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Abstract: Drosophilidae family flies are widely used in scientific research and biodiversity
studies. Drosophilinae is the most diverse subfamily, with the genus Drosophila being the
largest. However, the biodiversity of these flies is still little known, especially in the north and
northeast of Brazil. The present work aims to contribute to the knowledge about the behavior
and distribution of these flies in an environment fragmented by flooding after the construction
of the Tucuruí Hydroelectric Power Plant, in Pará. Sample collections were carried out on an
island known as germplasm island, where traps containing fermented banana were exposed.
The captured specimens were identified and preserved in 70% alcohol. Data analysis revealed
a total of 6,989 Drosophilidae individuals. Statistical analyzes were performed to evaluate the
relationship between the abundance of individuals and abiotic factors. In addition, rarefaction
1
Instituto Tecnológico Vale- Programa de Pós Graduação em Uso Sustentável dos Recursos Naturais em Regiões
Tropicais.
2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará- Campus Tucuruí.
3
Museu Paraense Emílio Goeldi- Programa de Pós Graduação em Biodiversidade e Evolução.
2
curves were used to represent species richness and diversity indices to assess species diversity
in the germplasm island. The results of this study contribute to the understanding of the
Drosophilidae assemblage in an environment fragmented by flooding and highlight the
importance of preserving and conserving the biodiversity of these flies in the region.
1 INTRODUÇÃO
Em vista disso, o presente trabalho pretende contribuir não somente com informações
de comportamento e distribuição taxonômicas do grupo, mas também, com o conhecimento
sobre a influência de fatores abióticos na assembleia de Drosophilidae em ambiente
fragmentado por inundação, após represamento na Usina Hidrelétrica de Tucuruí, Pará.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Figura 1. Localização da área de coleta das amostras de Drosophila em Tucuruí, Pará. A- Mapa do
Brasil com o Estado do Pará em destaque; B- Mapa do Estado do Pará; C- Cidade de Tucuruí com
destaque da ilha de germoplasma; D – Ilha de germoplasma em destaque.
Após cada coleta, os espécimes eram retirados das armadilhas e transferidos para um
recipiente fechado e em seguida expostos a baixa temperatura por 5 minutos. Posteriormente
foram acondicionados em recipientes plásticos, perfeitamente identificados, para preservação
em álcool 70%. As identificações foram realizadas com o auxílio estereomicroscópios e o uso
de chave dicotômica (SHMITZ, 2011).
Por conseguinte, foi realizada uma análise de regressão múltipla que é uma técnica de
estatística multivariada, com a finalidade de selecionar as condicionantes abióticas que irão
gerar o melhor modelo de regressão através do método de busca sequencial passo a passo
(Forward stepwise). Neste caso, as variáveis são incluídas uma a uma para revelar a
contribuição incremental de cada variável (HAIR et al. 2009). Essa análise exige que as médias
das variáveis independentes (fatores abióticos), sejam comparáveis, deste modo todos os
valores foram transformados por meio de cálculo em coeficiente beta (β).
7
em que:
H’ = Índice de Shannon-Weaver
ni=Número de indivíduos amostrados da i-ésima espécie.
N=número total de indivíduos amostrados.
S=número total de espécies amostradas.
ln=logaritmo de base neperiana.
Hmáx= ln(S).
J = Equabilidade de Pielou
S = número total de espécies amostradas.
H' = índice de diversidade de Shannon-Weaver.
Quanto ao índice de dominância de Simpson, este mede a probabilidade de 2 (dois)
indivíduos, selecionados ao acaso na amostra, pertencer à mesma espécie (BROWER &
ZARR, 1984). Uma comunidade de espécies com maior diversidade terá uma menor
dominância. O valor estimado de D varia de 0 (zero) a 1 (um), sendo que para valores próximos
de um, a diversidade é considerada maior.
em que:
C = índice de dominância de Simpson;
n i = número de indivíduos amostrados da i-ésima espécie;
N = número total de indivíduos amostrados;
Todos os cálculos anteriores foram realizados com auxílio dos pacotes estatísticos
BioStat 5.0 (AYRES et al. 2007), Stimates 9.1.0 (COLWELL 2013) e PAST 3.04 (HAMMER
et al. 2001).
3 RESULTADOS
De fato, a variável umidade apresentou índices mais elevados na campanha de maio, que
é o período mais chuvoso (Tabela 2), exibindo inclusive um maior número de espécimes
(n=3668). Destes, uma proporção de 43,4% foi identificada como machos (Figura 3). Também
foram analisadas as diferenças no total de indivíduos entre os ambientes de mata nativa
(n=4098) e reflorestamento (n=2891), mas, neste caso, não sendo encontrada diferença
significativa (teste t=-0,25; GL=67; DP=0,84; p>0,05).
