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RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES DO ALUNO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

(IC) PIBIC/UFPE/CNPq

IDENTIFICAÇÃO

Nome do Orientador: Mário Barletta


Nome do Aluno: Júlia de Aragão Soares Griz
Título do Projeto: Classificação das fases ontogenéticas de Anchovia clupeoides (Swainson,
1839) (Engraulidae) no estuário do Rio Goiana - RESEX Acaú-Goiana (PE/PB).

RESUMO DO TRABALHO.

Estuários são ecossistemas que possuem enorme importância ecológica, servindo como
local de berçário, alimentação e proteção. Diversas espécies utilizam dele para completar pelo
menos uma parte do seu ciclo de vida. O estuário do Rio Goiana, localizado no nordeste
Brasileiro, abrange uma rica fauna e flora. Este estuário é cercado por florestas de manguezal,
nas quais são drenados por canais de mare. Em decorrência da grande quantidade de matéria
orgânica e de sua morfologia, nesses canais podem ser encontradas diversas espécies em suas
fases iniciais de desenvolvimento. O presente estudo teve como objetivo classificar as
diferentes fases ontogenéticas da população de A. clupeoides, que utilizam o estuário do Rio
Goiana. Para alcançar esse objetivo foram descritas e identificas as seguintes fases
ontogenéticas: larva, post-larva, juvenil, sub-adulto e adulto. As coletas foram realizadas em
dois habitats do estuário: canal principal do Rio Goiana e canais entre-maré. A coleta dos
exemplares adultos e juvenis no canal principal foi realizada mensalmente (dezembro 2005 a
novembro de 2006), nas três porções do estuário (superior, intermediário e inferior), com um
número de seis réplicas, totalizando 216 amostras. A coleta do ictioplâncton no canal principal
foi realizada entre Abril de 2012 e Março de 2013. Foi utilizada uma rede de arrasto de plâncton
cilindro-cônica de 2 metros de comprimento, com uma malha de 300 µm. Foram realizadas 216
amostras com duração de 15 minutos. A coleta de larvas, juvenis e adultos nos canais de mare
foram amostrados em 12 canais de mare (3 réplicas por fase da lua) entre os meses de abril e
maio (início do período da chuva) de 2008. No total de 3002 larvas de A. clupeoides foram
identificadas no estuário do Rio Goiana. Sendo 1329 indivíduos classificados na fase pré-flexão
(comprimento total (CT) variando entre: 2,47 mm e 7,2 mm, com média de 4,50 ±0.93 mm),
202 larvas foram classificadas no estágio de flexão com CT entre 5.16 mm e 8.94 mm, e média
de 7.16±0.83 mm e 1471 larvas em pós-flexão apresentaram CT variando entre 7,83 mm e
14.99 mm, com média de 12.49 ± 1.59 mm. Foram encontrados 457 indivíduos em pós-larva
cujos comprimentos total variaram de 14.69-29.99 mm, com média de 22.97 ± 3.68 mm. O peso
desses espécimes teve amplitude de 0.007-0.136 g, com média de 0.060 ± 0.030 g, apresentando
um crescimento alométrico positivo com β1 = 3.87. Foram identificados 616 indivíduos juvenis
cujos comprimentos total variaram de 30.02-104.49 mm, com média de 52.18 ± 14.36 mm. O
peso desses espécimes teve amplitude de 0.144-7.531 g, com média de 0.944 ± 0.980 g com
crescimento isométrico (β1 = 3.10). Este estudo forneceu dados para compreensão da ontogenia
da espécie em questão e a importância do ecossistema estuarino para o desenvolvimento da
Anchovia clupeoides.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 2
OBJETIVOS ............................................................................................................................. 3
METODOLOGIA DO TRABALHO ..................................................................................... 3
ÁREA DE ESTUDO .............................................................................................................. 3
COLETA DE DADOS ........................................................................................................... 4
FASES ONTOGENÉTICAS.................................................................................................. 5
RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 6
FASE LARVAL ..................................................................................................................... 7
PÓS-LARVA ......................................................................................................................... 8
FASE JUVENIL ..................................................................................................................... 9
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 11
DIFICULDADES ENCONTRADAS.................................................................................... 13
ATIVIDADES PARALELAS DESENVOLVIDAS PELO ALUNO ................................. 13

