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PESQUISA DE ENDOPARASITAS
EM FEZES DE GAMBÁS DO
GÊNERO DIDELPHIS NA MATA
ATLÂNTICA NO ESTADO DE
PERNAMBUCO
Kelma Santos

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Livro Marsupiais 2012 revisado


Adriana De Arruda Bueno

ABRAVAS
Kryst iane Sardinha

Presença de Sarcocysit s spp. em marsupiais da espécie Didelphis albivent ris na região sul do est ado …
Lorena Feijó, Crist ina Zambrano, Luciana Lins, Carlos Eduardo Wayne Nogueira
PESQUISA DE ENDOPARASITAS EM FEZES DE
GAMBÁS DO GÊNERO DIDELPHIS NA MATA
ATLÂNTICA NO ESTADO DE PERNAMBUCO
Vanessa de Oliveira Ribeiro1, Daniel Barreto Siqueira2, Filipe Martins Aléssio3, Maria Fernanda Vianna Marvulo4,
Jean-François Mauffrey5, Leucio Câmara Alves6, Mariana Karolina Freitas Galindo7, Michelle Klein Sercundes8,
Rodrigo Martins Soares9 e Jean Carlos Ramos Silva10

Introdução justificando assim a importância da realização desta


pesquisa que teve por objetivo realizar um levantamento
Os marsupiais do Novo Mundo habitam as Américas
coproparasitológico de endoparasitas (helmintos e
desde o Sudeste do Canadá até o Sul da Patagônia [1].
protozoários) em gambás do gênero Didelphis na Mata
Os gambás do gênero Didelphis destacam-se como
Atlântica de Pernambuco.
mamíferos sinantrópicos nativos da Mata Atlântica
facilmente encontrados próximos de áreas
peridomiciliares [2,3]. No estado de Pernambuco Material e métodos
ocorrem duas espécies destes marsupiais: gambá-de-
orelha-branca (Didelphis albiventris Lund, 1840) e o No período de dezembro de 2007 até abril de 2009
gambá-de-orelha-preta (D. aurita Wied-Newied, 1826) foram capturados 77 gambás, sendo 57 D. albiventris (29
que pertencem à Ordem Didelphimorphia e à Família machos e 28 fêmeas) e 20 D. aurita (nove machos e 11
Didelphidae. fêmeas), dos quais seis eram filhotes, 30 jovens e 41
As espécies de gambás brasileiras possuem hábito adultos.
noturno e deslocam-se basicamente pelo solo, porém o Os gambás foram provenientes de seis áreas de Mata
habitat arbóreo também pode ser utilizado, Atlântica do Estado de Pernambuco, da Região
principalmente à procura de alimento [4]. Sua dieta Metropolitana do Recife e do Centro de Triagem de
onívora consiste em frutos, moluscos, insetos, ovos, Animais Silvestres - CETAS do Instituto Brasileiro do
anfíbios e pequenos répteis, filhotes de pássaros e Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -
outras aves e de pequenos mamíferos [5,6,7]. O hábito IBAMA. As áreas de Mata Atlântica foram: Estação
alimentar generalista dos gambás predispõe à infecção Ecológica de Tapacurá – ESEC, São Lourenço da Mata
por endoparasitas, podendo estes marsupiais tornarem- (latitude: 8° 3'23.12"S, longitude: 35°10'48.53"O); Parque
se hospedeiros e disseminadores de protozoários e Estadual de Dois Irmãos - PEDI (latitude: 8° 0'20.79"S,
helmintos [5,7,8]. Contudo, os estudos sobre estes longitude: 34°56'51.85"O), Recife; Centro de Instrução
agentes e suas parasitoses em Didelphis são escassos e Marechal Newton Cavalcanti - CIMNC, Paudalho (latitude:
restringem-se na sua maioria à pesquisa com gambá da 7°50'23.53"S, longitude: 35° 6'3.97"O); Parque Ecológico
Virgínia (D. virginiana) [9] nativo da América do São José, Igarassu (latitude: 7°50'19.83"S, longitude:
Norte, e em espécies nativas em algumas regiões do 34°59'52.86"O); Aldeia, Camaragibe (latitude:
Brasil [5,10]. 7°57'31.86"S, longitude: 34°59'6.99"O) e Estação
De acordo com a literatura consultada não existem Ecológica de Caetés, Abreu e Lima (latitude: 7°55'17.23"S,
estudos sobre ocorrência de endoparasitas em longitude: 34° 55'44.39"O). Cada período de captura teve
marsupiais de vida livre no Estado de Pernambuco, duração de cinco a seis noites consecutivas e foram

