Você está na página 1de 5

FLORA APÍCOLA EM ÁREA DE CAATINGA, SERRA TALHADA-PE

Apresentação: Pôster

Pedro de Assis de Oliveira1; Marileide de Souza Sá2; Marcelo de Oliveira Milfont3; André
Laurênio de Melo4; Marcelo Casimiro Cavalcante5

Introdução
A apicultura é uma atividade eminentemente desenvolvida por agricultores familiares. Essa
atividade vem contribuindo para o aumento da renda dos apicultores através da comercialização do
principal produto, o mel. Entretanto, são muitas as possibilidades de exploração de outros produtos:
pólen, cera, geleia real, própolis, apitoxina e os serviços ecossistêmicos prestados pelas abelhas,
como a utilização das mesmas na polinização de cultivos agrícolas (MILFONT et al., 2013).
No Nordeste, especificamente no estado de Pernambuco, devido a grande diversidade de
ambientes em macro e microrregiões (agreste, sertão, zona da mata, litoral e manguezais) e,
consequentemente, uma grande diversidade de plantas nativas, existe um elevado potencial para a
exploração apícola. Entretanto, não se tem estudos no Município de Serra Talhada, mesmo estando
localizada na região maior produtora de mel no estado.
Para o aproveitamento do potencial dessa flora silvestre é importante que o apicultor conheça
os locais de ocorrência da flora favorável e seu período de florescimento. O levantamento do pasto
apícola surge como ferramenta fundamental no planejamento da produção apícola, sobretudo para
se conhecer a capacidade de suporte da região.
Dessa forma, o presente trabalho buscou identificar a flora visitada pelas abelhas em área de
Caatinga, ao longo de dois anos e analisar sua relação com os fatores climáticos.

Fundamentação Teórica

1
Zootecnista, Mestrando em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco- Unidade
Acadêmica de Garanhuns, E-mail: pedromanari@hotmail.com.
2
Licenciatura em Geografia, Bacharelando em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco- Unidade
Acadêmica de Serra Talhada, E-mail: marileidezootecnista@hotmail.com.
3
Agrônomo Doutor em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Garanhuns, E-
mail: marcelo_m_agro@yahoo.com.br.
4
Biólogo Doutor em Botânica, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada, E-
mail: andrelaurenio@yahoo.com.br.
5
Zootecnista Doutor em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra
Talhada, E-mail: marcelufc@yahoo.com.br.
O termo flora apícola refere-se às plantas que fornecem alimento às abelhas em uma
determinada localidade e dependem dos fatores climáticos da região, da composição de espécies, se
naturais ou cultivadas, da fertilidade do solo da região, do período de floração e do ciclo de vida dos
vegetais, se anual ou perene. O entendimento e conhecimento da flora apícola de uma região e de
como ela se comporta é de suma importância para a criação racional de abelhas (LOPES et al.,
2016).
Wolff et al. (2006) relatam que a Caatinga tem um grande potencial apícola, com
distribuição de floração que abrange o ano todo, tanto na estação chuvosa quanto na seca,
garantindo fontes de alimento para as abelhas ao longo do ano. Conhecer a fenologia das plantas
possibilita saber a capacidade de suporte para a implantação de apiários. Essa compõe uma
ferramenta eficaz e importante para o bom planejamento da atividade por parte dos apicultores
(ALEIXO, 2014).
Conforme Pereira et al. (2006), a flora apícola especificamente na vegetação de Caatinga é
formada por três hábitos de crescimentos vegetais: 1) herbáceo - caracteriza-se pelas plantas
rasteiras e de pequeno porte; 2) arbustivo - vegetação de médio porte e 3) arbóreo - vegetação de
grande porte.