INTRODUÇÃO

Estuários são corpos d’água semiabertos com ligação direta com o oceano que sofrem
influência de águas fluviais e oceânicas (Pritchard, 1967). Tais ecossistemas desempenham
importante papel ecológico provendo local de proteção, alimentação, berçário, recrutamento e
reprodução para diversas espécies (Barletta & Costa, 2009). Essas características permitem que
estuários apresentem uma grande densidade de peixes, os mesmos também desempenham uma
significativa função econômica, servindo de fonte de recursos para a pesca industrial, artesanal
e de subsistência (Barletta & Dantas, 2016; Barletta & Costa, 2009). O encontro de águas doces
e salgadas que ocorre nos estuários proporciona uma grande variedade de habitats, os quais são
amplamente utilizados por espécies para completar pelo menos uma fase de seu ciclo de vida
(Barletta et al., 2000; Barletta et al., 2003; Ramos et al., 2011; Lima et al., 2012; 2013).
Os estuários possuem uma grande importância por apresentarem uma elevada biomassa
de diversas espécies de importância econômica (Barletta & Costa, 2009; Barletta et al., 1998).
Assim como os estuários do Rio Caeté no Pará e o sistema hidrográfico do Rio Paranaguá no
Paraná, o estuário do Rio Goiana possui um dos desembarques pesqueiros mais produtivos do
estado de Pernambuco, tendo como principal atividade a pesca artesanal (Barletta & Costa,
2009; Barletta et al., 1998; Barletta et al., 2008; Barletta et al., 2016). Entre os principais grupos
encontrados nesses ecossistemas, estão os representantes da família Engraulidae (Lima et al.,
2014).
A família Engraulidae é composta por espécies de pequeno tamanho corporal, usualmente
menor que 30 cm. Em sua maioria, são espécies marinhas que são encontradas em grandes
cardumes. Apesar dessa família não apresentar um grande valor econômico, ela é muito
utilizada como forma de subsistência pela população ribeirinha. A família Engraulidae, possui
7 gêneros e 24 espécies, incluindo espécies de água doce, estuarinas e oceânicas, que se
distribuem por todo litoral norte da América do Sul, incluindo o estuário do Rio Caeté no Norte
Brasileiro (Cervigón et al, 1993; Barletta-Bergan, 1999).
Uma espécie de grande relevância dessa família é a Anchovia clupeoides (Swainson
1839), que apresenta grandes densidades em estuários ao longo de todo litoral norte da América
do Sul (Barletta et al., 2003; Barletta-Bergan, 1999; Lima et al., 2014; Cervigón et al., 1993).
A. clupeoides é caracterizada como uma espécie marinha planctófaga, que tem a capacidade de
tolerar uma grande amplitude de salinidade (Cervigón et al, 1993). Ela utiliza o ecossistema
estuarino para alimentação, proteção e como berçário, sobretudo o habitat dos canais entre-
maré. A. clupeoides é uma espécie importante para manutenção da teia trófica, atuando como
um dos principais recursos alimentares para espécies de alto valor econômico, como a pescada
amarela (Ferreira, 2016). Por ser um importante elo entre os consumidores primários e os
predadores de topo, são necessários estudos que visam compreender seu ciclo de vida.
As mudanças morfológicas que ocorrem desde a fertilização até a formação do
indivíduo adulto são o foco do estudo da ontogenia (Lima et al., 2013). Conhecer cada fase
ontogenética de uma espécie é o passo inicial para compreender de fato como ela interage com
o meio onde ela vive, uma vez que as modificações no estado ontogênico tendem a coincidir
frequentemente com as mudanças de alimentação, micro-habitat e/ou comportamento. Estudos
sobre ontogenia foram conduzidos neste ambiente para as espécies Cathorops spixii (Lima et
al., 2013) e Achirus Lineatus (Justino, 2015), porém trabalhos que descrevem a classificação
das fases ontogenéticas e como se dá o padrão de distribuição de cada uma dessas fases são
raros, em particular para essa espécie realçando a importância do estudo.