________________
1. Primeiro Autor é Estudante de graduação do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: vanaribe@yahoo.com.br
2. Segundo Autor é Pós-graduando em Ciência Veterinária (nível mestrado), Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900.
3. Terceiro Autor é Pós-Graduando do Laboratoire Population Environnement Developpement, UMR-151, Université de Provence - IRD, Case 10, 3,
Place Victor Hugo, Marseille cedex 3, 13331, France.
4. Quarto Autor é Médica veterinária do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação – Tríade. Estrada do Encanamento, n° 1752, apto. 1201,
Casa Forte, Recife, PE. CEP. 52070-000.
5. Quinto Autor é Professor do Laboratoire Population Environnement Developpement, UMR-151, Université de Provence - IRD, Case 10, 3, Place
Victor Hugo, Marseille cedex 3, 13331, France.
6. Sexto Autor é Professor Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900.
7. Sétimo Autor é Residente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900.
8. Oitavo Autor é Pós-Graduanda (nível mestrado) em Epidemiologia Experimental e Aplicada às Zoonoses, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia, Universidade de São Paulo. Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87, Cidade Universitária, São Paulo, SP. CEP. 05508 270.
9. Nono Autor é Professor Doutor do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia, Universidade de São Paulo. Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87, Cidade Universitária, São Paulo, SP. CEP. 05508 270.
10. Décimo Autor é Professor Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900.
Apoio financeiro: CNPq.
realizadas a cada 15 dias, em média, totalizando um apresentaram ovos de helmintos e oocistos de protozoários
esforço de captura de 25.231 armadilhas/noite. Para a sendo consideradas positivas para endoparasitas fecais. Em
captura dos animais utilizou-se armadilhas do tipo relação à espécie, 75,4% (43/57) dos indivíduos de D.
Tomahawk (Live trap), confeccionadas com arame nas albiventris e 80% (16/20) dos indivíduos de D. aurita
dimensões 45 x 21 x 21 cm e do tipo Sherman (Live estavam parasitados. Ao todos, 33 dos 39 indivíduos
trap). Elas foram dispostas na forma de grid – fêmeas (84,6%) estavam parasitados, enquanto nos
armadilhas a cada 25m em um retângulo de 200m x indivíduos machos, 26 dos 38 animais (68,4%) estavam
250m totalizando 80 pontos com duas armadilhas em parasitados. Os indivíduos adultos apresentaram maior
cada e estes pontos foram georreferenciados por um frequência de parasitismo, apresentando 80,5% (33/41) de
aparelho Global Positioning System (GPS). As resultados positivos, enquanto os indivíduos jovens e
armadilhas também foram colocadas a cada 10m em filhotes apresentaram 73,3% (22/30) e 66,7% (4/6) de
trilhas pré-existentes nas áreas de mata. Para atração resultados positivos, respectivamente. Ao todo, foram
dos gambás foram utilizadas iscas como abacaxi, encontrados Nemathelminthes em 42 amostras (71,2%),
banana e paçoca de amendoim, sendo as armadilhas Platyhelminthes em uma amostra (1,7%) e Acanthocephala
reiscadas no terceiro dia de captura. As armadilhas também em uma amostra (1,7%). Com relação aos
foram verificadas diariamente a partir das 5:30h para protozoários foram encontrados animais positivos em 38
averiguar a presença de animais. Cada animal do amostras (64,4%), entre eles Eimeria sp, Cryptosporidium
estudo foi identificado por marcação individual com sp e Cystoisospora sp. A identificação dos
brincos de alumínio (Zootech®) ou com uso da Nemathelminthes foi feita em nível de Superfamília e
tatuagem na face medial do membro pélvico direito, família, encontrando-se Strongyloidea, Trichuroidea,
utilizando-se um tatuador (Meicha 2000 Fuji). As fezes Ascaridae, Oxyuridae e Spiruridae, com exceção do gênero
foram colhidas da armadilha ou diretamente da cloaca Trichuris sp, cuja identificação foi feita pela
do animal e colocadas em potes plásticos - coletores particularidade do ovo bioperculado. Os Platyhelminthes
universais. Foi adicionado bicromato de potássio 2,5% foram classificados em nível de Classe, sendo a Cestoda a
(K2Cr6O7) às amostras e estas foram deixadas abertas única encontrada. A classificação do Acanthocephala não
em temperatura ambiente (20-24ºC) em contato com o pôde ser feita permanecendo a denominação do filo. De
ar durante cinco dias para esporulação dos oocistos dos acordo com o levantamento de literatura realizado, esta
coccídios. Após este período as fezes foram representa a primeira pesquisa de endoparasitas (helmintos
refrigeradas e, posteriormente, examinadas ao e protozoários) da Mata Atlântica da Região Nordeste do