Indices
Variável Coeficiente
Ordem de Significância Correlação Colinearidade
independente de regressão
Contribuição (p ) Parcial por Tolerância
β
Abertura do dossel Segunda 0,108 0,17 0,011 0,999
Altitude Terceira 0,017 0,84 0,016 0,842
Umidade Primeira 0,188 0,01 0,189 1,000
1ª Campanha 2ª Campanha
Variável
Maio/2013 Nov/2013
Abertura do dossel 20,1% 22,1%
Altitude 130,1m 130,3m
Umidade 80,9% 77,4%
Média dos valores registrados
10
70
Fêmeas
60
Machos
50
40
%
30
20
10
0
1ª Campanha 2ª Campanha
Figura 3. Proporção de machos e fêmeas capturados em diferentes períodos na ilha de
germoplasma.
Já com relação aos ambientes da ilha de germoplasma, o total de táxons foi muito
próximo entre a área de mata nativa (22 espécies) e a de reflorestamento com 21 espécies
catalogadas, sendo que, em ambos os locais a grande contribuição foi das espécies raras, ou
seja, com menos de três indivíduos (Tabela 3). Contudo, de acordo com o estimador de riqueza
de espécies Jackknife de primeira ordem, nenhum dos perfis vegetacionais atingiu o número
esperado de táxons, o qual seria de 27 espécies para a área de reflorestamento e de 29 para mata
nativa (Figura 5).
1ª Campanha 2ª Campanha
Espécie Mata de Mata Mata de Mata
Reflorestamento Preservada Reflorestamento Preservada
D. anularis 1 0 0 0
D. canalinea 1 0 0 0
D. caponei 1 0 0 0
D. coffeata 0 1 0 0
D. equinoxialis 9 28 1 1
D. fulvimacula 3 32 1 0
D. fumipenis 1 7 1 0
D. malerkotliana 136 189 420 501
D. melanogaster 3 9 0 1
D. moju 0 0 1 0
D. nebulosa 10 16 4 8
D. neomorpha 1 0 0 0
D. parannularis 0 1 0 0
D. paulistorum 14 41 7 3
D. polymorpha 4 3 1 0
D. prosaltans 2 0 2 7
D. roehrae 0 1 0 0
D. simulans 2 36 1 0
D. tropicalis 0 1 0 0
D. willistoni 307 412 198 162
D.sturtevanti 108 162 3 1
Morfotipo 1 2 1 1 0
Morfotipo 2 1 0 2 9
Morfotipo 3 0 0 0 1
Morfotipo 4 0 0 0 1
S. latifasciaeformis 0 0 10 2
Z. indianus 25 95 14 50
Total Geral 631 1035 667 747
12
Figura 4. Curva de rarefação gerada pelo estimador Jackknife de primeira ordem para representar a
riqueza de espécies obtida por coletas com garrafa pet expostas em duas campanhas na ilha de
Germoplasma, em Tucuruí, Pará.
Figura 5. Curvas de rarefação obtidas pelo estimador Jackknife de primeira ordem para representar a
riqueza de espécies de Drosophila das áreas de reflorestamento e mata nativa da ilha de Germoplasma
em Tucuruí, Pará.
Quanto a equitabilidade para ambos os ambientes (Figura 6B), o valor foi elevado na
área de reflorestamento (RE), no entanto, superado pelos dados da mata nativa (MN),
principalmente, durante o período mais chuvoso e de maior umidade (Tabela 2). É importante
lembrar que a equitabilidade de Pielou varia num intervalo [0,1], e que parte da premissa de
que 1 indica que todas as espécies são igualmente abundantes, assim as espécies raras (espécies
que só aparecem em uma ou em poucas amostras) são consideradas como as de menor valor
proporcional. Segundo MAGURRAN (1988), uma maior proporção de espécies raras tende a
diminuir o valor do indice de Shannon-Weaner.
Por fim, os resultados acima são pertinentes com a alta dominância de espécies comuns,
que foi revelada pelo índice de Simpson (D), ou seja, de que poucas espécies foram muito
abundantes na segunda campanha em ambos os ambientes, reflorestamento (D=0,48) e mata
nativa (D=0,50) - Figura 6C.
