeitos com que lidam atualmente são sujeitos imersos em
uma cultura líquida. Dessa forma, faz-se necessário que o fazer pedagógico
cotidiano considere estas mudanças, que a clientela presente na escola seja vista e
tratada dentro das suas características de proatividade, curiosidade e habilidade -
com aquilo que os atrai - e, também da impulsividade, imediatismo e da dificuldade
em aceitar limites, porém, o que transpareceu neste estudo, é que ainda não há
esse entendimento.
Neste sentido, o uso da tecnologia como ferramenta pedagógica, neste
contexto, é uma exigência necessária uma vez que os alunos atuais são “nativos
digitais” e passam boa parte de seus dias online.
A insistência em modelos tradicionais e fragmentados de ensino e a aversão
a transformação colocam em risco o próprio ensino, uma vez que inúmeras
pesquisas apontam que a desmotivação dos estudantes com relação à escola é um
dos principais fatores de evasão escolar, como pesquisas feitas pela Fundação Vitor
Civita12- divulgada na Revista Nova Escola – e uma notícia do site da BBC Brasil13
Assim, na escola ideal, conforme Moran (2009) tem-se a necessidade de
flexibilidade de tempos, horários e metodologias. Uma escola centrada nos alunos
onde se desenvolvam situações ricas de aprendizagem e incentivo, pautadas na
colaboração:
Quanto mais tecnologias avançadas, mais a educação precisa de pessoas
humanas, evoluídas, competentes, éticas. São muitas informações, visões,
novidades. A sociedade torna-se cada vez mais complexa, pluralista e
exige pessoas abertas, criativas, inovadoras, confiáveis. (MORAN, 2007, p.
167)

Portanto, pode-se concluir que a escola tem grandes desafios, principalmente


na necessidade de reconhecer as mudanças em curso, na rapidez com que ocorrem
estas mudanças e que a profissão de educador requer atualização constante, com
resiliência e dedicação. A “voz” aos estudantes instiga, a saber, se eles se
compreendem que, mesmo com aulas dinâmicas, práticas e relacionadas a sua
vivência, ou seja, ele se percebe responsável pelo seu papel de estudante?

Referências

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13
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