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2, B33-B46, 2021
Revista on-line http://www.scientia-amazonia.org
ISSN:2238.1910
Ciências Biológicas
LPZ da UNAMA – Centro Universitário da Amazônia. Santarém, PA, Brasil. E-mail: chalkidis@hotmail.com
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Por ser um período de pouca chuva, região. Portanto este estudo tem por fi-
muitos agricultores aproveitam para nalidade analisar a composição e pa-
limpar suas áreas através das queima- drão de atividades de serpentes e as-
das, e, em alguns casos o agricultor pectos sobre a dinâmica de comuni-
perde o domínio sobre o fogo resul- dades após forte perturbação por
tando em incêndios de grandes pro- queimadas na Floresta Nacional do Ta-
porções, sendo considerado uma forte pajós – km 83 no município de Belterra,
perturbação ambiental, e podendo Pará, Amazônia, Brasil.
causar graves mudanças nas composi-
ções das comunidades da fauna (KO-
PROSKI et al., 2006; TOWNSEND et al., O estudo foi realizado no km 83
2010). da BR 163 Santarém/Cuiabá, na Flo-
Segundo Pismel et al. (2015) os fo- resta Nacional do Tapajós, município
cos de incêndios entre de 2005 a 2013 de Belterra, Pará, Amazônia, Brasil (3º
sempre estiveram no entorno da Flona 02’35.56’’ S; 54º55’40.94’’ O), uma área
do Tapajós com maiores índices na re- utilizada para realização de manejo
gião sul da Flona, porém, a partir de florestal por parte da COOMFLONA
2013 os focos de incêndio ‘’migraram’’ (Cooperativa Mista da Flona do Tapa-
para uma faixa do município de Santa- jós). A Flona do Tapajós está dividida
rém sob a influência da BR-163. Essas em duas grandes regiões, a Floresta
queimadas são relacionadas principal- Tropical Densa (FTD) com mata pereni-
mente a pecuária para limpeza de fólia e com dossel de até 50 metros de
pastos. Assim, o clima muito seco do altura e a Floresta Tropical Aberta (FTA)
verão deixa a mata vulnerável. No que são áreas de transição entre Flo-
caso da Flona do Tapajós, vulnerável a resta Amazônica e outras áreas como
incêndios a partir de queimadas de Savana, por exemplo (RADAMBRASIL,
áreas adjacentes. Há também, as quei- 1976).
madas naturais, causadas por meio de A área total de coleta foi dividida
raios, porém, Machado (2012) ressalta em quatro parcelas (áreas), sendo
que o fogo por raios não é tão prejudi- duas parcelas em área de Platô e duas
ciais na maioria dos casos, pois geral- áreas em área de Baixio (Figura 1). Por
mente precede as chuvas que elimi- platô entende-se por uma área com
nam rapidamente o incêndio. altitude média acima de 170m e bai-
O fogo pode causar diversas res- xio, área com altitude média inferior à
postas da fauna durante o incêndio, 90m. As áreas foram divididas em: Par-
Koproski et al., (2006) descreve posturas cela 1 – AAP (área alterada platô); par-
defensivas de serpentes frente ao fogo, cela 2 – AAB (área alterada baixio);
em que alguns espécimes chegam a parcela 3 – APB (área preservada bai-
desferir vários botes nas chamas ten- xio); parcela 4 – APP (área preservada
tando de alguma forma se defender. platô). As áreas alteradas são áreas uti-
Porém, na literatura consultada, estu- lizas para manejo florestal e já sofreram
dos sobre composição de serpentes supressão vegetal, enquanto as áreas
após perturbações ambientais são es- preservadas correspondem às áreas
cassos para a Amazônia, principal- controle (ou Testemunha) da própria
mente após eventos de queimadas, Unidade de Conservação (Cordeiro,
apesar do alto número de incêndios na 2005).
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Figura 1. Área de estudo referente à área total da Flona do Tapajós, com os pontos de coleta,
cada parcela com dois pontos de armadilha de Interceptação e Queda: Parcela 1: Área
alterada Platô – AAP. Parcela 2: Área alterada baixio – AAB. Parcela 3: Área preservada baixio
– APB. Parcela 4: Área preservada Platô – APP.
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Tabela 1. Espécimes coletados na Flona do Tapajós durante o período de abril a outubro de 2016. (A –
Adulto; J – Jovens). PVLT – Procura Visual Limitada por Tempo; E.O – Encontro Ocasional.