OBJETIVO

O objetivo desse estudo é classificar as diferentes fases ontogenéticas da população de A.


clupeoides, que utilizam o estuário do Rio Goiana. Para alcançar esse objetivo foram descritas
e identificas as seguintes fases ontogenéticas: larva, post-larva, juvenil, sub-adulto e adulto.

METODOLOGIA DO TRABALHO

ÁREA DE ESTUDO
O estuário do Rio Goiana está localizado na região tropical do Atlântico Sul Ocidental,
mais especificamente no nordeste brasileiro, na divisa dos estados de Pernambuco e Paraíba
(Fig. 1). Este ambiente faz parte de uma das principais bacias hidrográficas da região nordeste,
com uma área de 2.900 km² e uma vazão média de 11 m³ s-1, sendo influenciado principalmente
pelos rios Capibaribe Mirim e Tracunhaém. O tipo predominante de vegetação na planície
estuarina são as florestas de manguezal (Barletta & Costa, 2009).
Em setembro de 2007, foi criada uma área de conservação ambiental, do tipo reserva
extrativista (RESEX), compreendida pela região de 66,783 km2 que engloba os municípios de
Pitimbu e Caaporã no estado da Paraíba, e o município de Goiana em Pernambuco. RESEX é
uma área de conservação de uso sustentável, nas quais as populações extrativistas desfrutam da
área para usos tais como a pesca artesanal e de subsistência, mantendo assim a cultura dessas
populações com um menor nível de interferência ao ambiente.
A temperatura média anual do ar fica em torno de 27º C e é pouco variável. As principais
variações ambientais ocorrem em função da pluviometria. Desta forma, foram determinadas
quatro estações bem definidas: início da seca (novembro a janeiro), final da seca (fevereiro a
abril), início da chuva (maio a julho) e final da chuva (agosto a outubro) (Barletta & Costa,
2009).
Utilizando como parâmetros a salinidade e a morfologia do canal principal, o ecossistema
estuarino foi divido em três porções: o estuário superior (salinidade 0 a 5), o intermediário
(salinidade 5 a 20) e o inferior (salinidade > 20) (Fig. 1). Também são observados diversos
habitats, como os canais entre marés da floresta de manguezal, localizados principalmente na
porção inferior do estuário (Barletta & Costa, 2009).

Figura 1. Estuário do Rio Goiana dividido em estuário superior, intermediário e inferior onde
foram realizadas as coletas referente ao canal principal. Os canais entre-maré estão representados por
onde foram realizadas as coletas referente a influência do ciclo lunar na distribuição das larvas no
manguezal.