Figura 6. Dados de Diversidade (H’), Equitabilidade (J’) e Dominância (D) de Drosophila dos perfis
vegetacionais área reflorestada (RE-1 e RE-2) e mata nativa (MN-1 e MN2-), que foram amostrados
durante o período mais chuvoso (RE-1 e MN1) e mais seco (RE-2 e MN-2) na Ilha de Germoplasma.
4 DISCUSSÃO
cada período de coleta, o que provavelmente seja uma resposta a sobreposição de nicho (Tabela
3). Além do mais, o pico de abundância de D. malerkotliana ocorreu durante a temporada mais
seca, sobretudo, em área de floresta nativa. Neste caso, pode ser que na ilha de germoplasma,
nos períodos de alta umidade, a espécie D. malerkotliana esteja colonizando outros ambientes,
como, por exemplo, áreas de borda do fragmento. Ocorre que variação populacional semelhante
foi registrado por PENARIOL (2007) com outra espécie exótica, D. simulans, que também
pertence ao subgrupo. Já quanto a Melanogaster D. willistoni e sturtevanti, estas espécies
apresentaram alta frequência no período de maior umidade, reduzindo a suas populações a
proporções abaixo de 50% durante o período mais seco. Segundo a hipótese de PENARIOL
(2007), a redução de espécies nativas facilita a explosão populacional dos táxons invasores. No
entanto, em Tucuruí na ilha de Germoplama, mesmo sendo sensível a alta umidade, D.
malerkotliana apresentou abundância dominante em todas as estações.
A D. sturtevanti por sua vez, foi a terceira mais coletada na ilha com 274 indivíduos. Os
trabalhos de DOBZHANSKY & PAVAN (1950) e MARTINS (2001) apontam que essa espécie
tem sido pouco coletada nos ambientes amazônicos. Já no estudo na ilha de germoplasma,
esteve presente em todos os perfis vegetacionais e em ambas as campanhas de coleta, ainda que
mais bem representada na primeira campanha (período chuvoso), resultado que corrobora os
dados de PAVAN (1959) & SENE et. al (1980), os quais sugerem que essa espécie apresenta
uma acentuada variação sazonal.
Quanto a diversidade, foi observado neste estudo maior índice e equitabilidade para o
ambiente de floresta nativa durante a estação mais chuvosa, o que indica maiores chance de que
um indivíduo escolhido ao acaso na população seja facilmente identificado. Adicionalmente,
mesmo para a área de reflorestamento, cujo índice foi mais baixo que o da mata nativa, a
diversidade e equitabilidade na primeira campanha foi mais representativa do que a de ambos
os ambientes no segundo período de capturas. Resultados que talvez estejam associados ao
período de redução de exóticas, e ao aumento de espécies nativas, o que pode ser visualizado
através do índice de dominância que foi bem reduzido, principalmente, em mata nativa durante
a primeira campanha. Em sendo assim, a caracterização de áreas na ilha de germoplasma indica
que mesmo a formação mata nativa bem como os ambientes reflorestados são vulneráveis a
invasão de espécies exóticas de Drosophila. Mesmo assim, ainda é possível observar uma
diversidade de espécies nativas resistente e aparentemente preservada, o que reforça a
necessidade de manutenção de espaços naturais dentro das regiões antropizadas do lago de
Tucuruí, no estado do Pará.
Por fim, o presente estudo na ilha de Germoplasma visou contribuir com a ampliação
do registro e distribuição de espécies endêmicas e exóticas do Brasil, bem como para a
compreensão das influências ecológicas do ambiente floresta fragmentada por inundação sobre
a assembleia de Drosophilidae.
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CONCLUSÃO
Zaprionus indianus é uma espécie cuja presença na ilha de germoplasma sugere que o
ambiente esteja associado a influência antrópica. A diversidade nativa da ilha de germoplasma
é resistente e aparentemente preservada, o que reforça a necessidade de manutenção de espaços
naturais dentro das regiões antropizadas.
Para a ilha de Germoplasma faz-se necessário a realização de novos estudos com mais
armadilhas em função de aumentar o esforço amostral e a fim de que se possa alcançar o número
de espécies estimas, bem como para se conhecer melhor o grau de integridade desse ambiente.
A observação realizada na ilha de germoplasma pode ser útil para estudos sobre eventos
de colonização, em virtude dos registros taxonômicos e de distribuição geográfica das espécies
coletadas, e assim podendo servir como parâmetro para avaliações sobre a estabilidade de
comunidades de Drosophilidae, mediante a presença de espécies exóticas que podem
representar um perigo para muitas espécies nativas.
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