MÉTODO DE
FAMILÍAS/ESPÉCIES IDADE TURNO SUBSTRATO PADRÃO DE ATIVIDADE
COLETA
ANILIIDAE
Anilius scytale J PVLT Noite Chão Deslocando-se
Anilius scytale J Pitfall trap - Balde -
BOIDAE
Corallus batesii J PVLT Noite Arbustos Deslocando-se
Corallus hortulanus J PVLT Noite Chão Deslocando-se
Corallus hortulanus A PVLT Noite Árvore Deslocando-se
COLUBRIDAE
Mastigodryas boddaerti J PVLT Tarde Chão Deslocando-se
Tantilla melanocephala A Pitfall trap - Balde -
Tantilla melanocephala J Pitfall trap - Balde -
DIPSADIDAE
Dipsas catesbyi J PVLT Noite Chão Deslocando-se
Drepanoides anomalus A Pitfall trap - Balde -
Drepanoides anomalus A Pitfall trap - Balde -
Erythrolamprus reginae J Pitfall trap - Balde -
Erythrolamprus reginae J Pitfall trap - Balde -
Imantodes cenchoa A PVLT Noite Arbusto Deslocando-se
Imantodes cenchoa J PVLT Noite Arbusto Deslocando-se
Leptodeira annulata J E.O Manhã Chão Termorregulação
Forrageio senta-e-es-
Philodryas argentea A PVLT Noite Arbusto
pera
Taeniophallus quadriocella-
J Pitfall trap - Balde -
tus
Taeniophallus quadriocella-
J Pitfall trap - Balde -
tus
Taeniophallus quadriocella-
J Pitfall trap - Balde -
tus
Taeniophallus quadriocella-
J Pitfall trap - Balde -
tus
Taeniophallus quadriocella-
J PVLT Tarde Chão Deslocando-se
tus
Xenopholis scalaris A Pitfall trap - Balde -
Xenopholis scalaris A Pitfall trap - Balde -
ELAPIDAE
Micrurus lemniscatus J Pitfall trap - Balde -
Micrurus spixii J Pitfall trap - Balde -
VIPERIDAE
Bothrops atrox A Pitfall trap - Balde -
Bothrops atrox A PVLT Noite Chão Deslocando-se
Forrageio senta-e-es-
Bothrops bilineatus A PVLT Noite Palmeira
pera
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A B C
A
D E F
G H I
J LL M
N O P
Figura 2. A) Anilius scytale (adulto) (foto de Hipócrates Chalkidis); B) Corallus batesii (jovem);
C) Corallus hortulanus (adulto); D) Drepanoides anomalus (adulto); E) Erythrolamprus reginae
(jovem); F) Philodryas argentea (adulto); G) Leptodeira annulata (jovem); H) Imantodes cen-
choa (adulto); I) Xenopholis scalaris (adulto); J) Dipsas catesbyi (jovem); L) Micrurus lemniscatus
(Jovem); M) Micrurus spixii (Jovem); N) Tantilla melanocephala (adulto); O) Bothrops atrox
(Adulto); P) Bothrops bilineatus (adulto). Fotos: Samuel Garcia.
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Tabela 2. Espécies e espécimes coletados por parcela (área). AAP – área alterada platô (não
queimada); AAB – área alterada baixio (queimada); APB – área preservada baixio (não quei-
mada); APP – área preservada platô (queimada).
ESPÉCIES AAP AAB APB APP
Anilius scytale 2 0 0 0
Bothrops atrox 1 0 1 0
Bothrops bilineatus 0 0 1 0
Corallus batesii 1 0 0 0
Corallus hortulanus 0 1 1 0
Dipsas catesbyi 1 0 0 0
Drepanoides anomalus 2 0 0 0
Erythrolamprus reginae 2 0 0 0
Imantodes cenchoa 0 0 2 0
Leptodeira annulata 0 0 1 0
Mastigodryas boddaerti 1 0 0 0
Micrurus lemniscatus 1 0 0 0
Micrurus spixii 1 0 0 0
Philodryas argentea 0 0 1 0
Taeniophallus quadriocellatus 4 0 1 0
Tantilla melanocephala 0 0 2 0
Xenopholis scalaris 1 0 1 0
Total 17 1 11 0
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A B C
A
Figura 3. Registros fotográficos em abril de 2016 durante a primeira coleta de campo. A. Áreas
ainda com focos de incêndio com árvore de grande porte na parcela 2 (AAB). B. Baldes de
pitfall trap que foram queimados e tiveram de ser substituídos. C. Área da parcela 2 (AAB) a
borda da estrada principal afetada pelo fogo. Fotos: Hipócrates Chalkidis.
40 100
85,8 87,5
83,2 84,7 80,9 80,3
30 28,2 28 28,9 28,6
27,4 27,1 50
20 48
11 6 18 11
6 3 4 7 2
10 3 3 4 2 5 3
0 2 0
0 Abril Maio Junho Julho Setembro Outubro
Abril Maio Junho Julho Setembro Outubro
Espécimes coletados por mês
Espécimes coletados por mês Umidade média durante os dias de coleta (%)
Temperatura média durante os dias de coleta °C
Pluviosidade acumulada durante o perido de coleta (mm)
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