COLETA DE DADOS
Foram realizadas amostragens da ictiofauna em dois hábitats do ecossistema estuarino,
no canal principal e nos canais entre-maré (Fig. 1). A coleta dos juvenis e adultos de A
clupeoides no canal principal foi realizada mensalmente (dezembro 2005 a novembro de 2006),
nas três porções do estuário (superior, intermediário e inferior), com um número de seis
réplicas, totalizando 216 amostragens. Para realizar essas coletas foi usada uma rede de arrasto
de fundo com 8,72 m de comprimento, com uma malha 35 mm no corpo da rede e uma 22 mm
no saco. Para que todos os comprimentos fossem bem representados, uma malha de 5 mm foi
acrescentada no sobre saco da rede. Foi utilizado um GPS para demarcar a posição do início e
do fim do arrasto, viabilizando o cálculo da área arrastada (Dantas et al., 2012).
A amostragem do ictioplâncton no canal principal foi realizada entre abril de 2012 e
março de 2013. Foi utilizada uma rede de arrasto de plâncton cilindro-cônica, com uma malha
de 300 µm e 2 m de comprimento, os arrastos tiveram uma duração de 15 minutos. Um
fluxômentro foi utilizado para calcular o volume filtrado. Foram realizadas três réplicas mensais
na camada superior da coluna d’água e três na camada inferior, em cada porção do estuário
(inferior, intermediário e superior) totalizando 216 amostras (Lima et al., 2015).
Nos canais entre-maré, foram realizadas amostragens durante os meses de abril e maio de
2008, nas quatro fases da lua (Lua Nova, Quarto Crescente, Cheia e Quarto Minguante). Em
cada fase da lua, foram utilizados três canais entre-maré como réplicas, totalizando 12
amostragens. Os canais entre-maré escolhidos apresentavam características de morfologia
semelhantes e estavam igualmente distribuídos ao longo da porção mais externa do estuário. As
coletas foram realizadas durante a variação de maré, da preamar para baixa-mar, com o uso de
uma rede de tapagem, com malha de 10 mm (35 m por 5 m) na entrada dos canais. Atrás da
rede de tapagem, foi fixada uma rede de ictioplâncton, com uma malha de 1000 μm (10 m por
2 m), com um saco cônico (0,6 m de diâmetro) posicionado no centro da rede com uma malha
de 500 μm (Ramos et al., 2011).
Antes de cada amostra, foram coletados dados referentes a salinidade, temperatura da
água (ºC), oxigênio dissolvido (mg/L) e saturação de oxigênio dissolvido na água (%) e
transparência do disco de Secchi (cm). Os dados referentes à precipitação estão sendo
compilados desde 2005 da estação meteorológica mais próxima, “Curado 82900”, localizada
em Recife-PE.
Nos diferentes habitas, as amostras foram fixadas em solução formalina (4%), com água
do mar e estocadas no banco de amostras do Laboratório de Ecologia e Gerenciamento de
Ecossistemas Costeiro de Estuários (LEGECE).

FASES ONTOGENÉTICAS
Em laboratório, os indivíduos de A. clupeoides foram identificados segundo a literatura
e em seguida seus dados morfométricos (peso, comprimento total, comprimento padrão) foram
obtidos. Para a definição das fases de desenvolvimento: larva, post-larva, juvenil, sub-adulto e
adulto. As gônadas foram extraídas e conservadas com álcool a 70% e posteriormente
classificadas quanto ao sexo e ao estado de maturação em: imaturas (A), iniciando a maturação
(B), maturadas (C) ou desovadas (D) (Lewis & Fontoura, 2004). Todos os dados serão tabelados
em planilha digital para depois passarem por análises estatísticas.

Para diferenciar as fases larvais (pré-flexão, flexão e pós-flexão), foi levado em


consideração a posição da notocorda dos indivíduos (Fig. 2). Para distinguir a fase larval da
fase post-larva, foi utilizado o comprimento de transformação larval, que é o momento em que
os indivíduos apresentam todas as características merísticas da espécie. Para diferenciar uma
post-larva de um juvenil, a relação peso e comprimento, na qual um indivíduo post-larva irá
apresentar crescimento característico de uma larva com ganho acelerado em peso. O ponto de
inflexão da curva peso e comprimento irá assinalar o ponto em que os indivíduos apresentam
um ganho de peso acelerado, e servirá, então, para diferenciar os juvenis dos sub-adultos. Para
fazer a diferenciação das três últimas fases foi utilizado o seguinte modelo proposto por Huxley
(1924),

P = β0 * CT β1 + ε, (Equação 1)

onde, P é o peso, CT é o comprimento total, β0 o intercepto (local onde a reta intercepta o eixo
y), β1 o coeficiente angular e ε é o resíduo. O coeficiente de crescimento (β1) foi utilizado como
critério para analisar o crescimento nas duas fases. O crescimento pode ser isométrico, no qual
o β1 é igual a 3, alométrico negativo, no qual o β1 é menor que 3, ou alométrico positivo com o
β1 maior que 3 (van Snik et al., 1997).

Figura 2. Os diferentes estágios larvais são caracterizados pela posição da notocorda, no qual um
indivíduo em pré-flexão não apresenta inclinação na notocorda (A). Na flexão, o processo de flexão
começou (B). Por fim na pós-flexão, a notocorda encontra-se em 45° (C). Adaptado de Barletta-Bergan
(1999).