Metodologia
O presente trabalho foi realizado no Campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE), Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), utilizando-se o Apiário do Curso de
Zootecnia. Foram realizadas coletas quinzenais de material botânico fértil, durante o período de 24
meses (entre janeiro de 2014 a dezembro de 2015). Transectos determinados aleatoriamente de
cerca de 1.500 m de comprimento foram percorridos entre 7:00 e 11:00 h da manhã, partindo-se de
um ponto central (apiário) nas quatro direções (norte, sul, leste, oeste), para observação da presença
de Apis mellifera visitando flores. Foram coletadas as plantas visitadas pelas abelhas e, também,
espécies reconhecidamente apícolas com base na literatura e observações a campo.
O procedimento de coleta consistiu na obtenção de ramos férteis com auxílio de tesoura de
poda. Em seguida, os ramos foram prensados entre grades de madeira, papelões, folhas de jornal e
placas de alumínio corrugado, e posteriormente, desidratado em estufa de lâmpada, conforme
metodologia de Mori et al. (1989).
As exsicatas foram depositadas no Herbário do Semiárido do Brasil (HESBRA) da
UFRPE/UAST. As identificações das plantas foram baseadas em bibliografia especializada ou por
comparação com material do acervo do referido herbário sobre a orientação de especialista.
Paralelamente, foi realizado o levantamento da flora apícola com técnicas usuais de
levantamentos florísticos de acordo com os realizados em prática pelos apicultores. Utilizou-se
planilhas com observações a cada dez dias, desta forma totalizando três observações por mês, onde
se observa os tipos em floração e quais aquelas predominantes.
As espécies de plantas foram classificadas em nível de família e ao hábito de crescimento.

Resultados e Discussões
Foram identificadas 86 espécies de Angiospermas pertencentes a 36 famílias visitadas por
abelhas. Leguminosae foi à família que apresentou o maior número de espécies (24), seguida por
Malvaceae (9), Convolvulaceae e Euphorbiaceae (5 cada uma), Asteraceae e Malpighiaceae (3 cada
uma), Amaranthaceae, Capparaceae, Zygophyllaceae, Lamiaceae, Poaceae, Cucurbitaceae e
Anacardiaceae (2 cada) e as demais famílias surgiram com uma espécie cada: Aizoaceae,
Polygalaceae, Cactaceae, Verbenaceae, Meliaceae, Loasaceae, Rutácea, Nyctaginaceae,
Oxalidaceae, Papaveraceae, Rubiaceae, Sapotaceae, Boraginaceae, Angeloniaceae, Apocynaceae,
Passifloraceae, Myrtaceae, Rhamnaceae, Cleomaceae, Vitaceae, Plumbaginaceae, Sapindaceae e
Solanaceae.
Leguminosae é considerada a maior família de Angiospermas em número de espécies na
maioria dos domínios fitogeográficos do Brasil, assim como também na Caatinga, onde possui
cerca de 603 espécies (BFG, 2015). Desta forma, é natural que tenha sido a família com maior
representatividade de espécies visitadas por abelhas no presente trabalho.
Com relação ao hábito de crescimento das plantas visitadas por abelhas, observou-se que 41%
do total de espécies eram ervas, sendo seguidas por arbustos com 22%, trepadeiras 19% e árvores
(18%). Dados semelhantes foram registrados por Lopes et al. (2016).
Reis et al. (2006) relatam a importância das plantas herbáceas como pasto apícola, mas
enfatizam que existem sazonalidades no florescimento desse estrato, sendo que muitas florescem
apenas no período chuvoso ou quando ocorrem chuvas torrenciais, ofertando assim recursos
alimentares, como néctar e pólen, mas por pouco tempo. Sendo assim, é de extrema importância o
conhecimento do calendário de flora apícola de uma região para se planejar a produção apícola.
As espécies vegetais arbustivas geralmente apresentam um ciclo de florescimento rápido
conforme Freitas (1991), de dez a quinze dias, desta forma, para um melhor aproveitamento os
apicultores devem, manejar as colmeias de forma que estejam preparadas e fortes para aproveitarem
esses recursos quando disponíveis. Verificou-se também que as árvores florescem no período seco,
compondo um estrato bastante expressivo e muito visitado pelas abelhas, ocorrendo o florescimento
independente de precipitações, como exemplo, Ziziphus joazeiro Mart. (Juazeiro), Ceiba glaziovii
(Kuntze) K. Schum. (Barriguda) Myracrodruon urundeuva Allemão (Aroeira), Spondias tuberosa
Arruda (Umbuzeiro), entre outras.
Verifica-se que nos anos de estudo o pico de floração (amplitude) ocorreu no período de
janeiro a maio, compreendendo o período de maior concentração de precipitação e umidade relativa
do ar, os quais são fatores essenciais para a floração das espécies botânicas (Figura 1).
No período com menor precipitação e, consequentemente, menor umidade relativa do ar,
houve uma diminuição da floração, sendo as espécies arbóreas mais representativas nesses períodos.
De forma geral, houve uma diminuição na precipitação média anual influenciada pelo evento
climático El Niño. Segundo Araújo-Costa (2014), o El Niño combina com os períodos considerados
secos ocorrendo o seu prolongamento no Nordeste brasileiro onde alteram negativamente as
precipitações da região do polígono das secas.
Conforme Silva et al. (2014), as normais climatológicas do município de Serra Talhada
indicam uma precipitação em torno de 642,1 mm ano. Dados coletados de precipitação ao longo dos
dois anos de estudos de 2014 a 2015 precipitaram apenas 412,6 mm, bem abaixo da média de
precipitação da região.