microscópio óptico. As amostras de fezes foram Brasil. Da mesma forma, relatamos a primeira descrição de
analisadas e processadas individualmente por três Cystoisospora spp em um D. albiventris no Brasil em um
métodos coproparasitológicos: método direto, método indivíduo macho, jovem procedente da área de Mata
de Willis e método de centrífugo-flutuação em solução Atlântica do Parque Ecológico São José. Novos
de sacarose (d = 1,203 g/cm3) [11,12]. Os métodos levantamentos serão realizados para confirmar tal achado.
diretos e Willis (flutuação) foram realizados no Em nosso estudo, por se tratar de exames
Laboratório de Doenças Parasitárias do Departamento coproparasitológicos, não foi possível chegar ao gênero
de Medicina Veterinária – DMV da Universidade (em helmintos) e à espécie em protozoários. A ocorrência
Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, enquanto o de endoparasitas helmintos e protozoários em gambás do
método de centrífugo-flutuação em solução de sacarose gênero Didelphis procedentes da Região Metropolitana do
(d = 1,203g/cm3) foi realizado no Laboratório de Recife e da Mata Atlântica de Pernambuco foi mais baixa
Doenças Parasitárias do Departamento de Medicina do que a relatada por outros autores que pesquisaram a
Veterinária Preventiva e Saúde Animal - VPS da presença de helmintos em D. virginiana [8,13] e em D.
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - albiventris [5,7,14], que relataram ocorrência superior a
FMVZ da Universidade de São Paulo - USP. Os potes 90,0% de infecção. Este fato pode ser explicado devido à
de plásticos (coletores universais) foram enviados realização, em todos esses trabalhos citados, de eutanásia
refrigerados em caixa isotérmica por correio (Sedex) de dos animais e, portanto, pesquisa dos próprios helmintos, e
Recife para São Paulo, atendendo às normas de não de seus ovos nas fezes. Quanto à presença de
biossegurança. Todas as amostras examinadas foram protozoários, o índice de infecção também foi mais baixo
observadas ao microscópio óptico com objetivas de se comparado a outros trabalhos, nos quais há relatos de
10x, com confirmação na objetiva de 40x. Por se 66,7% (4/6) de ocorrência [15]. No entanto, quando
tratarem de métodos qualitativos, os resultados foram comparamos os resultados deste trabalho com os de outros
expressos quanto à presença ou ausência das estruturas autores que utilizaram o método de análise fecal, notamos
dos agentes. Este estudo possuiu autorização do órgão que a freqüência de infecção dos animais deste estudo foi
competente - Instituto Chico Mendes de Conservação maior do que o observado por Araújo et al. [16] que relatou
da Biodiversidade - ICMBio - por meio das licenças 46,7% (7/15) de ocorrência de endoparasitas.
Números: 10769-1 e 11854-1.
Conclusões
Resultados e discussão
Das 77 amostras de fezes analisadas pelos três A ocorrência de endoparasitas helmintos e protozoários
métodos coproparasitológicos, 59 (76,6%) em gambás do gênero Didelphis procedentes da Região
Metropolitana do Recife e da Mata Atlântica de Didelphis albiventris (Comadreja overa), Marsupiala, Didelphidae.
Comunicaciones Cientificas y Tecnologicas de la de la Secretaria
Pernambuco foi alta (59 animais, 76,7%).
General de Ciencia y Técnica de la Universidad Nacional del
Possivelmente estes marsupiais são reservatórios e Nordeste, Tomo IV, 25 de Octubre de 1999.
disseminadores destes enteroparasitas. Além disso, eles [15] Zanette R.A., Silva A.S., Lunardi F., Santurio J.M., Monteiro S.G.
podem carrear os parasitos do ambiente urbano para a 2008. Occurrence of gastrointestinal protozoa in Didelphis
mata, ou vice-versa e também se infectarem com albiventris (opossum) in the central region of Rio Grande do Sul
state. Parasitology International. 57:217-218.
parasitas provenientes de outros animais sejam [16] Araújo F.A.P., Paiva M.G.S., Chaplin E.L., Silva N.R.S. 1990.
domésticos ou silvestres. Considerando que esses Fauna parasitária intestinal de Didelphis marsupialis no município
gambás podem estar em contato direto com animais de Porto Alegre. Arquivos da Faculdade de Veterinária da UFRGS.
domésticos e o homem devido ao seu hábito 18:5-11.
peridomiciliar e sinantrópico, é importante direcionar
mais estudos a esses marsupiais, já que atualmente tais
pesquisas são escassas.

Agradecimentos
À Universidade Federal Rural de Pernambuco -
UFRPE, ao Laboratoire Population Environnement
Developpement, UMR-151 IRD, à Université de
Provence – ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – CNPq (Universal
478.229/2007-0), ao AlBan Program e ao Instituto
Brasileiro para Medicina da Conservação – Tríade.

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