O L50, conforme proposto por Lewis & Fontoura (2004), representa o comprimento
médio da primeira maturação gonadal, em que 50% dos indivíduos da população estão com as
gônadas maturadas e aptos a se reproduzirem. Esse comprimento será utilizado como referência
para diferenciação entre indivíduos sub-adultos dos adultos nesse estudo, para isso será
utilizada uma regressão logística:

F = 1 / (1+ e (β0 + β1 * TL)) (Equação 2)

no qual, F é a frequência de adultos para cada intervalo de comprimento, TL é o comprimento


total, β0 e β1 são parâmetros estimados pelo método dos mínimos quadrados proveniente da
equação acima linearizada, como observada abaixo: - ln [(1 / F) – 1] = β0 + β1 * TL. O
comprimento da primeira maturação (L50) foi estimado através da equação: L50 = - β0 / β1, onde,
β0 e β1 são parâmetros da equação 2 (Lewis & Fontoura, 2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O desenvolvimento ontogenético da Anchovia clupeoides foi divido em cinco fases


distintas: larva, pós-larva, juvenil, sub-adulto e adulto. O estágio larval refere-se à fase de vida
planctonica. Indivíduos nesta fase de desenvolvimento possuem uma estrutura embrionária
chamada de notocorda que dará lugar para a coluna vertebral. Esta fase é dividas em três grupos
em função da posição da notocorda: (1) pré-flexão, fase em que a notocorda ainda não apresenta
flexão; (2) flexão, fase em que a notocorda iniciou o processo de flexão; (3) pós-Flexão, fase
em que a flexão da notocorda atingiu uma angulação de 45 graus. Para classificar cada indivíduo
em um estágio larval específico, foram aferidos os comprimentos total e padrão. As larvas
compreendem os indivíduos de 2,47 – 14.99mm de comprimento total. A fase pós-larva, os
indivíduos já passaram pelas metamorfoses que diferenciam uma larva de um juvenil, porém
nesta fase os indivíduos não apresentaram crescimento característico com aquele de um juvenil.
Por este motivo, esta nova fase de desenvolvimento foi proposta. Os indivíduos em pós-larva
possuem CT de 15 – 29.99 mm. Na fase juvenil, o organismo já passou por todas as
metamorfoses, apresentando as mesmas características meristicas e morfológicas que a fase
adulta e possuem CT de 30 – 104.99 mm. O desenvolvimento nesta fase é caracterizado pelo
maior crescimento em comprimento do que em peso. No total, a espécie possui um crescimento
alométrico positivo (β1 = 3.32). As fases pós-larva, juvenil e sub-adulto possuem coeficientes
de crescimento de 3.87, 3.10 e 3.66, respectivamente.
Figura 3. Relação peso e comprimento da espécie Anchovia clupeoides. Nele pode se observar os
crescimentos das fases: post-larva (preto), juvenil (azul) e sub-adulto (vermelho).