Figura 1. Fenologia da flora apícola no Campus da UAST/UFRPE: precipitação acumulada e número de plantas em
floração, média da temperatura e umidade relativa do ar por mês durante o período de janeiro de 2014 a dezembro de
2015.

120 70.0
Precipitação acumulada (mm) e N° de

Temperatura do ar (°C) e umidade

100 60.0
50.0
80
relativa do ar (%)
espécies em floração

40.0
60
30.0
40
20.0
20 10.0
0 0.0

PRECIPITAÇÃO Nº DE FLORAÇÃO
TEMPERATURA UMIDADE

Conclusões
A Caatinga estudada mantém uma grande diversidade de fontes de recursos para as abelhas,
sendo Leguminosae família responsável pela maior oferta de alimento para as abelhas.
Os fatores climáticos (precipitação e temperatura) e estações do ano influenciam na floração.
Percebe-se, entretanto, que todos os estratos apresentam importância para a apicultura,
especialmente por florescerem em momentos distintos ao longo do ano, mantendo recursos
alimentares para as abelhas.

Referências

ALEIXO, L. D.; ARAÚJO, W. L.; AGRA, R. S.; MARACAJÁ, P. B.; SOUSA, M. J. Mapeamento
da flora apícola arbórea das regiões pólos do estado do Piauí. Revista Verde (Pombal - PB - Brasil),
v 9. , n. 4, p. 262 - 270, out-dez, 2014.

ARAÚJO COSTA, J. O FENÔMENO EL NIÑO E AS SECAS NO NORDESTE DO BRASIL.


EDUCTE: Revista Científica do Instituto Federal de Alagoas, v. 3, n. 1, 2014.

BFG. 2015. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66:
1085-1113.

FREITAS B.M. (1991) Potencial da Caatinga para a produção de pólen e néctar para exploração
apícola. Dissertação (mestrado). Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza. 140 p.

LOPES, C. G. R.; BEIRÃO, D. C. C.; PEREIRA, L. A.; ALENCAR L. C. Levantamento da flora


apícola em área de cerrado no município de Floriano, estado do Piauí, Brasil. Revista Brasileira de
Biociências, v. 14, n. 2, 2016.

MILFONT, M. O. et al. Higher soybean production using honeybee and wild pollinators, a
sustainable alternative to pesticides and autopollination. Environmental chemistry letters, v. 11, n.
4, p. 335-341, 2013.

MODRO, A. F. H. I. ; MESSAGE, D. ; LUZ, C. F. P.; MEIRA NETO, J. A. A. Flora de


importância polinífera para Apis melífera (L.) na região de Viçosa, MG. Revista Árvore, v. 35, n. 5,
p. 1145-1153, 2011.

MORI, S. A. et al. Manual de manejo do herbaceo fanerogamico. CEPLAC-CEPEC, 1989.

PEREIRA, F.M.; FREITAS, B.M.; ALVES, J.E.; CAMARGO, R.C.R.; LOPES, M.T.R.; VIEIRA-
NETO, J.M. & ROCHA, R.S. 2006. Flora apícola do Nordeste. Teresina: Embrapa Meio-Norte.
Documentos 104.

REIS, A.M.S.; ARAÚJO, E.L.; FERRAZ, E.M.N. & MOURA, A.N. 2006. Variações interanuais na
composição florística e estrutura das populações de uma comunidade herbácea da caatinga,
Pernambuco, Brasil. Revista Brasileira de Botânica, 29(3): 497-508.

SILVA, T. G.F et al. Área do cladódio de clones de palma forrageira: modelagem, análise e
aplicabilidade. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, v. 9, n. 4, p. 633-641, 2014.

WOLFF, L. F.; LOPES, M. D. R.; PEREIRA, F. D. M.; CAMARGO, R. C. R.; & NETO, J. M. V.
(2006). Localização do apiário e instalação das colmeias. Embrapa Meio-Norte.

Você também pode gostar