FASE LARVAL
No total, foram encontradas 3002 larvas de A. clupeoides que foram subdividas em três
grupos: pré-flexão, flexão e pós-flexão. Foram identificadas 1329 larvas em pré-flexão (Fig.
4.A & B), cujos comprimentos totais (CT) variaram entre 2.47 mm e 7.2 mm, com média de
4.50 ±0.93 mm. Algumas das larvas em pré-flexão ainda apresentavam seus vitelos, que
posteriormente seriam consumidos pela larva ao longo de seu desenvolvimento (Fig. 4.A). 202
larvas foram classificadas no estágio de flexão (Fig. 4.C) com CT entre 5.16 mm e 8.94 mm, e
média de 7.16±0.83 mm. Nessas larvas, a nadadeira caudal não apresenta raios bem formados
e uma nadadeira mediana se estende na metade posterior do corpo, iniciando no dorso e se
estendendo até o ventre. Larvas em flexão, já é possível identificar o começo do
desenvolvimento das nadadeiras anal e dorsal. As 1471 larvas em pós-flexão (Fig. 4.D)
apresentaram CTs variando entre 7.83 mm e 14.99 mm, com média de 12.49 ± 1.59 mm, sendo
corroborando por Barletta-Bergan (1999) cujas larvas estavam passando pelo período de
transformação com 15 – 20 mm. Larvas nesse estágio apresentam todas as nadadeiras (peitoral,
pélvica, dorsal, anal e caudal), porém com níveis de desenvolvimento distintos de acordo com
o tamanho. Larvas com CT inferior a 10.5 mm apresentam as nadadeiras peitoral e pélvica ainda
em desenvolvimento. Os raios da nadadeira peitoral variam entre 9 e 17, (13.77 ± 1.75). Nas
nadadeiras pélvicas, os raios variam entre 4 e 7, média de (6.4 ± 0.67). A nadadeira dorsal tem
número de raios que variam entre 10 e 16 raios (14.06 ± 1.16). A nadadeira anal apresenta entre
25 e 35 raios (30.95 ± 1.63). A nadadeira caudal apresentou grande amplitude de raios, variando
entre 23 e 36 (31.85 ± 2.17).
Figura 4: A. Larva vitelínica recém-eclodida na qual ainda é possível identificar o vitelo. B. Larva em
pré-flexão; esta larva não possui inclinação em sua notocorda e suas nadadeiras ainda não estão
desenvolvidas. C. Larva em flexão; nesta larva já possível identificar as nadadeiras anal e dorsal, as
quais já possuem alguns raios, porém não completamente desenvolvidas. D. Larvas em pós-flexão; as
notocordas destas larvas já terminaram o processo de inclinação e agora se encontram em
aproximadamente 45°.

PÓS-LARVA
Os indivíduos entre 15-30 mm (Fig. 5) de CT são indivíduos que já passaram por todas
as metamorfoses que diferenciam uma larva de um indivíduo juvenil; suas nadadeiras estão
completamente desenvolvidas e suas características meristicas são semelhantes aquelas de um
indivíduo adulto. Porém, estes espécimes não apresentam crescimento característico com
aquele de um juvenil; eles apresentam um incremento maior em peso (β1 = 3.87) do que em
comprimento quando comparado com os indivíduos com tamanho corporal acima de 30mm (β1
= 3.10) o que se assemelhando ao crescimento larval. Foram encontrados 457 indivíduos em
pós-larva cujos comprimentos total variaram de 14.69-29.99 mm, com média de 22.97 ± 3.68
mm. O peso desses espécimes teve amplitude de 0.007-0.136 g, com média de 0.060 ± 0.030 g.
Estudos sobre crescimento de Engraulidae através de otólitos caracterizam o final da fase larval
como aproximadamente 35 mm (Butler, 1989; Dulčić, 1997). As diferenças encontradas podem
ser atribuídas a três fatos: os estudos foram conduzidos por dois métodos diferentes, a
variabilidade dentro da mesma família e pela diferença nos ecossistemas estudados. Estes
estudos utilizaram a análise dos otólitos para classificar o crescimento e as diferentes fases, não
levando em consideração a relação peso e comprimento ou as mudanças morfométricas. Apesar
da família apresentar características muito parecidas, elas possuem grande variabilidade entre
elas, portanto podem apresentar diferenças em seu desenvolvimento ontogenético. Um outro
fator que também influência no crescimento é a temperatura; em temperaturas mais elevadas,
os organismos se desenvolvem mais rápido e possuem menor tamanho corporal quando
comparados com aqueles de temperaturas mais baixas.

Figura 5. Espécimes com aproximadamente 30 mm de comprimento. Nesta fase os indivíduos possuem


todas as características meristicas e morfológicas de um organismo completamente desenvolvido,
apresentando maior em peso do que crescimento corporal, não sendo característico de um juvenil.

Figura 6. O gráfico de peso e comprimento acima representa o ganho de peso em relação ao


comprimento total dos indivíduos em pós-larva . Nesta fase, o crescimento é alométrico positivo,
apresentando um β1 = 3.87.

FASE JUVENIL
Foram identificados 616 indivíduos juvenis (Fig. 7) cujos comprimentos total variaram
de 30.02-104.49 mm, com média de 52.18 ± 14.36 mm. O peso desses espécimes teve amplitude
de 0.144-7.531 g, com média de 0.944 ± 0.980 g. Nesta fase os indivíduos já sofreram uma
transformação, onde aparecem às características morfológicas dos espécimes, as contagens de
raios das nadadeiras se completam e começam a serem classificadas como juvenis (Barletta-
Bergan et al, 2002), o que difere essa fase da anterior é o tipo de ganho de peso observado. Os
espécimes encontrados apresentaram crescimento isométrico em relação ao comprimento total
com o β1 = 3.10, crescendo proporcionalmente em peso e comprimento, mas característico de
um indivíduo juvenil.
Figura 7. Indivíduos juvenis com aproximadamente 50mm de CT (52.18 ± 14.36 mm). Nesta fase os
indivíduos apresentam todas as características meristicas e morfométricas, tais como raios das
nadadeiras e proporções corporais respectivamente, de um indivíduo adulto.

Figura 8. Relação peso e comprimento dos indivíduos juvenis (30- 105 mm).

CONCLUSÕES

Com este estudo foi possível classificar as diferentes fases ontogenéticas: larva, pós-
larva, juvenil e sub-adulto, assim como o crescimento das últimas três. As larvas compreendem
os indivíduos que ainda não possuem capacidade natatória e comprimento total de 2,47 – 14,99
(10.81 ± 1.65mm). As pós-larvas caracterizam-se por indivíduos que completaram o período
de transformação, mas ainda apresentam crescimento característico de indivíduos larvais com
crescimento alométrico positivo (β1 = 3.10; CT = 15-30mm). Os juvenis apresentam um
crescimento isométrico, ganhando peso proporcionalmente ao seu crescimento corporal. Os
indivíduos sub-adultos possuem crescimento alométrico positivo, ganhando, assim, mais peso
do que tamanho corporal, em decorrência da sua necessidade de maturação das gônadas.
Esse estudo forneceu dados importantes para compreensão da ecologia desta espécie e
do ambiente, pois neste ecossistema foi possível identificar as diferentes fases de uma espécie
marinha/estuarina. Este ambiente e sua preservação são cruciais para o desenvolvimento da A.
clupeoides, pois exemplares em todas as fases de desenvolvimento podem ser encontrados em
distintos habitats desse ecossistema estuarino. Este estudo também realça a importância do
estudo desta espécie; existe uma escassez literária sobre o desenvolvimento desta espécie e
como ela desfruta dos diversos habitats estuarinos.

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DIFICULDADES ENCONTRADAS

Uma boa parcela dos espécimes larvais apresentava perdas de nadadeiras ou estavam
danificadas, assim como o registro de esmagamento, dificultando a identificação das
características morfométricas. Isso demonstrou a importância do cuidado na amostragem,
triagem e armazenagem das amostras. Alguns indivíduos larvais não foram fotografados por
incapacidade de enquadramento na lupa (Carl Zeiss, Stemi DV4) com câmera acoplada (Canon,
G10), sendo assim, suas características não puderam ser mensuradas através do software
Axiovision Rel. 4.7, portanto, fez-se necessário o uso de paquímetro, diminuindo a precisão das
medidas dos indivíduos de pequeno porte.
A definição de uma nova fase de desenvolvimento atrasou o processamento de todas as
amostras e como consequência não foi possível distinguir a fase sub-adulta da adulta. Esses
dados continuaram sendo processados e serão apresentados no CONIC em novembro de 2017.

ATIVIDADES PARALELAS DESENVOLVIDAS PELO ALUNO

Paralelamente, foi concluído o projeto de PIBIC 2015-2016 intitulado “A influência do


ciclo lunar na utilização dos canais entre-maré pelas primeiras fases ontogenéticas de Anchovia
clupeoides (Swainson, 1839) no estuário do rio goiana (RESEX Acaú-Goiana (PE/PB)” e
apresentado nos congressos: Congresso de Iniciação Científica -- CONIC no dia 9 de novembro,
2016 e no Encontro Brasileiro de Ictiologia -- EBI no dia 1 de fevereiro, 2017; além da
colaboração em outros seis projetos desenvolvidos no Laboratório de ecologia e gerenciamento
de ecossistemas costeiros e estuarinos – LEGECE.

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Data e assinatura do orientador

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Data e assinatura do aluno

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